Jingle bells, jingle bells, acabou o papel. Não faz mal, não faz mal, limpa com jornal. O jornal tá caro, caro pra chuchu.
Como é que eu vou fazer pra limpar meu. . .
Cara, que papo é esse de jingle bells, cara? Primeiro porque fala de jornal, e jornal tu sabe neh cara. É um pedaço de jornal que tinha antigamente cheio de notícia, a maioria fake.
Menos fake que o fake news. Que o Fakebook que tu lê. Então, cara, além do jornal já ter acabado, também acabou esse pape de jingle bells, ne cara.
Porque jingle bells era a festa, uma festa antiga de cristão, festa de Natal. Festejava o aniversário de sei lá quem. Essa festa acabou, cara.
Essa festa era feita no tempo em que o Brasil era cristão. Porque agora, graças a Deus o Brasil é Islâmico. A República Islâmica do Brasil.
Vem comigo pra ver se não era. "Auê, auê. Venha festejar a Revolta dos Malês".
Ah, a Revolta dos Malês. Na noite do dia 24 para 25 de janeiro. Quase que foi de 24 para 25 de dezembro.
De 24 para 25 de janeiro de 1835, em Salvado, Bahia. Escravos islâmicos, escravos que professavam o islamismo. Estavam há tempo já programando uma revolta, se reuniram e partiram para uma revolta.
Como isso se deu na regência, passou para a história. . .
quando passou, neh. Porque se demorou muito tempo para falar dessa revolta dos Malês. A história preferiu escondê-la.
Mas quando ela era mencionada era mais "revoltas provinciais", "revoltas regenciais" , a farroupilha, a sabinada, a balaiada, a cabanagem, a praieira, embora a Praieira tenha sido depois. Mas não tem como comparar essas revoltas, que foram revoltas, algumas delas separatistas, todas deflagradas pela elite, ou por motivos econômicos com essa revolta dos Malês. A Revolta dos Malês era uma revolta de fundo libertário, porque eram escravos, e religiosa.
Porque ela foi deflagrada por negros islâmicos, neh. A maior parte dos escravos, dos escravizados, como agora se diz. E tá correto.
Essa coisa de politicamente correta. Você sabe que o canal Buenas Ideias não tem muito saco para o politicamente correto. Mas a palavra escravizado, que se usa agora, é muito melhor do que escravo, neh cara.
O cara não era escravo, o cara tinha sido escravizado. É diferente! É uma condição, um estado, não é uma.
. . ao contrário, é uma condição, não era um estado.
O cara não era escravo, o cara estava escravo. Então é melhor mesmo usar a palavra escravizado. Então esses escravizados lá da Bahia, e o que tinha de escravizados em Salvador, na Bahia, é uma piada.
A cidade tinha, nesse anos de 1835, tinha 60 mil habitantes, desses mais de 25 mil eram escravos. 73% eram negros, porque já haviam negros libertos. Já haviam aqueles escravos.
. e muitos mulatos e pardos. Mas, no mínimo 24 mil desses eram escravos.
E dentre esse grupo de escravos haviam, da Nigéria, haviam muitos escravos vindos na Nigéria. . os escravos que professavam o islamismo.
Inclusive "Malê", vem da palavra ioruba imalê que quer dizer islamizado. Eles eram do grupo Ioruba, vinham do sudeste da Nigéria. Alguns deles do reino do Benin, ou Benan, como alguns dizem.
E eram escravos letrados, essa que era a grande diferença. Muitos deles sabiam ler e escrever e árabe. E alguns deles, inclusive portavam o Alcorão.
Tinham conseguido um status maior, embora escravos, dentro da situação dos seus próprios senhores, e alguns deles tinham autorização, conseguiam portar o Alcorão, e outros usavam um anel que os identificavam como superiores na hierarquia dos escravos. E esses caras, cara, foram articulando um movimento de revolta. E esse movimento é tão extraordinário que eles propunham, se eles tivessem vencido, a proposta era criar uma República Islâmica na Bahia.
Que ia matar ou escravizar tudo que é branco, mulato, pardo e negro que não fosse islâmico. Olha que maravilha. Teríamos um estado Islâmico no Brasil caso houvesse essa revolta desse certo.
E ai acabava com o Natal. Não tinha mais que ter essa festa de Natal. Imagina como é que vai ser o Natal desse ano, cara.
Tu tá ali com aquele peru, peru mole, peru duro, papapá, a árvore de Natal, ai uma pessoa da família pergunta assim: em quem tu votou? NAAAAOOOO! Acaba com o Natal!
O Natal sempre foi uma maletice. Mas esse ano vai ser pior, como tu sabe. E ai, se a revolta dos Malês tivesse vencido nós estaríamos num país islâmico, arejado, dinâmico sem essa chatice do Natal.
Agora falando sério. Não que isso não fosse. Não tinha como dar certo essa revolta.
Eram 600 os islâmicos que estavam envolvidos nessa conspiração. O mês de janeiro é o mês do ramadã. É o mês em que os islâmicos jejuam durante o dia inteiro, não podem manter relações sexuais também e só comem após o por do sol.
É o mês sagrado dos islâmicos. Por isso também que eles escolheram essa data. Eles estavam em pleno ramadã, eles não tinham comido o dia inteiro.
Eles estavam programando a revolta pra madrugada da passagem de 24 para 25. Só que eles foram denunciados, cara. Dedurados.
Uma delação premiada. Dizem que foi uma escrava chamada Guilhermina. Guilhermina quem dedurou eles e quem denunciou que os líderes da revolta estavam todos reunidos no porão de uma casa onde morava um cara chamado Manuel Calafatti.
O líder da revolta era o escravo islâmico chamado Pacífico Licutan. Mas essa revolta, justamente por ser uma revolta religiosa, ela tinha que ter um líder religiosos também, um mulá que se chamava Maulama . Maulama é um título religioso.
Maulama Arruma, que tinha 40 anos de idade. E tinha quatro marcas étnicas, quatro cicatrizes, não eram cicatrizes, eram quatro tatuagens daquelas profundas no rosto. "um negro nagô.
De estatura ordinária. com quatro sinais em cada face em direitura aos cantos da boca. Conhecido pelo nome em sua terra Ahuma ou Arruna.
Escravo cujo senhor era morador da rua das Flores" Eles foram dedurados e ai saíram, conseguiram sair correndo da casa, em meio que deflagraram a revolta, às pressas. Mas a polícia já tava alertada. O plano deles era atacar a cidade quando a maior parte da população estaria reunida na igreja do Bonfim, que tinha uma festa religiosa marcada para aquele domingo, 25 de janeiro.
Só que antes do raiar do dia houve essa denuncia. Eles escaparam. Fugiram pela cidade.
E acabaram sendo presos, cara, mais de 80 pessoas ligadas à liderança E foram todos eles condenados à morte. No entanto essa punição foi cancelada, muitos foram açoitados, outros foram presos, muitos foram deportados para outros lugares do Brasil, alguns deportados inclusive de volta para a África. Então 16 deles acabaram sendo condenados à morte.
Porem entre esses 16, 12 foram indultados e apenas 4 foram de fato executados, O Pacifico Licutã acabou sendo o equivalente a uma condenação à morte, ainda que uma das mais terríveis porque ele foi condenado a 1200 chibatadas. Que é impossível você resistir a 1200 chibatadas. As punições eram de 300 a 1200 chibatadas.
Mas elas não eram dadas de uma vez só. Porque ninguém resistiria. Então foram várias sessões de chibatadas que devem ter resultado na morte do Pacífico.
Porque ninguém sobreviveria a isso. Mas não há registros disso. O que há registros, isso sim, é do início da revolta porque esses escravos, como falei, eram alfabetizados.
Então existem documentos da conspiração e do movimento. Mas, no fim o movimento, de certa forma, não deu em nada. Foi sufocado.
E ele só pairou como essas revoltas dos escravos sempre pairam sobre o Brasil inteiro. Porque, cara, a maior parte da população brasileira era negra. Boa parte da população brasileira era escrava.
Então havia o temor permanente de uma insurreição escrava. Agora imagina uma insurreição escrava, ainda por cima islâmica. Essa foi a única insurreição de escravos islâmicos no Brasil, ela foi mais simbólica do que propriamente marcantes, porque no fim não aconteceu nada.
Mas ela deixou claro o quanto Salvador era uma capital quase que genuinamente africana no Brasil, neh. Uma cidade negra. Embora nunca tenha explodido uma grande revolta, definitiva revolta de escravos dentro do Brasil.
Então é por causa da derrota dos Malês, esses malas desses Malês, que agora a gente tem que suportar o Natal, cara. O Natal. Mas como o peru já tá apitando, é hora de ir embora.
Ho, ho, ho. Feliz Natal. Até o ano que vem!