Às vezes, no meio de um dia qualquer, você para no trânsito, no elevador, enquanto escova os dentes, e sente, sem entender direito, que tem algo errado contudo. Uma espécie de cansaço que não vem do corpo, um vazio que não dói, mas pesa, como se a própria existência estivesse desalinhada. Você sente, mas não fala, porque ninguém fala.
Todo mundo parece muito ocupado tentando parecer bem, tentando fazer dar certo, tentando não surtar. Mas tem algo por trás do silêncio, dos stories, das metas, das piadas. Uma pergunta que ninguém faz em voz alta.
E se nada disso tiver sentido? E se a gente estiver empilhando dias como quem empilha vento? Esse vídeo não é uma resposta, é um risco.
Porque hoje a gente vai abrir o livro mais sombrio da Bíblia. Um livro tão sincero que parece quase heresia. Eclesiastes.
Escrito por um homem que teve tudo e que não aguentou o peso de ter tudo. Pensa: sabedoria, riquezas, prazeres, fama. O tipo de vida que hoje seria um feed impecável, um Tedex, uma biografia bestseller.
Mas no fim ele diz: "Vaidade de vaidades, tudo é vaidade. " Ou no hebraico original, hevel, fumaça, vapor, algo que parece sólido, mas escapa entre os dedos. Você já sentiu isso?
Já teve o que queria? E ainda assim um gosto amargo ficou. Já olhou para alguém que você ama e se perguntou por quanto tempo ainda vai tê-lo ali?
Já alcançou algo grande e percebeu que não adiantou nada? Ellastes não é um manual, é um espelho e talvez o mais cruel de todos. Porque ele não nos mostra como vencer a vida.
Ele mostra que ninguém vence, nem o justo, nem o ímpio, nem o sábio, nem o tolo. Todos terminam no mesmo pó. Mas é aí que a coisa muda.
Por que esse livro sombrio talvez seja também o mais libertador. Sim, tudo é vaidade, mas e se for exatamente por isso que viver agora importa [Música] tanto? Tem gente que para de ouvir música do nada, abre o Spotify, encara a tela e nada toca.
Não é falta de tempo nem gosto. É que em algum ponto invisível a vida perdeu a trilha sonora. Não parece grande coisa, mas é quando o prazer vira ruído, quando o belo perde sabor, quando o novo se parece demais com o velho, algo morreu por dentro.
É o cansaço do excesso. E ele não dói como uma pancada, ele desgasta como ferrugem. Ecclesiastes foi escrito por alguém que viveu isso antes de qualquer um de nós.
Não por miséria, mas por fartura. E isso muda tudo. Construí casas para mim, plantei vinhas, fiz jardins, acumulei ouro, tive servos, posses, mulheres, tudo o que os olhos desejaram, não lhes neguei.
Ellastes 2 4 a 10. adaptado. Esse não é o discurso de um monge, é o testamento de um hedonista lúcido.
E no fim ele conclui: "Eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento. " Hoje chamamos isso de esteira edonista, um conceito da psicologia comportamental que mostra como qualquer conquista ou prazer se dissolve com o tempo e o ser humano volta ao ponto zero do desejo. Mais um cargo, mais um corpo, mais um like e nada.
David Foster Wallace enxergou esse padrão e escreveu: "Todo mundo adora algo. A única escolha é o que adorar. E quase tudo que você adorar vai te devorar.
E estamos sendo devorados. Vivemos numa época em que o prazer é abundante, mas o sentido é escasso. A pornografia está tua um clique, mas a intimidade virou fobia.
A comida é rápida, mas o comer virou culpa. O entretenimento é infinito, mas a mente vive entediada. O desejo virou algoritmo e o coração, um objeto de consumo.
Arthur Schopenhauer dizia que a vida oscila como um pêndulo entre a dor e o tédio. Mas o homem de Eclesiastes percebeu algo pior, que entre a dor e o tédio existe um falso alívio, o prazer desidratado, uma anestesia que disfarça o absurdo. E nesse ponto o vídeo poderia te oferecer uma solução.
como sair disso? Mas isso seria desonesto, porque a verdade mais brutal é que não há escapatória simples da saturação. Quando tudo é possível, tudo perde peso.
Quando tudo está ao alcance, nada mais é conquista. E é por isso que o narrador de Eclesiastes é tão relevante hoje. Ele não está deprimido, ele está acordado.
Ele viu o topo e viu que lá não tinha céu. O escritor checo Milan Cundera escreveu algo parecido. A vertigem não é o medo de cair, é o desejo de cair.
E talvez seja isso que sentimos às vezes. Não o medo de perder tudo, mas a curiosidade sombria de saber se ao perder algo em nós finalmente acorda. Esse capítulo não termina com resposta, termina com um ruído incômodo, como o silêncio de uma música que um dia foi sua favorita.
E agora não toca mais. A moça colocou a colher no prato e disse que Deus tem um propósito para tudo. Era um velório.
O pai dela tinha acabado de morrer aos 49, vítima de um câncer agressivo. Ninguém sabia muito bem o que responder. Então, todos só balançaram a cabeça como se fé fosse sinônimo de aceitação.
Mas a verdade é que ela não acreditava naquilo. falava por protocolo, como quem repete uma senha esquecida, só para não travar o sistema. No fundo, ela só queria perguntar o que quase ninguém tem coragem.
Onde estava Deus quando tudo deu errado? E o mais brutal é que a Bíblia contém essa pergunta escondida, ou melhor, exposta em Eclesiastes. A sabedoria aumenta a tristeza e quem aumenta o saber aumenta a dor.
Ellastes 1:18. Esse é um verso que os sermões pulam, mas ele está ali, cru, irrefutável e carrega um paradoxo raro. Quanto mais consciência se tem da vida, mais insuportável ela se torna.
O sábio sofre não por fraqueza, mas por lucidez. Elesiastes foi escrito por alguém que conhecia Deus, não de ouvir falar, mas de conversar. é atribuído a Salomão, o homem que pediu sabedoria em vez de poder.
E o que ele viu com sabedoria foi um mundo incoerente, um Deus que não responde, um tempo que não explica, uma justiça que falha em série. O filósofo dinamarquês Siren Kirkegard chamaria isso de angústia da fé. O momento em que crer não é mais confortante, mas insuportavelmente arriscado.
Crer sem garantias, amar sem retorno. Acreditar no sagrado quando o mundo só mostra ruínas. E não é por acaso que tanta gente abandona a fé, não pela razão, mas pelo trauma.
Porque quando a dor é concreta, nenhuma ideia abstrata consola. CS Lewis, no auge do luto pela morte da esposa, escreveu: "Vá a Deus quando sua necessidade for desesperadora. O que você encontra é uma porta batida na cara e o som do trinco girando.
Ele não deixou de crer, mas parou de fingir que fé é conforto. Simone vai além. Para ela, a ausência de Deus não é evidência contra ele.
É a linguagem mais profunda da sua presença. É o amor que não se impõe, o silêncio que respeita a liberdade do sofrimento, o sagrado que se retira para não nos manipular. Isso é difícil de ouvir, porque nos ensinaram a tratar Deus como um plano de saúde espiritual.
Se você paga com oração e boas ações, ele resolve. Mas Eclesiastes rasga esse contrato. O narrador vê o justo sofrendo e o perverso prosperando.
Vê o tolo sorrindo e o sábio morrendo do mesmo jeito. E se pergunta qual o sentido de tudo isso? Se até Deus parece incoerente.
E aqui entra uma ideia pouco dita, mas decisiva. Talvez a fé madura não seja aquela que entende Deus, mas a que o suporta. Suportar a ausência, o silêncio, a contradição.
Crer não porque tudo faz sentido, mas porque tudo é insuportável sem algo que transcenda. Ruben Alves disse: "A fé não é uma luz que dissipa todas as nossas trevas. É uma lâmpada no caminho que só ilumina um passo de cada vez.
E isso, exatamente isso, é o que Eclesiastes faz. Não há promessa de redenção, não há revelação final. Só um homem olhando para o alto e vendo o céu fechado e mesmo assim, continuando, falando, escrevendo, existindo.
Talvez fé seja isso. Ficar mesmo sem sinal, seguir mesmo sem chão, viver mesmo quando Deus silencia. Tem gente que reorganiza a estante quando a vida desmorona.
Troca os livros de lugar, alinha os objetos, limpa as bordas, como se ao domar o pequeno pudesse enganar o caos lá fora, como se o mundo interno pudesse ser empurrado para dentro de uma gaveta por cor, por ordem alfabética, por qualquer critério que dê a sensação de que a gente ainda manda em alguma coisa. Mas Eclesiastes sussurra o oposto. Ele nos olha nos olhos e diz: "Você não tem controle.
Nunca teve. Há um tempo para tudo debaixo do céu. Tempo de nascer e tempo de morrer.
Tempo de plantar e tempo de colher. " Ecclesiastes 3. Ao contrário da leitura popular, essa passagem não é um poema de paz, é um diagnóstico de impotência, uma enumeração de opostos que não podem ser evitados, apenas suportados.
Não se trata de escolher o tempo certo, trata-se de aceitar que o tempo escolhe você. Vivemos numa cultura que disfarça o acaso com planilhas. Vendemos a ideia de que tudo é conquistável com esforço, inteligência e disciplina.
Mas isso é mentira embalada em Ted Talk. A verdade é mais parecida com o que disse Espinoza. Os homens se creem livres apenas porque têm consciência de seus desejos, mas ignoram as causas que os determinam.
Você acha que decidiu, mas talvez só obedeceu a algo que nem entende. Um medo, uma ferida, um trauma herdado, um algoritmo. E o tempo, esse tirano gentil continua andando sem perguntar nada, sem pedir licença.
Você pode ser jovem e morrer amanhã. Pode cuidar do corpo e ter um AVC. pode fazer tudo certo e ser atropelado pela aleatoriedade.
O psicólogo e prêmio Nobel Daniel Caneman mostrou isso com clareza. A maioria das nossas previsões sobre o futuro são ilusões cognitivas. Nosso cérebro odeia a incerteza, então inventa narrativas de controle, mesmo que sejam falsas, especialmente se forem falsas.
Ecclesiastes desmonta tudo isso com uma frase só: "O tempo e o acaso pertencem a todos". Ellastes 9:11. A meritocracia não resiste a esse verso.
A autoajuda desmorona aqui. O planejamento de 5 anos vira superstição. Mas, e isso é crucial, o livro não prega o fatalismo.
Ele não diz entregue-se ao caos. Ele diz: "Reconheça o limite da sua alavanca". Você pode plantar, mas não pode decidir se vai chover.
Você pode amar, mas não pode garantir que será amado. Você pode viver bem, mas não pode evitar a morte. A escritora Clarice Lispector, com sua lucidez silenciosa, escreveu: "A vida é feita de dias que não significam nada e de momentos que significam tudo e nenhum deles pode ser agendado.
O controle é um mito reconfortante, mas talvez seja justamente ao abrir mão dele, não por apatia, mas por consciência, que a vida começa a ser real e não um projeto. " Ecclesiastes ensina isso não com raiva, mas com um tipo raro de ternura brutal. Como quem diz, você não manda em nada, mas ainda pode estar presente em tudo.
O pai chegou em casa, colocou o celular para carregar e subiu direto pro quarto. tinha fechado um contrato milionário naquela tarde, mas em vez de comemorar, ficou olhando pro teto, pensando na conversa que não teve com o filho, no abraço automático que deu na esposa, na quantidade de vezes em que trocou presença por desempenho e lá no fundo algo nele sussurrava. E daí que deu certo.
Eclesiastes também ouviu esse sussurro e deu nome a ele, vaidade. Vi que todo o trabalho e toda a habilidade do homem vem da inveja que um sente do outro. Elesiastes 4:4.
Esse verso desconcerta porque não fala sobre o fracasso, fala sobre o sucesso como vaidade disfarçada, sobre a motivação invisível que empurra a maioria. Não é propósito, é comparação. Niet chamou isso de ressentimento ativo.
A necessidade de superar o outro como forma de afirmar a si mesmo. O outro deixa de ser um ser e vira espelho, ameaça, obstáculo e o que é mais perigoso. Isso não é uma falha moral, é um reflexo estrutural da nossa cultura.
Bium Tulhan escreve que vivemos numa era em que o sujeito é empreendedor de si mesmo e, por isso se transforma em sua própria empresa, seu próprio produto, sua própria vitrine. Só que esse modelo cria um dilema sem saída. Tudo precisa ser capitalizável, até o amor, a fé, a dor.
Você não estuda mais por curiosidade, você estuda para se destacar. Você não treina por saúde. Você treina para caber num ideal.
Você não cria por expressão, você cria por engajamento. E aos poucos você deixa de viver. Para virar um currículo ambulante.
O autor de Eclesiastes conhecia essa engrenagem e viu que ela leva sempre ao mesmo lugar. O vazio depois do topo, a solidão do cheguei lá, o silêncio incômodo do "E agora? " E o pior, mesmo o legado, essa ilusão romântica de permanência também é vaidade.
Pois quem sabe se aquele que virá depois de mim será sábio ou tolo? Elesiastes 2:21. Heranças são esquecidas.
Empresas mudam de dono. Filhos seguem outras trilhas. Túmulos perdem o nome com o tempo.
O filósofo francês Albert Caraco, um nilista radical e cirurgicamente lúcido, escreveu: "As civilizações como os homens têm hora para nascer, crescer e apodrecer, e tudo o que produzem cedo ou tarde será pó". A frase não é depressiva, é só verdadeira. E só assusta quem ainda confunde sucesso com sentido.
A vaidade das conquistas não está nas conquistas em si, mas na fantasia de que elas nos tornariam intocáveis, mais amados, mais seguros, mais vivos. Mas nenhuma vitória apaga o fato de que estamos todos de passagem. E talvez seja isso que doa mais, perceber que até o melhor de nós pode ser apenas barulho breve.
Ecclesiastes não quer te humilhar, quer te libertar, quer te dar permissão para sair da corrida, para fazer o que importa, não o que impressiona, para existir e não apenas performar. E isso talvez seja o maior sucesso possível. Viver de um jeito que não precisa de aplausos, nem de herdeiros, nem de busto em praça.
Apenas viver enquanto ainda há tempo. Ela estava lavando a louça. Era um fim de tarde comum, o sol cortando pela janela da cozinha.
O rádio tocava uma música boba dos anos 90 e de repente ela chorou sem motivo claro. Não era tristeza nem alegria, era só vida acumulada demais. E por um segundo, um segundo só, tudo pareceu simples e ao mesmo tempo sagrado.
Eclesiastes diria que foi ali, naquela cena banal, que Deus falou mais alto. Não há nada melhor para o ser humano do que se alegrar com o que faz, porque essa é a sua porção. Ellastes 3:22.
Depois de negar sentido ao poder, ao prazer, à sabedoria e ao trabalho, o autor não oferece uma fórmula, oferece uma permissão, a de viver o agora, não como fuga, mas como fidelidade. E aqui há um paradoxo que quase ninguém explora. Ecclesiastes é o livro mais cético da Bíblia, mas também o que mais honra o presente.
Não o presente performático, mas o presente invisível, a comida compartilhada, o vinho bebido sem pressa, o afeto sem utilidade. É como se o autor dissesse: "Você vai morrer isso é certo? Então viva antes que o tempo o leve".
Albert Camu chamou isso de alegria trágica. A coragem de sorrir, não apesar do absurdo, mas dentro dele, não como negação, mas como resistência. Niet vai por um caminho semelhante com o conceito do amor fati, amar o próprio destino, não porque ele é justo, mas porque ele é o seu.
Um amor sem romantismo, quase estóico, quase brutal, mas profundamente vivo. Ruben Alves dizia que o que salva o humano não é a certeza. É a beleza.
A beleza do pão quente, do cheiro de terra molhada, do silêncio de um olhar sincero. Coisas pequenas que não prometem eternidade, mas nos dão alguns minutos de presença. E às vezes isso basta.
Esse capítulo não é um final feliz, porque Eclesiastes não termina com consolo, termina com reverência. Lembra-te do teu criador nos dias da tua juventude, antes que venham os dias maus. Eclesiastes 12:1.
Não é uma ameaça, é um lembrete. O tempo vai passar, as forças vão embora, o corpo enfraquece, a mente embota. E quando a vida começar a desbotar, vai restar só o que foi vivido de verdade e não o que foi adiado em nome de alguma promessa grandiosa.
Então, talvez o único caminho possível seja esse, não buscar sentido fora do absurdo, mas encontrar presença dentro dele, comer o pão com prazer, trabalhar com honestidade, amar com entrega e saber que isso, só isso, já é muito mais do que parece. E se tudo for vaidade, mesmo que seja uma vaidade consciente, uma dança breve, mas dançada até o fim. Você que chegou até aqui, que ouviu cada palavra, sentiu cada ideia, carregou silêncio entre as frases, já está fazendo muito.
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É um sussurro firme dizendo: "Não para!