Dizem que a diabetes só afeta quem  come muito açúcar ou quem é obeso.  Mas existe um tipo de diabetes  que quebra todos esses paradigmas.  No segundo episódio da Série Diabetes  Explicada eu vou te contar tudo sobre a diabetes tipo 1, o tipo menos conhecido, mas que afeta pessoas de todos os  pesos e idades, inclusive crianças. 
Como ela começa, quais são os  sintomas de diabetes tipo 1 e por que ela é tão diferente de  outros tipos de diabetes mais comuns.  Para entender essa doença precisamos olhar para  o pâncreas e em como ele controla a glicemia.  Para o organismo se manter vivo e  funcionando, ele precisa de nutrientes. 
Sejam eles proteínas, carboidratos ou gorduras.  Esses nutrientes são tão  fundamentais para nossa sobrevivência que o organismo não descarta eles  nem quando eles estão em excesso.  Ele prefere guardar na forma da famigerada  gordurinha, o estoque de energia do corpo. 
Pois bem, quem ajuda a controlar tudo  isso é esse cara aqui, o pâncreas.  Ele faz isso através de dois  hormônios: o glucagon e a insulina, liberados em diferentes momentos do  dia dependendo da sua alimentação.  No caso do Lucrécio que acabou de bater um  pratão de nhoque riquíssimo em carboidratos, que eu inclusive adoro, o  pâncreas vai liberar insulina. 
Ela se espalha pela circulação sinalizando que  tem nutriente na área, especialmente a glicose, o carboidrato mais desejado pelo corpo.  Na presença desse sinal, as células capturam  a glicose para transformá-la em energia… e o excesso de glicose é  guardado pelas células do fígado.  Algumas horas depois, como o  Lucrécio não comeu mais nada, ele vai ter menos glicose circulando no sangue, algo que o pâncreas percebe automaticamente. 
Ele está constantemente medindo a quantidade  de glicose para decidir qual hormônio liberar.  A queda da glicose, que é o  caso do Lucrécio nesse momento, serve de sinal para diminuir a insulina e  aumentar a produção do outro hormônio: o glucagon.  O glucagon sinaliza para o fígado que está na  hora de botar a glicose estocada para jogo. 
E aí ela é liberada aos  poucos na corrente sanguínea.  Perceba que é um jogo de revezamento  entre a insulina e o glucagon, o que cria um fluxo constante de glicose no  sangue e mantém o organismo bem alimentado.  Como a insulina e glucagon têm funções  opostas, esse equilíbrio só é possível porque a insulina bloqueia  a liberação de glucagon. 
Mas o que acontece se por alguma razão,  o pâncreas não está liberando insulina?  Pois é… é justamente isso que  acontece na diabetes tipo 1, quando o pâncreas produz  pouco ou nada de insulina.  Sem a produção de insulina pelo pâncreas,  falta insulina no sangue e, consequentemente, a glicose se acumula, já que  não consegue entrar nas células. 
É por isso que pessoas com diabetes ficam  com a glicose alta no exame de sangue, você já tinha pensado nisso?  Mas enquanto o sangue está cheio  de glicose, as células passam fome, disparando vários sintomas no corpo.  A falta de glicose e de energia  nas células causa dor de cabeça, cansaço, fome, episódios de pressão baixa e desmaios em um primeiro momento. 
A pessoa pode até emagrecer sem explicação, pode fazer muito mais xixi do  que o normal e ter muita sede.  Todos esses são sintomas mais  clássicos de qualquer tipo de diabetes como eu já expliquei no  primeiro episódio da série.  E o excesso de glicose causado  por qualquer diabetes gera danos em vários sistemas do corpo a longo prazo… o que aumenta o risco de complicações graves como  perda de visão, insuficiência renal e até infarto. 
Mas existe um outro problema que é específico de  quem tem diabetes tipo 1 e complica a situação.  Quem tem essa doença precisa lidar também com o desequilíbrio que a  falta de insulina causa no pâncreas.  Como eu falei antes, a  insulina bloqueia o glucagon. 
Sem ela atuando, o glucagon é muito mais  liberado pelo pâncreas, quando não deveria.  Ele estimula a liberação dos  estoques de glicose do fígado, elevando ainda mais a glicose que já estava alta.  Por essas duas razões, ausência de insulina  e excesso de glucagon, na diabetes tipo 1, a glicose fica perigosamente alta. 
E uma terceira consequência é o  outro efeito do glucagon no corpo: ele estimula, pessoal, a quebra de gorduras.  De certa forma isso é bom porque as  células que não conseguem captar glicose começam a usar gordura como fonte de energia.  Mas com tanto glucagon, o organismo  fica com muito mais gordura circulando do que ele realmente precisa naquele momento. 
A solução é degradar ao menos  parte dessa gordura do sangue, o que gera moléculas ácidas  chamadas de corpos cetônicos.  Eles até podem ser usados como fonte de  energia pelos músculos e pelo cérebro, um órgão que não consegue usar gordura.  Mas a quantidade de corpos cetônicos produzidos  também ultrapassa a necessidade desses órgãos. 
Mais uma vez, a gente tem um excesso de um  nutriente no sangue: os corpos cetônicos.  e em alguns casos dá até para  perceber porque ele deixa um mau hálito parecido com frutas envelhecidas, o famoso hálito cetônico.  Esse é um sintoma bem frequente na  diabetes tipo 1, um cheiro de maçã podre, mas em outros tipos de diabetes ele é menos comum. 
Enquanto isso, no sangue, os corpos cetônicos são  um nutriente ácido que vão acidificar o sangue ao longo do tempo, causando  uma verdadeira catástrofe.  É a chamada cetoacidose diabética que pode  começar com náusea, vômito, dor abdominal, desmaio, batimentos cardíacos  e respiração aceleradas.  Uma pessoa que estava aparentemente bem,  pode passar desses sintomas para um coma e até a morte em menos de 24 horas  se não for tratada rapidamente. 
O pior de tudo, pessoal, é que, às vezes, a  pessoa não tem nenhum sintoma clássico de diabetes e só descobre a doença quando já  está no hospital com cetoacidose.  Mas o que está por trás da diabetes tipo 1?  Qual é a causa de todos esses problemas? 
Conhecer as causas de uma doença tão  grave pode salvar muitas vidas, né?  Mas antes de eu te contar, deixa o seu like porque eu duvido que você vai achar  um conteúdo sobre diabetes tão completo quanto o dessa série aqui no YouTube, e em troca eu vou te contar a parte  mais surpreendente da diabetes tipo 1: ela é disparada pelo próprio sistema imune.  Você pode até pensar que eu só quero te apavorar,  mas eu estou aqui para entregar nas suas mãos as informações mais confiáveis possíveis e  baseadas em ciência sobre tudo que roda o mundo. 
Tudo de graça pra você, sua família  e quem mais quiser assistir.  Agora, se você quiser dar um passo a mais e me  apoiar nessa missão, venha ser membro do canal.  Você escolhe quanto quer pagar e tem acesso  a vários benefícios, como por exemplo, receber os vídeos aqui do  canal antes de todo mundo. 
É só clicar no primeiro link da descrição, ou  no botão seja membro aqui embaixo.  Fechado?  Então bora descobrir o que  causa a Diabetes Tipo 1. 
A diabetes tipo 1 é uma doença autoimune que  começa com um defeito nas células de defesa conhecidas como linfócitos T.  Ao invés de focar só em bactérias  ou células doentes do corpo, os linfócitos defeituosos atacam também as células  saudáveis do pâncreas: as que produzem insulina.  No início, o pâncreas segue  fazendo seu trabalho normalmente. 
Afinal, ele tem milhões de células trabalhando  para manter a insulina em quantidades normais, mesmo quando algumas células já  morreram nas mãos dos linfócitos.  Só que depois de um certo tempo de ataques,  que pode ser meses ou anos dependendo do caso, chega um ponto em que as células  produtoras de insulina sobreviventes não conseguem suprir a necessidade do corpo.  É aqui que a diabetes tipo 1 aparece. 
E o que surpreende é o que está por trás dessa reação exagerada do sistema imune  contra as próprias células do pâncreas.  A diabetes tipo 1, como qualquer doença autoimune, depende principalmente de  uma predisposição genética.  Essa é a primeira e mais provável  explicação para o aparecimento dessa doença. 
O sistema imune usa informações genéticas  que herdamos dos nossos pais para decidir o que deve ser reconhecido  como perigoso ou inofensivo.  Mas algumas combinações genéticas  aumentam o risco das células de defesa se voltarem contra o próprio organismo.  Quem tem essas combinações está mais predisposto  a diabetes tipo 1 desde o nascimento. 
É por isso que esse é o tipo de  diabetes que mais afeta crianças, em que a maioria dos casos  aparece antes dos 12 anos.  Mas não se engane!  A diabetes tipo 1 pode aparecer  em qualquer momento da vida. 
Uma boa maneira de saber se você  tem uma predisposição maior a ter diabetes tipo 1, é olhar pra sua família.  Se já tiver alguém ou várias pessoas com a doença,  as chances de você também carregar algum gene que predispõe a diabetes tipo 1 são mais altas.  Só que a genética, sozinha, pessoal, nem  sempre é suficiente para causar a doença. 
E aqui eu vou apresentar outras  possíveis causas desse problema.  Em alguns casos, parece que  a diabetes tipo 1 precisa de um empurrãozinho de outros fatores para começar, como uma má alimentação.  E descobertas muito recentes mostraram até que  alguns vírus poderiam disparar casos de diabetes. 
Há muitos anos nós vemos um aumento nos casos depois de grandes epidemias  de gripe e surtos por vírus como o Epstein-Barr, que causa mononucleose, o vírus da caxumba, o da  rubéola, o citomegalovírus, rotavírus e… adivinha, coronavírus.  Será que infecções por vírus poderiam disparar  uma reação do corpo contra o pâncreas?  Talvez sim e existem várias explicações para  essa relação entre os vírus e a diabetes tipo 1. 
Primeiro, alguns vírus, como  o coronavírus e o da gripe, infectam diretamente as células do pâncreas, interrompendo a produção de insulina, para  que a célula foque só em produzir mais vírus.  Segundo, as moléculas de alguns vírus se parecem muito com moléculas das  células produtoras de insulina.  Quando a pessoa se infecta, parte do ataque  que deveria combater os vírus é direcionado para as células do pâncreas por engano. 
E por último, infectando o pâncreas ou não, os  vírus deixam as células de defesa mais agressivas.  Tentando se livrar daquela infecção, elas liberam substâncias inflamatórias  que danificam o próprio organismo, incluindo as células do pâncreas.  Isso acontece principalmente se o sistema  imune já tinha começado o ataque autoimune que leva ao diabetes tipo 1. 
Mas atenção, essas são  hipóteses ainda em discussão.  A diabetes NÃO é uma doença CAUSADA por vírus!   As viroses seriam só um POSSÍVEL fator de risco pesando na balança de quem já  tem alguma predisposição, sacou? 
Independente disso, o melhor é sempre  a prevenção e um bom tratamento.  A OMS mantém a posição conservadora de que  a diabetes tipo 1 não pode ser prevenida.  Mas se até vírus e má alimentação  podem ser, no mínimo fatores de risco, eu prefiro me alimentar bem e manter  minha carteira de vacinação em dia pra não virar estatística em um  estudo futuro sobre diabetes. 
E no caso de pessoas que já tem  predisposição ou já tem a doença, é muito importante saber que  diabetes tipo 1 tem tratamento.  O problema central é a falta de insulina,  então todas as complicações podem ser evitadas com injeções diárias de insulina que  inclusive estão disponíveis de graça no SUS.  A dose é ajustada pelo médico de acordo  com as variações de glicose durante o dia. 
Hoje já até existem monitores de glicose que ficam aderidos na pele e não precisa  ficar furando o dedo toda hora.  Eles se conectam em um aplicativo de celular  pra você e o seu médico controlarem a glicemia e tornarem o tratamento ainda mais preciso.  Eu deixei um link aí no comentário fixado  pra vocês conhecerem se tiver interesse. 
Dependendo do caso, quando a pessoa  ainda produz um pouco de insulina, isso pode nem ser necessário.  O tratamento pode ser apenas manter uma  alimentação saudável para controlar a glicose, tendo uma vida bem parecida com  a de alguém que não tem diabetes.  Mas e quem tem diabetes tipo 2, o tipo  mais comum de diabetes mundo afora, também pode ter uma vida normal sem privações? 
É isso o que eu vou revelar no próximo  episódio da série Diabetes Explicada.  E lembre-se de assistir o primeiro  episódio da série clicando aqui.  Um grande abraço, cuide do seu sistema  imune e eu te vejo no próximo vídeo. 
Tchau.