Eu não sou humano, sou dinamite. Apesar de tudo isso, não há nada em mim que lembre religião. As religiões são coisas de ralé.
Quando toco numa pessoa religiosa, sinto a necessidade de lavar as mãos depois. Se quiser ler essa frase de Niets, um dos filósofos mais influentes e talvez mais controversos do século X, pode encontrá-la no primeiro parágrafo da primeira sessão de sua obra Exomo. Nós o conhecemos por sua filosofia polêmica e por sua vida fascinante.
Sem dúvida, ele é um dos poucos filósofos que conseguiu deixar marcas indeléveis no mundo. Uma de suas características mais notáveis é ter crescido em uma família religiosa, mas ter desenvolvido um profundo ódio pelas religiões, especialmente pelo cristianismo. Ele sentia a verdadeira repulsa em o nascimento da tragédia.
Ele escreveu: "O cristianismo, desde o início, em sua essência e fundamento, foi uma repulsa pela vida, um cansaço diante da vida. Claro que havia razões que, segundo ele, justificavam esse ódio. É justamente isso que vou tentar explicar neste vídeo.
Porque Niet odiava tanto as religiões, especialmente o cristianismo? Uma das expressões mais impactantes e talvez mais discutidas de Niet é, sem dúvida, a frase: "Deus está morto". A primeira vista parece paradoxal, mas essa frase é uma crítica aguda à relação entre religião e modernidade.
O que exatamente Niets queria dizer aqui? E como poderia a própria religião ter matado Deus? Antes de tudo, é importante esclarecer que essa expressão não é uma explicação teológica, mas uma constatação sociológica e cultural.
Segundo Niets, no mundo moderno, fatores como o racionalismo e a secularização, impulsionados pelos avanços científicos, abalaram profundamente os fundamentos das crenças religiosas dogmáticas e da ideia de Deus. A humanidade passou a buscar explicações para o universo e para sua própria existência através da razão e da ciência, e não mais pela fé ou pelos dogmas. Naturalmente, isso levou a uma perda progressiva do sentido da fé em Deus.
No livro Hia Ciência, Niet descreve esse processo no seguinte trecho famoso: Deus está morto. Deus continua morto e fomos nós que o matamos. Como nos consolaremos nós, os assassinos dos assassinos?
O que havia de mais sagrado e poderoso até então sangrou sobs punhais. Quem limpará esse sangue de nossas mãos? Com que água poderemos nos purificar?
Que festivais de expiação? Que jogos sagrados teremos que inventar? Esse trecho, uma das passagens mais impactantes da história da filosofia, relembra o vazio e a responsabilidade que surgem com a perda da crença em Deus.
Ainda mais provocador, porém, é o fato de Nietzs sugerir que a própria religião teve um papel importante na morte de Deus. Para ele, especialmente o cristianismo, cavou sua própria cova devido aos seus próprios valores morais. Valores como honestidade, verdade e questionamento, promovidos pela moral cristã, acabaram por corroer os dogmas religiosos e os relatos milagrosos, enfraquecendo a fé.
Em genealogia da moral, ele toca indiretamente nesse ponto ao perguntar: "Será mesmo que aquilo que chamamos de vontade de Deus em todos os tempos e lugares não foi senão a vontade do próprio homem? " Essa pergunta revela a sua suspeita de que os ensinamentos atribuídos à vontade divina sejam, na verdade, criações humanas. Será que a religião, com suas alegações absolutistas e dogmas imutáveis, entrou em conflito com a mente crítica e o pensamento científico do homem moderno, perdendo assim sua credibilidade?
Para Niet, a morte de Deus confronta a humanidade com o perigo do niilismo, mas também oferece uma oportunidade, a de criar seus próprios valores e determinar seu próprio destino. Com o desaparecimento da autoridade religiosa e do consolo metafísico, o ser humano pode finalmente se apoiar em si mesmo e criar seu próprio sentido para a vida. Então, devemos nos perguntar: as certezas absolutas da religião são, na verdade, obstáculos para a liberdade e a criatividade humanas?
E ao superá-las, poderemos alcançar um futuro mais livre e autêntico? A expressão Deus está morto busca justamente nos provocar a refletir sobre essas questões profundas. Niet não via na religião uma revelação divina ou uma verdade transcendente, mas sim um produto imaginário criado pela mente humana.
Para ele, a religião surgiu como resposta às necessidades psicológicas básicas, aos medos e desejos humanos. Medo da morte busca por sentido existencial e impotência diante da injustiça. Foram, segundo ele, os fatores determinantes no surgimento e expansão das religiões.
O ser humano tentou superar sua curiosidade pelo desconhecido e sua impotência diante do caos com figuras divinas e histórias metafísicas. No livro Agaia Ciência, ele ironiza: "Quanto menos provas tem da existência de Deus, mais querem acreditar nele. " Aqui Niet aponta que a fé religiosa não tem qualquer ligação com a racionalidade, sendo antes uma expressão de desejo teimoso ou de uma necessidade psicológica.
Para ele, a religião é um mecanismo de consolo, algo que se quer acreditar e não algo que se pode provar. Niets via os relatos sobrenaturais das religiões com ceticismo, acreditando que não tinham nenhuma ligação com a realidade. Segundo ele, os humanos atribuíram aos deuses os grandes poderes que gostariam de ter, tentando assim superar sua própria fraqueza.
Em o anticristo, Niet vai além e afirma: "O cristianismo é toda uma metafísica, toda uma natureza, toda uma psicologia, toda uma interpretação do mundo completamente imaginária. " Ainda no mesmo livro, ele declara: "Nem a moral, nem a religião, em suas formas cristãs, tem qualquer relação com a realidade. São causas imaginárias, efeitos imaginários, uma troca entre seres imaginários, ciência da natureza imaginária, psicologia imaginária, finalidade imaginária.
Segundo ele, esse mundo de ilusões não apenas falsifica a realidade, mas também a degrada. E para Niet isso não é tudo. A religião também serve como ferramenta para manter a ordem social e justificar a imoralidade dos poderes instituídos.
As religiões organizadas, com seus códigos morais e figuras de autoridade, tetivo controlar as massas e manter as hierarquias sociais. Assim, para Niet, a religião não tem origem em uma verdade divina ou propósito objetivo, mas sim no medo humano e na imaginação. Um dos principais motivos de seu ódio pelas religiões era o fato de elas impedirem que a humanidade alcançasse seu mais alto potencial, o ideal do Ubermch, o além do homem.
Segundo ele, a religião desvia o homem do mundo real, empurrando-o para uma realidade imaginária. Os dogmas religiosos enfraquecem a fé do indivíduo em sua própria força e capacidade. Em humano, demasiado humano, ele escreve: "A maioria da humanidade não deseja superar a si mesma.
Elas gostam de si como são e querem que os outros gostem delas também. Essa citação mostra que as pessoas tendem a permanecer em suas zonas de conforto e a religião, ao legitimar esse conforto, faz com que as pessoas se acomodem com o que têm e desistam de buscar mais. Niet acreditava que a religião impedia o impulso de superação e de descoberta.
Seu ideal do além do homem representa o indivíduo que supera essas limitações e cria seus próprios valores. Em assim falou Zarathustra. Ele diz, "O homem é uma corda estendida entre o animal e o além do homem, uma corda sobre o abismo.
Porém, a religião para ele é um peso que atrasa ou impede essa travessia. Os dogmas religiosos, as tradições e os moralismos impedem a libertação do indivíduo. Uma das críticas mais fortes de Niet à religião é a ideia da moral de escravo, que ele vê como inerente ao cristianismo.
Segundo ele, é uma moralidade criada pelos fracos e oprimidos, baseada em valores como humildade, compaixão e sacrifício. Em genealogia da moral, ele escreve: "O forte chamava a si mesmo de bom. O fraco, por vingança, chamou esse bom de mal.
Assim, a moral de escravo surge como uma reação contra a moral de Senhor, que valorizava orgulho, força e autonomia. Os fracos transformaram sua própria fraqueza em virtude, em assim. " Falou Zaratustra.
Ele declara: "Vocês são pacientes. Vocês suportam tudo. Vocês são humildes o suficiente.
Por isso, vocês inspiram confiança ao rebanho. A verdadeira virtude para ele está em descobrir sua própria força, criar seus próprios valores e abraçar a vida com todas as suas dificuldades. " No anticristo, ele diz: "O cristianismo se aliou aos fracos, miseráveis e deficientes.
criou um ideal que contraria as condições da vida forte. Ensinou até os mais espiritualmente poderosos a verem o pecado, o desvio, a tentação, onde está o seu próprio poder natural. Apesar de toda essa crítica feroz, Nietzsche cresceu numa família religiosa.
Seu pai era pastor luterano e ele próprio teve uma formação religiosa intensa. Mas com o tempo, influenciado por suas leituras e reflexões filosóficas, Niets rompeu completamente com a fé cristã. A religião o incomodava por limitar o potencial humano, por se basear em fantasias e por difundir uma moralidade que celebrava a fraqueza.
Essa trajetória contraditória mostra o quão profundamente Niets pensou sobre o fenômeno da religião. Sua experiência pessoal deu-lhe um olhar mais crítico e uma voz mais corajosa. Assim, sua crítica à religião continua a provocar, questionar e fazer pensar.
Talvez, como ele próprio disse, porque ele não era um homem, mas sim dinamite.