a mãe me fala sobre o filho descrevendo esse filho o comportamento desse filho de uma maneira que me cria uma expectativa de uma criança bastante agitada uma criança que não estivesse ocupada ou preocupada em corresponder à expectativa do outro e que vivesse [Música] eh mobilizada pelo prazer de criar problemas de incomodar as outras pessoas esta foi a criança que ela me traz através do seu relato eu ligo pra escola e peço para falar com a professora Marco um horário e aí vou ao encontro da professora para que a professora também Me fale a respeito das
dificuldades desta criança e ela de certa forma reproduz o mesmo discurso da mãe de tratar-se de uma criança muito inquieta uma criança que irrita porque não eh se preocupa em cumprir com aquilo que a professora estabelece não atende aos pedidos da professora eh parece que sente prazer em tumultuar a em deixar a professora nervosa então a visão que a professora tinha daquela criança Era exatamente a mesma visão que a mãe tinha da Criança e era essa criança que eu esperava e chega ao meu consultório um menino realmente muito inquieto um menino muito agitado que de
fato cansa a presença dele porque ele passa o tempo todo fazendo coisas que atrapalham a tarefa que ele teria a realizar então o que o que eu quero dizer com isso bom eu peço para ele fazer um desenho e para pegar aquela folha o lápis iniciar o desenho ele derruba o que tá sobre a mesa ele eh Pede um copo de água e derruba água ele não consegue permanecer quieto na Ira mas o tempo todo me olha preocupado com a minha reação a esses acidentes então é uma criança que não tem controle sobre a sua
atividade motora mas que Diferentemente do que me foi dito ela se preocupava sim com a expectativa do outro com o sentimento do outro porém se preocupava tanto que a a sua dificuldade se exacerbava porque ele ficava bastante ansioso e consequentemente mais agitado então eu peço a ele que faça um desenho explico a ele que através do desenho eu tentarei conhecer coisas sobre ele que ele mesmo ainda não conhece e peço para que ele desenhe uma figura humana e ele me pergunta de que forma eu queria que ele fizesse o desenho e eu digo a ele
que eu gostaria que ele fizesse da forma que agradasse a ele então ele começa o traçado do desenho ele faz o desenho de uma figura humana em Palitos e coloca nesse desenho alguns elementos que me chamaram a atenção profundamente ele coloca no tronco do desenho círculos como se representassem um alvo Quando eu olho pro desenho A sensação que eu tenho é que aqueles círculos fossem uma espécie de um alvo ele coloca na base do desenho riscos muito fortes indicando a necessidade de sentir segurança e ele coloca na cabeça da criança cabelos com um traçado que
me fez pensar em pregos como se naquela cabeça tivessem pregos o desenho que ele faz desse cabelo não tem nenhuma relação com o seu cabelo na realidade eh ele tinha um um cabelo ã lisinho ã clarinho não tinha nenhuma semelhança e isto me chama atenção ele representa alguma coisa ali que não é um dado de realidade concreto mas algo que diz sobre como ele sente esta cabeça eu fico sem entender o sentido desses ã elementos que parecem pregos sobre a cabeça dele eu guardo isso comigo analiso neste desenho aquilo que naquele momento com as informações
que eu possuía eu podia interpretar ele faz um desenho com as mãos em forma de garras indicando a sua dificuldade de relacionamento mesm a posição dos braços demonstram a sua dificuldade de relacionamento a minha forma de interpretar o desenho não só esse mas todo o desenho no diagnóstico é muito mais baseada naquilo que o desenho me faz sentir do que efetivamente nas regras de interpretação e de análise de um desenho é importante eu mencionar que durante a entrevista inicial a mãe me relata que essa criança nasce numa circunstância bastante adversa na medida em quee ele
é o terceiro filho de uma família com três meninos sendo que cada um deles T exatamente um ano de diferença de idade Então ela diz assim vivemos Eu e meu marido durante 5 anos ã um para o outro até que chegou o momento em que pensamos que agora era a hora de termos os nossos filhos tudo na nossa vida sempre foi bastante planejado inclusive o nascimento dos nossos filhos Então os nossos planos eram exatamente esses 5 anos de casado teremos dois filhos um casal um menino e uma menina encerramos essa etapa e continuamos a nossa
vida cuidando dos nossos filhos e dos nossos projetos Então os C anos foram exatamente como eles planejaram ela de fato engravidou e teve um menino Ela diz quando eu tive meu primeiro filho eu não tinha noção do quanto eu estava despreparada para cuidar de uma criança foi para mim um choque o momento em que eu percebi que uma criança não era uma boneca e que chorava muito à noite dava muito trabalho ã exigia demais de mim e eu fiquei muito perdida Quando eu soube que estava grávida pela segunda vez eu ainda estava amamentando eu fiquei
profundamente perturbada não quis aceitar num primeiro momento que eu já estivesse grávida porque nós tínhamos planejado que essa gravidez a princípio viria 2 anos depois do nascimento do nosso primeiro filho e depois com as dificuldades que eu enfrentei logo nos dois primeiros meses nós adiamos isso para três ou 4 anos só que quando chegamos a esta conclusão eu não sabia mas eu já estava grávida Então esta segunda gravidez já não foi uma gravidez tão tranquila quanto a primeira eu já fiquei muito nervosa eu tive depressão pós-parto na primeira gravidez e fiquei muito mas muito deprimida
na segunda gravidez aí ela diz bom a princípio a ideia de ter uma menina e antecipar aquele nosso projeto Me acalmou de maneira que nós chegamos à conclusão que assim já eh passaríamos por essa etapa difícil de uma vez só mas quando eu faço os exames no pré-natal constato que estou grávida de um menino isso só agravou a minha depressão nesse momento eu disse ao meu marido que eu não queria mais filhos e que nós não teríamos essa menina e o meu marido diz bom Ainda é muito cedo para você tomar esta decisão vamos aguardar
mais um pouco e por isso eu não tomei nenhum tipo de atitude no sentido de me ir para que não acontecesse uma outra gravidez quando eu ainda estou amamentando meu segundo filho numa depressão profunda completamente perdida com aqueles dois bebês eu tenho a notícia que estou grávida novamente e aí ela diz algo bastante significativo ela diz assim esta notícia para mim foi fatal eu não podia aceitar em hipótese nenhuma a ideia de estar grávida novamente Não havia mais espaço na minha vida na nossa vida para um terceiro filho aliás nunca houve espaço para um terceiro
filho na nossa cabeça sempre existiu espaço para dois filhos no momento em que eu estou na primeira sessão com a criança eu peço então que ele me faça um desenho da figura humana e ele me faz o desenho que eu já referi em seguida eu peço a ele que me faça o desenho de uma família e ele bastante preocupado em fazer exatamente aquilo que eu estava pedindo Me Faz uma série de perguntas sobre Que família como essa família e eu digo a ele novamente eu quero que você faça o desenho que você sentir vontade de
fazer do jeito que te agradar ele faz um desenho onde ele hã coloca o pai a mãe um irmão mais velho e um outro irmão Portanto ele desenha uma família com quatro pessoas quando ele termina de desenhar os quatro bonequinhos que representam as pessoas da família eu pergunto a ele quem são essas pessoas e ele vai dizendo Esse é o pai diz o nome Essa é a mãe diz o nome da mãe esse é o meu irmão diz o nome do irmão e esse é o meu outro irmão diz o nome desse outro irmão e
aí ele diz assim xi não tem espaço para mim de fato ele fez o desenho ocupando a folha de uma extremidade a outra Com estes quatro representantes da família e não sincer nesta família eu pergunto para ele e agora o que faremos minha intenção era verificar se ele iria procurar um espaço para inserir a sua figura no desenho não havia espaço na sequência mas ele usou a parte superior da folha de sulfite nós tínhamos toda a parte inferior da folha de sulfite e ele olhava pra folha e não encontrava uma e dizia não tem lugar
para eu para eu me desenhar bom é melhor a gente deixar essa família assim porque não vai ter não tem outro outra solução não tem espaço para o meu desenho Me Tocou profundamente esse momento porque eu lembrei de como foi doloroso pra mãe dizer que não havia espaço para este filho ao longo da as sessões com o menino eu vou confirmando cada vez mais que o que o menino ã deseja não é Contrariar Não é aborrecer as outras pessoas é corresponder a expectativa do outro mas a preocupação dele é tão grande que ele se atropela
que a ansiedade toma conta dele o tempo todo eu vou percebendo ao longo do diagnóstico que o que esse menino necessita para se acalmar É de fato encontrar um espaço para ele é encontrar um lugar de pertinência ele precisa se sentir aceito em algum contexto e eu percebo isso porque ainda durante o diagnóstico lá paraa terceira ou quarta sessão ele chega e me diz assim eu trouxe uma coisa para você digo que bom que bom você ter lembrado de mim o que você me trouxe eu te trouxe uma bala de morango ele me disse lá
na primeira sessão que ele havia feito um desenho de um menino de 10 anos que gostava de morango e me traz uma bala de morango então o que eu penso se ele gosta de bala de morango e me traz uma bala de morango Ele está querendo construir comigo um vínculo saudável favorável um vínculo onde ele se sinta aceito porque ele quer o que ele pretende é me agradar com essa certeza essa convicção de que o que o acalmaria seria a aceitação eu passo a demonstrar a Ele o quanto ele é importante para mim o quanto
pouco me importa se ele derrubou a tinta derrubou o que tava na mesa se rasgou a folha mas o que me importava era ele estar ali tentando acertar tentando fazer aquilo que eu pedia e quanto mais eu olho para ele e neste olhar eh Transfiro transmito para ele essa esse sentimento de aceitação mais calmo ele vai ficando nos nossos encontros nos nossos encontros e em um determinado momento acontece algo muito interessante Então eu vou me dirigindo à recepção quando chego na porta da recepção a mãe está de costa para mim ele também está de costa
para mim e a mãe está dando uma bronca brigando com o menino por ele ter derrubado tudo que estava na mesa mas o que me chamou atenção profundamente foi a maneira como ela ã se dirigia a ele ela estava dando coques na cabeça dele Ela batia na cabeça dele com a ponta dos dedos de uma forma bastante agressiva E aí ele me disse e minha cabeça tá até doendo porque a minha mãe tem mania de dar coque e ela tem uma mão forte já te falei né que ela é professora de educação física Então ela
tem uma mão muito forte e quando ela dá esses coques na cabeça ela dá com força mesmo dói viu aí ele pôs a mão na cabeça e eu imediatamente associei aquele primeiro o desenho onde parecia que ele tinha pregos na cabeça quanto mais eu me interesso por ele quanto mais eu olho para ele quanto mais eu mostro para ele que eu entendi o que se passava com ele mais calmo ele fica e eu concluo o diagnóstico ã percebendo que o que poderia mudar a vida deste menino era uma mudança na sua autopercepção porém essa mudança
na sua autopercepção só ocorreria se de fato as pessoas significativas da vida dele pudessem entender que aquelas atitudes aqueles comportamentos eh desastrados não eram proposital e quanto mais tenso ele ficava mais maior o seu nível de ansiedade mais dificuldade ele tinha na motricidade porque o tônus muscular fica tão enrijecido que a possibilidade de derrubar tropeçar cair rasgar é muito grande e eu começo então tentando eh explicar aos pais que era preciso que eles mudassem completamente a atitude deles em relação ao menino que era preciso que ao invés de demonstrar o tempo todo pro menino que
não havia espaço para ele naquela família que eles criassem sim um espaço de verdade pro menino Começando por realmente aceitar que eles tinham três filhos três filhos meninos que um deles Era exatamente esse o mais novo e que tinha estas características e procurei encontrar dentro do contexto cultural do contexto sentimental daquela família elementos nos quais eles pudessem se apoiar para acreditar aceitar e entender que a família que eles tinham era aquela porque ela era aquela que tinha que ser mas que a vida dessa família podia ser melhor então eu disse vocês estão escrevendo todo o
dia a história desta família essa a história pode ter dois caminhos ela pode ser uma história muito sofrida mas também pode ser uma história muito prazerosa o difícil foi chegar na escola e explicar pra professora que o que esse menino precisava era simplesmente que ela olhasse para ele mas olhasse para ele de verdade olhasse nos olhos dele e entendesse o que ele estava querendo dela e ela com um estilo bastante Severo eh uma professora com muitos anos de Magistério naquela escola eh começa a me ouvir pensando que eu teria uma fórmula mágica para que ela
eh pudesse ter mais tranquilidade na sala de aula com aquele aluno e eu digo a ela que eu iria sugerir algumas coisas que a princípio poderiam não ter parecer a ela que não tinham tanta importância mas que eu precisava que ela acreditasse nisso e que ao menos tentasse E aí eu digo para ela eh onde ele senta e ela me mostra a posição da carteira dele na sala de aula ele se sentava na fileira lateral ã junto à parede próximo à janela no quarto na quarta carteira eu pedi a ela que eu mudasse de lugar
e ela disse isso eu já fiz várias vezes já pus ele aqui do meu lado eu disse Pois eu vou te pedir para você colocar ele na sua frente mas eu já pus ele aqui perto de mim aqui eu cheguei a colocar a carteira dele aqui do meu lado eu tô te pedindo para não tirar a a carteira dele do conjunto da sala de aula porque ele precisa permanecer n no conjunto da sala de aula se você tira a carteira dele você segrega ele eu disse eu quero que você ponha ele perto do seu coração
não perto de você fisicamente e tô te pedindo para você colocá-lo numa posição em que o seu olhar possa cruzar o dele porque ele precisa ser olhado e eu procurei ã UZ ir para ela a importância desse simples gesto