[Música] K. [Música] Muito boa noite, meus caros! Sejam muito bem-vindos ao segundo dia da nossa jornada da história da igreja no Brasil. É um prazer tê-los aqui! Parabéns novamente a você que perseverou, começou ontem e segue hoje aqui conosco, estudando e buscando conhecer um pouco mais a respeito da história da igreja no Brasil. Isso não é apenas um conhecimento para acrescentar cultura; é também para isso, mas não só para isso: é também para te ajudar a entender a sua própria identidade como brasileiro e a sua própria identidade como católico. Afinal de contas, se hoje
professamos a fé católica aqui no Brasil, se temos essa presença da igreja, de onde ela veio? Que frutos ela produziu? Quais foram os principais eventos dessa presença que marcaram a história da igreja no Brasil? Então, no dia de ontem, começamos essa jornada. E hoje nós vamos nos aprofundar um pouquinho mais nesse conteúdo. Se você está chegando aqui agora, então eu me apresento a você: eu sou o professor Rafael Tonon. Eu sou historiador, filósofo, casado, pai, leigo consagrado e me dedico ao magistério, à educação, há mais de 20 anos, ensinando Filosofia, Sociologia, História, Ensino Religioso e,
mais recentemente, eu trouxe um pouco deste meu trabalho que já era realizado presencialmente—assim foi durante muitos anos, muito tempo continua sendo—mas eu trouxe este trabalho para o ambiente virtual, conseguindo assim atingir outras pessoas, chegando a outros lugares. E, falando em outros lugares, me conta aí de onde você é! De onde você me assiste? Qual cidade, de qual região? Vamos ver aí; comente aí! Aí, a gente já vai dando uma olhada aqui, conferindo os lugares, as cidades de onde vocês nos acompanham. É um prazer tê-los por aqui! Então, no dia de ontem, nós vimos como o
Brasil nasceu católico. Nós temos um Brasil antes da chegada dos europeus que, como dissemos no dia de ontem, não era uma unidade. O Brasil era um território um tanto quanto disforme, no sentido de homogeneidade. Não existia nenhum tipo de homogeneidade; existia uma variedade muito grande de povos, raças, culturas, línguas e até mesmo de crenças que eram muito diferentes aqui no Brasil. E, depois, com a chegada dos portugueses, começa a ocorrer a fusão das principais raças que formarão o povo brasileiro: os indígenas, os europeus e os negros africanos, e depois outros tantos povos que foram chegando
aqui: imigrantes europeus, asiáticos, enfim, e cada povo trazendo um pouco da sua cultura, trazendo um pouco da sua história também e somando tudo isso naquilo que nós temos hoje aqui como a nossa cultura, como a nossa herança comum. Então, o Brasil foi construído a várias mãos e a partir de várias culturas. Ontem, nós vimos que o Brasil moderno, o Brasil como nós o conhecemos enquanto unidade territorial, continua muito plural, com muitas diferenças até hoje, mas ele nasce católico. Ele nasce católico. O primeiro ato de governo de Portugal aqui não foi uma tomada de posse, não
foi a assinatura de diversos documentos, não foi nada disso; foi a celebração da santa missa. Depois da santa missa, outras providências foram tomadas. Mas a missa é o primeiro ato oficial; a cruz foi o primeiro monumento a ser plantado em solo brasileiro. O altar é um outro monumento erguido para honrar nosso Senhor Jesus Cristo, no mistério do seu sacrifício no Calvário, que nós recordamos, nós revivemos, atualizamos em cada Santa Missa. Então, o Brasil nasceu assim, e não é exagero dizer que o Brasil nasceu eucarístico e mariano, porque essas três marcas estão ali no início: o
Brasil nasce numa Santa Missa, nasce na Eucaristia, nasce deste memorial que atualiza o sacrifício de Cristo de forma incruenta. E, acompanhando os portugueses nas caravelas, eles trouxeram imagens—mais de uma, né?—mas, sobretudo, duas imagens principais da Virgem Maria: a imagem de Nossa Senhora da Esperança, que acompanhou Pedro Álvares Cabral na capitânia, na sua cabine. Cabral trouxe a imagem de Nossa Senhora da Esperança, uma imagem da Virgem Maria segurando o menino Jesus no colo, numa cena doméstica, onde a mãe oferece um cacho de uvas para o filho e uma pombinha vem para comer as uvas junto com
o menino Jesus. Nossa Senhora da Esperança, esta imagem existe até hoje; está na Igreja Matriz da cidade de Belmonte. Depois, ela foi levada da igreja matriz para uma outra capela; agora retornou à igreja matriz. Então, lá em Belmonte, que é a terra natal de Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil, se encontra esta imagem de pedra que o acompanhou, atravessando o Atlântico. Esta imagem presidiu o altar da primeira missa aqui no Brasil. E depois, nós temos uma outra imagem, uma pintura que ficava em um altar portátil no convés de uma das caravelas, que era uma imagem
de Nossa Senhora da Piedade, a Pietá: a Virgem Maria com Cristo morto nos braços. Então, a vida e a morte, o mistério da vida e da morte, da encarnação e da paixão de Cristo se encontram nas devoções dos portugueses e se encontraram sobre o altar da primeira missa. A primeira missa foi rezada num dia de domingo e ali começa, né? O Brasil, o Brasil católico, o Brasil moderno. Então, nós vimos que a fé católica foi essencial para a construção da nossa nação. A fé católica está na gênese do Brasil e esta história a respeito da
fé católica vem sendo distorcida ao longo dos anos. E é por conta destas distorções, por conta dessas formas de se reescrever a história ou de negar a história, é que estamos aqui no dia de hoje. Eu aproveito para acolher todos vocês que estão aqui. Estou vendo aqui, né? Temos pessoas de perto e de longe. Algumas pessoas já colocando aí as cidades de onde vêm, né? Olha que interessante, né? Temos pessoas de Brasília, temos pessoas de P, em Minas, em São Paulo capital. E onde mais? Santana de Parnaíba, Piracicaba, São Paulo, Campinas, aqui mesmo, né? De
onde eu falo, né? Curitiba, no Paraná, Santo André, São Paulo. Então, pessoas de todos os lugares do Brasil. E hoje nós vamos falar daquilo que nos interessa, né? Da nossa própria história, da nossa própria identidade enquanto brasileiros. Vamos nos aprofundar um pouco mais naquilo que a gente já conversou no dia de ontem, né? Você deve ter o mesmo sentimento que eu também tinha até uns anos atrás, que é o sentimento de que alguma coisa na história do Brasil não se encaixa. Parece que aquela história que a gente aprendia na escola e aquela história que, às
vezes, a gente acabava até estudando nos bancos da cidade, ela nos negava algo. Parece que alguma coisa não estava completa ali. E, certamente, em algum momento, você também deve ter sentido vergonha da história geral do Brasil, que parece ser uma história menor, menos importante que a história de outros países. Ou, quando você olhou para a história da Igreja, talvez você tenha tido aquele sentimento: "Puxa, eu sou católico, eu amo a Igreja, mas...". E aí, esse "mas" são aquelas muitas ressalvas mentais que a gente começa a fazer: "Ah, mas eu não concordo com isso, ah, mas
a Igreja errou, mas isso e aquilo." E aqui eu me valho de uma fala interessantíssima do venerável Fulton Sheen, o arcebispo norte-americano, né? Que foi um grande comunicador. Fulton Sheen dizia, nos anos 60, que nos Estados Unidos não existiam 100 pessoas que odiavam a Igreja Católica, mas existiam milhões de pessoas que odiavam aquilo que elas imaginavam ser a Igreja Católica. Aqui no Brasil não é diferente. Eu vou parafrasear Fulton Sheen dizendo exatamente a mesma coisa: a grande maioria das pessoas que hoje olha para o passado do Brasil, que olha para a presença da Igreja no
Brasil e tem uma visão crítica, uma visão azeda, uma visão de que nada se aproveita nessa presença católica no Brasil, essas pessoas odeiam o que elas imaginam ser a história da Igreja no Brasil e não a história de fato. Aí eu volto no que eu disse ontem. Quem não assistiu ontem, acompanhe a aula de ontem, né? Assista à de hoje, que está ao vivo, mas acompanhe a aula de ontem para você construir essa sequência cronológica. Aliás, eu vou falar disso: é importante seguir um método para estudar a história da Igreja no Brasil. Seria, assim, até
uma imprudência sair estudando e lendo qualquer coisa sem critério nenhum. Isso pode causar mais confusão do que informar, realmente, né? Então é importante ter isso em mente. Muita gente odeia, não a Igreja em si, mas aquilo que elas imaginam que seja a Igreja, aquilo que elas suspeitam ser a Igreja e não a realidade da ação da Igreja. E veja bem aqui, né? Eu não estou vindo fazer aqui uma apologética de dizer: "Olha, tudo o que aconteceu na história da Igreja foi linear, foi bonito, foi grandioso." Longe disso! Por quê? Porque a história da Igreja é
feita por pessoas como você e eu, e nós erramos. Basta olhar pra nossa vida; nós erramos e erramos bastante. E as pessoas que construíram a história da Igreja no Brasil não eram diferentes de nós. A única coisa que muda eram as circunstâncias, o conhecimento, as oportunidades, as informações que aquelas pessoas tinham. Isso é diferente de um tempo para o outro, mas o modo de agir, as expectativas e os pecados são muito parecidos, né? Então, é por isso que nós estamos aqui: porque nós queremos aprender, nós queremos nos aprofundar e, acima de tudo, fortalecer também a
nossa fé. Porque conhecer a própria história é o mesmo que conhecer a própria identidade. E, conhecendo a própria identidade, nós nos tornamos senhores daquilo que acreditamos, que professamos. Temos propriedade naquilo que falamos. Pode ser que, em alguma discussão, às vezes familiar ou em um ambiente de trabalho, pode ser que em algum momento você que está me acompanhando tenha ficado sem resposta. Vem alguém e diz: "Ah, mas os Jesuítas contribuíram para a escravização dos indígenas." Puxa vida, será que isso é verdade? E aí, às vezes na escola, às vezes nos livros que você leu, você nunca
leu nada que te desse, por exemplo, argumentos sólidos que afirmem exatamente o contrário. Se teve alguém que defendeu a liberdade dos indígenas, foram os Jesuítas. Isso, inclusive, rendeu a expulsão dos Jesuítas do Brasil e de todas as colônias de Portugal. Então, só que se você não tem esse argumento na hora, ali, na ponta da língua, fica a palavra do outro contra a sua. Puxa vida, a pessoa está dizendo não, e a pessoa está dizendo que leu: "Ah, eu li um artigo, eu li uma revista, eu assisti um vídeo." Mas, se você não tiver um argumento
sólido, você não vai conseguir responder a isso. Então, na verdade, não é porque o argumento que estão usando, às vezes, com você na sua roda de amigos, entre os seus familiares, não é que esse argumento é verdadeiro. É que você, às vezes, não sabe rebatê-lo, usando o quê? A verdade histórica. E não se trata de rebater um argumento usando o fígado, né? Como eu costumo dizer, né? Tem gente que discute com o fígado, não com o cérebro. A pessoa discute pela paixão, como se fosse uma discussão por time de futebol. Não! Vamos usar a fonte
histórica. Nós temos fontes históricas, assim, muito boas, acessíveis, estão publicadas, não é nada escondido. Só que nós precisamos saber selecionar essas fontes. Então, por exemplo, quando nós pegamos as cartas do Padre Manuel da Nóbrega... Aqui no Brasil é um conjunto... De cartas do Padre Manuel da Nóbrega, chamado de "Cartas do Brasil", é uma preciosidade e é um documento de ímpar grandeza. É uma fonte primária para estudar a história do Brasil. As "Cartas do Brasil" de Padre Manuel da Nóbrega foram escritas quando ele era o superior da missão Jesuíta, nomeado naquela altura pelo próprio Santo Inácio
de Loyola. Olha que coisa! Então vejam vocês que Santo Inácio de Loyola, um santo, se interessou pela causa da evangelização do Brasil. O Rei de Portugal pediu uma primeira vez a Santo Inácio que mandasse os Jesuítas para o Brasil. Santo Inácio tinha poucos missionários e não conseguia atender a todos os pedidos. E aí o Rei de Portugal usou de um artifício: no grupo fundacional da Companhia de Jesus, o primeiro núcleo de religiosos da Companhia de Jesus, estava o Padre Simão Rodrigues, que era português. Então, o Rei de Portugal vai recorrer ao Padre Simão Rodrigues, que
intercede junto a Santo Inácio para que missionários sejam destinados ao Brasil, à colônia portuguesa. Santo Inácio consente e, então, nomeará o Padre Manuel da Nóbrega. Ou seja, a nossa nação ocupou as preocupações e os pensamentos de um santo da envergadura de Santo Inácio de Loyola, que é o grande nome da Igreja Católica na Contra-Reforma. Santo Inácio viveu na época da Revolução Protestante, na época em que as nações começavam a se dividir na Europa por conta das questões religiosas, ali iniciadas por Martinho Lutero em 1517. Santo Inácio de Loyola foi uma resposta da igreja, uma resposta
de Deus para aquele tempo. O que Santo Inácio vai fazer? Ele funda a Companhia de Jesus para ser o exército do Papa, para ir onde o Papa mandasse. Então, numa época em que o protestantismo contestava a autoridade do Papa, vem Santo Inácio para formar uma companhia, para formar um exército à disposição do Papa. É uma resposta aos problemas, às crises daquela época e, justamente, Santo Inácio cuidará do Brasil. Mandará para cá o Padre Manuel da Nóbrega, e o Padre Manuel da Nóbrega vai produzir uma série de escritos, dando conta de como andavam os aldeamentos que
os Jesuítas começaram a fundar para catequizar os indígenas. Desses aldeamentos resultaram, mais tarde, a fundação de várias cidades, entre elas, a cidade de São Paulo, uma das maiores cidades do mundo, uma megalópole que tem população superior à de vários países. São Paulo já está praticamente com 13 milhões de habitantes, um pouco mais. Até então, existem países, como o Líbano e o Uruguai, que têm uma população inferior a essa marca. Uma das maiores cidades do mundo foi fundada por uma missão católica, uma missão dos Jesuítas. Como negar a contribuição da Igreja diante dos fatos? Basta a
gente olhar a topografia do Brasil. O Rio São Francisco, um dos rios mais importantes do Brasil, por que se chama São Francisco? Porque o rio foi descoberto por Américo Vespúcio, que veio ao Brasil, estava navegando por aqui e conheceu o curso desse rio no dia da festa de São Francisco de Assis. E aí batizou o rio com o nome do santo do dia, São Francisco. Então, a topografia do Brasil é marcada pelos nomes dos santos, pelos nomes dos mistérios da vida de Cristo, as festas litúrgicas. As grandes cidades do Brasil, todas elas historicamente, nasceram em
torno ou de um cruzeiro ou de uma capela, e daquele núcleo, aquele primeiro, essas cidades foram se formando. Então, o Brasil nasceu assim, e nós precisamos ter os argumentos, precisamos conhecer as obras que vão embasar aquilo que nós estamos falando. Nós não podemos simplesmente nos deixar calar por narrativas manipuladas, por narrativas construídas que ficam tentando apagar essas raízes do Brasil. É um negócio tão absurdo, né, que às vezes as pessoas tentam diminuir, diminuir, diminuir o papel da Igreja. E aí, quando você pega, por exemplo, a lista dos maiores patrimônios históricos do Brasil, nessas listas, disparado,
estão os prédios, os edifícios eclesiásticos, as igrejas, os cemitérios, a imaginária, as imagens sacras produzidas no Brasil. As grandes obras de arte do Brasil, elas não são só de cunho religioso, mas elas são majoritariamente de cunho religioso. E aí, quando a gente começa a comparar a narrativa com a realidade, a gente vê que alguma coisa ali não bate. Quer dizer, a Igreja fez tanto mal ao Brasil, né, de acordo com essas narrativas, mas aí a gente começa a ver onde a Igreja chegou. Nós temos as Santas Casas. O Brasil passou a ter Santas Casas a
partir de 1530. Nós já temos as primeiras Santas Casas do Brasil. Isso aí foi se difundindo, e quem cuidava das Santas Casas eram irmandades religiosas. Então, olha aí, né, como que a Igreja trouxe das trevas para o Brasil. As escolas formais do Brasil, elas eram de quem? Dos Jesuítas, dos Padres Escolápios, dos Oratorianos, dos Carmelitas. Quem reconheceu boa parte das línguas e das populações da Região Norte do Brasil foram os Frades Carmelitas que foram pelo rio Amazonas, chegando até as várias populações que estavam ali. Então, vejam vocês, então a Igreja que, segundo alguns, trouxe trevas
e atraso. E veja bem, a Igreja que trouxe tanto atraso, quando os brasileiros ou estrangeiros vão visitar os pontos turísticos do Brasil, visitam o quê? As igrejas, vão para ver o ouro, a arte, a beleza nas igrejas. Quem vai a Salvador, que foi capital do Brasil, visita uma infinidade de belíssimas igrejas. Existem outros elementos também, claro que existem, mas é indissociável a presença e a contribuição da Igreja. Os registros históricos do Brasil foram guardados por quem? Pela Igreja. Por exemplo, no século XI, Frei João Botão era um franciscano que fez um compilado da história das
principais famílias do Brasil. Este frade franciscano fez um trabalho hercúleo, gigantesco, sem recursos naquela época. Hoje, para qualquer historiador que for estudar as principais famílias do Brasil, do século X para cá... Precisam se reportar às obras do Freij Boatão. Olha que coisa, né? Isso aí veio da onde? Da igreja aqui no Brasil. Na época do Brasil Império, por exemplo, existiam eleições: as eleições municipais para escolher prefeito e os membros da câmara. Existiam as eleições também provinciais, as eleições para deputado e para senador. Mais raramente, no Brasil Império, os senadores eram vitalícios, né? Ficavam no cargo
até a morte ou até a renúncia. Então, de vez em quando, tinha eleição para senador. Onde funcionavam as zonas eleitorais para as eleições no Brasil Império? Nas paróquias. A zona eleitoral era na paróquia; geralmente, a votação acontecia nas salas de catequese, nas salas das irmandades, que ficavam dentro do espaço das igrejas. Então, as contribuições culturais, as contribuições também no campo da fé, da moral, da vivência vieram da igreja. Agora, isso não significa que todas as pessoas viviam e seguiam e obedeciam piamente tudo que a igreja ensinava. Não, gente, sabe que não foi assim. Por quê?
Porque não é assim hoje. Basta vocês pegarem qualquer paróquia aqui no Brasil e vocês vão encontrar, numa mesma paróquia, pessoas com pensamentos divergentes, pessoas que vão à missa todo domingo e não veem problema nenhum em desrespeitar pontos fundamentais da doutrina. Mas a pessoa continua frequentando e acha que está tudo certo. Se hoje, que nós temos mais acesso à informação, é assim, imaginem vocês há 100 anos atrás, 200 anos atrás! Isso era ainda mais difuso. Então, nós precisamos aqui, né, nesse nosso evento, firmar um compromisso. É um compromisso que nós temos que firmar conosco mesmos e
esse compromisso é o compromisso de não só beber aqui desse conteúdo, mas também de entender que a história da igreja no Brasil diz respeito a mim. É a minha história, não é uma coisa acessória, né, que eu posso deixar de lado. E eu preciso estudar de maneira séria essa a história da igreja no Brasil. Então, por exemplo, quando nós falamos aqui da contribuição da igreja, eu falei muito dos monumentos, das obras históricas. Recentemente, desabou o teto da igreja de São Francisco em Salvador. Tristemente, resultou na morte de uma pessoa, outras pessoas feridas e um patrimônio
destruído. Todo mundo se alarmou com essa história da igreja de São Francisco em Salvador. Então, quer dizer, as pessoas entendem, inconscientemente, que não é simplesmente um patrimônio que está desabando. É a nossa identidade enquanto brasileiros que não está sendo cuidada. É a nossa identidade que está desabando. Não é simplesmente um teto de igreja; é a nossa identidade. É a nossa história. Neste teto, nessas pinturas, naquele ouro, estão as mãos de escravos que trabalharam nas minas para extrair o ouro. Naquele ouro está muito suor, muitas lágrimas, está também a inteligência dos artistas, está a fé dos
fiéis que deram dinheiro para erguer aquele templo. Estão os sentimentos, estão as ações, estão as vidas de dezenas e dezenas de brasileiros, brancos, negros, mestiços, que nos precederam, que vieram antes de nós. Não é simplesmente uma coisa antiga que caiu; é a nossa história. É a nossa história que está ali. É uma questão de identidade, né? Então, não tem como eu pensar num futuro se eu não entender bem de onde eu vim, onde eu estou e para onde eu vou. É uma questão de localizar-se no tempo, né? Isso é urgente. Então, além das igrejas, a
Igreja Católica também se fez presente nos hospitais. Aqui no Brasil, por exemplo, esse assunto já é de amanhã, mas adiantando aqui um pouco, nós tivemos uma atuação fortíssima de religiosos e religiosas no campo da saúde, nos hospitais, por exemplo. Foram pioneiras na administração de hospitais aqui no Brasil, as irmãs de São José de Chamber. Elas chegaram ao Brasil no século XIX, na época de Dom Pedro I, entre o período da Regência e o início do segundo reinado. Dentre as irmãs de São José de Chamber, destaca-se, por exemplo, Madre Teodora Voiron, que morreu, inclusive, em fama
de santidade. Essa mulher doou a sua vida; era francesa, mas doou a sua vida pelo Evangelho aqui no Brasil, na cidade de Itu. Então, isso é a história da igreja no Brasil. Essas religiosas traziam da França as inovações no campo da medicina que elas aprendiam lá como enfermeiras e traziam para cá, e formaram hospitais e constituíram hospitais de boa qualidade aqui no Brasil. Ou, quando nós pegamos os irmãos Maristas e os irmãos Lasal, que chegaram ao Brasil e trouxeram seus métodos pedagógicos, criando colégios de altíssimo nível no Brasil. Gerações de brasileiros que foram políticos, médicos,
advogados, diplomatas, formados pelos Maristas, formados pelos Lasalianos, formados pelos Salesianos. Quem trouxe os Salesianos para o Brasil? A Princesa Isabel. A Princesa Isabel, herdeira do trono do Brasil, escreveu na década de 1880. Ela escreveu para quem? Para o padre Giovan Bosco, Dom Bosco. Dom Bosco era vivo. A Princesa Isabel se correspondeu com um santo. E São João Bosco, inclusive, responde a cartas da Princesa Isabel, dizendo: "Eu lhe mandarei alguns dos meus Salesianos e garanto a senhora que os meus Salesianos rezam e fazem rezar, e prometo para a senhora e para Vossa Augustíssima Pai, o imperador
Dom Pedro I, as minhas orações". Dom Bosco, um santo, o santo educador, se preocupou com o Brasil. O Brasil esteve no coração de Santo Inácio de Loyola, o Brasil esteve no coração de Dom Bosco. O Brasil apareceu, inclusive, numa visão mística de Santa Teresa de Jesus, quando os Jesuítas foram martirizados aqui no Brasil. Santa Teresa teve uma visão mística e qual era aquele local onde acontecia aquele martírio terrível? Era o Brasil. Então, os santos contemporâneos do Brasil tiveram uma ligação, tiveram uma proximidade com a nossa nação, que nós, enquanto católicos, desconhecemos. E é um absurdo
nós desconhecermos porque isso é a nossa história. Nós temos de olhar para isso. Então, a igreja está nos hospitais. Grandes hospitais do Brasil foram formados pela Igreja, por congregações: os Camilianos, as Irmãs de Santa Marcelina, as Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus. A cidade, por exemplo, onde eu nasci, as Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus chegaram lá no início do século XX. São João da Boa Vista: a fundadora da congregação, a Beata Clélia Merlone, ainda vivia. A Beata Clélia Merlone faleceu em 31 de outubro de 1916, e a congregação dela chegou a São João da
Boa Vista no início do século XX. Para quê? Para tomar conta da Santa Casa de Misericórdia. E em quantas cidades do Brasil não foi assim? Em quantas e quantas cidades não foi assim? A Igreja está presente também nas escolas, nas universidades. Quantos livros foram traduzidos no Brasil? Quantas editoras não foram abertas por iniciativa da Igreja? Os Salesianos, assim que chegaram ao Brasil, criaram uma tipografia; os Redentoristas, quando chegaram para tomar conta do Santuário de Aparecida, criaram também uma editora e um jornal. Iniciativa da Igreja, obra da Igreja, difusão de cultura através da Igreja. A maioria
dos brasileiros tinha acesso a obras de arte, onde? Nos ambientes da Igreja, nas paredes, nos vitrais. Era aí que as pessoas tinham acesso à arte, ao belo. A Igreja também está presente onde? Nas instituições de caridade. Em Petrópolis, por exemplo, foi fundado um Patronato de Nossa Senhora do Amparo. É um Patronato para cuidar de. Foi um santo sacerdote que fundou o Patronato e depois fundou uma congregação religiosa para administrar o Patronato. Obra da Igreja: asilos, os chamados hospícios antigamente, obra da Igreja; orfanatos pelo Brasil todo, obras da Igreja. Então, a Igreja esteve presente em vários
aspectos. As irmandades, as irmandades católicas, eram entidades fundadas com a permissão da Igreja, mas que eram geridas por leigos. O que caracterizava uma irmandade? Geralmente o interesse comum em cultuar um mesmo santo. Então, essas irmandades se reuniam, e essa irmandade poderia ser formada por pessoas da mesma condição social, às vezes da mesma profissão ou simplesmente pessoas que se aglomeravam em torno de uma devoção comum. As irmandades comportavam tanto irmandades mistas, brancos, negros e índios, quanto irmandades para brancos e irmandades para negros. Em quantas cidades do Brasil nós não vemos até hoje as Igrejas de Nossa
Senhora do Rosário dos Homens Pretos? Era o nome que se dava a essas igrejas. Os negros africanos podiam se reunir nas suas irmandades. E essas irmandades acabavam sendo um refúgio para a preservação de algumas tradições, alguns costumes, às vezes até do idioma de origem destes negros. Algumas irmandades na Bahia, por exemplo, sobretudo na cidade de Salvador, conservavam o costume de os membros dessas irmandades se comunicarem no idioma nativo, o idioma que eles trouxeram da África. Então, essas irmandades eram um campo não somente de vivência da fé católica, mas também de inserção social, porque dentro da
sociedade colonial, às vezes a única maneira de haver uma inserção social do negro era de fato nas irmandades. Nas irmandades, os africanos podiam presidir a mesa diretora da irmandade, podiam desempenhar determinados cargos. E quantas e quantas irmandades que possuíam negros livres não angariaram fundos para libertar, para comprar a alforria dos próprios irmãos. Então, as irmandades foram um refúgio para a cultura, para a vivência da fé, para a solidariedade dessas populações. Isso tudo deixou uma herança na história do Brasil. Então, a Igreja, desde o início, sempre esteve aqui; ela construiu e sustentou a identidade do povo
brasileiro. Mas aqui nós encontramos um inimigo comum, né? O que seria esse inimigo comum? É uma falsa narrativa que tenta apagar esse legado: a Igreja instrumentalizou o negro. Pelo contrário, a Igreja era a única instituição que admitia que os negros se organizassem, e isso com a permissão da Igreja. O Papa e o Rei de Portugal não iriam contrariar a Igreja, a monarquia portuguesa sempre esteve muito ligada à Santa Sé e havia esse interesse da Igreja de que os negros também tivessem essa possibilidade de se organizar, de construir suas igrejas e de cultuar os santos da
sua devoção. Muitos africanos, quando eram trazidos para cá, já conheciam, às vezes, a fé católica lá na África. Então, existiam africanos que já conheciam a fé católica e já tinham Nossa Senhora do Rosário como sua protetora e padroeira. Então, por isso, quando chegavam ao Brasil, já tinham essa devoção, esse culto comum a Nossa Senhora do Rosário, entendida como a protetora do povo negro. E também tinha um culto aos santos negros, Santo B, Santa Efigênia, São Benedito. Esse culto já era difuso, né? Então, isso é bastante curioso, né? Quando vemos nessas irmandades esses elementos africanos que
vão se mesclando com o catolicismo. Agora, é claro, isso significa então que as pessoas viviam a fé de uma maneira... a vivência da fé católica enfrentou muitas dificuldades, muito sincretismo, muita mistura. Aqui no Brasil, ocorreu muita superposição de elementos religiosos. Por quê? Pela ausência de clero. Então, as pessoas às vezes não faziam isso nem por maldade ou por querer acreditar em algo de maneira equivocada. Pelo contrário, era a ausência de clero, ausência de quem lhes ensinasse. Como diz São Paulo, "e como crerão se não houver quem pregue?" E como pregarão se não forem enviados, né?
Então, nem sempre a Igreja, do ponto de vista oficial, a partir do clero, da organização do clero, nem sempre conseguiu dar conta de tudo. Basta pensar que, na época do descobrimento do Brasil, o Brasil pertencia à diocese da Madeira, da Ilha da Madeira. O Brasil inteiro estava integrado como território da diocese da Ilha da Madeira. Então, era o bispo da Ilha da Madeira que administrava o Brasil até que, na segunda metade do século XVI, a coroa portuguesa mandará um bispo, o primeiro bispo para o Brasil: Dom Pedro Fernandes Sardinha, que foi o primeiro bispo enviado
para cá. Imaginem, né, o primeiro Bispo enviado para o Brasil. Ele foi bispo da primeira diocese do Brasil, que foi a diocese de Salvador, na Bahia. A diocese de Salvador compreendia, em dia, qual território? O Brasil inteiro! O Brasil inteiro estava ligado à Diocese de Salvador. Então, imagine o trabalho que o Bispo teria, né? E o Brasil demorou muito para ter outras dioceses; somente no século X, quase no fim do século X, é que o Brasil ganhou mais duas dioceses e Salvador foi elevado à condição de arquidiocese. Então, nós estamos falando aí dos primeiros 200
anos de história da Igreja no Brasil, com a presença de três bispos em todo o território nacional e um clero muito diminuto. Então, é claro que foi ocorrendo essa superposição de elementos religiosos. Alguns elementos africanos começaram a ser associados, então isso começou a se misturar com o catolicismo, com algumas crenças indígenas, e foi produzindo, assim, um catolicismo muito peculiar em algumas regiões aqui do Brasil. Então, nós temos que entender isso, né? Por que isso ocorreu, né? Muita gente acha que a presença da Igreja, como Portugal era uma monarquia católica, muita gente imagina que a presença
da Igreja foi linear, total, ocupou tudo e a Igreja tinha uma hegemonia. Não era bem assim; é necessário entender as coisas no seu devido lugar, né? Nem tudo é tão simples como parece, certo? Então, nós temos aqui esse inimigo comum que é o quê? Que é a ignorância, o desconhecimento, né, em relação à nossa própria história. E você já deve ter ouvido uma porção de vezes aqui, né, que a Igreja só veio aqui ao Brasil para impor uma religião que os índios não pediram. Bom, se você for olhar assim, você vai falar: "Ah, então eles
vieram e impuseram uma religião que os índios não pediram." Bom, quando você está convencido de que algo é bom, o que você faz? Você leva isso para outros. Então, por exemplo, você que é pai, que é mãe, se seu filho disser assim: "Ah, eu não quero escovar meus dentes." Ah, mas quantos anos você tem? Eu tenho três, mas eu não quero escovar meus dentes. Ah, então tá bom, meu filho, então eu vou esperar você fazer 18 anos. Quando você tiver 18 anos, aí você veja se é bom ou ruim você escovar seus dentes. Ah, eu
não quero ir à escola. Não? Então não vá à escola. Depois, quando você crescer mais, tiver uma consciência, aí a gente vê. Não, a gente não faz assim em relação àquilo que nós estamos convencidos que é bom. O que fazemos? Nós transmitimos isso, nós vamos falando para os nossos filhos: "Não, você tem que escovar o seu dente, né? É uma questão de saúde, é uma questão de higiene, você vai fazer isso." Ah, mas eu não quero! Mas faça, sem querer mesmo, porque é um bem, é um bem para você. E assim a criança vai se
habituando. A vida em sociedade funciona assim, e as sociedades, elas também, de certa forma, influenciam umas às outras. Imaginar que a Igreja veio até aqui para destruir a cultura indígena é a mesma coisa que desejar que os povos originários permanecessem como uma espécie de museu vivo. Não, eles são indígenas, eles têm esse costume; eles comem carne humana, eles enterram crianças que têm algum tipo de deficiência, eles enterram vivos, mas é um ritual. Vamos respeitá-los, vamos deixar, vamos só ficar aqui observando como se fosse um museu vivo. Então, quer dizer, aquilo que os portugueses já conheciam,
já sabiam, eles por acaso não poderiam transmitir? E outra coisa: aquilo que os indígenas já sabiam e já conheciam, e que os portugueses não conheciam, por acaso os portugueses iriam recusar? Se os portugueses tivessem recusado receber dos indígenas o que os indígenas queriam ensinar, também os portugueses não teriam sobrevivido aqui. Quando Cabral chegou, eram 1500 homens; os indígenas eram estimados aqui, né, os povos originários, estimados em mais ou menos 10 milhões, mais ou menos, né? Ou para mais ou para menos, não se sabe exatamente, mas por volta de 10 milhões. A presença portuguesa aqui só
foi possível porque eles aprenderam a se alimentar com os indígenas, aprenderam a utilizar a medicina, o conhecimento indígena para se preservar. Uma picada de cobra, por exemplo; como que você faz? Tem que aprender com os indígenas o que comer, o que não comer, o que é veneno, que não é; tem que aprender com os indígenas. A presença portuguesa não seria possível se não tivesse ocorrido essa troca. Portugal trouxe muito de si, mas Portugal também absorveu muito dos indígenas. Então, é um erro imaginarmos que a Igreja veio aqui para destruir, né? Essa não é a intenção
da Igreja, né, destruir. Pelo contrário, qual é a intenção da Igreja? Fazer aquilo que Cristo mandou: "Ide por todo o universo e pregai o evangelho a toda criatura." E os católicos, convencidos de que isso é um bem, fazem isso e devem fazer isso. Quem se diz cristão e não anuncia o nome de Cristo como salvação, como algo bom, se não anunciam que Cristo é o nosso único salvador, que é por ele que nós poderemos alcançar a vida eterna, então não é cristão de fato. Faz parte do escopo da missão, da essência do ser cristão, crer
e levar outros a crer, entendeu? Então, é isso que foi acontecendo. Foi um compartilhamento não só da fé, mas também da própria cultura, daquilo que havia sido desenvolvido. Enfim, né? E aí existem vários mitos que vão se criando em torno da Igreja, né? Aqui eu já citei vários, né, do começo da nossa aula de hoje até agora. Vou levantar aqui mais alguns, né? Então, por... Exemplo é o mito de que a igreja veio apenas para impor a sua religião, exterminando qualquer opinião dissonante, né? Isso é falso. É falso! Por quê? A fé foi trazida como
um caminho de civilização, um caminho de civilização. Ah, mas os índios já tinham uma civilização. Sim, eles tinham uma civilização, só que tinha uma civilização que às vezes partia de pressupostos incorretos. Aí quem determina qual é o pressuposto correto? A medida de todas as coisas está em Deus, está em Cristo. Então, se um indígena come carne humana, acha ali o inimigo e não vê problema nisso, a igreja vai vir e vai dizer: "Não, você não pode fazer isso", como a igreja fez lá no México com os astecas, dizendo: "Não, não se pode oferecer sacrifício humano.
Isso não pode agradar a Deus. Como que Deus pode se alegrar com a destruição da sua criatura mais amada, que é o ser humano?" A vida humana, a vida humana tem uma dignidade. O ser humano é imagem e semelhança de Deus, ele não pode ser instrumentalizado. Prova disso são os documentos da igreja. Eu citei alguns ontem aqui, vou citar outros aqui. Por exemplo, cartas papais que proibiam a escravidão dos indígenas falavam contra a escravidão em geral, mas especialmente a escravidão dos indígenas. Por exemplo, a bula "Sicut Dudum", publicada em 1435 pelo Papa Eugênio IV, ordenava
aos católicos proprietários de escravos nas Ilhas Canárias que os pusessem em liberdade. Católico não deveria ter escravo! A bula "Dudum", do ano de 1435, foi antes do descobrimento do Brasil. Depois, nós temos as instruções da carta do Papa Pio II, escrita em 1462 e dirigida ao episcopado do mundo todo, com informações claríssimas sobre o dever moral que os bispos tinham de combater o tráfico negreiro que estava começando naquela época, em 1462, sobretudo com um sequestro de etíopes que eram levados para a Europa como escravos. Depois vem a bula "Concut", escrita pelo Papa Gregório XIV entre
os anos de 1590 e 1591, que condenava a escravidão de modo amplo, a escravidão em geral, seja lá qual for a raça, a cor daquele que é escravizado, não só os negros. Depois, nós temos a bula "Comission Nobis", que foi escrita pelo Papa Urbano VI em 1639, que condenava qualquer tipo de tráfico humano e as humilhações impostas aos escravizados. Depois, nós temos a bula "Imensa Pastorum" que foi publicada em 1741 e que reiterava as condenações anteriores à escravidão, sobretudo dos indígenas e dos negros. Depois, vem a bula "In Supremo Apostolatus" do Papa Gregório XVI, de
novo condenando a escravidão. Então, aqui são alguns exemplos de como a igreja foi contrária a esta imposição forçada. Ah, Rafael, mas na história do Brasil nós temos casos de fazendeiros que forçavam todos os seus escravos ao batismo. É verdade! Existem muitas fontes históricas que mostram que essas pessoas eram católicas. Esses donos de escravos eram católicos. Então, primeiro ponto: já estavam em desacordo com aquilo que a igreja estava instruindo. Ah, mas por que Portugal não fazia nada? Portugal acabava fazendo um pouco de vista grossa porque havia um costume difuso de se escravizar. Então, era aquela coisa:
"Ah, não devemos... ah, mas tal nação faz, tal outro lugar faz, todo mundo faz, estamos fazendo também". Isso não torna a ação correta! Não é porque todos estão fazendo que isso torna a ação correta. De modo algum! Isso não diminui o problema. Não se trata aqui de negar o problema. O problema existia. Existiam católicos que impunham o batismo aos seus escravos. Existiam. Tá correto? Não está correto, mas quando nós olhamos para a ação dos missionários, a ação dos missionários católicos é uma ação espontânea. Ah, então todos os missionários católicos foram lindos, maravilhosos? Não! Teve um
padre, um frade que agiu de maneira mais áspera com os indígenas ou com os africanos? Também não! Nós vamos encontrar casos negativos. Casos negativos, inclusive os próprios jesuítas que eram ardorosos defensores dos indígenas. Nós vamos encontrar na história da igreja no Brasil. São poucos, mas existiram. Jesuítas que fizeram vista grossa para a questão da escravidão. A grande maioria agiu bem, mas alguns não. Então nós não podemos generalizar, dizendo: "Não, todos foram lindos, maravilhosos, só fizeram bem." Não! Mas também dizer que todos fizeram mal, agiram mal também está errado, é injusto e é mentira. Então não
podemos ter esse tipo de visão. Né? Então, por exemplo, os jesuítas, será que eles vieram aqui para destruir a cultura? Os jesuítas catalogaram os povos indígenas que existiam aqui no Brasil, aprenderam as línguas desses povos. São José de Anchieta escreveu a gramática do Tupi. Os jesuítas foram os que mais lutaram contra a escravidão indígena. Olha a região dos Sete Povos das Missões. Os jesuítas pegaram até em armas para defender as populações indígenas na região dos Sete Povos das Missões. Nós temos até o caso de um indígena, o CEP, que tem processo de beatificação aberto. O
indígena das Missões jesuítas que também pegou em armas para defender a liberdade desses aldeamentos de ter ali a sua fé garantida, o funcionamento dos colégios garantidos, foi brutalmente assassinado, mas tentou defender sua fé. E, pois, nós temos aqui um outro ponto, né, que a evangelização também, aqui no Brasil, procurou acolher elementos da cultura indígena e partir deles para poder catequizar os indígenas. Por exemplo, os indígenas tinham, muito forte na sua cultura, o culto aos antepassados. O que os missionários católicos fizeram? Cristianizar esse culto! Não se trata simplesmente de fazer um culto aos antepassados, mas sim
fazer o quê? Ensinar os indígenas a sufragar as almas dos seus antepassados, porque os antepassados podem estar no purgatório, por exemplo. E aí, entre as populações indígenas, cresceu uma grande devoção às almas do purgatório. Entre os indígenas, havia uma grande devoção. A São Miguel, São Miguel Arcanjo, porque São Miguel é o chefe dos exércitos celestes, e os índios guerreiros gostavam dessas imagens. Então, a igreja soube aproveitar elementos da cultura indígena. Um outro mito que a gente ouve muito é que a igreja foi a grande opressora das populações originárias aqui do Brasil, né? Isso também é
falso, né? Quem explorava os indígenas mesmo eram os colonos, os grandes proprietários de terra, e quem os defendia, quem brigava por eles, eram os missionários. Então, os Jesuítas foram os maiores defensores dos indígenas. São José de Anchieta, por exemplo, chegou mais de uma vez a arriscar a própria vida, se colocando numa situação até de inimizade com colonos poderosos que tinham parentes influentes no reino de Portugal, para defender os indígenas. Os indígenas chamavam os Jesuítas de Abaré. Abaré significa amigo, né? Olha aí, né? Que opressores eram, né, os Jesuítas, a ponto de os indígenas os chamarem
de Abaré, amigos. Eles são amigos, né? Os aldeamentos Jesuítas também garantiram o quê? Educação e proteção contra abusos. Por quê? Porque o aldeamento Jesuíta era um território protegido por direito pontifício. Se qualquer coisa acontecesse, qualquer interferência externa que ocorresse ali dentro de um aldeamento, os Jesuítas poderiam denunciar diretamente ao Papa, e o Papa pediria contas ao Rei, à coroa portuguesa. Então, isso aí não é mera opinião, né? São fatos históricos, fatos comprovados, né? Então, nós temos que pensar muito nessas coisas. Agora, essa verdadeira história da igreja, ela foi realmente transformadora. Essa ação da igreja foi
transformadora, ela marcou o Brasil. Vocês não vão encontrar, no Brasil, até a Proclamação da República e mesmo depois dela, entre os grandes nomes na política, nas ciências, na literatura, vocês não vão encontrar somente pessoas da igreja, pelo contrário. Se vocês pegarem os grandes nomes da política, da literatura, vocês vão encontrar um monte de gente unida à igreja, um monte de gente que era padre, inclusive. Basta a gente pensar, por exemplo, no Padre Bartolomeu de Gusmão. O Padre Bartolomeu de Gusmão foi o primeiro cientista do mundo a conseguir voar com uma coisa mais pesada que o
ar. O Padre Bartolomeu de Gusmão, que era de Santos, litoral aqui de São Paulo, desenvolveu uma engenhoca que era chamada de Passarola de Gusmão. Era um grande pássaro voador, e o Rei de Portugal, sabendo disso, ficou muito interessado. O Padre Bartolomeu de Gusmão foi a Portugal e apresentou a sua Passarola diante do Rei de Portugal e de outros tantos cientistas que se maravilharam com essa descoberta feita por um brasileiro, um brasileiro sacerdote. Então, na literatura e nas ciências, a igreja foi forjando o Brasil. Basta a gente pensar no Padre Landel de Moura. O Padre Landel
de Moura foi um cientista brasileiro importantíssimo; ele descobriu o princípio do estudo da fibra ótica, que é uma coisa que nós usamos hoje, mas os estudos do Padre Landel de Moura possibilitaram a criação do rádio, esse sacerdote brasileiro. Então, nós precisamos voltar o nosso olhar para esses grandes personagens, esses grandes nomes da história da igreja. O grande problema é que hoje muita gente tenta também aprender sozinha e fala: "Não, eu vou estudar a história da igreja no Brasil. Então, vou pegar aqui uns livros e vou estudar sozinho." Qual que é o problema? Alguns livros de
história da igreja no Brasil são escritos naquela lógica marxista de opressor e oprimido, que é uma lógica que não se aplica na realidade. Se você disser assim: "Ah, mas quem é rico é da elite, se é da elite é explorador", certo? Errado! Porque aí você está dizendo que todo rico é mau e todo pobre é bom. É um absurdo! Isso não corresponde à realidade. Nós sabemos que existem pessoas que têm muito dinheiro e são pessoas boas, que se colocam no lugar dos outros, que se importam com as necessidades dos outros. São pessoas que usam os
seus bens para empreender, para dar emprego, para dar dignidade, para ajudar outras pessoas a colocar o pão sobre a sua própria mesa. Existem pessoas que são boas, do mesmo jeito que existem ricos que são avarentos e aproveitadores. Assim como também existem pobres que são bons, que são honestos, que são trabalhadores, e existem pobres que acham que o mundo inteiro lhes deve algo, que não querem trabalhar, que têm uma índole ruim. O fato de ser rico ou pobre não define o caráter. Essa ótica do opressor e do oprimido não se aplica na realidade. Esse é o
problema, porque as pessoas são diferentes e existem pessoas boas e más. Pessoas boas e más estão em todos os lugares. Dentro da igreja no Brasil, nós tivemos muita gente boa. Amanhã nós vamos falar só deles, só desses bons exemplos da igreja. No Brasil, existe muita gente boa, mas existe muita gente ruim também, assim como na minha profissão, por exemplo. Existem professores muito bons, muito esforçados, que estudam, que preparam suas aulas, que têm interesse, que investem em conhecimento para tornar sua aula melhor, para seus alunos serem melhores. E existem professores que pouco se importam com seus
alunos, que querem dar sua aula, ganhar o seu dinheiro e pronto, e acabou. Assim como existem médicos bons e médicos ruins, assim como existe qualquer pessoa de qualquer profissão que pode ser boa ou ruim. A humanidade é assim. Então, para analisar a história da igreja, nós temos que ter isso em mente, né? Nós não podemos, por exemplo, confiar, às vezes, nem mesmo nos livros de história da igreja que começam com essa ótica. Muitos livros de história da Igreja no Brasil fazem uma distinção. Por exemplo, é uma distinção metodológica; eles falam da história da Igreja do
descobrimento até o Brasil Império, que tem aquela visão das Societas Perfecta, a Igreja enquanto sociedade perfeita e idealizada pelo Concílio de Trento, repetindo ali tudo aquilo que o Catecismo Romano e as definições de Trento diziam: Aetas Perfecta. Aí, depois, quando chega no século X, falam do ultramontanismo, que é a Igreja ultramontana, a Igreja que quer obedecer ao Papa, a Igreja que não quer valorizar elementos nacionais. E, então, se torna uma Igreja conservadora romanizada. Depois, vem, segundo alguns historiadores de vida, a Igreja pré-carregada. Muitos fazem essa distinção, mas acontece que a Igreja, essa coisa de Igreja
pré-conciliar, pós-conciliar, Sociedade Perfeita, ultramontana, são só divisões metodológicas. A Igreja é a Igreja de Cristo, divinamente instituída por Nosso Senhor, como nós lemos em Mateus, capítulo 16, versículo 18: "Tu és Pedro e sobre ti edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela." Historicamente, a Igreja nasce católica e se desenvolve católica. A primeira grande divisão do cristianismo se dará no ano de 1054, com o cisma do Oriente, e a segunda grande divisão ocorre na Revolução Protestante de 1517. Antes disso, a Igreja é linearmente católica; a Igreja sempre teve papas, de Pedro
até Francisco. A sucessão apostólica é ininterrupta. Aí vêm alguns que dizem: "Ah, mas Constantino fundou a Igreja Católica," o que é uma sandice. Esse tipo de afirmação ignora que, antes de Constantino, comprovadamente, arqueologicamente, existem provas documentais e testemunhais de que a Igreja teve 29 papas antes dele. Como pode a Igreja ter sido fundada por Constantino se já tinha uma estrutura hierárquica anterior a ele? Tanto é que a mãe de Constantino já era católica. Como ele poderia fundar algo que já era professado antes mesmo de sua existência, pela sua própria mãe? Então, esses são argumentos que
não se sustentam na realidade; são historicistas, recortes feitos para querer enfiar guela abaixo qualquer tipo de afirmação. Às vezes, confiar nesses livros nem sempre é uma boa ideia, porque a própria produção sobre a história da Igreja pode estar enviesada. Confiar em artigos, vídeos e informações soltas pela internet, que nem sempre são comprometidas com a verdade, pode ser arriscado. Muitas vezes, as pessoas não citam de onde tiraram as informações. Por exemplo, achar que a Wikipedia é uma fonte confiável. A Wikipedia é uma enciclopédia colaborativa; seu conteúdo é alterado ao longo do tempo. Como ter uma garantia
de que aquilo é verdade? Se você pegar, sei lá, o Google, ou chatbots com inteligência artificial, como os que temos hoje em dia, também é complicado. Livros didáticos muitas vezes pegam trechos de outros livros e trabalhos acadêmicos, e, às vezes, são recortes propositalmente escolhidos. O aluno, e até o professor, que tem que dar muitas aulas, pega o material didático como está e ministra a aula. O aluno lê uma citação escolhida a dedo, muitas vezes para apagar ou desmerecer o que a Igreja fez. Pode-se pegar algo negativo. Por exemplo, "Ah, eu vou falar da escravidão, então
vou escolher um texto de um dos poucos padres jesuítas que eram contra a escravidão." Eu poderia pegar um texto da vida de Frei Galvão, santo brasileiro que viveu ali em São Paulo, no Mosteiro da Luz. Uma vez, foi dado ao Mosteiro uma criança como escravo. Nossa! Na biografia de Frei Galvão, escrita por Maria Estela, que é a principal biografia dele, conta um dado interessantíssimo: as irmãs estavam enfeitando a capela do mosteiro com um lustre de cristal que era descido por uma corda. Elas desciam o lustre, colocavam as velas, as flores, e subiam o lustre já
aceso, prendendo-o na parede. E aí foi dado ao mosteiro um menino como escravo; as irmãs prepararam um quartinho para ele e cuidavam desse menino como se fosse filho delas. Mas esse menino foi dado como escravo; ele não era livre. Olha como ele era maltratado: ele recebeu um quartinho, tinha cama, roupa limpa, as irmãs deram sapatos a ele na época de Frei Galvão. Um dia, ele foi ajudar a descer o lustre. A irmã perguntou: "Você aguenta o lustre?" Ele disse que sim, mas quando desceu, o lustre pesou demais, escapou de sua mão, e os cristais vieram
abaixo; ele quebrou o lustre todo. O que esse menino fez? Ele se abaixou, se encurvou e começou a chorar. Então, a irmã que estava ali disse: "Meu filho, mas por que você está assim, chorando? Vamos recolher isso aqui tudo." E ele perguntou: "Senhora, não vai me bater?" Ela respondeu: "Por que eu te bateria?" Ele disse: "Porque eu quebrei o lustre." Ou seja, ele veio de uma realidade onde era agredido e a irmã disse: "Não, eu não vou te bater; vamos recolher aqui." E aí, a gente faz aqui a festividade dentro da igreja sem o lustre
mesmo. A gente usa outras velas aqui, e aí ele começou a chorar mais copiosamente ainda. E aí, a irmã falou: "Mas eu não tô entendendo. Eu tô dizendo para você que não vai acontecer nada com você. Por que que você está chorando mais ainda?" Ele disse assim: "Porque eu fiz algo de ruim, eu dei um prejuízo, e se a senhora não me bate, aí eu me sinto mais culpado ainda." Olha a lógica que estava na cabeça dessa criança! Ele achava que deveria apanhar. E o que essa religiosa fez? Não bateu nele, falou assim: "Esqueça isso,
você não vai ser tratado assim." E esse menino viveu a vida inteira ali, trabalhando como sacristão no Mosteiro da Luz. Então, vejam, existiam incoerências na história do Brasil. Existiam, mas era muito melhor ser escravo de um convento, ser escravo da igreja do que ser escravo, às vezes, numa fazenda. Então, vejam, não estou dizendo aqui que a escravidão é algo bom. Enquanto instituição, a escravidão nunca pode ser boa, né? Um ser humano que é dono de outro, então, será sempre um absurdo. Mas o tratamento que se dava aos escravos era muito mais humano na mão da
igreja. Muitas igrejas no Brasil tiveram escravos que foram dados a elas, inclusive, às vezes, como promessa. E essas pessoas trabalhavam, né, ali. Então, aqui é um exemplo de como nós precisamos aprender a fazer uma comparação de dados. Então, se eu pego um livro didático que tem lá um endossando a escravidão, ou se eu pegasse um livro didático com esse recorte da história deste menino sendo bem tratado num convento, a compreensão que o meu aluno teria seria diferente. Entendeu? Então, material didático pode enervar, pode fazer um recorte que vá conduzindo o sujeito para uma visão mais
azeda, mais antipática em relação à igreja, mas é um recorte que se faz. E, então, assim, achar que isso aí é neutro, né? É muita inocência. Então, nós temos que aprender a distinguir o que realmente é mais isento e o que não é. A maioria dessas fontes sempre vai ter uma visão fragmentada, parcial, da história. E depois também, outra coisa que é um complicador nesse campo da história da igreja: você não ter um método estruturado de estudo. Se você não tiver um guia, né, de como percorrer esse caminho da história da igreja, você pode se
perder nas várias narrativas que existem. Um diz isso, outro diz aquilo, "Ah, não sei mais nada!" E aí você acaba ficando com a primeira opinião que te pareça lógica. Nem tudo que parece lógico é verdade. As coisas podem parecer ter lógica, mas nem sempre é verdade. Por exemplo, eu vi esses tempos atrás um vídeo de uma senhora evangélica tentando fazer uma reinterpretação da história do Brasil. E ela contando, mas contando assim com toda a propriedade. Ela fala muito bem, inclusive, nesse vídeo, e a mulher contava com toda a propriedade, dizendo: "Não, porque no altar da
primeira missa aqui no Brasil não tinha imagens." Olha que interessante! Ela falava isso. Colocaram uma cruz, mas não tinha imagens. Da onde ela tirou isso? Que não tinha imagens? De fato, a cruz do altar está guardada no tesouro da sede de Braga, lá em Portugal, mas no altar da primeira missa foi colocada a imagem de Nossa Senhora da Esperança, que estava na nau de Cabral, foi colocada sobre o altar. Da onde ela tirou que não tinha imagem? Por quê? Porque ela estava construindo uma narrativa para evangélicos, para dar a entender o seguinte: apesar de terem
sido católicos, já um germen evangélico de recusa das imagens. Olha que coisa! É uma narrativa. E ela falava de um modo muito convincente, inclusive. Muita gente me mandou esse vídeo, falando: "Nossa, olha, você sabia disso, né?" Como se aquilo fosse a verdade. Acontece que não é, é uma construção. Basta pegar os documentos originais ali da primeira missa, você desmonta essa narrativa, assim, em 2 minutos. Não tem cabimento um negócio desse, entendeu? Então, é preciso ter um método assim, estruturado, para estudar, né? Não dá para fazer de outro jeito. E também, você consumir conteúdo sem curadoria
é muito complicado. Como que você vai consumindo, consumindo, consumindo e vai dizendo: "Não, eu já li não sei quantos livros sobre." Tá, mas se você não tiver método, se você não tiver uma separação do que ler primeiro, do que ler depois, isso pode mais confundir do que construir, né? Realmente uma visão justa das coisas. Você vai construindo uma porção de meias verdades, né? E como que você vai discernir o que é real do que não é? Como que você vai deixar de julgar o passado com os olhos do presente, né? Então, é justamente por isso
que eu me propus a fazer aqui esses três dias de estudo com vocês, para apresentar a necessidade de que um caminho sólido é necessário, é urgente, quando a gente fala de história da igreja no Brasil. E vocês também precisam abraçar um método que ensine com clareza, que aponte fontes confiáveis, que apresente as coisas com seriedade, né? E tem que ser uma seriedade que esse tema exige, que ele merece, né? E é exatamente isso que vocês estão fazendo aqui nessa jornada, né? Buscando essa apresentação. Aqui, eu estou colocando muitas ideias e muitos conteúdos também, mas é
preciso ter essa consciência, despertar para essa consciência, tá certo? Agora, né? Eu quero ouvir vocês. Eu falei bastante aqui, mas eu quero escutar vocês. E vocês, né? O que que me dizem aí? O que que mais chamou a sua atenção nesses dois primeiros dias da nossa jornada, né? Naquilo que eu falei ontem? O que eu apresentei hoje, que mais chamou a atenção, conta para mim aí no chat, né? Vamos ver, né? Eu vou dar uma olhada aqui no chat e vou responder aqui algumas eventuais dúvidas. Se você também tiver sua dúvida, quiser enviar a respeito
disso que eu coloquei hoje, de alguns desses mitos e alguns desses argumentos que desmontam esses mitos, vocês já tinham ouvido alguma coisa assim, né? Já tinham parado para pensar nisso, né? E como que você se sente agora, né? Depois de ouvir a aula de ontem, ouvir a aula de hoje, como que você se sente agora? Você já se sentiu meio perdido nesse negócio da história da igreja? Parece que agora, né, uma luzinha aí vai acendendo no fim do túnel, né? Como que é? Eu vou dar aqui uma olhadinha nas participações de vocês. Vamos ver aqui...
Deixa eu ver aqui... Aqui, vamos ver aqui algumas questões. Deixa eu ver aqui mais para cima... Olha aqui, o César Canav, ele coloca: "Excelente resgate histórico do que era a igreja católica". É que o César coloca a visão dele aqui, né, a respeito da igreja no passado e no presente. O José Sanchez coloca aqui um agradecimento. A Eline fala aqui sobre os Jesuítas. Ah, aqui ó, Eline faz uma indicação; essa indicação, eu bato muito nessa indicação, que é a do padre Serafim Leite, né? O padre Serafim Leite foi o maior historiador dos Jesuítas aqui no
Brasil, né? Sem dúvida alguma, né? Deixa eu ver aqui quem mais... Algumas pessoas aqui agradecendo. Eu que agradeço pela participação de vocês. Sobre o desenvolvimento da ciência, a igreja indica aqui a obra "Cientistas de Batina", do Francesco Anoli e do André Barteli; é uma obra muito boa mesmo. A Ana Gonzaga também aqui colocando sua visão. Depois, quem mais aqui? A André também comentando. Quem mais? Professor? Quem mais aqui? A Marina Silveira: "Ouviria o senhor horas a fio, sem cansar, encantada com as suas explicações. Parabéns! Deus o ilumine sempre, amém." Eu que agradeço pela sua participação.
Vamos ver aqui as perguntas... Aqui ó, o Caio Casaroto: "Professor, quais seriam algumas das obras mais confiáveis sobre a história da igreja no Brasil? As melhores obras para estudar a história da igreja no Brasil são aquelas obras primárias, escritas pelos próprios missionários, né? Então, por exemplo, quando a gente vai falar do início aqui do Brasil, uma obra que é preciosa, todo mundo que quiser estudar a história do Brasil tem que se remeter a ela, é a obra 'História do Brasil', do Frei Vicente do Salvador. O Frei Vicente do Salvador era um franciscano; ele foi o
Heródoto do Brasil, é o pai da história brasileira. Ele escreveu o primeiro livro realmente organizado da história do Brasil, e aí ele mescla a história da igreja com a história do Brasil, ele não distingue. Então, esse seria um primeiro livro para começo de conversa, e depois aquilo que os Jesuítas produziram e depois aquilo que os arquivos das congregações religiosas aqui no Brasil guardam. Então, tem muita coisa, inclusive de história da igreja no Brasil, não publicada, né? Então, há uma riqueza grande nesse campo, né? Depois, aqui algumas outras pessoas também cumprimentando, agradecendo. Eu que agradeço pela
participação de vocês. Vamos ver aqui agradecimentos... Vamos ver aqui o Wesley Gabriel comentando de como a igreja faz parte do nosso povo de uma maneira que a história atual e dos livros didáticos não fazem jus. É de fato, né? Parece que existe um divórcio, né, entre aquilo que a igreja realmente fez e contribuiu aqui com o Brasil e aquilo que se diz hoje em dia, né? Então isso é fato, né? Depois vamos ver aqui... Opa! Vamos ver aqui... Ah, o Andreas comenta: "Professor, ontem aconteceu mal-entendido. Eu quis dizer com a minha pergunta que é perigoso
dizer uma desculpa integral de crimes; críticos pegam qualquer coisa para exagerar problemas e justificar." Sim, sim, não, mas isso, né? Eu concordo plenamente. Às vezes, na hora da leitura, ali, às vezes não fica tão claro, né? E a gente lê rápido também, mas eu concordo, né, com o que você coloca aqui. Você não pode desculpar um crime ou um erro; o que aconteceu, aconteceu. Contra fatos não há argumentos. Aquilo que filhos da igreja fizeram de mal, fizeram; está feito, não muda, né? Nós não podemos desculpar algo que é condenável. Agora, do mesmo modo, aquilo que
é bom também não pode ser ocultado porque eu não gosto. Ah, eu tenho antipatia pela igreja católica, então aquilo que a igreja fez de bom eu ignoro solenemente; aquilo que ela fez de mal eu exalto e eu repito e repito a exaustão. É uma injustiça, entendeu? Então, são os dois extremos da coisa, né? E concordo plenamente, né? A Roseli comenta aqui: "Sim, eu me sentia perdida, pois sou professora aposentada e sempre trabalhei com a história da igreja católica no Brasil e não sabia desses fatos, né? E como trabalhei de modo errôneo, mas muitas vezes, né?
Nós, professores, né? Eu também tô nessa realidade. Nós temos de pegar uma carga de aulas muito elevada; nem sempre temos tempo de reciclar os nossos conhecimentos. Temos de trabalhar com um programa que o governo prevê, temos de trabalhar com livro didático que as instituições de ensino nos dão, então às vezes a coisa acaba correndo um pouco à revelia, né? E aí a justiça acaba não sendo feita nisso, né? Então, muito bem. É isso, né? É uma realidade que toca todos nós, infelizmente, né? Vamos ver aqui mais... Aqui o Rafael comentando. Do Vitor Merelles, da Primeira
Missa, não mostra a imagem no altar. Talvez o mito venha daí; certamente, certamente vem daí o Vitor Merelles. Ele pintou o quadro da Primeira Missa no século XIX, né? Então, foi bem tardio, foi bem depois, né, do fato ali da Primeira Missa, e realmente ele coloca ali uma grande cruz de madeira. Aliás, aquele quadro do Vitor Merelles, ele daria para a gente analisar ali alguns furos a partir da narrativa histórica oficial, né? Mas é claro que isso aí não é que o Vitor Merelles errou. O Vitor Merelles idealizou um pouco e colocou um pouco da
visão da época, uma visão um pouco romântica até, dos indígenas, né? E o modo como a coisa ali foi feita acaba ajudando, né, nessa narrativa. Então, é isso, né, meus caros. Então, fazendo essa análise, dá para a gente perceber claramente essas realidades aqui, né, conforme eu tenho dito aqui. Bom, meus caros, espero que esse nosso encontro de hoje produza bons frutos e tenha sido útil para vocês. Amanhã vai ser o nosso último encontro; será no mesmo horário, às 20 horas. E eu preciso dizer uma coisa: a aula de amanhã é a mais importante de todas
nessa jornada. A aula de amanhã é a mais importante. Você verá como a Igreja moldou uma terra de santos. Nós vamos falar daqueles filhos da Igreja que deram certo, que fizeram o bem e que realmente corresponderam a uma graça de Deus e que, por isso, são exemplos, né, de filhos da Igreja no Brasil. E nós veremos, né, que a Igreja moldou uma terra de santos. Nós veremos como podemos e devemos proteger a nossa fé em um mundo que tenta apagá-la, negá-la. E, se você ainda está no nosso grupo exclusivo do evento, você vai receber também
o material da aula. Quem está nos grupos do WhatsApp já recebeu hoje o material da aula de ontem; depois, na sequência, amanhã vocês devem receber o material da aula de hoje, e, depois de amanhã, o material da aula de amanhã. Convide os seus amigos e familiares para que estejam aqui conosco. Muitíssimo obrigado por estarem aqui. Fiquem com Deus. Até amanhã! Foi um prazer estar aqui com vocês. Tchau, tchau!