em 1714 um filósofo natural e matemático né Mais ou menos assim um cientista da época que era o Yohan Miller deu uma palestra com o título sobre os milagres e nela ele oferecia uma definição de milagre que era até uma definição convencional ali do seu tempo a definição que ele deu foi a seguinte milagre é uma certa operação incomum que produz tal efeito cuja causa não pode de forma alguma ser explicada pelas leis ordinárias da natureza mas é totalmente contrária a elas e portanto exige que elas sejam necessariamente suspensas por um tempo e que outras
sejam postas em seu lugar o contexto no qual ioham Miller tá propondo essa definição que é o contexto ali da chamada revolução científica é um período em que as pessoas estão cada vez mais interessadas e pelo menos os filósofos naturais são meio que os cientistas do período então cada vez mais preocupados em compreender a realidade nas suas regularidades né como uma de mecanismo um relógio assim que você pode conhecer é quais são os seus elementos constituintes e qual as relações de causa e efeito entre esses elementos né mas a gente vê que mesmo nesse contexto
de grande interesse em compreender regularidades e compreender o funcionamento natural das coisas o tema dos Milagres ainda era tinha uma certa proeminência ali nas discussões filosóficas e Inclusive a maioria dos filósofos naturais como o Yohan Miller por exemplo acreditavam que os milagres eram perfeitamente conciliaveis com essa visão mecanicista da natureza o Yohan Miller mesmo vai dizer nesse mesmo palestra ninguém pode duvidar da possibilidade de Milagres mas ele acrescenta uma coisa que é especialmente interessante aqui para nós ninguém é certo Espinosa o mais famoso restaurador e propagador do mito segundo qual não é distinto do universo
então e ohan Miller e vários outros filósofos naturais que estavam se dedicando a Esse estudo esses estudos a regularidades da natureza ainda se mantinham firmes ali na criança em milagres não era absolutamente incomum que as figuras da revolução científica acreditassem na possibilidade de Milagres mas ele chama atenção para uma figura pelo menos que já havia rejeitado completamente essa ideia de Milagres né que é o Espinosa e nesse vídeo a gente vai falar sobre porque que Espinosa é considerado que os milagres não eram é possíveis e nem faziam sentido lógico e para entender isso a gente
tem que entender justamente esse contexto que é o da valorização ali da filosofia mecânica dessa filosofia que buscava as causas naturais entendeu o universo como mecanismo porque os autores que estão trabalhando dentro dessa perspectiva filosófica a ênfase que eles têm lá quando eles observam a realidade quando eles tentam explicar a realidade é muito mais as regularidades e na perfeição que eles vêm na no Cosmos de uma forma geral e menos nas excepcionalidades nas anomalias e naquilo que é incomum e inexplicável como por exemplo os milagres né então por mais que várias figuras desse contexto é
Galileu Newton é Christian Hill em slimes por mais que essas figuras Descartes por mais que essas figuras considerem que o milagre são possíveis não são os milagres que elas estudam elas estudam aquilo que é regular inclusive até um sentimento religioso nesse estudo porque Eles veem nessa expressão de perfeição assim de complexidade do mecanismo do mundo é o mundo entendido ali como uma espécie de relógio só que muito mais sofisticado muito mais complexo muito mais intrigado eles entendem que tudo isso apontaria para um criador para um planejador mecanismo que é a realidade muito inteligente sábio bondoso
etc né então o descarte vai escrever isso que o estudo das regularidades da natureza aponta para um regulador Newton também vai fazer declarações semelhantes né inclusive no princípio é matemática que é o seu texto mais famoso Então por mais que essas figuras acreditassem na possibilidade de Milagres mesmo na sua religiosidade elas se preocupavam mais com as regularidades né Deus é mais louvado digamos assim pela excelência pela perfeição pela harmonia das leis da natureza do que pelas vezes em que essa lei da natureza é quebrada né numa ocasião ali providencial de intervenção divina e até esse
ponto o Espinosa até concordava com essas figuras né o Espinosa também dizia que é muito mais fácil e muito mais adequado inclusive buscar conhecer a Deus estudando aquilo que é regular e que portanto saudável né de forma mais consistente do que aquilo que é irregular que é incompreensível porque se você depende daquilo que é incompreensível para dizer algo sobre Deus então você vai ficar permanentemente na incompreensão né só que o hipnose ele se distancia de outras figuras ali como Newton e o libids né que tinham Essa Ideia de um Deus relojoeiro de certa forma esse
Deus projetista Deus arquiteto etc porque para ele Deus Não havia construído a natureza Deus era a natureza e consequentemente essa ideia de louvar ali um projetista por ter tomado as decisões mais sábias mais corretas mais engenhosas ao criar o seu mecanismo não fazia sentido para Espinosa porque a natureza era a expressão necessária do que Deus era não havia outra possibilidade então a ideia geral ali de que existe um Deus que cria outra coisa que é a natureza Com certas características e regras e de vez em quando intervém nessa coisa é de forma providencial não cabe
no esquema metafísico/ teológico de Espinosa né não são duas forças que estão em Ação Às vezes as forças da natureza Às vezes a força de Deus intervindo sobre a natureza só uma força né o Espinosa vai escrever inclusive o seguinte A esse respeito se alguém sustentasse que Deus realiza algum ato contrário às leis da natureza teria ao mesmo tempo que sustentar que Deus age contra a sua própria natureza e nada poderia ser mais absurdo então ao fazer esse equivalência entre Deus e natureza a ideia de uma intervenção de Deus sobre a natureza perde completamente o
sentido né E aí a pergunta que fica é Beleza então como é que Espinosa definia milagres que que era Milagre para Espinosa e aí ele traz essa definição que é a definição que gerou tanta perturbação assim no Yohan Miller por exemplo em outros filósofos e teólogos do seu tempo que é o seguinte a palavra milagre só pode ser entendida em relação às crenças dos homens e significa simplesmente um evento cuja causa natural nós ou pelo menos o escritor ou o narrador do milagre não podemos explicar por comparação com qualquer outro evento normal ou seja nada
é em si um milagre nada é absolutamente um milagre algo só é um milagre enquanto não pode ser explicado a ideia de milagre Ela depende da ignorância da pessoa que observa que ele fenômeno em relação às causas reais e naturais do fenômeno então por exemplo quando alguém observa um arco-íris e não entende que aquele fenômeno é resultado é de refração e reflexão ali da Luz em gotículas de água aquela pessoa vai se questionar bom como que isso cresceu né ele vai ser maravilhar diante daquilo por não compreender e ao não compreender geralmente surge alguma tentativa
de explicação que Desconsidera as causas naturais como por exemplo a explicação de que alguém fez aquilo alguém colocou aquilo no céu e aí já entra um elemento aí meio antropomórfico né de projetar vontades na natureza né projetar vontades em Deus então o arco-íris Deixa de ser o resultado necessário de certas condições ali atmosféricas climáticas físicas naturais e passa a ser o resultado de uma decisão voluntária né pessoal de algum alguma entidade e apenas para essa pessoa que não compreende o que o arco-íris de fato é é que o arco-íris vai ser um milagre ou seja
o ato em si o fenômeno em si não é um milagre ele só é um milagre em relação a crença daquele que observa é uso que essa definição de milagre do Espinosa dialoga com a definição de milagre de Tomás de Aquino que no na suma contra os gentios no Capítulo 101 é também faz uma definição de milagres que começa a ir nesse sentido de Espinosa dizendo que é o para algumas pessoas certas coisas são milagres porque elas não entendem e para outras não porque elas compreendem as causas mas o tomásio aqui não vai dizer ah
certo os fenômenos que são completamente incognoscíveis são completamente inexplicáveis para qualquer pessoa não para um ou para outra mas para todas e é esse evento é que é propriamente chamado de milagre vou até colocar a definição aí na tela vocês podem dar uma pausa porque ela é bem interessante ele por conta própria o único ponto em que Espinosa discorda de tomate de Aquino nessa definição e um ponto importantíssimo é que por Espinosa não existe esse fenômeno que é totalmente dadas as ferramentas suficientes é o esforço de teorização ali estudo suficiente todas as coisas poderão ser
explicadas em termos de causas naturais o fato de que ninguém em um determinado período histórico esteja capacitado a explicar por meio de causas naturais um determinado fenômeno não prova que esse fenômeno é um milagre prova apenas que as pessoas ainda são ignorantes em relação às causas naturais desse fenômeno e aí claro né essa definição de milagre do Espinosa é muito complicada ali para o seu tempo é muito provocativo ali para o seu tempo muito desagradável para muitas figuras do seu tempo porque ela exclui o chamado Sobrenatural para Espinosa absolutamente tudo é natural e exclui também
qualquer tentativa de ler a Bíblia como se ela fosse um repositório ali de fatos cientificamente corretos né historicamente corretos a mesma acusação de ignorância científica que o Espinosa vai lançar sobre as suas contem inclusive sobre ele mesmo né É para compreender certos fenômenos ele vai lançar sobre os autores da Bíblia também então ele vai escrever não pode haver dúvida de que todos os eventos narrados nas escrituras ocorreram naturalmente no entanto eles são referidos a Deus porque não é o papel das escrituras explicar os eventos por meio de suas causas naturais ela apenas se refere aos
eventos que despertam a imaginação empregando o método e o estilo que melhor servem para excitar a admiração e consequentemente incutir Piedade na mente das massas então ao dizer isso a Espinosa tá colocando a Bíblia num certo papel que é esse papel de incitar ali a piedade como ele diz é nas pessoas e não o papel de ensinar filosofia natural de ensinar ciências né e dessa forma ele busca remover essa autoridade da Bíblia no campo das discussões das ideias ali científicas principalmente né e esse é um tempo em que a Bíblia ainda tinha muito esse papel
né tinha muito esse poder pelo menos como foi visto no caso do galileu um pouco antes ali de Espinosa publicar o Tratado teológico político né algumas décadas antes Galileu havia sido acusado é de estar propondo uma heresia ao propor o seu sistema ali astronômico e físico e um dos argumentos era de que as ideias dele iam contra o que a bíblia ensinava né para Espinosa isso era absolutamente equivocado porque os autores da Bíblia não tinham esse tipo de conhecimento e muito menos esse tipo de pretensão é de definir de uma vez por todas quais seriam
as interpretações dos fenômenos naturais Mas enfim nos próximos vídeos dessa série A gente vai começar a falar efetivamente da leitura de que Espinosa fazia da Bíblia por enquanto a gente vai deixar por aqui essa conversa mesmo se você se interessa pelo tema Não deixe de se inscrever no canal para receber as notificações dos próximos vídeos nos vemos então nos próximos até mais obrigado