Olá pessoal sejam muito bem-vindos ao nosso canal onde as sombras da noite tomam forma através das histórias que vocês me enviam hoje trago mais um vídeo com relatos enviados diretamente para o nosso e-mail cada história que recebo é cuidadosamente editada por mim para garantir que a essência do terror seja preservada enquanto protegemos a privacidade daqueles que decidiram compartilhar seus momentos mais assustadores conosco em embora eu acredite na realidade vivida por quem me manda esses e-mails devo lembrar que não tenho como comprovar a veracidade dos acontecimentos resta a você crer ou não me chamo Januário e
sou coveiro há quase 7 anos escolhi essa profissão Não porque queria mas porque a vida não me deu outra saída desde jovem sempre gostei de Sossego e silêncio e aqui no cemitério encontrei Exatamente isso pelo menos na maior parte do tempo minha rotina é simples começo o dia bem cedo antes mesmo do sol nascer cuidando das lápides abrindo Covas quando necessário e garantindo que tudo esteja em ordem trabalho num cemitério pequeno afastado do centro da cidade cercado por árvores altas que bloqueiam boa parte da luz do sol aqui os vivos quase não aparecem e os
mortos são companhia constante é um lugar tranquilo mas não vou mentir tem dias em que o silêncio pesa muita gente tem preconceito com o que faço acham que trabalhar cercado de túmulos é assustador amaldiçoado ou coisa assim mas para mim é só mais um trabalho os mortos não me incomodam quem me preocupa são os vivos aliás é por causa dos vivos que eu acabo passando mais tempo aqui do que em casa cada hora extra que consigo conta no final do mês sustentar minha família não é fácil e esse emprego por mais solitário que seja é
o que põe comida na mesa eu gosto de pensar que tenho um pequeno espaço só meu aqui no cemitério na sala de descanso tem uma cadeira velha e uma mesa com a madeira já gasta pelo tempo onde eu guardo minhas ferramentas é um cantinho modesto mas é meu refúgio nos intervalos é lá que eu tomo meu café P leio o jornal ou em dias mais tranquilos só ouço o vento balançar as árvores foi num desses dias calmos que tive uma ideia na lateral da sala há um pedaço de terra que nunca foi usado para nada
o mato crescia ali sem controle e o solo parecia ser fértil pensei comigo mesmo por que não fazer algo útil com esse espaço sempre quis plantar alguma coisa então Numa manhã trouxe umas sementes de alface cenou e tomate e comecei minha pequena horta não demorou muito para o Mato dar lugar às mudas era quase terapêutico cuidar delas eu regava as plantas toda manhã e ficava admirado com o quanto cresciam rápido nunca vi nada igual era como se o solo tivesse uma força especial uma energia que fazia as folhas ficarem mais verdes e os legumes maiores
do que qualquer outro que já tinha visto na feira a cada semana eu levava para casa uma cesta cheia minha esposa adorava ela dizia que eu tinha mãos abençoadas para plantar e meus filhos Lucas e Mariana comiam tudo com gosto não vou negar ver minha família feliz com algo que eu mesmo produzi me dava um orgulho danado Mas como dizem o nem tudo que reluz é ouro por mais que minha horta fosse um sucesso comecei a notar umas coisas diferentes era difícil Sabe aquela sensação de que tem alguém te observando Pois é às vezes eu
sentia isso enquanto trabalhava na horta olhava em volta e não via ninguém achava que era só Cansaço ou imaginação então deixava para lá só que isso foi ficando mais frequente tinha Noites em que eu sonhava com o cemitério com vozes sussurrando como se as plantas estivessem falando comigo estranho né nunca dei muita bola para essa essas coisas mas esses sonhos eram tão reais que quando eu acordava Meu Coração batia forte como se eu tivesse acabado de correr uma maratona no começo achei que tudo isso era coisa da minha cabeça mas agora pensando bem talvez fossem
os primeiros sinais de que algo não estava certo se eu soubesse onde isso ia dar talvez tivesse parado ali talvez tivesse arrancado tudo e deixado o solo descansar mas eu não sabia e a gente só entende o perigo quando ele já está bem na nossa frente os dias no cemitério continuavam na mesma rotina de sempre mas a horta virou Meu Xodó quando não estava cavando Covas ou limpando lápides estava lá cuidando das plantas comecei a perceber detalhes que me deixavam cada vez mais fascinado os tomates cresciam vermelhos como sangue as alfaces ficavam com as folhas
tão verdes que quase brilhavam ao sol e as cenouras saíam grandes e perfeitas como se fossem de outro mundo minha esposa Teresa estava mais feliz do que nunca ela dizia que com os alimentos da horta a comida tinha um sabor diferente mais fresco e cheio de vida meus filhos também adoravam Lucas meu caçula vivia correndo pela casa com uma cenoura na mão enquanto Mariana já adolescente parecia gostar de preparar com as verduras que eu trazia minha casa é simples como minha vida fica num bairro mais afastado da cidade cercado de casas que se parecem umas
com as outras a gente não tem luxo mas sempre teve o suficiente o salário de Coveiro não é muito mas com a horta economizar na feira era uma benção até pensei que aquilo poderia ser o começo de algo maior só que aos poucos comecei a notar algumas mudanças Lucas foi o primeiro meu menino era cheio de energia Mas de repente começou a acordar de madrugada chorando ele dizia que sonhava com pessoas escuras olhando para ele Enquanto Dormia tentei tranquilizá-lo dizendo que era só um pesadelo mas as noites ficaram mais complicadas depois foi Mariana ela passou
a reclamar que sentia alguém tocando no braço ou no ombro quando estava sozinha no quarto não falei nada para ela mas no fundo Aquilo me deu um calafrio Teresa começou a achar que era coisa da adolescência mas eu eu comecei a ficar com a pulga atrás da orelha no trabalho o cemitério parecia diferente também o silêncio que eu sempre apreciei agora me incomodava Quando estava sozinho sentia uma espécie de peso no ar às vezes enquanto regava a horta parecia ouvir passos na grama ou um sussurro vindo detrás das ar ávores era como se o lugar
estivesse mais vivo comecei a conversar com os colegas que trabalhavam no cemitério seu Amâncio o jardineiro é o mais velho dali e sabe de muitas histórias um dia resolvi perguntar a ele se algo estranho já tinha acontecido no cemitério Ele riu Balançou a cabeça e disse aqui estranho é o que não falta Januário esse lugar tem mais histórias do que você imagina ele contou sobre antigos sepultamentos de pessoas que foram enterradas sem nome ou cerimônia algumas em Covas coletivas disse que anos atrás o cemitério foi alvo de bruxaria quando pessoas vinham à noite para fazer
rituais aquilo ficou na minha cabeça Será que o solo da minha horta tinha algo de especial algo que veio desse sepultamentos ou desses rituais não queria acreditar nessas coisas mas algo não me Dea em paz em casa a situação começou a piorar Teresa minha esposa que sempre foi prática e pé no chão começou a reclamar de dores de cabeça constantes e febre disse que se sentia fraca como se a energia dela estivesse sendo sugada os médicos não encontravam nada de errado foi então que comecei a ter sonhos cada vez mais estranhos sonhava com a horta
crescendo descontroladamente as plantas em mim como se tivessem vida própria o que começou como uma ideia inocente para economizar dinheiro estava se transformando num pesadelo e de alguma forma eu sabia que ainda tinha mais por vir enquanto isso no cemitério eu começava a perceber que o solo da horta Não era como os outros um dia enquanto arrancava algumas ervas daninhas notei que as raízes das plantas estavam longas e grossas demais como se cassem fundo na terra algumas até pareciam ter formas estranhas foi a primeira vez que pensei em abandonar a horta mas algo me impediu
era como se uma parte de mim estivesse ligada à aquele pedaço de terra e os alimentos ah os alimentos eles continuavam crescendo lindos e perfeitos mas algo neles começou a me incomodar o cheiro estava diferente mais forte quase doce demais uma vez ao morder uma cenoura senti um gosto metálico como sangue parei na hora e joguei fora mas não falei nada paraa Teresa nem pros meninos as coisas não melhoravam Teresa começou a ter febres altas e dores os remédios não funcionavam e as noites eram sempre piores os pesadelos que Lucas tinha pareciam estar se espalhando
uma noite mariana acordou gritando dizendo que sentiu alguém puxando seu cobertor a gota d'água foi quando eu também bem comecei a ter sintomas durante uma madrugada acordei suando frio com o coração disparado olhei para o canto do quarto e Por um momento achei que vi uma sombra pisquei e desapareceu mas o medo ficou foi numa manhã de céu nublado durante uma das minhas colheitas de rotina que algo aconteceu peguei meu balde como sempre e fui até a horta o cheiro da terra molhada depois da chuva da noite anterior era forte comecei pelas alfaces depois passei
para os tomates tudo estava grande e perfeito como sempre quando cheguei nas cenouras fui puxando uma a uma com facilidade a terra ainda úmida cedia sem esforço era quase automático segurar as folhas puxar com força sacudir para tirar o excesso de terra e colocar no Balde foi na quarta cenoura que senti algo diferente quando puxei a planta não saiu com a facilidade de sempre ela parecia presa em algo usei mais força mas a sensação era de que algo pesado estava agarrado à cenoura ajoelhei-me na terra para tentar entender cavei com as mãos ao redor do
caule afastando o solo para ver o que estava acontecendo e então vi uma parte do que parecia ser uma superfície branca e arredondada surgiu por entre a Terra no início achei que fosse uma pedra mas conforme cavava percebi o formato era um crânio humano fiquei congelado por alguns segundos a cenoura tinha crescido direto no olho do crânio uma das raízes estava completamente enredada na cavidade ocular como se o osso tivesse sido parte do solo nutritivo que alimentava as plantas a visão era grotesca a cenoura ainda laranja e brilhante contrastava com o branco amarelado e rachado
do crânio minha as mãos tremiam eu não sabia o que pensar a ideia de que minhas plantas estavam crescendo sobre restos humanos me fez sentir um nó no estômago mas a curiosidade falou mais alto peguei a pá e comecei a cavar mais para ver o que tinha ali quando terminei o que estava diante de mim era um esqueleto quase inteiro a Terra ao redor estava escura úmida e com um cheiro estranho algo entre ferro e podridão larguei a pá e me afastei respirando fundo meu coração estava disparado tentei me acalmar mas minha mente estava a
1 Quem era aquela pessoa por que estava enterrada ali sem caixão sem identificação e o mais perturbador quantos outros restos humanos poderiam estar debaixo da minha horta aos poucos o desconforto deu lugar a algo ainda mais assustador quando tentei voltar para a sala de descanso tive a nítida sensação de que estava sendo observado era como se o cemitério inteiro tivesse ficado mais pesado mais denso naquela noite em casa não consegui dormir fechava os olhos e via o crânio com a cenoura atravessada no olho como se fosse um aviso quando finalmente peguei no sono tive pesadelos
horríveis acordei suando Foi então que resolvi falar com seu Amâncio depois de ouvir minha história ele ficou em silêncio por um longo tempo olhando para o chão como se estivesse tentando decidir o que dizer Januário o que você encontrou bom é a primeira vez que algo assim acontece mas eu mesmo não sei muita coisa Eu só cuido das plantas e evito mexer onde não devo e o que eu faço então perguntei desesperado ele suspirou como se a resposta fosse algo que ele preferia não dar tem uma pessoa que pode te ajudar o curandeiro que curandeiro
ele era o coveiro antes de mim trabalhou aqui por décadas mas um dia largou tudo e foi embora Dizem que ele sabia demais sobre esse cemitério e o peso dessas coisas acabou afastando ele daqui e onde eu encontro ele acio pegou um pedaço de papel e anotou um endereço é longe no meio da Mata Eu mesmo não vejo ele há anos não sei nem se ainda vivo mas se ele esver ele vai saber o que fazere levou a uma casinha simples de Barro escondida entre árvores densas a trilha até lá era quase intransitável com Galhos
baixos e o som constante de animais ao redor quando finalmente cheguei meu coração estava disparado e eu nem sabia se era de cansaço ou de medo bati na porta de madeira envelhecida e Demorou alguns minutos até que ela se abrisse um senhor bem velho apareceu com o rosto enrugado e os olhos fos mas brilhantes ele devia ter mais de 90 anos mas ainda parecia forte como alguém que tinha sobrevivido a muita coisa antes que eu pudesse dizer uma palavra ele me encarou e disse com a voz rouca eu sei por você tá aqui fiquei sem
reação Ele abriu a porta e fez sinal para eu entrar dentro a casa era simples com um cheiro de Hervas e Fumaça de fogão à lenha havia frascos com líquidos coloridos e Raizes pend ele sentou em uma cadeira de balanço me analisando como se já conhecesse toda a minha história meu filho ele começou apontando para uma cadeira para que eu me sentasse o Betinho já veio aqui arregalei os olhos petinho Quem é esse ele Balançou a cabeça com um sorriso triste o homem que você desenterrou o que você achou na tua horta meu sangue gelou
ele foi verduras e legumes em cima do corpo dele e ele tá bem bravo tentei processar o que ele estava dizendo Meu Coração batia tão rápido que parecia que ia sair pela boca mas eu não sabia Eu não fazia ideia que tinha um corpo ali o velho me olhou com seriedade Não importa se Sabia ou não a terra Guarda tudo e tem gente que não descansa fácil o Betinho era uma dessas pessoas quem era ele perguntei tentando manter a voz firme o silêncio na casa do curandeiro era tão pesado que quase me sufocava depois que
ele mencionou o nome Betinho senti um arrepio percorrer meu corpo eu precisava saber mais quem era o Betinho por que ele tá assim perguntei tentando suar firme mas minha voz saiu tremida o velho curandeiro que ainda não tinha me dito o próprio nome me olhou com os olhos pesados de quem carrega muito mais do que histórias ele suspirou e começou a falar devagar como se relembrar aquilo fosse Abrir feridas antigas o Betinho era um rapaz bom trabalhava no cemitério como ajudante igual você era jovem cheio de vida mas cometeu o erro de chamar a atenção
da mulher errada eu inclinei o corpo para a frente intrigado que mulher a mulher do senhor Armando o antigo dono do cemitério Armando era um homem os mas também cruel e enciumado achava que tudo ao redor era dele incluindo a esposa o curandeiro fez uma pausa como se estivesse escolhendo as palavras dizem que Betinho não fez nada de errado que a mulher do Armando gostava dele mas ele nunca retribuiu os avanços dela ainda assim a desconfiança foi suficiente para selar o destino do rapaz meu estômago embrulhou já tinha ouvido falar de histórias assim mas algo
na voz do curandeiro me fez sentir que essa era diferente o que aconteceu com ele o velho abaixou a cabeça como se as palavras fossem difíceis de sair Armando mandou Os capangas fazerem uma emboscada pegaram Betinho de noite numa estrada perto do cemitério torturaram o rapaz por horas tentando arrancar uma confissão que ele não podia dar e depois Tiraram a vida dele de forma Cruel meu Deus murmurei sentindo o peso das palavras mas não foi só isso continuou o curandeiro a voz agora mais sombria eles jogaram o corpo dele numa vala aberta como se fosse
lixo sem cerimônia Sem respeito Ele olhou direto nos meus olhos e sua expressão mudou como se estivesse prestes a confessar algo Eu fui lá naquela mesma noite minha respiração ficou presa o quê eu vi o que fizeram e sabia que o betinho merecia mais do que aquilo então fui até a vala onde Jogaram o corpo dele fui escondido sem ninguém saber e tirei ele de lá meu coração disparou e o que você fez com ele enterrei ao lado da sala do cemitério Ele respondeu a voz grave ali perto da parede onde você agora plantou a
sua horta senti um frio subir pela espinha o curandeiro continuou era um segredo nosso meu e dele às vezes eu vi Betinho sentado ali do lado da sala como se ainda estivesse cuidando do cemitério mas ele nunca falou comigo só ficava lá quieto como se Esperasse alguma coisa a sala minha horta tudo começou a se conectar na minha cabeça mas havia algo que eu ainda não entendia Por que ele está bravo agora o velho inclinou-se mais uma vez na cadeira os olhos fixos em mim porque você fez uma plantação na cabeça dele literalmente aquele crânio
que você encontrou era dele e a cenoura que cresceu no olho dele foi a gota d'água Ele sente que você desrespeitou o descanso dele mesmo sem querer eu engoli em seco nunca na minha vida pensei que pudesse estar diante de uma situação assim tudo o que eu queria era economizar um pouco na feira e ocupar meu tempo no cemitério mas agora parecia que eu tinha despertado a algo muito maior e o que eu faço agora perguntei quase sussurrando o curandeiro pegou um frasco de líquido escuro e o colocou na mesa entre nós depois pegou algumas
ervas secas e fez um pequeno feixe que amarrou com um cordão primeiro tu vai desfazer o que fez tira tudo da tua horta arranca planta por planta e limpa o solo e depois depois tu vai lá e pede desculpa não é só falar é sentir Betinho não quer palavras vazias ele quer respeito olhei para o frasco e para as ervas sem saber como aquilo ia resolver algo tão profundo isso vai funcionar o curandeiro Balançou a cabeça devagar Isso é só o começo tu vai entender o que ele quer de verdade quando chegar lá Tu tem
sorte que ele é meu amigo saí daquela casa com o peso do mundo nas costas mas com uma única certeza precisava consertar o que fiz a dúvida que me atormentava era se Betinho estaria disposto a aceitar meu arrependimento ou se sua raiva era algo que não poderia ser contido a noite estava escura quando voltei ao cemitério com o frasco e as ervas que o curandeiro me deu o vento parecia sussurrar segredos que eu não conseguia entender e as árvores ao redor do cemitério balançavam como se estivessem vivas meus passos ecoavam no chão de terra enquanto
eu caminhava até minha horta que agora parecia mais ameaçadora do que nunca ao chegar lá me ajoelhei no solo úmido e comecei a arrancar as plantas uma a uma cada folha cada caule que Eu puxava parecia resistir era como se o solo estivesse vivo segurando as raízes não querendo deixar ir Meu Coração batia acelerado e o silêncio ao meu redor era tão profundo que podia ouvir minha própria respiração quando terminei de limpar a horta peguei o frasco e as ervas o curandeiro me disse que eu devia queimar as ervas e espalhar o líquido pelo solo
enquanto pedia desculpas ao Betinho fiz Exatamente isso mas minha voz saía trêmula Betinho eu não sabia Eu juro que não sabia minha voz falhava e as palavras pareciam desaparecer no ar por favor me perdoa não era minha intenção desrespeitar você depois que arranquei todas as plantas da horta e espalhei o líquido escuro pelo solo o silêncio ao meu redor era tão profundo que parecia que o mundo havia parado o cheiro das Ervas queimando ainda impregnava o ar e eu ajoelhado na terra sentia meu corpo pesado exausto mas esperançoso de que aquilo tivesse resolvido o problema
Betinho eu fiz o que pude Minha voz saiu baixa quase um sussurro por favor que isso seja o suficiente esperei por algo um sinal uma mudança qualquer coisa que me indicasse que ele havia ouvido mas o cemitério permaneceu quieto por um momento pensei que tudo tinha acabado Foi então que a terra começou a tremer levemente como se estivesse viva de repente do solo recém remeido uma névoa escura começou a se formar ela era densa e pesada movendo-se como se tivesse vontade própria rastejando pelo chão e subindo lentamente meu coração disparou tentei me levantar mas parecia
que meu corpo estava preso no lugar como se a própria Terra estivesse me segurando a névoa subia cada vez mais cobrindo tudo ao meu redor não era fumaça era algo mais espesso quase tangível e tinha um cheiro metálico que lembrava sangue ela envolveu meu corpo por completo e Por um momento achei que ia Me sufocar meus olhos começaram a arder e perturbadoras passaram pela minha mente vultos sombras de pessoas sem rosto mãos Tentando sair da terra ouvi vozes também sussurrando coisas que não conseguia entender Betinho chamei minha voz ecoando no vazio a névoa continuou subindo
agora em espirais como se fosse atraída por algo acima de repente uma luz começou a surgir era fraca no início mas foi ficando mais forte conforme a névoa subia era como se a escuridão estivesse sendo puxada para longe arrancada do cemitério fiquei observando hipnotizado a luz parecia purificar o lugar e a névoa ia ficando cada vez mais fina até que finalmente desapareceu por completo no céu o silêncio voltou mas agora era diferente não era o silêncio pesado e sufocante de antes era calmo leve senti meus músculos relaxarem e lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto
sem que eu soubesse exatamente porquê olhei para o solo onde a névoa havia surgido tudo parecia normal como se nada tivesse acontecido mas eu sabia que algo tinha mudado na manhã seguinte voltei ao cemitério para verificar se tudo estava em ordem o pedaço de terra onde antes ficava minha horta agora estava vazio mas parecia diferente o solo estava mais claro mais macio como se tivesse sido renovado fui até a sala de descanso e olhei pela janela esperando ou temendo ver Betinho sentado no canto como o curandeiro havia descrito mas ele não estava lá pela primeira
vez em semanas senti que estava sozinho de verdade durante os dias que se seguiram percebi que minha vida estava voltando ao normal minha esposa Teresa começou a se sentir melhor e as febres que atormentavam meus filhos desapareceram como por Encanto era como se o peso que pairava sobre minha família tivesse sido tirado ainda assim o cemitério nunca mais foi o mesmo para mim continuei trabalhando ali no mês seguinte Decidi voltar à casa do curandeiro para contar o que havia acontecido algo dentro de mim ainda queria agradecer ele tinha me ajudado de uma forma que ninguém
mais poderia passei no comprei uma cesta básica A Trilha pela Mata estava mais clara dessa vez o caminho que antes parecia sufocante e denso agora era iluminado pelos raios do Sol que passavam entre as folhas das Árvores quando cheguei a casinha de Barro notei algo estranho a porta estava entreaberta e havia uma fumaça fina saindo pela chaminé como se alguém estivesse cozinhando bati na porta esperando ouvir aquela voz rouca e firme do velho mas quem apareceu foram dois homens desconhecidos vestidos como Caçadores eles estavam sujos de terra com mochilas no chão e armas encostadas na
parede posso ajudar perguntou um deles franzindo a testa Ao me ver o senhor que mora aqui preciso falar com ele minha voz saiu exitante já que não esperava encontrar outras pessoas os dois trocaram olhares confusos o outro homem mais velho Balançou a cabeça lentamente que Senhor ninguém mora aqui a gente só usa essa casa para passar a noite quando tá caçando na mata Senti meu coração acelerar não vocês estão enganados eu estive aqui mês passado um senhor muito velho vive aqui ele me deu isso tirei o frasco escuro do bolso e mostrei a eles o
caçador mais jovem olhou para o objeto e deu de ombros mas o mais velho parece seu desconfiado Olha meu amigo essa casa tá abandonada há anos o dono dela morreu faz tempo um homem velho chamado Josias Dizem que ele era curandeiro ou coisa assim mas ninguém mais vive aqui desde que ele faleceu As palavras dele me atingiram como um golpe faleceu Há quanto tempo o caçador coçou a cabeça há uns 3 anos eu acho todo mundo na região sabe disso minha mente começou a Lembrei de cada detalhe do encontro com o curandeiro a casa o
cheiro das Ervas a voz firme dele tudo parecia tão real mas agora diante daquelas palavras eu não sabia mais o que acreditar mas eu estive aqui e ele me atendeu insisti a voz trêmula o caçador mais velho apenas Balançou a cabeça sem acreditar em mim deve ter sido tua imaginação ou talvez outra coisa saí dali atordoado com o frasco ainda apertado na mão não sabia se o velho Josias era um espírito uma ilusão ou algo além da minha compreensão mas de alguma forma ele tinha me ajudado a corrigir o meu erro ao voltar para o
cemitério senti que o peso finalmente havia desaparecido não só dali mas da minha vida o Betinho estava em paz e talvez o velho Josias também estivesse