se eu contar essa história talvez vocês nunca mais me vejam da mesma forma mas eu preciso contá-la por há coisas que não devem ser esquecidas por há dores que precisam ser expostas para que nunca mais se repitam meu nome é dona Sida tenho 74 anos e muitas histórias para contar algumas são bonitas outras são engraçadas mas essa essa não é uma História bonita antes de começar quero saber de onde vocês estão assistindo esse relato aproveite e já se inscreva no canal e Curta o vídeo isso me ajuda muito muita gente olha para mim e vê
uma velinha de coque baixo mãos enrugadas e olhar cansado pensam que minha vida foi só cozinhar para os netos cuidar da casa e esperar o tempo passar mas o que eles não sabem é o que precisei fazer para estar viva hoje fui uma menina que cresceu no Brasil dos anos 1960 quando tudo era difícil não tínhamos luxo não tínhamos carro minha mãe lavava roupas para fora meu pai trabalhava quando queria mas a pior coisa daquela casa era ele meu pai homem de poucas palavras e Muitos gritos mãos pesadas cheiro de pinga impregnado na pele olhos
que faziam a gente baixar a cabça sem precisar de uma única palavra ele era o tipo de homem que fazia até os vizinhos ficarem em silêncio quando passava pela rua um homem que ninguém ousava desafiar desde que me entendo por gente ele batia na minha mãe eu via eu ouvia mas não podia fazer nada porque era assim que as coisas eram minha mãe dizia que um casamento era na alegria e na tristeza e para ela só sobrou a tristeza eu me tornei adulta cedo demais com 9 anos já sabia preparar comida lavar o chão e
cuidar da minha irmãzinha Joana quando ela nasceu Minha mãe estava muito fraca e fui eu quem trocou suas primeiras fraldas Quem ninou Suas primeiras noites de choro prometi para mim mesma ninguém ia machucar minha irmãzinha mas eu não consegui cumprir essa promessa a gente mor numa casa pequena no interior de São Paulo perto de um rio que cortava a cidade não era casa de tijolo era daquelas de madeira que qualquer vento mais forte fazia tremer lá dentro três cômodos a cozinha o quarto dos meus pais e o quartinho onde eu dormia com Joana minha mãe
era uma mulher magra de rosto marcado pelo cansaço sempre de vestido florido e chinelos velhos ela sorria pouco mas quando sorria parecia que tudo ficava um pouco menos pesado Joana era o contrário tinha olhos vivos um riso fácil falava pelos cotovelos sempre inventando histórias de princesa e castelos eu adorava ouvir porque na imaginação dela a gente vivia num lugar bonito mas bastava o portão bater e os passos pesados do meu pai ecoarem na para aquele mundo desabar a gente ficava tensa a comida tinha que estar pronta o copo dele cheio ele chegava e se estivesse
bêbado ninguém falava se estivesse sóbrio era até pior porque bêbado ele só xingava sóbrio ele batia e a gente aceitava porque o que mais poderíamos fazer eu tinha 12 anos quando comecei a notar algo estranho minha irmã que dormia tranquila começou a ter pesadelos acordava no meio da noite chorando e quando eu perguntava ela só me abraçava e dizia que não podia contar no começo achei que era medo do nosso pai Afinal quem não teria medo dele mas aos poucos comecei a perceber que não era um medo comum ela começou a se esconder quando ele
chegava se antes corria para brincar no quintal agora ficava muda se antes pedia colo para a mamãe agora ficava quieta num canto encolhida como um passarinho ferido até que uma noite Acordei com um barulho Passos meu pai nunca andava de madrugada sempre dormia pesado roncando alto mas naquela noite ele estava de pé saí do quarto na ponta dos pés O viro do Corredor estava escuro mas a luz do quarto dos meus pais estava acesa e foi aí que meu pai ajoelhado ao lado da cama minha irmãzinha encolhida olhos arregalados minha mãe sentada no canto com
os braços ao redor do próprio corpo chorando mas sem fazer barulho era uma cena que nunca mais saiu da minha cabeça ali entendi tudo e algo dentro de mim morreu naquela noite segurei Joana nos meus braços até ela dormir mas eu não dormi fiquei acordada ouvindo os ruídos da casa sentindo a presença do homem Cruel Do Outro Lado da parede e decidi que não podíamos mais ficar ali mas como fugir para onde ir Como convencer minha mãe que já não tinha forças para mais nada nos dias seguintes fiquei atenta vi como minha mãe desviava os
olhos sempre que meu pai tocava na Joana como ela apertava as mãos quando quando ele chamava minha irmãzinha para perto ela sabia sempre soube e ainda assim ficava uma noite depois que Joana dormiu fui até a cozinha e fiquei ao lado da minha mãe enquanto ela lavava a louça a gente precisa ir embora ela parou ficou olhando para o prato dentro da pia sem dizer nada mãe você sabe o que ele faz Ela fechou os olhos eu não posso para onde a gente iria qualquer lugar é melhor que aqui ela ficou em silêncio e Então
finalmente olhou para mim e ali pela primeira vez na vida Vi minha mãe com medo não medo dele mas medo de finalmente fazer algo medo de mudar o nosso destino naquela noite sem que ele percebesse começamos a planejar Nossa fuga as coisas que nos destroem por dentro não são sempre gritantes às vezes elas acontecem no mais absoluto silêncio e o silêncio pode ser ensurdecedor desde aquela noite algo mudou em mim eu já sabia que minha vida nunca seria como a de outras meninas mas ver minha irmã naquela situação foi como sentir um punho apertando meu
peito o tempo todo Joana era minha responsabilidade eu não podia protegê-la quando mais mas não ia falhar de novo minha irmã sempre foi um raio de sol era daquelas crianças que transformavam qualquer coisa em brincadeira até os dias mais difíceis pareciam menos pesados quando ela inventava histórias com as bonecas velhas que tínhamos ou quando saíamos para pegar goiaba no quintal mas depois daquela noite Joana mudou ela parou de brincar parou de falar muito ou de rir o silêncio dela me dava arrepios se antes ela corria para fora assim que o sol nascia agora ficava dentro
de casa escondida em qualquer canto que parecesse seguro se antes me abraçava o tempo todo agora evitava contato e quando ele estava por perto ela encolhia os ombros e ficava menor do que já era era como se quisesse desaparecer minha mãe via eu sei que via nos dias seguintes Percebi como os olhos dela seguiam Joana pela casa como ela apertava as mãos no avental sempre que meu pai chamava minha irmã para perto como seus olhos brilhavam de Lágrimas que nunca caíam ela sabia mas ela fingia não ver eu queria gritar com ela queria perguntar por
ela não fazia nada queria entender como mamãe podia permitir que algo assim acontecesse debaixo do próprio teto mas ao mesmo tempo eu sabia a resposta ela também tinha medo meu pai sempre foi cruel mas com minha mãe era ainda pior quando ele batia nela não era só um tapa era com força com raiva com ódio eu vi minha mãe passar dias sem conseguir levantar da cama eu vi os hematomas roxos que ela tentava esconder debaixo das mangas do vestido eu ouvi os soluços abafados durante a madrugada minha mãe também era prisioneira e o pior de
tudo ele sabia que ninguém iria contra ele eu ainda tentava fazer Joana brincar tentava contar histórias para ela do jeito que ela fazia para mim mas um dia enquanto eu ajeitava as bonecas no chão e chamava ela para sentar comigo Ela simplesmente olhou para mim e disse não quero mais brincar aquilo foi como um soco no por você sempre gostou de brincar ela balanou a cabeça eu não sou mais criança Joana tinha apenas 7 anos 7 anos e aquele monstro humano já tinha roubado tudo dela senti um nó na garganta mas eu não podia chorar
não na frentea por se eu desmoronasse quem ia segurar a gente você ainda é criança Joana você ainda pode brincar ela apenas deu de ombros e ali percebi que se eu não fizesse nada minha irmã ia sumir de dentro para fora naquela noite sentei na beira da cama e fiquei olhando Joana dormir ela se mexia o tempo todo murmurava coisas sem sentido tinha pesadelos quase todas as noites mas derrepente vi que ela começou a chorar dormindo as lágrimas escorriam pelo rosto dela os lábios tremiam aquilo foi demais para mim Eu segurei sua mão e fiz
a única coisa que podia fazer prometi que a gente ia sair dali eu vou te salvar Joana eu juro mesmo dormindo ela apertou minha mão e naquele momento soube que eu não podia mais esperar a partir dali eu e minha mãe precisaríamos fazer algo precisávamos fugir no dia seguinte esperei meu pai sair para o trabalho e fui até a cozinha onde minha mãe estava lavando louça mãe a gente tem que ir embora ela congelou ficou de costas para mim esfregando um prato que já estava Limpo H muito tempo para onde filha a gente não tem
ninguém não tem para onde ir qualquer lugar é melhor do que aqui ela continuou esfregando o prato depois o colocou na pia e soltou um suspiro longo e então baixinho disse algo que nunca vou esquecer ele vai nos matar fiquei gelada minha mãe não estava errada meu pai não era o tipo de homem que deixava algo escapar se a gente tentasse fugir e ele descobrisse o que ele faria eu não sabia mas sabia que ficar era pior a gente precisa tentar se a gente não for agora não vai aguentar minha mãe virou-se para mim olhos
inchados rosto marcado pelo tempo e pelo sofrimento ela segurou meu rosto com as mãos trêmulas Você tem certeza eu assenti e foi ali que começamos a planejar Nossa fuga Eu sabia que meu pai era um homem ruim Sabia desde pequena desde as primeiras vezes em que vi minha mãe se encolher quando ele levantava a voz desde os primeiros tapas que ele me deu só porque eu estava no caminho dele mas o que ele fazia com Joana isso era pior do que tudo naquela casa o medo era uma presença constante ele estava em cada canto em
cada olhar evitado em cada respiração contida quando ouvíamos o barulho da porta abrindo no fim da tarde porque o pior momento do dia era quando meu pai voltava do trabalho era quando a gente tinha que medir cada movimento cada palavra qualquer coisa errada era motivo para ele se irritar e quando ele se irritava alguém pagava por isso eu aprendi rápido a ficar invisível aprendi a limpar a casa do jeito que ele gostava a colocar a comida na mesa sem olhar nos olhos dele a nunca responder de volta mas Joana Joana ainda era muito pequena e
por mais que tentasse ela não sabia desaparecer nos primeiros anos meu pai nem prestava muita atenção nela mas então quando ela começou a crescer algo mudou eu vi isso nos olhos dele vi na forma como ele olhava para ela como chamava o nome dela num tom diferente como fazia questão de que ela sentasse perto dele na hora da janta minha mãe também via e eu vi minha mãe vendo e a gente nunca falava nada só que Joana Começou a Mudar ela nunca mais queria dormir no nosso quarto sempre dava um jeito de acabar no meio
da cama da nossa mãe abraçada nela como se aquilo fosse impedir alguma coisa e toda vez que isso acontecia no dia seguinte meu pai estava mais furioso jogava os pratos na parede gritava com minha mãe dizia que a gente estava estragando a menina uma noite Joana acordou gritando eu me assustei tentei balançá-la mas ela estava em Pânico chorava se debatia no meio do choro ela me abraçou tão forte que mal conseguia respirar não deixa ele me levar Não deixa eu congelei tentei acalmá-la mas sabia o que aquilo significava e soube ali que se a gente
não saísse daquela casa minha irmã não ia sobreviver o medo me consumia Mas uma coisa me mantinha de pé eu tinha que ser forte mas o que era ser forte numa situação dessas porque a gente não podia simplesmente sair pela porta e fugir não tínhamos ninguém não tínhamos dinheiro não tínhamos para onde ir meu pai controlava tudo cada centavo que entrava naquela casa cada passo que minha mãe dava então nós começamos a planejar foi minha mãe quem deu a ideia de guardar um Pou do dinheiro das lavagens que ela fazia para as vizinhas não era
muito algumas moedinhas por semana que ela escondia dentro de um buraco no colchão eu também comecei a juntar pegava os trocados que encontrava no bolso das calças do meu pai quando lavava a roupa era um plano perigoso se ele descobrisse estávamos perdidas mas não tínhamos escolha o problema era que ele estava ficando cada vez mais Atento e um dia tudo de desmoronou aconteceu num domingo Meu pai sempre bebia mais nos domingos ficava o dia inteiro jogado na cadeira do quintal resmungando mas naquela noite ele estava mais calado que o normal ficou sentado à mesa girando
o garfo na mão olhando para minha mãe de um jeito que me fez gelar você tá diferente ele disse de repente minha mãe não respondeu Ele bateu o garfo na mesa tá diferente sim tá esquisita você e essa menina velha aí Ele olhou para mim eu engoli em seco o que vocês estão aprontando hein minha mãe tentou rir tentou fingir que não era nada mas eu sabia que ele já estava desconfiado Eu sabia que o perigo estava cada vez mais perto e naquela mesma noite Joana sumiu acordei no meio da madrugada e vi que ela
não estava na cama meu coração disparou levantei num pulo corri até a sala nada o quarto dos meus pais estava com a porta fechada eu parei na frente da porta com a respiração presa sentindo meu corpo inteiro tremer mas não tive coragem de entrar no dia seguinte Joana voltou a falar menos do que antes voltou a evitar olhar nos nossos olhos mas principalmente voltou com um silêncio que me destruiu por dentro foi nesse dia que minha mãe decidiu que a gente ia embora não importava como não importava o que acontecesse depois a gente só precisava
sair dali antes que fosse tarde demais eu nunca vi minha mãe tão determinada eu nunca vi tanto medo nos olhos dela e eu sabia que se tivéssemos mais uma noite ali Nunca mais sairíamos a fuga tinha que acontecer agora naquela manhã minha mãe não disse uma palavra apenas me olhou de um jeito diferente como se quisesse gravar minha imagem Antes Que o Dia terminasse seu rosto estava pálido os olhos inchados de uma noite sem dormir eu sabia que ela estava com medo Eu também estava mas não tínhamos mais escolha Joana acordou calada como sempre sua
pele parecia ainda mais pálida que o normal e ela sequer tentou pegar seu pão com café só ficou sentada encolhida na cadeira segurando as próprias mãos como se precisasse se agarrar a alguma coisa para não desmoronar meu pai estava diferente ele se levantou tarde mais calado do que o normal os olhos ainda mais pesados do que de costume eu o observava de canto de olho tentando entender se ele havia percebido Algo Se sabia o que estávamos planejando minha minha mãe disfarçava tentava agir como se nada estivesse acontecendo mas era difícil enganar um homem que passou
a vida toda encontrando motivos para nos punir ele saiu para o trabalho mais tarde que o normal parando na porta por alguns segundos antes de atravessar o quintal e desaparecer na rua de terra batida ficamos ali sem respirar esperando o som dos Passos sumirem E então minha mãe se virou para mim é hoje meu coração parou por um segundo não era mais um plano uma ideia no fundo da nossa cabeça agora era real tínhamos pouco tempo minha mãe tirou o colchão do lugar e pegou as poucas notas que tínhamos juntado ao longo dos meses era
quase nada mas era tudo que tínhamos eu corri para o quarto peguei nossas roupas mais quentes Um Pedaço de Pão e uma garrafa com água Joana não perguntava nada só fazia o que pedíamos como se estivesse em outro mundo minha mãe saiu para buscar uma trouxa de roupas que tinha deixado na casa da vizinha Dona Rosa ela era a única pessoa na rua que às vezes olhava para a gente com Piedade mas nunca se metia Eu sabia que ela sabia todo mundo sabia mas ninguém falava nada quando minha mãe voltou o sol já já começava
a baixar e foi aí que percebemos o pior meu pai não voltou para o trabalho naquele dia ele estava sentado na varanda da casa com os olhos fixos na rua o cigarro entre os dedos não foi para o bar não saiu para jogar Ficou ali esperando minha mãe congelou eu vi quando suas mãos começaram a tremer quando seus olhos se encheram de desespero ele sabia não sei como não sei se ouviu algo se percebeu a mudança no nosso comportamento mas ele sabia e agora estávamos presas ali com ele a noite caiu devagar Trazendo com ela
um peso sufocante minha mãe tentava agir normalmente mas suas mãos estavam frias Joana tremia sem dizer uma palavra eu sentia meu corpo inteiro pulsando com o medo meu pai jantou sem dizer nada mas quando terminou deixou os talheres na mesa com força e olhou para minha mãe vamos dormir cedo hoje nunca dizia isso meu estm revou minha mãe assentiu mas vi seu rosto per toda cor ela sabia o que aquilo significava ia trancar aa ia se certificar de que não fís e quando a luz se apagasse Joana não estaria segura minha mãe me olhou e
naquele instante nós duas entendemos não podíamos esperar não podíamos deixar a noite chegar eu segurei a mão de Joana e senti o pulso dela acelerado minha mãe se levantou devagar indo até o fogão como se fosse apenas esquentar um pouco de água meu pai estava sentado na cadeira bebendo um copo de cachaça observando cada um dos nossos movimentos Então minha mãe fez algo que eu nunca tinha visto antes derrubou a chaleira no chão o barulho foi alto a água quente espirrou para todo lado meu pai se levantou furioso xingando foi naquele momento que minha mãe
olhou para mim corre eu puei Joana pela mão e saímos pela porta da cozinha o ar frio bateu no meu rosto e o som da voz do meu pai veio atrás de nós como um trovão corremos sem olhar para trás o quintal parecia infinito a estrada de terra parecia escorregadia Joana tropeçou quase caiu mas eu a segurei e continuei correndo ouvimos um barulho meu pai gritando a porta batendo com força minha mãe gritando de volta meu coração disparou ele ia pegá-la ele ia matá-la mas então a voz dele foi ficando mais distante Minha mãe estava
para para eu sab não pod sab que seos joé nos quando vi Joana eu eu chorei porque minha mãe ficou para trsi porque talvez nunca mais a ver Mas acima de tudo Chorei porque pela primeira vez em anos eu sabia que ele nunca mais encostar na minha irmã e isso era tudo que importava oo da madrugada corta nossa pele como lâmina o vento levantava a poeira da estrada de terra e cada passo que dávamos parecia uma luta contra o próprio corpo mas eu não podia parar não podia soltar a mão de Joana não podia olhar
para trás o medo nos empurrava para a frente como se meu pai estivesse logo atrás pronto para nos arrastar de volta para aquele inferno Joana respirava com dificuldade soluçando entre os passos Eu sabia que ela estava no limite Mas o que eu poderia fazer não podíamos simplesmente parar e descansar eu olhava para os lados tentando reconhecer alguma coisa na estrada escura não podíamos voltar para casa não tínhamos para onde ir então continuamos correndo a cidade ficava longe mas eu sabia o caminho durante os anos quando minha mãe me mandava buscar algum remédio na farmácia ou
comprar pão no mercadinho eu prestava atenção sabia onde começavam as primeiras casas onde ficava o posto policial onde as ruas viravam calçadas mas tudo parecia tão distante agora o silêncio da noite era cortado apenas pelo som dos nossos passos e das respirações ofegantes de vez em quando um cachorro latia ao longe e meu coração disparava achando que alguém podia nos ouvir Joana começou a tropeçar só mais um pouco eu sussurrei apertando a mão dela a gente precisa continuar ela não respondeu apenas me seguiu cega de medo e cansaço eu não sabia o que ia acontecer
quando chegássemos na cidade não sabia se alguém nos ajudaria se encontraríamos minha mãe não sabia nada só sabia que não podíamos parar o tempo passou devagar e cada metro percorrido parecia uma eternidade até que finalmente avistei as primeiras luzes da cidade meu coração acelerou Mas então veio o segundo problema aonde ir não podíamos simplesmente sentar na calçada e esperar o sol nascer precisávamos de um lugar seguro meus olhos vasculharam a rua Deserta as portas das casas estavam fechadas as janelas escuras ninguém por perto então me lembrei Dona Rosa ela era vizinha da gente mas tinha
uma irmã que morava na cidade uma vez quando fui com minha mãe entregar umas roupas lavadas escutei ela comentando que a irmã morava numa casinha perto da Igreja era nossa única opção apertei a mão de Joana e segui pela rua tentando lembrar do caminho o Coração batia forte o medo ainda pulsava no peito a qualquer momento eu aava que ia ouvir os passos do meu P atrás de nós que ele surgiria das sombras e nos arrastaria de volta mas isso não aconteceu as ruas estavam vazias e a cidade dormia Depois de alguns minutos avistei a
pequena igreja no alto da ladeira e ao lado a casinha simples com um quintal pequeno era ali me aproximei do portão e olhei paraar a casa nenhuma luz acesa bati na porta com as mãos tremendo nenhuma resposta bati de novo dessa vez mais forte depois de alguns segundos uma luz fraca se acendeu lá dentro o som de Passos veio a até a porta ela abriu uma fresta era uma senhora magra com os cabelos presos num coque baixo e olhar desconfiado quem é engoli em seco a gente precisa de ajuda ela ficou me olhando por alguns
segundos analisando meu rosto meu estado Joana encolhida atrás de mim então abri um pouco mais à porta quem mandou vocês dona Rosa eu disse rápido ela é nossa vizinha ela estreitou os olhos tentando entender se eu estava dizendo a verdade e Então finalmente abriu a porta entrem meus joelhos quase cederam eu puei Joana para dentro e assim que passamos pela porta senti como se finalmente pudesse respirar mas o medo ainda não tinha acabado a senhora nos fez sentar na mesa da cozinha e nos olhou com mais atenção me digam o que aconteceu eu sabia que
não podia contar tudo se ela soubesse talvez tivesse medo de nos abrigar nosso pai bate na gente foi o que consegui dizer sentindo um nó na garganta e a gente fugiu minha mãe devia encontrar a gente mas minha voz falhou o rosto dela suavizou um pouco vocês têm para onde ir neguei com a cabeça Ela ficou em silêncio por um momento como se estivesse pesando as consequências então soltou um suspiro longo vocês podem ficar aqui esta noite amanhã a gente vê o que fazer eu quis chorar quis agradecer De Joelhos mas só consegui segurar a
mão de Joana e sussurrar a gente tá segura agora ela me olhou ainda com medo nos olhos mas pela primeira vez em muito tempo havia também um pingo de esperança a cozinha de Dona Marlene irmã de Dona Rosa tinha cheiro de café passado e madeira velha o relógio de parede fazia um barulho ritmado um tic-tac lento Que preenchia o silêncio eu e Joana sentamos lado a lado ainda respirando fundo tentando entender onde estávamos a noite parecia mais escura ali dentro como se todo o medo ainda nos acompanhasse a cada pequeno barulho lá fora meu coração
disparava eu sabia que meu pai não desistiria fácil ele não era o tipo de homem que deixava as coisas escaparem Dona Marlene colocou uma xícara de café na minha frente e outra para Joana o líquido fumegava mas eu nem pensei antes de segurar a xícara com as duas mãos como se aquele calor pudesse espantar o frio que parecia ter se instalado lado dentro de mim vocês podem dormir no quartinho dos Fundos ela disse sua voz firme mas sem hostilidade eu ass senti sem coragem de olhar muito nos olhos dela e sua mãe ela perguntou onde
ela tá eu queria ter uma resposta Minha mãe ficou para trás minha mãe pode estar morta agora minha mãe pode ter apanhado tanto que nunca mais consiga fugir mas eu não disse nada disso só apertei a borda da xícara e sussurrei ela vai vir Dona Marlene não disse nada por um momento seu olhar pesava sobre mim analisando tentando entender vão tomar um banho antes de deitar você estão com cara de quem correu uma maratona eu nem sabia como responder estávamos mesmo com cara de quem Correu para salvar a própria vida levei Joana para o banheiro
e pela primeira vez em dias vi minha irmã relaxar um pouco quando sentiu a água quente na pele ela se esfregava devagar como se tentasse tirar algo que não se via eu queria falar algo para aliviar aquele peso queria dizer que ia dar tudo certo mas como prometer isso se nem eu sabia o que aconteceria depois do banho Voltamos para para a cozinha onde Dona Marlene já tinha separado dois colchões no quartinho pequeno dos Fundos a cama era de madeira e rangia mas parecia um luxo perto do chão duro onde dormíamos em casa Joana deitou
primeiro os olhos ainda carregados de medo a mamãe vai achar a gente Ela perguntou baixinho senti um nó apertar minha garganta vai menti ela segur a mão e fechou os olhos eu por outro lado não dormi fiquei acordada ouvindo cada som da noite cada galho que estalava lá fora cada farol que passava pela rua fazia meu coração disparar E se ele descobrisse onde estávamos E se ele batesse na porta no meio da madrugada e se ele viesse buscar a gente a ideia me fez sentar na cama e apertar os joelhos contra o peito eu queria
que minha mã tivesse ali queria que ela surgisse pela porta com os cabelos bagunçados e aquele olhar de sempre mas a verdade era que ela podia estar morta agora fechei os olhos e me obriguei a respirar devagar naquela noite eu fiz uma prece silenciosa não era uma prece comum não pedi felicidade nem sorte nem futuro pedi apenas que minha mãe estivesse viva que ela encontrasse um jeito de escapar daquele inferno e que de algum jeito a gente se encontrasse de novo o sono veio devagar carregado de cansaço e medo e no meio da madrugada Sonhei
com minha mãe no sonho ela corria corria como eu corri e ao fundo meu pai gritava o sol ainda não tinha nascido quando acordei meu corpo estava pesado os músculos doíam Como se eu tivesse levado uma surra o colchão era macio mas minha cabeça parecia cheia de pedras a primeira coisa que fiz foi olhar para o lado Joana ainda dormia os traços serenos mas os punhos fechados contra o peito como se tentasse se proteger até no sono suspirei fundo tentando entender onde estava então lembrei nós tínhamos fugido Minha mãe ficou para trás e eu não
sabia o que ia acontecer agora o quarto dos Fundos onde estávamos era pequeno com uma janela de madeira entre aberta o vento frio entrava arrepiando minha pele do lado de fora os primeiros barulhos da cidade começavam a surgir o latido de um cachorro uma carroça passando o assovio distante de algum homem indo para o trabalho puxei o cobertor sobre Joana e levantei de devagar minhas pernas ainda tremiam da corrida da noite anterior saí do quarto em silêncio tentando não fazer barulho Dona Marlene já estava acordada ela estava na cozinha vestida com um vestido florido simples
os cabelos presos num coque baixo coando o café o cheiro amargo preencheu o ar ela olhou para mim sem dizer nada por alguns segundos depois puxou uma xícara e despejou o café qu colocando sobre a mesa senta obedeci meus dedos envolveram a xícara tentando absorver aquele calor Dona Marlene puxou uma cadeira e sentou de frente para mim o que você pretende fazer agora Menina a pergunta me Pegou de surpresa o que eu pretendia eu não sabia minha única ideia era fugir não pensei no depois olhei para o chão apertando esperar minha mãe dona Marlene ficou
me olhando e eu senti meu rosto queimar e se ela não vier engoli em seco essa era a pergunta que eu estava evitando e se minha mãe estivesse morta e se ela nunca conseguisse escapar Minha garganta fechou e as lágrimas ameaçaram subir mas eu não podia chorar não na frente de Dona Marlene ela suspirou e tomou um gole do próprio café vocês não podem ficar aqui aquelas palavras bateram como um soco no estômago eu sabia é claro que sabia mas escutar em voz alta Fazia tudo parecer ainda pior eu não tenho para onde ir murmurei
Dona Marlene não respondeu de imediato apenas Ficou ali me analisando Então como se tomasse uma decisão disse tenho convento aqui na cidade as freiras acolhem moças que precis de ajuda eu franzi o senho convento eu não sabiao sobre freiras Sabia que não tamos outra escol el podems aud podem teto um prato de comé você se encontrarem até vocês se encontrarem ela não queria dizer mas nós duas sabíamos minha mãe talvez nunca nos encontrasse apertei os dedos contra a xícara de café sentindo a quentura na pele tentando me agarrar a alguma coisa que não fosse o
medo eu levo vocês depois do almoço disse ela levantando-se e começando a ajeitar a cozinha eu continuei sentada sem saber o que sentir não era um lar mas era um lugar seguro e depois de tudo talvez fosse o melhor que podíamos ter voltei para o quarto s sentei na beira do colchão e olhei Joana dormir Será que minha mãe stimo estava bem será que ela sabia que conseguimos fugir ou será que ele a impediu apertei os olhos expulsando os pensamentos ruins eu precisava ser forte por mim por Joana e principalmente pela minha mãe o dia
passou arrastado depois de tantas noites em claro de tanta tensão e medo meu corpo pedia descanso mas minha cabeça não permitia cada barulho na rua me fazia saltar cada sombra na janela me fazia pensar que meu pai estava ali pronto para nos arrastar de volta Joana também parecia inquieta mesmo quando tentava brincar com uma boneca velha que dona Marlene emprestou seu olhar estava vazio distante como se mesmo ali segura ainda estivesse presa em algum lugar escuro dentro dela Dona Marlene não era uma mulher de muitas palavras mas observei como de tempos em tempos ela nos
olhava de soslaio como se tentasse decidir se estava fazendo a coisa certa ao nos ajudar o tempo se arrastou até que o sol atingisse o ponto mais alto do céu foi quando ela finalmente quebrou o silêncio é hora de ir eu sabia que não podíamos ficar ali para sempre mas ainda assim ouvir aquelas palavras fez meu peito apertar olhei para Joana que segurava a boneca entre os dedos finos ela não olhou para mim apenas apertou os lábios e ass sentiu devagar Dona Marlene pegou um lenço de dentro do armário e o amarrou em volta da
cabeça antes de se virar para nós Venham me levantei devagar e segurei a mão de Joana ela apertou a minha com força como se dissesse que estava ali que ainda está comigo saímos para a rua e senti o sol quente bater no rosto trazendo uma luz que parecia Cruel demais para o peso que carregávamos a cidade estava acordada agora diferente da noite anterior quando passamos despercebidas pelas sombras homens empurravam carroças cheias de frutas mulheres conversavam de porta em porta crianças corriam descalças levantando poeira pelo chão de terra batida tudo parecia tão normal como se o
nosso pesadelo Nunca tivesse existido mas ele existiu e eu sabia que mesmo longe ele ainda podia nos alcançar ah antes de continuar minhas queridas e queridos eu quero lembrar vocês de se inscreverem no canal ativar o Sininho e curtirem o vídeo isso ajuda muito a nossa equipe a trazer mais relatos reais todos os dias o caminho até o convento foi curto Mas pareceu uma eternidade cada passo me fazia sentir que eu estava me afastando ainda mais da minha mãe e isso me dava um nó no estômago quando finalmente chegamos meu peito se apertou o convento
Era uma construção simples de paredes altas e brancas com um portão de ferro que rangia quando Dona Marlene o empurrou o cheiro de flores vinha de um jardim bem cuidado no meio do pátio tudo era tão silencioso que me pareceu um outro mundo longe da realidade suja e barulhenta das Ruas Duas freiras caminhavam do outro lado do pátio e uma delas nos viu Primeiro ela era uma mulher de idade com olhos Fundos e um rosto que carregava muitas histórias quando se aproximou não sorriu apenas nos olhou analisando cada detalhe da nossa presença Ali quem são
essas meninas a voz dela era suave mas tinha de autorid Dona Marlene respirou fundo antes de responder são filhas de uma mulher que apanha do marido fizeram o que puderam para fugir a freira ficou em silêncio por alguns instantes então baixou os olhos para Joana que apertou ainda mais minha mão e se escondeu atrás de mim foi ali que vi olhar dela mudar ela não fez perguntas não pediu explicações apenas assentiu Vocês precisam de comida assenti devagar ela fez um gesto para que entrássemos e foi apenas quando passamos pelo portão que percebi o quanto estava
Exausta meuo parecia feito de chumbo e o peso que carregava nos ombros Parecia ter se duplicado seguimos a freira até um refeitório pequeno onde algumas meninas vestidas com roupas simples lavavam pratos e varriam o chão o cheiro de sopa tomava o ar ela puxou uma cadeira para nós e fez um sinal para que sentássemos fiquem aqui vou buscar algo para vocês comerem Joana não soltou minha mão nem por um segundo olhei a redor e vi que algumas das Meninas nos observavam curiosas mas nenhuma se aproximou era um mundo novo um mundo que não sabíamos se
seria Nosso Lar quando a freira voltou colocou dois pratos fundos na nossa frente a sopa ainda soltava vapor e o cheiro de legumes fez meu estômago roncar comam disse ela Joana pegou a colher primeiro a primeira colherada fez seus olhos se encherem d'água talvez fosse porque fazia dias que não comíamos direito ou talvez fosse porque pela primeira vez em muito tempo tínhamos comida sem medo de que alguém arrancasse o prato das nossas mãos Eu segurei a colher com os dedos trêmulos e levei a sopa à boca era simples mas era quente e era nossa Dona
Marlene ficou de pé ao nosso lado por um tempo nos observando quando Joana terminou a segunda colherada ela soltou um suspiro e se virou para a freira elas não tem para onde ir a freira apenas assentiu e foi naquele momento que soube Nossa Nova Vida começaria ali mas no fundo uma pergunta Ainda martelava dentro de mim Onde estava minha mãe ela tinha conseguido escapar ou tínhamos perdido ela para sempre os dias dentro do convento passavam devagar o silêncio era quase sagrado quebrado apenas pelo som das Vassouras arrastando o pó das Pedras pelo Canto das Freiras
durante as orações e pelo tilintar das mules nos pratos durante as refeições para algumas meninas aquele lugar Era um lar para outras era um refúgio temporário um lugar onde se escondiam do mundo até que pudessem recomeçar em outro canto para mim e para Joana era uma pausa mas uma pausa não era o mesmo que segurança Desde o Primeiro Momento em que nos sentamos naquele refeitório uma única pergunta me atormentava Onde estava minha mãe no começo tentei acreditar que ela logo nos encontraria que de alguma forma ela conseguiria fugir e nos procuraria ali mas os passaram
sem depois duas e nada as freiras nos deroupas nos ensinaram a rezar antes dasi e nos deram um canto para dmir mas nada disso preench o vazio dentro do meu peito acordava no meio da noite os olhos perdidos no teto escuro tentando imaginar o que teria acontecido naquela noite em que fugimos será que meu pai a machucou Será que a trancou dentro de casa para que nunca mais saísse Será que ela estava viva eu tentava não chorar na frente de Joana mas Algumas Noites não conseguia no convento eu era só mais uma menina não existia
passado ali dentro as freiras nos chamavam de filhas de Deus e nos davam tarefas diárias para mantermos a mente ocupada ajudávamos na cozinha no Jardim no refeitório era uma rotina simples mas eu não queria rotina eu queria minha mãe uma tarde enquanto ajudava a dobrar lençóis no pátio ouvi o som de Passos apressados levantei a cabeça e vi Dona Marlene conversando com uma das Freiras perto do portão de ferro meu coração disparou coloquei os lençóis de qualquer jeito sobre a mesa e corri até lá sentindo o estômago revirar alguma notícia perguntei com a voz mais
ansiosa do que deveria Dona Marlene me olhou com um misto de pena e preocupação a cidade anda comentando ela disse baixando o tom de voz seu pai tá procurando vocês minha pele arrepiou inteira Como assim ela suspirou como se pesasse as palavras antes de me contar ele tá perguntando pra vizinhança diz que a mulher dele sumiu e que as filhas estão perdidas por aí mas ninguém diz nada todo mundo finge que não sabe senti um gosto amargo na boca e minha mãe ela hesitou e aquilo foi pior do que qualquer resposta não sei menina ninguém
viu meu peito afundou a freira ao lado de Dona Marlene me olhou com uma expressão séria você está segura aqui ele não vai te encontrar eu queria acreditar naquelas palavras mas nada parecia seguro naquela noite não consegui dormir cada barulho lá fora parecia ser meu pai chegando cada voz distante parecia ser o anúncio do pior eu não podia esperar não podia ficar ali sem saber o que tinha acontecido com minha mãe então tomei uma decisão eu ia voltar não para casa mas para perto precisava saber precisava ver com meus próprios olhos se minha mãe ainda
estava viva mas para isso teria que sair sem que ninguém percebesse e eu sabia que essa poderia ser a decisão mais perigosa da minha vida a decisão de voltar me corroía por dentro desde a primeira noite no convento eu sabia que não podia ficar ali sem saber o que tinha acontecido com minha mãe Mas entre querer e fazer havia um abismo um medo tão grande que me fazia tremer Só de pensar se meu pai ainda estivesse na cidade se ainda estivesse nos procurando o risco era enorme se ele me encontrasse eu sabia o que aconteceria
mas o que me matava por dentro era a incerteza Minha mãe estava viva ele aprendeu dentro de casa ela conseguiu escapar ninguém falava nada as freiras faziam orações para que Deus nos desse forças mas o silêncio sobre minha mãe era como um grito dentro da minha cabeça eu precisava ir mas não podia levar Joana se algo acontecesse comigo pelo menos ela ainda estaria Segura Eu já tinha visto o que meu pai era capaz de fazer com uma criança em defesa eu jamais deixaria que ele a machucasse de novo então na Ada da noite quando as
luzes do convento já estavam apagadas e o único som era o canto distante de algum grilo escondido no Jardim levantei devagar da cama Joana dormia profundamente ao meu lado agarrada ao travesseiro como se fosse um escudo olhei para ela por um tempo decorando cada detalhe de seu rosto infantil e então me levantei com todo o cuidado do mundo Meu Coração batia tão alto que eu a certeza de que alguém ouviria saí do quarto sem fazer barulho caminhando pelo corredor escuro sentindo meus pés gelados no chão de pedra o convento era silencioso as freiras dormiam em
seus aposentos e a única vela acesa tremeluzir na capela ao lado do pátio me aproximei do portão devagar cada passo um teste para meu próprio medo e então no momento em que encostei as mãos no ferro frio do portão uma voz soou atrás de mim aonde pensa que vai menina meu corpo inteiro travou devar e vi a freir de olos Fundos e vé escuro meando um olar Fir o cora parcia Prestes explodir Eu preciso ver mãe voz saiu baixa quase suplicante ela me analisou por um momento que pareceu uma eternidade Então suspirou você quer morrer
Senti meu estômago afundar eu não queria morrer mas o que era continuar Viva sem saber da minha mãe não respondi apenas Segurei o portão com mais força como se pudesse convencer a mim mesma de que estava fazendo a coisa certa a freira deu um passo à frente os olhos ainda cravados em mim você sabe que ele ainda está por aí não sabe a senti devagar ela suspirou outra vez cruzando os braços sobre o hábito Preto então vá mas se ele te pegar não diga que Não avisamos o choque percorreu meu corpo ela estava me deixando
ir não perguntei duas vezes empurrei o portão devagar e saí para a Rua Deserta sentindo o frio da madrugada me engolir inteira as ruas est vazias e cada sombra Parecia um vulto à espreita meu coração martelava contra o peito mas minhas pernas se moviam sozinhas eu sabia o caminho a cidade era pequena e minha casa ficava além do mercado depois da praça no começo da estrada de terra passei pelas casas fechadas sentindo o cheiro da umidade da madrugada misturado ao odor distante de fumaça de lenha quanto mais me aproximava mais o pavor se infiltrava em
cada célula do meu corpo e se eu encontrasse ele primeiro e se ele já soubesse onde eu estava e se minha mãe balancei a cabeça expulsando os pensamentos ruins eu precisava ir até o fim o céu começava a clarear quando finalmente vi minha casa ou o que restava dela a cerca Estava caída a porta aberta uma das janelas quebrada parei no meio da estrada sentindo o pavor me consumir o que aconteceu aqui meu peito subia e descia em respirações rápidas e desesperadas dei um passo depois outro quando atravessei o quintal percebi que a casa estava
vazia o chão coberto de cacos de vidro os móveis revirados um cheiro de álcool e mofo impregnado no ar minha mãe não estava ali e meu pai também não meu corpo tremia onde eles estavam o que ele fez com ela me aproximei da cama onde minha mãe costumava dormir e vi algo que me fez per o flego um pedaço de tecido Florido preso em um prego da parede eu conhe aqu tecido era o vestido queha mãe usava na noite em que fugimos minha garganta apertou ela esteve aqui ela tentou fugir e algo deu errado ouvi
um barulho passos na estrada meu coração disparou a única coisa que fiz foi me encolher no canto do quarto tentando me esconder tentando desaparecer os passos se aproximaram E então uma voz baixa quase um sussurro filha meus olhos se encheram de Lágrimas antes mesmo de virar o rosto Minha mãe estava ali machucada mais viva Minha mãe estava ali mas não era a mesma seus pés descalços estavam sujos de terra o Vestido Rasgado em alguns pontos o cabelo desgrenhado como se ela tivesse corrido por dias sem descanso o rosto estava magro a pele pálida os olhos
Fundos e cheios de um cansaço que ia além do Físico mas o que mais doía era a marca roxa em sua bochecha ela ficou parada na porta me olhando como se não acred no que como se eu fosse um fantasma meus lábios tremeram mãe foi só o que consegui dizer antes deer para os seus braos ela me cont o peito e foi só ali naquele instante que senti o peso deudo quetinha acontecido eu esta fug H Dias carregando medo nos ombros tentando ser forte por Joana por mim por ela mas agora nos braços da minha
mãe toda a força se desfez chorei chorei como uma criança que passou tempo demais sem colo senti as mãos dela segurarem minha cabeça seus dedos magros trêmulos eu achei que tinha perdido vocês sua voz saiu baixa rouca ela encostou o rosto no meu cabelo e percebi que ela também chorava abracei minha mãe ainda mais forte com medo de que ela sumisse eu te procurei murmurei soluçando a gente esperou mas você não apareceu ela respirou fundo o corpo frágil tremendo entre os meus braços eu tentei filha eu tentei me afastei um pouco para olhar para ela
o que aconteceu ela mordeu os lábios os olhos desviando para o chão ficou em silêncio por um tempo como se estivesse reunindo coragem para falar ele me pegou meu estômago revirou depois que vocês fugiram ele percebeu ficou louco me bateu me trancou no quarto dizia que ia atrás de vocês que ia achar Vocês nem que fosse no inferno ela passou os dedos pelo rosto como se tentasse apagar as lembranças eu não podia fazer nada fiquei trancada por dias sem saber de vocês se sem saber se tinham conseguido escapar como você fugiu Minha voz saiu engasgada
ela suspirou os olhos vidrados em algum ponto no passado ele bebeu mais do que de costume e então apagou no sofá eu sabia que aquela era minha única chance ela respirou fundo antes de continuar peguei as poucas coisas que consegui carregar e saí pela janela Meu Coração batia acelerado e ele ainda está procurando as palavras dela trouxeram um frio cortante para minha espinha ele não vai parar até encontrar a gente ela me olhou nos olhos e vi ali algo que nunca tinha visto antes determinação minha mãe aquela mulher que passou anos se encolhendo sob os
gritos do meu pai que abaixava a cabeça sempre que ele entrava em casa agora tinha fogo nos olhos mas ele nunca mais vai nos machucar foi a primeira vez que ouvi minha mãe dizer algo assim e foi a primeira vez que acreditei que podíamos ter uma chance de realmente escapar ela segurou minhas mãos com força precisamos encontrar Joana assenti mas antes que pudéssemos dar qualquer passo para fora daquela casa ouvimos um barulho um assovio longo meu sangue gelou eu conhecia aquele som era ele minha mãe arregalou os olhos não pensamos apenas corremos pelo quintal pela
cerca derrubada pela estrada o medo queimava nossos pulmões e o peso da nossa fuga parecia ainda maior agora ele estava perto e se nos encontrasse sabíamos que não haveria uma segunda chance o medo tinha um som era o som das nossas respirações ofegantes dos pés descalços batendo contra a terra seca da Estrada dos Galhos se quebrando sob nossos passos desesperados Mas o pior som era o que vinha atrás de nós o assovio longo arrastado cortando a noite como uma lâmina era ele e ele estava perto minha mãe apertou minha mão com tanta força que seus
dedos cravaram na minha pele seu corpo tremia mas suas pernas não paravam ela corria como se nossa vida dependesse disso e dependia o Coração batia forte no meu peito no meu pescoço nas têmporas a respiração ardia nos pulmões o suor escorria pela minha testa misturando-se com a poeira que subia do chão seco minha mãe olhou para os lados tentando encontrar um caminho um esconderijo qualquer coisa que nos desse uma chance mas Estávamos na estrada aberta se ele nos visse não teríamos para onde correr eu já conseguia sentir sua presença atrás de nós mesmo sem olhar
o cheiro da cachaça o peso da sua sombra o esta nos caçando minha mãe meço para lado eamos por uma trilha no meio da vegetos baixos arranhavam espinhos dos arbos cort nosos tornozelos mas nada disso importava precisávamos sumir o barulho doss nossos passos era abafado pela Mata ouvíamos apenas o farfalhar das Folhas os grilos cantando ao longe o eco das nossas respirações curtas e desesperadas e então o que mais temíamos o barulho de Passos atrás de nós pesados forte demais para ser o vento minha mãe parou abruptamente me puxando para trás de uma árvore grossa
colocou a mão sobre minha boca abafando qualquer som que eu pudesse fazer eu tremia dos pés à cabeça o cheiro do mato misturado ao nosso suor me enjoava mas eu não podia me mexer a noite Parecia ter parado os segundos se arrastavam como se fossem horas e então ele falou eu sei que vocês estão aqui minha pele gelou a voz dele era baixa mas carregada de ameaça não adianta correr mulher você acha que pode se esconder de mim minha mãe fechou os olhos com força os lábios pressionados até ficarem brancos ele estava tão perto que
podíamos ouvi-lo respirar eu dei tudo para você te dei casa comida minhas filhas senti um nó apertado na garganta ele não via nada de errado não via o monstro que era a voz dele ficou mais dura eu só quero o que é meu minha mãe tremeu ao meu lado o ódio no rosto dela era Evidente mas sabíamos que não poderíamos enfrentá-lo se ele nos achasse tudo acabaria ali a floresta estava escura e ele caminhava devagar como se estivesse saboreando a caça o barulho dos seus passos ia e vinha como se estivesse perto mas ao mesmo
tempo longe minha mãe pressionou meu ombro corra minha cabeça girou para ela os olhos arregalados o quê agora ela me empurrou para o outro lado da trilha e antes que eu pudesse reagir ela saiu na direção oposta quebrando Galhos de propósito criando um desvio o medo me atravessou como uma faca afiada não mas minha mãe não parou ela saiu correndo entre os arbustos fazendo barulho chamando a a atenção dele para longe de mim eu queria segui-la mas sabia que se fizesse isso estragaria tudo ele correu atrás dela e o barulho dos seus passos pesados se
afastou fiquei ali encolhida atrás da árvore com o coração disparado os olhos cegos pelas lágrimas minha mãe me salvou Mas e se ele a pegasse o desespero crescia dentro de mim eu precisava sair dali precisava encontrar Joana precisava acreditar que minha mãe conseguiria escapar então eu corri dessa vez sozinha sem olhar para trás sem saber se minha mãe conseguiria fugir dele mas com uma única certeza ele nunca mais me pegaria o vento cortava minha pele enquanto eu corria as lágrimas se misturavam ao suor e minha visão oscilava entre a escuridão da noite e os clarões
da minha mente em pânico meu corpo queria parar mas o medo não deixava cada passo era uma batalha contra o chão duro contra a exaustão que gritava nos meus músculos contra o terror de saber que minha mãe ainda estava lá atrás sozinha eu não sabia se ela tinha conseguido despista eu não sabia se ela ainda estava viva mas eu não podia pensar nisso agora Joana eu precisava chegar até ela a estrada parecia infinita e cada sombra ao meu redor se transformava em um vulto ameaçador minha respiração vinha curta rasgada e meu peito queimava como se
estivesse pegando fogo a cidade não estava tão longe mas naquela noite parecia que nunca chegaria Então finalmente vi as primeiras casas as janelas escuras as ruas vazias os postes fracos e iluminando apenas pequenos pedaços da calçada eu não tinha tempo a perder meus pés descalços fizeram um barulho surdo no chão de pedra enquanto corria pelas ruelas cada esquina virada era um risco e se ele tivesse amigos na cidade e se alguém o tivesse visto e Contasse que eu estava ali mas eu não tinha escolha o convento estava a poucas quadras de distância agora eu sentia
meu martelando contra as costelas os portões do convento surgiram Diante de Mim altos e fechados como sempre parei respirando com dificuldade e bati com força sem me importar com quem acordaria abre por favor a madeira ecoou o som dos meus punhos desesperados nada bati de novo sentindo o desespero crescer pelo amor de Deus alguém abre os segundos pareciam se arrastar então um rangido o portão se abriu apenas uma fresta e um rosto coberto pelo vé escuro apareceu a freira me olhou primeiro com surpresa depois com preocupação o que está fazendo aqui minha mãe ele está
atrás dela eu preciso entrar ela abriu o portão completamente e me puxou para dentro fechando-o com pressa logo em seguida onde está sua mãe lá fora minha voz quebrou ela ficou para trás para me salvar minha visão ficou turva e antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa senti meu corpo ceder o cansaço venceu o medo drenou todas as minhas forças e pela primeira vez desde que fugi daquela casa desmaiei acordei sentindo um lençol áspero mim e um cheiro de chá quente no ar minha cabeça latejava e por um momento não sabia onde estava então
a lembrança voltou como um soco meus olhos se abriram de repente e sentei na cama com um movimento brusco a freira estava sentada em uma cadeira ao lado com um olhar Sereno mais atento Você precisa descansar minha mãe minha voz saiu fraca quase um sussurro Ainda não temos notícias o mundo girou eu senti o desespero subir pela garganta minha mãe ainda estava lá fora eu precisava fazer alguma coisa Joana minha irmã a freira apontou para o canto do quarto olhei para o lado e vi Joana encolhida em um cobertor dormindo minha respiração vacilou me levantei
devagar e me aproximei dela sentindo minhas pernas trêmulas Joana estava ali Segura me ajoelhei ao lado dela e segurei sua mão pequena e quente ela se mexeu um pouco e abriu os olhos devagar e quando me viu seu lábio tremeu você voltou meus olhos encheram de Lágrimas Voltei minha flor ela se jogou nos meus braços apertando como se nunca mais quisesse soltar e naquele momento só naquele momento permiti-me acreditar que talvez tivéssemos uma chance talvez ainda houvesse esperança mas a pergunta que me assombrava não ia embora Onde estava minha mãe e será que um dia
a veríamos de novo o tempo no convento passou diferente depois daquela noite a espera se tornou um peso insuportável cada manhã era um tormento Cada noite um vazio frio e Cruel Joana estava segura sim mas minha mãe minha mãe ainda estava lá fora eu tentava me ocupar com as tarefas que as freiras nos davam lavava roupas até os dedos ficarem enrugados varria os corredores até meu braço doer ajudava na cozinha mesmo sem fome mas nada adiantava meu pensamento voltava para a mesma pergunta o mesmo medo que me corroía por dentro ela estava viva eu temia
perguntar temia ouvir a resposta a cidade era pequena e qualquer notícia se espalhava rápido mas por algum motivo ninguém falava sobre ela Dona Marlene foi a única que tentou buscar alguma informação nada menina disse ela um dia sentada na cozinha do convento tomando um café forte enquanto me olhava com pena ninguém viu nem ouviu falar mas e meu pai ela suspirou continua perguntando mas parece que já tá mais calado isso me deixou gelada o que faria meu pai desistir de procurar a gente O que teria acontecido para ele finalmente parar eu não queria pensar na
resposta Joana era minha sombra me seguia por todos os cantos do convento agarrando minha saia sempre que alguma freira passava perto ela falava pouco mas eu sabia o que se passava na cabecinha dela ela também esperava esperava nossa mãe voltar mas os dias viraram semanas e nada até que numa manhã enquanto esfregamos os panos do refeitório no tanque do pátio uma das Freiras apareceu na porta com um rosto diferente venha comigo disse ela olhando para mim meu estômago se revirou larguei o pano ensaboado na água e segui a mulher sem dizer nada com Joana correndo
atrás de mim a freira nos levou até a entrada do convento onde Dona Marlene estava parada com as mãos retorcidas sobre o avental o rosto tenso meu coração acelerou o que aconteceu ela hesitou por um instante e aquilo foi o suficiente para minhas pernas ficarem bambas sua mãe a voz dela falhou um pouco e eu senti minha respiração travar ela está viva disse enfim o Mundo ao Meu Redor parou eu pisquei algumas vezes tentando entender o que aquelas palavras significavam onde ela está Dona Marlene baixou os olhos no hospital da cidade meu peito afundou eu
nem perguntei o que aconteceu eu sabia meu pai ele não a deixaria escapar Sem marcas eu quero ver ela falei já me movendo eu levo vocês disse Dona Marlene mas se prepare aquela frase me atingiu como um aviso silencioso respirei fundo segurei a mão de Joana e saí do convento pela primeira vez desde que voltei o caminho até o hospital foi o mais longo da minha vida cada batida do meu coração parecia ecoar na estrada de terra e minha mente construía as piores imagens possíveis Minha mãe estava viva mas em que estado quando chegamos o
cheiro de remédio e éter me enjoou as paredes brancas me pareceram frias como se ali dentro o mundo fosse feito apenas de doença e despedidas uma enfermeira nos guiou até um quarto nos fundos onde as janelas deixavam entrar uma luz tímida e ali esta ela minha mãe deitada na cama magra como nunca os braços cheios de hematomas um corte na testa ainda cicatrizando ela respirava devagar o peito subindo e descendo com esforço meus olhos encheram de Lágrimas mãe ela se virou para mim e eu vi um sorriso fraco surgir em seus lábios rachados Minha Menina
fui até ela sem pensar segurei sua mão com cuidado como se ela fosse quebrar a qualquer momento o que ele fez com você minha voz saiu falha ela soltou um suspiro curto os olhos cansados ele tentou me matar minha respiração falhou mas não conseguiu ela apertou minha mão com o pouco de força que tinha não conseguiu filha aquela frase carregava mais do que palavras ela estava viva ela venceu eu queria chorar queria gritar queria abraçá-la forte mas tudo o que fiz foi segurar sua mão e assentir minha mãe nunca mais seria prisioneira dele e nós
três nunca mais voltaríamos para aquele inferno o monstro não nos prenderia outra vez nossa liberdade custou tudo mas agora ela era nossa a sala do hospital era fria o cheiro de remédio e desinfetante impregnava o ar mas nada era mais forte do que a dor silenciosa que pairava ali dentro Minha mãe estava deitada frágil machucada mais viva e aquilo deveria me confortar Mas em vez disso o medo ainda me dominava porque meu pai ainda estava lá fora porque eu sabia que se ele descobrisse que minha mãe estava viva ele voltaria e nós não podíamos correr
para sempre sentei ao lado da cama segurando sua mão fria entre as minhas seu rosto estava magro a pele marcada por hematomas que denunciavam o que ela tinha enfrentado para chegar até ali ele sabe que você está aqui minha voz saiu fraca como se eu não quisesse ouvir a resposta minha mãe desviou o olhar não sei ela respirou fundo antes de continuar Mas acho que não Dona Marlene se aproximou devagar com os braços cruzados o olhar carregado de preocupação o que aconteceu naquela noite Dona Lourdes minha mãe fechou os olhos por um instante como se
reviver aquilo fosse ainda pior do que ter passado por tudo depois que vocês fugiram ele percebeu logo ele ficou fora de controle ela engoliu em seco e eu vi suas mãos tremerem um pouco ele queria me fazer falar onde vocês estavam senti um nó apertado no peito eu sabia o que aquilo significava minha mãe sofreu por nossa fuga ele me bateu muito me trancou no quarto dizia que ia te encontrar que Joana era dele minha respiração vacilou Mas então ele bebeu demais como sempre os olhos dela finalmente encontraram os meus e foi ali que eu
soube que era agora ou nunca o silêncio na sala se Estendeu por alguns eu tentei fugir pela janela mas ele acordou sua voz falhou ele me pegou pelo braço e me jogou no chão minha mãe desviou os olhos como se voltasse para aquele momento ele disse que se eu fugisse não ia precisar mais de mim que ia cuidar das filhas sozinho Senti meu estômago revirar ela estava dizendo sem precisar das palavras exatas que ele pretendia nos destruir também apertei sua mão fora sentindo o calor do meu corpo tentar alcançar o dela mas eu lutei ela
continuou num fio de voz pela primeira vez eu lutei ela inspirou fundo e então olhou para mim e foi assim que consegui pegar a faca o ar sumiu dos meus pulmões mãe ela sentiu devagar ele tentou me impedir Mas pela primeira vez ele teve medo de mim um arrepio subiu pela minha espinha você você matou ele minha mãe olhou para as próprias mãos magras frágeis mas que tinham segurado uma faca contra o próprio Carrasco não ela Balançou a cabeça mas feri o suficiente para fugir minha respiração estava descompassada ele ainda está vivo Então ela assentiu
e o peso daquelas palavras caiu sobre mim como uma pedra meu pai ainda estava lá fora minha mãe pode ter escapado mas ele ainda existia e monstros como ele não desaparecem tão fácil a porta do quarto rangeu devagar e Joana entrou hesitante como se tivesse medo do que veria seus olhos arregalaram ao ver minha mãe mamãe minha mãe sorriu fraco estendendo os braços com o esforço minha menina Joana correu até a cama e se jogou contra ela Chorando Baixinho contra o peito da nossa mãe eu segurei minhas próprias lágrimas mas por dentro eu já estava
desmoronando Minha mãe estava viva Joana esta segura Mas a gente nunca estaria realmente Livres enquanto ele ainda respirasse Dona Marlene pigarreou e cruzou os braços A pergunta agora é o que vamos fazer o que vamos fazer foi a primeira vez que me dei conta de que ainda não tínhamos vencido fugimos sobrevivemos mas ainda não tínhamos acabado com aquilo o medo ainda existia e a única forma de nos livrarmos dele era se livrar dele de uma vez por todas minha mãe olhou para mim e naquele instante nós duas Pensamos a mesma coisa se quiséssemos viver em
paz ele teria que desaparecer primeiro o medo foi uma sombra que nos seguiu por muito tempo mesmo depois do hospital depois de ver minha mãe viva e saber que Joana estava Segura Eu ainda dormia com o coração disparado ainda esperava ouvir a porta sendo arrombada no meio da noite ainda sentia os olhos dele queimando minha pele mesmo quando sabia que ele não estava por perto mas Monstros não somem de um dia para o outro eles deixam e o que meu pai fez com a gente nunca sumiria completamente Minha mãe ficou no hospital por mais algumas
semanas seu corpo demorava a se recuperar mas eu via nos seus olhos que algo mais profundo tinha mudado ela nunca mais seria a mulher que um dia abaixou a cabeça nunca mais seria a esposa que aceitava o destino que lhe deram ela havia enfrentado o monstro e mesmo que ele ainda estivesse vivo ele nunca mais teria o mesmo poder sobre nós Dona Marlene ajudou a conseguir um abrigo temporário em outra cidade um lugar pequeno onde ningém conhecia Nossa hisa onde não é as filhas fugidas de um homem perigoso nem a Muler que tentou matar o
próprio marido lá é apenas Sobreviventes mas ainda assim Eu sabia que o perigo não tinha acabado Eu sabia que ele podia nos encontrar e foi por isso que um dia algumas semanas depois de tudo minha mãe tomou uma decisão que eu nunca esperei ela foi até a delegacia no Brasil dos anos 1970 mulher nenhuma tinha voz homem batia na esposa e ninguém falava nada era assunto de família mas minha mãe não se calou Ela contou tudo mostrou os machucados falou do que ele fazia com a gente falou de Joana de como ele nos tratava como
propriedade de como ela mesma quase perdeu a vida tentando escapar e para minha surpresa alguém ouviu o delegado da cidade não era um homem piedoso não fez perguntas delicadas não tentou consolar mas ele conhecia meu pai sabia o tipo de homem que ele era e pela primeira vez alguém fez algo foram atrás dele não demorou muito meu pai ainda estava em nossa antiga cidade ainda se achando Dono de tudo ainda bebendo no mesmo bar ainda contando a mesma história de Que Sua Mulher Ingrata havia fugido com as filhas ele nunca esperou que alguém viesse procurá-lo
e foi isso que o destruiu Ficamos sabendo dias depois pegaram ele prenderam ele e embora eu soubesse que a justiça naquela época era falha que homens como ele costumavam se safar também sabia que ele nunca mais teria poder sobre nós meu pai desapareceu da nossa vida e pela primeira vez a liberdade parecia real os anos passaram minha mãe conseguiu um trabalho simples lavando roupas e cozinhando em uma pensão Joana voltou a sorrir devagar a brincar a ser uma menina de verdade e eu eu aprendi que o medo não some de uma hora para outra mas
mas também aprendi que ele não pode me controlar para sempre hoje eu sou uma mulher velha tenho rugas no rosto e as mãos marcadas pelo tempo as pessoas me chamam de Don nascida me vem como uma avó tranquila que faz café forte e conta histórias para os netos mas o que ninguém sabe é que essa tranquilidade foi conquistada lutei para estar aqui lutei para sobreviver e hoje olhando para trás só tenho uma certeza nunca mais tive medo se você gostou desse relato se inscreva no canal Ative o Sininho e Curta o vídeo isso me ajuda
muito até mais queridos e queridas