Conversas Sobre Melanie Klein - PARTE 2

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Carlos Mario Alvarez Psicanalista
Programa de áudio versando sobre a Psicanalista Melanie Klein e suas contribuições à teoria e clínic...
Video Transcript:
conversas sobre Melanie [Música] Klein hoje com o tema fantasias [Música] inconscientes seria interessante observar que cada psicanalista sobretudo cada teórico da psicanálise é capaz de dar sentido a uma série de conceitos de uma maneira muito peculiar mesmo que psicanalistas trabalhem em torno de um conceito específico por exemplo inconsciente eles ainda assim estarão falando de Ambientes diferentes aspectos distintos concepções diferenciadas o próprio Freud previu ao menos três níveis de discussão para qualquer fato psíquico para qualquer evento psíquico chamou de metapsicologia a reunião dessas três configurações de leitura sobre o psíquico sabemos que em Freud há o
plano descritivo o plano dinâmico e o plano econômico para tentar dar conta dos process estão em jogo dentro do funcionamento do aparelho psíquico portanto Melanie Klein como uma autora em psicanálise como uma pensadora dentro da tradição da psicanálise Ela também tem vamos dizer assim a sua o seuo de conceitos muito particular se não fosse assim ela não se destacaria como uma grande teórica como uma grande pensadora da psicanálise dos conceitos psicanalíticos nesse sentido é importante saber que para a psicanálise é possível e mesmo interessante sustentar distintas concepções do aparelho psíquico distintas concepções das engrenagens que
montam por exemplo os sintomas é como se a gente tivesse olhando através de um caleidoscópio Para um objeto que se fragmenta a cada instante na sua própria forma de estar talvez Dessa forma não se trate tanto de um objeto mas de algo que está aí para ser tocado atravessado de uma certa maneira perfurado explorado portanto Melanie Klein por exemplo se interessa muito pela ideia de fantasias inconscientes sabemos que o termo fantasia é importante desde muito cedo na teoria psicanalítica quando Freud descobre através de suas investigações analíticas que as suas pacientes histéricas não necessariamente haviam passado
por situações vamos dizer reais traumáticas ah na forma de Sedução de um adulto para uma criança de um homem para uma criança geralmente a figura do pai presente na fantasia estérica mas exatamente que esses eventos dos quais se lembravam as histéricas em hipnose e depois em associação eram eventos sim eram acontecimentos Sim mas de caráter Fantastico de caráter psíquico e não necessariamente algo que tivesse acontecido no concreto do acontecimento no chamado mundo real Freud criava então o conceito de realidade psíquica portanto a partir daí Freud elege a fantasia inconsciente como o cenário de fundo de
onde se originariam os sintomas na verdade Freud descobre que o neurótico é possuído por um universo de fantasias sempre de caráter sexual envolvendo os mais distintos elementos os mais distintos posicionamentos entre sujeito e objeto a fantas inconsciente é por assim dizer o grande motor do desejo desejo também inconsciente na psicanálise capaz de promover uma cisão entre aquilo que alguém faz alguém realiza e aquilo que alguém gostaria mas não pode ou gostaria mas não sabe que gostaria de realizar dessa forma a fantasia passou a ser um objeto para ser escutado e pelo Freud sobretudo inicialmente interpretado
por toda fantasia traria em si rastros e lastros da história psíquica daquela pessoa então a psicanálise através da escuta transferencial conseguiria aos poucos ir levantando os véus impostos pelo recalque a a partir de um entendimento sobre as dinâmicas que estavam montando as fantasias inconscientes a psicanálise freudiana chega a tratar a fantasia em três níveis o nível da fantasia consciente do devaneio que retorna por exemplo como restos de urnos em um sonho onde alguém pensa divaga sobre alguma coisa gostaria de uma vontade né um um devaneio sobre uma situação que está no plano do querer um
nível de fantasia propriamente inconsciente que não é dita que não é veraliz mas que está dentro de uma semântica dentro de uma lógica capaz de levar o sujeito a tentar representá-la através de sintomas através de forma peculiares psíquicas portanto a fantasia inconsciente estaria sempre inacessível sob a forma do desejo onde o desejo é desejo de continuar desejando aquilo que está desde sempre perdido para o Freud enquanto impossível de ser reencontrado ou de ser realizado a Rigor a gente sabe que a ideia de um objeto que traria aquela satisfação absoluta quando da primeira frustração que sofre
o bebê essa é a mitologia freudiana sobre o objeto perdido portanto este seria o segundo nível das Fantasias as fantasias inconscientes só acessíveis através da análise ou só acessíveis através do método psicanalítico fundado na inferência na observação Clínica e na inferência sobretudo sob um ponto de vista dedutivo e talvez lógico ainda que o Freud não tivesse lançado mão de elementos substancialmente lógicos pois bem um terceiro nível de fantasias que interessam ao Freud e que são problematizadas pela psicanálise são as fantasias filogenéticas essas fantasias seriam aquelas que são repetidas de geração em geração ao longo da
história da nossa espécie então seriam as fantasias que já carregamos cada um de nós Independente de qualquer condição psíquica ontológica que viesse desde a nossa existência propriamente dita no concreto do nascimento do corpo bom a Mel Klein tem um interesse Muito grande dentro das suas preocupações investigatórias dentro da sua sua clínica Pela questão da angústia ou seja essa questão que interessa todo psicanalista na sua prática cotidiana também era a questão que o Freud por exemplo em 1926 tava tentando responder dentro do aparato psicanalítico dar a ela um lugar mais definitivo em 1926 Freud escrevia inibições
sintomas e angústia tentando na verdade descobrir as origens da angústia as formas como a angústia está ligada ao recalque as formações sintomáticas e a angústia assim como a função da angústia dentro do aparato psíquico melan Klein vai portanto entender a angústia como uma angústia arcaica a angústia estaria presente desde a origem e se está presente desde a origem a angústia tem um caráter de insuportabilidade de transbordamento de tensão tensão gerando o desprazer o desconforto a ponto de o aparelho psíquico surgir ser uma formação interessada em Minimizar esse sofrimento em Minimizar esse desprazer até aí estamos
dentro da lógica freudiana que prevê uma diferença entre um nível de organização primária chamado princípio do Prazer em Oposição a um nível de organização secundária chamado princípio de realidade pois bem Melanie Klein entende essa angústia arcaica como função imediata da ação da pulsão de morte dentro do próprio indivíduo Melanie Klein entende que essa força da pulsão de morte é uma força violenta é uma força acossador são impulsos muito violentos que levam então a uma tentativa de defesa através da expulsão desses impulsos na direção de um objeto possível pois bem é através então do mecanismo de
projeção do que há de desagradável do que há de penoso que se faz uma tentativa de domínio da ansiedade porque em seguida dis Klein Essa violência que era interna se materializará ainda que psiquicamente na concepção de um objeto externo capaz de ser o alvo agora da pulsão de morte ou seja a pulsão de morte se tornou pulão de vida pela via da agressividade Essa é a ideia de Klein então a partir daí os impulsos sádicos serão exteriorizados através da projeção e cirão o objeto em uma parte que merece ser atacada que é uma parte ruim
é o objeto que frustra é o objeto que merece ser exterminado e uma parte boa que é a parte a ser preservada que é a parte com a qual se faz um bom vínculo então é a parte que alimenta e que sacia melan Klein prevê assim a concepção de uma dinâmica inconsciente marcada na sua origem pela pulsão de morte e a sua violência contra o corpo daí um segundo momento de expulsão da pulsão de morte no movimento de vida criando-se a existência de um objeto a ser investido psiquicamente de ódio mas como esse objeto não
é só um objeto de ódio ele também será objeto de amor partido ao meio Vejam Só que a concepção também lida com as polaridades entre amor e ódio que não fazem outra coisa se não repetir a lógica entre pulsão de vida e pulsão de morte ou seja o psiquismo é capaz de projetar a sua violência Para um objeto e partir esse objeto e passar a amá-lo e a odiá-lo de acordo com determinadas circunstâncias a partir daí formam-se as fantasias baseadas nessas relações de objeto Esta é a forma que Melanie Klein tem para conceber o psiquismo
o psiquismo funciona sempre matricialmente através de fantasias inconscientes que determinam relações de objeto Como disse o fundamento é a relação que se tem com o objeto sendo ele um objeto muitas vezes de amor chamado objeto bom e muitas vezes um objeto de ódio de repulsa chamado objeto ruim o seio é o objeto mítico essa tentativa de dar nome a esse primeiro elemento que inaugura as relações de objeto portanto para melan Klein desde muito cedo o bebê Experimenta fantasias de ódio em relação ao seio porque o mesmo seio que alimenta é o seio que frustra o
mesmo seio que sacia é o seio que priva que tira as condições daquele aquela espécie de Nirvana daquela espécie de terra prometida onde nada faltaria não é assim a experiência humana diz Freud diz Klein e dizem outros psicanalistas a experiência humana é uma experiência longe da satisfação plena é uma experiência onde sequer o tempo todo restituir uma espécie de homeostase onde o psiquismo pudesse ficar livre da angústia mas Klein por exemplo diz não há como se livrar da angústia pelo menos não há como se desfazer da angústia na sua totalidade porque o que nos anima
enquanto humanos é exatamente a invasão e a expulsão da angústia que não é outra coisa senão uma espécie de efra do diálogo entre vida e morte ou seja é preciso saber que a experiência humana acontece na tensão entre vida e morte ou entre Morte e Vida sendo que de uma certa maneira a Vitória se dá pela vida na medida em que a vida consegue se sobrepor à própria morte o tempo em que alguém vive é um tempo vitorioso é um tempo de afirmação de luta e de reafirmação da existência Ok mas essa existência psicanálise o
dirá através de Freud através de Klein Através de outros psicanalistas é uma existência atravessada pelos sintomas sobretudo Melanie Klein dirá atravessada e movida pelas fantasias inconscientes portanto por exemplo a O que Freud chamou de pulsão epistemológica ou epistemofílico ou seja aquela pulsão que faz com que alguém queira conhecer queira ir adiante queira buscar que se materializa através das clássicas perguntas por exemplo de onde eu vim onde estou para onde vou ou então quem sou eu quem me concebeu Qual o sentido da minha vida essas questões que estão na base de todo o conhecimento de toda
formulação Para conhecimento humano são questões que podem ser remetidas a uma origem a um princípio de indagação sobre si e que certamente tem origem no embate entre mãe e bebê entre mãe e filho vamos recorrer agora ao próprio texto de Melanie Klein um trabalho intitulado a psicanálise de crianças lançado em 1932 é um trabalho fundamental dentro do conjunto da obra da autora que marca por assim dizer uma posição autoral mais específica dentro do seu percurso este livro é lançado pois ainda com Freud Vivo e já no calor do início pelo menos das querelas entre a
escola inglesa de onde já fazia parte Melanie Klein desde 1926 a convite de Ernest Jones e escolas de Berlim e de Viena que tinham forte influência de Ana Freud sobretudo no que tangia a Análise de Crianças vejamos então que este livro de melan cline ele é dividido em duas partes a primeira chama-se a técnica da Análise de Crianças e a segunda se chama exatamente situações de angústias arcaicas e seus efeitos sobre o desenvolvimento da eu vou aqui agora lançar mão de um pequeno trecho do Capítulo 10 do Capítulo 10 desse livro se chama a importância
das situações de angústias arcaicas no desenvolvimento do eu então eu vou aqui fazer a leitura de uma pequena passagem que nos esclarece as questões relativas à projeção da angústia e a formação da vontade de conhecer então melan Klein vai falando da necessidade da projeção da angústia página 198 ela diz assim além do alívio que a projeção proporciona Por possibilitar que os estímulos pulsionais internos sejam tratados como se fossem externos o deslocamento da angústia relativa aos perigos internos para o mundo externo proporciona vantagens extras é agora que ela vai falar introduzir a ideia da pulsão para
o conhecimento então diz ela a pulsão para o conhecimento da criança que junto com seus impulsos sádicos foi dirigida para o interior do corpo da mãe é intensificada pelo medo que ela tem dos perigos e atos de destruição que estão ocorrendo lá e dentro do seu próprio corpo e que a criança não tem nenhum meio de controlar os perigos reais externos podem ser mais facilmente dominados porque a criança é capaz de descobrir mais sobre a natureza deles e testar se as medidas que adotou Contra Eles foram bem sucedidas continua Klein essa necessidade de testar pela
realidade é um poderoso incentivo para o desenvolvimento da sua pulsão para o conhecimento bem como de muitas outras atividades todas essas atividades que ajudam a criança a se defender do perigo que refutam os seus medos e que a capacitam a fazer restituição ao seu objeto tem da mesma forma que as primeiras manifestações do impulso de brincar o propósito de dominar a angústia relativa aos perigos tanto de Fora quanto de dentro tantos reais quanto imaginários É bem interessante perceber como o psiquismo pensado por Klein é um siquismo sempre sob ameaça ameaça interna Como já mostrava o
Freud né através das exigências do id e ameaças externas que advém sobretudo das paixões suscitadas pelos objetos na medida em que eles aparecem marcam presença fazem questões eles excitam eles incitam o psiquismo a se responder e a se posicionar por relação as suas exci naade o universo psíquico que Klein pensa imagina que descobre através de suas inferencias é o universo de fantasias inconscientes que a Rigor acabam sendo formulações muito pouco familiares ao senso comum portanto são ideias que perturbam as pessoas que estão educadas para o correto e o aceitável Ou seja que mãe vai conseguir
facilmente admitir sem uma análise que o bebê pode lhe odiar pode querer lhe destruir tem motivos para se sentir mal amado mal querido ainda que esta mãe na sua intenção não manifeste clareza sobre estes pensamentos do bebê ou seja o que a psicanálise faz e Klein dá essa contribuição é alargar a compreensão do que é uma relação amorosa uma relação afetiva Por exemplo essa relação matricial daí o nome né mãe e filho mãe e bebê bebê e filho bebê e mãe é uma relação que será sempre ambivalente sempre de Amor e Ódio mesmo que civilizadamente
a filha respeite a mãe ou o filho respeite a mãe e vice-versa o que importa pensar é que a mãe não necessariamente é um elemento agregador ao contrário ela é um elemento também desagregador a mãe por mais acalentadora que seja também é uma mãe capaz de frustrar também é uma mãe capaz de perturbar então o psiquismo as fantasias inconscientes nesse âmbito das relações de objeto vão ser da da maior riqueza fantasias que talvez nunca chegarão à consciência que serão recalcadas que serão denegadas que serão reprimidas que serão simplesmente deixadas de lado desinvestidura [Música] do pai
de partes do corpo do pai e da mãe melan claren postula que o bebê aos 6 meses de idade quer chupar o pênis do pai quer deglutir o pênis do pai quer saciar-se comendo partes do corpo do pai Ora eu sei que isso ainda hoje para qualquer senso comum é difícil de ouvir soa monstruoso soa pictórico soa Talvez onírico mas um onírico pesado pesadelo e é isso a psicanálise lida com esses meandros ela lida com essas angulações que não são passíveis de serem aceitas facilmente a meran Clin percebia aquelas criancinhas de dois 3 4 anos
de idade sofriam horrores tinham crises de angústias insuportáveis tinham dificuldades de adaptação na escola na família chegando a apresentar comportamentos bizarros Talvez inaceitáveis para pai e mãe por exemplo então vejam bem que de uma certa maneira essa criança que é levada pelos mecanismos e do recalque a equalizar e portanto a minimizar essas fantasias inconscientes ela cresce mas diz o Freud o inconsciente por ser atemporal ele mantém a vivacidade das engrenagens que um dia fundaram as origens psíquicas de alguém isso quer dizer que as fantasias inconscientes que marcam as primeiras formas de alguém se colocar no
mundo que segundo a melan Klein estabelecem as relações de objeto essas fantasias Retornam so várias formas so vários aspectos Retornam sobretudo na forma que alguém tem de se olhar e de se colocar diante do outro Então veja a experiência da melany Klein na análise por exemplo com adultos também é resgatar a criança recalcada a criança que foi obrigada a esquecer ou a não conhecer suas fantasias inconscientes e a medida em que a transferência opera a medida em que ela escuta o cliente o seu paciente ela é capaz de derivar dessas falas elementos que reenviam a
essas dinâmicas matriciais das relações de objeto então é interessante perceber que o pensamento de melany Klein ele estabelece sempre a importância de se marcar as diferenças entre interno e externo entre aquilo que é introjetado e aquilo que é projetado aquilo que é amado e aquilo que é odiado aquilo que faz bem ou aquilo que faz mal aquilo que acalenta e aquilo que agride é nessa timbragem que ela vai constituir a sua escuta transferencial e particularmente a transferência será assim como Freud pensava uma espécie de atualização das Fantasias inconscientes um analista kleiniano ele geralmente interpreta a
transferência no aqui e agora do acontecimento ou seja ele se vale ele analista enquanto objeto de introjeção e projeção daquele paciente vejam como é rico o pensamento de Klein dentro da psicanálise e não é preciso ser kleiniano para valorizar uma pesquisa uma obra Tão rica e tão criativa quanto a de Melanie Klein eu espero que tenham apreciado e até um próximo momento você escutou conversas sobre Melanie Klein Eu sou Carlos Mário Alvarez psicanalista [Música]
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