Então vamos dar início à cerimônia de outorga do título de professor emérito da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo ao professor Dr cabel munanga para compor a mesa convidamos Professora dout Maria Arminda do Nascimento Arruda vice-reitora da Universidade de São Paulo diretor da faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo professora dout Ana Paula Torres meian vice-diretora da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo Professora Doutora Marta Rosa amoroso chefe do departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia letras e de
professor Dr Guilherme Moura Fagundes docente e representante da comissão de ações afirmativas do departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo D departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São [Aplausos] Paulo senhora Marie Márcia Pedroso assistente acadêmica da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo passamos a palavra ao professor Dr Paulo Martins diretor da faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo bem boa tarde a todas e todas que estão aqui nesse
plenário nesse momento tão auspicioso e tão feliz e tão alegre que é justamente esta homenagem da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo ao professor kabengele Ah é muito emocionante para quem está dirigindo uma faculdade ã ser eh o presidente de uma sessão ã tão honrosa como essa que é a de professor emérito mas muito mais pela pela importância relevância de quem é o o homenageado me parece que é algo que mais do que merecido ele tem uma simbologia que é importante a simbologia de que a faculdade de Filosofia letras
e ciências humanas da Universidade de São Paulo eh entende que as questões que são colocadas de forma tão Avante vez por outra pela sociedade atual brasileira e mundial devem ser ressaltadas e em certa medida negadas com a homenagem ao professor kabengele Então nesse sentido eu peço primeiro declaro aberta a sessão e em seguida peço que a professora Lux Vidal e o professor João Borges perira ambos professores eméritos da nossa faculdade Tragam ao recinto o professor cab do continente africano disse que ia morrer aqui deesse grande ancestral o nosso cabel munanga um grande intelectual salve o
nosso mestre Cabanga um grande intelectual ele é nosso valvar muitos tem para ensinar vamos receber cab munanga Professor cab vamos receber quem Professor cab vamos receber [Música] [Aplausos] [Música] professor [Aplausos] [Música] [Aplausos] [Música] [Aplausos] C [Aplausos] C [Aplausos] C [Aplausos] passamos a palavra ao professor Dr Paulo Martins diretor da faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo professor É uma honra inestimável esta homenagem É uma honra a presença do Senhor conosco nessa celebra né que em certa medida não em absoluta medida mostra o quão pulsante é a nossa faculdade o Senhor
nos representa e por isso eu dou as boas-vindas ao Senhor e antecipadamente já dou os parabéns pela pelo pelo título então muito obrigado professor é a única coisa que eu posso falar como diretor é a agradecer a sua contribuição não só pelo pelo seu conhecimento mas por tudo aquilo que o senhor representa é um prazer tremendo É uma honra incomensurável tê-lo como nosso professor Muito obrigado professor passamos a palavra a Marie Márcia Pedroso assistente acadêmica da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo para a leitura do termo oficial de outorga
do título Boa tarde a todas todas e todes eh eu tenho que fazer a leitura do rito oficial mas não poderia deixar de fazer uma pequena menção eu estou nessa Universidade há 37 anos completei na semana passada e vê esta sala do jeito que ela está hoje me desculpe se eu chorar termo de concessão do título de professor emérito ao professor kabenguele munanga a congregação da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo em sessão realizada aos 16 dias do mês de dezembro do ano de 2021 considerando os elevados méritos do
docente e os relevantes serviços prestados pelo professor kabenguele mudanga resolveu em conselho outorgar-lhe o título de professor emérito desta faculdade nesta data em sessão solene o ilustríssimo senhor Professor Dr Paulo Martins diretor desta faculdade no uso de suas atribuições legais nos termos do artigo 93 e parágrafo único do estatuto da Universidade de São Paulo e tendo em vista a deliberação anteriormente mencionada fará a entrega ao homenageado do diploma do título para que este possa gozar dos direitos e prerrogativas e a ele inerente a ele inerente antes de sua entrega e após a leitura deste termo
o ilustríssimo senhor Professor Dr Guilherme Moura Fagundes e a ilustríssima senhora professora D lía schartz ambos do departamento de Antropologia saudão em nome da congregação o professor Cabu manga e para constar eu Maria Márcia Pedroso assistente acadêmica da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo lava o presente termo que será assinado pelo presidente da sessão Professor Dr Paulo Martins e pelos demais membros que compõem a mesa enquanto eles assinam também gostaríamos de registrar a presença e agradecer do professor Dr José luí de Oliveira ex-reitor da Universidade técnica de Moçambique e
os professores eméritos da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo Eva blay docente do departamento de [Aplausos] sociologia ania João Batista e agora esqueci o departamento e o professor Felipe vilemar do departamento de letras modernas Professor Dr Amâncio Jorge Oliveira vice-diretor do Museu Paulista da Universidade de São Paulo professora D janin ONU ex-diretora do Instituto de relações internacionais da Universidade de São Paulo professor Dr Iuri Tavares Rocha diretor do monumento ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos e professora Dora Olga Mendonça vice-diretora do monumento ruínas Engenho pera aí ruínas do Engenho
São Jorge dos Erasmos desculpa para os cumprimentos ao Dr Professor Dr cabel munanga passamos a palavra à professora Dora Marta Rosa amoroso chefe do departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo Professor cabel Boa tarde Boa tarde a todos e todas inicialmente eu dirijo-me à mesa a professora Dra Maria Arminda Nascimento Arruda vice-reitora da Universidade de São Paulo aos professores Paulo Martins e Ana Paula megiani diretor e vice-diretora da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas assessora administrativa senora Pedrosa a meus colegas do departamento de Antropologia lartes
lá na ponta de lá e Guilherme Moura Fagundes Esse é um momento muito especial para o departamento de Antropologia cerimônia homenagem que se construiu em colaboração com outras instituições e pessoas relacionadas à rica trajetória acadêmica do professor Dr cabel munanga para mim é uma grande honra e alegria participar dessa mesa de entrega do título de professor emérito Agradeço aos colegas que me antecederam na chefia iniciaram esse processo de outorga do título de professor emérito especialmente Silvia Caiubi novaz e Eitor frugoli Júnior Agradeço ao professor Dr Paulo Martins e a professora Ana Paula megiani por terem
conduzido o processo no âmbito da Congregação da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas agradeço ainda ao centro de estudos africanos da USP que colaborou na organização dessa cerimônia e dessa festa tão linda Agradeço aos professores eméritos da antropologia e padrinhos dessa festa Lucas Vidal e João Batista Borges Pereira agradeço a participação de Vitor da trindade e eliz Trindade que nos abrilhantaram com seu trabalho dirijo-me à e funcionários da faculdade e agradeço a todos e todas que se somaram nessa homenagem como chefe do departamento falo em nome dos docentes das docentes decentes funcionários e funcionárias
da antropologia nesta breve participação que cabe ao chefe do departamento e diante das contribuições de nosso homenageado ao longo de mais de quatro décadas dedicadas ao ensino pesquisa e extensão junto ao departamento de Antropologia eu gostaria de chamar atenção para o lugar que nosso querido colega ocupa no panteão dos grandes Mestres da fefel cabel munanga se somou à contribuição de antropólogos e sociólogos dessa Universidade que há décadas consolidaram o campo de estudos sobre Relações raciais no Brasil esteve presente nos principais debates dos direitos humanos que visaram construir no país e construíram mecanismos de um e
uma legislação de combate ao racismo e de refúgio à violência racista kabenguele esteve presente no debate Nacional sobre cotas e políticas afirmativas que se iniciou intensivamente em 2002 Depois da terceira conferência mundial da ONU na África do Sul que foi sobre contra o racismo a discriminação racial a fobia e a intolerância cabê esteve presente na audiência pública de Março de 2009 convocada pelo Supremo Tribunal Federal para discutir exatamente a constitucionalidade das cotas dois aspectos da contribuição de cab munanga ao estudo das Relações raciais no Brasil o distingue nos parece que cabe esteve entende que a
luta contra o racismo é travada fora dos muros da cidade H aqueles que como eu acompanham nos últimos 10 anos a agenda atribulada de cabel unanga nos parece que nosso colega se tornou presença indispensável no debate Nacional Tal estratégia de externalização dos conhecimentos acadêmicos vem sendo sistematicamente reconhecida e kabenguele nos últimos 20 anos angariou dezenas de prêmios e homenagens por sua atuação como antropólogo distinções que vem das principais instituições científicas culturais e dos direitos humanos do país cito algumas Conselho Nacional de Desenvolvimento científico e tecnológico CNPQ a aba A anox no governo federal prêmios que
vieram do ministério da cultura do ministério das relações exteriores o Itamarati do Instituto Vladimir Herzog da Unicamp da Ordem dos Advogados do Brasil do movimento afrobras da Faculdade Zumbi dos Palmares da dusp da Assembleia Legislativa da Bahia entre tantos outros os prêmios e as homenagens que lhe foram concedidos conferem o alcance da voz desse professor de Antropologia que conduz o Brasil a refletir sobre uma das questões das suas questões centrais o racismo e a urgência de políticas antirracistas congolês de nascimento ainda Jovem Pesquisador da área de Antropologia veio para o Brasil como bolsista de um
programa da USP nos anos 1970 programa esse voltado para países africanos kabenguele se tornou então docente do departamento de Antropologia em 1980 primeiro docente negro dessa faculdade e se naturalizou brasileiro em 1985 refletindo sobre a situação dos jovens negros e negras no Brasil costuma dizer abro aspas se tivesse nascido no Brasil como cidadão negro talvez não estivesse sentado nesse lugar fecho aspas chamo atenção para um segundo aspecto que distingue a trajetória intelectual e militante de cegen l munanga o entendimento que a luta contra o racismo e e contra o preconceito se se trava também dentro
dos muros da Universidade o entendimento que sem uma política de ações afirmativas e de cotas a presença e a contribuição de homens e mulheres negras nas universidades permanecerão permanecerá atrofiada a entrega desse título de professor emérito para o antropólogo caben leem munanga coroa uma trajetória de luta de uma vida toda luta que continua muito obrigada [Aplausos] também registramos e agradecemos a presença do professor emérito José Reginaldo prand docente do departamento de sociologia profess emérita da facade de ucação unidade federal de Minas Gerais Nilma Lino Gomes professora D eí Aparecida de Jesus Prudente Secretária Municipal de
Justiça da cidade de São Paulo e professora Sênior da faculdade de direito da Universidade de São Paulo para primeira saudação ao professor cengel manga passamos a palavra ao professor Dr Guilherme Moura Fagundes docente do departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo boa noite boa noite a todas as pessoas aqui presentes prezado Professor cabele munanga Professor Paulo Martins Professora Maria Herminda aruda professora Ana Paula miji Professora Marta amoroso professora Lil schartz a todos eméritos e eméritas da Faculdade de Filosofia colegas professores professoras funcionários funcionárias estudantes ex-alunos alunas
e alunes bom para mim é motivo de enorme alegria e satisfação compor essa mesa de outorga de título de professor emérito ao meu mais velho cabel munanga há poucos meses eu assumi a posição de Professor Doutor no departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo e atualmente componho com minha colega Silvana Nascimento a comissão permanente de ações afirmativas do ppgs da USP motivo que em parte justifica minha participação nessa mesa se a minha recepção na USP tem sido acolhedora e respeitosa eu não tenho dúvidas de que devo isso justamente ao terreno que já foi airado
pelo professor kabenguele e tantos outros e outras apesar de ainda poucos e poucas negros negras negres que passaram pela Faculdade de Filosofia antes de mim a eles e a elas presentes passados ou ausentes e Especialmente na figura do professor kabenguele eu peço a bênção para chegar nos meus 15 minutos de de intervenção eu não pretendo elencar as já mencionadas contribuições de kabenguele a docência e nem a sua invejável produção acadêmica afal diferente de grande parte das pessoas que nos acompanham nessa cerimônia sejam Os Herdeiros herdeiras diretas do pensamento de cab enguel ou mesmo de colegas
de departamento aqui presentes eu não tive o privilégio de gozar de uma convivência mais contínua e dilatada com o nosso professor emérito apenas reitero que sua trajetória na USP revela a potência que pode haver no trânsito entre comprometimento acadêmico e ativismo em prol de uma sociedade menos desigual e mais diversa Professor atento kabenguele soube converter sua trajetória junto ao campo dos estudos africanos em uma abordagem Renovada dos estudos afro-brasileiros pesquisador orgânico fez do combate às desigualdades e da luta em favor das ações afirmativas o combustível da sua analítica do racismo e do antirracismo o orientador
Generoso gestou e cativou uma plade de pesquisadoras e pesquisadores muito das quais aqui presentes cuja atuação de alto impacto tem extrapolado os Muros da Universidade isso sem ainda mencionar sua atuação pública em favor da elaboração e implementação da Lei 10.639 e o ensino de história e cultura afro brasileira e africana além de suas manifestações formais junto a instâncias do do Judiciário e outras esferas do poder público ou ainda as suas inumeráveis palestras e variadas formas de colaboração com células do movimento negro o professor kabenguele munanga tem parte de destaque na Radical transformação que esse país
passou na última década com a constitucionalidade e implementação da política de ações afirmativas na universidade e demais órgãos estatais é por tudo isso que o nosso agora emérito desponta entre as figuras de maior prestígio e reconhecimento público da Universidade de São Paulo mas a outorga de título de mais esse título a a kabenguele extrapola o reconhecimento de sua trajetória pois também aena para um Novo Horizonte aos docentes negros negras e negres do Brasil um Horizonte no qual corpos racializados deixarão de ser minoria na docência e é sobre esse último aspecto que eu gostaria de concentrar
a minha singela homenagem sou graduado Mestre Doutor pela Universidade de Brasília a primeira Universidade Federal a implementar o sistema de cotas saciais e para o qual para Qual o professor kabenguele também pode oferecer a sua inestimável contribuição é sobretudo desse lugar de Anunciação que eu posso posicionar meu tributo ao nosso emérito qual seja o de um jovem Doutor negro gestado na trilha por ele aberta em favor da implementação das políticas de ações afirmativas no Brasil nas minhas brevíssimos eu gostaria de me ater ao Impacto que a presença do professor kabenguele munanga representou para a minha
geração que foi a segunda geração de as de graduação na Universidade de Brasília geração essa que acompanhou o nosso professor emérito em sua arguição Na audiência pública convocada pelo Supremo Tribunal Federal para garantir a constitucionalidade da política de cotas étnico-raciais para seleção de estudantes da UnB eu peço licença a vocês para resgatar parte dessa história pude ver pessoalmente o professor kabenguele pela primeira vez em março de 2010 em Brasília Quando eu ainda cursava o quarto período do curso de Ciências Sociais um ano antes desse primeiro encontro o partido Democrata havia tomado o caso da ONB
para impetrar uma arguição de descumprimento de preceito fundamental alegando a inconstitucionalidade da reserva de 20% de vagas previstas no vestibular daquela Universidade a serem preenchidas por critérios én raciais no ano seguinte o Supremo convocou uma audiência pública para ouvir a opinião de especialistas a respeito da ação a ajuizada pelo partido den contra a UnB foi quando o kabenguele Recebeu o convite para falar em nome do Centro de Estudos africanos da Usp eu me lembro vivamente do chamado de uma colega para que não perdêssemos a fala do professor kabenguele saímos em Caravana da Asa Norte para
a Explanada dos Ministérios com intuito de acompanhar a audiência é verdade mas sobretudo não perder a fala do icônico professor da USP projetável Senor grisalho a figura de noss nos avô nosso mais velho durante muito tempo nossa única referência de antropólogo negro mesmo ainda sem conhecer sua obra O professor kabenguele já alterava radicalmente Nossa trajetória simplesmente por sê-lo quem ele era naquele local e naquele momento histórico seu semblante Sereno porém firme e concentrado passaria a fornecer à minha geração um Horizonte de representatividade Diante do genocídio que nos ameaçava fora da universidade e do do epistemicídio
que ainda hoje insiste em operar em seu interior sua intervenção naquela audiência segue reverberando em nós peço licença para ler um pequeno trecho que ainda nos constrange por sua atualidade dizia kabenguele abro aspas 3 anos depois de concluir o doutorado em antropologia social na USP em 77 ingressei na carreira docente na mesma instituição na no atual departamento de Antropologia Onde fui o primeiro e único Professor negro desde sua Fundação daqui a 3 anos estarei compulsoriamente me aposentando sem ainda vislumbrar a possibilidade de um segundo docente negro nesse departamento creio que essa é a história dos
brasileiros afrodescendentes não apenas nas universidades mas também em todos os setores da Vida nacional que exigem formação superior para ocupar cargos e Postos de comando e responsabilidade geralmente são ausentes ou invisíveis nesses postos e cargos quando se tem um e é sempre o primeiro e o único raramente o segundo e o terceiro fecho aspas o dilema da excepcionalidade de sempre ser o primeiro e o único negro no mundo dos brancos parece ser parte fundamental do engajamento de kabenguele nas lutas afro-brasileiras um olhar retrospectivo sobre sua vida e obra nos faz pensar que Ele viveu no
Brasil a experiência de ser duas vezes estrangeiro não apenas estrangeiro congolês mas também estrangeiro no interior de uma comunidade acadêmica monocromática e eurocêntrica Pelo modo como sua trajetória foi construída em meio a um gigantesco isolamento racial a biografia de kabenguele é atravessada por linhas de tensão que o aproximam a um outro grande antropólogo faço menção aqui ao haitiano anteror firman Talvez o primeiro antropólogo que soube sair justamente desse mal-estar da excepcionalidade o germe de uma antropologia antirracista dirigindo-se à sociedade de Antropologia de Paris em 1885 com seu magistral livro a igualdade das raças humanas firman
não se furtou de colocar em Primeiro Plano A sua condição noar correndo o risco de ter a sua humanidade mesma posta prova daí a sua provocação e eu cito firm poderia eu me abstrair da condição de meus semelhantes e me considerar uma exceção entre outras exceções fecho aspas kabenguele a seu turno também não se contentou a excepcionalidade de ser o primeiro e único docente negro africano na USP enquanto seus semelhantes brasileiros eram impedidos de acessar a universidade assim se firman interpelava a antropologia racista de gobin para lutar contra o pensamento poligenista e a suposta inferioridade
congênita da Raça Negra kabenguele fez de sua vida e experiência de pensamento uma luta incessante contra os ideólogos da mestiçagem e democracia racial que em suas palavras fizeram do racismo no Brasil um crime perfeito o professor kabenguele retornaria à Brasília entre os dias 25 e 26 de abril de 2012 para dois eventos simultâneos e absolutamente críticos para a luta em prol das ações afirmativas nas universidades brasileiras em particular para aquela segunda geração de cotistas da UnB quais sejam a votação da constitucionalidade da política de cotas etnorraciais pelo STF e a inauguração da sede do Instituto
Nacional de Ciência Tecnologia e inclusão no ensino e na pesquisa o inciti na UnB na ocasião eu acabava de ingressar no mestrado e começava a me organizar junto a um grupo de estudantes negros e brancos antirracistas que se mobilizavam para apresentar a primeira proposta de cotas saciais para o ppgis da UnB enquanto aguardávamos com ansiedade pela conclusão da votação no STF kabenguele nos ofereceu uma curta palestra no inciti cujas notas carregam comigo até hoje Tenho fortes Memórias de o quão impressionado fiquei a ouvi-lo narrar os detalhes de sua luta em Glória na USP das inúmeras
comissões e propostas não acatadas pelo conselho Universitário já na década de 90 e de sua organização do seminário internacional estratégias de combate às práticas discriminatórias realizada em 1995 e publicada em formato de livro pela UD dusp em 1996 E tantas outras iniciativas que entrelaçavam acadêmicos e militantes do movimento negro a atuação do professor kabenguele já se mostrava ser incansável a outorga de título de professor emérito o acabel munanga justamente Uma semana após o conselho Universitário da USP ter optado por um caminho conservador diante da urgência de democratização racial do seu corpo docente torna o programa
de uma antropologia antiracista avançado pelo nosso homenageado ainda mais atual e necessário em sua decisão de 22 de Maio de 2023 o conselho Universitário da nossa universidade optou por desconsiderar a proposta do coletivo de docentes negres da USP em favor de metas de contratação de docentes pretos pardos indígenas até que seja atingido o percentual de 37% do quadro número ess que corresponde à parcela da população negra indígena do Estado de São Paulo Segundo os dados do IBGE ao contrário o modelo escolhido para reparar a desigualdade racial entre o corpo docente para o certames com menos
de três vagas foi o de bonificação ao invés de reconhecer que o racismo estrutural é a real causa da Baixa aprovação de candidatos pretos pardos indígenas nos concursos públicos a decisão acaba por ressuscitar o teatro das relações saciais segundo o qual negros são a priori considerados desqualificados ao passo que Branco São solícitos em seus gestos de caridade e [Aplausos] bonificação annor firm foi vitorioso em seu combate ao racismo científico no final do século X e cabele munanga desvelou o racismo presente nos discursos antirracial caberá a nós isolar os ecos da supremacia branca que ainda reverberam
em nossas instituições seja através daqueles cujos capitais financeiro fundiário e simbólico derivam diretamente do espólio da escravidão seja quando a Branco segue reservado o lugar de beness ou ajuda ao negro aprendemos com kabenguele que são esses mesmos corpos que hoje se colocam na posição de gestores do privilégio e mantenedores da desigualdade racial travestida de mérito mas a esses o professor kabenguele nunca deixou dispensar nunca deixou de dispensar toda sua generosidade e Primor pedagógico sempre apontando como fez na marcante conferência do congresso de pesquisadores negros em Uberlândia que nunca que desculpa que numa sociedade racista não
basta não ser racista é preciso ser antiracista para encerrar eu gostaria de lembrar que o professor kabenguele também reconhece avanços em nosso tempo sem desconsiderar a novas trincheiras de luta em sua aula magna de abertura do ano letivo de 2022 na faculdade de Filosofia letras e ciências humanas nosso querido mestre retomou o argumento já presente em textos anteriores segundo o qual abro aspas cabe aos jovens pesquisadores negros renovar os temas de pesquisa introduzindo questões que t a ver com as políticas de intervenção e ampliando os horizontes do discurso sobre a situação do negro na sociedade
fecho Aspas eu diria que novos nichos de pesquisa intervenção política como racismo ambiental negros seno afrofuturismo para citar apenas alguns são alguns desses horizontes renovados no Brasil em continuidade com os caminhos já abertos pelos cursos de teorias sobre o racismo e discursos antirracistas ofertados pelo professor kabenguele munanga no departamento de Antropologia da USP que a nossa geração e as futuras Professor saibam tomar para si o seu legado e que cultivemos a arte de nos fazer ancestrais do que virão como kabenguele sobre fazer tal qual nosso querido mestre o fez com tanta ternura e firmeza Obrigado
professor [Aplausos] para segunda saudação passamos a palavra à professora D lía Schwartz docente do departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo Agora sim boa tarde a todas a todes a todos eu queria saudar a professora Maria arinda Nascimento Arruda Nossa vice-reitora ao professor Dr Paulo Martins diretor da nossa faculdade a professora Ana Paula magian vice vice-diretora da nossa universidade aos meus queridos colegas Marta amoroso chefe do nosso departamento ao professor Guilherme Fagundes que acaba de abrilhantar essa tarde aos colegas do meu departamento de Antropologia aos professores
eméritos e professoras eméritas aos colegas professores funcionários e funcionárias e sobretudo ao professor caben gueler munanga eu chamei essa minha saudação de para o cabê com carinho eu tive a alegria e a honra de ser indicada pelo professor cabé Guil munanga para tomar parte dessa justa homenagem dentro da lógica da dádiva tão estudada em nossa disciplina antropologia penso que é difícil determinar quem presenteia a quem ou melhor penso que sei sou eu a receber um maior e o melhor presente o título de professor emérito premia conhece e faz uso a essa carreira consistente do professor
cabê Como os alunos e amigos colegas o cham uma carreira que combina de maneira original e erudita uma produção de excelência e fundamental para os estudos sobre processos de racialização no Brasil com uma liderança segura em prol de um país mais justo democrático e inclusivo a luta pel Equidade social no Brasil é peça Central nesse país de maioria Negra e que não conhecerá uma democracia enquanto continuar a praticar um racismo sistêmico e estrutural perverso em sua raiz e que produz muita desigualdade no seio da república e nessa batalha por direitos o nome de cengel munanga
virou o símb símbolo e ícone munanga é desde 1985 brasileiro por opção e naturalização ele nasceu na República democrática do Congo belga Onde se graduou em antropologia social e cultural pela Universidade oficial do Congo dentre os anos de 64 a 69 foi inclusive nessa Universidade que ele iniciou sua longa e consolidada carreira acadêmica internacional primeiro como professor assistente de 69 a 75 em foi em 69 que o professor Professor cabenge recebeu uma bolsa de estudos do governo belga ocd para iniciar os seus estudos de pós-graduação na Universidade Católica de luvan na Bélgica onde permaneceu de
69 a 71 Vale destacar que munanga foi o primeiro antropólogo a sair do seu país para fazer doutorado na Europa nesse meio tempo foi pesquisador no museu real da África Central em tervuren em Bruxelas Onde se especializou em estudo das Artes tradicionais africanas todavia por conta da ditadura que se instalou na recém-criada República do zair e que passou a exercer um domínio político sobre a universidade cabil munanga acabou sendo impedido de terminar seu trabalho naquele país uma vez que a família dele fazia parte da oposição política de certa maneira a sorte girou para esse lado
das Américas Pois foi com essa bagagem e experiência que o professor munanga mudou-se em 1975 pro Brasil quando recebeu uma bolsa concedida pelo Itamarati para vir à Universidade de São Paulo e dar continuidade ao seu projeto concluiu sua doutorado em 77 no programa de pós--graduação em antropologia da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP e ao mesmo tempo que fazia força muita força para aprender a língua portuguesa que hoje domina como sua e é munanga não sabia ao certo Talvez mas deixava uma ditadura para entrar em outra eram tempos de ditadura militar e o
pesquisador empenhou-se em Realizar sua antropologia engajada como gosta de definir no ano seguinte surgiria o movimento negro Unificado reunido pela primeira vez nas escadarias do Teatro Municipal o qual em plena ditadura reclamava por direitos paraa população negra que andava sendo presa e assassinada pela ditadura Professor cabê acompanhou e engrossou esse movimento social que defende o fim de processos de subordinação que de certa maneira datam dos tempos da escravidão sistema como mostra o professor que criou uma linguagem da desigualdade cidade de sociologia e política de São Paulo em 77 na Universidade Cândido Mendes no mesmo ano
na Universidade Federal do Rio Grande do Norte em Natal de 79 a 80 na universidade de Eduardo monden Maputo Moçambique em 99 tendo ainda atuado como professor associado na universidade de Montreal Canadá de 2005 a 10 onde ministrou uma série de seminários além de orientar projetos de mestrado e teses de doutorado na faculdade de das das ciências das religiões a maior parte da carreira acadêmica de Cabanga foi realizada no entanto e para a nossa sorte nessa Universidade na USP onde ele atuou de 1980 a 2012 Cumprindo com todas as etapas da formação até chegar ao
cargo de professor titular título com o qual se aposentou foi o primeiro docente negro o primeiro livre docente negro primeiro titular negro e o primeiro emérito negro nesse processo ele foi aprendendo como não se dedicaria apenas ensinar e pesquisar sobre o continente Africano então um grande desconhecido como o professor cabê gosta de definir também como se Reinventar a partir da antropologia que conheceu na USP uma antropologia no e do Brasil por aqui Aprendeu o que significa ser negro e a quantidade de preconceitos que se incluíam nessa designação e virou estrangeiro duas vezes eu o conheci
em Ação o nosso departamento e programa de pós-graduação em antropologia social mas também o conheci no inclus e aqui estão o professor João Batista Borges Pereira e o professor José Rinaldo prand que também tomavam parte desse grupo nesse grupo cabê lutava como quem por uma universidade com mais negros no corpo docente decente lembro que tiramos a taxa de inscrição dos alunos que vinham da escola pública fizemos pesquisas e sensos internos mas nada parecia suficiente para caber que sempre nos convocava exigia mais dizendo que não queria participar de um comitê apenas simbólico Infelizmente essa luta está
longe de se encontrar superada aqui na Universidade de São Paulo também trabalhamos juntos num projeto da Ford chamado mais é mais por lá amparamos os alunos negros e ajudávamos a não desistir das fileiras da Universidade que bem sabemos a despeito de ser pública nem sempre ajuda quase sempre não como deveria a manutenção de um corpo decente que é mais instituído dos recursos materiais nem por isso o professor cabê abriu mão de sua experti em arte africana que faz com que entre fez com que entre outros fosse um dos cur da importante banal dos redescobrimento no
ano 2000 por lá apresentou a força das formas africanas com seus olhos amendoados que imitavam a madeira das obras ele mostrou como na arte africana O Ritual en forma a estética e vice-versa na úp ele ocupou os cargos de diretor do museu de arqueologia e etnologia da Universidade de São Paulo de 89 foi vice-diretor do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo de 2002 a 2006 e diretor do Centro de Estudos africanos dessa nossa universidade no departamento e no programa de Antropologia da USP Ele formou centenas de estudantes nas áreas de Antropologia da
África e das populações afro-brasileiros seus cursos versavam sobre racismo políticas e discursos antiac Negritude identidade Negra multiculturalismo e educação das relações étnico raciais cabê sempre contou com um público cativo numeroso e atento em 2014 kabengele munanga tornou-se Professor visitante Sênior da Universidade Federal do recôncavo da Bahia através de uma bolsa da Caps ele literalmente reinventou novamente eu o pude encontrar em Cachoeira relaxado de camisa Florida e cercado de alunos e do carinho que sempre faz por receber keng Lemon nanga é autor de uma centena de publicações entre livros capítulos de livros e artigos científicos eu
não teria tempo de listá-los por completo nessa ocasião por isso dentre as suas principais obras eu quero lembrar e destacar Negritude usos e sentidos de 1988 racismo perspectivas para um estudo contextualizado da sociedade brasileira 98 rediscutindo a mestiçagem no Brasil identidade nacional versus identidade Negra 99 o negro do Brasil de hoje com a Nilma Gomes que está aqui de 2006 origens africanas do Brasil Contemporâneo 2009 munanga organizou superando o racismo na escola o nome do livro que foi o primeiro a introduzir a questão racial nos temas transversais dos parâmetros curriculares nacionais ele inaugurou dessa maneira
uma ponte muito importante entre a academia e o Ensino Fundamental e Médio Professor recebeu uma série de títulos e prêmios honoríficos destaco apenas alguns porque a hora de destacar a comenda da Ordem do mérito cultural pela presidência da República Federativa do Brasil em 2002 grau de oficial na da Ordem do Rio Branco do do ministério das relações exteriores do Palácio de Itamarati 2013 prêmio Benedito Galvão da Ordem dos Advogados do Estado de São Paulo troféu Raça Negra em 2012 pelo afrobras e pela Faculdade Zumbi dos Palmares homenagem como decano em estudos antropológicos pelo departamento de
Antropologia da USP homenag da Associação dos docentes da Universidade de São Paulo adusp em 2012 em setembro de 16 ele recebeu o título de cidadania baiana ele é um cidadão baiano pela Assembleia Legislativa do Estado da Bahia não é cabê meu rei em junho de 2018 o prêmio de Direitos Humanos da USP de 2017 ele foi também premiado destaco também pela Associação Brasileira de antropologia aba e pela Associação Nacional de pesquisa em Ciências Sociais entidades de nossa classe que reconheceram a excelência da carreira e da produção de kabengele munanga munanga tem um papel consolidado e
é um dos grandes protagonistas intelectuais no debate nacional e internacional em defesa de das cotas e de políticas afirmativas com a sua atuação constante ética cidadã e vigilante o professor prova como uma formação acadêmica sólida necessariamente dialoga com ativismo e o oposto também sobretudo num país tão desigual como o Brasil ele é hoje um intelectual público um símbolo do movimento negro no Brasil com suas teorias livros palestras frases funcionando como um imenso incentivador intelectual e humano na luta por um país menos racista inspirando como quem as novas gerações o professor cabê nos ensinou como o
espírito de uma boa antropologia passa sempre pela busca do humanismo pelo reconhecimento da alteridade pelo diálogo pela defesa da integridade dos povos subalternizados pela conquista e pela luta com sua voz doce meiga sempre calma sua expressão bondosa munanga é capaz de fazer as denúncias mais sérias e sem concessões dentre elas falar da indiferencia do estado brasileiro diante do nosso racismo da política genocida contra as populações negras das nossas periferias das iniquidades que se encontram enraizadas em nossa sociedade Essas são expressões dele sua defesa de políticas de reparação mostra como o Brasil não fez as contas
com o seu passado que insiste em ressurgir no tempo do presente sua luta incondicional pelas políticas de cotas e de ações afirmativas é paralela a sua aposta na construção de um país melhor porque mais plural e inclusivo sua denúncia constante Ao racismo estrutural institucional e sistêmico vigente no Brasil tem servido de alento e estímulo para várias gerações de militantes intelectuais negras e negros mas também para seus discípulos brancos dentre os quais me incluo uma discípula branca e que tem ainda muito aprender com ele munanga costuma afirmar o Guilherme já citou que no Brasil o racismo
é crime perfeito porque quem o comete acha que a culpa está na própria vítima e que além do mais destrói a consciência estou citando dos cidadãos brasileiros sobre a questão racial leitor por dentro a partir das estruturas do sistema não só dos processos de racialização como dos privilégios da branquitude quem insiste em não se entender como RF cabê jamais baixou sua guarda nem diante dos amigos o preço da amizade do cabê é a sinceridade por vezes cortante e muito transparente me perdoem por essas e por outras é que Considero a trajetória do professor única e
exemplar a antropologia que vem realizando com tanto afeto e competência tornou-se um dos instrumentos mais relevantes no respeito às sabedorias das populações negras e no combate ao racismo existente no Brasil bom comecei dizendo que cabê me permita meu professor e amigo escolheu o Brasil como Pátria termino concluindo que foi o Brasil que escolheu ceng munanga como seu Paladino das grandes causas que envolvem a A Utopia de um país mais justo Republicano e democrático poitou Gu marães rosas e mestre não é aquele que sempre ensina Mas quem de repente aprende pois cab assim está sempre nos
surpreendendo com o tanto que aprende com a quantidade dos caminhos que ilumina com as tantas travessias nos indica Parabéns professor cabele munanga nosso emérito querido digo mais se eu conseguir esse título fica muito bem com suas roupas identitárias alegres e fortes que lembram sempre e nunca esquecem da ancestralidade Cabanga nunca esqueceu por isso ele é hoje nosso emérito muito obrigada mestre pela dádiva a que a mim hoje concedeu Parabéns professor cabem guanga que nos emociona atravessa desafia e convoca sempre Parabéns professor eh registramos e agradecemos a presença do professor Dr Celso Fernandes campilongo diretor da
faculdade de direito da faculdade da Universidade de São Paulo D Ana Elise beara vice-diretora da faculdade de direito da Universidade de São Paulo professora D Maria Luisa tu Carneiro coordenadora do laboratório de estudo sobre etnicidade racismo e discriminação do departamento de história desta faculdade neste momento o professor Dr Paulo Martins diretor da faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo faz a entrega do diploma do título outorgado pela Congregação da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo ao professor Dr kabenguele munanga Parabéns merece muito mais do
passamos a palavra ao homenageado profess Dr Cabanga Professor emérito da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo bo boa tarde a todos a todas e a todos a emoção é tão grande que não sei se vou poder pronunciar meu discurso mas se não conseguir acho que vocês vão me entender bom inicialmente eu gostaria de saudar a professora D Maria arm de nascimento aruda Nossa Mag Nossa magnífica vice-reitor da USP ex-diretor da Faculdade de Filosofia elra e ciências humanas cuja presença nessa cerimônia nos honra provavelmente algumas alguns aqui já ouviram de
mim menções a pessoas e ideia que serão proferidas mas acredito que agradecimentos nunca são demasiados da mesma maneira que as ideias Ora reafirmadas ora reformuladas ou até mesmo negada dão o contorno que me fizeram ou que sou hoje portanto minhas primeiras palavras são de sincero e profundos agradecimentos a começar pelo departamento de Antropologia meu departamento que em sua reunião de 3 de novembro de 2020 indicou meu nome ao título de professor emérito da Faculdade de Filosofia elé e ciências humanas minha faculdade na pessoa da Professor mata Rosa amorosa chefe do departamento de Antropologia cuja calorosa
apresentação muito me tocou gostaria de agradecer a professor Silvia cai novaz que elaborou a justificativa e o parecer interno e ao professor reitor frol Júnior na época chefe do departamento gostaria de agradecer pessoalmente a cada colega do departamento de Antropologia da minha geração como da tua geração pois sem seus votos de confiança em minha trajetória acadêmica inteletual esse momento não aconteceria através do Professor Paulo Martins excelentíssimo diretor da da Faculdade de Filosofia cuja palavra de abertura dessa sessão da reunião da da reunião da congrega da da congregação me honra gostaria de saudar as os representantes
de todas categorias que compõe a Colen da congregação e agradecer-lhes pela aprovação do pedido do departamento de antropologia legitimando e formalizando o momento que hora estamos ritualizado não posso esquecer nossas e nossos estudantes da Faculdade de Filosofia de outras unidades e instituições que vieram me prestigiar nessa cerimônia não apenas lhe ensinamos mas muito aprendemos com vocês na sou de Maria Márcia Pedroso assistência acadêmica da faculdade Saúdo nossas funcionários e funcionários técnicas e técnicos que Como costumo dizer são nossas cabeças e braços que nem todo mundo enxerga quero saudar especialmente minha mestre e amiga professor Prof
Lucas Vidal e meu mestre amigo professor João Batista borg Pereira cujas presenças nessa cerimônia são cheio de significados para mim não vou contar sobre nossas relações de professora professora e aluno de orientador e orientando porque nosso tempo é muito curto obrigado por aceitarem ser minha madrinha e meu padrinho de acordo com a tradição dessa cerimônia caro Professor Guilherme Moura sua presença nessa mesa é prova de que a política de cota não é um paliativo como pensaram alguns no debate Nacional a respeito seja bem-vindo indo no departamento de Antropologia onde passei 13 décadas como o primeiro
é o único Professor negro suas palavras muito me tocaram não apenas me tocaram Mas você escutou os aplaudi momentos quero saudar todas as pessoas presentes meus familiares na pessoa de irenica benguelê que chorou tanto hoje hum companheiro de muitos anos de vida meus filhos netas e netos minha noras e cunhadas minhas amigas e meus amigos que sacrificaram seu precioso tempo para me prestigiar e apoiar me apoiar nesse momento ímpar da minha vida gostaria de de saudar cada um e cada um nominalmente o que seria muito difícil pela limitação de tempo e de memória de um
homem de 83 anos no entanto cometeria alguma injustiça ao saudar pessoalmente a amiga Nil Malino Gomes Professor titular e mérito da Universidade Federal de Minas Gerais ex-reitor da Universidade de integração internacional da L lusofonia afro-brasileira Unilab e ex-ministra da secretaria de política de promoção da Igualdade racial cpir que se deslocou de Belo Horizonte Apesar de sua pesada agenda para me abraçar e não sei se ele tá presente aqui Alfred David Santos fundador da da educ afro ativista incansável na luta pela inclusão dos negros e pobres na educação em geral especialmente no ensinos superiores eu uniss
Aparecida de Jesus Prudente Professor Sênior do departamento de direito do estado da Faculdade de Direito da USP atualmente Secretária Municipal de Justiça de São Paulo e membro da Comissão de Direitos Humanos da USP sem esquecer meu querido amigo José Vicente reitor da Universidade zidos P mar que sempre está presente em todos os momentos Hum e em que sou homenageado aqui na USP e o professor Acácio Almeda pró-reitor de assuntos comunitários e política administrativa da Universidade eh Federal do ABC essas pessoas e tantos outros que não posso nomear me ligam e simbolicamente a militância Negra e
negra e intelectual Brasileira de todos os tempos e todas as gerações quero também saudar uma pessoa muito importante na minha vida que é o professor José Luiz cabasso ex reitor da Universidade Tecnológica de Moçambique que fez doutorado seu doutorado aqui no departamento da da antropologia e que já muito contribuiu também como professor visitantes é claro tô vendo aqui minhas colegas meu colega de geração e de outras gerações a professora eva blay que tá aqui e tantas outras pessoas que gostaria de nomear pessoalmente individualmente mas o tempo não vai permitir terminando com meus agradecimento quero cumprimentar
minha colega amiga Professor lam Maurício ses nosso querida Lili cuja Generosa saudação quase me derrubou de emoção dizendo sobre mim palavra que eu mesmo não teria coragem de dizer você sempre Lili Você sempre esteve presente com seu amistoso apoio nos momentos delicado da minha carreira e até nos momentos pessoais que tinha a vida com minha saúde física não vou entregar você no momento tão formal que nada tem a ver com nossas complicidades na vida mas meu muito obrigado querida amiga pela belíssima oração com a qual me saudou como se diz tudo tem história e tudo
é história esse momento é o resultado de um longo e processo que começou em 1975 quando aqui desembarquei de mala e e cuia para continuar a desenvolver meu projeto de doutorado em antropologia iniciado em 1969 na universidade de Católica de lovai na Bélgica país que me colonizou cuja bolsa de estudo foi interrompida por questões políticas que tinha a ver com a ditadura militar instalada no meu pa no meu país de origem atual República democrática do Congo devo recordar aqui o nome de saud Professor Fernando Augusto diabão diretor diretor cofundador do centro africanos da FF de
passagem pela minha instituição em que estava vinculado a universidade Nacional do zair em 1973 para estabelecer relações de cooperação entre a Us e as Universidades africanas ele soube da minha situação através de um em com o saudoso Lu Bel vice-diretor da Universidade alar na Espanha de volta a Bras Fernando consegui bola de 2 anos do Itamara em convio com a USP cheg na fa de filosofia Prof jo batia bor pera sem me conhecer me recebeu humanamente com afeto depois de examinar meu projeto e trabalhos anteriores entre as quais algumas publicações ele iniciou minha orientação como
de praxe devia cumprir os 45 créditos exigidos para o doutorado além do exame De proficiência em línguas estrangeiras e da prova de qualificação era uma corrida contra relógio pois minha BSA tinha apenas 2 anos de vigência consegui não sei por qual milagre nesses 2 anos aprender a língua portuguesa cursar as disciplinas obrigatórias etivas exigidas fazer a qualificação escrever e defender a tese com sucesso dentro do prazo da vigência da bolsa em outro em outubro de 1977 com o diploma de Doutor imã voltei para minha terra para cuidar da família e retomar minhas atividades na universidade
Apesar Daura ditadura militar e militar ainda em vigor infelizmente não consegui ficar mais de um ano por causa da situação política apesar da minha resistência meus amigos estrangeiros insistiram para que abandonasse o país porque estava correndo risco de morte eles fizeram o necessário para facilitar minha fuga arcando inclusive com as despesas de viagem até o Brasil país onde me formei e havia deixado amigas e amigos que muito gostava de mim eu é sorte na vida ter Amizade Sem Fronteiras raciais durante esse ano estava em permanente contato com o professor João Batista borg Pereira com quem
criei relações de grande amizade ele acompanhava minha dificuldade estava também se batendo para encontrar minha salvação ele tentava encontrar uma bolsa de pesquisa na Fapesp mas logo conseguiu a possibilidade de me encaixar no programa de Mestrado em Ciências Sociais que acabava de ser criado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte em Natal cheguei sem um único livro A não ser meus diplomas quando os outros colegas brasileiros que chegaram comigo como professor visitante nesse programa Se mudaram com suas bibliotecas ainda com todo essa dificuldade pois a biblioteca daquela Universidade nessa época não era grande coisa
para um programa de pós--graduação em S sociais os dois primeiros diplomados desse mestrados foram meus orientados que hoje já já são professores titulares de universidades federais em dezembro de 1980 assinei contrato com o professor colaborador na USP locado no antigo departamento de Ciências Sociais mas com exercício no museu de arqueologia e etnologia o Maia no lugar do saudoso Professor José Mari Mariano Carneiro da Cunha que muito cedo nos deixou ele também era locado no departamento de Ciências Sociais com exercício no museu de arqueologia e tecnologia onde era curador do precioso Aero da arte africana e
afro-brasileira sabendo que tinha uma especialização em artes africanas no museu real da África Central interviram em Bruxelas e que o pró próprio Professor Mariano ainda vivo estava lutando para que me juntasse a ele no Maia o então diretor do Maia Antônio Penteado em colaboração com o departamento de Ciências Sociais aceleraram o processo da minha contratação para ocupar a vaga do professor Mariano 3 anos depois em 1983 tornei-me diretor do ma contra minha própria vontade o professor João Batista B Pereira então diretor da fefel sabia de perto dessa história pois me acompanhou na retoria Para apoiar
minha recusa não havia ainda eleição e direção dos da USP nessa época era um cargo da confiança do retorno que não aceitou minha desistência não fiquei preso ao MA Pois me me credencie logo no programa de pós-graduação em antropologia onde comecei a orientar no mestrado e no doutorado e administrar algumas disciplinas optativas sem abandonar minhas reflexões sobre a África aderi à área de pesquisa sobre Relações raciais interétnicas que mais do que em outras áreas tratava especificamente das questões relativas ao racismo a brasileira e à desigualdades raciais no Brasil tenho certeza de que foi graças a
essa passagem que mudei radicalmente minha formação em antropologia Colonial para fazer uma antropologia engajada e descolonizada que tinha a ver com o processo de luta contra o racismo em defesa da igualdade de tratamento e de unidade entre brancos e não brancos formado na antropologia que Como disse clor L bistros era filho do imperialismo do colonialismo continuava a reproduzir os mesmos esquemas epistêmicos que consideravam as sociedades africanas como primitivas atrasadas e as estudava como sociedade e cultura congelada no tempo e espaço sem considerar as migrações as agressões e todas as formas de violências as quais estavam
sendo submetidas em todos os sistemas coloniais e as dinâmicas de suas lutas para se libertarem e o outro termos não entrei nessa área para estudar a cultura Negra suas artes e religiões como congeladas mas como fazendo parte dos seus processos de resistência e de libertação do universo racista brasileiro Não inventei a roda ele já existia na minha faculdade e no meu departamento através dos escritos ensinamentos e obras e de nossos mestres como floresan Fernandes e seu discípulo Tavi Anes Fernando cardosos nas obras do racino guera de João Batista borg Perez e de Teófilo querol Júnior
e de tantos outros fora da USP essa roda já existia também em todas as entidades movimento negro desde os anos 30 quando a frente negra brasileira começou a desmistificar a democracia racial brasileira bem antes das realizadas em nossas academias intelectuais essas duas rodas tinham olhares diferentes e produziram discurso diferente um olhar de um olhar de Fora que vinha dos intelectuais estudiosos brancos engajados na denúncia do mito de democracia racial brasileira e na análise das expressões do racismo brasileira e um olhar de dentro né que vinha das militantes dos militantes ativistas negr e negros e dos
raras raras intelectuais que furaram as barreiras raciais para entrar na universidade para melhor aprender e construir solidamente minha contribuição não podia ficar preso numa única roda precisava participar das duas fazendo uma espécie de dança e nessa jinga estava ao mesmo tempo e sem dicotomia no mundo acadêmico e nos movimentos sociis negros a academia subsidi me com as teorias os conceitos e as e as tipologias que são necessários para operacionalizar o pensamento mesmo consciente de que não são netros pois carregam ideologias e visões do Mundos no movimento negro aprendi com a linguagem e visão das vítimas
do racismo com base na sua escrevivência usando aqui o conceito cunhado pela escritora Negra muito respeitada Conceição Evaristo foi através da complementaridade nessa relação di lógica e dialética entre o olhar branco de Fora olhar negro de dentro que consegui construir minha visão sobre a situação da população negra no universo racista brasileiro recordava Sem dúvida de uma outra postura numa época em que a expressão lugar lugar de fala ainda não fazia parte do nosso vocabulário por isso sem descordar dessa expressão que corresponderia ao olhar de dentro tive de aprender também com o olhar de Fora que
considero o outro lugar da mesma maneira acredito a diversidade de pensamentos Nas questões da sociedade é inevitável e nos enriquece mesmo sem concordar totalmente com o pensamento do outros tratando-se dos problemas da sociedade e nesse sentido o racismo não é um problema do negro mas sim da sociedade Acho que cada membro da sociedade independentemente da geografia do seu corpo tem o direito de dizer o que pensa mesmo se o seu pensamento é diferente do meu a questão é a serviço e a interesse de quem vai seu pensamento para manter o status quo ou para transformar
a sociedade fui com base nessa dupla consciência que pude dar uma modesta contribuição através de meus escritos aulas conferências palestras e discursos em todos em todos os fórum Onde fui convidado as repercussões começaram a surtir significativos efeitos na obra consciência negra no Brasil é já já vai dar deu na obra consciência negra no Brasil os principais livros organizados por c e Maria Maria dador Fernandes publicado pelo editor mais edições em 2002 meus dois livros Negritude e sentidos e rediscutindo a menagem no Brasil identidade nacional versus identidade Negra figura na relação dos 20 livros mais recomendados
esses dois livros se relaciona com os debates sobre o processo de construção da identidade negro negra no Brasil no negritud USA sentidos partir da observação de que a identidade negra no Brasil se tornou essa realidade da qual se fala tanto mas sem definir no fundo o que ela é e em que consiste tal fato me obrigou a contar a história desse conceito desde que fui cunhado no carte latim dos anos 30 pelos intelectuais negros africanos e ananos que estudava na universidade Francesa em plena colonização da África subsahariana e para que servia serviria no contexto da
diáspora negra no Brasil hoje partir do princípio de que o corpo constitui a sede material de todas as identidades o processo de construção da identidade Negra devia partir da geografia dos corpos negros cuja pele escura oou seja a Negritude é uma das características fundantes ou os negros assumem sua Negritude em sua luta contra o racismo Ou eles se perdem totalmente no outro o o melhor no branco muitas pessoas de gerações mais jovem me confessam que foi graças à leitur desses livros que descobriram sua identidade negras e a partir daí começaram a assumi-las representando um processo
de educação ou de Reeducação a caminho desse identidade negra ancorada na Negritude o movimento negro encontrava um grande obstáculo devido ao ideal do branqueamento da população negra através da messagem que a ideologia dominante começou a considerar como símbolo da identidade nacional defendida até por algumas vozes de grandes intelectuais escutamos tantas vezes no debate sobre cota pergunta conta para quem quem são negros num país de mestiços Sem dúvida o Brasil é um país muito misado mas os negros não foram extintos Além do fato de que os mestiços são também vítimas dos preconceitos e práticas disseminator pelas
gote de sangue negro que carrega no seu patrimônio genético ou seja por causa de sua negritudes o princípio de que a união faz a força foi roubado de preto e pardos na política de dividir para dominar o livro rediscutindo A midade no Brasil identidade identidade nacional versus identidade Negra enfoca justamente o uso político ideológica da mensagem para escamotear as práticas racistas e consequentemente as as desigualdades raciais decorrentes até de dividir as vítimas do racismo através do do ideal do branqueamento no conjunto de meus textos esses dois livros falaram muito alto e tiveram impacto nos debates
sobre o processo de construção da identidade negra no Brasil um livro recente publicado no ano passado pela autêntica editora e minha homenagem com o título negritudes de com o pensamento de cab munanga reú textos de 18 autores autores professores professores de várias universidades que tentam dialogar com alguma de minhas ideias a respeito do negro no Brasil o vento soprou e não sei por qual caminho fez chegar minhas ideias sobre a riqueza da diversidade cultural e as práticas ação racial na educação brasileira com efeito em 1996 recebi com grande surpresa um convite da secretaria de educação
fundamental do Mec para fazer a conferência de abertura dos trabalhos preparatórios para a elaboração dos parâmetros curriculares nacionais referente a quatro primeiras série de educação fundamental diante dos educad dores especialistas convidados enfrentei o desafio me limitando apenas ao tema transversal relacionado com a diversidade cultural brasileira os preconceitos e as práticas racistas em 1997 os 10 volumes dos parâmetros curriculares nacionais foram publicados pela secretaria de educação fundamental do MEC entre os quais o volume de número oito versava sobre os temas transversais à ética ao perceber que não havia nada sobre a diversidade cultural nos materiais e
livr didáticos imagine eu recebi um segundo convite do Mec para organizaram um livro que que introduziria essa questão foi assim que organizei o livro superando o racismo na escola a qual minha querida Lil se referiu cuja primeira edição publicada em 1997 foi prefaciado pelo então ministro da educação Professor Paulo Renato Sousa exitor da Unicamp e a terceira Edição já em 2001 pelo então Presidente da República Fernando un Cardoso houve também uma uma quarta Edição no governo do presidente Lula como como era uma publicação de grande tiragem E de distribuição gratuita esse livro atingiu muitos docentes
e me fez conhecer talvez mais no mundo dos educadores do que no mundo dos antropólogos antes da existência da lei 10639/03 que tornou obrigatório o ensino da história e da da cultura africanas e do negro nos currículos escolares no Brasil a educação brasileira pela in do democracia racial não tocava na questão do racismo esse livro então foi pensado não como material didática mas com o objetivo de sensibilizar e conscientizar educadores educadores sobre uma questão tão silenciada o livro do Silêncio do Lar ao silêncio escolar de Elana Cavaleiro explica muito bem como a questão do racism
fui silenciada na educação brasileira Começando na família tanto Branco quanto negras indo até a entrada da criança na escola formal onde encontra o mesmo silêncio diante dos livros didáticos repletos de preconceitos para escrever esse livro convidei apenas negras e homens negros a apenas mulheres negras homens negros entre os quais oito mulheres e apenas três homens incluindo o comum dos mortais que vos fala a professora nhuma tem um texto nesse livro por minha intuição acreditava que essas mulheres é escolhida a dedo e que já falava da educação étnico racial em seus escritos poderia melhor que as
brancas ar outros educadores com base em suas experiências de vida sem dúvida pratiquei uma discriminação consciente que acreditava ser positivas quando recebi em 2020 21 o prêmio do reconhecimento acadêmico em Direitos Humanos Unicamp Instituto Vladimir Herzog na modidade na modalidade prêmio honorário está escrito textualmente no Diploma que esse prêmio me foi outorgado por minha contribuição ao desenvolvimento de políticas afirmativas e sobretudo por minha luta pela introdução da questão racial na educação brasileira em todos os níveis confesso que eu mesmo não tinha essa consciência quando chegou o debate sobre cota e política de ação afirmativa para
o ingresso de estudante negro indígena e branco na escola pública na universidade públicas Não fiquei em cima do muro com feito entrei no debate bem antes da conferência do Durban de agosto de setembro de 2001 e participei da audiência pública sobre a constitucionalidade das cotas na UnB a convite do Ministro Ricardo nessa época fazíamos parte do corpo docente do programa de pósgraduação em em Direitos Humanos da Faculdade de Direito da a professora entrou nesse programa também importante lembrar que a USP foi Vanguarda inteletual dessa questão com trabalho Pioneiro liado nos anos de 1960 pelos já
mencionados Roger basd floran Fernandes Mestre dos Mestres e seus discípulos Otávio e Anes e Fernando cardosos orac nogueir João Batista Paulo Perez e to de cor Júnior essa escola chamada escola de sociologia de São Paulo deixou grandes escritos que ainda nos serve de referências e revelou quanto a chamada de democracia racial brasileira era um mito e não uma realidade em 1995 a USP ensaiou O Novo Passo promissor através de uma portaria do então reitor Professor Dr Flávio Fávio de Moraes foi criado um grupo de trabalho do qual FZ parte para para elaborar política pública para
a população negra sob a coordenação do professor drov então PR reitor de cultura e extensão Universitária que poss reitor e dos professores Ant jun de Oliveira e Joan Batista bor Pereiras respectivamente diretor das Faculdade de Direito da USP e de filosofia le e ciências humanas esse grupo elaborou entre 1995 e95 sobre indicadores da exclusão do cidadão brasileiro de ascendência africanas e formulou recomendações para busca de políticas no âmbito da USP do Estado de São Paulo e da sociedade em geral visando a melhoria do cenário existente no que diz respeitos as seguintes áreas educação questões econômicas
questão da mulher negra imagem do negro com relação à mídia saúde da população negra pesquisa sobre o negro e divulgação dos resultados entre outros esse documento redigido pelo professor jaqu markovic intitulado uma jornada pela justiça foi publicado no livro estratégia e política de combate à dispensação racial por 1 organizados e editado pela edusp em 1996 6 com do próprio professor markovic no que diz respeito à educação considerado como cordão umbilical agora se Lia todos os problemas enfrentados pela comunidade Negra desde a chamada abolição da escravatura o grupo de política pública sugeriu a criação de um
outro grupo de trabalho junto à Reitoria com os objetivos seguintes fazer até julho de de 1996 um levantamento crítico da aplicação em outros países do sistema de cotas para ingressar em universidades elaborar a proposta de elevação da presença dos descendentes de africanos e universidade pública do país encaminhar o documento final de política pública a diversas unidades eh universitárias solicitando que seja criados grupo de trabalho com objetivo de analisar e propor aplicações específicas no seus âmbitos tendo em vista em particular tanto atender adequadamente a situação do seu cotidianos como verificar possíveis contribuições que possam dar em
função das suas especificidades desenvolver uma escola dião visando oferecer curso de capacitação para professores da rede públicas que atuam como multiplicadores incentivar projeto de pesquisas e intervenção voltado para a temática do desenvolvimento da autoestima positivas entre estudantes descendentes de Africanos em todos o nível de ensino mas quando entramos na última fase na última fase que se inicia no fim do século X x início do século XX a USP e renunciou à sua posição de pioneira e Vanguard intelectual para assumir uma postura conservadora presa ao Darwinismo Social dominado pelo discurso da Defesa do mérito da qualidade
e da Excelência diante da exclusão do universo universitários de milhões de jovens de ascendência Africanos de indígenas e branco pobres oriundos da escola pública politicamente a USP se fechou e se recusou a enfrentar os debates sobre cotas que se desenrolaram nos último quase 20 anos a a convite de diversas universidades públicas estad federais que conhecia meus pontos de vistas Participei de vários debates cujos resultados foram encorajadores pois algumas adotaram o sistema de contas com reserva de vaga para negro indígenas e branco de escolas públicas na própria USP recebi convite de algumas unidades para debater a
questão foi o caso do Instituto de Física da Escola Politécnica e do Instituto de ciência biomédica se esquecer a minha própria idade a feles por duas vezes a adusp nossa Associação dos adentes da USP me convidou também para debater a questão que me rendeu uma homenagem meus argumentos convenciam os participantes desses debates mas depois nada acontecia por por ser uma questão política que sou a própria Reitoria com o endosso do Conselho Universitário poderia enfrentar penso que o debate teria sido mais amplos e não apenas por iniciativa de algumas unidades em resumo faltou a vontade e
a forte política para enfrentar a a polêmica questão das cotas que outros universidades públicas estaduais e federais conseguiram enfrentar finalmente no ano de 2017 as Universidades Paulistas se renderam como as últimas grandes universidades públicas a adotar o sistema de cota melhor tarde que nunca mas desejamos que não seja apenas o resultado de pressão sociais mas também o resultado de um amadurecimento político sobre a questão Pois se não fora assim o pleno funcionamento do sistema de cotas poderia ser prejudicado alimentando as fraudes que já estão ocorrendo em algumas universidades públicas Quem seria eu se não tivesse
estudado nessa faculdade e no departamento de Antropologia onde me tornei professor e iniciei o processo de construção de uma antropologia engajada seria outra pessoa e não receberia esse título que carrega muitas mãos pois ninguém se constrói sozinho obrigado [Música] C [Aplausos] kom eh agradecemos e registramos a presença da professora dout Marina de Mel Souza diretora do Centro de Estudos africanos da Faculdade de Filosofia letras e ciências humanas professora D Rosângela sartes vice-diretora do Centro de Estudos africanos da Faculdade de Filosofia letras e ciências humas Professor eh titular aposentado Isidoro blinken Stein desculpa a pronúncia e
professor da faculdade de Filosofia letras e ciências humanas e consultor da fapesc aos professores que compõem o movimento de professores negros da Universidade de São Paulo bra ao senr Márcio Barbosa coordenador do coletivo Quilombo [Aplausos] hoje e ao Senor José Adão de Oliveira cofundador do mnu movimento negro Unificado [Aplausos] passamos a palavra ao professor Dr Paulo Martins diretor da faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da Universidade de São Paulo antes de encerrar a sessão e passar na verdade para o encerramento a palavra à professora Eh Maria Arminda minha querida amiga e vice-reitora eu quero
agradecer ao professor Guilherme a professor Professora Marta a professora lía a professora Ana Paula e fundamentalmente agradecer mais uma vez ao nosso emérito mais recente que é o professor ceng Muito obrigado professor e obrigado a todas e todos que estiveram presente aqui passo a palavra agora à professora Maria Arminda eh muito boa tarde todas todos eh rápidas palavras eu em primeiro lugar quero cumprimentar muitíssimo o professor cengel munanga eh O que a professora Lília denominou nosso emérito ancestral Professor essa homenagem justa mais do que justa de reconhecimento pela pela sua envergadura intelectual moral e ao
mesmo tempo como um atuante sem nenhuma alforia das questões e da causa eh da igualdade e da Igualdade étnico racial eh eu me sinto ion ada eh em estar assistindo eh uma cerimônia como essa e a universidade fica engrandecida não só com a sua presença aqui e com toda a sua história mas Sobretudo com e o que o senhor construiu para não só o departamento de de antropologia perdão eu sou da sociologia da antropologia e a faculdade de Filosofia letras e ciências humanas que eu não falo fefel porque eu sou de Outra Geração e e
construiu para a Universidade de São Paulo eu quero cumprimentar muitíssimo a mesa o meu companheiro Professor Paulo Martins meu diretor professora Ana Paula megiani vice-diretora professora e Marta amoroso chefe do departamento de sociologia antropologia eu não esqueço o meu departamento nunca é a minha casa e e eh e que está todo tempo comigo a professora lartes professor guiler Moura Fagundes e quero cumprimentar também os professores eméritos da Faculdade de Filosofia e letras e ciências humanas a professora luques Vidal o professor João Batista Borges Pereira meu queridíssimo professor eh a professora eva bly emérita Aí sim
da sociologia eh que foi uma figura Central na minha trajetória eu me tornei professora da sociologia quando ela era chefe e meu amigo queridíssimo professor José Reginaldo prand aqui presente quero cumprimentar em nome eh da Professora Eunice Prudente e do eh reitor José Vicente reitor da Universidade Zumbi dos Palmares todas as autoridades acadêm nessa cerimônia Eu costumo dizer professor que quando nós vivemos rituais nós estamos falando de nós os rituais falam da gente e falam daquilo que valorizamos e aquilo que reconhecemos a faculdade de Filosofia está falando dela mas a Universidade de São Paulo também
está falando eh naturalmente eh eu estou aqui sobretudo por uma expressão de admiração e de amizade pelo senhor mas sei muito bem tenho Clara consciência de que o cargo que ocupo também entra sempre eh na ordem de consideração mas eu quero deixar assinalado reafirmado independentemente dessa função que oro que ora ocupo eu estaria aqui presente quero dizer que nessa condição é uma condição extremamente incômoda ela é incômoda porque nós estamos e é natural que assim seja é é compreensível que assim seja parece que a universidade está sempre numa dívida mas como a universidade não é
algo abstrato né Ela é composta por pessoas nós parece que pessoalmente estamos sempre devendo e eu acho que a USP Deve sim Acho que deve sim mas eu queria chamar atenção para as transformações que a USP tem vivido e a rapidez dessas transformações foi instituído o sistema de cotas em 2017 rapidez que talvez não seja não seria desejável talvez fosse melhor ainda se tivesse eh acontecido de outra maneira mas hoje a Universidade de São Paulo tem 54% dos seus estudantes vindos da escola pública hoje a Universidade de São Paulo dispende recursos mais com políticas de
permanência do que com a folha de pagamentos de professores e a Universidade de São Paulo pensa que é absolutamente necessário ter uma política inclusiva étnico-racial de gênero em todos os campos nós não podemos esquecer tá aqui a professora eva bly que o padrão de desigualdade de gênero na USP é o mesmo há 20 anos há 20 anos 39% de professoras 61% de professores homens desses 39% só 30% chega ao fim da carreira que é a titulatura e só desse contingente 27 ocupa cargos mas cargos na visão da USP não é uma uma vice-reitora que por
um acaso estou aqui e e sendo sociólogo isso seria muito raro na universidade professor João Batista sabe disso há muito pouco tempo e portanto 27 por se refere a quê coordenadorias chefias etc ela tem uma desigualdade de gênero também enorme e que também tem que ser enfrentada nós temos que romper todas as formas de desigualdade a a desigualdade social brasileira e que se reflete na composição da universidade é obscena e não dá mais para conviver com isso e a universidade tem que ter um papel fundamental nesse sentido tem que ser uma agência civilizatória Como ela
foi em alguns momentos nós sabemos também que se tentou fazer políticas afirmativas durante um certo tempo e estamos fazendo são suficientes com certeza não são mas a universidade é uma instituição altamente complexa e todo o cientista social sabe muito bem que o mundo não é espelho absoluto das nossas vontades e que as cotas foram fruto dos movimentos PR cotas foram fruto de movimentos sociais e isso é um processo que acontece ao longo da desses embates nós sabemos também que comumente um sociólogo sabe muito bem isso comumente o resultado das nossas ações Diverge das nossas intenções
por isso que existe o social e o social é isso nós estamos construindo na Universidade de São Paulo nesse momento políticas afirmativas e que e tem dado frutos Quando eu digo 54% dos estudantes da Universidade de São Paulo vem da da escola pública eu considero isso um avanço eu fico pensando quando eu estudei o que que era o curso de Ciências Sociais é claro que faz anos mas até bem pouco tempo a outra questão que eu gostaria de chamar atenção Sen falou isso muito bem né é que a HP tem se movido e essa a
construção da pró-reitoria de inclusão e pertencimento não existe em nenhuma Universidade Brasileira voltada para as políticas de permanência e de inclusão e ao mesmo tempo costuma-se dizer que a USP é a ú Universidade a fazer a política de cotas Quem estava no conselho Universitário naquele momento eu era diretora da faculdade nós fizemos uma batalha dentro do Conselho Universitário para aprovação das cotas em 2017 E a faculdade de Filosofia teve protagonismo nisso eu quero chamar lembrar o representante da Faculdade de Filosofia que era o professor André cing fizemos uma aliança dentro do Conselho Universitário e as
cotas foram aprovadas então a USP tem tentado Honrar essas essas políticas a USP não foi a última n do Estado de São Paulo adotar mas como ela é a USP e eu costumo dizer que aqui na USP nós temos complexo né tudo que acontece de bom É na Unicamp nós estamos sendo estamos sendo eh sempre em déficit é interessante ver isso quando Essa gestão propôs e eu apresentei no debate a pró-reitoria de inclusão e pertencimento no debate eh no período da escolha da Reitoria uma professora levantou Mas por que que você tá apresentando isso a
Unicamp já tem né e não tem só tem na USP e ela é um verdadeiro avanço Por que que ela é uma verdadeiro avanço porque ela é uma instituição da política acadêmica tem acento com ao lado de todas as pró-reitorias e é capilarizada tem conselhos em todas as faculdades e unidades nós temos que aprofundar as políticas afirmativas eu me sinto muito eh eh ao mesmo tempo satisfeita e insatisfeita satisfeita por quê Porque eu acho que eu tô tentando Honrar aquilo que eu recebi da minha casa de um professor como professor João Batista que eu quero
homenagear aqui muito particularmente porque há toda uma tradição das Ciências Sociais de São Paulo que construiu as pesquisas em torno da desigualdade e da discriminação do preconceito essa tradição da chamada Escola Paulista de de sociologia e o senhor citou muito bem Professor florestan Fernandes junto com o professor Roger vasti Professor Fernando Henrique Cardoso otaviani João Batista Borges Pereira orac Nogueira E a faculdade de Filosofia construiu com uma figura notável também meu Professor o Centro de Estudos africanos que foi construção do professor do querido e saudoso Professor Fernando Mourão nós estamos no momento de avanço insuficiente
certamente mas estamos numa trilha do do avanço um livro Como integração do negro na sociedade classes de florestan Fernandes é um livro que nos explica o chamado racismo estrutural o controvertido né porque ele está em debate racismo estrutural florestan termina a integração dizendo que que a questão racial a questão do negro era pedra de toque na construção de uma sociedade civilizada e moderna eu nunca esqueci essa essa lição eu carrego comigo portanto eh eu acho que quando a universidade homenageia o senhor com a sua história com a sua importância com a sua presença com essa
envergadura repito moral que o senhor trouxe para a universidade de alguma maneira a faculdade está falando dela mas a USP também está falando dela e eu gostaria de terminar deixando essa mensagem essa homenagem eu não diria que justa porque ela é muito mais que justa mas essa homenagem de reconhecimento a uma das grandes personalidades da nossa universidade essa homenagem Professor Eu também me sinto confortada e eu tenho a sensação de que eu não traí meus professores muito obrigada bom eh obrigada a todos eh Gostaríamos também de agradecer a presença dos membros do núcleo da consciência
negra da Universidade de São Paulo all