O Livro de Números costuma ser ignorado, em parte porque tem um nome muito chato. O que é uma pena. Na tradição hebraica, o nome do livro é "bamidbar", que significa "no deserto.
" É um diário de viagem épico sobre a jornada de Israel pelo deserto a caminho da terra prometida a Abraão. Essa peregrinação a pé deveria levar ter levado apenas cerca de duas semanas. Mas em vez disso, acabou levando em torno de 40 anos.
Que loucura! É praticamente a metade da vida de alguém. Sim, é uma viagem de acampamento muito longa e cheia de histórias interessantes.
Mas lembre-se, ajuda muito voltar e começar pela estrutura do livro. Certo. O livro é dividido em cinco seções.
Há três localizações no deserto, divididas em duas viagens que conectam todas as peças. A primeira seção do deserto é no Monte Sinai, bem aqui no mapa. E então, na segunda seção, eles viajam para uma região chamada Parã.
No deserto de Parã acontecem um monte de coisas. Depois, a quarta seção é a viagem de Israel a Moabe. O livro termina com uma grande seção no deserto de Moabe, do outro lado do Rio Jordão, em frente à terra prometida.
Por meio todas essas seções, o enredo simplesmente flui como um emocionante filme dramático. As coisas começam muito bem, porém logo a viagem passa a ir de mal a pior. E tudo termina com um momento final de redenção, um ato surpreendente da graça de Deus.
Bom, vamos à história. Tudo começa no deserto no Monte Sinai. Já nos familiarizamos muito bem com essa montanha.
Sim, se você se lembra, Israel chegou aqui após sair do Egito, e eles fizeram uma aliança com Deus, receberam os 10 mandamentos, construíram o tabernáculo e estiveram nessa montanha por um ano inteiro. E agora eles fazem um censo para contar o número de pessoas enquanto se preparam para sair. Certo.
E eles recebem instruções de como organizar todas essas pessoas no acampamento: A presença de Deus no tabernáculo, depois a tribo de Levi e os sacerdotes ao seu redor, e então o resto das tribos ao redor deles. Esse padrão é um símbolo visual de como a santidade de Deus está no centro da existência deles como um povo. E eles ouvem que, quando a nuvem da presença de Deus se move, eles devem fazer as malas e viajar com ela.
Sim, a Arca da Aliança é levada pelos levitas na frente, seguida da tribo de Judá e assim sucessivamente. Essa ordem também é um símbolo de como a presença santa de Deus é o líder e guia deles no deserto. Começamos a segunda seção do livro com entusiasmo, enquanto eles deixam o Monte Sinai e viajam até Parã.
Deus está com eles. Tudo está organizado. A viagem vai ser ótima!
Porém, não é tão ótima assim. . .
Depois de apenas três dias na estrada, o povo começa a reclamar de fome e sede, e então até o irmão e a irmã de Moisés começam a falar mal dele diante de todo o povo. Definitivamente não é um bom começo. Mas agora estamos entrando na terceira seção: o deserto de Parã.
É aqui que eles enviam os 12 espias para observar a terra prometida. Dois desses espias regressam muito otimistas. Mas os outros 10 estão apavorados.
Eles não confiam em Deus, e começam a dizer: "Seremos aniquilados lá dentro. " Então, eles iniciam um motim e tentam nomear um novo líder que vai levar todo o povo de volta ao Egito. Basicamente, eles estão se recusando a entrar na terra prometida, e Deus honra a decisão deles.
Ele diz que essa geração vagará por 40 anos e morrerá no deserto, e somenteapenas seus filhos entrarão na terra prometida. Essa história é contada muitas vezes na Bíblia por diferentes autores. Sim, e sempre serve como um lembrete de que, embora Deus permaneça fiel ao Seu povo e Suas promessas, Ele honrará as decisões deles.
Ele deixará que eles desperdicem sua vida toda se escolherem viver em rebelião. Bom, então a viagem foi um desastre até agora. E fica ainda pior na quarta seção, quando viajam a Moabe.
Até mesmo Moisés tem um momento de rebeldia e é desqualificado de entrar na terra prometida. Depois tem outra rebelião entre o povo que resulta em um ataque de serpentes. O que torna todas essas rebeliões ainda piores é que, a cada passo do caminho, Deus está provendo.
Ele vem oferecendo o perdão. Ele vinha dando a eles comida, água e uma coisa esquisita chamada maná. É mesmo, o que é aquela coisa?
Não faço ideia. Mas apesar de tudo isso, eles continuam reclamando e dizendo que preferiam ter morrido como escravos no Egito. Se eu fosse Deus, simplesmente desistiria desse povo.
Isso é o que você esperaria, mas é isso que torna a parte final dessa história tão surpreendente. Israel acaba de chegar a Moabe, e o rei de Moabe está assustado com esse grupo tão grande de pessoas viajando por sua terra. Então, ele contrata um feiticeiro pagão chamado Balaão para amaldiçoar o povo de Israel.
Esse cara pega pesado! Sim. Balaão diz: " Vou orar ao Deus hebreu e ver o que acontece.
" E em três momentos diferentes ele tenta amaldiçoá-los, mas a cada vez se dá conta que só pode abençoá-los. O mais surpreendente é a última bênção, na qual ele profetizou que de Israel se levantaria um rei vitorioso, e esse rei estaria conectado de alguma forma com a promessa de Deus a Abraão, de abençoar todas as nações por meio da sua família. Então aqui está Israel se rebelando no acampamento, totalmente alheios ao fato de que lá, do alto das montanhas, Deus os está protegendo e até os abençoando.
O livro termina aqui em Moabe. Israel está se preparando para entrar na terra prometida. Eles voltam a contar todos mais uma vez, assim como foi feito no início.
Estão deixando a antiga geração para trás, incluindo Moisés. Mas antes de deixarem Moisés, ele dá a eles suas últimas palavras de advertência e sabedoria. E esse discurso é do que trata o próximo livro, Deuteronômio.