Literatura Fundamental 49 - Otelo, O Mouro de Veneza - José Garcez Ghirardi

eem para nos ajudar a interpretar entender a peça Hotel o Mouro de Veneza nós convidamos o professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo José Garcia girarde que é pesquisador da obra de William Shakespeare nós já falamos sobre o William Shakespeare aqui no literatura fundamental quando estudamos a peça de teatro Hamlet com o professor João Milton da Universidade de São Paulo portanto se você quiser informações sobre Shakespeare vá até a página da univers TV no www.universoead.com.br falar aqui um pouquinho sobre o hotelo O senhor é um professor de direito né Exatamente é um advogado que

se interessa por Literatura e foi estudar literatura pesquisar literatura eh como é que se deu essa ligação do Direito com a literatura porque o Senhor trabalha trabalha com direito na Júlio Vagner trabalho com uma disciplina que chama Artes e direito e talvez não seja tão estranho como possa parecer a primeira vista porque essas duas concepções o direito a concepção de Justiça né e a concepção de beleza Justiça tão importante pro direito beleza tão importante pra literatura são muito importantes pra gente como ser humano né E são muito naturais eh uma criança pequena você manda a

criança paraa cama ela fala isso não é justo ela não fala isso não é eficiente isso não é econômico isso não é viável eh ela tem aquela noção de Justiça muito muito arraigada ao mesmo tempo ela quer parecer bonita ela gosta dos personagens bonitos nas histórias em quadrinhos acho que o personagem bonito é também o personagem bom e nós também pais quando educamos muitas vezes juntamos a noção de justo e Belo quando falamos assim ah que feio que você está fazendo querendo dizer isso é errado Então existe na nossa forma de ver o mundo uma

conexão muito importante entre o que é Belo e o que é bom e a literatura nos ajuda a ver a Gênese a origem dessa conexão portanto a literatura nos ajuda a entender melhor aquelas tensões que estão no coração dos valores que vão constituir o direito depois e é um prazer né fazer isso por meio de texos liter S até escreveu um livro quer dizer e o o objeto da sua pesquisa é Shakespeare né exatamente foi se suas teses tal objeto dela é shak então sen escreveu até um livro O Mundo fora de prumo onde o

senhor faz o uma análise aqui de várias várias peças teatrais do Shakespeare né e por isso que a gente convidou você para falar aqui sobre hotelo hotelo é uma peça que é muito encenada mais fora do Brasil o Brasil não é tanto não é eh Por que que ela é tão encenada assim qual é a importância que a gente pode antes de falar um pouco sobre o texto em si Por que que ela é tão encenada assim eu acho que o Otelo ele primeiro pela beleza do texto mesmo é um texto maravilhoso e porque tem

um personagem magistral que é o Iago né É É impossível a gente gente não se apaixonar pelo Iago é o que a gente chama de Maquiavel de palco é aquele cara que chega à frente do do palco e diz paraa plateia Olha o que eu vou aprontar aqui e o público fica fascinado pela sua inteligência pela sua capacidade de manipular o os outros personagens então ah esse de um lado a beleza do texto a a maravilhosa personagem Iago e também porque o hotelo de certa maneira sintetiza as tensões que eu acho que que tavam pegando

fogo na época do Shakespeare né as tensões entre valores entre modelos políticos entre formas de ver o mundo fala um pouquinho Fala um pouquinho sobre isso que época era aquela Então olha nós estamos falando aqui o Shakespeare nasceu em 1564 1600 e ele morreu em 1616 basicamente o que tá acontecendo antigamente no modelo medieval o modo produtivo é basicamente agrícola né e a nobreza tem um espaço muito importante no na organização da sociedade nesse momento sobretudo na Inglaterra quem tá gerando mais dinheiro é o comércio tá é o comércio que é que não tem prestígio

social e a burguesia quem tá fazendo realmente quem tá pagando as contas é a burguesia que não tem prestígio social então nós temos uma receita ótima para revoluções que poder político de um lado e poder econômico do outro né essa crise vai se esgarçar até o ponto que nós vamos ter a Revolução Inglesa em 1640 né E vamos em 1642 decapitar o re Charles e estabelecer a commonwealth Então essa tensão entre uma visão de mundo medieval em que as pessoas valem pelo lugar em que nasceram em que sobretudo a gente é um ser humano porque

a gente faz aquilo que deve fazer ela ainda é no discurso a a teoria dominante a a a crença dominante mas na prática as pessoas começam a sentir que é legítimo você agir a partir do desejo ou seja que ser humano é fundamentalmente realizar o seu próprio desejo em macbeth Isso está muito claro essas duas noções de humano que tão que estão em jogo na época elizabe muito claramente o o Lord mabet que tá querendo desistir de matar o Duncan fala eu ouso fazer tudo aquilo que um homem deve fazer quem faz mais do que

deve fazer ou seja quem vai atrás do próprio desejo já não é humano ainda hoje em dia Muitas vezes as pessoas Pens questão da civilização né que você tem que obedecer determinadas regras para manter a civilização do jeito que e a gente pensar isso é uma coisa que diz pro nosso tempo Às vezes a pessoa tá com um casamento muito ruim não é tá infeliz e ela fala mas será que é justo eu deixar meus filhos para trás eh Será que eu não devo me sacrificar porque já que eu assumi essa obrigação Eu tenho esse

dever muitas pessoas dirão Sim o mais humano a fazer né é desumano deixar seus filhos o humano a fazer é cumprir o seu dever agora já ao mesmo tempo nós acreditamos em outra coisa fala Olha se eu não me realizar ninguém pode ser feliz então o humano é ir atrás do desejo né da Felicidade daade ISO e a felicidade entendida como realização do desejo isso é o moderno porque a felicidade medieval é realizar o seu o seu dever tanto que as virtudes medievais em geral São virtudes negativas né eu vou combater a gula né vou

ter a abstinência eu vou ter a castidade a virtude é não fazer o que o desejo PED né e as virtudes modernas é ter coragem de fazer o que eu desejo PED na época de Shakespeare as pessoas acreditam nessas duas coisas que elas precisam fazer as suas obrigações que é isso que elas fará felizes mas elas já começam a tá que também sem ir atrás do desejo não podem ser felizes por isso é uma época de profunda angústia nessa nesse momento na Inglaterra nós temos um surto de suicídio tem tanto suicídio na Inglaterra que ele

passa a ser conhecido como a doença inglesa nas nas peças é muito nas peças de Shakespeare há 17 suicídios nessa mesma época também há uma enorme literatura hoje talvez fosse sobre autoajuda mas há uma enorme literatura sobre o que eles chamaram de melancolia que é depressão que a tristeza sem nenhum eh motivo aparente e a loucura então loucura depressão e suicídio marcam Essa época por quê Porque as pessoas acreditam simultaneamente que tem que cumprir a sua obrigação que valem por aquilo eh que são na sociedade e ao mesmo tempo acreditam que não podem negar o

seu desejo e que tem que se construir a partir do mérito essa cisão se dá na contradição ambulante que é o Telo que é é um Mouro mas é de Veneza é interessante o Mouro de Veneza né em Veneza todos eram brancos todos eh bem nascid quer dizer a sociedade quem quem controlava a sociedade eram as pessoas bem nascidas ricas enfim não se admitia uma situação como a de Otelo quando qude começa a peça a quando a peça começa Otelo já está é assim casado vamos dizer assim com uma mulher branca filha de um Nobre

é isso exatamente e começa até com uma com uma uma uma cena mais divertida ainda ol é um parêntese aqui era muito comum o Shakespeare colocar a primeira cena uma cena que não é a cena Vital pra peça por quê Porque no teatro teatro é uma bagunça né uma opção de gente de pé era um bem popular e os atores estão todos no palco ali você precisa ter uma primeira peça pro pessoal saber que tá começando o drama e fica assim ó silêncio silêncio então isso exatamente começou exatamente começou começou começou mas essa primeira cena

do hotelo eh já tá lá o o o Iago e o roderigo Né o Rodrigo começam a gritar pro pai das desdêmona olha roubaram roubaram os seus bens não é isso a sua filha agora tá com aquele bode nesse momento ou seja tem uma coisa muito importante um alerta muito importante a ordem natural das coisas foi subvertida por isso que é importante que seja a noite no meio da noite Eles acordam o pai da desdem acordam o pai da desdem dizendo algo terrível aconteceu a a sua filha foi raptada porque não se poderia acreditar que

uma mulher branca a mulher mais cobiçada de Veneza fosse voluntariamente se casar com o Mouro né E na verdade é isso que acontece Esse é o grande o fato o fato de que o desejo de desdemona possa recair sobre o Mouro é uma crise tremenda pra Veneza se o que há de melhor em nós vê valor no outro né Isso significa que nós estamos superados acho que isso é um pouco isso é um pouco essa frase é fundamental éessa quester dizer nós o você diz o o homem branco cheio de dinheiro endinheirado isso toda aquela

pompa circunstância porque o Telo nesse sentido é um paralelo enme com me parece com não é uma questão de classe aqui não não a questão é que não é que o o Telo acho que reflete realmente nessa crise elizabetana por toda a pompa de venes aquela beleza né todas a arte a coisa mais refinada vem das batalhas vende sangue vem de matar gente vem de forçar o comércio Vem de um lado muito sujo impedir que alguém faça o comércio que eles estão fazendo exatamente e se não quiser comprar minhas coisas nós bombarde seus portos isso

acontece também em outros momentos da história n mas o fato é que e o Telo é aquele cujo mérito garante a pompa de Veneza desdemona percebe isso desdemona se apaixona por hotelo porque ele é o cara que faz acontecer mas Veneza não quer fazer uma ligação entre sua por Íssima beleza e cultura e o sangue que tá nas batalhas Então ela usa o Telo para conseguir seu Fausto Então nesse sentido ele de Veneza como como um instrumento mas ele não é um Veneziano É então acho que essa como se fosse um uma um instrumento uma

ferramenta ele é o meu canhão ele é o minha espada ex então a gente não gosta de dizer que a cultura refinada do renascimento né tá em grande parte baseada também em batalhas sangrentas e muita coisa que a gente joga para baixo do tapete o Telo é aquele que a gente quer jogar para baixo do tapete mas des demona fala não é ele que permite que Veneza seja o que é ele é o herói e e isso instaura num crise tão grande que a primeira hipótese muito comum naquela época é que o hotelo tem utilizado

de bruxaria é o que o pai dela diz logo quer dizer tem essa cena que você falou e então enfim Iago que é o uma pessoa que declara seu ódio ao hotelo logo acho que nessa primeira cena perfeito né nessa primeira cena ele declara seu ódio é Otelo ele é o cara que vai acordar o pai do desem falar que o Otelo raptou a mulher que já para tentar eh desacreditar hotelo diante da da do do dod e tudo mais ISO e e esse ponto senhor coloca é muito importante eu acho que Otelo uma das

chaves pra gente ler é que ele é é um ponto médio entre um amor incompreensível e um ódio incompreensível a gente não entende plenamente o amor de desdora por por Ela será que foi um capricho de menina Será que realmente ela se encantou será cois e o ódio e o e o e o embora a gente tenha explicações Racionais pro pro amor de desd e pro ódio deago Parece que eles são de uma intensidade que transcende essa essa explicação racional Claro o Iago Foi preterido numa promoção explicar pro espectador o que que aconteceu é o

o o o Iago queria o posto de assistente do hotelo né e o hotelo e o que é importante segundo a a lógica medieval ele pede que três pessoas nobres de Veneza intercedam por ele faz um Lobby né Faz faz um belo de um Lobby três pessoas importantes de Veneza vão e falam com o hotel olha da posição pro Iago mas Otelo já age com a lógica moderna do mérito O Cásio é melhor de organização Militar do que o Iago então ele fala me desculpem mas eu preciso aqui uma gestão de eficiência colocar o Cácio

no posto e o Iago fica maluco porque não primeiro ele não conseguiu e segundo porque ele fala quem esse cara pensa que é de não respeitar o Lobby que é a lógica medieval do dever e da vassalagem né então há um ódio profundo aqui há também interpretações que acham que Iago tem uma certa paixão eh por por Otelo né E que tem Ah sim sem dúvida que tem um ciúme dele com o com o cáo e com a desdo né E aí ele envol os três Cásio Otelo e desdea numa Trama pessoal Bom enfim aí

na próxima cena desdea declara seu amor a Telo na frente de toda a corte de venea exatamente na frente do dod na frente do pai dela na frente de todo mundo fal assim não esse cara eu apaixonei por ele e ninguém compreende aí aí entra aquela história que você falou que você só pode estar enfeitiçada né o o Shakespeare também resolve com feitiço algumas outras obras dele não é isso sim tem várias várias tem a a mágica por exemplo de sonh de Uma Noite de Verão país que coloca lá macbeth famosíssimo né então As Feiticeiras

estão sempre ali As Feiticeiras eh são sempre um uma uma algo de instabilidade sobretudo nessa época uma coisa interessante que às vezes a gente não se dá conta que a bruxaria antes do século X metade do século XV não era um problema tão grande não era um problema político eh era mais ou menos vamos dizer como hoje em dia ninguém é preso porque faz uma macumba etc é outra crença né claro era um pecado você tinha que confessar mas as pessoas faziam bruxaria era visto como algo menor porque era simplesmente o o uma prática religiosa

Não autorizada Mas a partir do meio do século X e no 1 o que acontece é que a bruxaria começa a ser vista menos como prática Religiosa e mais como pacto com o diabo e aí tem um problema político porque se você faz um pacto com o diabo você tá traindo o rei então que é ligado à igreja exato que é ligado ao rei porque rei e tá no lugar de de Deus né etc então o problema aí não é a prática Mas é você d a sua lealdade a alguém que não o rei por

isso que a Perseguição às Feiticeiras fica muito mais pesada nessa época que nos séculos anteriores mas de qualquer maneira então quando a gente fala que o Telo pode ter utilizado bruxaria o público que tá ouvindo fala bruxaria é subversão esse cara tá com o Diabo se ele tá com o diabo ele não tá com a ordem não tá com o rei e o susto de todo mundo é que não foi bruxaria nenhuma ela tá apaixonada por apaixonada porque o cara é muito bom porque o cara faz aquilo que vocês não fazem não é um dondoca

Veneziano que você não tem coragem de L pegar espada faz isso olha o corpo dele tá marcado tá cheio de coisa porque esse é o cara que faz acontecer nesse sentido é é a noção maquiavélica de mundo ou seja o príncipe é o cara que estando numa situação eh de desvantagem no mundo tem pela virtu a capacidade de domar a fortuna de virar o mundo e fazer acontecer o hotelo é esse cara se ele o o drama dele é que ele não consegue acreditar que esse cara a desdem não acredita nele mas ele não acredita

então e o e o Iago vê isso para fazer sua vingança já logo no começo do espetáculo ele fala eu vou fazer assim assim assim e assim assim assim ele faz ex eh enfim quer dizer essa história de ele ser uma pessoa tão poderosa tão né cheia de si tão orgulhoso vai lá Conquista derruba mata afunda navios e e é e é assim torturado pelo ciúme é por conta dessa insegurança social isso que você tá falando eu eu acho tá perfeito né esse esse o hotelo ele não consegue acreditar que o valor vem das ações

dele como o indivíduo um cara que conseguiu fazer né ele como a desdemona ver ele não acredita naquilo ele não acredita a desdemona é muito mais moderna que ele ele acredita que ele é um instrumento de Veneza ele ele vê o seu valor atrelado a ser de Veneza né Ela não ela vê como meu senhor e meu ele como homem e ele não acredita nisso e o Iago muito esperto que aliás outro motivo possível da do Ódio do Iago é que o Otelo teria tido um caso com a mulher do do Iago também é tem

ali tem de tudo uma beleza é dá para interpretar é f não o Iago no começo fala assim dizem que algumas vezes entre meus lençóis ele praticou meu Ofício ele fala mas mas o que é interessante aqui oago percebe isso o Iago percebe que o que o Otelo não confia que o que o valor dele que o que ele faz como homem é suficiente para despertar um amor genuíno em desdemona porque ele se vê como um instrumento de Veneza e e e o Iago vai começar a buzinar na orelha dele Olha é muita Aria pro

seu caminhão realmente ela não vai conseguir estar apaixonada por um mero instrumento Essa menina é da mais alta classe você é pouco para ela se o se o Iago tivesse se o hotelo tivesse segurança ele diria Iago vai vai vai caçar sapo e aí a pesta tinha um ato também né mas mas como ele não tem isso ele vai crescer e tem uma coisa muito cruel é no ciúme no ciúme do qualquer ciúme mas assim você não consegue provar que é fiel você não consegue provar algo que você não fez então por exemplo se se

se a minha mulher né acha que eu que eu falo que vou dar aula mas eu tô saindo por aí Se toda vez ela for na onde eu tô dando aula e eu tiver dando aula mesmo isso não prova que eu sou fiel é ela pode falar assim ele dá muita sorte porque você não pode provar não pode provar um não fato e é por isso que o o hotelo cai numa armadilha da qual ele não pode sair como é que você prova que não traiu Ainda mais quando o seu inimigo Coloca aí aí vai

a esperteza da personagem Claro eh colocar provas existem indícios que exist porque é essa essa a questão do ciúme que o e o e o Shakespeare como sempre né mas nesse ponto maravilhoso acho que é uma das razões pro texto ser tão poderoso é que o ciúme cria uma narrativa que automaticamente coloca a culpa no outro então eu acho que você trai sua esposa pronto Essa é a conclusão e daí eu vou buscando elementos para justificar essa conclusão nenhum elemento pode desmentir essa conclusão né e o Iago fala bom esse sujeito já acredita que a

mulher é infiel basta eu dar algumas coisas para ele achar que isso não vem de dentro mas tá vindo de Fora coloca o lenço coloca as conversas de Cácio e o e o Iago e o Otelo cai na esparrela e É não e o próprio Cácio ele aí ele envolve também o Cácio des dem na noss Claro porque o que ele faz é ele ele embriaga o Cácio que cáo já falou que era meio ruim de bebida que não gostava de beber e o Iago fala imagina só mais uma só maiso não vai fazer mas

quantas vezes acontece né só uma última é e O Cásio fica eh meio meio briaco se envolve numa briga e perde o posto o Iago muito malandramente chega nele fal assim cáo o melhor jeito de você conseguir recuperar seu posto é pedir para desdêmona interceder junto ao hotelo pronto pronto aí tá o tempo todo o c no ouvido da desdemona o Iago fala Opa esquisito hein tá todo aí o hotelo já fica mordido de ciúme cmes é é um é um sentimento que ele trabalha o Shakespeare trabalha aqui com maestria né E que mais que

você tem para me dizer desse desse espetáculo quer dizer essa essa esses procedimentos todos do Iago o que que eles traduzem aqui daquele momento da eu acho que tem uma coisa importante do Iago que o Iago consegue conversar com a plateia porque ele fala assim olha o mundo funciona assim o Iago sabe como o mundo funciona o Iago é um cara que sabe que perdeu perdeu o bonde Iago é um cara medieval e percebe que o que tá vindo é o mundo moderno né mas ele fala olha eu não vou conseguir mais manter o poder

ou seja não adianta fazer lobby que o que vai realmente definir a riqueza Inglesa a riqueza é o comércio é a capacidade de ação é a guerra mesmo é a batalha etc e tal mas esses caras não podem prosperar por enquanto esses caros não têm dignidade Por enquanto né então o que acontece é que morre todo mundo Essa é uma das características da da tragédia do Shakespeare você Restaura a ordem mas a ordem restaurada é inútil é a tragédia que me adianta que me adianta que Iago foi punido se desdêmona morreu que me adianta que

o injusto tenha morrido que o Malvado tenha sido punido se os bons foram punidos isso é muito muito importante e eu acho que essa é a essência da das tragédias de Shakespeare que mostram essa contradição do tempo elizabetano ou seja o que existia antes o medieval já não pode existir porque não a aquele modo de vida não dá conta da produção material nem da produção de sentido e aqui aquilo que vai existir que é a vida burguesa ainda não pode existir Então essa é uma uma uma geração presa entre o que já não é e

o que ainda não é e nesse sentido acho que sh fala muito para nós Porque nós já não somos modernos Nós já não somos industriais mas ainda não somos outras coisas por isso que nós não conseguimos dizer o que somos nós dizemos que somos pós-modernos referimos a modernidade mas nós não sabemos o que somos ainda por que que hotel não é tão encenada no Brasil quanto é em outros lugares né Por que que você acha É ess ISO ocorre essa é uma excelente questão eu realmente não não consigo eh você faz mais Rome Juliet é

Romeu e Julieta Claro tem tem fortemente a questão do amor hamelet muito muito forte a subjetividade moderna hotelo tem uma questão delicada que Talvez possa jogar alguma luz aí hotelo tem uma questão racial forte né num num país em que que a questão racial muitas vezes é tratada não tá bem resolvida resolvida e sobretudo não vem à tona quer dizer o Telo a cor da pele dele é importantíssimo como elemento de preconce elemento de preconceito o o Iago fala com com ódio com desprezo da cor do hotelo que for tem termos aqui então não só

isso é outra coisa que é legal você falar Quer dizer não só essa questão de ele ser não ter o Iago é um camarada que não tem nada de Politicamente correto el corret absolutamente incorreto muitos defeitos dele esse não é fala com um preconceito muito grande com relação à questão da cor mas a peça toda ela é permeada com uma uma coisa meio quase pornográfica com uma coisa não é ex mas isso é muito importante eu acho excelente esse ponto isso é muito importante porque porque o o que não tem no resto do Che não

porque a a Sexualidade como dimensão animal é muito mais ah facilmente atribuível aqueles que seriam entre aspas mais primitivos e menos culturais não é né ou seja Então os os mouros né a fama da da virilidade e sexual dos dos negros por exemplo esse era essa era uma era algo corente corrente todo mundo que não é ocidental acho que o Eduardo saí fala um pouco no orientalismo dessa noção do exotismo oriental mas parte disso vem a pujança sexual como contraponto a uma certa delicadeza sofisticação intelectual né então é essa E aí que que o Shakespeare

faz o Iago malandramente fala olha eles são animais e os Animais não t não tem eh fronteiras pro sexo eles não tem não tem nenhum nenhum freio para isso e ele junta isso na cabeça do hotelo e também da da plateia dizendo as mulheres também plateia então ele faz is as mulheres são as mulheres não são coisas que presta não na cama é outra coisa e ele fala isso PR desdemona inclusive que é uma uma lei assim exatamente e ele fala assim lei de nada rapaz Você tá você tá viajando inocente como fala pessoal Inocente

né o ela para você é toda toda delicada etc e tal mas ela mostra aos céus coisas que de fazer eh corar um monte de pedra como se dizia antigamente Mas então ele junta essa lascívia que muitas que tradicionalmente é um dos eixos de compreensão do feminino né a mulher como Infiel a mulher que se entrega e a e o desejo sexual eh do do não europeu vamos dizer assim nesse sentido também há uma uma uma tensão entre a antiga cultura as antigas as formas de cultura e as novas formas de cultura é muito comum

na literatura desse período nós temos histórias em que o marido velho não consegue engravidar uma mulher nova e vem um um um Forasteiro e faz isso e faz isso a metáfora que se que se faz é o seguinte o marido velho é o antigo poder medieval a mulher é a república o antigo poder medieval não consegue fazer engravidar a República é Preciso que venha uma nova força uma força jovem que é o poder burguês Mercantil para que a república venha a dar fruto nós temos isso em Maquiavel numa peça delicios franceses né francês Moler tem

bastante exatamente vai ter isso muito mas mas o o o a a Gêneses disse Talvez o exemplo mais maravilhoso é a mandrágora do Maquiavel doel O o choser tem essa história no conto do moleiro o o bocao tem o no conto do cavalariço essa noção isso é muito importante ou seja USA o antigo senhor aquele homem velho Poderoso Ele realmente não consegue e atender esta mulher jovem e essa mulher jovem é a nova república a nova Pólis ela precisa de um outro soberano e esse soberano mas só que esse soberano jovem ainda não tem a

legitimidade social ou seja ele não pode ser marido ele tem que ser amante com o passar do tempo esse senhor jovem vai se tornar marido aí vão ter o romance do século X e XIX Mas essa é outra história bom professor eu queria só aqui já aproveitar para mostrar pras pessoas eh eh esse livro que você escreveu aqui você fala sobre quatro comédias e quatro tragédias de Shakespeare né Eh faz uma análise delas uma análise mais ou menos nessa linha que você acabou de fazer pra gente chama o mundo fora de prumo transformação social e

teoria política em Shakespeare eh enfim aqui é para quem quiser entender um pouco mais também sobre as outras peças de Shakespeare eh tem aqui uma dica eh para ler Professor Obrigado sor participação suas explicações sobre a peça ótima mesmo não sei realmente porque que fazem tão pouco aqui no Brasil talvez essa questão da da negritude e sabe os encenadores né t o medo de que isso possa de tocar em algum nervo aí eu acho que essa essa é uma hipótese bastante plausível tá bom professor mais uma vez obrigado sua presença fundamental Muito obrigado e