No dia 4 de junho de 1942 estava começando a mais importante batalha aeronaval da Segunda Guerra Mundial, entre os Estados Unidos e o Japão. Eu sou o Vogel, bem-vindos ao Vogalizando a História e hoje a gente vai te contar sobre a Batalha de Midway. Uma vinheta nipônica.
Assistindo a filmes hollywoodianos as pessoas podem ser induzidas a pensar que a Segunda Guerra Mundial foi um grande confronto entre os Estados Unidos e a Alemanha, mas isso é um erro imenso, e é muito comum que as pessoas esqueçam da guerra travada no Pacífico, principalmente entre os Estados Unidos e o Japão. O Japão já tinha se metido em confusão com outros países antes, já tinha entrado em guerra com a Rússia e ganhado, já tinha ocupado o território da Coreia e quando a Segunda Guerra Mundial estoura o Japão estava em guerra com a China, cometendo um montão de atrocidades contra o povo chinês. E os japoneses já vinham se estranhando com os Estados Unidos e alguns historiadores dizem que a guerra entre eles era iminente, até que chegou o momento em que os japoneses fizeram um ataque em território americano.
Esse foi o famoso ataque à base naval de Pearl Harbor, no Hawaii, em dezembro de 1941, e foi a partir daí que os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial. Quem lutou nessa guerra pode ser dividido em dois grupos, os aliados, que contavam com Reino Unido, França, União Soviética, Estados Unidos e vários outros; e eixo, que contava com Alemanha Nazista, Itália Fascista e Império Japonês, além dos exércitos por eles conquistados. O ataque em Pearl Harbor tinha como objetivo destruir a frota naval americana, que era a única da época que representava uma ameaça aos japoneses, principalmente por conta dos seus porta-aviões, mas apesar desse ataque surpresa ter sido de uma agressividade sinistra, a frota não foi destruída e os porta-aviões sequer estavam lá.
E agora o Marco vai explicar aqui o que é um porta-aviões. Porta-aviões são navios de guerra que costumam servir como base aérea no meio do oceano. Como eles podem ter mais de 300 metros de comprimento, o avião pode pousar ali, pode ser abastecido, remuniciado, os caras podem fazer a manutenção dele e ele pode decolar de novo e seguir pra uma nova batalha sem ter que voltar pro seu país de origem, possibilitando um ganho de tempo em batalhas de longas distâncias.
É isso mesmo, Marco. Com a expansão japonesa na Ásia e no Oceano Pacífico, se sabia que os porta-aviões fariam a diferença, imagina a cada ataque aéreo no oceano ter que voltar pra terra pra abastecer, colocar mais munição e voltar pra atacar no oceano de novo, não ia dar né. Como ainda queriam destruir os porta-aviões americanos, que são embarcações caríssimas, os japoneses começaram a bolar estratégias para atraí-los para uma emboscada e aí sim afundá-los.
Enquanto o pau estava torando na União Soviética, França e Norte da África, os japoneses tinham conquistado a Indochina, Birmânia, Malásia, Singapura, Hong Kong e vários outros. É aí que os Estados Unidos começa a agir e monta o ataque Doolittle, que foi um bombardeio dentro de território japonês, inclusive na capital Tóquio. Esse ataque nem fez tanto estrago físico, mas mexeu bonito com o psicológico dos japoneses, que perceberam que as defesas do país não eram tão eficazes quanto eles achavam que eram.
Imagina se o imperador morre num bombardeio desses, que coisa horrível que iria ser. E houve uma outra batalha aeronaval entre os americanos e os japoneses, a Batalha do Mar de Coral, que apesar do recuo japonês, afundou o porta-aviões americano USS Lexington e danificou o USS Yorktown, deixando os americanos só com mais dois porta-aviões. E os japoneses sabiam disso.
Eles sabiam que tinham superioridade numérica. É aí que eles focam sua atenção no atol de Midway, que quer dizer “meio do caminho”, porque fica bem no meio do caminho entre os Estados Unidos e a China. Mas só pra quem acredita que a Terra é redonda, pra quem acredita que ela é plana eu não sei como os caras chamam não, talvez Otherway.
Midway era ocupado pelos Estados Unidos e composto por duas ilhas. Na primeira haviam sido construídas pistas de pouso e na outra estava uma série de equipamentos militares norte-americanos que davam suporte a uma base aeronaval. Para os japoneses, ocupar esse atol seria uma maneira de manter o inimigo longe, mas como as ilhas ficavam pertinho do Hawaii, se o Japão tomasse as ilhas pra si, logo poderiam tomar o Hawaii depois.
E os americanos viriam defender o atol também e era exatamente isso que os japoneses queriam, atrair a frota americana para a batalha e aí sim acabar com ela. A frota naval japonesa era a mais poderosa até então, eles tinham um torpedo que não soltava bolhas, então era muito difícil de identificar quando um deles estava vindo e o suporte dos aviões caça dos caras era fantástico, principalmente por conta da habilidade dos pilotos, somada com a agilidade e velocidade dos aviões. Esse ataque a Midway contaria com um número muito grande da frota japonesa e quem estaria no comando era o almirante Isoroku Yamamoto e o vice-almirante Chuichi Nagumo, que também estavam encabeçando o ataque a Pearl Harbor.
No total da batalha, eles usaram 4 porta-aviões (Akagi, Kaga, Hiryu, Soryu), 15 cruzadores, 12 destroyers, 7 encouraçados, 10 submarinos, 35 navios de apoio e quase 250 aviões, além dos quase 5 mil soldados que também estavam sendo levados pra Midway pra poderem ocupar a ilha. O que os japoneses não sabiam, é que os americanos já estavam sabendo desse ataque, porque tinham conseguido interceptar e decodificar mensagens japonesas. Eles sabiam que um ataque viria e sabiam mais ou menos quando viria, eles só não sabiam onde, porque o alvo foi dado com o codinome AF.
Por mais que eles desconfiassem que AF significava “Midway”, eles precisavam ter certeza e é aí que um verdadeiro gênio (Wilfred Holmes) lançou uma mensagem que ele sabia que seria interceptada pelos japoneses, dizendo que o dessalinizador de água em Midway estava quebrado, então eles estavam sem água potável. Pouco tempo depois uma mensagem japonesa foi interceptada e ela continha a informação de que estava faltando água potável no ponto AF. Aí ficou fácil saber que AF realmente significava “Midway”.
Os Estados Unidos precisaram então preparar com urgência um plano pra pegar os japoneses de calça curta. Foi colocado às pressas então a restauração do porta-aviões Yorktown, aquele que tinha sido danificado na Batalha do Mar de Coral, e a reparação que tinha sido estimada em três meses, ficou pronta em três dias. É mole, cara?
E essas habilidades de reparação seriam bem úteis depois. A frota americana era composta por 3 porta-aviões, 8 cruzadores, 15 destroyers, 16 submarinos e aproximadamente 350 aviões, tendo como seu comandante o almirante Chester Nimitz, o comandante chefe da Frota do Pacífico. A própria ilha de Midway também representaria uma vantagem no combate, porque serviria como um 4º porta-aviões, onde eles poderiam pousar, reabastecer e recarregar.
A frota foi colocada a nordeste de Midway, enquanto os japoneses viriam a noroeste, então os americanos teriam alcance da frota japonesa e não estariam no caminho deles, o que possibilitava não serem descobertos com antecedência. O plano americano consistia em deixar que os japoneses fizessem o primeiro ataque a ilha e quando os aviões retornassem pros porta-aviões pra serem reabastecidos e remuniciados, aí é que os americanos atacariam. Os japoneses até enviaram aviões de reconhecimento, pra ver se não encontrariam nenhum porta-aviões americano ou alguma outra surpresa, mas como os Estados Unidos tinham posicionado sua frota fora da esfera de reconhecimento, os caras não encontraram nada.
Contribuiu um pouco também o fato de os japoneses não utilizarem radares. É comum um historiador usar a sorte como um fator importante pros americanos. Os americanos também enviaram aviões de reconhecimento, mandaram mais do que os japoneses inclusive, e os caras conseguiram a posição exata dos porta-aviões inimigos, dando mais essa vantagem.
Alguns ataques até já tinham acontecido antes, mas é na madrugada do dia 4 de junho, perto das 4h30 da manhã que os japoneses decolaram em direção a Midway e perto das 6h30 começou o ataque, com mais de 100 aviões, entre eles bombardeiros, torpedeiros e caças. As instalações militares em Midway foram danificadas, mas todos os aviões que estavam lá, já tinham sido retirados e enviados em direção aos porta-aviões japoneses. A artilharia antiaérea esperava pelo ataque e tentou se defender, inclusive derrubando aviões japoneses.
Danos foram causados, mas a ilha não foi inutilizada, o que impossibilitava o envio das tropas terrestres. Talvez os japoneses estivessem pensando que viveriam um novo Pearl Harbor, pegando os americanos completamente desprevenidos, mas não foi o caso, os caras estavam com dificuldade em neutralizar as defesas da ilha e as pistas de avião ainda estavam utilizáveis. Aí entra cena o avião de reconhecimento japonês que localiza um porta-aviões americano e avisa os japoneses que tem porta-aviões na área, o que deixa os japoneses na dúvida, entre continuar o ataque à Midway ou voltar pros seus porta-aviões e colocar munições adequadas pra atacar os porta-aviões inimigos?
A segunda opção parece mais sensata, mas ela também tomaria muito mais tempo e no meio de uma batalha, tempo vale mais que dinheiro. A decisão foi voltar pra remuniciar os aviões, só que enquanto isso estava sendo feito, a esquadrilha americana se aproximava e tinha como alvo os hangares dos porta-aviões, onde estariam os aviões japoneses e o seu combustível altamente inflamável. Se acertassem um hangar desses, era certo de que iriam afundar o porta-aviões japonês.
É aí que os caças japoneses são enviados pra atacar a esquadrilha americana. Os bombardeiros americanos foram com gana pra cima dos porta-aviões, mas todos eles foram abatidos, sem conseguir afundar nenhum navio. Os americanos enviaram pilotos que não tinham tanta experiência assim e esses caras levaram um pau sinistro dos experientes pilotos japoneses.
Pra fazer bombardeios, os aviões precisavam voar baixo, só que voando baixo estavam mais vulneráveis e os caças americanos não conseguiram fazer a proteção desses bombardeiros. Um novo ataque é feito um tempo depois, dessa vez com os caças americanos de pertinho pra proteger os bombardeiros dos caça japoneses e apesar de os caças japoneses serem mais rápidos, o tanque de combustível deles pegava fogo muito mais fácil, então um simples tiro poderia significar a queda do avião. Nesse combate aéreo, a estratégia americana se mostrou mais eficiente e os bombardeiros americanos conseguiram chegar até a frota japonesa.
Dessa vez não eram mais os pilotos inexperientes que vieram da primeira vez. Nesse ataque, os americanos conseguiram neutralizar três dos quatro porta-aviões japoneses (Akagi, Kaga e Soryu). Em um deles, foi uma bomba só que os americanos jogaram, mas ela pegou bem no meio do hangar, não tinha lugar mais certeiro pra ela acertar.
Há quem diga que os três porta-aviões foram neutralizados em menos de 5 minutos, que prejuízo. Mesmo com um porta-aviões só, os japoneses continuaram na batalha e responderam com um ataque ao Yorktown, aquele porta-aviões que passou três dias no reparo. Apesar de os caras se defenderem com tudo o que podiam, o Yorktown é atingido por três bombas e começa a pegar fogo.
Mas lembra que eu te falei que a habilidade de reparação dos caras seria útil? Foi mesmo, porque os caras sabiam que pra apagar fogo que queima em combustível, água é inútil, então usaram dióxido de carbono e conseguiram conter o incêndio no porta-aviões que os japoneses achavam já ter destruído. É importante a gente saber que as frotas inimigas não se viam, elas estavam muito longe uma da outra, há aproximadamente 280 km de distância, o que talvez torne essa batalha ainda mais incrível.
Como o Yorktown já não estava mais pegando fogo, os pilotos de bombardeiros japoneses confundiram ele com um dos outros porta-aviões que estavam em perfeito estado e fazem novos ataques, mais uma vez acertando o Yorktown e dessa vez tirando ele do jogo de vez. Só que eles achavam que já tinham inutilizado dois porta-aviões, enquanto na verdade era só um. O Yorktown ainda foi atacado mais uma vez, dois dias depois, por submarinos japoneses e aí sim ele afundou.
Mas antes disso, quando ele ainda estava moribundo, sai uma última leva de aviões de reconhecimento, pra tentar achar o último porta-aviões japonês e um deles consegue, no fim da tarde, um novo ataque americano é feito, sem chance de defesa. No fim do dia 4 de junho de 1942, das ilhas de Midway se via quatro nuvens de fumaça simbolizando os quatro porta-aviões japoneses destruídos. Um prejuízo inestimável, em vidas, em custo e em moral.
Ainda houve ataques nos dias seguintes, mas nenhum com a mesma proporção desse dia. Os números variam dependendo das fontes, mas acredita-se que além dos 4 porta-aviões, os japoneses perderam também um cruzador e vários aviões, além de mais ou menos 3000 homens, entre eles seus melhores mecânicos e pilotos. As perdas americanas foram bem menores, um porta-aviões, um destroyer, 145 aviões e 360 homens.
Essa batalha teve importância fundamental pra aumentar a moral dos soldados americanos e pra acabar com a superioridade japonesa, que deixou de estar em processo de expansão no Pacífico e começou a ficar na defensiva. Várias outras batalhas notáveis aconteceram por lá e vocês podem sugerir mais algumas aqui nos comentários. Tanto Yamamoto quanto Nagumo, os líderes japoneses, não sobreviveriam pra ver a derrota do seu país.
O Yamamoto morreu em um ataque aéreo americano nas Ilhas Salomão e o Nagumo cometeu suicídio depois de outra batalha perdida das Ilhas Marianas. O almirante Chester Nimitz é considerado um grande herói de guerra e seu nome batiza uma importante classe de porta aviões. Homenagem merecida depois de vencer a maior batalha aeronaval da história.