Bem como muitos de vocês se identificaram com o que eu disse aqui no último vídeo sobre os desafios que os autistas enfrentam nos relacionamentos, então, antes de prosseguir com o nosso curso, a nossa série de vídeos sobre os critérios do DSM-5, eu decidi compartilhar aqui com vocês o resumo de um livro. O livro é "A Gente do Lado: As 22 Coisas que a Mulher Autista Quer que o Seu Parceiro Saiba" e a obra foi escrita pela Ruth Simone e foi publicada em 2012. Eu sei que o livro já tem mais de 10 anos, mas eu quero compartilhar esses 22 itens aqui na nossa comunidade, justamente para que a gente possa discutir e saber o que ainda faz sentido.
Eu dividi o livro em três partes para cada vídeo não ficar muito longo e hoje nós vamos falar sobre os oito primeiros capítulos. Ruth Simone foi uma das primeiras pessoas a escrever sobre o autismo em mulheres e, até hoje, muitos profissionais endossam o que ela recolheu em suas pesquisas informais com as mulheres autistas na internet, pelo Twitter, e em comunidades, né? Sala de autistas.
Ou seja, eu imagino que essas informações possam ser úteis tanto para a moça autista que deseja namorar ou até que já seja casada, quanto para quem se encantou por uma moça declaradamente autista ou que apresenta certos traços espectrais. De repente, você notou que está gostando de uma menina diferente e, depois de algumas buscas lá pelo Dr Google, você desconfia de que ela, de fato, possa estar no espectro. Então, resumindo, se o seu interesse for genuíno, você vai querer se preparar para cuidar da sua amada.
Então, aqui vão esses 8 itens, ou 8 coisas que ela provavelmente não vai verbalizar, mas que, provavelmente, ela queira que você saiba. Estou aqui com o meu Kindle, o livro como referência, e no próximo vídeo a gente continua nossa série: "Autismo Não é Moda" e entra no critério dele, ok? Mas agora, então, pegue papel e caneta e vá anotando as dicas, né, para elevar o nível do seu relacionamento.
O primeiro item, na verdade, é uma pergunta: você realmente deseja namorar uma menina autista? E se sim, o jeito de se aproximar dela não vai ser um jeito convencional, porque autistas geralmente precisam de tempo para se adaptar às novas rotinas, a encontros mais frequentes e até às suas palavras românticas ou à sua aproximação física. Simone conta no livro que a maior parte das autistas que foram entrevistadas disseram que o namoro surgiu de uma amizade, porque as autistas precisavam se sentir seguras, né, com esse novo ser humano, até porque muitas delas sofreram bullying na escola e, muitas vezes, no trabalho.
Então, elas não querem correr o risco de estar com alguém que não seja sincero. Então, o lema para o início do namoro é paciência e muito respeito em relação ao tempo da autista. E aí, Simone, a cada capítulo, a cada final de capítulo, coloca um depoimento de um marido ou de um namorado e, nesse caso, ele diz: “A primeira coisa que me chamou atenção foi a criatividade dela.
Ela tinha o seu próprio senso de estilo, seu próprio senso de humor único e não se baseava apenas no que estava na moda; fazia suas próprias coisas. Essa é uma parte da sua personalidade que eu amo, porque ela não está preocupada com o que todo mundo está fazendo. ” E olha só que interessante, que bonito, né?
É justamente a tipicidade, a originalidade dela que atraiu o marido, então cuidado com as máscaras. A segunda dica é compreender que a sua namorada, sua esposa, pode ser muito sensível. Assim como na história da princesa e a ervilha, a autista pode sentir aromas, sons, texturas e sabores que os outros simplesmente não sentem, não percebem.
Então, você precisa compreender que não é frescura, não é chatice, é só um jeito diferente de ser. Eu me identifico muito com essa parte, porque, como vocês sabem, eu sou uma pessoa altamente sensível. Então, o Djalma, meu marido, me protege muito.
Teve uma ocasião em que nós fomos para um congresso e eu me esqueci de levar os meus protetores de ouvido, porque, além de sensível, vocês sabem que eu tenho TDAH. À noite, eu não conseguia dormir porque a cama não era minha, o travesseiro não era o meu, e principalmente porque eu ouvia o barulho de um trem passando quilômetros de distância. O Djalma nem percebia, mas aquilo para mim parecia estar no quarto.
E aí, o que aconteceu? O Djalma teve que sair comigo à noite para comprar os benditos protetores auriculares. Então, a sua namorada pode precisar bastante da sua compreensão.
Outro ponto é o perfume: se a sua namorada sempre reclama de dor de cabeça quando vocês estão juntos, talvez o problema não seja você, mas o seu perfume forte ou o lugar onde vocês se encontram. Se o ambiente for muito poluído, muito barulhento, agitado, é provável que ela não se sinta bem. Talvez sua namorada também não goste de toques muito suaves, porque os receptores sensoriais da pele dela podem entender esse toque mais suave como dor; quer dizer, eles podem confundir os estímulos.
Então, você vai ter uma boa desculpa para perguntar se ela quer um abraço de urso. Tá vendo? Tem seus benefícios!
Mais uma vez, isso não quer dizer que ela seja chata, só quer dizer que ela é uma pessoa sensível e a sensibilidade pode ser maravilhosa. Se vocês tiverem ambientes naturais ou se forem apreciar algo mais rico, como arte, música e sabores delicados, então pode ser realmente maravilhoso. E aqui vai o depoimento que a Simone deixa de um marido: "Olha só, ela tem um ótimo senso de paladar, e pode descobrir quais são os.
. . ".
Ingredientes de um prato: se eu gosto de algo que comemos em um restaurante, ela consegue reproduzir esse prato com facilidade. Então, aí tá vendo o benefício da sensibilidade; é uma detetive. Agora, o terceiro item é o seguinte: a sua namorada não veio com defeito de fábrica, então não tente consertá-la.
Simone disse: "Impressionante ver que a família tem filhos autistas. Às vezes, a mãe descobre que é autista também, mas o pai neurotípico ainda não leu nenhum livro sobre o assunto. " Então, é importante saber que a sua namorada ou a sua esposa tem características peculiares espectrais e talvez você ame justamente por isso.
Mas é crucial saber também que não existe cura para o autismo, simplesmente porque o autismo não é doença. Então, nós temos tratamentos excelentes para aliviar a ansiedade, para treinar uma série de habilidades, habilidades sociais, por exemplo. Mas o autismo se caracteriza justamente por uma necessidade de suporte, né?
Para que a pessoa faça uma interação mais funcional, uma interação social, e para que ela consiga administrar suas emoções. Ou seja, não é conveniente ter tendência a esgotamento físico ou esgotamento mental. Mas se a família não estiver consciente de que um autista precisa de tempo sozinha, de espaço para restaurar suas energias, o esgotamento (burnout) é quase certo.
Resumindo, então, não tente consertar a sua autista; prepare-se para estar ao lado dela e para facilitar as rotinas, de preferência sem criticá-la. Vou ler aqui o trecho que a gripe Simone deixa, né, do depoimento do marido. Então, no final do capítulo, ele diz: "Eu demorei um pouco para me acostumar com todas as diferenças e desafios, mas valeu muito a pena.
Ela é o amor da minha vida, ela é leal, é interessante, é inteligente e engraçada. " E é isso mesmo: as autistas costumam ser excelentes mães, excelentes esposas. Então, você fez uma boa escolha se apaixonar por um autista; parabéns!
Agora, o quarto item trata da necessidade de controle que as autistas tendem a ter. Então, ela pode parecer muito mimada, muito exigente ou muito mandona, porque a casa dela tem que estar conforme o que ela planeja. Às vezes, ela não dá conta nem de esperar o presente de Natal, porque as surpresas podem gerar muita ansiedade.
A autista também geralmente é aquela pessoa que perde o sono antes de viagens; quer dizer, mesmo situações alegres, atividades empolgantes, podem fazê-la perder o sono, e ela não se conforma com as coisas fora do lugar ou fica aflita de ver os objetos desalinhados ou fora do padrão. Por isso, né, as rotinas e os rituais também podem deixá-la bem mais tranquila. Então, o que você pode fazer a respeito disso?
O ideal é que a nossa autista faça terapia cognitivo-comportamental para ganhar mais flexibilidade mental. E claro, quem está por perto também pode ajudar muito; pode facilitar bastante a vida da autista se mantiver as coisas mais em ordem, se não constranger a autista quando ela apresentar algum tipo de mania, nem ficar apontando os erros ou as manias. Isso não deve ser feito.
Algumas pessoas gostam de quebrar os rituais dela também, de propósito, dizendo que é para ela ficar menos rigorosa. Bem, a intenção por trás dessa atitude pode até ser boa, mas o comportamento quase nunca é útil, porque você pode ser a pessoa em que a autista mais confia; então, quer dizer, é uma quebra de confiança. Então, como diz um marido aqui no final do capítulo: "Não mude as coisas muito drasticamente.
Se houver alguma mudança de plano, certifique-se de comunicar verbalmente ou, então, anote. O bloquinho de notas realmente funciona muito bem nesse caso. " Fábio, manter um relacionamento mais saudável.
O quinto alerta é: todo mundo é um pouco crítico, mas ela é melhor do que você nisso. Então, é comum que os autistas sejam super sinceros ou super honestos e, para os homens, isso não é muito chamativo, porque a cultura já aceita melhor a franqueza dos meninos. Mas se a mulher é muito transparente sobre o que ela deseja ou sobre o que ela pensa, isso pode ser um grande problema.
Por exemplo, em geral, as moças neurotípicas acham que precisam entrar em joguinhos de sedução e mostrar só eventuais sinais de que têm interesse em um compromisso mais sério. Aí elas não respondem as mensagens imediatamente disponíveis para um encontro, enfim, mas os autistas quase sempre dizem que foram elas quem pediram namorado em casamento. Isso pode dar certo, claro, mas elas podem também assustar e afastar os pretendentes.
E outro detalhe é que as meninas autistas costumam ser perfectionistas, então elas podem ficar extremamente frustradas com críticas em relação ao que elas fazem ou ao que elas falam. E por isso nunca critique a comida da autista, porque ela pode ficar muito sensibilizada. Não critique o trabalho dela diretamente, nem o português, nem a ortografia.
Só que é bem provável que ela goste de te ajudar nas suas tarefas; e isso é claramente o que ela faz melhor do que você. E isso não costuma ser por arrogância nem por maldade, não quer dizer que ela seja uma pessoa narcisista. Talvez, ela seja verdadeira mesmo, né?
Mas de um modo muito sincero. E aí vocês podem combinar como vai funcionar o relacionamento, e você, neurotípico, pode dizer que vai ajudá-la nas suas interações sociais, que ela, por sua vez, é muito bem-vinda para oferecer suas brilhantes sugestões em outras áreas. E vamos ao depoimento: "Eu namorei principalmente mulheres neurotípicas no passado.
Pode ser que você tenha que desaprender alguns hábitos com a mulher neurotípica. Você tem que pensar em uma segunda camada por baixo do que elas estão falando ou pensando e fazer um pouco daquele jogo de gato e rato" (aqui é um outro termo que eles usam em inglês), "mas a mulher autista é meramente franca. " Menos ato envolvido.
Então, não procure o subtexto do jogo, porque ele não existe; ele não está lá, e realmente é mais provável que autista seja transparente. A sexta recomendação é: entre no mundo dela. Os autistas costumam viver em uma bolha invisível.
Enquanto as pessoas estão conversando, brincando, fofocando em grupinhos, os autistas podem acabar se isolando muito durante as refeições de trabalho, por exemplo, ou essa atividade na escola. Às vezes, eles preferem se retirar para a biblioteca. Então, mesmo que ele seja participar de encontros ou celebrações, talvez eles declinem, afirmando que têm outros compromissos.
E, no caso, esses compromissos são todos conectados, né, ao seu mundo interno. Então, compromisso é continuar no seu mundo interno. Para namorar um autista, você vai precisar conquistar um pedacinho desse território, ou pelo menos fazer uma janela nessa bolha.
Como diz a Lurdes Simone, para que vocês tenham um ponto de contato. Pelo menos isso é extremamente saudável para o casal. Ou seja, como nós já conversamos aqui, né, você precisa respeitar o tempo do autista, obviamente, mas também precisa entrar um pouquinho nessa bolha e compreender os limites.
É muito importante até para que você ajude o autista a proteger as interações pouco saudáveis. Eu fiquei completamente atraído por sua inocência infantil, mas nem todo mundo entende isso, né, característica dela. Eu tentei explicar a ela simplesmente que, ao conhecer uma pessoa, ela não deve revelar muito, mas também não deve esperar muito, e que eles podem não compreendê-la, podem não ler os pensamentos dela, mas que ela também não pode ler os pensamentos deles, das pessoas neurotípicas, né?
E essas coisas levam tempo, e eu tenho que ajudá-la a se lembrar de que ela é sensível e de que, às vezes, pode se machucar nesses contatos. Então, é um marido que protege a sua esposa. Excelente!
Isso é o amor. O sétimo aspecto é que pode parecer que o hiperfoco da autista seja ela mesma. É bastante comum que os autistas entrem em monólogos sobre os seus interesses especiais, que, no caso dos meninos, podem ser dinossauros, planetas ou videogames.
Nas meninas, frequentemente, os hiperfocos estão relacionados à psicologia. Por exemplo, aí você pergunta como foi o dia dela, e ela dispara a falar tudo que aconteceu ao longo do dia, que ela precisou enfrentar desafios sociais como o trânsito e que o cérebro dela é diferente e conecta com as questões que aprendeu em psicologia ou neurociências. E como ela enxerga as coisas por uma perspectiva diferente, porque os neurotransmissores dela são liberados de forma diferente, que eles precisam estar em equilíbrio para que ela esteja calma, por aí vai.
E se ninguém interromper, ela não poliza os ouvidos da família. Isso fala sobre ela. Então, é importante saber que isso não é necessariamente um sinal de narcisismo.
Na verdade, esse é um traço clássico do autismo. A pessoa tende a ser autocentrada quando é autista, e, para melhorar o relacionamento, é só combinar que, quando ela fizer isso novamente, educadamente, irá interrompê-la e dizer que você também deseja compartilhar algo a respeito do seu dia. E, geralmente, elas compreendem isso muito bem, e elas se sentem envergonhadas, né, por não ter dado a devida atenção às suas histórias.
Isso mostra que realmente ela não tem um transtorno de personalidade, mas é importante ter paciência, porque, se por um acaso ela disser que não consegue escutar você naquele momento, talvez ela realmente esteja super sobrecarregada. E aqui nós temos mais um depoimento de um marido, afinal, do capítulo, e ele disse: "Eu acho que, às vezes, ela parece realmente muito egoísta, mas as autistas são egoístas por causa de uma necessidade de autopreservação, e é puramente para fins de sobrevivência, e não por razões ou interesses próprios. É muito mais profundo, em oposição ao superficial egoísmo que geralmente entendemos quando pensamos em um neurotípico.
" Então, nós temos que sair dessa mentalidade, né, de comparar autista com a pessoa neurotípica e chegar a um ponto realmente de aceitar isso como mais pura, sem que as nossas próprias inseguranças nos atrapalhem nesse relacionamento. Então, mais um depoimento bonito, né, sobre amor. Oitavo item é intitulado "Ela só precisa de um amigo", e você foi o vencedor.
Quer dizer, se você foi escolhido ou a escolhida para morar no coração da autista, provavelmente ela vai ficar muito, muito feliz de ter só você ao lado dela, né, de passar o tempo inteiro com você. E aí tem a parte boa e a parte não tão boa. Assim como vocês já sabem, as autistas têm uma tendência ao perfeccionismo e até uma certa compulsão.
Então, é como se elas fossem muito trabalhadoras, muito ambiciosas e cuidadosas, para não dizer obsessivas. E é provável que elas não tenham muito tempo livre. Mas elas costumam dizer que, se estão solteiras, preferem passar os finais de semana mais sozinhas, mais em casa mesmo.
Mas se elas estão em um relacionamento romântico, elas vão se sentir bem mais seguras com o seu amor. Isso é ótimo se a pessoa também gosta de ficar em casa, né, de ter essas atividades mais intimistas. Mas, se o namorado ou marido sempre quer ir jogar futebol com os amigos, se quer ter outras atividades mais externas, talvez ela não fique muito à vontade com isso.
E se ele não gostar de maratonar O Senhor dos Anéis pela milésima vez e de conversar sobre os detalhes da obra, isso também pode ser estranho para a autista. Mas, claro, é muito importante para que o relacionamento seja saudável ter uma conversa de casal e mostrar o que é necessário para cada um. E, se for importante para o marido ir a esses jogos de futebol, participar de jantares ou ter aqueles encontros lá da turma do maternal, que provavelmente a autista nem conhece ninguém mais e nem tem contato com ninguém, se isso for importante.
. . Para quem ela ama, é só combinar com antecedência e combinar também um sinalzinho na hora de ir embora, porque quando ela diz que precisa ir embora, acredite: é porque de fato ela precisa.
Ela já não consegue ficar mais naquele ambiente. E uma outra recomendação que a Simone deixa no livro é de explicar aos seus amigos que a sua namorada ou sua esposa ama estudar psicologia, que ela ama mais artes. Então, isso é aquilo que ela ama de paixão: o trabalho que ela tem.
Mas ela não tem paciência para conversar sobre o tempo ou sobre conversas superficiais. Então, por favor, não estranhe se ela for mais direta, se ela entrar em diálogos mais sérios. E aqui vocês precisam me dizer se vocês se sentirão à vontade com esse tipo de exposição, porque as opiniões são divergentes a respeito das tentativas de preparar os amigos para receber autistas.
Algumas das pessoas se sentem muito protegidas, muito amadas, felizes com essa conversa antecipada, mas outras se sentem, na verdade, traídas. Então, mais uma vez, nós temos aqui o depoimento de um marido, e ele diz: "Eu preciso estar com meus amigos. Ela tem que entender que os meus amigos são importantes para mim, tanto quanto a solidão é para ela.
" Então, nós prosperamos em coisas opostas, e uma não é mais válida do que a outra. Então, certo, indicou o direito dele de encontrar os amigos bem e com tranquilidade. Nós fechamos esse vídeo para não ficar muito longo aqui, e aí vocês vão me contar se querem conhecer os próximos capítulos.
E eu espero que o vídeo seja útil tanto para as autistas quanto para quem elas amam. Esse vídeo pode até evitar que elas tenham longas discussões sobre como o seu cérebro funciona. Então, por favor, curta o vídeo, comente aqui embaixo se os tópicos fazem sentido e, claro, compartilhe com os amigos.
Então, um grande abraço e até a próxima quinta-feira! Tchau, tchau!