DIREITO À PREGUIÇA

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Tempero Drag
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Video Transcript:
Ahhh! Imagina que inveja sente o Carluxo de saber que dá pra pôr a mão, tirar do lugar. Que, se abrir, vai ter página marcada, grifo, anotação.
E que, apesar de bonitos, a gente não usa eles pra decorar ambiente. A gente usa pra estudar, aprender, produzir reflexão e mudar o mundo. Espero muito que um dia ele aprenda.
. . a ler.
Bom, como você já deve ter visto em algum local desta tela o tema do vídeo de hoje é "O direito à preguiça". E eu peço atenção porque a gente vai fazer uma jornada aqui, elencar alguns textos e, no final, chegar no ponto que eu quero. Mas juntinhas a gente consegue.
Esse vídeo se pretende a estruturar três ideias: A primeira delas sendo essa dinâmica "descanso, trabalho" e o debate político que existe por trás dela, né? O perigo de despolitizar essa questão e de não olhar pra ela na sua historicidade. Não olhar pra ela no seu conflito de interesses de classe.
Aliás, aqui, no canal, a gente já produziu dois vídeos sobre o assunto. Eu não sei onde aparece, mas a Rochele vai me virar de ponta cabeça e me colocar sentada em cima do vídeo. Obrigada, Rochele.
Que é "O trabalho de novo" e "O futuro do trabalho". São esses dois que eu devo estar sentada em cima. Eu acho.
O segundo ponto, também, além dessa dinâmica "trabalho, descanso", é uma ideia perigosa de como a gente tem flertado com políticas higienistas. E como essas políticas higienistas, se a gente não se atenta pra elas, podem ser incorporadas pela nossa economia psíquica. E o higienismo pode se transformar em lei.
Contra nós, né? Como a gente tá acostumado aqui no Brasil. É tudo anti classe trabalhadora, etc.
E o terceiro ponto final, é uma ideia que eu pretendo chegar quando estivermos pra terminar o vídeo, que é um apontamento de como o neoliberalismo à brasileira, né, que flerta, que possibilita, que origina esse neofascismo, esse neonazismo que estamos vivendo subverte a lógica "trabalho,descanso", culpa a classe trabalhadora e se vale do debate pra alienar e despolitizar. Então, vamos juntas. Eu gosto de começar essa reflexão pensando na preguiça como motor da descoberta, do descobrimento.
E aí eu já vou explicar que a gente não precisa usar essa palavra que foi demonizada pelo cristianismo. Que foi transformada em pecado capital: preguiça. A gente pode pensar, por exemplo, em ócio criativo.
E em como, pros nossos trabalhos de reflexão, imaginação, criação, estar descansado é fundamental. Mas, se a gente quiser pensar a preguiça como motor da descoberta, existe uma ideia de que, talvez, a roda tenha sido inventada porque ninguém queria ficar carregando peso. A irrigação, né, automatizada, é uma forma de liberar o trabalhador desse trabalho fastigante de regar as plantinhas.
E o que que é o cultivo, né? O que que é a agricultura se não a preguiça de voltar a ser um nômade, de caçar, de coletar. Então, se você planta, você pode assentar, ficar mais tranquila, né?
Mas existe, aqui, um ponto E esse ponto, ele vai ser trabalhado num livro que, inclusive, é o título do vídeo que a gente vai trabalhar hoje. Já chego no livro "O direito à preguiça", do genro do Marx, tá? Cubano-francês, que casou com a Laurinha, filha dele.
Existe, aqui, uma ideia central que é a seguinte: à medida que as nossas tecnologias avançam, à medida que as nossas ciências avançam, né? Se bem que a ideia de avanço, ela é bem complexa. Mas, à medida que a gente vai tornando mais fácil a produção, ou que a gente vai tornando mais "eficiente" a produtividade, a gente trabalha menos e produz mais.
E como a gente já falou, aqui, em vários vídeos, já mostrou gráfico. . .
Vou deixar tudo listado na descrição do vídeo, como sempre. A nossa produtividade cresce. A gente consegue produzir cada vez mais, trabalhando cada vez menos.
Mas a nossa remuneração ou a nossa qualidade de vida, como classe trabalhadora que produz tudo isso sobre o que a gente tá falando, não acompanha essa alta de produtividade, essa melhora na produtividade. O que o capitalismo faz é imperialismo Ele vai apenas conquistar novos mercados pra essa produção. Então, o nosso tempo de descanso, ele não aumenta conforme a nossa produtividade aumenta E, aqui, tem um ponto interessantíssimo.
Existe uma outra subversão, né, capitalista dessa lógica é que, à medida que a gente tem mais tempo livre, a gente só dá um jeito de preenchê-lo com novas tarefas. Então, ainda que fosse possível ampliar o tempo de descanso, a lógica capitalista demanda que você use esse tempo pra produzir Então, a gente vai transformar o nosso lazer em produtividade. A gente vai se matricular em curso, a gente.
. . inclusive, já falamos, aqui, isso no canal, né?
Como as nossas vidas viram concursos e competições de produtividade. E existe, aqui, um debate muito interessante que tá colocado que é a lógica, é produto ou objeto e sujeito, produtor ou mestre e vassalo, ferramenta e operador da ferramenta, que o capitalismo consegue inverter, ou seja, agora, nessa época na qual estamos, você tem o seu smartphonezinho bla bla bla blu blu blu. .
. quando ele vibra, você corre pra lá E aí é quase como se ele fosse seu patrão Te avisando que horas você deve olhar, que horas você deve trabalhar, onde abrir, de que forma usar. .
. E nós nos tornamos servos a serviço das ferramentas que deveriam nos servir, né? Essa também é mais uma inversão proporcionada via capitalismo.
E olha só. Essa ideia que eu tô colocando aqui, não é uma ideia nova. Até aqui, eu tô explorando lugares comuns pra ir nivelando a gente nesse mesmo local.
Então, existe esse livro lá do mil oitocentos e oitenta e alguma coisinha desse genro do Marx, né, o Paul Lafargue, "O direito à preguiça". O título já é uma provocação porque, na época, a França tava com uma ideia e um entoamento político do direito ao emprego, do direito ao trabalho, né? Do direito da classe trabalhadora de ser explorada.
E o Paul vai falar: "Eita, péra, calma. Só um segundinho. A gente deveria estar lutando pelo direito ao ócio, pelo direito à preguiça, né?
" Lembra esses cartazes, que aparecem muito nesse ano passado que a gente viveu, nas manifestações políticas ao redor do mundo, na França também, aqui na América Latina: "Trabalhar menos, trabalharmos todos, produzir só o essencial e redistribuir tudo". Essas palavras de ordem, elas já estão organizadas como ideias nessa espécie de manifesto, né, nesse panfleto do Paul. É, "O direito à preguiça".
Então, ele vai admoestar, ele vai defender a ideia de que a gente não deveria estar lutando pra que todo mundo trabalhasse, tivesse. . .
sim! Mas pra que esse "todo mundo" se expandisse da classe trabalhadora, né? De que parasse de existir essa divisão de uma classe que trabalha e uma classe que acumula Uma classe que trabalha e outra que toma sua produção, faz dinheiro em cima dela, que detém os imóveis da cidade e você paga aluguel se quiser viver.
Que detém a produção da comida e você paga dinheiro se quiser comer. Que detém a produção da roupa e você paga dinheiro se quiser vestir. E quem produziu o alimento, a vestimenta, a moradia é o pedreiro, a costureira, a cozinheira, né, o agricultor.
Mas eles são tomados das suas produções. Então, essa também é uma ideia que a gente já tá trabalhando, há muito tempo, dentro da Teoria Marxista, dentro de uma perspectiva materialista da política e da realidade. A ideia de que o povo vai trabalhar é de como fazer o sujeito sujeito outra vez e tirá-lo dessa posição de objeto produtor de outros objetos A gente tem poetas que falavam sobre a importância do idílico, né?
A importância de contemplar, de pensar, de descansar. A gente tem grupos religiosos que chegaram a essa ideia. Então, os judeus têm o "shabat", esse dia onde está proibido trabalhar, né?
Que, segundo a mitologia deles, depois que eles são libertos como servos do Egito, Deus os teria agraciado (concedido) com esse dia sem trabalhar. Pra eles lembrarem da importância do descanso, do ócio, da preguiça. Os filósofos, né, falam sobre como o trabalho se torna uma força - quando levado dessa forma, né, que o capitalismo vai se apropriar dela - uma força destrutiva do ser, né?
E se a gente quiser voltar lá na Grécia Antiga, né? O Liceu, do Aristóteles, ele é pros homens livres. Pensar, refletir, ponderar política, discutir os rumos do futuro, são coisas concedidas não à classe trabalhadora da época, né?
Não aos escravizados, mas aos homens livres detentores de posses. A interessante subversão que o capitalismo faz com essa lógica é que, agora, nada resguarda suas condições básicas de sobrevivência, né? Então, quando a gente pensa nessa dinâmica do "pater familias" e, né , desses patrícios detentores de tudo, e das populações que foram sendo escravizadas lá na Grécia Antiga, a gente tá falando de um certo senso de responsabilidade.
Quando a gente tenta pensar, por exemplo, o feudalismo, o senhor feudal, o suserano e o vassalo, existia uma relação de responsabilidade, de proteger, de garantir, sei lá, alimento, moradia e que os nossos tempos vão destituindo por completo. Quando a gente tá pensando a nossa vida hoje, é você por você mesmo, né? E os advogados do Estado mínimo de que ninguém tem que garantir nada, de que você tem que lutar pra isso.
Eles estão nessa mesma linha, se você não garantir pra você, ninguém vai. "Se vira aí, moçada. " O problema é que essa lógica tem dois problemas estruturais, A primeira delas é esse, que a gente já debateu nos vídeos, de como os sujeitos perdem a função de sujeitos e viram meros objetos, né?
Eles primeiro precisam produzir pra depois usufruir. Eles primeiro precisam produzir pra depois ser. Então, pra fazer um piquenique no parque, primeiro você tem que comprar as coisas de fazer piquenique no parque.
Pra dançar música, pra abraçar, pra jantar, primeiro você tem que se configurar como produtor dessas coisas ou comprador dessas coisas. Se não, você não tem acesso. Se não, você não existe.
Tô deixando, aqui na descrição do vídeo, um artigo da professora Rosane Lustoza, sobre o discurso capitalista, do Marx até o Lacan. Muito fácil de ler, muito curto e muito importante. Gostaria que vocês lessem.
Ai, até materializei, aqui, minha caderneta de anotações, menina, porque, agora, a gente vai pro livro do Paul Lafargue, "O direito à preguiça", e vai ler algumas passagens pra discutir a atualidade delas. Olha só. "Se a redução miserável de duas horas aumentou a produção em quase um terço, em dez anos, que velocidade não seria dada à produção, via uma limitação legal do dia de trabalho, a apenas três horas.
" A gente já discutiu esse conceito aqui nos vídeos, de como a gente poderia estar vivendo em outro mundo Se as taxas de lucro não fossem o interesse principal de uma classe, né, manter seus privilégios e fazer com que as outras classes se exauram de tanto trabalhar. "O trabalhador tem de entender que através de se exaurir de trabalhar eles exaurem sua própria força e aquela dos seus filhos. Eles são consumidos muito antes do seu tempo chegar de estarem inaptos ao trabalho.
E que, absortos e brutalizados por este vício, deixam de ser homens e tornam-se pedaços de homens. Que eles matam em si todas as suas belas faculdades e não deixam nada florescer além da loucura furiosa por mais trabalho. " Eu tenho uma amiga que fala que quando não está trabalhando carrega pedra, né?
E fica a provocação para que a gente, que é classe trabalhadora, que não consegue acessar o mundo não sendo através de ser explorado e trabalhar, pense em como mais de cento e tantos anos depois da publicação da obra, isso ainda é real porque o modo de produção não se alterou só se agravou, né? A gente só problematizou, só intensificou as taxas de exploração. Então, como a gente ainda está nesse lugar que, fora do trabalho, a gente pensa em outras formas de trabalhar, pra poder fazer dinheiro, pra poder permanecer vivos e vivas.
"Se a classe trabalhadora se conscientizasse do seu poder, não em demandar o direito ao trabalho, que é o direito à miséria, mas em proibir os homens de trabalharem por mais de três horas por dia, a Terra viraria um novo universo tremendo em prazer. " Peguei essa parte só porque eu gosto do prazer. Não, tô brincando, gente.
Eu estou, aqui, pontuando esse direito à preguiça porque eu vou chegar nesse ponto em como essa discussão é central pra nossa temporalidade. A gente acabou de passar um período de (abre tooodas as aspas) "férias", né? Que é o fim do ano, né?
Só que também a gente precisa perguntar "férias pra quem? ", né? Porque é férias se você está estudando, se você tem vida escolar, se você tem carteira assinada, se você tem a possibilidade.
Porque acabou, né? As reformas neoliberais destroem a possibilidade de férias, né? Então agora você tira férias se você juntou dinheiro suficiente pra isso e pode se manter sem receber durante as férias.
Caso contrário, trabalhar e tirar férias se unem numa coisa só. Que se transforma a capitalização da nossa preguiça, a capitalização do nosso ócio, a capitalização do nosso tempo de descanso. Vou chegar à discussão final através de elencar dois exemplos.
O primeiro deles é de como a pandemia, né, e a crise financeira agravada pela pandemia de coronavírus, se não for historicizada e politizada, caso a gente não politize o vírus e a discussão do vírus, a gente pode cair numa armadilha higienista. Então, eu gostaria de ler com vocês trechos do prefácio do Chrtistian Dunker, para o livro do Slavoj Zizek, sobre a pandemia. É esse livrinho aqui, da Boitempo,"Pandemia: a reinvenção do comunismo", do Zizek.
Eu acho que a frase principal é uma quando o Zizek diz o seguinte: "O mundo parou. E, agora, nós precisamos parar o mundo pra evitar o pior" Ou seja, esse momento no qual a gente vai ter que ser forçado a escolher "ou permanecemos vivos ou salvamos a economia " (a gente já fez um vídeo aqui no canal sobre isso "A arte depois do Coronavírus") Então, quando a gente chega nesse absurdo do discurso neoliberal, a gente vai ter que escolher ou salva a vida ou salva a economia. O que que é mais importante, o que que é mais válido.
Quando a gente chega nesse lugar, a gente precisa entender que se a gente não transforma isso num ponto de inflexão e luta contra isso, o que vem depois disso é muito pior. Porque a gente vai passar uma linha de desvalorização das vidas humanas nova pro nosso tempo histórico. Mas vamos à manobra higienista da pandemia.
O Christian Dunker nos diz o seguinte: "Ao contrário de outros países, a epidemia nos atravessa em meio a uma crise econômica e uma divisão social organizada pela gramática paranóica da produção de inimigos, da autopurificação e do higienismo anticorrupção. Hábitos de higiene e limpeza como, lavar as mãos, espirrar com proteção, usar máscaras, são muito bem-vindos e necessários. Neste momento, eles ganham nossa simpatia para se transformar em uma máxima com força de lei.
" E, aqui, tem essa armadilha higienista. Quando, através de um discurso paranoico de "eu e o outro", o outro que me gera problema, que me persegue, né? O negro, a mulher, o imigrante.
. . A gente chega numa lógica de que a sujeira do outro precisa ser extirpada, proibida, trancafiada, apagada, né?
Logo, logo vocês vão entender do que que eu tô falando e porque que esse vídeo vem após um período de "férias". "Quando este outro tem um semblante definido, como, por exemplo, chinês, comunista, inimigo. Tudo se ajusta a um cálculo neurótico de gozo.
Ocorre que a nossa gramática bolsonariana de gozo não esperava era que existisse um terceiro na equação. Nesse caso, a economia do entrave do gozo sai de controle. Não porque ela seja determinada por um vírus que advém do Reino da natureza, mas porque é de cunho profundamente antiparanoico que algo nos persiga sem que isso se reduza aos nossos inimigos habituais: os estrangeiros, os judeus, os negros, as mulheres, os quilombolas, os pobres, os quejandos.
" E a nossa melhor parte: "O Coronavírus parece ter posto à luz a verdade latente em nossa forma de vida neoliberal. É preciso acelerar sempre. É impossível parar.
Quem está contra o mercado é comunista. Queremos o Estado mínimo. " E a opção final: "Vida ou economia?
Mas onde estão os argumentos neoliberais agora? Como se lida com uma peste à moda neoliberal? " Esse livro foi escrito lá no início, né?
Resta contar que, aqui no Brasil, é com mais de 200 mil mortos A gente tem vídeos no início do canal, enquanto eu documentava quantos mortos a gente tinha, por semana, no Brasil. E eles vão escalonando de 5, pra 15, pra 60, pra 100, pra 120. E, agora, no começo de 2021, a gente chega à marca de mais de 200 mil pessoas mortas por uma ineficiência e ineficácia planejada política.
Pela ausência de política pública que garanta a possibilidade das pessoas ficarem em casa, através de renda cidadã, através de renda mínima. Através de um projeto político que permitisse que fosse possível fazer uma quarentena. E é nesse cenário que a gente precisa entender e discutir o óbvio, que é mascarado por uma ideologia neoliberal.
Que as nossas vidas não valem nada nesse regime. De que se você "puder" se proteger, você sobreviverá. Agora, se você não puder, o azar é seu.
Se você estiver constantemente exposto ao risco de contágio, num trem lotado, num ônibus, num espaço fechado, num trabalho sem nenhuma garantia de saúde, o azar é seu. É assim que a economia se configura. É assim que se joga o jogo do capitalismo.
E se por um acaso, você quiser descansar. Se por um acaso, você quiser ir à praia. Se por um acaso, o único jeito de sobreviver dessa classe, espremida, arrochada, for se encontrar no Natal, você virou um vilão.
Então, percebe, como fazer essa discussão apelando pra uma lógica moral, despolitiza o debate? Percebe como, transformar em culpado o carteiro, o entregador de aplicativo, a moça da limpeza, que, no final do ano, se reuniu com os familiares pra tentar aguentar o ano que vai se seguir, é vilanizar essas pessoas como: "Meu Deus, elas não ligam pra…" Não é possível! Materialmente possível que elas liguem pra pandemia.
Porque a gente não tem um Estado que faça isso possível. Porque a gente não tem um planejamento econômico que faça isso possível. E é interessante que a gente pense como a China lidou com a questão.
É interessante que a gente pense como o Vietnã lidou com a questão. E como esses lugares que têm pla-ne-ja-men-to econômico lidaram com a questão. E, aqui no Brasil, a gente tem um despresidente que compra cloroquina superfaturada sem nenhuma questão, via Exército, e que, na hora de comprar seringa e agulha, diz que vai esperar os preços voltarem ao "normal".
Esse segundo exemplo que eu precisava trazer aqui é uma página de memes que eu adoro, do Instagram, "o centralismo democrático é top" Ó, vai aparecer aqui. Que é administrada pelo Leandro. E ele faz memes que permitam refletir.
Tô deixando, aqui na descrição do vídeo , um meme que ele trouxe, um videozinho que ele trouxe é de uma rixa de liberais, né? E aí tem uma rima que eu gosto muito, uma rima de criança, de menina, que aprendi ainda no maternal, Ai, me esqueci como era. Sabia tanto, usava tanto quando menina.
"Rixa de liberal, mostra o c* que eu mostro o. . .
" Mas, enfim. E aí a gente tem dois liberais argumentando o seguinte, que é execrável que os pobres tenham se amontoado em Praia Grande. E aí, um dos debatedores vai falar "execrável?
Péra. . .
deixa eu entender" Esse "pobre execrável", ele. . .
E, atenção gente, eu não tô falando do Carlinhos Maia, que faz festa pra dezena de milhar de pessoa, que contagia a classe trabalhadora que vai trabalhar. . .
Não! Não tô falando disso. Não tô falando de dondoca e dondoco que vai pra Angra, que vai pra Trancoso, vai pra Fernando de.
. . Não tô falando disso, gente.
Eu estou falando dessa classe super explorada que nunca teve a possibilidade material de se proteger. Eu tô falando de uma classe que não tem banheiro pra lavar a mão e que, no fim do ano, se reúne. E que, quando tem a possibilidade.
. . Porque a gente teve um ano marcadamente miserável, de ascensão do número de famílias em situação de miséria.
Que, quando muito, tem a possibilidade de caminhar, de se dirigir até o litoral, pra ter algum descanso. E aí, através de uma despolitização do debate, - Sabrina Fernandes trabalha isso muito bem no "Sintomas mórbidos" - através de uma pós-política, essas pessoas vão ser culpadas pelo que elas estão fazendo. Sem que a gente, de novo, transforme isso num debate histórico, num debate político, sem que a gente olhe as condições materiais que vão fazer a crítica possível, né?
Eu tava morrendo de saudade de voltar a fazer vídeo pra poder elogiar o trabalho dos meus amigos. Então, falei do "Centralismo democrático", mas o Jones Manoel, e, ele, nesse vídeo ele cita muita a Sabrina Fernandes, fez um vídeo bacana sobre o perigo de despolitizar esse debate. Tô deixando também linkado, aqui, na descrição do vídeo.
A questão é que, muito me assusta ver nas redes sociais, o debate ser conduzido por essa via. Achando que seria possível controlar uma pandemia via apelo moral e individual, né? Jogar esse jogo é exatamente jogar o jogo do discurso neoliberal que faz com que apenas haja o sujeito e ignore a função do estado.
Que faz com que apenas haja um sujeito e sua subjetividade, sua liberdade e ignora que, numa questão de pandemia, não existe individualidade. A gente deveria estar zelando pelo coletivo, né? Porque o vírus não é individual.
O vírus ataca a coletividade. Então, o encerramento é tentar alicerçar esse tripé. De entender como as nossas dinâmicas "trabalho, descanso" vão sendo subvertidas em "trabalho, trabalho".
Em como a possibilidade de um discurso higienista, que transforma o outro em problema, o outro em sujeira e que culpa o outro por ter se reunido com a família no Natal, sendo que esse outro esteve o tempo todo reunido no transporte público superlotado, nas más condições de trabalho, na impossibilidade de ter acesso a álcool. . .
Gente! "Álcool em gel" um cara**o, né? A gente está falando do Brasil onde o saco de arroz chegou a custar mais de 40 reais!
Então, se a gente não politiza o debate, a gente não faz o debate. A gente fica discutindo perfumaria, né? E, por fim, essa terceira ideia de que esse higienismo aliado a essa política de "trabalho, trabalho", resulta num discurso neoliberal neofascista de que os indivíduos são culpados pela pandemia.
Sendo que a situação que a gente tem visto nos Estados Unidos, no Brasil, em lugares da Europa, inclusive lugares que o Bolsonaro queria copiar, né? Que não tomaram medida nenhuma pra contenção do livre fluxo, do ir e vir das pessoas… estão enfrentando números de mortos iguais a números de guerra. Só que essa guerra que a gente trava é contra a pós-política.
É contra uma ideologização do mundo que não nos permite olhar para a totalidade e pra raiz desses problemas. Bom, é isso. Indiquei muito material, tá tudo listado aqui: os vídeos, os livros, os artigos.
Espero que vocês leiam. Espero que vocês politizem os debates de vocês. Que vocês sigam esses camaradas maravilhosos produtores de conteúdo.
E que a gente se veja, aqui, semana que vem. Tá bom, meus anjo? Se protejam!
No plural, tá? Via luta política. Um beijinho.
Tcha-aau!
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