Não é de hoje que as montadoras de carros chinesas têm expandido seus negócios aos quatro cantos do mundo. No Brasil, algumas marcas como Chery e JAC Motors já são familiares pra boa parte dos motoristas. Aliás, esse fenômeno não tem acontecido somente no mundo das quatro rodas, na verdade é muito comum ver produtos de marcas 100% chinesas, como Xiaomi ou Huawei, se popularizando em vários países ao redor do mundo.
Mas uma montadora chinesa parece estar elevando a indústria automotiva chinesa ao próximo nível: a BYD, “Build Your Drams”. Apontada como a próxima Tesla, a empresa tem atingido marcas impressionantes, se tornando uma das empresas de veículos mais valiosas do planeta, além de ter tudo pra batalhar com a Tesla frente a frente pelo mercado de elétricos. Um absoluto sucesso na China, ela também já tá presente em diversos países, incluindo o Brasil.
A BYD tem a proposta de oferecer carros totalmente elétricos de qualidade, mantendo um preço consideravelmente abaixo dos seus concorrentes. E não é de se espantar que a montadora tenha apostado em veículos elétricos, já que a empresa surgiu ainda nos anos 90, e antes de entrar no ramo de veículos, sua especialidade eram justamente as baterias elétricas, como as de íon de lítio. Hoje, a BYD não somente é uma das maiores empresas do ramo de energias limpas, como sua aventura no setor automotivo já foi capaz de superar até mesmo alguns números da gigantesca e consagrada Tesla.
Mas a jornada da BYD não tem sido fácil, e uma série de controvérsias rondam a empresa, tendo sida acusada até mesmo de usar trabalho forçado na produção dos seus carros, além de ter tido a qualidade de seus modelos questionada inúmeras vezes. Só que os números não mentem, e o fato é que a BYD parece estar no caminho pra conseguir o que as montadoras tradicionais ainda não conseguiram: dominar o mercado de elétricos. Então se você nunca ouviu falar da BYD, tá na hora de conhecer um dos maiores casos de sucesso da indústria automotiva chinesa, e entender por que, apesar de todos os problemas, a BYD segue crescendo e pode dominar o mercado, superando até mesmo a Tesla.
A Indústria de carros elétricos da China é a maior do mundo, e atualmente, corresponde a incríveis 60% da produção em massa de veículos elétricos. Segundo dados mais recentes de 2021, o país asiático exportou quase meio milhão de carros elétricos, graças ao aumento das vendas em países da Europa e Sudeste Asiático. Mas na verdade, a história da China com os veículos elétricos não começou com carros, e sim sobre duas rodas.
Na década de 1990, motos e bicicletas predominavam nas ruas do país, especialmente as scooters movidas a gasolina. Lá as bikes elétricas já existiam desde a década de 80, quando algumas empresas desse tipo de bicicleta se instalaram nas cidades de Xangai, Zhejiang e Tianjin, mas a tecnologia delas ainda era insuficiente pra atender às necessidades de locomoção nas grandes cidades, já que a sua bateria tinha uma vida útil muito curta — e além do mais, seu custo era elevado se comparada a uma scooter. Com o desenvolvimento da tecnologia, nos anos 2000 o país vivenciou um boom de bicicletas e motos elétricas, incentivado pelo governo chinês, que barateou o custo desses veículos visando aliviar o trânsito caótico nas cidades e diminuir a emissão de gases poluentes – um problema visível a olho nu na China.
Os veículos de duas rodas trouxeram uma experiência à China que favoreceu o desenvolvimento de carros elétricos, que também receberam incentivos do governo após a virada do século. Em 2009, a China — que já era a maior fabricante de veículos tradicionais do mundo — decidiu apostar também nos veículos elétricos, acelerando a produção e o desenvolvimento da indústria, por meio de programas governamentais. A estratégia tinha dois objetivos principais: impulsionar a indústria das cidades que recebessem os investimentos iniciais, e fazer com que seus habitantes aderissem aos veículos elétricos.
Pensando nisso, a China começou a oferecer subsídios às empresas locais a fim de fortalecer seu mercado interno, inicialmente focado na comercialização de veículos de passeio. Mais de 14 bilhões de dólares foram concedidos às empresas chinesas desde 2009 até 2020, além de uma série de isenções fiscais aos consumidores. Os investimentos diretos em empresas e infraestrutura resultaram numa aceleração da indústria de automóveis elétricos chinesa, que atingiu as taxas de crescimento esperadas ao longo da década.
Estima-se que houve um salto de 30% na demanda por elétricos, e somente em 2022, a China vendeu mais de 20 milhões de veículos de passeio elétricos. É claro que no meio de toda essa explosão de automóveis elétricos, algumas empresas iriam se destacar mais que as outras, e a BYD é uma delas. A marca até já é apontada para superar a Tesla , mas será que ela tem o que é preciso pra assustar Elon Musk?
A BYD é uma empresa chinesa com sede em Shenzhen, ainda pouco conhecida fora do seu país de origem. Mas recentemente a fabricante tem ganhado os holofotes por um motivo mais que suficiente: a concorrente asiática ultrapassou a Tesla e já é considerada a maior fabricante de veículos elétricos do mundo em número de vendas. Foram mais de 640 mil carros elétricos vendidos ao redor do globo em 2022, enquanto a Tesla de Elon Musk vendeu “apenas” 564 mil.
A história da BYD começa lá em 1995, quando Wang Chuanfu fundou a companhia que inicialmente fabricava baterias recarregáveis. Anos depois, sua produção foi diversificada e a empresa passou a comercializar baterias para aparelhos eletrônicos celulares e pra módulos de energia solar. Mas a companhia só entrou de vez no ramo automotivo em 2003, quando a China começou a apostar todas as suas cartas no desenvolvimento de carros elétricos.
Tudo começou quando a BYD comprou uma grande fatia da Xi’an Qinchuan Auto Company, uma empresa estatal chinesa de automóveis que enfrentava problemas financeiros. A princípio, ninguém colocava muita fé em carros movidos a bateria elétrica, mas Wang Chuanfu os via como uma oportunidade pra BYD, já que sua empresa se consolidou justamente no ramo de baterias. Só que seus investidores não gostaram muito da ideia e derrubaram as ações da empresa, que passou por algumas dificuldades e só retornou com os elétricos seis anos depois, em 2009, quando o governo da China pediu que fossem produzidos mil ônibus elétricos para a província de Hunan, como parte daquele programa de investimentos pra impulsionar a indústria de elétricos local.
Depois disso, em 2012, a BYD começou a investir em Pesquisa e Desenvolvimento de veículos pesados movidos a eletricidade, sendo uma das primeiras a se aventurar no ramo de caminhões elétricos. A companhia já entregou mais de 13 mil caminhões elétricos em países como Estados Unidos, Canadá, Brasil e Austrália. Enquanto a Tesla investiu em produzir carros de luxo num mercado agressivo e altamente competitivo, a BYD seguiu o caminho contrário: focou seus esforços no mercado local, principalmente com veículos utilitários.
A grande vantagem dessa estratégia é que a China já é um dos maiores mercados de venda de veículos do mundo. A companhia acredita que a China, se continuar investindo em pesquisa e concedendo subsídios às empresas que desejam se desenvolver, estará pronta pra dizer adeus ao carro convencional em 2030. Mas apesar do seu sucesso no país asiático, a BYD busca constantemente oportunidades em países do exterior, especialmente aqueles que ainda estão em desenvolvimento.
Além das economias emergentes, países da Europa também têm pressa em eliminar veículos movidos a combustíveis fósseis, graças ao acordo da União Europeia de banir carros movidos a gasolina e diesel a partir de 2035. No Brasil, a BYD chegou em 2017, quando inaugurou sua primeira fábrica de ônibus 100% elétricos, em Campinas, estado de São Paulo. Os ônibus elétricos produzidos em solo brasileiro têm autonomia de bateria de 250 a 300 km, o que possibilita que circulem pelas cidades boa parte do dia e sejam recarregados apenas à noite.
Mas os planos da BYD pro Brasil são bem mais ambiciosos: a companhia quer dominar o mercado brasileiro de veículos elétricos, que é praticamente inexplorado. A marca já possui 5 modelos à venda no país desde 2021, são eles: Han, Tan, D1 e Yuan Plus e o híbrido plug-in Song. A marca chinesa está negociando com o governo da Bahia para assumir as fábricas do complexo da americana Ford, que anunciou o fim da produção no Brasil em 2021.
O plano inicial é que a BYD invista cerca de 3 milhões de reais pra abrir novas fábricas em solo brasileiro, e começar a produzir carros de passeio 100% elétricos até 2025. A corrida da BYD no Brasil pra se tornar a primeira montadora de veículos 100% elétricos está só começando, e ao que tudo indica, a Chery, outra marca chinesa, é uma forte concorrente — que já tem a confiança de alguns consumidores brasileiros pelos seus modelos movidos à gasolina, mas também promete em breve se inserir na disputa pelos elétricos. Os números não mentem e a BYD tem se superado a cada novo ano.
Na China, a montadora tem feito história e dado largos passos rumo ao futuro dos carros elétricos. A companhia tem superado até mesmo a má-fama que a indústria de elétricos chinesa possuía no passado. Muitos diziam que a China fabricava carros elétricos de baixa qualidade, justificando a fala pelas altas taxas de recall, que às vezes ultrapassavam os 10%— o que, por muito tempo, foi motivo de resistência pra alguns consumidores mais exigentes.
Mas assim como a indústria chinesa em geral vem virando a página, a BYD não fica atrás quando o assunto é satisfazer consumidores. A maioria de seus clientes está no próprio país de origem, que atualmente é um mercado vasto e que continua em expansão. No país mais populoso do mundo, com quase 500 milhões de motoristas licenciados, a BYD aproveitou o aumento da popularidade de veículos elétricos e cresceu junto com eles, oferecendo uma relação de custo e benefício muito mais atrativa que as outras montadoras.
E mesmo que o seu forte não seja potência e desempenho, em cidades superpopulosas onde o trânsito quase sempre é caótico, como Pequim e Xangai, um carro que atinge altas velocidades em segundos não faz muita diferença. Um dos modelos da BYD mais vendidos por lá, o sedan Han, custa em média dólares, quase 18 mil dólares a menos do que o modelo mais básico da Tesla, o Y. Além das vantagens de preço sobre a concorrente, a BYD também fabrica a grande maioria das peças utilizadas em seus veículos, e quando precisa de fornecedores, a maioria deles também é chinês — o que possibilitou que ela continuasse produzindo durante a pandemia, a mesma que obrigou várias montadoras a fecharem as portas por causa da escassez de peças.
A Tesla, por exemplo, foi obrigada a suspender sua produção na gigafábrica em Xangai por falta de peças, deixando de produzir cerca de 2 mil carros por dia. E pra qualquer empresa automotiva, perder vendas no mercado chinês pode gerar muito prejuízo, já que o país é o maior mercado de elétricos do mundo, com mais de 30% de veículos elétricos registrados. Mesmo assim, apesar de todo crescimento registrado nos últimos tempos, a BYD enfrenta uma onda de processos que podem manchar sua imagem e deixar o consumidor em dúvida quanto à qualidade dos seus veículos.
A indústria automotiva chinesa superou um passado ruim, onde seus carros viraram motivo de piadas por não entregarem qualidade e serem muito frágeis. Além disso, algumas empresas foram acusadas de fraude e roubo de projetos de outras marcas, o que resultou em alguns modelos muito semelhantes aos de montadoras americanas. A BYD revive parte dessa história e foi acusada de copiar projetos de modelos da Toyota e da Mercedes Benz, como o modelo F1, que foi diretamente comparado ao Toyota Aygo, por ter um design quase idêntico ao do compacto japonês.
Além das acusações de roubo de design, a BYD também foi acusada de receber, indevidamente, subsídios de programas do governo chinês pra produção de 600 ônibus elétricos, que na verdade, nunca foram entregues. A história foi revelada após um gerente de duas concessionárias da BYD tirar a própria vida porque seus negócios andavam altamente endividados, e que suas concessionárias tinham sido usadas pela BYD pra conseguir pagamentos de veículos que nunca foram produzidos. Em 2020, a BYD chegou a processar a agência de mídia VICE por difamação, após a agência publicar um artigo afirmando que a fabricante chinesa teria usado mão de obra Uyghur em trabalhos forçados na sua cadeia de produção.
Cabe dizer que os Uyghur são uma etnia oprimida pelo governo chinês, e não faltam relatos de campos de concentração e campos de trabalho forçado pra onde eles são enviados, fazendo dessa uma acusação muito séria. A BYD afirmou que a história da VICE não tinha nenhum fundo de verdade, e que a agência na verdade só queria lucrar com a atenção. A empresa também sofreu com problemas de poluição em uma de suas fábricas.
As alegações surgiram pela primeira vez em meados de abril de 2022 em um site pertencente ao jornal estatal People's Daily. Mensagens deixadas por pessoas que moravam perto da fábrica diziam que as emissões da planta fabril tinham um odor forte, irritavam a garganta e provocavam sangramento nasal nas crianças. A mídia local informou que os moradores se reuniram no portão da fábrica de Changsha para protestar e pedir que a empresa resolvesse o problema.
Clientes da fabricante também pediram às autoridades que expandissem um recall de substituição de bateria depois que eles e outros questionaram por que a BYD instruiu os revendedores a substituir as baterias de seus carros mesmo eles não estando sujeitos ao recall. Embora eles saíram ganhando com isso, os clientes disseram que queriam que a BYD fosse mais transparente. Mas mesmo diante de escândalos e acusações graves, a BYD mantém-se forte num mercado que cresce e atrai concorrentes.
A empresa, que registrou lucro de 788 milhões de dólares no terceiro trimestre de 2022, segue apostando em uma gama de produtos mais ampla que a de seus rivais — sejam eles originais, ou não. Até mesmo o CEO da fabricante de elétricos mais conhecida do mundo, e atualmente a fabricante de veículos mais valiosa do planeta, reconheceu o potencial da indústria de elétricos chinesa. Elon Musk afirmou recentemente que o próximo grande rival da Tesla vai vir da China.
Estaria Musk prevendo uma batalha épica entre a Tesla e sua prima chinesa, a BYD? Agora me conta, o que você acha? Comenta aqui em baixo.
Se você quer descobrir como eu produzo esses vídeos aqui e como você pode criar um negócio contando histórias, confere uma aula grátis no primeiro link da descrição, ou apontando a câmera do seu celular pro QR code que tá na tela. E pra descobrir a Tesla não só enfrentou a pandemia mas se beneficiou dela e se tornou a montadora de carros mais valiosa do mundo, confere esse vídeo que tá aqui na tela. Aperta nele que eu te vejo lá em alguns segundos.
Por esse vídeo é isso, um grande abraço e até mais.