Considerações sobre o inquérito do golpe

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Bruna Torlay
Leia o índice da edição nº 62, dezembro/2024: https://revistaesmeril.com.br/leia-nesta-edicao%e4%b8%...
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[Música] Olá, sejam todos bem-vindos. Eu sou Bruna Torlai, professora de filosofia. Estudei durante muito tempo filosofia política, em especial todas as reflexões da modernidade sobre a política, e nós somos herdeiros da modernidade; nós vivemos a modernidade. Portanto, eu percebo que, muitas vezes, por falta de uma certa cultura geral a respeito de como funciona a política na modernidade — e eu não digo se ela é boa ou ruim, mas como ela funciona — as pessoas acabam não sendo perfeitamente justas nas análises políticas. Eu percebo muitos erros e muitas distorções por parte de muitos jornalistas, tanto
jornalistas à esquerda quanto jornalistas à direita. Quando saiu o relatório sobre o 8 de janeiro, sobre todo aquele movimento em torno do silêncio do ex-presidente Jair Bolsonaro, quando ele perde as eleições e seu entorno começa a pensar em alguma forma de ação, muitas pessoas vão para as ruas para dizer: "Não, nós não acreditamos no resultado das eleições. Vamos fazer algo." Quando acontece aquele movimento em 2022, eu me pronunciei. Na época, eu fui radicalmente contra, eu disse que simplesmente as pessoas estavam fazendo papel de idiotas e que era melhor elas irem para casa porque estavam sendo
usadas numa operação psicológica, na qual elas tendiam a se dar muito mal, porque a ponta mais frágil nos jogos de poder sempre são as bases — aquilo que a gente chama de eleitorado, mas mais especialmente o não eleitorado. A militância: eleitorado é algo amplo, envolve todo mundo que fala: "Tudo bem, deixa eu escolher o menos pior aqui", mas militância são aquelas pessoas que realmente se engajam na defesa de um grupo político. Uma parte da militância, nem toda, uma parte da militância, quando foi para os quartéis em 2022, eu gravei um vídeo cujo título era "Tomem
vergonha na cara", avisando que a melhor coisa que as pessoas tinham a fazer era cuidar das vidas delas e parar de colocar a política no centro das vidas, que elas iam se dar mal. Bom, poucos meses depois, todo mundo viu o que aconteceu. Não estou aqui querendo brincar de "Ai, puxa, olha como eu adivinhei", porque não é uma questão de adivinhar. É uma questão de você entender e compreender como é que a política moderna funciona. Na política moderna, nós, eleitores, somos parafusos, somos porcas, somos pecinhas menores necessárias para fazer girar um grande maquinário mega complexo,
cujo casco são isso que a gente chama de instituições e cujo interior, cujo motor, é um aparato. Essa construção tem muitos séculos. Então, o Estado moderno começa a ascender. A ascensão do Estado moderno começa no século XI, passando pelo XIV, vamos lá, vai XIV, XV, XVI, é uma época importante. Mas já no século XVI, nós temos o método do golpe de estado e do segredo instituídos na prática política moderna, e por golpe de estado, eu me refiro àquilo que Nod, na obra "Considerações políticas sobre os golpes de Estado", chama de aquelas atitudes tomadas a portas
fechadas pelos políticos, quando eles entendem que é preciso ignorar as leis. E, quando ele se refere às leis, ele está falando daquilo que é considerado decente pelos costumes, não apenas legislação positiva, mas tudo aquilo que é considerado ente; ou seja, a moralidade geral. É preciso, às vezes, dar uma atropelada na moralidade geral para salvar o Estado. Essa é uma obra super importante; nós não temos tradução dela em português ainda. Eu estou trabalhando para resolver esse problema, porque ela é importante. E se nós não compreendemos essa teoria dos golpes de estado do Gabriel, fica muito difícil
a gente entender o que todos os cientistas políticos, os pretensos cientistas políticos, chamam de jogo político e o que todos os comentadores ficam buzinando na orelha de vocês com muito pouco distanciamento. Então, quando saiu o inquérito do golpe, o inquérito do 8 de janeiro, eu cheguei a gravar um vídeo para postar no YouTube, mas eu falei: "As pessoas vão entender da maneira como eu gravei aqui, vão atribuir a mim algo que eu não estou pensando. Eu só estava fazendo uma análise." E aí eu esperei um pouco e tudo que eu tinha a dizer e tenho
a dizer sobre o 8 de janeiro e sobre o inquérito dessas 800 páginas que foi o assunto principal da imprensa no final do ano, tudo isso, tudo que eu tinha a dizer, eu sintetizei no editorial que eu escrevi para a revista Esmeril, do mês de dezembro, número 62 da revista Esmeril. Deixo aqui na descrição. Se você ainda não leu, leia. Mas eu resolvi fazer o seguinte: como eu sei que esse é um assunto que vocês gostariam de refletir da maneira mais justa possível, eu acho que vale a pena eu compartilhar com vocês aqui publicamente o
conteúdo desse editorial. O editorial é a única matéria, a única não, mas é a matéria realmente, a matéria de opinião que sai todo mês na Esmeril e eu sou responsável por ela. Nem todos os colunistas precisam estar de acordo, mas como eu sou editora-chefe, a minha opinião sempre está ali todo mês. Quando vocês abrirem o editorial da Esmeril, vocês vão, aos poucos, conhecendo a minha opinião, meu modo de analisar as coisas. Só que essa opinião é fundamentada e eu estou um pouco cansada de ouvir as bobagens que eu tenho ouvido. Veja, não é por arrogância
— não poderia ser, mas não é, no caso não é — é porque eu acho muito injusto que nós não analisemos o que foi toda a movimentação que culminou no 8 de janeiro, no contexto dessa lógica própria da modernidade, que é a lógica da razão de Estado. Que que é razão de Estado? É o cálculo político. Eu não sei se vocês lembram, na época da reforma da previdência, eu lembro Paulo Guedes indo até a câmara, brigando... Com os políticos: Olha o cálculo político que os senhores estão fazendo! Como dizendo: “Os senhores, para ser oposição e
travar um governo que não é o dos senhores, vão quebrar o país e vão ficar sem salário.” Vocês estão entendendo? Então, assim, o que é Estado? Cálculo político é aquilo que você faz com base no interesse de conservar poder, expandir poder, manter o poder. Uma oposição que percebe que o governo está propondo um projeto bom e vota contra o projeto está agindo assim movida pela razão de Estado, ou seja, cálculo político e razão de Estado têm a ver com o interesse de um grupo em conservar-se no poder, resistir ao avanço do adversário ou trabalhar paulatinamente
para conquistar o poder. Tem a ver com poder, não tem a ver com bem comum. É isso que importa vocês compreenderem. Eu tive um professor brilhante que estudou muito a razão de Estado, mas muito, era um social-democrata. Viu, a gente tem que ler todas as pessoas que têm honestidade intelectual. Esqueçam essa bobagem de “Ah, o cara é de esquerda, não tem nada a me ensinar”. Eu acho isso tolo! Isso é tolice. A gente precisa entender o seguinte: quem são as pessoas que têm algo a nos ensinar? Aqueles que têm honestidade intelectual, aquelas que realmente buscam
a verdade. Essas são as pessoas que têm algo a nos ensinar. Ele estudou muito a razão de Estado; eu conheci esse texto do Noê, Números e outros por meio dele. E eu lembro de um texto dele, ah, que era do Roberto Romano, que escreveu muito. Ele estava sempre no painel do William Wack, né? Ele foi meu orientador de mestrado e eu me lembro que ele sempre chamava a razão de Estado de mentira política. Basicamente, quando a gente entende o conceito de razão de Estado e vê esses dois adversários em atividade no Brasil, a gente percebe
que se aplica muito bem a eles o uso do cálculo político da razão de Estado, ou seja, de atropelar, atropelar o que quer que seja, tudo aquilo que é considerado decente para disputar poder. E o grande desafio é participar da política sem fazer isso, porque é impossível. Por que eu digo que é impossível? Você faz isso a partir do momento em que se filia a um partido, porque os partidos seguem essa lógica. E se filiar a um partido é o primeiro passo para participar da política. Você já é cúmplice! Você é cúmplice no momento em
que aceita trabalhar no governo. Você sabe que vai ser descartado se for preciso descartar você para preservar alguém maior, mesmo que você não tenha feito nada de errado. Então, você aceitou participar do governo, você virou um parafuso, você virou uma engrenagenzinha menor dentro desse maquinário. Então, veja, é uma máquina muito delicada. Os cientistas sociais que estudaram Max Weber têm um conhecimento bom desse caráter do papel da burocracia no Estado. Eles entendem melhor o pessoal da sociologia, porque Max Weber foi alguém que estudou e meditou profundamente sobre o Estado burocrático. O Nietzsche tem uma tirada boa
sobre o Estado moderno, que é o Estado burocrático; ele chama de “o novo ídolo”. O Nietzsche é um literato que tem grandes momentos. Ele é um escritor com bons momentos. Então, quando ele chama o Estado burocrático de um novo ídolo, ele está perfeitamente correto. Isso está no “Assim Falou Zaratustra”, é uma das minhas passagens favoritas do “Assim Falou Zaratustra”. Então, assim, a gente tem uma série de pensadores do século XIX para cá. Leo Strauss pensou profundamente sobre a razão de Estado. Você não tem um filósofo político, um cientista político, um sociólogo sério que não tenha
investigado a articulação entre cálculo político, razão de Estado e aparato burocrático. As coisas andam juntas. Isso significa que, quando nos Estados totalitários do começo do século XX, a legislação e a burocracia são usadas como instrumentos de golpe de Estado. Veja, a gente está na plenitude do Estado moderno, que é um Estado centralizador, concentrador de poder desde o início. O que é a ascensão do Estado moderno? É a ascensão de um modelo político de concentração de poder, hiperconcentração de poder. O que foi o pensamento liberal? Depois, os libertários... a coisa é um pouco mais profunda. É
um pouco mais profunda; aí é outro assunto que vale a pena discutir também. O Hoppe tem alguns comentários muito, muito bons sobre política que vale a pena a gente conhecer. Mas a tradição liberal, no primeiro momento, nada mais é do que uma reação histórica a essa concentração de poder. Então, os liberais percebem essa hiperconcentração de poder e falam: “Opa! Como é que a gente faz para a gente não perder, para conseguirmos, pelo menos, participar um pouco aqui desse jogo?”. E aí se cria essa estrutura de aparência de equilíbrio, mas, na verdade, quem domina os recursos
para produzir consenso a partir do século XVII é quem tem mais chances no jogo político. Então, a maneira de fazer política na modernidade é muito complexa e não tem nada a ver com bem comum. O bem comum é um pretexto utilizado por aqueles que estão em busca de conservar poder, resguardar poder, aumentar poder ou fazer resistência a um poder que avança. E o que acontece é que, com a ascensão da nova direita, que tem esse caráter populista, sim, porque o Bolsonaro é um líder carismático, tá? Como o Lula. O Lula e o Bolsonaro são líderes
carismáticos. O Marsal tentou expor esse caminho e é um caminho sempre complicado. Só que o Bolsonaro é assim porque ele é carismático. Ele é uma pessoa carismática e ele não é um gênio político, mas não é mesmo. Ele não é um cara que tem uma grande capacidade. estratégica. Ele também não tem cultura política, ou seja, ele não é um grande diplomata; ao contrário, ele é um péssimo diplomata. O Lula é mais diplomata, mas é populista. Faz esse jogo, né? O Bolsonaro é muito carismático, então as pessoas gostam dele pelo jeito dele, que é meio que
espontâneo, né? E aí, por isso, que ele cresceu tanto, né? Portanto, a gente tem essas forças e esses fenômenos que vão surgindo; são sempre espelhados nesse contexto que a gente tem, até essa ideia de usar a celebridade para ser puxador de voto, né? A esquerda pega ali o Felipe Neto, agora a direita pega a Jojô Todynho. Essa maneira de estruturar partidos, grupos, etc., é toda baseada na necessidade da aprovação popular como respaldo, tá? Então, o apoio popular barulhento, seja nas redes sociais, seja nas ruas, seja na imprensa, porque também é uma afetação de apoio, né?
São táticas de legitimação do poder diante do adversário. Então, toda a política moderna é inteiramente teatral; ela é um jogo de faz de conta. Só que veja que a política, seja teatro, é natural. Se a gente for observar os discursos de Cícero, que foi um dos mais brilhantes políticos da história, a gente observa o caráter teatral, a qualidade literária dos seus discursos. Só que Cícero ainda tem compromisso com o bem comum, tem um conhecimento profundo da política aristotélica, tem um conhecimento profundo da política da República de Platão, das leis. Ele tem um diálogo chamado "As
Leis", em que ele mostra o quanto entende que é necessária a articulação entre direito natural, tradição e leis positivas. Então, ele é um homem da antiguidade. O teatro está presente no modo de fazer política da República Romana, evidentemente, e estava presente até no auge da democracia grega, nos áureos tempos de S. Antes do início da decadência, segundo Platão, que começa com Temístocles; vai piorando e, depois de Péricles, se acaba. Péricles teria sido o último grande líder. Então, veja, sim, havia teatro, e tanto havia teatro que o teatro era um componente de manutenção do tecido social
da sociedade grega e romana. Agora, na política moderna, é um teatro dentro do teatro. Então, o caráter teatral da política acontece de maneira, digamos assim, com regras jogadas diferentes entre o povo, a quem a ação política é dirigida, e os atores, tá? Os atores entre si têm regras próprias que eles sabem que compartilham, mas ambos fingem para o público que não infringem essas regras. Basicamente, é o seguinte: a história das quatro linhas é inexistente, e ganha quem sabe manejar melhor os instrumentos com aparência legal para fazer avançar o seu interesse. Então, é preciso ter inteligência,
é preciso ter muito conhecimento jurídico, é preciso, evidentemente, ter rede de contatos para mover pauzinhos, para mover a peça da burocracia necessária para produzir a legitimidade que você procura para fazer valer a sua pancada. Vocês estão entendendo onde eu quero chegar? A minha reflexão é um pouco mais profunda, porque eu quero que vocês vejam o todo para estarem um passo além, um passo à frente dos comentários que estão ouvindo sobre o 8 de janeiro. A política moderna é o que estou descrevendo aqui. É assim que se faz política, e o teatro jogado no que o
pessoal chama de bastidores, mas jogado em segredo, é conhecido das partes adversárias. Basicamente, é o seguinte: lado A e lado B sabem muito bem que um e outro vão trapacear. Lembra da brincadeira Banestado contra Lava Jato? Então, usou-se ali o judiciário para criar uma impressão de que seu adversário político era um horror e deveria ser destruído. Aquilo foi um teatro. Ah, mas havia fundo de verdade? Bom, claro que há! Veja a quantidade de corrupção que existe, que é própria da política. É tão grande que é só você procurar que você acha; basta que você procure.
A questão é que você precisa procurar. Se você encontrar algo que seja muito significativo e souber colocar o holofote correto, que foi o que fez a Lava Jato, você realmente acaba com a reputação de um grupo político. E o PT sofreu e apanhou, foi difícil ali, mas claro que teve muitas características de atrás. Eu li as reportagens da Veja sobre a Lava Jato e pensava: "Nossa, que panfletagem! Como é que o pessoal lê isso aqui e se entusiasma? Isso aqui é panfleto!" O PT fez corrupção e mereceu, evidentemente, ser punido. Não é disso que estou
falando. É óbvio que havia muitos crimes ali, tá? É óbvio! Mas estou falando da maneira como é feita. E bem, agora, é exatamente isso que está sendo feito em torno do grupo político ligado ao Bolsonaro, cujas ações e tentativas de se segurar, de ficar ali no poder e tomar alguma medida para evitar que o adversário avançasse, culminaram, sim, no 8 de janeiro. Porque houve uma operação psicológica por parte de um grupo de militares, que são aqueles que põem fogo no pessoal do quebra-quebra, no pessoal do "vamos por tudo ou nada". Não vamos fingir que no
Brasil não existe uma ala dentro do que se chama de direita que é louca por uma ruptura da ordem institucional. Porque existe no grupo da esquerda também, só que a gente sabe que chamamos de revolucionários, os esquerdistas que são loucos para a revolução e para quebrar o sistema. Mas as pessoas se habituaram a eles. É o pessoal que queima pneu, é o pessoal que quer ir para o quebra-quebra. Não sei se vocês lembram, na época da Dilma, ela tentou criar uma imagem de caos social no Brasil para levantar um estado de defesa. Usou a militância
dela, e os militares fizeram a... Aqui está o texto com a pontuação corrigida: "Mesma coisa em 2022, por isso que eu fiz aquele vídeo: tomem vergonha na cara, pedindo encarecidamente que as pessoas fossem para casa, porque elas iam se dar mal, porque militância é usada. Tá, então esse é o tom do meu editorial. Eu expliquei para vocês meu raciocínio, e agora eu vou fazer a leitura para vocês. Eu só gostaria que vocês usassem como componente de reflexão. Vocês não são obrigados a concordar, vocês podem gostar, vocês podem falar nos comentários o quanto vocês quiserem, não
tem problema. Mas eu só acho que é honesto eu oferecer a vocês uma visão panorâmica da briga. Você tem golpe daqui, você tem golpe de lá, quem é que tá ganhando? Quem tem o silenciador mais refinado? É como se a gente estivesse num filme de bang-bang e a gente tivesse dois pistoleiros brincando de duelo. O lado que vence é aquele que atira, mas ele tem um silenciador, né? Então ninguém sabe se ele atirou; ele atirou com silenciador, o outro foi golpeado e ele ainda sai de inocente. Então é isso que são as relações políticas modernas.
Tá, isso não é uma coisa do Brasil, é uma coisa geral, a coisa no mundo. No mundo é assim: essa guerra que está se articulando e se intensificando cada vez mais está sendo travada dessa forma. E por isso que a gente diz, né, que na guerra a primeira coisa que morre é a verdade. Então veja: é teatro dentro do teatro dentro do teatro. São tantas camadas de teatro que as pessoas se perdem, porque elas não entendem qual papel está sendo atribuído a elas por aqueles que dirigem a peça. E todo mundo que tá na papuda,
todo mundo que tá ali nas prisões, aquele pessoal tonto da militância. E eu falo tonto porque eles realmente não sabiam onde estavam se metendo. Não sabiam onde estavam se metendo. Esse pessoal que, em vez de passar o Natal com a família, passou na cadeia e vai amargar na cadeia muitos anos. Porque, infelizmente, eles talvez não soubessem disso, mas estavam participando de algo articulado pelo pessoal bem atrapalhado, bem Tabajara, como diz a Paula Marisa na sessão de humor dessa revista. Tá, mas estavam articulando algo, entendeu? Ah, eles foram usados e foram usados e descartados. Né? A
infantaria é quem morre primeiro na guerra. Então eu vou ler para vocês meu editorial e eu peço que vocês ouçam com a razão, sem emoções, para ver se vocês conseguem ter uma visão um pouco mais ampla da política em geral, e os comentários opinativos que vocês têm ouvido aí pela imprensa não perturbem a capacidade de entendimento que nós devemos ter, para nós inclusive conseguirmos entender porque esse jornalista ou aquele jornalista tá defendendo isso ou aquilo. Porque também os jornalistas fazem parte dessa chamada política. Tá? Vou ler para vocês o título do editorial: "Vence o pistoleiro
do silenciador mais refinado". E eu digo: o grande tópico desse final de ano foi a investigação sobre as ações políticas, cujo ápice consistiu nas manifestações de 8 de janeiro de 2023, as quais incluíram a baderna testemunhada por todos nós. Temos relatório, testemunhas, dúvidas, indiciados e um mar de opiniões desencontradas a seu respeito. Eu gravei minhas impressões sobre o assunto há algumas semanas, mas acabei não publicando material por entender que fui insuficientemente clara na ocasião. Hoje serei translúcida. Se você já entendeu o que eu falei pela introdução do vídeo, você nem precisa ficar para a leitura
do artigo. Mas, se você ainda não entendeu, bem, segue o fio: quantos jornalistas não adoram recordar a velha máxima que proferia Paulo Francis, segundo a qual política é guerra? Mas quantos se propõem a examiná-la em suas últimas consequências? Quando a ocasião aparece, muitos adoram repetir, né? E poucos se propõem a examiná-la. Eu responderia: se política é guerra, devemos dopio que a trapaça é inerente. Trapaça, no sentido de "filiz", coloco entre aspas, do modo honesto de agir quando se trata de levar a melhor sobre o adversário. Sabem o Cavalo de Troia, último recurso dos gregos para
entrar na mais protegida cidadela do Mediterrâneo antigo, enquanto o adversário amargava a ressaca ou dormia tranquilo, certo da vitória? É disso que eu estou falando. Recordar que os gregos não conseguiam; as cidades antigas eram protegidas por muros. Elas ficavam dentro de uma cidadela. Cidadela era o que ficava dentro dos muros. Os muros de Troia eram intransponíveis. Os gregos já estavam lá há 10, 20 anos, não aguentavam mais ficar lá, 10 anos, né? E aí Ulisses tem a seguinte ideia: a gente esconde os navios atrás da colina. Com alguns dos nossos navios, nós construímos um cavalo.
Os melhores guerreiros se escondem dentro do cavalo. Fica um cara aqui com a bandeira branca, assim, falando: "Olha, estamos nos rendendo, vocês troianos ganharam a guerra, mas estamos deixando um presente para que vocês nos poupem de uma represália", etc. etc. Aí os troianos até são avisados ali, mas acabam levando o cavalo para dentro e ao longo do dia comemoram. Eles comemoram a vitória, bebem, comem, ficam felizes, totalmente desprevenidos. Quando tá todo mundo bêbado ou dormindo, Ulisses abre a tampinha da barriga do Cavalo de Troia e eles atacam a cidade, põem fogo em Troia e ganham
a guerra. Se isso não é trapaça, meus amigos, eu não sei o que é. Mas, em linguagem militar, é chamado de estratégia: você engana o adversário para vencê-lo quando ele tá evidentemente em vantagem. Se política é guerra, por que em política os cavalos de Troia não seriam as armas utilizadas cotidianamente? Pensem! Pensem! Se a gente vai usar a máxima "política é guerra", a gente tem que ir até o fim nisso. Uma guerra envolve estratégia e significa elaboração de planos, evidentemente aptos a conduzir à vitória. Ninguém planeja fracassar, não é mesmo? A meta é vencer sem
que o adversário saiba." Caminho escolhido, diga-se de passagem, quanto menos souber de nosso plano, mais escassos serão seus meios de obstruí-las. E guerra tem dois grandes aliados: a balbúrdia e o silêncio. O primeiro confunde, o segundo abre caminhos. A balbúrdia confunde, são as cortinas de fumaça; o segundo, que é o silêncio, abre caminhos para você ir criando os expedientes de legitimação. Enquanto você cria, por meio da balbúrdia, você desenha o seu adversário como o grande golpista. Ambos estão no tudo ou nada, ambos estão se estapeando; cada um está construindo seu cavalo de Troia, mas faz
parte da guerra você dizer que é o outro que está fazendo. Você não é próprio, tá? Os parlamentos funcionam dessa forma; lá, os adversários lançam mão de seus melhores recursos, tendo na produção de cortinas de fumaça, por um lado, e no efeito surpresa, por outro, aliados de primeira hora. Eleições funcionam dessa forma, sim; governos funcionam dessa forma. A troco de quê? Da vitória, alcançar o poder, conservar o poder, consolidar o poder. Eis o que devemos entender por vitória. Esse é o material concreto da vida política ordinária. Atribuímos a Gabriel Nod uma teoria dos golpes de
Estado, segundo a qual, para garantir o bem comum, um soberano pode precisar passar por cima da moral vigente ou mesmo das leis. E aí eu cito um trechinho do tratado do Nod: “Com pesar e entre suspiros, como aquele pai que cauteriza ou amputa um membro de seu próprio filho para lhe salvar a vida.” É isso que o STF entende estar fazendo ao trancafiar todo mundo na Papuda. Vocês estão entendendo? Não se passa por cima da moral vigente ou dos costumes vigentes de portas abertas e usando megafones, mas em segredo. E os militares, por outro lado,
o grupo lá que fez as trapaças deles, mas que são muito ruins, o pessoal do outro lado é melhor? Também acharam que iam salvar o Brasil colocando em risco todas aquelas pessoas na frente dos quartéis, porque usaram grupos de Telegram, ficaram insuflando com aquele bando de promotores do tic-tac, a quem eu fui radicalmente crítica desde o início: a turma da Flávia Ferronato, Ed Raposo, todo esse pessoal, aquele pastor Sandro Rocha que falava que o Lula estava morto e tinha suas loucuras. Toda aquela loucura tem dedo de quem está sendo investigado, então não contem comigo para
passar pano para essa galera, porque eu vi a coisa acontecer e falei: “Tem coisa errada aí. Tem coisa errada aí!” Isso é uma operação psicológica de um lado revolucionário do exército que quer ir pro tudo ou nada para conservar poder. Tá claro? Ah, mas do outro lado também. Sim, não estou dizendo que não. Estou descrevendo que sim, só que eles são ruins e perderam. A gente tem que reconhecer como as coisas são. Se vocês quiserem compreender a realidade, vocês têm que ter coragem de enfrentá-la, por mais feia que ela seja. Tá bom? Não se passa
por cima da moral vigente ou dos costumes vigentes de portas abertas e usando megafones, mas em segredo. Daí que o segredo, já falei disso aqui nesse canal, seja desdobramento desse tipo de cálculo político ou razão de Estado. A obra máxima do teórico e bibliotecário, que teve acesso, Gabriel Nod, teve acesso aos autos da reunião secreta convocada para planejar às portas fechadas o massacre da noite de São Bartolomeu, em Paris, em agosto de 1572. Procura a noite de São Bartolomeu ou assista ao filme “Rainha Margot”. Pois é, aquilo foi planejado pela Catarina de Médici com seus
conselheiros às portas fechadas. Gabriel Nod, o bibliotecário do Louvre, teve acesso aos autos; ele usa nas considerações políticas sobre os golpes de Estado este golpe criado pela Catarina de Médici, pensado por ela e por seus conselheiros, para exemplificar o que é amputar um membro de seu filho para cauterizar-lhe uma ferida maior. Ele defende, ele justifica, né? Sobre a máxima considerações políticas sobre os golpes de Estado, de 1639, temos tradução espanhola; vou deixar aqui na descrição algumas traduções que vocês encontram na Amazon. É referência fundamental para se compreender um componente perene da prática política: o uso
deliberado da trapaça a pretexto da manutenção da paz e do bem comum. Eu vou repetir essa frase aqui: eu estou falando que a teoria dos golpes de Estado do Gabriel Nod, na verdade, descreve, conceitua e atualiza, a partir do referencial moderno de ver a política, um componente que é perene da prática política. Que componente é esse? Cavalo de Troia: o uso deliberado da trapaça a pretexto da manutenção da paz e do bem comum. Tá aqui, é na guerra que todo mundo acha normal, mas as pessoas esquecem que política é guerra por outros meios. Platão designava
o expediente tirania. Mesmo para falar amigo, se você vai agir na trapaça, você está indo contra a justiça. Você está simplesmente criando uma estabilidade provisória de areia que vai desmontar, né? O Platão é obcecado pela maneira de estabilizar a vida política nas comunidades; por isso que ele pensa moral, porque a preocupação dele é com a estabilização pelo máximo de tempo possível da vida comunitária. Ele fala: “Bom, aí é pela moral, porque pelos aspectos exteriores nós fazemos castelos de areia.” Né? Porque são pessoas, grupos de interesse diferentes disputando quem vai ficar um pouquinho ali, derando seu
poder, enquanto o outro está tramando para derrubá-lo. O Platão designava o expediente tirania, nós, modernos, o rebatizamos; a gente deu um nome mais bonitinho, estamos habituados a ele, a ponto de acatar com naturalidade os segredos de Estado. E a gente acata mesmo! Porque que um presidente vai lá e deixa um negócio em segredo? É, está na lei que ele pode fazer isso, a gente já engoliu isso aqui, nós já vivemos nessa era. Tá, aí você vê lá como político do pessoal achando um horror que um político... Tomou uma decisão absurda, mas ele tomou uma decisão
absurda. Ele tem os motivos dele; ele não vai falar. Obviamente, tem algum segredo de estado envolvido ali. Isso não é uma questão de defender o presidente que fez isso; é de escrever. Mas os comentaristas de YouTube, eles... eles pegam pompom e vão brincar de tiar Líder, né? Então, eles não conseguem ter essa visão. Quando o adversário usa o segredo, eles têm raiva; quando o seu usa, eles passam um pano. É desequilibrada a visão, tá? Porque o jornalismo, como braço da militância, não consegue descrever as coisas como são, justamente por estar envolvido no jogo político. Sabemos
que as decisões sobre nosso destino não são necessariamente transparentes. Bom, quem reconhece a realidade, né? Pelo menos, deveríamos saber, porque elas de fato não são. Do ponto de vista formal, entra aqui a burocracia; a transparência dos poderes públicos com relação a seus métodos e decisões é um pilar de nossas democracias liberais, mas ela não é praticada literalmente nem nos Estados Unidos, que também têm razão de estado, segredo, etc. Ali é a base onde, digamos assim, uma democracia liberal mais sólida nem lá o que existe. Mesmo a realidade que se impõe a todos nós, gostemos ou
não, se assemelha a uma combinação de cálculo político e falta de transparência, inclusive os YouTubers que vocês assistem, muitos dos quais estavam envolvidos com as movimentações todas, e não foram honestos e transparentes com vocês. Aí vocês ficam tomando partido de gente que está usando vocês para manejar as massas e criar consenso na opinião pública, como os iluministas ensinaram. Bem claro! Enquanto eles xingam os iluministas, isso vira um fetiche da bolha a qual eles se dirigem. É curiosa a cultura: os lados adversários ambicionam vencer valendo-se de todos os recursos à disposição para alcançar a vitória ou
conservar-se no poder de alguma forma, mas sob a aparência de que agem em prol do bem comum. Aí eu lembro de todo aquele pessoal falando: "estou aqui pelo Brasil!" Desde quando você representa o Brasil? Aí vão lá os vermelhos do Bolos: "estamos aqui pela democracia!" Não, vocês estão atrapalhando e produzindo engarrafamento. Vocês não estão ajudando a democracia coisíssima nenhuma; vocês estão produzindo engarrafamento para chamar atenção para o grupo político de vocês. E o pessoal também que encheu o saco ali nos quartéis, me perdoem, errados da mesma maneira. Vocês não estavam salvando o Brasil; vocês estavam
defendendo o grupo político pelo qual vocês decidiram arriscar a vida de vocês. Foi isso que aconteceu, foi isso que aconteceu, tá? É assim que acontece, as pessoas sabendo ou não, e eu acho que a maioria não sabia, porque a nova direita é muito crua, né? Podia não saber, mas era o que estava fazendo. Sobre a aparência de que estão em prol do bem comum, dentro das leis e na intenção de garantir a paz pública, evitar o caos e salvar o estado. Culpa, sempre é salvar o estado, salvar o Brasil, salvar a democracia. Salvando, cada um
escolhe um nome: a nova direita, salvar o Brasil; a esquerda, vé, a esquerda, salvar a democracia. Mas no final das contas é simplesmente conservar o poder, alcançar o poder, consolidar o poder, ampliar o poder. Poderíamos agir de outra forma; na verdade, podemos fazê-lo, e já ocorreu. O que fôssemos, eu não estou dizendo que essa maneira de fazer política foi a única na história; já fizemos de outras formas. Existiram governos justos, cujo horizonte era a honestidade e a prática das virtudes cardiais. Sim, existiram, mas uma escolha mais comum, a mediocre, tá? É apelar a essa combinação
de trapassar pelas costas, insinuar que o adversário é quem está trapassando por meio da balbúrdia e mobilizar da maneira mais astuta os recursos formalmente legais, ocultando abaixo desse simulacro de virtude o estratagema concreto. Vocês entendem? O jogo qual é? Trocando em miúdos, é dessa forma que os agentes políticos costumam trabalhar no Brasil e no mundo. Não foi diferente na operação psicológica criada e disseminada por um grupo específico de militares favoráveis à quebra dos resultados apontados pelo TCA em 2022 e escorada na efusiva confiança de um percentual do eleitorado conservador ao então presidente Jair Bolsonaro. O
que a imprensa toda alardeia como golpe de estado, do inquérito do golpe, essa conversa toda foi mais um expediente político, próprio à rotina da trapaça que marca a política em geral, os governos em particular e as eleições das quais participamos, costumeiramente um pouco como espectadores e sempre como massa a ser manobrada por agentes em disputa, focados na vitória. Que agora se faça tanto alarde sobre o ineditismo do expediente é outra mascarada, visando enfraquecer a reputação do adversário na arena da opinião pública. A política moderna consiste na prática deliberada da arte de simular e dissimular. Outro
texto clássico que esse meu professor me ensinou a ler, reler, pensar e meditar é um chamado da dissimulação honesta: "Dissimulatio" com dois "s", que ele é italiano. "Quattro atto" é a tradução pela Martins Fontes sobre a dissimulação e a simulação. Francis Bacon também tem um ensaio brilhante sobre a simulação e a dissimulação. É assim que se joga há muitos séculos; a gente precisa ampliar nossa cultura política para parar de fazer papel de idiota, tanto da opinião pública, tá? A instituição designada "imprensa" faz parte dela. A política moderna consiste na deliberada arte de simular e dissimular;
a instituição designada "imprensa" faz parte dela. Apesar de aparentemente ter surgido como contraponto, às vezes ela funciona como contraponto. É o que eu chamo: são os jornalistas independentes. Existem, existem, mas em geral, a imprensa se acomoda aos grupos políticos, e os jornalistas independentes, vocês podem ver que costumam ser eliminados misteriosamente, tá? Não faltam casos concretos. Jornais, revistas e a veiculação sistemática de escândalos políticos é componente. Do arsenal de guerra moderno, se a ação política fosse o lugar mais propício ao cultivo da verdade e ao exame de consciência, a filosofia não seria seu grilo falante. Em
filosofia, a gente analisa a realidade; a gente procura compreender o Real. O real é aquilo que está acontecendo diante de nós. Eu estou tentando mobilizar um vocabulário, um conjunto de conceitos, um conjunto de imagens para descrever para vocês o que acontece. Filosofia só na cabeça do Marx? Tem que servir à prática. A filosofia em si mesma serve à consciência. A filosofia, enquanto tal, a filosofia na cultura e na história da cultura, tem um papel determinante de salvaguarda da nossa consciência dos jogos imaginários que visam neutralizá-la, para evitar que nós sejamos uma resistência a jogos. É
aquela história: uma pessoa que realmente tingiu a alma na tinta da filosofia não cai nas disputas de opinião pública. Ela consegue ver a coisa com distanciamento. Uma pessoa sem cultura filosófica não consegue; não consegue mesmo, porque ela não está habituada a reverenciar a verdade independentemente do seu aspecto. Você tem que ter uma prática de que "não, meu compromisso é com a verdade". Você tem que ser essa prática cotidiana. Essa prática cotidiana te leva a ter uma visão cada vez mais apurada. A filosofia é uma prática; a cultura filosófica é algo que te ajuda a refinar
esta prática, porque é como se você tivesse uma série de pessoas te ajudando a fazer esse exercício, porque eles fizeram antes muito melhor que você. Entendem? Ao pensar, contemplamos o que fazemos, significa que é preciso ter deliberado, planejado ou realizado para, então, submeter uma ação ou intenção à consciência. Em filosofia, encontramos a descrição e o exame de práticas não necessariamente orientadas pela verdade. Então, a gente vai em filosofia; a gente tem a descrição e o exame de práticas. Pode ser a prática política, a prática retórica, a prática, sei lá, marketing. Elas não necessariamente são orientadas
pela verdade; elas podem ser orientadas pela busca pelo poder, pela utilidade. Um engenheiro constrói um carro por quê? Porque ele quer conhecer a verdade? Não! Porque ele quer resolver um problema. Ele oferece um mecanismo que resolve um problema: o problema do deslocamento rápido. Vocês entendem? A verdade é um auxiliar, mas o objetivo é outro. Em filosofia, não; a verdade é o objetivo. Filosofar sobre as ações políticas implica descrevê-las, entendê-las e julgá-las à luz da verdade. Examinar o real pressupõe compromisso com a verdade; agora, agir sobre ele, não. Agir sobre o real não pressupõe compromisso com
a verdade. Por isso que a gente fala que a filosofia e a política são universos distintos. Em política, você vai agir sobre o real, tá? E em filosofia, não. A gente está examinando e compreendendo o real. São universos distintos. Voltando ao início: se política é guerra, devemos saber que um atrapalho é inerente, ainda que moralmente condenável; e dois: o alarde sobre os planos do adversário, supostos ou verdadeiros, é uma ótima distração para desviar a atenção dos planos por baixo da cortina de virtude simulada. Então, a Lava-Jato, por exemplo, foi usada por todos os grupos de
oposição ao PT. A Lava-Jato; todo aquele teatro! Tá, toda aquela coisa da Imprensa PT. A pior coisa! Eu não estou dizendo que não tem base na realidade; tem, mas eu estou falando que a utilização retórica foi usada para enfraquecer o poder político do PT. Aí o que aconteceu? O PT falou: "Nossa, surgiu um grupo aí que está dando paulada na nossa cabeça, vamos reagir". E aí se começou a trabalhar, trabalhar, trabalhar para jogar pecha de criminoso sobre esse grupo. Gente, é basicamente esse o ponto. Ah, mas você está dizendo então que esse pessoal que armou
8 de janeiro não tem culpa no cartório? Não, não estou dizendo. Tenho certeza de que eles fizeram coisa errada; não tenho dúvida. Mas não, veja, eu estou falando isso desde 2022, quando eles manipularam todo aquele bando de pessoas para eles ficarem acampando em quartel. Que crueldade! Que coisa canalha, né? O Bolsonaro que não deu uma palavra para mandar as pessoas irem para casa, sabendo que o pessoal estava ali procurando uma saída e que aquelas pessoas estavam correndo risco, porque elas estavam na linha de frente. Não estou dizendo que não aconteceu, mas o drama todo está
sendo usado para eles. Eles não estão nem aí! Eles não estão nem aí que o grupo lá de militares estava tentando armar. Eles não estão minimamente preocupados com a garantia da democracia; a menor das preocupações. A preocupação real é conservar o poder, o que implica rebaixar a reputação do adversário. Gente, eu quero que vocês entendam esse teatro. Se a democracia fosse uma preocupação, como é que a gente teria salários exorbitantes de várias classes burocráticas no país? Se a democracia fosse a preocupação, como é que você explica que nós vivamos para o Estado e não que
o Estado viva para nós? Isso é tão ridículo que não precisa nem falar; não precisa nem falar que ninguém está preocupado com isso. A questão é: quem vai sentar na cadeira de ferro do Estado burocrático que me permite meios de ação infinitos para eu conservar meu poder? É esse o ponto. É esse o ponto. E todo mundo que roda nessas histórias é parafuso. Essas reflexões, tô terminando, tá?, valem para os dois grupos em disputa: os atores políticos que promoveram a anulação da sentença do Lula, os favorecimentos de distribuição de propaganda eleitoral durante a campanha de
2022. Um grupo altamente eficaz, operando com silenciadores perfeitos e disparando festins com maestria, de forma organizada e simulando absoluta moralidade. Os caras têm um cacife! É a história da guerra simétrica, mas vale também para outro grupo e igualmente ao núcleo formado por... sido Brag. Neto e aliados próximos a Bolsonaro criaram, da maneira que souberam e puderam, usando os recursos que julgaram mais apropriados, condições visando persuadir o então presidente a assinar um documento suspendendo o andamento do governo de transição, a pretexto de estancar um suposto caos social. Por que eu falo que é um suposto caos
social? Porque o Brasil não estava no caos em 2022. A imensa maioria das pessoas estava tocando a vida. Tocando a vida. Ah, puxa, o Lula perdeu, ah, o Lula ganhou, ai que desgraça! É quatro anos desse desgraçado. Mesmo as pessoas que votaram no Bolsonaro pensaram assim: ah, o Lula ganhou, putz, quatro anos de paciência com esse cara, vamos ver o Brasil quebrar de novo. Entendeu? As pessoas não estavam desesperadas, indo para a frente do quartel. Isso foi uma militânciazinha que foi usada na operação psicológica planejada por esse pessoal aí que quis tentar dar uma esticadinha
no poder. Estavam procurando uma forma, né, de se manter no poder ou, pelo menos, de fazer um tapetão no adversário que tinha levado a melhor nas eleições. E aí vocês me falam: "não, mas as eleições foram fraudadas". Isso foi o que o braço dos YouTubers enfiou na cabeça de vocês e que vocês tomaram por verdade extraordinária, sem conseguirem examinar que o Bolsonaro teve muitas falhas no seu governo e é perfeitamente plausível que ele tenha perdido as eleições. Aliás, eu não tenho dúvida de que ele perdeu. Mesmo perdeu por pouco, mas perdeu, perdeu. Tá aí. Mas
fraude sempre tem. Sempre tem trapaça em eleição. Mas aí vai ter de todos os lados. Entendeu? Então, assim, olha, vamos pensar. Aí vocês falam: "mas não aconteceu, como é que você fala que o Estado não aconteceu?" Então, mas se tivesse acontecido, a gente não estaria nem tendo essa conversa. Eu não teria escrito esse editorial. Porque quando você tenta planejar estender o poder, dar uma, digamos assim, criar algum mecanismo para suspender uma eleição que aconteceu, que era a via que o Bolsonaro queria, uma via institucional, né? Tanto que ele não assinou, porque ele não queria ruptura.
Ele sempre dava para trás na hora de romper. Ele existia fato. A gente viu ele fazer isso mil vezes. Só que a gente sabe que ele tinha uma boa base que estava louca pelo rompimento. Isso existia também. Eu vi, eu ficava desesperada. Falava: "Nossa Senhora, que pessoal estranho esse!". Pessoal, eu tô do lado deles porque eu tô, eu tô à direita também, mas, meu Deus do céu, que gente equivocada! Eu lembro de um 7 de Setembro que até pessoas próximas a mim falaram: "vai ter ruptura". Aí eu falei: "meu Deus do céu, que gente louca!".
E eu lembro que conversei com o meu marido. Eu falei: "será que vai ter mesmo? Eu acho que não vai". E eu entrevistei o Temer, né, uma semana antes do 7 de Setembro, e ele falou: "não, isso vai se resolver". E realmente se resolveu, graças a Deus, né? Ainda bem. Mas o Bolsonaro tem essa vontade, mas não concretiza, né? Ele fica em cima do muro. Fica em cima do muro. Mas ele tem uma parte da base dele que gostaria que ele fosse para o rompimento. Isso é um fato. Isso existe. A própria base sabe. Ninguém
vai falar que não. Só se você não for honesto. Se você for honesto, você tem que reconhecer que sim, como do lado da esquerda tem uma parte grande, uma parte considerável da base que é revolucionária, no nível "vamos explodir Brasília e tomar o poder e implantar o comunismo". Tem, tem mesmo revolucionário. Temos dos dois lados, infelizmente para todos nós, tá? Então, prestem atenção no que eu vou falar agora: manter uma parcela do povo em frente aos quartéis, sob a hipnose dos promotores do tic-tac, foi o seu cavalo de Troia, cujo interior esquizofrênico acabou desintegrando, deixando
o feixe de tábua sem ofensiva e, consequentemente, refém do adversário. Os presos do 8 de janeiro foram as tropas sacrificadas dos agentes políticos investigados. Agora a disputa política segue a lógica da guerra. E na guerra é sempre assim: ainda que todos atirem para matar, cabe ao perdedor pagar a indenização. Pessoal do lado de lá perdeu e agora tá pagando porque política é guerra. Lula e Bolsonaro integram grupos políticos que pensam muito parecido em termos de ação política. Base popular é material a ser utilizado e movido. Distribuição de propaganda é a rotina para fazê-lo. Promoção da
idolatria, método de modelagem dos cavalos de Troia, chamados apoio popular, desejo do povo, legitimidade visível, dentro dos quais seguem seguros para invadir a cidadela chamada poder e garantir a aniquilação do adversário chamado vitória. Foi assim em 62, quando os militares levaram a melhor. 64, me desculpem, mas política é prática, não ideia. Portanto vive sujeita à mudança. Meio século depois, seus antigos adversários se aprimoraram no manejo do teatro de sombras e venceram, infelizmente. Quando se resolve participar de um jogo, seja ele limpo ou sujo, é preciso estar preparado para perder, que é coisa que a nova
direita ainda não entendeu. Quer brincar? Você pode perder. E se a guerra é simétrica, quando você perder, as consequências vão ser pesadas. Você só tem que saber disso. As tropas auxiliares, isto é, a massa usada como festim para criar a cortina de fumaça do caos social pós resultado eleitoral, as tropas auxiliares ainda estão perdidas porque não entendiam exatamente no que estavam se metendo, que é o pessoal que tá na cadeia. Quer dizer, não tô nem falando dos injustiçados que foram presos por engano, tô falando dos que participaram mesmo. Quer dizer, e por que que eles
estão... Não entenderam muito bem, porque acreditavam ser protagonistas e não quadrantes, assim como as madeiras dos navios usadas por Ulisses para moldar. O Cavalo de Troia certamente não poderiam saber que, uma vez dentro da cidade, seriam deixadas de lado a ser com a cidade inteira consumidas pelo fogo. Os presos do 8 de janeiro estão para as madeiras do Cavalo de Troia. Feito por Ulisses, os gregos entram, saem do cavalo, põem fogo na cidade e vão embora. As madeiras ficaram lá queimando. Você vai ser militante? Entenda no que está se metendo ou não seja militante e
cultive a consciência. É uma escolha, é uma escolha, tá? É uma escolha. Quando você é militante, você é soldado. Se você preza mais a sua família, os seus filhos, as pessoas que você ama e a sua vida do que um projeto de poder, você não tem que ser militante. Os militantes de esquerda sabem um pouco mais no que estão se metendo; eles abandonam a família, eles abandonam a casa. Para eles, o projeto de poder é mais importante do que tudo, por isso que eles vão ser militantes; eles o colocam acima de tudo. Agora, o pessoal
da direita é meio confuso, porque eles colocaram acima de tudo sem perceber exatamente o que estavam fazendo, mas colocaram. E não vai ter saída para eles. Não vai, não vai. E assim, eu não estou nem falando se "ai, tem que ter Anistia ou não tem que ter". Meu Deus do céu, eu morro de pena, porque eram pessoas que não sabiam muito bem o que estavam fazendo; algumas sabiam, outras não. Mas não têm a consciência que a militância esquerdista tem, né, do risco e tal? Não têm. E a direita não tem aparato burocrático nenhum para protegê-la
em momentos que suas tropas são sacrificadas, né? Eles entregam as tropas e saem correndo, fazem retirada, porque é a tal da guerra simétrica. E aí, o que a gente observa? A gente observa que a astúcia é uma virtude que a nova direita precisa cultivar. Você precisa ser astuto, você precisa saber exatamente que, se você vai ser um soldado nessa guerra, ah, você já está com alvo nas costas. E se você for capturado, sua vida acabou, porque você está em uma guerra, você está se metendo em uma guerra, você está se alistando voluntariamente numa guerra, tá?
Entenda, só apenas entenda. Se você quiser realmente ter esse papel, tudo bem, mas você tem que entender o que está fazendo, tá? Os antigos eram morais e usavam objetos como instrumentos; os modernos usam pessoas como se fossem tábuas. Inclusive, os militares que muitos de vocês idolatram usaram pessoas como se fossem tábuas. Vocês ficam falando do Lula, que usa pessoas como se fossem tábuas; essa cúpula militar que armou em janeiro também fez isso. Por isso, a razão do Estado é controversa, né? A racionalidade cega pensa planos visando conservar estruturas às expensas de sua razão de ser:
os seres humanos. E aquela história: o Estado não existe para os seres humanos, mas os seres humanos estão virando madeira a ser consumida pelo fogo para se manter um Estado. Ó, a inversão. Por isso que a razão do Estado é deplorável; ela está aí para ser criticada. A maneira moderna de fazer política é imoral e isso precisa ser falado. O pragmatismo é uma palavrinha bonita só no coração daquelas pessoas que não fazem exame de consciência nunca, que usam os outros como instrumentos e que acham que tudo que há no mundo são meios para que seus
desejos se realizem: pessoas de um egoísmo atroz e, se são um pingo de caridade, as pessoas que têm um pingo de caridade se chocam com a razão do Estado, tá? Esse meu professor, que estudou profundamente a razão do Estado, ai, era socialdemocrata, era católico, tinha caridade, olhava e falava: "Meu Deus do céu, a vida de bilhões de pessoas tratada como joguete, como pedaço de madeira". É assim que a gente tem que pensar. É assim que a gente tem que examinar o que é nossa realidade política, com essa coragem, com esse grau de profundidade. Esqueçam o
grupinho em que vocês estão; analisem uma vez com coragem a realidade como um todo. Esqueçam a torcidinha a que vocês decidiram pertencer. Todos nós escolhemos uma no dia da votação: eu, você e todo mundo. Mas, para analisar, a gente tem que suspender o juízo, ter distanciamento crítico e falar: "Deixa eu ver o que está acontecendo aqui". Porque, sim, esses desgraçados em quem eu voto não passam de uns desgraçados em guerra com outro lado desgraçado. E numa guerra, meu amigo, se eu não souber ver que trapaça está de cada lado, eu é que estou errada, porque
guerra e trapaça andam de mãos dadas, né? Dói na alma reconhecer como nos habituamos a fragmentar a comunidade a pretexto de salvar sua saúde. É cortar um pé para salvar o sapato que ficou apertado. O que foi o 8 de janeiro? Dos dois lados: do lado do pessoal que mandou para a cadeia e do lado dos militares que mandaram para criar a sensação falsa de caos social e tentar criar ali uma ruptura institucional. Dos dois lados, os que usaram as pessoas e os que se aproveitaram para golpear o adversário. Ou seja, pegaram enseja, cortaram um
pé para salvar o sapato que ficou apertado. É isso a política: cortar um pé para salvar o sapato que ficou apertado. Quando eu falo, às vezes, que a gente está em crise moral e que os nossos valores foram completamente subvertidos, é disso que estou falando, entendeu? Que crise moral é um negócio assim que fica no ar, é disso que estou falando: você vai cortar um pé para salvar o sapato que ficou apertado. O sapato é o objeto inanimado que você, em qualquer momento, joga fora. O sapato, tá? Se os nossos jornalistas lessem mais, tomariam menos
partido nesse jogo dos sete erros, mas eles não só... Leem, cada vez menos, como moldam discursos independentemente dos fatos e segundo partidos previamente tomados. Logo, uns dirão que o fracasso da tentativa é prova de que nada houve; outros seguirão esmiuçando detalhes de um golpe para encobrir as cores do outro. Ambos o farão com a absoluta certeza de garantir a paz e a ordem. Já sabemos quem levou a melhor no jogo principal; resta saber quem vencerá a partida na arena da opinião pública. Enquanto isso, a filosofia nos ajuda a ver, descrever, examinar e julgar discretamente, é
claro. Afinal, se a verdade ousasse gritar a essa hora, já estaria presa por ambos os lados. Como é a mesma outra máxima na guerra: a primeira coisa a morrer é a verdade. Eis onde estamos. Enfim, eu termino dizendo o seguinte: tenha sempre coragem de amar os seus, obedecer fielmente ao primeiro mandamento e não vender a dignidade a manejadores de almas. Desejo a você que logrou sair ileso desta última canalha batalha um feliz Natal. Esse foi o editorial da edição de dezembro da revista Esmeril, e tudo o que eu tenho a dizer para vocês sobre o
8 de janeiro. Se você ainda não é assinante da revista Esmeril, deveria se tornar, para pelo menos assim ter oportunidades de praticar o distanciamento ao analisar as coisas que acontecem. E se você entrar agora no site, você vai ver a capa da edição do mês. Não tem só essa matéria minha que é mais árdua, mais dura, né? Mais difícil. Tem matérias fantásticas, tem uma entrevista com cinco ilustradoras que têm feito um trabalho maravilhoso para as editoras infantis mais interessantes do país. Ah, tem uma crônica linda escrita pelo Pedro Henrique Alves sobre a promessa de um
mendigo, e é uma história real. É linda! A matéria mais bonita da edição é a promessa do mendigo. A gente tem um perfil do São Nicolau, mostrando que o São Nicolau de fato em quem se inspira, assim, em quem foi inspirada a imagem moderna de Papai Noel. Ele esteve no primeiro Concílio da Igreja Católica e deu um soco no herege. Ele realmente ficou tão indignado com a promulgação de uma heresia que foi lá e deu um soco no herege. A história é fantástica; vale a pena ser lida. E tem várias outras. Tem um diálogo lindo
do Paulo Sanchotene, justamente sintetizando tudo que se encontra na revista, todas as matérias. Ah, tem um texto da Patrícia que também está interessante, que é sobre se vale a pena a gente vencer na política e perder a cultura, e várias outras matérias interessantes para vocês. Tá bom? Deem uma olhada na capa e você que é nosso assinante, muito obrigado. Você que ainda não é, pense se vale a pena se encher de informações quando você ainda não é capaz de ler as entrelinhas. Nós oferecemos a vocês instrumentos para que vocês tenham capacidade de ler as entrelinhas
das notícias todas que vocês consomem por aí, para que vocês não fiquem reféns delas e não acabem sendo reféns desse jogo político que, como eu descrevi aqui, gostemos ou não. Obrigada pela companhia e até a próxima!
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