Rumores dizem que a Arábia Saudita está bombeando milhões de galões de água salgada e dizem que estão fazendo isso tudo no subsolo. Bem, esses rumores parecem ser verdadeiros. O país do Oriente Médio antes vivia em uma crise constante de escassez de água, mas isso mudou.
Mas por que eles estariam colocando água no subsolo, sendo ela tão vital na superfície? Todos sabemos que a Arábia Saudita está localizada em uma região desértica e é um dos lugares mais áridos do planeta. Mesmo com esse cenário, os sauditas conseguiram algo impressionante.
Criaram uma rede subterrânea de rios artificiais, apesar de não possuírem nenhum rio natural. Parece loucura, mas é real. A Arábia Saudita não conta com fontes naturais de água doce.
Não há lagos ou rios. Ainda assim, desde 2021, o país já construiu 522 represas. No caso Saudita, essas estruturas são utilizadas principalmente para capturar e armazenar água da chuva e de enchentes, que depois passa por tratamento e é distribuída por diversos sistemas.
Essas represas aproveitam ao máximo as raras chuvas que ocorrem no país, especialmente através dos wad, que são vales secos que se enchem de água apenas durante a estação chuvosa. Olhando para o mapa de precipitação da região, pode parecer improvável que tão pouca chuva possa fazer diferença. Surpreendentemente, faz.
Em determinados períodos do ano, a quantidade de chuva é suficiente para abastecer cidades inteiras. As represas armazenam essa água proveniente de chuvas e enchentes sazonais. Isso é fundamental, pois com as temperaturas extremamente elevadas da região, a evaporação seria muito rápida se essa água não fosse controlada.
Além disso, a capacidade total de armazenamento dessas represas é impressionante. Cerca de 650 bilhões de galões de água. A Arábia Saudita conta com diversas represas de grande importância, como a represa de Holly, a segunda maior do país localizada na província de Meca, com capacidade para quase 250 milhões de met cbos.
Ela serve para controlar enchentes, irrigar plantações, abastecer a população e recarregar os lençóis freáticos. Apenas na região de Meca há 60 represas, com uma capacidade conjunta de 232 bilhões de galões de água, demonstrando o esforço do país em aproveitar ao máximo os recursos hídricos disponíveis. Ela tem investido fortemente em tecnologias de ponta para gerir seus recursos hídricos, sistemas baseados em inteligência artificial que são usados para monitorar em tempo real o consumo de água, detecção de vazamentos e controle de pressão nos dutos.
Isso reduz desperdícios, aumenta a eficiência do sistema e ajuda a prever falhas antes que se tornem problemas maiores. Apesar dessas estruturas, as represas ainda são uma fonte secundária de água. A principal fonte hídrica do país está no subsolo, em grandes reservatórios naturais conhecidos como lençóis freáticos.
Estima-se que existam cerca de 26 trilhões de galões de água subterrânea sob a Arábia Saudita. Contudo, a maior parte desse volume não é renovável. Apenas cerca de 739 bilhões de galões por ano são naturalmente reabastecidos pelas chuvas, sendo considerados seguros para uso contínuo.
O restante dessa água subterrânea é chamada de água fóssil, um recurso hídrico armazenado há milhares ou até milhões de anos, quando a Península Arábica era bem mais úmida. Essa água se acumulou no subsolo ao longo de milênios, mas não se regenera com o clima atual extremamente seco. Uma vez retirada, ela não volta mais.
Mesmo assim, o país depende fortemente dessa fonte para abastecer suas cidades, fazendas e indústrias, utilizando sistemas de bombeamento e distribuição para manter o fornecimento. A água subterrânea representa uma solução importante para a Arábia Saudita, mas está longe de ser ilimitada. O país consome muito mais do que é capaz de repor naturalmente e a parcela renovável da água subterrânea não chega nem à metade da demanda nacional.
Esse recurso é usado em diversas frentes, desde o consumo humano e saneamento até a irrigação agrícola, a indústria e até usos superérfluos, como parques e lavagem de veículos. O problema se agrava com o clima árido e imprevisível. As chuvas são raras e irregulares, o que significa que a recarga natural das reservas subterrâneas é incerta e insuficiente.
Apostar nesse tipo de fonte, especialmente na água não renovável, é como depender de uma poupança sem qualquer renda futura. Em algum momento o recurso se esgota. Caso a extração siga em ritmo acelerado, as reservas podem secar, deixando o país vulnerável, especialmente diante do crescimento populacional e do aumento contínuo na demanda por água.
Para tentar contornar essa crise iminente, a Arábia Saudita investe na reutilização da água por meio de estações de tratamento. Hoje existem 99 unidades operando no país, que em 2019 foram responsáveis por tratar cerca de 1. ão300.
000 galões por dia. A expectativa é que esse volume cresça em torno de 4% ao ano até 2050. No entanto, mesmo com esse avanço, ainda será um desafio acompanhar o ritmo do crescimento populacional.
e da necessidade crescente por água potável e industrial. Além das usinas de dessalinização e rios artificiais subterrâneos, a Arábia Saudita aposta pesado no reuso de água tratada, especialmente a chamada água cinza. Essa água, vinda de esgoto doméstico e industrial, passa por processos rigorosos e é reutilizada para irrigação, resfriamento industrial e áreas verdes.
Cidades como Riad já contam com redes exclusivas para distribuir essa água reciclada. Essa estratégia reduz a pressão sobre os arquíferos e dessalinizadoras, tornando o sistema mais sustentável em pleno deserto. O sucesso de qualquer plano hídrico também depende da população.
A Arábia Saudita tem implementado programas educacionais voltados ao uso consciente da água, desde escolas até campanhas em redes sociais e na televisão, com o objetivo de mudar hábitos e reduzir o consumo per capta. Com sua liderança no setor de dessalinização, a Arábia Saudita está formando parcerias com países como Egito, Jordânia e até nações africanas, tanto para fornecer água como para compartilhar tecnologia e conhecimento técnico. Com a rápida diminuição das reservas subterrâneas, a escassez de chuvas e uma demanda cada vez maior por água potável, os engenheiros sauditas tiveram que encontrar soluções inovadoras.
Como o país não possui rios naturais, eles decidiram criar seus próprios rios artificiais. Aproveitando a proximidade com o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico. A ideia surgiu em Riad, bombear milhões de galões de água salgada e canalizá-los sob o deserto, criando um vasto sistema de distribuição hídrica.
Esse sistema consiste em uma enorme rede de tubulações subterrâneas projetadas para transportar água dessalinizada por todo o território saudita. A infraestrutura total se estende por cerca de 14. 000 1 km, mais do que o dobro do comprimento do rio Nilo.
Essa impressionante hidrovia subterrânea é considerada uma das maiores obras de transporte de água já construídas pelo ser humano. Ao optar por enterrar essas tubulações, a Arábia Saudita conseguiu minimizar a perda por evaporação, um desafio constante em um ambiente onde as temperaturas chegam a 50ºC. Inicialmente, os canais de água eram superficiais, mas o novo modelo subterrâneo protege a água do calor extremo, da contaminação e ainda mantém a pressão e eficiência do fluxo por longas distâncias, garantindo um abastecimento mais seguro e duradouro para o país.
A construção dessa infraestrutura não foi motivada por luxo, mas sim por pura necessidade. Sem rios naturais e com cidades em rápido crescimento, como Riad, Jidá e Meca, o país precisava encontrar uma maneira confiável de fornecer água doce. Para isso, engenheiros enfrentaram desafios extremos, perfuraram montanhas com tuneladoras e explosivos, romperam rochas densas como granito e calcário e instalaram dutos de mais de 2 m de diâmetro com precisão milimétrica para garantir estabilidade e evitar falhas no sistema.
Além das montanhas, os trabalhadores também enfrentaram as duras condições do deserto árabe, com temperaturas superiores a 50º Cus, dunas móveis, tempestades de areia e até enchentes ocasionais. Por isso, optou-se por enterrar os dutos, o que ajuda a preservar a água. Essa água, embora venha do mar, passa por um processo de dessalinização para torná-la potável.
Embora eficiente, esse método consome muita energia e é até 10 vezes mais caro que fontes convencionais, um alto custo que a Arábia Saudita precisa assumir para garantir o futuro do seu abastecimento hídrico. Apesar dos avanços na dessalinização, o processo também traz desafios ambientais significativos. O principal deles é o descarte de salmoura, um subproduto altamente salgado que pode afetar gravemente a vida marinha se não for tratado adequadamente.
Ainda assim, a Arábia Saudita se tornou a maior produtora de água dessalinizada do mundo. 1980, quando sua infraestrutura era mínima, o país passou a investir pesadamente no setor. Em 2024, o número de usinas chegou a 43, sendo a maior delas a estação de Raz Alkair, reconhecida pelo Guinness World Records como a maior do planeta, com capacidade para produzir 792 milhões de galões de água doce por dia.
Além da Rasa Alcair, destaca-se também a planta de dessalinização de Juba que opera com cerca de 211 milhões de galões diários. Com esse nível de produção, a Arábia Saudita lidera globalmente, superando países como Israel, Austrália e Emirados Árabes Unidos. Paralelamente ao avanço tecnológico, o país lançou um dos projetos ambientais mais ambiciosos do mundo, o projeto de reflorestamento saudita.
O plano visa combater a desertificação, plantando 10 bilhões de árvores e protegendo 30% do território nacional, com o reflorestamento de 184 milhões de hectares para restaurar o solo, melhorar a segurança alimentar e criar uma barreira natural contra o avanço do deserto. Os benefícios vão além do solo. O reflorestamento também promete reduzir poluentes, melhorar a qualidade do ar urbano e baixar a temperatura média em até 2,2ºC.
Esse resfriamento pode ser crucial em regiões onde o calor extremo ultrapassa os 50ºC. Até esse ano de 2025, centenas de milhões de árvores já haviam sido plantadas, com destaque para cidades como Riad e Neon, que estão incorporando infraestrutura verde em seus planos urbanísticos. Mais do que uma ação ambiental, essa iniciativa representa uma mudança cultural e estratégica rumo a um futuro sustentável para as próximas gerações sauditas.