Irmãos e irmãs, chegamos a mais um início do tempo quaresmal. Nós, que andamos perdidos no vai e vem do mundo moderno, cheio de pressa, cheio de ansiedade, corremos de um lado para outro; mas se nos perguntássemos quantos dos que correm correm para Deus, a resposta seria que são poucos. Nós, que somos tão ansiosos para aproximar-nos das coisas que são boas para nossa sensibilidade, que são agradáveis e prazerosas, somos tão tardos, tão lentos, para nos dirigirmos com todo o nosso ser a Deus.
No entanto, esta vida acaba; é o que nós recordamos ao colocarmos sobre as nossas cabeças esse punhado de cinzas. Diz-nos a Igreja: "Lembra-te, homem, que és pó e ao pó retornarás. " Nosso corpo será reduzido a pó, e este mundo também será reduzido a pó.
Nada do que vemos aqui tem real importância, pois a única coisa que realmente importa é onde passaremos a eternidade para sempre. Essa expressão "para sempre" fazia tremer a Santa Teresa. Para sempre!
Pensemos: para sempre no inferno, para sempre na companhia de Satanás, para sempre rodeados de fogo. Não é o que queremos para nós. Exatamente por isso, a primeira leitura do profeta Joel nos diz de maneira tão enfática: "Rasgai o coração e não as vestes; voltai para o Senhor, vosso Deus, que é benigno e compassivo, paciente, cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo.
" Rasgar o coração são palavras fortes, porque ele nos convoca não a um arrependimento superficial que fique apenas nas aparências, com o vago desejo de não reincidir. Não! Ele diz: "Rasgai!
" O apóstolo, na segunda leitura, como que se ajoelha aos pés daqueles a quem ele prega, e diz em nome de Cristo: "Nós os suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. " Ele não diz que suplicar a Deus o pregador de Cristo, como que de joelhos diante das almas, diz: "Eu vos suplico a vós, deixai-vos reconciliar com Deus. " Não é algo que vem de vós, é algo que vem da graça.
Não é algo produzido pelo vosso esforço, mas é produzido pela força e pela ação do próprio Cristo, de modo que a única coisa que você tem que fazer é deixar-se reconciliar. Quantas graças Deus nos dará durante essa Quaresma para que nós nos deixemos reconciliar com Ele! Nós precisamos, irmãos, perceber a urgência dessas palavras.
O profeta Joel diz: "Deixe o esposo seu aposento e a esposa o seu leito. " Ele está falando para casais de recém-casados. A urgência da conversão é tão grande que ele conclama: "Deixem a noite de núpcias, deixem a lua de mel, larguem tudo para trás, venham correndo na direção do Senhor, porque agora é o momento favorável.
Agora! Não amanhã, agora! " Nós podemos adiar a nossa conversão, e quando eu digo conversão, eu me refiro não apenas ao fato de alguém que antes não frequentava a igreja e que agora passou a frequentar.
Quando eu digo conversão, eu quero dizer o nosso desapego ao pecado, o nosso apego a Cristo, o fato de levarmos a sério a vida espiritual, de nos afastarmos radicalmente do que nos afasta de Deus. Agora é o tempo favorável! Nós não sabemos quanto tempo nos resta; todos os dias morrem 180.
000 pessoas no mundo, e um dia nós seremos um número nessa estatística. Não sabemos quando, não temos nenhum controle sobre isso, não podemos deixar para depois. São João Bosco conta que ele conheceu um jovem que frequentava o oratório, que recebia muitos avisos para mudar de vida, mas ia adiando a sua conversão.
O jovem morreu e depois apareceu a São João Bosco em desespero, dizendo: "Agora é tarde demais para mim. " Santo Afonso Maria de Ligório conta de um outro rapaz muito ocupado com os prazeres do mundo, que sempre dizia: "Eu me converterei antes de morrer. " Estava numa festa, de repente sentiu uma pontada no peito, caiu no chão e começou a agonizar.
Antes do último suspiro, ele disse: "Muito tarde, muito tarde," e a sua alma foi levada pelos demônios para o inferno. São Vicente Férrer conta de um pecador que não queria confessar; estava doente, ele mesmo foi visitá-lo na sua casa, insistiu para que ele se arrependesse e recebesse absolvição. Ele disse: "Agora não, amanhã eu me confesso.
" Naquela mesma noite, ele morreu, e São Vicente Férrer teve uma visão dos demônios dizendo: "Agora ele nos pertence. " São Luís Maria Grignion de Montfort conta de um jovem que, muito influenciado pelos amigos, disse: "Ainda sou muito jovem, vou aproveitar um pouco mais a vida; mais para frente eu me arrependo. " Tempo depois, ele sofreu um acidente e morreu sem os sacramentos, e São Luís Maria viu aquela alma sendo levada para o inferno.
Santo Afonso conta de um homem que dizia sempre para si: "Não estou pronto. Quando melhorar, eu me converto, eu me confesso, mas ainda não, ainda eu não sinto o desejo. " Ele adoeceu rapidamente, a doença se agravou e ele morreu inesperadamente.
Então, depois, o santo foi rezar a Santa Missa pela sua alma, e ele disse: "Já não preciso mais disso, pois fui condenado. " Para não irmos muito longe, no último domingo fui celebrar na comunidade de Santa Catarina de Sena. Duas senhoras chegaram; uma delas me disse: "O meu marido está internado no pronto-socorro, ele tem um câncer e precisa de atendimento; o senhor pode ir lá?
" Eu perguntei: "Bom, mas ele vai morrer agora? Tem assim perigo iminente? " Ela disse: "Não, ele está lá, não tem mais muito o que fazer; a doença já está indo adiante.
" Mas eu sentia assim no coração aquele incômodo, aquela inquietação. Fui ao hospital, dei os sacramentos imediatamente. Logo que eu saí do quarto, o homem morreu.
Quem sabe o dia de amanhã? Nós não podemos adiar a nossa conversão, queridos irmãos! Agora é o tempo favorável!
Voltemo-nos ao Senhor com jejum, com oração, com obras de caridade, esmolas, aquilo que nós pudermos fazer para nos desapegarmos desses bens materiais que um dia nós teremos que deixar aqui. Apresentemos ao Senhor as nossas ofertas, mas, sobretudo, a oferta do nosso coração rasgado, na nossa alma completamente voltada para Ele, mediante a oração. E façamos nossas as palavras de Davi no Salmo responsorial: "Criai em mim um coração que seja puro; dai-me de novo um espírito decidido".
Chega de indecisão, chega de claudicação, chega de ir e voltar. Senhor, dai-me um espírito decidido para que, nessa Quaresma, eu me converta de verdade, para que esta seja a grande Quaresma da minha vida. Senhor, dai-me o espírito decidido para que eu carregue a minha cruz e jamais volte para atrás.