O que o conto "A Negrinha", de Monteiro Lobato, tem a nos ensinar? Será que, de fato, ele era racista? Será que este é um conto racista?
Venha comigo para descobrir! Seja bem-vindo ao Oliver Talk. Eu sou Luciano e hoje nós iremos falar sobre o conto "A Negrinha", de Monteiro Lobato, e o que ele pode nos ensinar, além de como podemos refletir sobre o conto a partir dos dias de hoje.
Certo, então se você está aqui na série "Bloquinho dos Livros", já conhece o nosso proceder. Primeiro, falamos sobre o resumo da obra, depois seus pontos principais, e, por fim, os tópicos para a discussão. Certo?
Esta foi a primeira obra adult a que eu li de Monteiro Lobato. Monteiro Lobato é muito conhecido por causa das obras infantis, como "Sítio do Picapau Amarelo", entre outras. E, como é bem sabido, ele teve uma vida conturbada nessa questão racial.
Alguns historiadores e outras pessoas que estudaram sobre a vida de Monteiro Lobato averiguaram e verificaram que ele participava de sociedades eugenistas, sociedades racistas, e por aí vai. Mas, surpreendentemente, este conto, "A Negrinha", na minha percepção, tá, pessoal, ele é, na verdade, uma descrição e uma denúncia sobre o racismo. E eu quero avaliar isso com vocês aqui.
Caso você não tenha lido, por favor, há o link aqui na descrição para você adquirir a obra. Em primeiro lugar, do que se trata o conto "A Negrinha"? O que ele fala?
Vamos ler aqui o nosso resumo: "A Negrinha" é um conto de Monteiro Lobato, publicado originalmente em 1920, que narra a história de uma menina negra, órfã, criada como escrava doméstica após a abolição da escravatura no Brasil, sob os cuidados da opressora. Assim, a criança é constantemente maltratada e privada de carinho e dignidade. O conto critica a sociedade patriarcal e racista da época, expondo as contradições e hipocrisias das elitistas brasileiras.
Olha, chega a ser irônico um pouco o texto desse resumo, porque, a despeito de falar de sociedade patriarcal, quem cuida, na verdade, da nossa negrinha é uma mulher — e uma mulher idosa — na qual ela se finge de virtudes cristãs para as pessoas que estão de fora da sua casa. Mas quem está dentro da sua casa, principalmente as mulheres negras, sofre muito, os maus tratos, e, principalmente, muito mais do que maus tratos, é uma espécie de castigo. Como, por exemplo, você tem uma cena dentro do próprio livro, na qual ela dá um ovo quente para a negrinha segurar até queimar a mão dela.
Então, a Negrinha, no conto de Monteiro Lobato, ela só sofre, apenas apanha e não tem nenhuma perspectiva de vida de sair daquele tipo de situação. É um conto muito triste, certo? Mas que, de fato, revela um pouco sobre a situação dos negros, especialmente das mulheres negras que foram trabalhar nas casas das grandes senhoras, ou especificamente da senhora ali.
Então, o conto tem como análise essa questão do racismo e, principalmente, a questão do Brasil pós-abolição, porque você tinha algumas pessoas e, assim, representada nesse conto, ela era contra esse tipo de abolição, né? Como se a negra pudesse ser gente, ainda mais como a mulher negra pudesse ser gente. É uma coisa que era absurda aqui para a dona dos escravos então.
O conto vai partir de uma sociedade escravocrata que está se demolindo, só que tem muita gente que ainda resiste a esse tipo de elemento, não é? Então, a primeira coisa é a seguinte: a sinhazinha lá adota essa negrinha, correto? Esta negrinha começa a morar com ela, só que, basicamente, ela só apanha, tem que ficar calada, tem que ficar muda.
E, se fizer alguma coisa, apanha. Se a sinhazinha não estiver bem, ela vai lá e bate nela, como para descontar o seu estresse e por aí vai. O que acontece?
Todo mundo que olha de fora, como às vezes não sabe a situação lá de dentro, como no caso o padre, que muitas vezes chama a senhora ali de "Nossa", ela é a baluarte das virtudes cristãs de fora. "Nossa, essa mulher aqui, ela adotou uma negra! ", né?
Mas quem está lá dentro é um grande sofrimento. Então, quando a gente faz essa análise aqui do conto, percebemos o quê? A opressão e a ausência de afeto.
Uma das coisas que me chama a atenção nesse ponto, além do racismo, é a questão da educação infantil. Porque a negrinha é cuidada, na porrada, basicamente. E essa questão da educação infantil brasileira é uma coisa que me incomoda muito, porque, de fato, nós conhecemos pouquíssimas pessoas que estudam para saber como cuidar dos seus filhos.
E eu conheço muitas pessoas que cuidam dos seus filhos na gritaria, com castigos terríveis que nem um adulto mereceria, que nem um prisioneiro aqui no Brasil hoje tem, não é? Com toda a espécie de maldade. Isso tá até de acordo com um pouco da regra C do Jordan Peterson de como você deve cuidar dos seus filhos.
Eu vejo que a educação infantil no Brasil é baseada não no pai que vai estudar para cuidar daquela criança, mas sim no pensamento: "não, minha mãe criou assim, meus pais criaram desse jeito e eu vou criar você também dessa maneira". A educação infantil — e não estou falando de educação escolar, tá, pessoal? — tô falando da educação nas nossas casas, não é?
É absurdamente relegada ao escanteio. E isso é muito engraçado se a gente parar um pouco para pensar que nós estudamos para o trabalho. Nós ficamos quatro anos na universidade ou em algum curso técnico ou dedicamos algum tempo para um estudo de um emprego que pode acabar por causa da inteligência artificial ou a gente pode ser demitido.
Por aí vai, e para coisas que são importantíssimas, né? Como estudar para saber ser um bom pai, ser um bom marido, para educar os meus filhos. A gente não estuda, não é?
É por isso que dizem que a sociedade brasileira é dinheirista, porque você só quer estudar para coisas que te trazem dinheiro no curto prazo, mas para coisas perenes, como casamento e educação dos filhos: ah, não, eu vou fazer como os meus pais fizeram, e a coisa vai dar certo. É óbvio que vai, tá tudo errado! E a educação infantil.
. . A da Negrinha, na base dos maus-tratos, na base da maldade, na base do terror psicológico.
Eu vejo hoje, eu vejo hoje. Não é só naquela época. Tudo bem que aqui é uma coisa mais, eh, terrível, pois na época da escravidão não tinha, na época da escravidão, não era uma mulher extremamente racista.
Não existia, eh, eh, eh, alguma opção para a Negrinha ali no conto. Mas eu vejo, ainda assim, seja uma criança branca, negra, ou japonesa, seja lá qual cor o sujeito for, que a educação infantil do Brasil é uma desgraça no geral, tá? Não é?
E você vai ver no conto que existem crianças brancas que são bem tratadas, vamos dizer assim, que elas recebem uma boa educação infantil, ao ponto de que quando a Negrinha conhece elas, ela fica até com medo de conversar com elas, porque ela fala: "ih, a sinhazinha já vai me espancar. " Só que dessa vez a sinhazinha não a espanca; ela conhece um pouco do afeto, da liberdade, e ela fica maravilhada quando vê uma boneca. Ela nunca viu uma boneca na vida inteira dela; a única coisa que ela viu foi o porrete.
Não é? A ponto de que quando ela perde aquele pequeno momento de liberdade, ela entra em depressão, e acontece algo que eu não irei contar para você. Você vai ter que ler esse link aqui.
Ah, então vamos fazer aqui alguns tópicos para reflexão e debate. Muito importante, né? Como Monteiro Lobato utiliza a personagem Negrinha para criticar a sociedade brasileira.
Isso que tá. . .
O Monteiro Lobato, ele de fato é uma figura controversa, porque ao mesmo tempo que ele andava com essas sociedades eugenistas, ou seja, o que é o higienismo, para quem não sabe? É quando eu quero, como a turma diz: "ah, eu quero limpar minha raça; quanto mais ela for melhor," ou coisa assim, né? Ao mesmo tempo, ele escreve esse conto numa vibe com uma descrição assim real do que acontecia, e quanto mais você vai lendo, você vai se simpatizando com a personagem principal, com a Negrinha, e vai se irritando com a sinhazinha.
Não é? Ao ponto que, muitas vezes, a gente entra nessa questão, eh, principalmente ligada ao racismo no Brasil. Eh, eu posso dizer para vocês uma coisa, né?
Eh, tirando as teorias se existe racismo estrutural ou não, né? O que a gente sabe é que existe uma coisa chamada racismo, e o racismo é o quê? É um ato concreto no qual você justamente não pode fazer algo por causa da cor da sua pele.
Seja qual cor você tenha, você é impedido de fazer aquilo por causa da sua pele. E eu já vi coisas assim; eu já vi coisas assim em todo tipo de situação diferente que acontece, né? A construção social do brasileiro é feita de vários povos absolutamente diferentes, e eu acho que, assim como Gilberto Freyre, como ele fala em "Casa Grande e Senzala," o que a gente tem que fazer?
Eu, pelo menos, essa é a minha opinião, não pessoal: a gente tem que saber extrair o melhor da cultura de cada povo, de cada nacionalidade. Eu penso assim; é justamente por isso que a gente lê literatura, porque na literatura você vai estar, você terá não somente a história, mas o melhor da nacionalidade daquele sujeito que está ali. Não é?
Meus amigos, este é um ponto muito importante. Então, eu recomendo que você leia o conto "Negrinha," faça sua própria análise, porque eu vi muita gente falando que é um conto racista. Não é a minha opinião; eu penso ao contrário.
Eu acho que é um conto que denuncia o racismo. Eu vejo assim quando eu leio, e eu gostaria de saber qual é a sua opinião assistindo, lendo este conto que está aqui na descrição. Certo?
Muito obrigado, a gente se encontra, então, no próximo bloquinho dos livros, e caso você ainda não tenha visto os outros vídeos, clica aqui para você saber a série de vídeos que a gente tá fazendo sobre grandes contos da literatura universal. Até a próxima! Fui!