Muito boa noite, meus caros. Sejam bem-vindos ao Lente Católica desta noite, segunda-feira de carnaval. Estamos aqui ao vivo nos estúdios da Comunidade Pantocrator, transmitindo o Lente Católico. O Lente Católico é um programa semanal que ocorre sempre às segundas-feiras, às 21h30, e é sempre um prazer tê-los aqui comigo. Se você já conhece o Lente Católico e participa conosco, seja muito bem-vindo! E se você não conhecia ou não participava, pronto! Agora você pode fazer a sua inscrição no nosso canal, ativar as notificações e passar a participar toda segunda-feira. Toda segunda-feira, nós temos aqui no Lente Católico
um momento de conversa a respeito da nossa fé, sempre buscando um aprofundamento, sempre buscando dar alguns passos em direção ao conhecimento de Deus. Nós só podemos amar aquilo que conhecemos, então procuremos sempre conhecer a Deus para amá-lo cada vez mais. Eu sou o professor Rafael Tonon, sou professor de História e Filosofia, sou leigo consagrado aqui da Comunidade Pantocrator e apresento o Lente Católico toda semana. É um prazer estar aqui com você. No dia de hoje, antes de começarmos o nosso tema – e qual é o nosso tema, hoje? – nós vamos falar sobre penitência. Quarta-feira
de cinzas já começa a quaresma, então vamos conversar a respeito da penitência. Existem penitências melhores, existem penitências maiores e menores. Como que é esse negócio de penitência? Vamos entender o que a Igreja realmente diz a respeito disso. Vamos olhar para o Catecismo, vamos olhar para os Santos Evangelhos, para a tradição da Igreja e aprender com todo esse tesouro que a Igreja apresenta a nós o que realmente é a penitência. Existem muitos mitos e muita coisa que, às vezes, é mal entendida nesse campo da penitência. Então, vamos falar disso na noite de hoje. Mas antes da
nossa conversa sobre penitência, eu gostaria de convidá-los a colocar já as suas intenções para esta noite. Você quer rezar por quem? Você quer rezar por qual intenção? Coloque aí a sua intenção, a sua paróquia, sua cidade. Já vai comentando aí, vamos colocando tudo isso diante de Deus, pedindo a Ele que nos abençoe, que nos ilumine com a luz do Espírito Santo para que possamos sempre mais amá-lo e servi-lo. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino;
seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém. Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém. Senhor Todo-Poderoso, acolha as nossas intenções, nos abençoe e nos guarde hoje e sempre.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Muito bem, sejam muito bem-vindos aqui ao Lente Católico nesta noite. E o nosso tema são as penitências. Vamos começar a quaresma agora, quarta-feira de cinzas. E, afinal de contas, qual penitência escolher para esse tempo de quaresma? E aliás, uma outra pergunta que fica é a seguinte: por que fazer penitência? Para que fazer penitência? É necessário mesmo? É preciso fazer penitência? Vamos entender um pouquinho essa dinâmica da penitência. Nós sabemos, meus caros, que o tempo da quaresma, assim como o tempo do advento, também são tempos
penitenciais na vida da Igreja, só que com uma certa diferença. O tempo do advento é o tempo daquela espera alegre pela vinda do Messias. Nós celebramos todos os anos o nascimento de Jesus; nós recordamos esse nascimento que já ocorreu, já aconteceu de uma vez por todas, para o nosso bem, para a nossa salvação. Mas nós sempre nos preparamos no tempo do advento, nessa era alegre pela vinda de Jesus. Agora, quando nós falamos da quaresma, nós estamos nos preparando para o centro, o coração da vida litúrgica da Igreja, que é a festa da Páscoa. São Paulo
vai nos dizer que, se nós não cremos na ressurreição, se a ressurreição não fosse uma realidade, nós seríamos os seres humanos mais dignos de dó. Por quê? Todo edifício da fé católica desmoronaria se não houvesse a ressurreição. A ressurreição não é um símbolo; a ressurreição é uma realidade. Mesmo que existam, às vezes, interpretações um tanto quanto materialistas do Evangelho, essas interpretações não são parte da fé da Igreja. Não é por causa dessas interpretações tortas que os mártires derramaram seu sangue. Hoje em dia, por exemplo, nós encontramos linhas de teologia que dizem que Jesus não ressuscitou
de fato, que Ele não voltou dos mortos fisicamente, com seu corpo vivo, um corpo humano vivo que voltou da morte. Existem correntes teológicas que dizem que Jesus ressuscitou entre aspas, porque não admitem a ressurreição, dizendo que a verdadeira ressurreição de Jesus é a memória, aquilo que Ele ensinou, aquilo que Ele falou, que continuou vivo na mente de seus seguidores. É uma visão materialista, uma visão do cristianismo como se fosse uma espécie de doutrina filantrópica, de um grande líder que ensinou a fazer o bem. E assim, reduzem o papel de Cristo, que é verdadeiro Deus e
verdadeiro homem, a um mero líder humano, ao lado de Gandhi, de Martin Luther King. Então, estas visões teológicas, essas teses, não só são falsas como não fazem parte da fé da Igreja. Os apóstolos não foram martirizados por conta de uma mentira. Os apóstolos viram o ressuscitado, deram testemunho do ressuscitado. São João vai dizer: "Quem viu sabe que é verdade e dá testemunho". Aliás, em sã consciência, ninguém morre por uma mentira; agora, por uma verdade, e ainda mais por... Uma verdade eterna que nos garante também a vida eterna. Aí sim, nós podemos morrer por isso. Então,
os apóstolos derramaram seu sangue; os mártires derramaram seu sangue, não por acharem que Jesus era um líder, um revolucionário que ressuscitou simbolicamente através da memória que os seus seguidores faziam. Não! Eles derramaram o seu sangue porque estavam convictos da Ressurreição real do Filho de Deus feito homem. Essa é a fé da Igreja. Por isso a Páscoa é o centro da vida litúrgica; a Páscoa é a festa mais importante de todo o ano litúrgico. Tudo converge para a Páscoa, e até mesmo as outras festas litúrgicas são organizadas em função da Páscoa. Nesse tempo da Quaresma, que
vamos começar na Quarta-feira de Cinzas, nós somos convidados pela Igreja a um tempo de conversão e de penitência. Essas são as duas grandes palavras: conversão e penitência. O que é converter-se? Conversão é mudança; é mudar. Uma pessoa tinha cabelo, agora não tem; é uma conversão natural, é uma conversão que a própria natureza fez na vida da pessoa: ali, uma mudança. A pessoa antes conseguia fazer determinados exercícios, agora, por uma condição física, não consegue. É uma conversão, uma mudança. Agora, quando falamos da conversão no âmbito da fé, estamos falando de um movimento, em primeiro lugar, do
coração e da mente: uma mudança de mentalidade, de ideias, e consequentemente, mudando a mentalidade, mudando as ideias, mudamos as atitudes. Então, a conversão é este chamado a mudar, a deixar o homem velho e a abraçar, a assumir este homem novo, transformado pela vida de Cristo. Isso é a conversão. Então, somos chamados, nesse tempo da Quaresma, de um modo especial. Somos chamados o tempo todo, não só na Quaresma, mas o ano todo; mas na Quaresma, de um modo especial, devemos voltar o nosso olhar sobre nós mesmos e pensar: como eu tenho usado o tempo que Deus
me dá? Como eu tenho aproveitado a minha vida? O quanto eu tenho amado a Deus e feito com que Deus fosse, né, com que Deus seja amado pelos outros? Então, é um tempo de olhar para nós mesmos e perceber o quanto estamos perto ou longe, distantes da vida de Cristo. São João Crisóstomo dizia que Cristo se fez homem para possibilitar aos homens a graça de subir até Deus; ou seja, Deus desce do céu e vem à terra para que os homens da terra possam subir aos céus. São João Paulo I dizia que o Verbo se
fez homem para ensinar o homem a ser homem. Então, a medida para a nossa vida é Cristo. Vamos olhar, nesse tempo da Quaresma, para Cristo, para a vida de Cristo, e vamos comparar a nossa vida. Mas aí você pode me dizer: “não, mas em relação à vida de Cristo a minha vida está muito longe.” Pois é, mas Cristo se fez homem; ao fazer-se homem, Cristo assumiu tudo que é propriamente humano. Santo Irineu de Lião dizia que aquilo que não foi assumido não foi remido por Cristo; ou seja, Cristo assumiu a condição humana por inteiro. Cristo
foi gestado, gerado, formado no ventre de sua mãe, nasceu, foi amamentado, teve de aprender a falar, teve de aprender a andar. Jesus passou por tudo aquilo que qualquer um de nós, seres humanos, passamos; teve de chorar para mamar, para ser alimentado por Nossa Senhora, teve de aprender as coisas. Ah, mas Jesus não é Deus? Ele é Deus, mas enquanto homem, ele está circunscrito a esta natureza, a estas limitações que são próprias da nossa natureza. Então, Jesus teve que aprender as coisas; Jesus teve que aprender tudo como qualquer bebê aprende, e foi submisso ao seu pai
e à sua mãe. Aprendeu uma profissão, trabalhou, teve amigos, chorou quando seu amigo Lázaro morreu, foi a festas como as Bodas de Caná, comeu com as pessoas, conversou com as pessoas, deu atenção às crianças: “Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino dos Céus.” Falou com as mulheres e consolou as mulheres que choravam no caminho do Calvário. Jesus assumiu a condição humana por inteiro; ao assumir a condição humana por inteiro, Jesus fez isso justamente para nos dar exemplo, para nos ensinar. Então, quando olhamos para a vida de Jesus e nos colocamos em
oração, vamos conseguindo meditar estes mistérios e extrair um fruto muito grande. Por quê? Porque é na imitação da vida d'Ele que está toda a santidade. Quanto mais eu contemplo a vida de Cristo, mais eu amo a Cristo. Santo Afonso de Ligório dizia que toda santidade consiste em amar a Deus, e todo amor a Deus é em fazer sua vontade. Então, eu amo a Deus porque eu o conheço, e o amor a Deus consiste em fazer sua vontade. Eu começo a entender o que é vontade de Deus para mim e vou fazendo. É assim que nós
nos santificamos. Então, quando olhamos para a vida de Cristo, vamos extraindo muitas lições. Vamos extraindo a lição do esvaziamento: Jesus, que é Deus, nasce numa estrebaria e tem como companhia os animais que o aqueciam naquele local. Jesus, que é Deus, nasce numa estrebaria e nós queremos ser aplaudidos; nós queremos ser estimados; nós queremos que as pessoas nos respeitem, que as pessoas nos honrem. Às vezes temos uma aspiração de glória humana, inclusive; queremos ser reconhecidos. Mas aquele homem, Deus, desce dos céus, vem à terra, no estrebaria, não em um berço de ouro. Então, no presépio, nós
temos muitas lições que Jesus nos dá na sua infância. Vemos que, depois da perda e do encontro no templo, o evangelista São Lucas vai dizer: “O menino Jesus desceu com eles para Nazaré; Maria e José eram-lhe submisso.” O menino Jesus era obediente. Então, pensemos nisso; pensemos nisso, dá para a gente tirar muitas lições da vida de Jesus: Jesus era submisso a José e à Nossa Senhora. Jesus passou 30 anos da vida dele em silêncio, obedecendo a Nossa Senhora, obedecendo a São José. Aprendamos nós também, se nós quisermos ser santos. Nós devemos entrar na casa de
Nazaré, devemos ser grandes devotos de Nossa Senhora e grandes devotos de São José, e fazer como Jesus, que viveu 30 anos debaixo da proteção de Nossa Senhora e São José, obedecendo. Se quisermos ser santos, obedeçamos a Nossa Senhora, obedeçamos aquilo que São José nos diz. E tem um segredo: o que Nossa Senhora nos manda. Como que eu vou saber o que Nossa Senhora nos manda? Basta olhar no Evangelho de São João, lá no capítulo 2, versículo 5. Nossa Senhora nos diz o que nós temos que obedecer daquilo que ela nos manda. O que Nossa Senhora
diz lá em João 2:5? "Façam tudo o que ele vos disser." Qual é a ordem de Nossa Senhora? Obedecer a Jesus. Simples! Está lá no Evangelho. Ah, mas eu rezei e não senti Nossa Senhora me dizendo nada. Não precisa! O Evangelho já disse, simples assim! Está lá: "Façam tudo o que ele vos disser." E então, conforme nós vamos olhando a vida de Jesus, nós vamos extraindo lições. No caminho do Calvário, Jesus para, no meio da sua dor, ele para e consola as mulheres de Jerusalém que choravam por ele. Ele vai dizer: "Minhas filhas, não chorem
por mim, chorem por vós e por vossos filhos." Não chorem por mim! Ele ainda consola no seu caminho de dor. Será que nós, nos nossos sofrimentos, nas nossas dores, somos capazes de parar e ajudar os outros? Ou será que achamos que somos o centro das atenções? Porque eu estou doente, porque eu estou necessitado, eu estou assim, estou assado, então todo mundo precisa olhar para mim e me servir. Ou será que eu sou como Jesus, no caminho do Calvário, que, no meio das minhas dores, paro para consolar quem está no caminho? Então, quando nós falamos da
Quaresma como tempo de conversão, é disso, né, que a Igreja está falando. Vamos olhar pra vida de Cristo e olhar pra nossa vida, e aí nós vamos começar a ver como, às vezes, nós estamos longe. E se estamos longe, a gente pode se corrigir. Isso depende de nós, é uma graça que Deus nos dá. É claro, Deus nos ajuda, mas o que Deus precisa de nós? Deus precisa da nossa decisão. Você e eu precisamos nos decidir. E por isso, durante a Quaresma, que é tempo de conversão, a Igreja propõe também a penitência. E o que
é a penitência? Nós, que somos pecadores, nós merecemos a punição, a ira de Deus. Porque Deus nos dá tanto! Deus nos deu a graça do batismo, Deus nos deu os sacramentos, Deus nos deu a Igreja, Deus nos deu seu Filho, Deus nos deu Nossa Senhora, nos deu os anjos, nos deu os Santos. Deus nos dá, o tempo todo, todo dia, tantas e tantas graças para que a gente se aproxime dele. E ainda assim, nós pecamos, nós somos maus, nós agimos mal. A nossa vida, muitas vezes, não reflete essa grandeza da vida de Cristo, a nossa
vida não faz brilhar a luz do Evangelho nos lugares onde nós estamos. Nós somos maus e precisamos ter humildade de olhar para os nossos defeitos. E o que é humildade? Humildade, como dizia São Francisco de Sales, é o primeiro degrauzinho para o céu. Se eu quero ir pro céu, o primeiro degrauzinho é a humildade. A humildade é uma virtude que me faz ter uma consciência reta de quem eu sou. O que é uma consciência reta? Uma consciência bem formada de quem eu sou. Eu não posso olhar para mim e me atribuir características e qualidades que
eu não tenho. Eu tenho que ser honesto. Tem um monte de qualidades que eu gostaria de ter, mas eu não tenho. Ou eu não tenho ainda. Eu posso ter, mas eu não tenho. Então, o que é humildade? Olhar para mim como eu sou, não achando que eu tenho o que eu não tenho e também não desmerecendo aquilo que eu tenho. E agindo como se eu não tivesse. O verdadeiro humilde reconhece os dons que Deus deu a ele, os dons que existem nele, mas ele também reconhece aquilo que ele não tem. Ele reconhece as virtudes que
ele ainda não alcançou. Ele reconhece os pecados que comete com toda a clareza e sem medo de pôr a mão na própria sujeira, na própria miséria. Essa é a virtude da humildade. O santo Cadar, São João Maria Vianney, numa certa ocasião, né, não se sabe se foi um acidente ou se foi algo proposital, mas numa certa ocasião chegou às mãos do Cadar um abaixo-assinado. Só que, quando Cadar leu aquele abaixo-assinado, ele se deu conta de que se tratava de um abaixo-assinado contra ele; era um abaixo-assinado para tirá-lo da paróquia de Ars. E o Cadar, quando
bateu o olho, ele viu que muitas pessoas tinham assinado, inclusive vários padres. E no cabeçalho do abaixo-assinado tinha lá as razões pelas quais ele deveria ser removido da paróquia. E lá estava dizendo que ele não era um sacerdote de uma inteligência muito notável, que tinha uma pregação muito simplória, falava de um modo muito rude, e nem um pouco rebuscado. Era um tanto quanto bravo com coisas erradas, e ali ia elencando uma série de defeitos. E o santo Cadar leu e concordou. Ele falou: "Realmente, eu não tenho tanta cultura. Eu não sei tão bem o latim,
eu não entendo tão bem outros idiomas, não tenho uma memória formidável." E ele foi reconhecendo: "Realmente, tudo isso aqui é verdade." O que o Cadar fez? Ele tomou um tinteiro e uma caneta, e ele mesmo assinou o... Abaixo-assinado contra ele mesmo, e aqueles que talvez pensaram que iriam humilhá-lo se surpreenderam ao ver que ele mesmo pedia ao Bispo que o removesse, porque realmente ele não tinha os dons, os dotes requeridos para estar onde ele estava. O que é isso? É humildade. O Cadarso não fez isso para aparecer, não fez isso por falsidade; realmente ele havia
se dado conta de quem ele era. São João Vianney, ele entrou no seminário já mais velho, tinha dificuldades para estudar, para aprender as coisas. Quando ele foi submetido aos exames finais para ordenação sacerdotal, alguns padres disseram ao bispo: "Mas o senhor vai ordená-lo mesmo assim, com todas essas carências, essas deficiências que ele tem?", porque faltavam muitos pré-requisitos. Ele não tinha boa memória, as notas dele eram todas no limite. E então, quando questionaram ao bispo, o bispo disse: "Sim, eu vou ordená-lo sacerdote, porque o João Vianney pode não ser o mais culto dos meus seminaristas, mas
é o que mais reza de todos eles, é o mais santo de todos eles." E assim, o Senhor Bispo fez e ordenou, e deu à Igreja o grande Santo Padroeiro dos Sacerdotes, que é São João Vianney. Mas São João Vianney sabia das suas limitações, ele sabia a humildade. Uma certa ocasião, durante um exorcismo, o Cadarso começou a rezar o ritual do exorcismo e, obviamente, no momento em que ele começa a fazer as invocações do nome de Jesus, da autoridade de Cristo sobre os demônios, os demônios entraram em fúria. Então, os demônios sacudiam o corpo do
possesso. Mas, num dado momento, acontece algo que é um tanto quanto cômico, apesar de toda a situação de uma possessão: num dado momento, o demônio mesmo diz ao Santo Cadarso, né? Disse: "Para, para, para, para, pode parar de rezar esse rito, pode parar, pode parar. Eu vou sair, mas eu vou sair porque você é santo." Porque o latim tá tudo errado, né? O próprio demônio identificou que a pronúncia, as palavras, o latim estava todo errado. Mas ele sairia; ele obedeceria pela santidade do sacerdote que estava diante dele. Então, a humildade nos coloca em nosso lugar.
A humildade nos tira do pedestal; ela nos coloca no nosso lugar e também não nos rebaixa. A verdadeira humildade não nos rebaixa. Aliás, quem se rebaixa demais pode ser um sintoma fortíssimo de soberba, porque às vezes, quando a pessoa se rebaixa, não é porque "eu sou um miserável, eu sou isso, eu sou aquilo, eu não tenho dom nenhum." Quando a pessoa se rebaixa demais também, às vezes, é porque ela quer ser vista e aplaudida. Essa é uma forma muito sofisticada de soberba. E por que é sofisticada? Porque às vezes engana a própria pessoa; a pessoa
começa a se acreditar muito humilde porque se rebaixa. Na verdade, às vezes, é só soberba. Então nós devemos pensar no seguinte: Quaresma é tempo de conversão. Olhemos para a vida de Cristo, sejamos humildes e façamos penitência. Aí entra o papel da penitência, que é importante, é fundamental fazer penitência, sim, é fundamental. Mas Deus precisa da minha penitência? Não. Deus não precisa; Deus não precisa da nossa penitência. Deus não precisa do nosso amor, Deus não precisa da nossa atenção, Deus não precisa de nada, porque Deus é perfeitíssimo. Se pegarmos lá o catecismo, qual é a definição
de Deus? Deus é um espírito perfeitíssimo, espírito de perfeitíssimo, de uma grandeza inigualável. É onisciente, é onipotente, é onipresente. Ele pode tudo, ele está em todo lugar, ele sabe de tudo. Nada pode detê-lo, nada pode contê-lo, nada pode impedi-lo de fazer o que ele quiser. Então, Deus não precisa. Mas Deus, que nos criou por amor, sabe que nós só seremos felizes nele, com ele. Deus nos fez, e ele sabe que nós só podemos encontrar satisfação na nossa vida junto dele. É o que nos diz o Salmo 129: "Junto dele é copiosa redenção, junto dele é
grande a salvação." Deus não nos criou e nos abandonou no mundo. Deus nos criou e nos deu os meios de nos aproximarmos dele, de vivermos com ele, inclusive de vivermos eternamente com ele no céu. Então, Deus não precisa de nada, mas nós precisamos. Então, o sentido da penitência não é simplesmente que nós vamos fazer alguma coisa para Deus. Deus não precisa. Deus não precisa da minha pregação, Deus não precisa ser defendido. Ah, mas tantas pessoas falam contra Deus, blasfemam. Deus não precisa de ninguém para defendê-lo. Agora, quem precisa de Deus somos nós. Nós precisamos de
Deus; nós só seremos felizes juntos com Deus. Então, a penitência se faz necessária. Por quê? Porque a nossa natureza foi corrompida pelo pecado, no princípio. E todos os seres humanos que nascem, com exceção da Virgem Maria, que foi salva por Jesus antes de Jesus salvar a humanidade. Ele salvou a sua mãe; ele preparou uma mãe que fosse digna dele. Então, o pecado não tocou Nossa Senhora em vista da missão que ela teria de gerar, de vestir de carne e sangue o Verbo eterno de Deus, que já existia antes de todos os séculos. Então, o pecado
não tocou a Virgem Maria; o pecado naturalmente não tocou Jesus, porque Jesus é Deus e o pecado é totalmente incompatível com Deus. Então, à exceção de Jesus e Maria, o pecado tocou a humanidade toda. Mesmo os santos foram tocados pelo pecado, mas Deus nos deu a graça da redenção, da salvação. Jesus mereceu para nós aquilo que a gente não poderia merecer. Então, a salvação nos foi dada gratuitamente por Jesus. Essa salvação se comunica, como pelo batismo. O batismo apaga o pecado original que é em mim, mas acontece que depois que o pecado original é apagado,
a inclinação para o mal ainda permanece. E nós, na medida em que vamos crescendo, vamos pecando de novo, vamos cometendo os pecados atuais. Mas Deus, ainda assim... Não nos abandona, nos dá a graça do Sacramento da Confissão, então nós podemos apagar esses pecados, podemos lavar os nossos pecados, as nossas vestes batismais no sangue do Cordeiro. É a visão de São João no Apocalipse. Então, na Confissão, eu me desfaço do pecado, eu me limpo do pecado e, nos outros sacramentos, Deus vai me comunicando as graças necessárias para minha salvação, vai me fortalecendo para que eu possa
chegar até a vida eterna. Então, o que acontece? Esta natureza que todos nós temos é uma natureza decaída, é uma natureza inclinada para o mal, mas o fato de a nossa natureza ser inclinada para o mal não nos determina. Não podemos nos conformar com isso. Ah, eu sou fraco mesmo, todo mundo é. Ah, mas eu não aguento, eu não tenho capacidade de resistir ao pecado! Não! Você não tem mesmo e ninguém tem. Agora, com a graça de Deus, nós podemos fazer coisas que até mesmo nós iremos duvidar. Por quê? Porque a capacidade não é nossa,
é graça de Deus. É graça de Deus. E o que Deus precisa para que a sua graça aconteça em nós? Primeira coisa: Deus precisa da nossa adesão, porque Deus não age contrariando a nossa liberdade. Ah, mas Deus sabe que tal coisa é o bem. Sim, ele sabe, mas e eu quero? Se eu não quiser, Deus não me imporá. Deus não mandará um anjo domingo de manhã para me acordar lá e dizendo: "Olha, vamos à missa." Aí, né? Porque primeiro mandamento: "Amar a Deus sobre todas as coisas." Então, vamos levantar! E depois você também tem que
guardar domingos e dias santificados. Olha aí, tem outro mandamento! Então, vamos lá para você não pecar mortalmente. Deus manda? Não! Por quê? Deus respeita a nossa liberdade. Se eu quero recusar a Deus, se eu quero viver longe de Deus, muito bem. Infelizmente, não serei feliz nem nesta nem na outra vida. Tem gente que até pensa que é feliz aqui nesta vida, sem Deus. Pensa só que é uma felicidade que sempre é atrapalhada por alguma coisa. É uma felicidade falsa. E, ao mesmo tempo, aquelas pessoas que vivem com Deus, vivem no meio de tribulações e de
problemas e vivem felizes, vivem tranquilas, porque sabem onde estão colocando a sua confiança. E sabe: Deus nos dá de amá-lo e de servi-lo. Então, a pessoa passa por isso aqui, ela sofre, sofre, mas passa. Agora, aquele que fica à caça de uma felicidade total e completa aqui nunca está feliz, nunca está feliz. Esses dias eu estava vendo uma entrevista de um jogador de futebol famoso, e ele dizia que às vezes ele se sente frustrado porque ele ficava pensando, né, que puxa, né, tudo que eu quero comprar, eu tenho dinheiro para comprar. Olha o problema, né,
que a pessoa tem na vida. Tudo que ele quer, ele compra. E ele dizia para o entrevistador: "Ah, eu sempre fiquei pensando no desafio que seria pagar um carro em 48 vezes, mas eu não preciso disso. O desafio que seria pegar um metrô, pegar um ônibus." Olha o problema da vida da pessoa! O problema da vida da pessoa é não ter problema! Então, perto de Deus, mesmo no meio dos sofrimentos, nós passamos. Agora, se nós vivemos longe de Deus, longe da verdadeira fé, longe da verdadeira Igreja, apartados daquilo que pode realmente nos conduzir a Deus
e nos dar a salvação, nós teremos um arremedo de felicidade, mas não será felicidade de fato. Então, meus caros, por que a penitência é necessária? Porque a penitência nos educa, educa essa nossa natureza caída, essa nossa natureza inclinada para o pecado. A penitência é um remédio. Nós somos seres racionais, mas, é lógico, a gente tem preguiça, a gente tem sono, a gente tem, às vezes, uma vontade fraca. Então, a penitência serve para fortalecer a nossa vontade, para nos ajudar na nossa qualidade na hora de decidir-se pelas coisas de Deus. Nós temos que nos decidir com
qualidade, de maneira concreta, de maneira firme. A penitência nos ajuda nisso. E por que nós precisamos da penitência? Porque nós somos miseráveis, nós somos fracos. Então, a penitência nos treina para este fortalecimento interior. Só que nós somos um ser misto. O ser humano não é só alma, não é só espírito. Nós somos espírito, alma e corpo. Nós temos essa tríplice realidade: o espírito é a parte mais íntima de nós, é a nossa consciência, é onde só nós e Deus podemos entrar, pois nós temos a nossa alma. Nossa alma é composta pela nossa memória, pela nossa
inteligência, pela nossa vontade. Tudo isso faz parte da nossa alma. Mas nós somos também um corpo e existimos num corpo. Então, a penitência passa por aquilo que é físico, porque é ordenando aquilo que é físico que eu consigo aquietar a minha alma, o meu espírito e falar com Deus, rezar de verdade. Então, eu preciso da penitência. E qual é a melhor penitência que existe? Depende. A melhor penitência para mim não é a melhor penitência para você. Por quê? Porque cada um tem a sua dificuldade, a sua fragilidade, os seus pecados. Por isso, na hora de
escolher a sua penitência na Quaresma, você precisa ser muito honesto consigo mesmo e pensar naquilo que é fragilidade na sua vida hoje. Pensa na fragilidade da sua vida hoje, não no passado, não há um ano atrás, hoje. E escolha uma penitência que realmente vá custar alguma coisa para você, custar no sentido, não financeiro, mas custar num sentido de dificuldade mesmo. Pense naquilo que é difícil, mas ao mesmo tempo pense naquilo que você dá conta, porque às vezes você tem uma vontade tão fraca que você não persevera em nada. Não adianta fazer uma opção de penitência
muito grande, sendo que a sua vontade é... Fraca demais, então é melhor dar passos pequenos, mais consistentes e firmes do que dar passos muito grandes. Vou dar um exemplo aqui: uma pessoa que não tenha hábito algum de rezar o terço. Não adianta ela fazer a penitência dizendo assim: "não vou rezar o Rosário na Quaresma", mas você não reza nem o terço ainda. Então, o que vai acontecer com você? Você vai desanimar no meio do caminho, vai desanimar e vai descumprir. Outra coisa: a penitência é algo que, na Quarta-feira de Cinzas, nós prometemos a Deus. É
uma promessa, e promessa feita a Deus não se quebra. Nós temos que pensar nisso; a nossa palavra tem de ter valor diante de Deus, porque a palavra de Deus para nós ela tem valor. O que Deus diz, está dito. Quando nós dizemos na nossa oração: "Vinde, Espírito Santo", a gente está chamando. Vinde, Espírito Santo; ele vem! Mesmo às vezes a gente fica pensando assim: "Ah, será que o Espírito Santo vem mesmo?" Ele vem porque ele é o Espírito Santo, ele é Deus, e Deus cumpre aquilo que promete. Quem não cumpre as coisas somos nós. Nós
não podemos querer medir Deus pela medida tacanha e pequena da nossa cabeça, do nosso pecado. Não podemos medir Deus por aí. Então, meus caros, nós temos que pensar muito bem, ser honestos conosco mesmos. Então, vamos pensar: eu não rezo o terço, não tenho esse hábito, então eu quero fazer uma penitência de oração. Ao invés de falar que você vai rezar o Rosário durante toda a Quaresma, se conseguir rezar o Rosário, ótimo! Dá para rezar com red, dá para rezar com fre de madrugada, mas se não der para você rezar o Rosário, se você vê que
não vai ter força para conseguir continuar, então faça aquilo que você pode. Faça o propósito de rezar o terço; são cinco mistérios, você pode dividir durante o seu dia, contanto que você reze, entendeu? É melhor dar um passo menor, mas com firmeza. Com firmeza, entendeu? Outra coisa, né? Outro exemplo: você não tem o costume de rezar pela manhã; sai todo esbaforido todo dia para ir trabalhar, tal, dorme tarde, acorda cedo, tal. Então, às vezes a sua vida, o seu ritmo já é um ritmo que te consome, que é difícil. Aqui você quer fazer um propósito
de oração. Então, coloca uma meta: "Eu vou acordar 10 minutos antes do horário que eu acordo para rezar." 10 minutos! Então você não reza nada de manhã, então você vai rezar 10 minutos. É melhor você passar 40 dias rezando 10 minutos do que fazer um propósito de rezar meia hora todo dia e não cumprir. Então, a melhor penitência é aquela que é baseada na nossa realidade, e a realidade de cada um é diferente. Quer ver uma outra coisa? Ah, você tem uma dificuldade muito grande de dar o seu perdão para as pessoas que te fizeram
mal. Então, faça uma lista com 40 nomes de pessoas que te fizeram mal, que te ofenderam, que te magoaram durante a sua vida. Cada dia você vai rezar por uma; é uma forma de penitência, porque às vezes para a gente é melhor esquecer. E o que Jesus nos ensina no evangelho? "Orai pelos vossos inimigos." Ou Jesus ainda vai dizer: "Amai os vossos inimigos." O que é amar o inimigo? Amar o inimigo consiste em continuar desejando o bem, mesmo para aquele que nos fez o mal. Então, tá aí uma ótima penitência: você pode rezar por aquelas
pessoas que te prejudicaram 40 dias, oferecendo as suas orações por essa pessoa. Ou você pode também tirar algo que é do seu gosto, fazer uma penitência de não comer um doce, de não fumar, de não ingerir bebida alcoólica, ou de não comer carne às quartas e sextas-feiras. Então, a penitência é livre, mas nós devemos pensar no seguinte: a penitência tem que, ao final desses 40 dias, produzir um fruto de conversão na minha vida. Então, na hora de discernir a sua penitência, você tem que pensar: onde o meu calo mais aperta na minha vida como cristão,
como católico? Onde eu estou pior? O que eu não faço? Então aí você toma essa decisão. Tem muito católico que gasta todo o seu tempo, ou boa parte dele, se ocupando em falar dos defeitos dos padres, dos bispos, às vezes até do Papa. Então, pronto, faça uma penitência: reze pelo Papa 40 dias. O Papa Francisco está hospitalizado, com a saúde bem fragilizada e precisa das nossas orações. Então, muito bem! Reze pelo Papa. Se você é católico e está criticando o Papa, em algum momento da sua vida você falou contra o Papa, primeiro vá se confessar,
porque o Papa é o nosso pai na fé. Desrespeitar aquele que é o nosso pai, seja nosso pai biológico ou que exerce paternidade espiritual, nos leva a pecar contra o quarto mandamento. Se falarmos contra o Papa, contra o bispo, então em primeiro lugar, vá se confessar. Depois de se confessar, então faça o propósito: reze 40 dias pelo Papa, reze 40 dias pelo seu bispo, reze 40 dias pelos padres de quem você falou mal. Então, peça pela conversão deles. Pode ser que as pessoas de quem você falou mal até deram motivo, então reze pela conversão delas.
Ao invés de falar delas, fale com Deus sobre elas. Você tem que falar com quem vai resolver. Somente duas pessoas podem resolver os problemas: a própria pessoa e Deus, que pode dar a graça da conversão. Então, fale com Deus. Na hora de escolher penitência, nós temos de ter um bom exame de consciência. Consciência e olhar onde eu tenho falhado. Mais \- e onde eu tenho falhado mais é onde eu devo aplicar o remédio da Penitência. Ah, eu não estou rezando direito, então vou fazer um propósito: vou acordar 10 minutos mais cedo e, todos os dias,
eu vou rezar em determinado horário. Eu faço lá no meu canal, no meu canal pessoal, não aqui. Todos os dias, às 6 da manhã, faço as meditações de Santa Teresa de Jesus. Eu pego lá os escritos de Santa Teresa e vou fazendo a meditação. No começo do ano, quase 3.000 pessoas estavam acompanhando diariamente as meditações de Santa Teresa. O ano começou tem 60, 62 dias do começo do ano e, para cá, mais ou menos a metade das pessoas estão acompanhando as meditações. As pessoas abandonam, as pessoas não têm constância. Às vezes, ah, é muito cedo.
Aí eu tenho que parar para ouvir, as pessoas dão importância para todo tipo de coisa. Quando se trata daquilo que é mais importante, que é a salvação da alma, aí a pessoa não se preocupa tanto assim. As pessoas se preocupam com o trabalho porque o trabalho vai trazer a comida para a mesa, ótimo, tem que se preocupar. As pessoas se preocupam com a casa, ótimo, tem que se preocupar, é o lugar onde a gente mora. Só que o nosso trabalho, a nossa casa, a nossa vida, isso aí dura quanto tempo? 70, 80, 90 anos. E
a eternidade? A eternidade dura quanto tempo? A eternidade não acaba. Aí as pessoas pensam muito em tantas coisas e em cuidar da própria salvação, da própria alma, as pessoas não se preocupam. Se você dissesse assim para alguém, para qualquer pessoa: "Olha, você vai ter que trabalhar meia hora por dia para poder garantir a compra de uma casa, uma casa ampla, bonita, arejada, a casa dos sonhos, meia hora por dia é o que você vai precisar", você, com certeza, a pessoa falaria: "Nossa, claro, é a casa dos meus sonhos! Puxa vida, e só meia hora por
dia? Só meia hora? Puxa vida, vou me empenhar nisso", porque a pessoa tem um prêmio lá no fim, então ela vai se empenhar. Acontece que se eu falasse isso a respeito de uma casa ou de um carro, certamente muita gente se sentiria atraída. Agora, quando eu falo de meia hora rezando por dia e disso depende a nossa salvação, quantas pessoas estão realmente preocupadas com isso? Quantas pessoas? São Leonardo de Porto Maurício, ele teve uma visão. É claro, visão de santo não é doutrina da Igreja, você pode acreditar ou pode não acreditar, e a Igreja não
obriga ninguém a acreditar. Mas São Leonardo de Porto Maurício teve uma visão muito interessante. Um determinado dia, ele estava em oração e foi levado à presença de Jesus pelo seu anjo da guarda. E o anjo da guarda mandou ele observar. E, de repente, São Leonardo viu uma multidão de pessoas chegando, chegando, chegando, chegando de todo lado. E aí, São Leonardo não entendeu nada e perguntou. O anjo falou: "O que é isso, né, tanta gente assim?" Ele falou: "Isso aqui são as pessoas que morreram hoje no mundo inteiro." Tinha lá centenas, centenas e centenas de pessoas
chegando. E, para a surpresa de São Leonardo, apenas 50 pessoas se salvaram entre aqueles que foram pro céu e foram pro purgatório. Quem está no céu, salvo: 50 pessoas. E isso lá no século XVII, né? Lá no século XVI, onde a fé ainda era vivida de um modo mais concreto pelas pessoas, a sociedade era mais católica. 50 pessoas se salvaram, a grande maioria se condenou. Hoje, as pessoas estão cada vez mais perdendo o senso da importância da salvação, a importância da salvação. As pessoas já não se preocupam, e aqueles que parecem que se preocupam têm
uma certeza absoluta de que serão salvos. Ninguém pode ter certeza absoluta de que será salvo se não se esforçar. E, mesmo se esforçando, nós só seremos salvos pela graça de Deus. Deus quer o nosso esforço, Ele quer a nossa determinação, Ele quer o nosso passo de fé. Deus deseja isso, mas a salvação Ele dará gratuitamente. Ah, então Deus dará a salvação para todo mundo? Não, por que Deus dará a salvação para quem não se esforçou, para quem não usou dos meios que Ele deu? É uma questão de justiça. Então, meus caros, é necessário fazer um
bom exame de consciência, identificar aqueles pecados nos quais nós estamos caindo mais e escolher a nossa penitência como remédio para atacar esses males que existem em nós. Ah, mas eu falo muito dos outros. Ah, então tá aí uma boa penitência! O que você pode fazer? Fica mais em silêncio. Aí, mas às vezes, quando vê, eu já falei. Então você vai fazer a penitência de controlar a sua língua. Ah, mas se eu me encontrar com Fulano, Ciclano... Então você vai se afastar da ocasião de pecado. Se você sabe que, encontrando tal pessoa, saindo na porta da
sua casa, vai vir outra pessoa conversar com você e você vai acabar falando, então não saia; evite as ocasiões de pecado. Se eu sei que, em determinada situação, eu vou cair, então eu fujo, eu evito, eu arrumo um jeito de não estar ali para não pecar. Então, é assim que nós devemos discernir bem a nossa penitência e devemos ter também uma clareza em relação a nós. Às vezes, a desordem em nós é tão grande que ela afeta tudo. Então, qualquer penitência que fizer vai ser boa, porque, às vezes, a desordem na vida interior e na
vida exterior da pessoa é tão grande que qualquer penitência vai servir, porque qualquer penitência vai ser um princípio de ordem. Então, façamos esse exame de consciência, rezemos, nos coloquemos na presença de Deus e peçamos a luz do Espírito Santo. E que na Quarta-feira de Cinzas, a gente possa, durante... A Missa de Cinzas oferece a Jesus essa nossa penitência durante 40 dias. Quem ainda não se confessou, busque a confissão para começar a Quaresma bem. Se não conseguir a confissão até a Quarta-feira de Cinzas, mesmo assim ofereça para Jesus a sua penitência e, depois, assim que possível,
já faça a sua confissão para começar bem a Quaresma. Se vocês tiverem alguma pergunta ou alguma questão, já podem mandar, porque o nosso tempo, inclusive, já acabou, mas eu vou responder aqui algumas. A loja Pantocrator está com algumas promoções, então dê uma olhadinha na loja da comunidade e adquira os materiais que estão lá. Você ajuda aqui na obra de evangelização da comunidade. A campanha de arrecadação que fazemos todo mês para a evangelização digital chegou a 3%, né? Estamos no comecinho do mês, dia 3, 3%, né? Foi 1% por dia. Mas precisamos bater essa meta até
o final do mês, então fica aí o convite para que você nos ajude. Se você ainda não me segue nas minhas redes sociais particulares, me siga lá: @rafaelponom é o Instagram, e o canal do YouTube também é Rafael Tonon, né? É outro canal, né? Não é esse, né? É o meu canal pessoal. Lá eu faço as meditações diárias de Santa Teresa e outros conteúdos que eu gero e vou colocando lá. Tá bom? Muito bem, vamos às perguntas aqui, né? Eh, primeira pergunta: Professor, temos um carinho especial pelo senhor, pois, graças ao seu programa, retornamos para
casa, a nossa Santa Igreja Católica. Deus lhe pague por todo bem que nos faz! Vanessa e Leandro, de Canoas, Rio Grande do Sul. Opa! Deus abençoe muito vocês aí. A gente aqui é só instrumento inútil, né? Deus é quem faz, né? A gente semeia e Deus é quem faz. Eu não tenho dúvidas de que a providência de Deus fez com que esses vídeos, esse trabalho nosso, chegasse até vocês. Fico feliz que tenha sido um canalzinho para a volta de vocês para a Igreja. São de Canoas? Tenho parente meu em Canoas. Tem Tonon em Canoas. É
povo da minha família no Rio Grande do Sul, né? Uma parte da minha família. Uma parte ficou em São João da Boa Vista, a maior parte, né? Que é onde eu nasci. Uma turma dos Tonon foram para Tietê, perto de Sorocaba, e outra turma foi para Canoas e para Viamão, né? No Rio Grande do Sul, então aí, perto de vocês. E o perfil vocacional de uma coroinha: Boa noite! A Quaresma termina em que dia exatamente? Já pesquisei em vários lugares e cada um tem uma resposta diferente, como Quinta-feira Santa ou Domingo de Ramos. Qual seria
o correto? O certo, na letra, assim, seria na Quinta-feira Santa, que aí começa o Tríduo Pascal, né? Mas você vai encontrar em muitos lugares uma referência de que a Quaresma termina no Domingo de Ramos, né? E é compreensível, porque alguns entendem assim, porque realmente no Domingo de Ramos é chamado de Domingo da Paixão. Nós já entramos num tempo diferente, né? Mas que nós chamamos de Semana Santa. Mas pode ver na maioria das cidades, né? A Segunda-feira Santa, Terça-feira Santa, Quarta-feira Santa. O que temos? Temos celebrações que são devocionais. Elas não fazem parte da liturgia da
Igreja. Então, propriamente, a Quaresma vai acabar mesmo na Quinta-feira Santa, né? Que é o início do Tríduo Pascal. Por exemplo, na Segunda-feira Santa, né? Aí cada cidade, cada região do Brasil celebra de um jeito, né? Mas, na Segunda-feira Santa, por exemplo, na cidade onde eu nasci, celebrava-se antigamente. Hoje em dia, nem tem mais essa cerimônia. Em Minas, no interiorzão de Minas, ainda preservam essas cerimônias. Celebrava-se a prisão de Jesus, a procissão da prisão de Jesus, e na Terça-feira fazia-se a procissão do depósito, né? Na Quarta-feira Santa, a procissão do encontro de Nosso Senhor dos Passos
e Nosso Senhor das Dores. Aí, na Quinta-feira, já começava o Tríduo, né? Então, na prática, seria isso. André, as sugestões sobre penitências para a soberba e a paciência, né? Como ser moderado? Tenho dificuldade em reconhecer as minhas virtudes sem ser soberbo ou tentar a humildade sem me rebaixar. Bom, o primeiro segredo é falar isso para Deus, né? Na sua oração, fala: "Olha, Senhor, eu olho para mim, eu me vejo assim, só que eu não sei se essa é a visão justa. Então, que o Senhor me ajude." Primeira coisa é submeter a sua vida, a sua
condição, até os seus pecados, em oração. Deus mesmo vai nos instruindo de várias maneiras, seja às vezes através de uma homilia que a gente ouve. Às vezes, a gente reza, pede a Deus essa graça, a resposta vem numa homilia que a gente ouve, vem num livro que a gente lê. A graça atual é Deus nos falando, nos mostrando. E penitências para soberania e humildade, né? Uma das melhores penitências é você procurar servir outras pessoas. Aí você pode pensar se faz isso dentro de casa, com a sua própria família, ou, de repente, nesse tempo de Quaresma,
oferecendo o seu trabalho, o seu serviço a outras pessoas, né? Mas, quando eu digo servir, é servir mesmo, é fazer alguma coisa para alguém. Uma das melhores maneiras de você começar a exercitar essa virtude da humildade realmente e a sufocar a soberba. Eh, professor, boa! Sofro muito com os pecados contra a castidade, pecados contra a língua e a soberba. Quais penitências seriam recomendáveis para esses tipos de pecado? É aquilo que eu falei, né? Todo pecado é sempre uma doença, e toda penitência é sempre um remédio que eu... Vou aplicar aquela doença, então, por exemplo, em
relação à castidade para os homens. O modo de ser F mais comum, né? Em relação à castidade, começa pelo olho, para a mulher também pelos olhos, mas às vezes também pelo ouvido. Aquilo que você ouve... as mulheres são mais suscetíveis àquilo que ouvem. Então, é evitar ocasião. Uma boa penitência para superar as dificuldades quanto à castidade seria diminuir, ou praticamente extinguir, ou reduzir ao mínimo necessário, o uso de redes sociais. Porque hoje você está olhando, às vezes, uma rede social, nem é sua intenção olhar nada que vá te levar ao pecado, só que isso, às
vezes, dependendo dos perfis, dependendo do que você segue, isso aí salta aos seus olhos, né? Então, uma boa penitência é fazer uma limpeza nos perfis que você segue, tentar eliminar essas ocasiões de olhar. E aqui eu não estou nem falando de pornografia; estou falando, às vezes, de coisas que podem despertar algum gatilho e te levar ao pecado contra a castidade. Então, a coisa começa pelo olho, pela visão. Então, dá uma limpada nos perfis, restringe um pouco o uso, né? Isso já é um caminho para ajudar. Quanto à soberba, é o que eu falei: alguma penitência
relacionada a servir vai te ajudar. Depois, uma outra pergunta: eu sou casado com uma pessoa evangélica. Já procurei a chancelaria para a sanação na raiz; estou no aguardo, mas está demorando. Estou indo à missa. Como posso viver melhor a quaresma? Só explicando, né, para quem não sabe o que é a sanação na raiz: é um termo canônico. Quando você tem um casamento misto, com pessoa de outra igreja, você pode pedir isso ao bispo. Se há alguma dúvida se o casamento foi válido, foi celebrado adequadamente, você pode pedir a sanação na raiz. Ou seja, são duas
pessoas que realmente querem viver juntas e estão pedindo à igreja a legalização dessa situação, né? Então, é a sanatio in radice. No seu caso, meu irmão, que você coloca aqui: você é casado com uma pessoa evangélica, já procurou a chancelaria, está demorando, mas você está aguardando. Você fez certinho, você já está buscando. Para viver bem a quaresma, mesmo que você não possa comungar ou tenha algum impedimento, nada te impede de fazer uma penitência. Então, escolha bem uma penitência, né? Procure as práticas que a igreja sugere para a quaresma. Quais são as práticas? Oração, penitência, jejum
e esmola. Então, procure pegar esmola, pegar alguma coisa daquilo que é seu e doar, seja um alimento, seja um dinheiro para um pobre na rua. A esmola é desprender de algo que é seu. Oração: reze um pouco mais. Jejum: ofereça para Deus. Às vezes, não dá para você fazer um jejum do dia inteiro, ficar sem comer, mas tire a carne, por exemplo, da sexta-feira. Além da carne, às vezes tire uma refeição do dia. Ah, de manhã eu tomo um café da manhã, no meio da manhã eu tomo um cafezinho; tire o cafezinho do meio da
manhã. Ofereça a Jesus, né? Esse incômodo de ficar sem aquela refeição do meio. Buscando essas práticas, que a gente vai preparando aí o nosso corpo, o nosso coração. Paz e bem. Qual o motivo de não se fazer mais a Malhação do Judas no sábado, no Sábado Santo? Como era feito antigamente? A Malhação do Judas é mais folclore, né? Mais uma celebração popular que fazia-se no Sábado Santo, de manhã. Quando eu era criança, na minha cidade natal, tinha muito isso. Na rua da casa da minha mãe e do meu pai, ali era o local onde a
gente malhava o Judas, num poste que tinha perto de um campo de futebol onde meus pais moravam. A gente amarrava ali o Judas, fazia o boné e malhava o Judas. A Malhação do Judas era um resquício da Idade Média portuguesa, porque na Idade Média as pessoas que às vezes cometiam crimes, heresias, e na falta da pessoa para ser punida, tinham o costume de fazer um boneco, e às vezes queimar o boneco e malhar o boneco, né? Esses criminosos, esses pecadores públicos. É daí que vem a tradição de malhar o Judas, né? Da Idade Média portuguesa,
isso veio com os portugueses aqui pro Brasil. É mais uma questão de tradição que foi se perdendo mesmo e não é uma coisa necessariamente ligada à igreja; é mais cultural do que religiosa, certo? Acho que são essas as questões que temos aqui hoje. Deus abençoe todos vocês, rezem, pensem bem, escolham bem a sua penitência quaresmal. Deus abençoe. Semana que vem a gente está aqui de novo no Lente Católica, às 21:30. Espero por vocês! Fiquem com Deus. Tchau, tchau.