28 de novembro de 1960. Dois italianos radioamadores vasculhavam na amplidão da noite as frequências de rádio utilizadas pelos satélites da União Soviética, até que em um determinado momento, o silêncio foi finalmente cortado por um ruído. Uma espécie de código que se repetia várias e várias vezes.
O sinal tinha uma frequência cada vez menor e um comprimento de onda cada vez maior. Com base no efeito Doppler, isso significava que o objeto, seja lá qual ele fosse, estava se afastando da Terra. Então, intrigados, os operadores analisaram o sinal e conseguiram decifrar o significado dele.
Era uma mensagem em código morse, que podia ser traduzida em apenas três letras. S. O.
S. Essa é só uma das várias histórias que alimentam um mistério fascinante. Um enigma que já foi tema de estudos, pesquisas e, claro, muitas teorias da conspiração.
Será que algum astronauta já se perdeu no espaço? A famosa foto do astronauta americano Bruce McCandless nos deixa maravilhados, mas também causa uma certa dose de pânico. Imaginem estar completamente à deriva, envolto pela escuridão, vendo a Terra centenas de quilômetros distante dos seus pés.
No caso dele, foi um movimento calculado, estava tudo sob controle. Ele voltou em segurança para espaço da nave e pouco depois para a Terra. Mas será que algum ser humano já foi lançado em direção à vastidão do infinito e nunca mais voltou?
Existem muitas histórias sobre supostos astronautas perdidos, ou para ser mais preciso, cosmonautas perdidos. A diferença, na verdade, é só o local na certidão de nascimento. A palavra astronauta costuma ser utilizada para se referir a cidadãos dos Estados Unidos e da dos outros países.
Já a cosmonauta é quem nasceu na Rússia ou na antiga União Soviética. E também tem os taikonautas, que são os chineses que viajam ao espaço. Mas seja o nome que for, o fato é que existe uma série de relatos cercados de suspense sobre pessoas que teriam morrido de alguma forma no espaço e cujas histórias teriam sido acobertadas pelas autoridades na Terra.
A maior parte desses casos teria acontecido durante a Guerra Fria. Naquela época o mundo estava em alerta máximo devido à tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética. Assim na Terra como no Céu.
É que a corrida espacial começava a ganhar forma e o Universo se tornava a nova trincheira na batalha entre as grandes potências globais. Americanos e Soviéticos disputavam quem conseguia os maiores avanços na exploração do Universo. E apesar de os Estados Unidos serem os primeiros a chegar à Lua em 1969, os soviéticos meio que foram os pioneiros em muitas outras conquistas antes disso.
Foram eles que enviaram o primeiro objeto a entrar em óbita, o Sputnik 1. Foram eles que enviaram o primeiro homem para o espaço, Yuri Gagarin. Foram eles que enviaram a primeira mulher para o espaço, Valentina Tereshkova.
E foram eles que enviaram o primeiro cachorro para o espaço, foi a cadela Laika. Pobre Laika. Ela foi e nunca mais voltou.
Mas se por um lado os soviéticos foram pioneiros em várias coisas legais no espaço, eles também foram os primeiros nas grandes tragédias. A primeira morte numa missão espacial, por exemplo, foi a do cosmonauta Vladimir Komarov na Soyuz 1 em 1967. O paraquedas da cápsula dele não funcionou na reentrada da atmosfera e ela se chocou com toda a velocidade contra o solo aqui da Terra.
Alguns anos depois, em 1971, mais uma tragédia soviética. E mais uma vez na hora de reentrar na atmosfera. A cápsula da Soyuz-11 sofreu uma despressurização e os três cosmonautas que estavam a bordo morreram na hora.
E por conta desse risco de fracassos, era comum que os governantes da época não informassem com antecedência sobre as missões espaciais. Muitas vezes elas só eram divulgadas depois que o foguete já tinha até deixado a atmosfera. E aí, se desce tudo certo, ótimo.
Mas se algo desse errado, as autoridades disfarçavam e davam alguma outra designação, pra não terem que admitir que houve uma tragédia no programa espacial. E isso porque um dos elementos mais importantes na Guerra Fria era a propaganda. Qualquer sinal de derrota poderia ser exposto pelo outro país e usado pra desmoralizar o regime adversário.
E por isso, houve uma série de casos suspeitos que as autoridades soviéticas tentaram varrer para debaixo do tapete. E o mais grave de todos certamente foi o da catástrofe de Nedelin, em 1960. Essa catástrofe foi uma grande explosão que aconteceu enquanto um míssil estava sendo preparado para o lançamento.
A União Soviética tentou abafar o caso e até hoje não se sabe exatamente quantas pessoas morreram, mas estima-se que tenha sido algo entre 60 e 150. E existem também outros casos simbólicos. A morte do próprio Yuri Gagarin, a primeira pessoa a ir para o espaço, é até hoje cercada de mistérios.
Ele faleceu em 1968 em um acidente de avião cujas causas nunca foram totalmente esclarecidas. Outra morte enigmática entre soviéticos nos anos 60 foi a de Valentin Bondarenko, vítima de um incêndio numa câmara à prova de som durante testes de resistência para ir ao espaço. O governo proibiu qualquer notícia sobre o assunto na época e os detalhes da tragédia só foram divulgados 25 anos depois.
Então todo esse mistério envolvendo o programa espacial soviético meio que impulsionou o surgimento de teorias da conspiração. Algumas delas inclusive sobre os supostos cosmonautas perdidos. E são essas histórias que a gente vai investigar a partir de agora.
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Então aproveite a nova coleção e venha vestir o universo junto comigo. Agora, de volta ao vídeo e às investigações, será que a história do astronauta perdido tem um fundo de verdade? Um dos casos mais famosos foi o de Grigory Nelyubov.
Ele foi selecionado para a primeira turma soviética de cosmonautas. O grupo posou para uma série de fotos que foram divulgadas pelo governo. Essa foi uma das fotos tiradas na época.
Acontece que, tempos depois, essa outra foto também foi divulgada. Percebam que é a mesma imagem, mas uma das pessoas foi simplesmente apagada da imagem original. Esse homem era Grigory Nelyubov.
A União Soviética diz que ele se tornou um militar indisciplinado e que ele gostava de uma bebedeira. Então ele seria um exemplo ruim a ser seguido e, por isso, os soviéticos optaram por excluir a imagem dele da história, como se ele nunca tivesse existido. Alguém aí lembra do vídeo sobre Damnatio Memoriae?
Essa história pra lá de estranha foi um prato cheio pros teóricos da conspiração se questionarem se o Grigory não tinha sido, na verdade, um cosmonauta que morreu no espaço. A União Soviética garantiu que não, e disse que ele foi transferido para uma base remota na Sibéria e morreu atropelado por um trem. Ah tá, super normal, obrigado por esclarecerem.
De qualquer forma, esse foi só um dos vários casos suspeitos de cosmonautas perdidos. Aliás, uma outra história famosa envolve não um, mas quatro cosmonautas. A notícia saiu nesse jornal americano de 1959, ou seja, antes da viagem inaugural do Yuri Gagarin.
E no jornal é relatado que fontes confiáveis, na então Tchecoslováquia, garantiam que os russos haviam feito quatro tentativas em vão de mandar uma pessoa para o espaço, e que uma dessas pessoas, inclusive, seria uma mulher. Todos esses cosmonautas teriam morrido. Mas um jornalista especializado em cobertura espacial descobriu que, na verdade, se tratava de um grupo de paraquedistas de grandes altitudes, que nunca nem tinham ido para o espaço.
Mais alguns anos, mais um boato de cosmonauta desaparecido. Tudo começou quando faltavam poucos dias para o lançamento do foguete do Yuri Gagarin. Na ocasião, a União Soviética divulgou que um outro militar de alta patente, Vladimir Ilyushin, havia se envolvido num grave acidente de carro.
Mas um tabloide britânico publicou que essa história seria falsa e que na verdade o Vladimir estaria numa viagem espacial que fracassou alguns dias antes. O boato ganhou novas versões, inclusive de que a nave dele teria caído na China e que as autoridades locais teriam acobertado o acidente. Mais uma vez, especialistas em exploração espacial reviraram toda a bibliografia disponível sobre o assunto e garantiram que tudo não passou de um boato plantado nos jornais da época.
Pelo jeito, aliás, as fake news já vêm de muito tempo atrás. É que a guerra de narrativas entre os Estados Unidos e a União Soviética levava a história sem qualquer comprovação para as páginas dos jornais, que muitas vezes compravam a versão do governo sem apurar direito as informações. Vocês querem mais um exemplo?
Olhem essa notícia de 1962. Soviéticos podem ter cadáver em órbita. No texto, o porta-voz da Defesa Aérea Americana diz que os soviéticos colocaram o primeiro caixão cósmico no cemitério celestial.
Falou muito bonito, mas também falou besteira. De acordo com a biografia do Yuri Gagarin, o mais provável é que o tal cosmonauta fosse, na verdade, um boneco. Ivan Ivanovich, que era justamente um manequim usado pelos soviéticos em testes espaciais.
Ele viajava acompanhado de uma gravação com voz humana para testar se o rádio estava funcionando. E essa história, inclusive, lembra uma das trollagens mais históricas já feitas pelos soviéticos. Em 1968, quando ainda faltava um ano para um ser humano pisar na Lua, a União Soviética lançou a primeira nave espacial que deu uma volta completa na Lua.
Era a Zond-5, que era uma nave não tripulada, exceto por algumas plantas e uns ovinhos de mosca e também por duas tartarugas. Mas enfim, não tinha seres humanos. Mas os cosmonautas aqui na Terra, aparentemente com muito tempo livre, decidiram pregar uma peça nos americanos.
Eles sabiam que os Estados Unidos estavam sempre interceptando sinais de rádio, então eles deixaram um áudio pré-gravado tocando durante a missão. E a gravação falava, O voo está procedendo de acordo com o normal, mas estamos nos aproximando da superfície da Lua. A zoação deixou os americanos em pânico porque eles acharam que os soviéticos estavam chegando à Lua antes deles.
A história chegou até o presidente dos Estados Unidos. E sabe o que ele disse? Pra eu voltar pro tema do vídeo.
Isso porque uma outra história de cosmomauta perdido também surgiu através de uma trollagem. Foi uma lenda criada pelo artista conceitual espanhol Juan Fontcuberta. Esse nome soa estranhamente estranho.
Ele fez uma exposição em vários países sobre um suposto astronauta perdido chamado Ivan Istochnikov. E tudo era uma piada! Istochnikov justamente significa "fonte coberta", como o sobrenome dele.
E as fotos do astronauta eram uma montagem com o rosto do próprio artista. Mesmo assim, seres humanos não decepcionam. Alguns jornais não entenderam o objetivo da exposição.
Eu também não entendi, vou ser sincero com vocês. Mas o fato é que vários veículos de notícias chegaram a noticiar o caso como se ele fosse verdadeiro, dando origem a mais um boato. Mas de todas as histórias de cosmonautas perdidos, eu deixei a mais famosa para o final.
Se bem que eu abri o vídeo com ela. Mas agora eu vou explicar melhor quem eram aqueles dois radioamadores italianos que interceptaram um sinal misterioso vindo do espaço. Eles eram os irmãos Giovanni e Achille Judica-Cordiglia.
Eles eram jovens fascinados pela tecnologia do rádio. Eles construíram no próprio terraço equipamento para captar ondas de rádio. A história deles é contada no documentário chamado Space Hackers.
O filme está disponível gratuitamente no YouTube, mas com narração em inglês e entrevistas em italiano. E as legendas são em holandês. Mas que tem no YouTube, tem.
No filme, eles contam que tudo começou como uma grande brincadeira. Até um dia que mudou pra sempre a vida dos dois. O lançamento do Sputnik 1.
Os irmãos encontraram a frequência correta e gravaram esse áudio. Daí em diante, eles passaram a monitorar a atividade espacial soviética de dentro da própria casa. Na vez do Sputnik 2, eles gravaram o que, segundo eles, seriam os batimentos cardíacos da cadelinha laica.
Mas foi alguns anos depois, em 1960, que eles receberam o primeiro sinal supostamente de um cosmonauta perdido. Foi o pedido de socorro em código morse que eu mostrei no início do vídeo. Esse aqui.
Arrepiante. E depois disso, os irmãos dizem que gravaram ainda outras possíveis evidências de cosmonautas secretos. Em 1961, por exemplo, os radioamadores capturaram o que seria um batimento cardíaco acelerado.
Dessa vez, de um ser humano, acompanhado de uma respiração ofegante de uma pessoa no espaço. Coincidência ou não, dois dias depois da transmissão, as autoridades soviéticas admitiram que tinham colocado em órbita uma nave espacial de 12 metros e 7 toneladas, supostamente não tripulada, mas que acabou pegando fogo. Hmm.
. . suspeito União Soviética.
Os irmãos então decidiram melhorar os equipamentos para conseguir gravações de maior qualidade. Eles passaram a gravação mais chocante de todas. Uma voz feminina que seria de uma cosmonauta gritando desesperadamente por socorro.
E justamente por ser a gravação mais chocante, foi também a que mais levantou suspeitas. Os irmãos italianos foram acusados de terem forjado o áudio. Nunca houve uma investigação formal do caso, mas alguns pontos provocaram dúvidas sobre a gravação.
A primeira é o fato de que nenhuma outra autoridade de nenhum outro país foi capaz de interceptar essa transmissão. Será que, com todo o aparato do Serviço de Inteligência dos Estados Unidos em plena Guerra Fria, somente dois jovens radioamadores italianos é que iam fazer essa descoberta? Além disso, a comunicação feita pela suposta cosmonauta não seguiu nenhum protocolo oficial.
Ela não se identifica no início da transmissão e também não usa uma linguagem técnica. Tudo bem que se eu estivesse numa nave espacial em chamas, despencando em direção à Terra, eu talvez não me preocupasse muito com isso também. Mas ainda existem outras evidências de fraude.
Naves espaciais não conseguem se comunicar durante a reentrada na Terra. A compressão da cápsula contra a atmosfera gera uma camada de ar ionizado. Isso interfere nos sinais de rádio e provoca um apagão na comunicação.
E por isso, a volta de astronautas para a Terra é sempre cercada de minutos de silêncio e tensão. Os irmãos até podem alegar que a gravação teria sido feita um pouco antes dessa fase, mas ainda assim existem outros questionamentos. Um deles é sobre a cápsula.
Onde ela teria caído? E o outro é sobre a voz da cosmonauta. O russo que ela fala tem um sotaque que não é de quem nasceu na Rússia.
Eu acho que é por isso que eu não entendi nada do que ela fala. E isso deixa tudo ainda mais suspeito porque, atenção pro plot twist, os irmãos radioamadores têm uma irmã que fala russo. Ela alega que aprendeu o idioma justamente pra ajudar os irmãos nas traduções.
Mas em meio a tantas suspeitas. . .
assim, é muito suspeito. Por isso há quem acredite que ela própria poderia ter interpretado o papel da cosmonauta em Apurus. Ou seja, tudo seria uma grande encenação.
O grande problema é que todas essas dúvidas acabam colocando em xeque a veracidade não apenas desse caso da cosmonauta perdida, mas de todo o material produzido pelos radioamadores italianos. Embora o que eles tenham seja um arquivo muito interessante para análise e debate, nós não temos como comprovar, no final das contas, a veracidade dessas gravações. A conclusão que a gente pode chegar é que, a menos que tenha havido algum caso tão bem encoberto e que, portanto, nunca foi descoberto, o mais provável é que todas as histórias de cosmonautas perdidos que já ouvimos sejam falsas.
Muito provavelmente, todas elas são teorias da conspiração fruto de um mal-entendido ou da imaginação muito criativa de alguém. E eu espero ter elucidado a dúvida do astronauta perdido pra vocês. Muito obrigado e até a próxima!