"Ainda Estou Aqui": Fernanda Torres esplêndida em um filme belíssimo

[Música] Claro que não vai funcionar para todo mundo dessa mesma maneira Mas mal ainda estou aqui começou e eu me senti transportada diretamente sem escalas para minha infância eu fui despejada de volta nela foi uma experiência poderosa para mim Porque neste novo trabalho dele depois de um longo iato o Walter Sales Não recria de maneira minuciosa e muito evocativa só a maneira como as pessoas viviam como eram as famílias como as pessoas se relacionavam a cara que elas tinham ele recria também algo que só muito mais tarde uma criança da minha idade ou da idade

do Marcelo Rubens Paiva em cujo livro o filme se baseia ia perceber o quanto havia de terrível de coisas ocultas de coisas que não podiam ser ditas nem discutidas por trás dessa aparente normalidade não é spoiler para ninguém ainda estou aqui que entra em cartaz nos cinemas nessa quinta-feira conta a história de como a vida dos Paiva foi radicalmente transformada da noite pro dia literalmente numa noite qualquer de 1970 agentes da inteligência do exército bateram a casa dos Paiva levaram o Rubens com eles e ele nunca mais foi visto essa é uma história que aconteceu

com mais de 30.000 pessoas desaparecidas no período da ditadura militar e esse é o o eufemismo que se usa para falar das pessoas que foram torturadas assassinadas e desoladas em algum lugar muitas vezes nunca mais encontrados os restos mortais delas pelo regime e ainda estou aqui É principalmente a história das dezenas de milhares de familiares e de amigos que tiveram que lidar com uma situação como essa com a sensação de que de uma hora para outra foram jogados numa vida que não pertencia a eles que nunca deveria ter sido a deles o roteiro excelente do

Murilo hauser e do etor loreg começa pelo melhor ponto possível começa fazendo a gente se apaixonar pelo Rubens pelo senso de humor e pela expansividade dele pelo carinho dele e a capacidade dele de se conectar com os filhos pela relação ao mesmo tempo familiar e ainda muito apaixonada com a mulher dele a eonice que é formidavelmente interpretada pela Fernanda Torres pela facilidade do convívio deles com os muitos amigos que frequentavam a casa e essa era uma época em que as pessoas se visitavam regularmente e em um lance que o roteiro e a direção exploram muito

bem e com um efeito dilacerante a certa altura a maneira como toda essa vida ocupava a casa em que eles moravam de frente pro mar só atravessar a rua e a gente já tava na praia no Rio de Janeiro o Walter ses na época tinha uns 13 anos era amigo de uma das irmãs do Marcelo e frequentou a casa ele conhece intimamente na memória dele aquilo de que ele tá falando nesse filme e ainda estou aqui essa casa respira junto com a família e é um baque no final quando a gente vê ela vazia e

abandonada é como se a própria casa não conseguisse entender porque ela tá sendo deixada para trás dessa forma quando a gente tá já caindo de amores pelo Rubens pela eice pela empregada pelos cinco filhos e o Rubens é levado embora a história passa a ser a história da Eunice primeiro a perplexidade e a confusão de uma mulher que não pode mostrar os sentimentos dela porque os filhos não sabem o que tá acontecendo e porque os agentes da inteligência do exército continuam ali na casa dela dia após dia aquele sentimento ali na boca do estômago de

que algo muito ruim aconteceu mesmo que nada mais vai poder ser como antes e tudo vai ser ainda pior do que se podia imaginar que seria aí vem as semanas terríveis em que ela própria ficou presa sendo interrogada seguidamente sem ter notícias de nada nem de ninguém e aí quando a constatação de que Rubens nunca mais voltaria mesmo se instalou como lidar com essa notícia com filhos indo do final da adolescência até a infância como deixar que cada um percebesse no seu tempo o que seria a vida dali por diante na coletiva de imprensa aqui

em São Paulo a Fernanda Torres disse uma coisa muito interessante que a Eunice vive num país em que tanta coisa não pode ser dita em que tanta coisa tem de ficar oculta E no entanto ela impõe esse mesmo tipo de silêncio no relacionamento com os filhos dela é uma ironia terrível mesmo mas eu acrescentaria um outro dado a ela muito tempo depois eu fui me dar conta de quanto as conversas eram interrompidas entre os meus pais e os amigos deles quando eu entrava na sala quando eu aparecia de repente era um medo imenso porque crianças

ouvem e repetem as coisas Muitas vezes sem saber do que estão falando e essa era uma época em que qualquer murmúrio podia ser Fatal realmente fatal se eu fosse elogiar AC contento O elenco de ainda estou aqui eu ficaria desfiando super lativo atrás de superlativo eh que capacidade de ser cativante de ganhar o coração de alguém que o celton Melo tem e que atriz formidavelmente completa que a Fernanda Torres É esse aqui é um daqueles desempenhos definitivos da mesma maneira por exemplo que o desempenho da Fernanda Montenegro a mãe da Fernanda Torres foi definitivo em

Central do Brasil e tanto quanto a história do que aconteceu com mus Paiva parte Meu Coração parte meu coração também que este filme exista na carreira do mesmo diretor que fez Central do Brasil em 98 quando o Central foi lançado eh ele era uma espécie de Utopia mas até do que uma Utopia ele era um voto ele era um desejo de que algo se realizasse no país a que as pessoas de alguma maneira redescobrisse a solidariedade umas pelas outras que elas se en cantassem com aquilo de que a ética e a generosidade são capazes E

no entanto passados quase 30 anos o que faz sentido agora é relembrar um período de chumbo da história do país que coisa tão triste isso e é algo que tá transbordando principalmente do desempenho da Fernanda Torres que consegue não só eh exprimir para fora como levar a gente pro interior dela também ao mesmo tempo é um desses casos em que técnica instinto e sentimento se cas de maneira plena aliás eu acho que a convicção de que é muito importante não só relembrar o que aconteceu mas dar um rosto pro que aconteceu fazer com que a

gente se envolva eh por meio do Rubens e da eonice com cada uma das 30.000 pessoas que foram assassinadas durante o período do regime militar e essa convicção tá em toda a equipe e em todo o elenco e tá também ela transpirando ali da direção do Walter Sales uma direção que é muito contida mas que fala de algo que nitidamente cala fundo ainda estou aqui é um filme belíssimo eu só tenho um único reparo a ele eu entendo todas as razões pelas quais a última sequência do filme está lá é uma maneira de fazer uma

homenagem de fechar um ciclo de unir em um mesmo filme duas atrizes que em momentos diferentes foram tão importantes na carreira do Walter mas para mim pessoalmente ela é supérflua do ponto de vista dramatúrgico todo o filme é tão criteriosamente tão meticulosamente tão cuidadosamente observado e anotado e aquela última sequência para mim tem um q de genérico o sentimento que norteia ela é ainda estamos aqui apesar de tudo mas eu acho que esse sentimento já tinha sido trabalhado de muitas maneiras diferentes todas elas esplêndidas em cada minuto do filme até ali uma última observação ainda

estou aqui é o candidato brasileiro a uma vaga entre os indicados ao Oscar de produção internacional eu sei todo mundo torce nessa hora é algo que todo mundo gostaria de ver acontecer mas eu pessoalmente acho que isso não tem nada a ver com aquilo que o filme representa eu acho que esse é um filme que existe antes de tudo para nós se você gostou desse vídeo não se esqueça de curtir inscreva-se no canal e clique no Sininho e a gente se vê no próximo vídeo [Música]