Leviatã e as Lógicas da Força e da Punição | Yara Frateschi

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Café Filosófico CPFL
Há um discurso de ódio presente na sociedade brasileira desde as eleições do ano passado,é uma limit...
Video Transcript:
k [Música] [Aplausos] [Música] [Música] como a literatura pode nos ajudar a compreender melhor o presente o escritor Ítalo Calvino enumera diversas razões em sua famosa obra por ler os clássicos para ele Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer esta série do Café Filosófico revisitou grandes obras literárias do século X ao XX para refletir sobre nossas relações crenças e descrenças pensar a ética a história o mundo da política e as mudanças sociais que vem ocorrendo ao longo do tempo estar continuamente ultrapassado é miséria ultrapassar continuamente quem está diante
é felicidade abandonar a corrida é morrer Thomas Hobbes foi um importante Pensador inglês da época do renascimento Ele viveu um período em que o Império da Inglaterra estendia seus domínios na conquista dos mares mas foi também quando houve a guerra civil defensor da monarquia hobs publica depois da guerra em 1651 o seu livro mais famoso Leviatã nele traz a tese de que os homens vivem em função de seus próprios interesses por isso é necessário um estado forte capaz de controlar os conflitos e evitar a guerra de todos contra todos mas suas ideias ateístas e absolutistas
não foram bem aceitas na época seus livros foram queimados em Oxford e hoje o que a filosofia política de Robs nos diz mudou a natureza humana o governo soberano garantiria segurança e paz na nossa sociedade atual afinal pramos do Estado por que precisamos do Estado Talvez seja essa a pergunta e a pergunta da filosofia política de um modo geral nós precisamos de estado porque não somos capazes sozinhos né de nos regarmos a nós mesmos né então enquanto indivíduos nós precisamos para sermos capazes de perseguir né a nossa própria eh o nosso próprio plano de vida
né e exercer né com plenitude os nossos direitos individuais Para isso precisamos de um estado que faça basicamente duas coisas né coloque regras ou seja as leis e Puna aqueles que as desrespeitarem no caso do hobs Isso fica muito claro quando ele Explicita que a função principal do estado é garantir a segurança dos cidadãos né a que veio afinal de contas porque nós né nos submetemos voluntariamente a restrição de nós mesmos porque as regras as leis não são outra coisa senão uma restrição que nós voluntariamente aceitamos né em acatar por que isso porque consideramos que
a restrição de alguma forma né a imposição de limites a imposição de regras é condição necessária paraa realização da própria Liberdade individual então o indivíduo ele entende olhando a si mesmo entendendo que ele é incapaz inclusive de pôr freios a si mesmo ele entende que ele precisa de um outro um poder externo que o controla e o controla mobilizando o quê mobilizando as suas paixões basicamente Duas Paixões segundo hobs as paixões que nos guiam são o medo e a esperança Então o que o estado mobiliza nos cidadãos é justamente o medo o medo do quê
o medo da punição de modo que ele por Temer a punição anda dentro da regra age conforme os limites impostos pelo próprio estado e por outro lado Claro o estado também mobiliza a esperança dos cidadãos Em que sentido no sentido que eles detectam né nessa figura repressora a condição necessária paraa realização da sua própria eh felicidade daí a importância enorme do sistema de Recompensas e punição né e punições ora mas hoje né eu eu gostaria de falar menos do estado e mais desses indivíduos em termos robean Eu gostaria de falar menos do Leviatã do que
da Natureza Humana porque o que a gente encontra em hobs é uma antropologia filosófica ou seja uma concepção de homem de humanidade de natureza humana que sustenta essa ideia de que a função primeira e máxima na verdade a maior função do estado é promover a segurança então nós reconhecemos claro né como legítimo um ganho Central né que é um ganho da modernidade Sem dúvida alguma que atribui ao estado ao estado Constitucional a função de permitir o florescimento dos indivíduos Sem dúvida né e e eu absolutamente não estou aqui para negar a enorme importância né dessa
ideia porque o que ela o que ela e eh nos nos revela né é que embora sejamos distintos uns dos outros embora sejamos indivíduos que quer dizer que somos indivíduos quer dizer que somos singulares particulares que temos as nossas próprias concepções de boa vida né ainda assim essas diferenças uma vez que somos cidadãos elas não podem absolutamente justificar qualquer desigualdade né então o Robs de certa forma ele prenuncia um ganho da modernidade que é a ideia né de diferença e igualdade diferença porém sem desigualdade jurídica moral política e etc e há duas coisas positivas aqui
a serem destacadas Há muitas mas eu vou destacar Duas né A primeira né é que claro As Nossas ações são são permitidas né até o momento e essa é uma concepção negativa de liberdade e eu não quero tirar né a importância dela né Nós podemos tudo aquilo que a lei não nos proíbe de fazer e nesse sentido a lei é aliada do indivíduo se a gente pensar a modernidade que surge lá com o hobs né a partir do desenvolvimento de uma cultura democrática é aqui que a gente chega na ideia de que a lei ao
proteger o indivíduo nos protege também protege as minorias das maiorias né e esse é um ganho político inegável né então ou seja eh eh chegamos num momento n que do pelo menos do ponto de vista formal nós temos uma proteção contra né Eh eh um fato possível em que por exemplo 95% da população vem às ruas pedir a ditadura por algum desvio mental né Nós estamos protegidos pela lei basta lei punição pra sociedade garantir né a o nosso bem-estar eu quero defender que não eu gostaria então agora esse na verdade é o meu o meu
objetivo aqui hoje né de explorar Não exatamente as limitações né do modelo Robiano de estado porque essas limitações são muito evidentes claro né o Robs defende uma soberania absoluta nós estamos muito longe disso né mas eu gostaria de explorar as severas limitações né dessa concepção hesi de indivíduo um indivíduo que busca a todo custo a realização do seu benefício próprio duas consequências importantes a primeira né é que a relação com a sociedade e com o estado é uma relação instrumental Como eu disse no no começo por que que a gente eh eh concorda com a
ideia de viver numa comunidade que nos restringe né porque essa comunidade ou Essa sociedade regulada Claro pelo Estado no caso do Robs ela é fundada pelo Estado né ela nos propcia algum bem eu só aceito impor restrições a mim mesma na medida em que eu reconheço isso como um bem porque enquanto um ente da natureza é isso que dirá o Robs eu só faço voluntariamente aquilo que eu identifico um bem para mim mesma ou seja se eu admito restrições a sobre a minha própria pessoa é porque eu entendo que essas restrições são necessárias para que
eu possa né perseguir a minha própria eh concepção de felicidade Isso significa que a vida em sociedade ela é totalmente instrumental né ou seja se eu estou aqui com vocês é porque eu entendo que esse modo de vida é benéfico para mim então esta relação ela é uma relação instrumental com isso desaparece né Toda a ideia de comunidade cooperativa com isso desaparece a ideia de que nós vivemos juntos com uma finalidade outra que não seja o bem individual e aqui há uma séria limitação né a outra limitação né né é que isso implica portanto que
a relação que eu estabeleço com todos os outros indivíduos também é uma relação instrumental e o Robs é muito claro A esse respeito as coisas e as pessoas Aliás ele é muito Sagaz em relacionar pessoas com coisas as coisas e as pessoas não tem valor intrínseco nada tem valor intrínseco mas tem um valor atribuído Então sou eu enquanto de indivíduo que atribua um valor a você enquanto pessoa né você não tem um valor por você mesma n e o que que isso significa isso significa que o valor que eu atribuo a você sendo eu um
indivíduo guiado pelo benefício próprio é oriundo da consideração do meu próprio benefício então eu considero te atribuo valor na medida em que você contribui de algum modo pro meu próprio indivíduo no próximo bloco como é possível em sociedades plurais que as pessoas consigam viver [Música] juntas hobes pensa o indivíduo como aquele que sempre busca em suas ações apenas o que ele considera um bem para si mesmo nada tem valor intrínseco é o indivíduo que define o valor das coisas Mas quais são as bases Morais desse sujeito que está sempre agindo em benefício próprio o valor
de um homem tal como de todas as outras coisas é o seu preço Isto é tanto quanto seria dado pelo uso de seu poder portanto não absoluto mas alo que depende da Necessidade e julgamento de Out isso está né Expresso e na tese tão bem trabalhada no Leviatã na primeira parte do do leviatan segundo a qual nada nem as coisas nem as pessoas tem valor próprio né ele chega a dizer que o valor de uma pessoa é o preço eu fico pensando portanto Porque se o valor positivo que eu atribuo a vc advem do fato
de eu considerar que você em alguma medida contribui pro meu próprio bem o valor negativo que eu atribuo a você né advém do fato de eu considerar você um obstáculo à minha pessoa né E se o Robs fala muito da gente é porque eu vejo algo disso né no ódio ao estrangeiro né no ódio ao Nordestino no ódio ao gay no ódio ao transexual à mulher ou diferente vejam que interessante o modo como o Robs define o ódio ele define oó ódio e o amor ao mesmo tempo né a ideia original né aquela que mobiliza
toda essa filosofia segundo a qual nós somos indivíduos guiados pelo princípio do benefício próprio ela leva o Robs ao seguinte a a ao ao a seguinte descrição do comportamento humano qual é essa descrição bom nós enquanto né Eh seres inclusive seres naturais né sentimos desejo por aquilo aquele objeto ou aquela pessoa que parece nos termos do Robs corroborar o nosso movimento Vital a gente não precisa entender isso nos seus detalhes o que ele tá dizendo com isso é o seguinte se alguma coisa de algum modo me causa um bem-estar né ou me dá a impressão
de que ela contribui para que eu persevere na minha vida né e complete essa vida eh eh eh e realize a minha própria felicidade eu tenho desejo por essa pessoa ou por essa coisa né Isso se torna objeto do meu desejo a minha tem portanto é me aproximar é aqui a origem do desejo me aproximar daquilo que me parece me causar um bem e também do amor o que o desejo a gente sente pelo que tá pelo que tá ausente e o amor pelo que tá presente o ódio é isso o inverso né se aquela
coisa ou aquela pessoa de novo coisa pessoa né ser causar o inverso né me prejudicar de algum modo né Eh eu sinto aversão e a minha tendência é a de me afastar e pro Robs todo o nosso aparato emocional vamos dizer assim todo o nosso aparato afetivo tá construído dessa maneira né é uma mecânica né uma mecânica da Paixão se me corrobora eu me aproximo se me e se me causa dano Eu afasto se permanece eu elimino né é a condição de idade de eu perseverar na vida né Isso significa que as as noções Morais
centrais as noções de bem e mal na filosofia Riana né estão diretamente vinculadas ao benefício do indivíduo o bom é aquilo que nós né o nome que nós damos à coisas que nós gostamos e mau é o nome que nós damos à coisas que nós não gostamos assim simples assim porque o que o Rob está dizendo na verdade é o seguinte é que é que não há e nem se deve esperar que as pessoas que os concidadãos agora vão pensar em experiências né e concretas de sociabilidade não se deve esperar que eles venham a compartilhar
as mesmas noções de bem e de mal dito de outro modo há uma pluralidade de valores e o grande desafio é encontrar uma solução na pluralidade de valores o Robs não tem nenhuma expectativa de que haja uma redução dessa pluralidade de valores aá uma concordância de todos em torno por exemplo de uma mesma noção de bem e mal né ou do do do da elevação de uma certa noção de bem comum que não fira as individualidades ele não tem nenhuma expectativa com relação a isso e nesse sentido ele também fala e fala de um aspecto
muito positivo né na construção de uma cultura democrática né porque a pergunta que ele se põe a partir daí é uma pergunta que nós continuamos a nos colocar ainda hoje ou seja como é possível em sociedades plurais que as pessoas consigam viver juntas como é possível a Integração Social sem ferir não só o indivíduo né ou a pessoa considerada individualmente mas também as minorias e aqui está eh também a grande importância política né dessa ideia até por não ter nenhuma expectativa de que haja né uma possibilidade de acordo e de de Harmonia né em sociedades
tão tensas e conflituosas porque é disso que se trata sociedades plurais são tensas e conflituosas né assim sendo a solução que ele encontra é um estado do formato do Leviatã né uma soberania absoluta né com poder indivisível e com um enorme aparato repressor esse aparato repressor não é só o poder da polícia digamos assim né não é só o poder eh do encarceramento o poder repressor ele tem um outro componente que inclusive é e deve ser anterior a esse que é o controle ideológico porque o Robs está muito ciente né de que indivíduos guiados pelo
princípio do benefício próprio conviverão muito mal com a ideia de uma punição constante né com um aparato excessivamente repressor do Estado ele sabe disso né um estado excessivamente repressivo coloca os homens muito perto da Guerra generalizada de todos contra todos que é como ele caracteriza como é como ele imagina a situação dos homens na ausência do Estado por exemplo as guerras civis para o Robs são isso aliás O Leviatã é um livro escrito no contexto da Guerra Civil inglesa né que que elas são as guerras elas são justamente o resultado desse momento em que o
poder do estado perdeu a sua força perdeu a sua capacidade de ordenar esses indivíduos né E essa relação que é latent tensa mesmo quando ela está sob o aparato repressor ela vem à tona nos termos da Guerra sabendo disso né Ou seja que só a repressão é insuficiente a repressão digamos assim física né O que o Robs propõe é que para Além disso o estado precisa ter um enorme aparato ideológico porque o estado precisa ao invés de reprimir evitar mas evitar significa dissuadir as pessoas de desejarem a desobediência né É isso que eu tô chamando
de controle ideológico não é exatamente educação é doutrinação né você doutrina para evitar que os indivíduos desejem desobedecer ao estado ou seja o tempo inteiro o estado precisa manejar os medos e as esperanças dos súditos para que eles identifiquem no estado do seu próprio bem e na obediência a sua própria ruína mas ele deve ser capaz de fazer isso antes que ele precise reprimir né por isso que o Robs vai defender por exemplo né uma certa ideia do que deve ser ensinado nas universidades o Estado tem que estar sobre o poder da igreja nesse sentido
é a primeira grande filosofia a defender a submissão da igreja ao estado como nós sabemos muito bem e por que isso né porque ele teme o poder ideológico da igreja ele teme o a capacidade né que a igreja tem a religião de um modo geral mas principalmente a religião organizada em igrejas de desviar a obediência dos súditos ou seja de levar os medos e as experiências e as esperanças dos súditos para um outro lugar né tanto que ele tem uma frase extraordinária que ele diz nenhum estado pode subsistir se alguém tiver o poder maior né
Eh tiver um poder para dar recompensa maior que a vida e uma punição maior que a morte ou seja o cé é o inferno né enquanto os súditos temerem mais ao inferno do que a punição do Estado eles tendem a desobedecer o estado enquanto eles almejarem mais o céu né do que os benefícios dessa vida eles tendem a obedecer mais ao padre do que ao governante né então o que que precisa precisa submeter a igreja ao estado então o Estado precisa cuidar né das opiniões dos seus súditos e o melhor controle das ações diz ele
é o controle é o controle não é a formação é o controle opiniões no próximo bloco o ódio né ele se manifesta toda vez que o medo se torna [Música] latente o fim último causa final e desgo dos homens que amam naturalmente a liberdade domínio sobre os outros ao introduzir aquela restrição sobre si mesmos sobre a qual os vemos viver nos Estados é o cuidado com a própria conservação e com uma vida mais satisfeita se para Robs os homens diferentes entre si agem sempre em benefício próprio então é preciso um estado repressor com forte aparato
ideológico para controle das opiniões por isso Leviatã o estado soberano é a forma que hs para que haja Integração em sociedades plurais não dá diz ele isso é muito tenso a pluralidade é muito tensa precisa de uma força que a domine que a controle que a contenha né por isso a ideia de um estado como contenção né da a ideia de lei que se tem aqui é a lei de dominação de controle que se o que queremos é segurança precisamos de obediência civil todos os recursos necessários para a garantia da Obediência civil devem poder ser
implementados né então a solução que que o Leviatã nos traz né Ela é para o hobs compatível com a ideia de um indivíduo que eu tô chamando [Música] individualista O que que tá por trás da ideia de disciplina é que o que é diferente você controla e Reforma o que atrapalha você contém né E não deixa aparecer né não é à toa que em todos os os movimentos né que a sociedade faz no sentido né da emancipação né Por exemplo das minorias excluídas e das minorias dominadas a sociedade tende a responder com um grande momento
disciplinador né vivemos algo assim hoje né a gente tem um grande momento favorável por exemplo a que ven a público práticas de dominação contra minorias né Por exemplo eh quando se vem a público a reivindicação do direito do Casamento entre pessoas do mesmo sexo Essa era uma uma uma pauta que nós abafamos durante muito tempo ela ficou dentro do que a gente pode chamar de esfera privada quando ela vem a público Ou seja quando ela exige um reconhecimento da sociedade de que essa é uma reivindicação que tem que ser né Eh trabalhada e discutida pela
sociedade ou seja ela é um problema político também a sociedade resolve né isso como porque a incomoda em geral a parcela da sociedade que se sente incomodada com práticas disciplinadoras né que geralmente significam o quê devolve essa gente né pra esfera privada do Lar abafa contém controla né com a mulher foi a mesma coisa né quando ela aparece na esfera pública e diz olha a violência doméstica é um problema político é um problema público e não pode e precisamos portanto borrar a fronteira entre o público e o privado para que essa apareça como uma questão
que diz respeito a todos nós nós porque não é um problema né É privado bater na mulher né quando a gente traz isso pro que que você como é que a sociedade tende né a sociedade conservadora Claro que tá profundamente Incomodada com essa mudança que significa finalmente a emancipação feminina ela resolve com prática eh disciplinadora né ou seja contenha retorne né pro canto obscuro do Lar e o que isso diz no ao fim e ao cabo né é que a disciplina é um instrumento profundamente antidemocrático inclusive na medida em que ele impede né ela quer
ela Visa impedir né que questões que que precisam que tendem a ser trazidas por minorias excluídas e dominadas entrem na esfera pública e sejam objeto de debate democrático O que que tá ausente desse retrato obesi né Desse retrato que o hobs faz de nós mesmos eu poderia dizer a ideia de solidariedade seria um jeito de abordar isso ou em outros termos tá ausente a capacidade de reconhecimento recíproco a capacidade de ver o outro como um igual ou ainda a capacidade de ver o outro não apenas como um objeto que que nos contempla ou nos atrapalha
mas como um outro concreto dotado de uma história de vida dotado de dificuldades de seus próprios medos de suas esperanças e também das suas próprias pretensões né Acho que algo que faz muita falta ainda faz muita falta né Principalmente em sociedades né tão profundamente desiguais como a nossa ou ou em sociedades ainda profundamente marcadas por formas de violência de exclusão de dominação porque o que tá vetado pro indivíduo Robiano é a possibilidade de se relacionar com o outro né tendo um outro critério para além do seu próprio bem ou ainda a possibilidade de se relacionar
com a coletividade com um outro critério que não o da utilidade que poderia ser a cooperação Isso significa que o indivíduo este outro a partir do momento em que ele me atrapalha eu vou falar nesses termos bem coloquiais porque eu acho que é disso mesmo que se trata eu desenvolvimento uma eu desenvolvo uma afecção em relação ao ele que o Robs deu o nome de ódio o ódio como um sentimento é uma afecção ou Ou seja é algo que nos acomete é algo que vem de fora e que não conta em nenhum momento com a
operação intermediária da nossa capacidade de [Música] reflexão o filósofo Jean JAC Rousseau trata Logo no início de sua obra do contrato social princípios do direito político da refutação das falsas doutrinas da autoridade eis diante de nós a espécie humana dividida em rebanhos bovinos cada qual com o seu chefe que por ele zela para devorá-lo da mesma forma que um pastor possui uma natureza superior a de seu rebanho os pastores de hom que são seus chefes possuem também uma natureza superior a de seus povos assim raciocinava o Imperador calí concluindo facilmente por essa analogia que os
reis Eram os deuses Ou que os povos eram animais o raciocínio de Calígula conduz ao de hobs os pactos sem a espada não passam de palavras é a resposta de hobs a proposta de Rousseau é preciso a força para garantir a paz é preciso o estado repressor para que os contratos sejam cumpridos e ainda em oposição ao filósofo francês que acreditou na natureza boa do ser humano hobs decreta sua mais famosa frase o homem é o lobo do homem o rousse abre o contrato social dizendo o seguinte esse retrato que o Robs faz dos seres
humanos combinaria mais com o gado com os bois com as vacas com os animais irracionais O que que tá por trás disso né a ideia de que ele precisa pensar dessa maneira para que ele também seja capaz de então definir um defender o estado do tamanho do Leviatã né e o que que é né essa definição do indivíduo que eu chamei de individualista à luz né da filosofia do Rousseau é um indivíduo incapaz de moralidade é um indivíduo incapaz de liberdade nesse sentido né muito da minha fala é animada também por essa correção que o
Rousseau faz no hs né o que ele tá dizendo sobretudo é o seguinte a antropologia Riana está sendo forjada Rob está pensando o homem com essa limitação porque no fundo o que ele quer mesmo é defender a soberania absoluta está serviço do Estado então é o contrário né não é que ele começou com esse indivíduo e terminou ele quer defender essa forma de estado e por isso ele precisou pensar o indivíduo dessa maneira seja isso ou não né O que é bastante interessante é ver que pro rousse poder alterar a solução política hesi e poder
então pensar né numa solução eh chamamos digamos assim mais democrática na medida em que mais cooperativa né e mais afeita a a ao comando né de uma vontade que não é exclusiva e individual mas uma vontade geral para que ele possa ser capaz de chegar aí ele precisa pensar os seres humanos de um modo distinto do Robiano porque o homem obesi só tem como solução de fato aquela imposição repressora de um estado aos moldes das Botas pesadas do Leviatã Então o que o Russo ve dizer não o homem é rapaz de moralidade e quando o
Russo diz isso ele é capaz de pensar a cidadania de um modo muito mais alargado do que o Robs porque os outros e a própria sociedade não são verão serão vistos apenas de maneira instrumental né eles serão vistos como a própria realização a condição da realização da Minha Liberdade essa essa deficiência moral do indivíduo individualista ela ela é ela curiosamente né ela ela quer dizer lamentavelmente mas é algo com o qual a gente precisa começar a lidar e ainda bem que a gente tem os clássicos para nos ajudar porque nesses momentos fica muito difícil saber
aonde pisar né ela tende a se manifestar ela tende a se publicizar isso que a gente tá vendo né de uma maneira muito contundente né eh e e claro em sociedades muito desiguais como a nossa em sociedades ainda muito excludentes como a nossa e profundamente acostumadas né com formas muito arraigadas de violência e de dominação o que o ódio tá fazendo é só explicitar o ódio né ele se manifesta toda vez né que o medo né se torna latente porque o ódio quando se transforma da pró no ódio da política ele ele ele pavimenta o
caminho necessário né para que a gente venha a ter a expectativa de resolver os nossos problemas de outra maneira que não pela política e é evidente que quando eu falo resolver as nossos problemas pela política significa de maneira democrática o mais Ampla possível com instituições fortalecidas né com a proteção dos indivíduos e também né da esfera pública para que nela possam vir as aparecer as diversas demandas que são as demandas das minorias alienadas volto a dizer é disso que se trata em grande medida no Brasil criar uma esfera pública favorável né É que as as
demandas dos excluídos venham finalmente à tona é a vitalização da nossa esfera pública que é a possibilidade de que as demandas finalmente apareçam e que a gente possa ir combatendo as formas de violência que é disso que se trata né então ódio à política né que é alguma coisa que me preocupa profundamente né também na juventude me parece que tem esse efeito altamente negativo que é o de desacreditar que a nossa luta é política e que é nas instituições do Estado democrático de direito que a gente vai fazê-la né só gostaria de lembrar né que
o ódio à política esteve antecedendo né as ditaduras do Século XX e também o o sistema totalitário no caso por exemplo da Alemanha nos tornamos inegavelmente individualistas centrados em nós mesmos idiossincráticos e cruéis profundamente [Música] cruis em nossa sociedade atual democrática de direito como nos relacionamos com o diferente temos noos inclinado mais ao ódio e à aversão ou a compreensão e inclusão pautas como diferenças partidárias diversidade de sexo de gênero ou raça ou questões como a da maioridade penal são hoje temas polêmicos a filósofa Iara frates traz hobes para nos ajudar nessas reflexões eu faço
esse exercício de buscar o hobs para uma reflexão a respeito desse nosso desejo indiscriminado de punição do outro que se configura como um suposto obstáculo eu quero poder crer né que esse desejo enquanto uma afecção que se manifesta sem a possibilidade de uma reflexão crítica ele pode vir talvez de algum modo né ser contornado modificado né transformado por reflexão crítica que grande parte dos argumentos que sustentam pretendem sustentar aumento de pena ou redução da maioridade penal são construídos em cima de formações equivocadas errôneas falta de informação porque a a mídia em geral ela tem mais
interesse né No sensacionalismo que o crime claro né produz porque ela também sabe que o que mobiliza a audiência são os medos e as esperanças dos súditos ó Robs né ela sabe que o que mantém o sujeito ligado né É ela ir reforçando o discurso do medo ele fica ligado na televisão ele fecha a sua casa Ele tranca o seu filho no condomínio ele não deixa o moleque pegar ônibus ele vai entrando no Maluco e ele continua ligado na televisão e é claro porque ela sabe que nós nos mobilizamos sobretudo pelo medo o raciocínio é
muito simples como os os criminosos né são obstáculo pro meu bem-estar para minha segurança né pro bem-estar pra segurança da população de bem né como os jovens são criminosos eles devem Claro ser retirados da sociedade em outras palavras eles devem ser eliminados do convívio social mesmo que se signifique jogá-los nas nossas prisões que são verdadeiras máquinas de morte Claro tem um contraargumento instrumental né não funciona né De Fato né não funciona você tem dados públicos você tem experiência de outros países né que deixam muito claro que a redução da maioridade penal não resolve o problema
da criminalidade juvenil porque existem mais elementos na construção do comportamento humano além né do medo da punição do Estado né Por quê Porque a construção de uma identidade né ela se dá anteriormente a partir das condições de vida reais materiais educativas Morais cognitivas afetivas que uma pessoa tem não adianta lá na ponta né punir com a morte crimes ediondos e os ados mostram são jovens pobres que não tiveram acesso aos bens materiais básicos não tiveram acesso à educação não tiver não tiveram acesso aos bens da civilização vamos dizer assim e são na sua maioria negros
sujeito rouba um celular e a gente anda para essas cadeias que nós temos pode ter sido o primeiro celular que ele roubou na vida 5 anos na cadeia O que que a gente O que que a gente fez com ele a gente privilegiou o nosso celular e o transformou e o condenou as nossas câmaras da morte então é absolutamente inegável né que esse indivíduo individualista no qual nos tornamos Não tem absolutamente a mentalidade alargada capazes de identificar no outro um ser humano então é uma cegueira moral sim é disso que se trata na minha na
minha abordagem hoje eu podia trabalhar ela como uma cegueira política dificuldade o problema da despolitização poria tudo mas eu quero trabalhar com uma cegueira moral porque ela é uma clausura moral né é um indivíduo enclausurado em si mesmo que não tem nenhuma imaginação social imaginação nesses termos né minha capacidade de tentar exercer né A minha reflexão de modo alargado no sentido de que que eu venha a me perguntar sobre as razões do outro sobre o ponto de vista do outro o Robs soluciona o problema da pluralidade né de noções de bem dessa tensão né Eh
promovida constantemente numa sociedade onde os indivíduos são individualistas com o estado comum Leviatã justamente porque ele absolutamente não contava com a possibilidade do alargamento da mentalidade né Essa uma expressão arenti né uma expressão da han arent Ou seja a possibilidade de que eu venha a me colocar no lugar do outro mas num sentido específico né me colocar no lugar do outro significa assumir por um tempo o seu próprio ponto de vista o lugar do qual ele olha o mundo que não é o meu porque o Robs não imaginava porque essa é uma qualidade moral das
pessoas sem dúvida alguma né que só floresce numa sociedade que tem instituições políticas que favoreçam o florescimento dessa capacidade moral evidentemente né porque ninguém nasce desse modo então só instituições políticas seriam capazes de favorecer o desenvolvimento o alargamento da mentalidade de modo que eu visse Viesse a desenvolver essa imaginação social que é essa capacidade de investigar o mundo né a partir do ponto de vista dos outros e com isso esse seria né para arent esse seria o remédio do contra o individualismo eu não vou deixar de ser um indivíduo em hipótese alguma mas eu preciso
ser capaz de pensar né no mundo nos outros e nessa sociedade né A partir isso significa uma imaginação a partir do ponto de vista dos outros que cá estão comigo sem essa capacidade de migrar e investigar o mundo a partir das diversas perspectivas que o compõem nos tornamos inegavelmente individualistas centrados em nós mesmos idiossincráticos e cruéis profundamente cruéis o Robs porque não tinha a expectativa né Desse desenvolvimento digamos assim moral não tinha a expectativa do alargamento da mentalidade porque não tinha a expectativa de que o indivíduo conseguisse Em algum momento se livrar dele mesmo ou
escravo dele mesmo né em outro sentido é que ele precisa de um estado como Leviatã que é um estado repressor que faz por ele o que ele não consegue fazer sozinho Essa é a ideia que que é o estado a própria figura pensem na capa do Leviatã é a espada é um homem grande né aquele homem zarão cheio de homens pequenininhos que que são aqueles homens pequenininhos são indivíduos indistintos né que se tornam indistintos só porque o estado os contém aí resolveu o problema da pluralidade né pela contenção pela dominação não deixa a tensão aparecer
você precisa ter mas por que que precisa do Estado daquele tamanho volto a dizer E por que que mais né o sistema do hobs é profundamente sofisticado nesse sentido Ele conta que nós venhamos a nos identificar como seres incapazes de colocar obstáculos a nós mesmos ou de um desenvolvimento moral capaz né de fazer com que a gente veja os outros de uma outra perspectiva que não a meramente autointeressado então é essa debilidade moral no limite né que eu reconheço em mim mesma que faz com que eu aceite a submissão ao estado mas eu aceito a
submissão ao estado para não ter que me submeter ao outro né então eu aceito a submissão a estado para eu garantir o mínimo de espaço para execução PR consecução da minha liberdade individual [Música] só quando uma minoria por exemplo p o reconhecimento eh eh eh o seu próprio reconhecimento o que ela quer é que ela seja incorporada no nosso sistema de direito Muito embora seja absolutamente necessário que vamos chamar isso vamos chamar o reconhecimento jurídico né Eh dessas dessas pessoas eh eh ele ele não é suficiente né porque a gente sabe muito bem que o
direito não é por si só capaz de combater formas enraizadas de discriminação né por isso por exemplo hoje a gente saiba que muito embora seja necessário né E foi uma lei que criminalize né o racismo a gente também está convicto de que o racismo não termina porque você o criminaliza então a luta continua nesse sentido que é o quê é pensar e investigar e lutar pelas formas de combate a um a um racismo profundamente enraizado que não adianta você colocar lei a a lei lá na ponta que ele não se resolve a gente precisa o
quê A gente precisa enfrentar a vida das crianças por exemplo nas suas escolas que é onde o racismo Costuma começar a gente sabe disso o racismo começa quando a criança vai pra escola aí ela se percebe como diferente discriminada e ela passa a vida em escolar inteira sofrendo tanto que ela não termina né a gente sabe pelas estatísticas que os jovens eh os jovens negros terminam eh Em menor número no ensino médio do que os brancos que eles têm menos acesso à Universidade do que os brancos então não adianta criminalizar lá atrás né lá na
ponta se a gente não criar né uma série de políticas públicas e de um ambiente social favorável né a que essas crianças possam finalmente se estabelecer enquanto seres humanos quando a gente não é capaz de fazer o exercício de ver o mundo de um lugar diferente do nosso eh a nossa capacidade de julgamento fica profundamente limitada e quando eu falo em julgamento eu tô pensando na nossa capacidade de juízo de juízo político de juízo moral por isso que a nossa única resposta é nordestinos voltem paraas suas casas né ou jovens sejam encarcerados Ou seja você
elimina aquele que você identifica como um obstáculo à realização do seu próprio bem Robs encontrou como solução para homens individualistas o estado soberano Absoluto em nossa sociedade plural e com tantas desigualdades e preconceitos fica a reflexão sobre a nossa capacidade moral de enxergarmos o outro e manter a sociedade democrática no site da CPFL Cultura a discussão continua vê a soma de dinheiro que se perde no galo da corrupção e o tanto de dinheiro aa de dinheiro que nós temos educa é absolutamente Avante importa para nós sem dúvida alguma é lutar severamente contra todos os mecanismos
de [Música] corrupção p [Música]
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