O que é transtorno mental? | Mario Eduardo Costa Pereira

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Café Filosófico CPFL
Hoje parece que esperamos da ciência e da medicina psquiátrica a última palavra sobre os nossos male...
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k [Música] [Aplausos] [Música] a Vida Saudável paira sobre nós como ideal Supremo Queremos ser felizes e para isso é preciso ter saúde mas o que é saúde saúde por milênios foi entendida como equilíbrio Harmonia o seu contrário O desequilíbrio seria a doença com as devastações que o mundo sofreu com a Segunda Guerra Mundial a Organização Mundial de Saúde ampliou o conceito de saúde para um Estado de completo bem-estar físico mental e social e não somente a ausência de uma doença ou enfermidade esta mudança conceitual implicou em outras mudanças na prática da Medicina se saúde é
um estado de completo bem-estar emese qualquer mal-estar pode ser tratado pela medicina quando falamos de saúde mental por exemplo Hoje existe um dicionário médico que explica e classifica como transtorno grande parte do mal-estar que experimentamos em nossos Dias nossos comportamentos e sentimentos estão ali de alguma forma catalogados progredimos ou estamos transformando em patologias os problemas naturais do dia a dia Nossa cultura demanda soluções imediatas e parece que espera da ciência a última palavra sobre nossos males emocionais tudo isso resulta na medicalização da vida estamos realmente vivendo uma epidemia de transtornos mentais nós que trabalhamos no
campo da Clínica eh cada vez mais é difícil que a gente receba alguém um novo paciente e que ele chegue e que ele se Surpreenda com que com o tema do diagnóstico em geral ele já vem com o próprio diagnóstico n a questão do diagnóstico psiquiátrico deixou de ser uma questão técnica e passou a ser uma questão discutida por todos hum seja no nível eh pessoal num nível entre amigos na vida cotidiana na televisão enfim o diagnóstico psiquiátrico virou a nossa maneira contemporânea de subjetivar as nossas vivências emocionais cada vez mais nós temos uma tendência
de eh conceber o nosso sofrimento as nossas paixões as nossas dificuldades em termos médicos e de organizar a nossa mentalidade questões a partir de uma perspectiva médica O que é um transtorno mental hoje nós temos esses os termos da da linguagem psiquiátrica são termos da língua cotidiana não é surpresa para ninguém que se falar em toque falar em transtorno de pânico transtorno de ansiedade transtorno afetivo bipolar bipolaridade TDH são termos que circulam na vida cotidiana são maneir pelas quais nós concebemos os nossos Sofrimentos são as maneiras pelas quais nós nos comunicamos e principalmente são as
maneiras pelas quais nós nos situamos em primeiro lugar para pensar a respeito do que nos acomete mas eu gostaria de apenas Lembrar para vocês do nosso ponto de partida nosso ponto de partida essa ideia haveria uma epidemia de transtornos mentais se nós pegarmos dados do Instituto Nacional de saúde mental dos Estados Unidos estima-se que 26,2 dos Americanos que tenham que sejam mais velhos do que 18 anos de idade ten algum tipo de transtorno mental diagnosticável 26,2 em maio de 2013 um estudo publicado pelo serviço de controle de doenças dos Estados Unidos ele mostra que um
total de entre 13 A 20% das Crianças vivendo nos Estados Unidos experimentam um episódio de transtorno mental em um ano 13 a 20% uma de cada cinco se a gente ver essa expansão da identificação de transtornos mentais na cultura em geral é necessário que a gente discuta o porquê vários motivos várias questões estão em jogo e a gente precisa de muita serenidade para discutir esses temas se a gente não entender o que é essa noção de transtorno mental qualquer debate ele se torna impossível então a noção de transtorno mental é uma noção que surge de
debates a partir dos anos 60 nos Estados Unidos de um momento que psiquiatria estava em grande crise ela era atacada pela antipsiquiatria ela dispunha de muito poucos tratamentos efetivos eh a havia uma diminuição importante do Poder médico porque como a antipsiquiatria era muito forte como os as técnicas psicoterapêuticas psicanalíticas e outras tinham um poder muito significativo nos Estados Unidos a questão do Poder médico no campo psiquiátrico era muito diminuía ora em Psiquiatria a ideia de doença mental sempre foi muito problemática e que a gente pode resolver resumir um pouco o núcleo da do conflito nos
termos mais ou menos colocados por kut Schneider um grande psiquiatra alemão que não pode em nada ser acusado de anti psiquiatra ele dizia a noção de doença mental ela só pode ser uma contradição nos termos se ela é uma doença não pode ser mental E se ela é mental não pode ser doença hum Thomas as Aí sim um anti psiquiatra ele dizia assim então a noção de doença mental não é apenas uma metáfora ela é uma má metáfora com consequências políticas muito fortes porque eh ela permite dá uma autorização uma legitimação de uma intervenção médico
psiquiátrica e no campo de eh transtornos eh supostamente médicos dá uma autoridade médica para interferir em questões que são em última ordem humanas e Morais a ideia então de um transtorno mental busca resolver esse problema transtorno mental é tradução pro português da expressão inglesa que deu origem a esse debate de mental disorder de um transtorno mental uma mental disorder [Música] no século X o médico Felipe Pinel introduziu uma proposta de tratamento moral para os pacientes psiquiátricos a loucura era vista como um desvio da natureza do homem e devia ser tratada com a correção dos hábitos
das ideias assim a psiquiatria da época tenta dominar a loucura trancando dentro dos ailos a antipsiquiatria foi um movimento de crítica a esta psiquiatria vigente que teve seu auge nas décadas de 1960 e 70 promovendo alternativas terapêuticas o médico italiano Franco basaglia um dos principais nomes da antipsiquiatria colocou a crítica em prática quebrando o modelo de Manicômio e criando alternativas de tratamento fora dos muros dos hospícios [Música] [Aplausos] [Música] Nel novembre del 1962 l'equip psichiatrica diretta Dal Professor Franco basaglia apre Il primo reparto dell'ospedale [Música] Brasil a Psiquiatra da Silveira viu ar terapia uma forma
de entender tratar e humanizar a loucura terapeuta internado se consegue pra medicina hoje parece que para tudo H um remédio controlar pela química nossas emoções tem sido uma prática cada vez mais comum estamos realmente vivendo uma epidemia de transtornos mentais nossa sociedade adoeceu mas o que que quer dizer um transtorno mental Mas se vocês procurarem na introdução do dm3 de 1980 ele vai dizer mais ou menos o seguinte na maior parte dos dos quadros tratados pela psiquiatria nós não temos uma concepção Clara do ponto de vista etiológico e psicopatológico esse tipo de situação não pode
nos impedir de operarmos clinicamente em Psiquiatria aliás Como de resto em vários outros Campos da Medicina nem sempre os médicos interferem em situações que culturalmente são conhecidas por uma gravidez não é uma doença nariz torto não é doença peito caído não é [Música] doença embora a gente possa fazer uma classificação muito específica de diferentes maneiras de conceber nariz torto ou peito caído que nos permita intervenções médicas eficazes para resolver um problema então esse o primeiro elemento que vocês precisam guardar em mente quando nós falamos de o disorder o ponto de partida é uma renúncia em
geral Tida no campo da PSA como temporária de uma descrição eh fisiopatológica completa em termos médicos de um transtorno mas que nos permita a partir de critérios que são objetivos e compartilháveis de recortar quadros clínicos sobre os quais a gente pode interferir psiquiatricamente é isso que significa a ideia de transtorno mental a ideia da descrição fisiopatológica que virá é uma ideia antiga em Psiquiatria você pega dos primeiros textos grandes psiquiatras franceses e e alemães você encontra em gisinger por exemplo um grande clássico um dos maiores tratados da história da psiquiatria da psiquiatria biológica sujeito extremamente
inteligente no qual Freud se inspirou para criar o conceito de recalque já tá na obra do grisin El dizia bom um dia esses fenômenos que nós só conseguimos descrever clinicamente nós vamos poder descrever numa linguagem fisiopatológica kpel o grande pai da psiquiatria contemporânea ele dizia assim nós temos que descrever os fenômenos e classificá-los de uma maneira extremamente precisa porque quando a gente CONSEG depurar a nossa classificação da maneira mais radical possível essas formas puras de descrição devem corresponder a tipos psicopatológicos o escritor Lima Barreto viu de perto os tipos psicopatológicos quando era também um deles
internado num Hospital Psiquiátrico que dizer da loucura mergulhado no meio de quase duas dezenas de loucos não se tem absolutamente uma impressão geral dela há como em todas as manifestações da natureza indivíduos casos individuais mas não há ou não se percebe entre eles uma relação de parentesco muito forte não há espécies não há raças de loucos há loucos só você tem uma racionalidade prática Hum que para poder operar nesse nível você não tem necessidade de fazer uma descrição psicopatológica ou seja de como que ela funciona na sua estrutura você renuncia uma explicação de natureza ontológica
que a doença é um ser e dou uma explicação de natureza prática esse grupo de sintomas melhora com tal tratamento Essa é mais ou menos a lógica fundamental que organiza os critérios de classificação atuais isso trouxe paraa medicina paraa psiquiatria grandes vantagens primeiro do ponto de vista de descrição pela primeira vez tinha critérios mais ou menos estáveis compartilhados sobre a ótica formal sobre a ótica descritiva de modo que é um grupo sindrômico a gente estabelece critérios fixos paraa atribuição do diagnóstico por isso que se trata de um manual de diagnóstico e de estatística a associação
americana de psiquiatria publica desde 1952 o dsm manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais esse manual se tornou grande responsável pela propagação de novos diagnósticos sua última versão o dsm5 foi lançada em 2013 se fazer aposta de que essa separação prática que permitia por diferentes critérios se ter diferentes categorias de transtornos mentais você podia fazer pesquisas biológicas de modo que um dia nós conseguiríamos ter uma validação biológica para aquilo que por enquanto é apenas prático esses critérios práticos eles estão embutidos essa é a primeira elemento que é fundamental para entender a noção de transtorno mental
ele tem uma validade pragmática ele tem uma validade instrumental a outra ideia é nós não temos ainda a explicação no futuro nós teremos natureza biológica hum Esse ideia ela é tão presente ela é tão forte no no contexto contemporâneo que nós vivemos hoje no interior de da psiquiatria uma grande crise uma grande crise teórica e uma grande crise institucional [Música] psiquiátrica em 2013 é publicada a quinta edição do manual de Diagnóstico estatística o dsm5 da associação psiquiátrica americana ora algumas semanas antes da publicação do dsm5 o Presidente do Instituto Nacional de saúde mental através do
seu blog oficial do desse Instituto ele ele faz um comentário do manual que seria publicado 15 dias depois ele diz assim o objetivo desse novo manual tal como nas edições prévias é de promover uma linguagem comum para descrição da psicopatologia embora o dsm tenha sido descrito como a Bíblia desse Campo ele é no máximo um dicionário criando um grupo de rótulos para definir cada uma dessas entidades e ele termina dizendo a famosa frase que circulou o mundo os pacientes com transtornos mentais Merecem mais do que isso então vocês Imaginem n o a condição anticlimática do
lançamento do dsm5 Hum você vai lançar um manual que é desautorizado publicamente alguns dias antes pelo principal organismo de estado de financiamento ele diz ele diz mais que o Instituto Nacional de de saúde mental dos Estados Unidos não voltaria a financiar pesquisas psiquiátricas que utilizasse o dsm como Bíblia Hum como a sua referência E por quê vocês veem o argumento é claro para que isso tenha validade científica ele tem que primeiro ser descrito em linguagem biológica em linguagem médico biológica ou seja tem uma racionalidade que medicina é biomedicina a biomedicina atua na interface entre biologia
e medicina dedicada a compreender as causas e efeitos das doenças desenvolver diagnósticos e tratamentos então nós vemos aqui vários elementos que se explicitam nesse conflito interno na psiquiatria contemporânea ao mesmo tempo um sistema de Diagnóstico fez um sucesso Mundial vocês vejam a associação psiquiátrica é norte-americana mas a influência desses diagnósticos é mundial de modo que ela influencia e dialoga com os critérios da própria classificação internacional de doenças da OMS ao mesmo tempo mostra bem que havia alguma coisa de de estranho na maneira de que nós ouvimos falar publicamente dos transtornos mentais vocês vejam que a
gente entrava no debate renunciando a ideia de doença mental só que se eu ouvir a autoridade médico psiquiátrica vi publicamente falar o transtorno de pânico é uma doença muito séria o que essa crise mostra que a própria psiquiatria reconhece que tem alguma coisa na descrição atual que é é insatisfatório para traduzir esse tipo de organização dos fatos clínicos numa linguagem de biomedicina contudo ela mantém a aposta dos antigos a aposta que um dia esse grande quebra-cabeças que nós vamos acrescentar novas pesquisas biológicas um dia nós vamos ver suficientemente clar para que o nível de descrição
fís seja o nível último de descrição de um fenômeno psicopatológico Anton Art escritor que esteve internado em manicômio escreveu seu protesto aos seus diagnosticador senhores as leis os costumes concedem o direito de medir o espírito esta jurisdição Soberana e terrível vocês a exercem seguindo seus próprios padrões de entendimento não nos façam rir a credulidade dos povos civilizados dos espe doses reveste a psiquiatria de inexplicáveis luzes Sobrenaturais a profissão que vocês exercem está julgada de antemão não pensamos em discutir aqui o valor dessa ciência nem a duvidosa existência das doenças mentais Porém para cada 100 classificações
onde as mais vagas são também as únicas utilizáveis quantas tentativas nobres se contam para conseguir melhor compreensão do mundo irreal vivem aqueles que vocês encarcerar sem a loucura que é o homem mais que a besta Sadia cadáver adiado que procria no início do século XX Fernando Pessoa enaltecia a loucura em poesia já aqueles que foram considerados pais da psiquiatria kreplin e da psicanálise Freud buscavam na ciência a explicação para todos os transtornos da mente O que que significa descrever um sofrimento humano exclusivamente com uma biomédica eu só Goia de fazer uma breve recapitulativo com vocês
na primeira edição do dsm 1952 havia 106 diagnósticos na segunda edição 68 saltou para 182 no dsm 380 vai para 265 na na sua versão revisada de 87 vai para 292 o o dsm4 tem 297 e o atual dsm5 tem mais de 300 então nós temos uma multiplicação uma pletora de Diagnósticos e ao mesmo tempo esses diagnósticos eles são não apenas maiores Mas eles são cada vez mais amplos e a gente pode identificar uma grande parte dos critérios diagnósticos digamos uma maior maior acolhimento de casos situações que em outros momentos não eram consideradas como casos
com critérios mais amplos passam a ser a última versão do dsm manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais trouxe mais de 300 patologias entre as novas classificações estão compulsão alimentar devorar comida em um período delimitado de até 2 horas Deixa de ser Gula apenas e passa a ser também transtorno psiquiátrico nasce o transtorno disfórico pré-menstrual uma forma mais grave de TPM que agora também é problema psiquiátrico o luto o sofrimento pela perda de alguém se durar mais de duas semanas a tristeza será considerada sintoma de depressão essa nova edição do manual estimulou discussão Será que
estamos patologizado demais o comportamento humano transformando em doença problemas do dia a dia nós encontramos aqui então um problema histórico do campo da psiquiatria um problema teórico histórico as categorias descritas pela psiquiatria são categorias meramente descritivas e convencionais ou elas são categorias causalista explicativas todas as as disciplinas científicas t o direito de começar por algum lugar e de procurar um progresso uma das vias de progresso por exemplo né É uma via genética né ou genética psiquiátrica Hum então disso valeria a pena pra gente poder entender o que circula na cultura hoje em termos da genética
psiquiátrica alguns elementos básicos dessa genética eu eu me dei o trabalho de procurar no Google né em diversos jornais quantas vezes havia sido publicado o no centista americano descobre o G da esquizofrenia por quê Por os gens que a gente descobre influenciando certos estados mentais eles não são gens de natureza como a gente tá mais acostumado a pensar numa genética de herança autossômica dominante Hum que você tem lá o gen ele vai se expressar na geração o que nós temos são grupos de gens candidatos ou de gens que certos estudos mostram que a presença daquele
G teve uma maior correspondência de eh de expressão daquele transtorno mas o que que isso quer dizer isso não quer dizer que não haja participação de fatores genéticos ou que isso seja apenas um artefato mas que o mais provável que aconteça é que nós temos uma um sistema muito complexo de interação de fatores de certas constelações genéticas que podem ser inclusive muito diferentes entre elas que num sujeito exposto a certos tipos de condição ela pode ser um elemento de fragilidade maior para o surgimento de certas formas clínicas de um transtorno contudo é importante a gente
lembrar que há algum exagero nisso é decisivo que a gente tenha uma visão Clara da participação genética mas também que a gente tenha um senso crítico a respeito disso no conto Alienista de Machado de Assis o médico Simão Bacamarte resolve fundar uma casa de loucos e na busca por um método para classificar a loucura arranja motivo para internar toda a população de Itaguaí tudo era loucura os cultores de enigmas os fabricantes de charadas de anagramas os maldizentes os curiosos da vida alheia ninguém escapava aos emissários do Alienista ele respeitava as namoradas e não poupava as
namoradeiras dizendo que as primeiras cediam a um impulso natural e as segundas a um vício se um homem era varo ou Pródigo ia do mesmo modo para casa verde da aí a alegação de que não havia regra para completa sanidade mental alguns chegam ao ponto de conjeturar que nunca houve outro louco além dele em Itaguaí Vamos pegar uma situação em queem n de nós tem dúvida da participação do fator biológico por exemplo síndrome de Down não é uma alteração genética uma alteração cromossômica mas a natureza biológica ela é indiscutível eu diria que nos transtornos que
atingem a infância poucos ou talvez nenhum tenha tido tanto Progresso Clínico quanto na síndrome de Down em termos de inserção social em termos de melhora de sintomas em termos de aprendizagem em termos de expectativa de vida em termos de qualidade de vida em termos de eh enfim de como nós concebemos o que possa ser a existência de uma criança com síndrome de Down e a mudança nos últimos 30 anos foi magnífica de uma situação clínica que ninguém duvida do da importância 100% do fator biológico essa melhora toda aconteceu sem praticamente nenhum novo tratamento biológico para
síndrome de da O que mudou na síndrome de da foi a nossa maneira de olhar para essas crianças e para essas famílias foi na medida em que nós todos não apenas médicos mas a cultura em geral pode pressupor que aquela marca biológica não era uma definição do sujeito que a gente poderia pressupor um sujeito para alguém que tinha aquela variação humana ele pode se estabelecer humanamente de outra forma ou dito em outras palavras vocês vejam o efeito paralisante que pode ter você colocar o diagnóstico médico na frente de uma concepção do sujeito um dia colegas
façam de suas vidas uma coisa [Música] extraordinária o olhar e o discurso que nós tínhamos sobre as crianças com síndrome de D foi tão deletério durante muito tempo e o que que a gente faz hoje quando a gente define uma criança pelo seu diagnóstico qualquer Clínico já teve aa situação mas naquele dia foi um grande Impacto aquela senhora Entra na sala e me diz assim primeira vez que eu encontro ela se apresenta e disse assim Doutor meu filho é TDH n n é interessante porque ela não não disse que meu filho tem o diagnóstico de
TDH né ele não diz que essa criança eh tem um né Tem uma paralisia enfim num numa área da vida que ele tá com dificuldades Ela diz que o é o verbo ser ele define o ser do seu filho pelo diagnóstico psiquiátrico de transtorno de Déficit de Atenção é interessante né a gente pensar um pouco também no na retórica disso né às vezes né a gente encontra na psiquiatria os próprios psiquiatras dizem assim eh devemos evitar o preconceito não tá certo também acho mas você chama o seu transtorno com duas negativas é um transtorno de
Déficit né de atenção nã Qual é o efeito que tem mamãezinha seu filho tem um transtorno filho da sua amiga não tem ora tem um recorte na ideia de transtorno de Déficit de Atenção que não concentrar é um transtorno é um é é marcado negativamente mas vamos pensar por exemplo o seguinte chegou o marciano aqui em Campinas vê né essa situação do transtorno de Déficit de Atenção ele vai comunicar paraa sua base em Marte ele vai dizer assim olha tem uma situação muito estranha na terra porque eles colocam os filhos deles com 5 anos de
idade na escola porque eles têm que aprender em inglês porque se chegar falando inglês aos 10 com com um pouco de sotaque Eles não conseguem mais concorrer hum né na terra hoje prestar atenção é um valor Hum mas aqui em Marte criança tem que bagunçar criança que presta muita atenção aqui tem um transtorno criança precisa mesmo nãoé é tá num outro registro o que eu quero dizer com isso que a gente não pode não consegue definir um traço genético abstraindo o mundo no qual ele se ele se inscreve abstraindo a circunstância concreta onde ele está
numa certa constelação aquele traço ele pode ser muito mórbido e numa outra constelação esse outro traço pode ser muito favorável e essas situações humanas são elas são históricas elas são políticas depois que o homem conseguiu nomear todas as partes do corpo o corpo o inquieta menos atualmente cada um de nós sabe que a alma nada mais é que a atividade da matéria cinzenta do cérebro A dualidade entre a alma e o corpo foi dissimulada por termos científicos e hoje não passa de um preconceito fora de moda que só nos faz rir repar que hoje ninguém
mais é distraído aou introspectivo tem transtorno de déf não estamos inquietos ou incomodados sofremos de transtorno de ansiedade não variamos de humor somos bipolar não ficamos mais tristes ou desiludidos precisamos tratar Nossa depressão foc dizia que a doença só tem realidade e valor de doença no interior de uma cultura que a reconhece como tal então que época é essa nossa que faz do diagnóstico psiquiátrico quase uma necessidade para definir quem somos Por que foi que fizemos dos manuais de Diagnóstico a da vida se a gente pegar por exemplo um autor muito importante dos anos 70
que é o Christopher burs ele diz assim o que que é uma patologia uma patologia é um desvio em relação ao design biológico previsto pra espécie ou seja o campo para se decidir as proposições sobre o patológico é o campo das ciências naturais quando ele fala dessa extrapolação de Patologia para o campo mental quando ele fala de saúde mental di assim só pode ser científico se a gente fizer uma proposição para saúde mental que seja análoga a essa ideia de saúde física e de doença física ora ele diz essa concepção de saúde como ausência de
doença e da patologia como desvio do Design são noções de valores ela deve ser então Concebida com uma função biológica por um lado Qual é o protótipo da função biológica e qual é por outro lado uma normalidade estatística a gente consegue então identificar se tem esses dois se a função biológica continua se repetindo E se a gente mantém uma normalidade estatística ora um outro autor importante que vai tentar propor uma hipótese alternativa esse ponto de vista chama-se Gerônimo wakefield que é um dos grandes Pilares teóricos do dsm da noção de transtorno mental do dsm ele
dizer assim que nos transtornos mentais nós não temos ainda o teste Laboratorial que deu padrão ouro que permita inscrever o transtorno mental como uma patologia como as outras no campo da biomedicina ele vai vai trazer hipóteses darwinistas ele vai dizer a função e a função mental foi aquela que foi selecionada pela evolução como a mais adaptativa pra espécie naquele momento então para se falar de transtorno tem que ter duas características né ele ela tem que ser por um lado ela tem que ter essa alteração no design selecionado pela seleção e por outro lado ela tem
que ser vivida culturalmente socialmente como um prejuízo não pode ter nem só um Nem só outro ora quando você diz essas duas coisas primeiro Ela depende de um comportamento ou de um funcionamento ou de um funcionamento mental que foi selecionado pela pela evolução hoje a gente se fala fala muito das super bactérias dos hospitais Por que que elas são super bactérias Por quê você tem lá uma cepa de bactérias numa certa parte do hospital alum paciente toma um antibiótico se usa um tal antibiótico fortísimo aquela Cepa morre quase inteira mas tem alguns Mutantes tem alguns
anormais que sobrevivem aquilo e elas se reproduzem forma uma nova Cepa que tinha todas as resistências anteriores e mais a nove e a gente cria um novo antibiótico mais potente ainda que é utilizado nessa nova Cepa e que destrói quase todos os os elementos dessa Cepa menos os anormais no sentido estatístico os anormais os desviantes são os que garantem a sobrevivência da espécie se a gente leva as últimas consequências do raciocínio do wakefield um projeto público de saúde mental não deve ser Transform a des em uma Order única o projeto tem que ser necessariamente como
é que a gente garante a a diversidade do funcionamento como é que a gente consegue manter no laço social e com um tipo de vida aceitável os desviantes os anormais os fora estatística justamente o argumento genético e da seleção natural fala mais a favor ainda de um um repensar profundo das consequências éticas desse tipo de recorte da ação que nos nos imputar uma visão desse tipo a gente pode pensar o campo da Saúde Mental como campo das possibilidades do humano em que as diferenças elas possam ser vistas na sua especificidade é interessante que os que
os sistemas de Diagnóstico operacionais de hoje eles definem o que é disorder mas em nenhum momento eles explicitam Qual é a order a restabelecer é necessário indispensável e é muito bem-vindo um grande progresso nas neurociências mas eu diria mesmo a neurociência mais avançada que ela permita a visão mais Global do funcionamento psíquico humano n essa descrição completa ela ainda é insuficiente para tratar do fato psicopatológico o fato psicopatológico não se resume a uma alteração biológica é uma uma alteração biológica que se instala num sujeito numa rede de linguagem que inclui o seu próprio corpo sua
relação com os outros e que essa ela é dinâmica não são mundos diferentes uma criança muito adaptada na escola pode se beneficiar muito num tratamento medicamentoso desde que a gente não resuma essa criança a uma alteração neurobiológica ou que todas as questões que estão em jogo na escola na política de educação Nas questões da família etc ou nas questões singulares que estão emergindo junto há uma mera disfunção bioquímica a outra coisa a gente tem que voltar digamos a se espantar a se espantar com estatísticas tão maciças de transtornos mentais né a se espantar que uma
proposta de de um aumento ainda mais importante de Diagnósticos de tratamento medicamento como se não fosse nada o que eu gostaria de trazer como mensagem é que nós não podemos e não devemos como sociedade passar um cheque em branco para essa visão de mundo essas questões das neurociências da Saúde Mental são muito sérias pra gente deixar unicamente nas mãos dos neurocientistas e dos psiquiatras é necessário que a sociedade possa em primeiro lugar se interrogar profundamente eu não sou contra a indústria farmacutico não sou contra a medicação não sou contra nada né Eu sou contra você
reduzir esse problema a a algo que se trata com um diagnóstico remédio diagnóstico remédio readaptação e que você perde qualquer escuta de que aquilo possa ser emergência não é o que eu sou contra é essa esse reducionismo biológico explicativo de certa maneira não é um apenas um mal da Indústria Farmacêutica ou dos malvados não sei quem não é é algo completamente dialético porque isso vem porque também tem uma solicitação disso o tempo todo tem um mercado que responde esse tipo de solicitação o s dizia num artigo recente 2013 ele vai dizer assim o problema não
é apenas né que você vende o remédio ou que você faz ou você cria as condições para o remédio ser desejável eu mesmo já trouxe um elemento se você por exemplo não é apenas que você cria um diagnóstico um diagnóstico é também um Label de merchandise né seu filho tem Déficit de Atenção tem transtorno de Déficit de Atenção parae dá outros 1000 nomes né você cria um ambiente é fácil de você criar com um poder econômico grande um ambiente totalmente hostil H esse tipo de recorte do mundo então ele diz assim ele pega uma fala
do presidente aen acho que foi em 1960 e poucos n ele fala do complexo Industrial militar Presidente da República dos Estados Unidos no seu discurso de Adeus tá saindo dos Estados Unidos di assim a gente tem que prestar atenção porque o poder deles é muito grande e não apenas de utilizar a força diretamente mas de criar as mentalidades de criar as idades talvez vocês tenham assistido um documentário dos anos 70 sobre a Guerra do Vietnã chamado corações e mentes é uma reflexão sobre o período que o que o Estados Unidos havia invadido o Vietnã já
tinham começado os movimentos de resistência locais não é e e estava dizendo por que o exército americano tinha que permanecer no vietn então tem diversos depoimentos e um deles é um recorte de uma manifestação do acho que é do lindon Johnson presidente da época que ele faz uma uma ele se dirige a nação americana para explicar porque que os Estados Unidos deveria continuar na guerra ele diz assim a guerra a vitória de uma guerra não se dá com a ocupação dos territórios a gente ganha uma guerra quando Conquista os corações e mentes ora um diagnóstico
de desordem ele ele imputa uma Order ele faz ler o mundo a partir do que a normalidade seria aquela orda não e quando eu mesmo me auto aplico para mim ou pro meu filho o meu filho tem essa desordem por favor Doutor faz pelas vias mais rápidas põe ele em Order ganhou a guerra corações e mentes conquistados com isso quer dizer que o diagnóstico psiquiátrico ele é inválido Não não é inválido quer dizer que é é como uma substância que a gente não pode prescindir dela mas tem que saber usar muito bem hoje né a
gente não consegue dispensar a medicina biomédica não consegue não acho nem que seria justo eu seria burro você tem obrigação de ao mesmo momento que você diz assim tá bom vamos estabelecer uma política de saúde que leve isso em conta tem que ao mesmo tempo Quais são os dispositivos críticos que nós vamos colocar em funcionamento que nos permita ter uma distância para pensar o que que a gente tá fazendo Quando a gente importa como valor nosso simplesmente Esse pacote que vem em torno da ordem implícita na desordem então tem muitos psiquiatras que se preocupam hoje
profundamente de como nós devemos organizar n uma psiquiatria em primeiro lugar que esses interesses econômicos eles possam ser lidados de uma maneira tal que não se coloque em estão eh ou menos possível os riscos dessa dessa proximidade excessiva né segundo se preocupam com um modelo psicopatológico que exclua de cara através de um Álibi biológico qualquer questionamento prático do que que aquele transtorno pode implicar de sociedade de política de economia de questões familiares de questões singulares em terceiro lugar o que que seria então uma outra psiquiatria em relação a essa psiquiatria totalmente ancorada eh nesses valores
eu diria de um recorte eh exclusivamente fisiopatológico do transtorno o que que seria uma uma visão alternativa a isso o que que nós poderíamos propor o que que seria uma uma psiquiatria que voltasse a ser não apenas uma psiquiatria dos dados em que a palavra do outro ela apenas ela é trazida para confirmar ou refutar uma hipótese prévia mas que ela possa novamente permitir que o Clínico se Surpreenda que algo de novo que não estava previsto no meu esquema prévio possa surgir daquela situação singular daquela situação familiar daquela situação social daquela situação de escola uma
psiquiatria Vista com esses olhos não é uma psiquiatria anti biológica peloo é como colocar tanto o diagnóstico como tratamento farmacológico a serviço de uma concepção de um sujeito que não se reduz a uma descrição extensiva biológica da sua natureza qualquer descrição ostensiva de um sujeito é uma forma de violência o vocabulário da psiquiatria hoje faz parte dos nossos diálogos cotidianos mas os termos que definem as doenças não se mostram suficientes para nos definir a série medicalização Fora de Controle vivemos uma epidemia de transtornos mentais você encontra no nosso site visite a página da CPFL Cultura
no Facebook tchau é claro uma criança que tá com dificuldade de acompanhar um curso que tá apresentando uma inquietação muito Evidente aquilo é um problema é a degeneração da espécie que a gente tá vivendo quase né a normalidade tá sendo extinta essa nossa ânsia de simplesmente olha vamos tratá-la porque se nós vamos des adaptar isso deveria pelo menos fazer refletir [Música]
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