A Colonização do Brasil

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Impérios AD
Quem nunca ouviu falar que o Brasil foi colonizado por bandidos da pior espécie expulsos de Portugal...
Video Transcript:
Salve meus cavaleiros, Thiago aqui sejam muito bem-vindos ao Impérios AD. Ahhhh, o povo brasileiro: povo único no mundo, descendentes de ladrões, assassinos, matadores, criminosos, bandidos perversos, estupradores, incapazes, burros, ignorantes e desprezíveis banidos de Portugal e vomitados aqui; e por isso o brasileiro tem total liberdade pra jogar as suas falhas e frustrações nos seus antepassados europeus, que deixaram um legado tão medíocre, e que o povo nada mais é que descendente dos seres mais vis e iníquos que já pisaram nesta terra. Se alguém acredita que os antepassados dele eram pessoas com tantas qualidades assim, tudo bem, não sei por que você se incomodaria com isso!
Mas você não precisa achar que os SEUS antepassados eram assim também: e você vai ver que a prova disso está na combinação 4 fatores: matemática, ciência, língua portuguesa e história. E entender de verdade quem foram os nossos antepassados é muito importante, porque estudos científicos dizem que o DNA da população brasileira é mais de 70% europeu, e que a cor da pele é só uma pequena parcela desse complexo DNA que herdamos. Então, para tantos brasileiros, conhecer a história dos seus antepassados e como e porque eles chegaram aqui, importa sim, e muito.
Brasil século XVI, o sol brilha, os pintinhos piam, os indiozinhos brincam no mato: “Toc Toc" quem é? Os degredados! Você já deve ter ouvido falar demais dessa palavra feia, né?
E mesmo que você não tenha a menor ideia do que ela significa, bem no fundo você já sabe que coisa boa ela não é. Aliás, a própria definição do dicionário já assusta: “aquele que sofreu pena de degredo, desterrado, banido, exilado! ” E pra uma pessoa ser degredada, desterrada, banida ou exilada para outro lugar, e nesse caso, o nosso Brasil, ela com certeza fez coisas terríveis /e abomináveis, certo?
” “hummm. . .
nem sempre! ” E pra entender isso melhor, vamos a Portugal porque no ano de 1536 estava prestes a acontecer algo que mudaria o futuro do Brasil, ou não. .
. Tribunal do Santo Ofício, Inquisição Portuguesa. .
. não importa; o que importa é que graças a isso a colonização do Brasil teria um empurrãozinho. De todos os crimes passíveis de degredo, nenhum era mais condenável do que ser cristão-novo, ou seja, judeu recém-convertido, mas que no fundo era judeu e fazia coisas de judeus.
Eles representavam mais de 50% de todos os criminosos enviados ao Brasil pelo santo ofício; não, você não ouviu errado, judeus eram criminosos para a coroa portuguesa e mereciam a punição mais severa possível: exílio para viver no Brasil. Mas se a situação dos judeus e dos outros pecadores está ruim, não tema, ela ia ficar muito pior. Porque em 1578 Rei D.
Sebastião morre em batalha e sem um herdeiro em 1580 surge a terrível. . .
“Toc Toc, Quem é? A União ibérica! ” Agora, Portugal e Espanha teriam o mesmo rei: Felipe II.
E se os reis portugueses já eram católicos neuróticos ao extremo, Felipe II era 2x mais! Em 1595 ele cria as Ordenações Filipinas, e no livro V ele expande o código de leis e que daria a Inquisição um poder inimaginável! Então se você pecasse.
. . Poucos crimes eram condenados a morte, e iam a maioria para o exílio.
E a lista de crimes para o degredo não para: escrivão que não colocasse o selo real na carta, falsificadores, fornicar com primas ou irmãs, cafetões, fazer desafios, perturbar procissões, trancar uma porta por fora com gente dentro, xingar um oficial de justiça, fingir gravidez, molhar o pão antes de vender pra ficar mais pesado, ajudar escravos a fugir, brigar na rua, ser vagabundo, cortar árvores do rio Tejo, vender armas pros mouros, jogar cartas falsificadas, passear com gados. . .
todos que cometessem esses terríveis “crimes” seriam exilados. Esse sistema inacreditável de crimes fez até o profesoor e escritor Barão Homem de Melo comentar: Mas de todos esses crimes, nenhum era mais desprezível do que ser judeu. Por isso a partir de 1536, o Brasil seria a nova casa para milhares dos judeus sefarditas.
E como você já deve imaginar, nada irritava mais os governadores e padres católicos do que os pobres e sofridos judeus sefarditas. Por exemplo, o padre Manuel da Nóbrega escreveu em 1556: Então, aí estão as provas que o Brasil foi colonizado por degredados vis e perversos da pior espécie, certo? !
Hum. . .
errado! E a matemática vai ajudar a gente a colocar essas palavras dentro do contexto da época: Os estudos mais completos das listas dos autos-da-Fé do Conselho Geral do Santo Ofício e dos tribunais seculares portugueses dos séculos XVI ao XVIII foram feitos por dois historiadores, nos acervos da Torre do Tombo em Lisboa: o americano Timothy Coates e o brasileiro Geraldo Pieroni que deixaram grandes legados no estudo dos tribunais inquisitoriais e no processo de degredo para as colônias ultra-marinas. Pesquisando os documentos disponíveis na Torre do Tombo em Lisboa eles nos deixam um estudo claro sobre os números desses degredados e do impacto deles na colonização brasileira.
Metade deles eram criminosos condenados por judaísmo e não eram enviados só para o Brasil, eram enviados para outras colônias, diminuindo ainda mais o número de condenados que vinham para o Brasil. Já o consagrado historiador americano Coates apresenta resultados semelhantes ao de Pieroni, mas com um estudo ainda mais colossal: na sua obra A Evolução do Atlântico Português e Convicto e Orfãos ele registra que 42. 500 pessoas sofreram degredo tanto para o interior de Portugal quanto para fora; Mas segundo Pieroni, desses 42.
500, apenas 17. 000 mil pessoas passaram pelo sistema de degredo colonial entre 1550 a 1720, o que dá uma média de apenas 100 degredados por ano para TODO o Império Português: Então cruzando e comparando os dois estudos nós chegamos a um resultado muito interessante e revelador: Em uma hipótese exagerada de o Brasil receber sozinho 50% de todos esses degredados e criminosos, isso daria 50 degredados por ano para o Brasil; então se multiplicarmos por 170 anos chegamos ao total de 8. 500 degredados em 170 anos.
E segundo os próprios Coates e Pieroni metade desses números eram judeus, número confirmado pelos historiadores Paolo Bernardini e Norman Fiering. Nesse caso, em 170 anos teriam chegado ao Brasil cerca de 4. 250 criminosos civis, representando um recebimento de 25 criminosos por ano; Numa população que em 1600 estava na faixa de 10-30 mil brancos, 25 criminosos num ano não parece ser um número muito impressionante, né?
! E nas décadas seguintes, como apontam os estudos conjuntos de Coats, Geraldo Pieroni e a historiadora Janaína Amado a proporção de degredados vs população fica ainda menor: de 1755 a 1822 Portugal teria enviado de 17,000-25,000 degredados para todas as colônias. E mesmo na hipótese do Brasil receber sozinho todos esses condenados, pra uma população de 3,5 a 4 milhões de habitantes, os criminosos degredados seriam impressionantes.
. . 0,8% da população só.
E se esse grupinho conseguisse colonizar o Brasil todo, meus irmãos e irmãs, eles tinham que ganhar o prêmio Nobel da Mitagem! Então analisando esses estudos e os números disponíveis, chegamos à uma conclusão muito clara: os degredados criminosos constituíram uma parcela muito pequena em todo o processo de colonização brasileira: eles chegaram em maior número na última metade do século XVI, mas à partir do século XVII, XVIII e início do século XIX, a proporção de degredados na população brasileira era ínfima se comparar os dois números. E por isso mesmo dizer que o Brasil foi entregue a degredados ou que eles mesmos fizeram parte da maior força colonizadora do país.
É no mínimo injusto, desonesto e incoerente. Além disso, no meio desses criminosos, veio um outro povo, sofrido e perseguido pela Inquisição, e que esses sim, fizeram e tiveram uma contribuição muito importante na colonização do Brasil: os judeus sefarditas. Com todas esses evidências fica claro que o Brasil não foi colonizado por degredados criminosos que foram expulsos de Portugal, e que por isso mesmo, eles não foram os ancestrais definitivos dos brasileiros e muito menos as mentes que construíram esse país: como o próprio historiador Geraldo Pieroni diz: e que muitas descrições que fazem “são mais literárias do que históricas.
” Os brasileiros, independentemente da cor, receberam um legado europeu que está no próprio sangue: são filhos de europeus, netos, bisnetos, tataranetos, falam o Português, mais de 80% do povo brasileiro é cristão, quase 80% do DNA brasileiro é europeu. E é isso aí, só, essa é a nossa história!
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