Bem vindos ao nosso canal no youtube com Falando Nisso de hoje e a pergunta de Débora Lázaro "o que é, afinal, a histeria e como ela se manifesta no nosso tempo?" histeria é um grande paradigma né diagnóstico para a psicanálise no fundo foi uma forma de sofrimento que o Freud investigou pra descobrir uma série de coisas, de visão do sujeito, inconsciente, a determinação simbólica dos sintomas, a importância da memória, a importância de experiências infantis, a importância do trauma, mas se a gente olha no Freud essa categoria é um pouco inflacionada né, os primeiros textos que
ele chama de histeria compreenderiam o que hoje a gente chama assim de paranóia compreenderia uma partida da neurose obsessiva, compreenderia uma série de outros quadros, já na década de 60 uma psicanalísta chamada Elisabeth Zetzel mostrou que a histeria no fundo já estava se tornando deconfortável para os psicanalistas enquanto entidade diagnóstica, ela dizia no fundo a gente tem quatro subtipos da histeria um subtipo depressivo, um subtipo que está ligado à aos sofrimentos corporais né então com muitas somatizações, conversões, dores, anestesias problemática ligada ao corpo, outra ligado então a depressão, outra ligada a infantilização né, as personalidades
muito dóceis, muitos subservientes, e outra quarto subtipo seria as histerias ligadas ao que antes chamava de loucura histérica né que são quadros assim de insubordinação, de confronto com a lei, de insurreição e que tinham um destino muito trágico se é que hoje tem um outro lugar social, como ela se manifesta então nosso tempo? então falei do Freud, falei dos anos 60 e hoje, hoje a histeria ela foi excluída do manual diagnóstico estatístico DSM-5 né isso aconteceu há principalmente a partir de 1973 né com a fragmentação do que chamava de histeria em inúmeros outros quadros menores
né, então depressão, transtornos somatoformes como fibromialgia com dores crônicas, síndrome do pânico né os ataques de pânico elas tem uma relação com que o Freud chamava de neurose de angústia que era um quadro associado com a histeria, os transtornos factícios que são aqueles tipo munchausen a mãe que precisa ter um filho que está doente, que permanece doente, que cria doenças no filho que inclusive simula doenças em si e no filho, síndrome de munchausen por procuração ou em si mesmo na sua forma mais simples, a personalidade histriônica ou pessoa que está teatralizando, que que precisa chamar
a atenção o tempo todo, que é hiper afetavel, extremamente sensível né os transtornos dissociativos aqueles em quem que há perda brutal de memória ou de uma parte da lembrança, esquecimento de infância ou de um período inteiro dá na vida da pessoa, transtornos do pânico, transtornos de alimentação como anorexia, como a bulimia, transtornos narcisicos, personalidade borderline todos esses quadros eles poderiam então ser descritos 50/100 anos atrás como como quadros histéricos, uma coisa que fique clara a histeria acontece igualmente em homens e em mulheres, se há uma diferença é uma diferença responsiva a fatores assim culturais, organização
da família, organização do poder, o tipo de identificação prevalente, economia gozo, tudo isso que se transforma com o tempo mas hoje a gente poderia perguntar assim mas então para que serve a gente falar em histeria? já que são tantos outros quadros mais simples que a gente pode então ver e são visíveis e etc, justamente por isso, uma um fator importantíssimo na histeria é que ele é um quadro que faz a gente pensar na génese dos sintomas no ordenamento dos sintomas, porque que as coisas acontecem assim e não só que elas acontecem com presença num determinado
sujeito, porque há um problema de sono depois um problema de alimentação daí uma depressão daí a angústia daí uma conversão né, porque isso acontece numa determinada ordem porque isso acontece num determinado contexto, porque isso tem que ver com a forma como a gente fala de nós mesmos e não simplesmente são comportamentos objectivaveis né como uma doença propriamente dita ou seja a histeria diz respeito a toda uma lógica de como pensar o sujeito a partir dessa hipóteses que é a sua divisão e a presença do inconsciente, a histeria serve pra que? serve pra gente extorcizar o
nosso sofrimento, serve pra gente não subordinar o nosso sofrimento á uma determinação que da qual estaríamos vamos dizer assim desresponsabilizados, serve para a gente entender os laços sociais e porque o sofrimento se da na relação com o outro e não na química mental ou no caldeirão de representações desempenho individualizado que caracteriza justamente a nossa época né, a nossa época quer que você sofra assim, como um problema que diz respeito a você, o seu interior sua vida íntima e só assunto seu não caia nesse truque, todas essas formas de sofrimento elas podem ser redescritas com um
retorno crítico ao conceito psicanalítico de histeria. Se você tem interesse de aprofundar essa matéria histeria hoje eu vou recomendar esse trabalho organizado pelo Pedro Ambar e Nelson Silva Jr na qual tem um capítulo chama-se "Histeria e Gênero: o sexo como um desencontro" então vai falar de como a histeria ela se reformula completamente quando a gente tem uma outra relação de gênero quando a gente tem uma outra relação ao corpo, quando muda o papel social da mulher, quando a nossa relação com o desejo com o gozo, com a angústia se reformula nas nossas novas formas de
vida, da editora nVersos recomendo. Para receber então falando nisto toda quarta e domingo inscreva-se no nosso canal peace.