Queria começar, né, enfim, além de agradecer a presença de todos e todos vocês, queria reforçar aqui os agradecimentos, né, professora Marisa ao Ideia, né, nosso parceiro. Cadê o Luiz? Luiz, obrigado mais uma vez, né, pela parceria, né, por esse evento tão importante que vocês estão eh permitindo, né, que seja realizado. Agradecer também a reitoria da UnBA FINATEC. E claro, agradecer imensamente as nossas palestrantes de hoje, nossas conferencistas de hoje, eh, pela pela presen pelo aceite ao convite, né, pela presença aqui na mesa. essa mesa que eu queria comentar rapidamente, né, eh ela tem uma relevância
muito grande do ponto de vista das questões que a gente tá se propondo a olhar aqui no evento, porque não tem como a gente pensar em qualquer possibilidade, né, de imaginar futuros possíveis paraa democracia sem pensar o papel do ativismo, né? a gente, a gente vai falar de instituições hoje, a gente vai falar de inovações institucionais, claro, mas eu queria eh pontuar, né, que eu acho que talvez essa mesa dando sequência, né, ao que a a a mesa, a última mesa de ontem, né, Marisa, principalmente, digamos assim, né, a partir das falas da Helen e
do Ricardo, ela reforça esse papel do ativismo, né, na na nas possibilidades da gente imaginar um mundo diferente, né, e uma democracia mais aprofundada, mais substantiva do que a gente tem hoje. Então eu vou colocar aqui rapidamente, né, a as questões, né, disparadoras, né, seguindo aqui o modelo do evento. Depois eu vou passar a palavra pra ministra Sônia em primeiro lugar, depois paraa Viviana e depois paraa Leila, né, cada uma vai ter 10 minutos para responder essa primeira rodada. Eh, depois a palavra volta para mim, eu faço a segunda rodada de pergunta, né, e a
gente segue a mesma ordem, tudo bem? Eh, bom, começando então, né, para essa primeira rodada aqui que a gente colocou como tópico inovações institucionais e a superação das desigualdades estruturais. A professora Marisa comentava, inclusive, ministra, que o Ministério dos Povos Indígenas, ele é certamente uma das inovações mais importantes do ponto de vista da luta pela democracia, né, do ponto de vista da construção democrática, não só no Brasil, mas provavelmente no sul global como um todo, né? Então, muito pensando nisso, inclusive, né, que a gente fez esse convite, eh, porque a gente entende que o papel
do MPI é fundamental pra gente fazer o debate aqui proposto. E eu queria colocar paraas nossas palestrantes, né, as democracias do sul global são profundamente marcadas por um legado histórico de exclusão que se manifesta na desigualdade social e racial, na violência de gênero e na profunda desproteção dos direitos territoriais. Diante desse quadro, a inclusão democrática exige não apenas ampliação da participação, mas sobretudo inovações institucionais capazes de promover a reparação e a e a reversão de desigualdades estruturais de forma perene. Portanto, gostaria de começar perguntando a vocês quais são os exemplos mais mais promissores na América
Latina ou no Sul Global de inovações institucionais, entre parênteses, mecanismos estatais, arranjos de governança ou políticas públicas. fecha parênteses que demonstraram ser efetivos na luta por inclusão e contra as desigualdades estruturais. Em outras palavras, olhando para o futuro da democracia, quais são os modelos, as arquiteturas institucionais e as políticas ativas de reparação que têm potencial de serem replicados, expandidos para garantir o direito à vida, à autonomia e a representação de grupos historicamente marginalizados, como mulheres, população negra, povos indígenas, dentre outros. Eu queria só, eu acabei esquecendo de falar o nome do painel, né? o nome
da dessa mesa, né, que é essa que é o nosso terceiro painel, que é desigualdades e os desafios da inclusão democrática. Considerando isso, então, passo a palavra paraa ministra Sônia Guajajara. Eh, eu te aviso quando der 8 minutos, tá? Só para ter uma uma base. Obrigado mais uma vez pela presença, ministra. Olá, bom dia. Ah, agradeço aqui, né, a universidade e e a vocês pela presença, né, ao Ideia e ao Instituto pelo convite, né? cumprimentar aqui o professor Thago, Viviana, a Leila, né, minha amiga, parceira aí de longas datas também no movimento e e sempre
considero muito oportuno, né, quando a gente vem fazer esse debate sobre democracia, fortalecimento da democracia e sobretudo nesse momento que a gente vive de tantos ataques a às democracias no mundo, né? Então, acho que qualquer momento que a gente tem oportunidade de promover esse debate, trazer as reflexões de fato que é democracia, é importante, né? Acho que fortalece muito não só a pauta, mas inclusive essa luta por participação e inclusão, né? Bom, então, eh, para mim é sempre uma honra e uma alegria falar também na universidade pública, essa instituição que tão importante para o livre
pensamento, para a produção de conhecimento e para o avanço de uma sociedade. Eu vou seguir aqui um roteirinho, professor, porque como tem tempo ali, eu não sou muito disciplinada, né, para falar, então a gente toma cuidado para ter ali um guia e a gente poder cumprir, né? E fazer essa discussão aqui sobre democracia é um tema até que se confunde com a minha própria história, né, com a minha própria vida, com a minha própria trajetória. Eu sou uma mulher indígena. e nordestina. Então, só hoje, se hoje eu sou ministra de Estado, é porque a minha
trajetória e o meu esforço se encontrou com alguma, né, ou algumas políticas de inclusão democrática e de combate às desigualdades, né? Acho que a gente vive num mundo que a gente não pode falar da meritocracia, né? a gente tem que falar de oportunidade principalmente, né? E eu digo isso porque é muito importante a gente olhar com desconfiança para esses discursos tão disseminados na sociedade que pregam que basta se esforçar para que você alcance bons posicionamentos profissionais. Houve momentos em que eu ia para a escola a pé e com sono, porque já trabalhava em casa de
família desde os 12 anos de idade para poder ter um lugar para ficar e poder estudar, né? Enquanto outros estudantes da mesma idade que eu iam de carro e com o sono em dia, o aprendizado acaba sendo muito desigual. Eu acredito que as políticas afirmativas são excelentes políticas de reparação, de alta eficácia para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Além disso, não podemos deixar de sonhar e de imaginar alternativas democráticas que enfrentem desigualdades estruturais e reconheçam a pluralidade social. Um estudante indígena que sai de sua aldeia para fazer faculdade, só consegue terminar o curso
se houver todo um apoio social que lhe permita, que ele que lhe permita se empregar, pagar seu aluguel, comprar seus livros, pagar o transporte público, ter alimentação subsidiada nos restaurantes da universidade. Sem isso, indígenas, quilombolas, favelados vão ficando pelo caminho, vão para o subemprego e a sequência disso todos nós sabemos. Quando eu falo em políticas afirmativas, não tô falando apenas de cotas ou Bolsa Família. Estou falando em novos arranjos institucionais que favorecem ativamente o fortalecimento democrático. Na semana passada, por exemplo, nós anunciamos a primeira universidade indígena, uma universidade federal, né, que é a primeira do
Brasil. Isso também é política afirmativa. E olha só, né, quanto tempo levou para que a gente pudesse estar agora falando da construção, da implantação da universidade, de uma universidade indígena. E ainda assim temos que passar por essa barreira tão grande que a gente enfrenta hoje, que é a provação no Congresso Nacional. A universidade terá os povos indígenas como protagonistas na sua gestão administrativa e pedagógica e servirá a toda a sociedade brasileira como espaço de produção do saber plural, inclusivo, consciente e conectado aos desafios contemporâneos, né? E aí, isso também para já ir esclarecendo que é
uma universidade que vai receber também pessoas, né, estudantes não indígenas, porque quando fala universidade indígena, todo mundo já vem à cabeça, ah, é uma universidade específica para indígenas, né? E não é a ideia exatamente promover essa interação, né, e essa inclusão, né, para que haja essa troca de conhecimentos. Uma universidade gerida e liderada pelos povos indígenas vem combater o apagamento da memória, revitalizar as línguas e reconhecer o valor das medicinas, filosofias e ecologias indígenas, validando e valorizando os nossos saberes. Essa universidade é fruto do sonho coletivo por um futuro mais democrático e só foi possível,
não tenham dúvidas, porque foi criado o Ministério dos Povos Indígenas, o que permitiu que pudéssemos estar dentro do governo articulando políticas avançadas de inclusão social. Então, quando você fala, professor Thago, né, que o Ministério dos Povos Indígenas é considerado um dos maiores ganhos para fortalecer a democracia no sul global, né, a gente tem um pleno acordo, porque nós temos hoje, né, a as pautas tratadas no Ministério dos Povos Indígenas, pautas fundamentais para a garantia do futuro. A gente traz no nosso dia a dia as discussões sobre direitos humanos, a proteção da biodiversidade, a pauta ambiental,
a pauta climática e a própria a própria cultura, né? Então, o Ministério dos Povos Indígenas pode ser considerado para além de um ministério internacional, um ministério do futuro, porque as pautas que a gente defende e que a gente traz ali, né, na nossa em todo o nosso conjunto de atribuições são pautas centrais, né, da atualidade para a garantia, né, do futuro da humanidade. Inclusive, quando a gente traz a maior delegação indígena paraa COP 30, como aconteceu agora em Belém, a gente também muda o rumo, né, do conceito de soluções para enfrentar as mudanças climáticas. Até
então a gente só via, as indústrias apresentando soluções para enfrentar a crise climática durante todas as 29 conferências que já aconteceram, né, as 29 edições, imagine só. E agora quando a gente começou a brigar por participação, maior participação indígena, quilombola, comunidades tradicionais, né, a gente via muita gente, ah, mas para que tanta vaga, para que tanta gente, né? Não, né? O ministério tem vaga igual todos os outros. E aí, nesse momento, né, cabe muita gente dizer, não, o ministério é praticamente o dono da pauta, né? a gente tá paritário ali com o Ministério do Meio
Ambiente, não dá para discutir, né, política climática, política ambiental, sem trazer os povos indígenas juntos para trazer suas contribuições, né? E a gente já diz isso, a Milênios, a a, né, faz essa alerta de que as mudanças climáticas iriam ser um problema no futuro. Esse futuro já chegou, né? Nós já, muitos de nós aqui já estamos no futuro. A gente disse lá atrás, né? Queremos garantir o nosso futuro, queremos, né? Agora, hoje a gente briga também pelo nosso presente para que a gente possa continuar aqui, né? E aí pensam o futuro para as próximas gerações.
Então, certamente, né, que o Ministério dos Povos Indígenas traz hoje, além dessa responsabilidade de construir política pública para povos indígenas, né, a política indígena, porque a gente afirma também que não é mais uma política indigenista, é uma política indígena, porque não é mais pensada, elaborada, executada. por indigenistas, né, por pessoas que apoiam, por pessoas parceiras. Hoje nós temos oportunidade de ter indígenas no Congresso Nacional elaborando leis, no executivo executando leis, né, ou aprimorando a política já existente. Então, a gente sai sim com a criação do Ministério dos Povos Indígenas de uma política indigenista de estado
para uma política indígena. Então, a gente tá num momento de transição, considerando que são apenas três aninhos, né, que a gente tem já de viido o Ministério dos Povos Indígena. Então gente, né, é importante que todo mundo entenda essa importância do da criação do Ministério dos Povos Indígenas, embora que tardiu, o próprio presidente Lula disse, no dia que ele me convidou, né, ele falou o Ministério dos Povos Indígenas deveria ter sido o primeiro ministério por se tratar de povos originários, né? Devia ter sido o primeiro ministério, mas agora, embora que tarde, mas eu faço questão
de criar esse ministério e que ele nunca mais se acabe. Então, realmente, né, é uma missão e eu acho que é um eh é uma responsabilidade de todo mundo fazer essa defesa, porque a gente sabe que ataques e tentativa de acabar com esse ministério não são poucas, né? Bom, gente, então acho que, né, concluo aqui, não sei nem se você falou 8 minutos faz hora, eu nem vi, mas é um pouco pra gente falar, né, dessa luta por inclusão, por participação como forma de combater as desigualdades, né? E aí são as desigualdades sociais, culturais, como
uma forma também de não entender nunca que há culturas maiores ou culturas menores, né, culturas inferiores que as outras. a gente tem culturas diferentes e isso precisa ser compreendido também como uma forma de fortalecer as democracias. >> Excelente ministra, muito obrigado pela fala. Eu não não avisei do tempo. Eu não não tive coragem de de cortar, até porque acho que foi um enorme aprendizado para todo mundo. Vou passar agora então pra Viviana Santiago, diretora executiva da Oxfan Brasil. Pode pegar esse aqui e botãozinho aqui embaixo, ó. Isso. >> Oi, minha gente. Bom dia. Eu sou
Viviana Santiago. Eu sempre gosto de me apresentar como negra, como mulher, como nordestina, como professora e como mãe, como mãe solo de um cara negro que tem 20 anos, né? Tem um estudo do UNICEF que diz que um jovem negro de 25 anos já pode ser considerado um sobrevivente em Salvador. Eu quero que meu filho viva mais. E democracia é sobre isso, né? Um estado democrático de direito é aquele que garante expectativa de vida para todo mundo, né? Eu me recuso e é por isso também que eu tô aqui. Mas eu também sou juremeira, sou
de ifá, sou de religião de matriz africana e a gente diz que tempo é orixá. Então tô botando meu cronômetro aqui porque se a gente serve bem a tempo, tempo deixa a gente fazer aquilo que a gente deve fazer, né? E eu penso, né, que esse convite para pensar, né, inovação democrática, inovação no sentido que garanta o fortalecimento da democracia é uma coisa que para mim, né, enquanto uma mulher negra nordestina, né, de religião de matriz africana, sou juremeira, sou de ifá, né, e liderança numa organização, né, de produção de conhecimento, de incidência política. Isso
não se faz sem a gente olhar pro passado, né? Quando a gente diz assim que o futuro é ancestral, isso quer dizer que aquilo que vai garantir pra gente chegar mais longe é aquilo que a gente não conseguiu pegar de bom que estava lá atrás. E isso é sancofa, né? Sancofa é uma representação, é uma díncra, né? Que todo mundo conhece porque ficou tatuada, ficou cool, né? Que parece um passarinho, né? que ele tem os pés virados pra frente e a cabeça para trás. E essa sancofa, eh, a sancofa é uma dincra que representa um
provérbio que diz que não tem um problema voltar ao passado e recuperar o que de bom lá ficou. Então, eu começo desse lugar, né, e indo ao encontro do que a ministra colocou. É incontornável pensar o futuro sem pensar povos originários, sem pensar as experiências de Abiaala que estavam aqui configuradas e que não foram consideradas no nosso projeto de nação, no nosso projeto de estado. E aí eu falo então para vocês de um lugar de uma matriz decolonial. O que eu proponho é que a gente possa entender que esse mundo que a gente vive, ele
só é um dos tantos mundos possíveis, que aquilo que a gente chama de modernidade foi um fenômeno bem pequenininho que aconteceu no nesse tamanhinho da Europa, mas que por força de um capitalismo nascente, de um processo de dominação, ele foi imposto ao mundo inteiro. Isso que a gente entende como moderno, pós-moderno. Isso é um pensamento que foi imposto, porque a modernidade ela nem aconteceu na Europa inteira, foi num negocinho desse tamanho na Europa. Agora teve possibilidade, via dominação, de se impor ao mundo inteiro. E se não fosse isso, seria o quê, né? Essa é a
pergunta que eu acho que a gente devia sempre se fazer. Quando a gente pensa pro onde a gente tá hoje, no presente e pro futuro que a gente quer, a gente tem que pensar no que nos trouxe até aqui. O que nos trouxe até aqui foi esse invento colonial, foi a foi a invenção do outro, né? Com o pensamento eh decolonial disse pra gente, a gente inventou um outro. O processo de invasão das Américas, ele vai dizer assim: "Oxe, gente, o que é isso, né? Isso é bicho, isso é gente, é um monstro." E aí
olha pros povos originários e diz assim: "Não sou eu, eu invento esse outro e eu o domino." Também foi naquele momento que se deu o processo de racialização do trabalho. Ali foi o momento na história em que o trabalho foi racializado. Também foi um trabalho gendrificado para fins de exploração de um capitalismo nascente. Veja como tudo começou num processo de dominação. Então, não é possível que seja isso que vai levar a gente adiante. Mas leva, porque a colonização em alguma medida, a gente entende como tendo se acabado, mas a colonialidade ela não acabou, ela está
aqui, ela se repete, né, a partir da colonialidade do sujeito, da colonialidade do saber e da colonialidade do poder. O que a gente vive hoje no mundo e eu acho que a crise climática, a emergência climática nos mostra é um modo de dominação na sociedade que é o mesmo desde que a gente teve a invasão dos territórios. E aí esse processo não é o processo que vai nos levar adiante. A gente precisa olhar para trás e recuperar cosmologias, recuperar visões de mundo, de sociedade, do outro que não estejam articuladas com esse projeto de poder. Então,
para mim é profundamente decolonial e é profundamente necessário que quando a gente pense em inovação, a gente pense a partir de uma matriz outra, a gente pense um projeto outro. E aí, como Audre Lord diz, as ferramentas do mestre não vão desmantelar a Casa Grande. Então, não vão ser, né, essas fórmulas das empresas lobistas que estão ali, né, na COP passada foram 1373 lobistas. É a maior delegação, não tem nenhuma delegação desse tamanho. 1373 lobistas. a gente lançou um estudo esse ano na Oxfan, eh, que fala sobre isso, né, sobre esse, esse colonialismo verde, né?
E aí quando a gente pensa no tamanho dessa delegação, a gente também tá pensando num projeto de poder, num projeto de sociedade, que é o projeto de sociedade que remonta a essa invasão, remonta a uma visão de mundo que continua sendo atualizada. E também significa a gente se debruçar sobre a estrutura democrática que existe no presente, pensando essa estrutura democrática como reprodutora dessa colonialidade. Porque quando a gente tem o processo, né, de liberação desses países, né, que estavam ali colonizados, quem foi que participou desse processo, exceto Haiti, foram todas as elites locais que estavam profundamente
alinhadas com os ideais colonizadores. Então, é por isso que a gente liberta sem libertar. É por isso que a gente consegue fazer independência sem libertar os escravizados, sem mudar substancialmente a situação das mulheres, dos povos indígenas, porque existe aí um projeto de libertação que é profundamente alinhado com os ideais de colonização. E aí eu trago essa provocação para pensar democracia. Eu tenho um abuso que nem a gente ir lá em Recife. Eu voltei do final de semana em Recife, então eu fui lá retocar a Melanina e o sutaque. Então eu tenho um abuso quando as
pessoas dizem: "Eu tenho ideais profundamente republicanos". Aí eu digo: "É mesmo?" E a república incluiu a gente negro? Onde é que estavam os negros na república? A república incluiu os povos indígenas. Melhoreem, né? É isso que a gente tem que se debruçar. Essas elites que trouxeram o processo de emancipação e que hoje no Brasil estão aí discutindo democracia, porque quem é que tinha tempo, né, de discutir democracia, continuam profundamente alinhado com projetos de sociedade que não incluem mulheres, não incluem povos indígenas, não incluem população negra. Então, para mim é fundamental a gente disputar esse conceito
de democracia. Uma democracia que permite um jovem negro de 25 anos ser considerado um sobrevivente tá falhando miseravelmente. Uma democracia em que uma mãe negra precisa dizer pro seu filho, olha onde onde as pessoas possam ver suas mãos. Não toquem nada nesse supermercado. Peça a nota fiscal de tudo. Essas experiências de educar filhos num país democrático, elas não deveriam ser possíveis. E elas só são possíveis, porque quem pensou democracia do começo até aqui não sabia que era isso que a gente estava vivendo. Não sabia não. Não se importava. Assim como quem inventou a república. Então
a gente precisa entender que o nosso desafio passa por Sancofa, passa por a gente olhar para trás e ver o que de bom lá ficou. pensar a cosmovisão indígena, pensa a cosmovisão dos povos africanos, pensar como todas as vezes em que esse país, por exemplo, poôde ter espaços em que essa população ela pode contribuir, como nas nossas experiências de conferências públicas nacionais, conferência nacional de educação, os mecanismos de conferências são uma evidência de que é possível, porque a gente tem ali todos os saberes sendo recolhidos. Quando a gente pensa os conselhos e esses conselhos conseguem
garantir a representação, isso é sancofa. Quando a gente pensa a experiência das conferências plurinacionais, por exemplo, que a gente tem na Bolívia, em que os povos indígenas eles são considerados e ali a gente tem estados plurinacionais que reconhecem as nações indígenas como sujeitos políticos. E a gente tem política de um país que considera todas as vivências ali dentro. Quando a gente tem, por exemplo, em África do Sul e Uganda, um orçamento que é um orçamento de gênero, todo orçamento ele é um orçamento gender responsive. Isso é olhar para trás, é perceber que essas mulheres que
foram deixadas para trás, elas não serão mais deixadas para trás. Como a ministra colocou, pensar políticas afirmativas, intencionar, isso é olhar para trás e perceber o que de bom lá ficou. O nosso desafio é entender que aquilo que nos trouxe até aqui não vai nos levar muito longe. É perceber que nunca foi eh Odre Lord, ela diz assim: "It was never meant to us to survive. Nunca foi pensado que a gente ia sobreviver, mas sobrevivemos e estamos aqui. Então é tempo de considerar inclusive essa capacidade de sobrevivência como valor. E não há futuro sem volta
ao passado, porque o futuro da democracia é ancestral. Obrigada. Excelente, Viviana. Muito obrigado. Agora, então, eu passo a palavra para Leila Saraiva, pra doutora Leila Saraiva finalizar essa essa primeira rodada. Leila Saraiva, que é doutor em antropologia pela UnB ativista do movimento Passe Livre aqui no DF. >> Vou sofrer agora, né, rapidão. Desculpa, né? Depois dessa eloquência da Soninha aí, né, Viviana? Eu já tô aqui. Nossa, vamos lá, vou tentar. Eh, bem, mas eu acho, Thiago, quando, né, a gente pensando nessas perguntas que você fala, acho que eh inovação institucional, eu eu fui sentindo, acho
que algo muito parecido com o que deve ter evocado na Viviana, essa ideia de calma aí, inovação, né? Eh, democracia também, né? uma pergunta que isso e eu acho que seguindo a a sua mesma toada, Viviana, acho que a gente pra gente pensar em democracia, inovação, eh futuro, a gente precisa pensar em reparação, né? Eh, e e talvez, né, como também a Soninha falou, são dessas políticas de reparação que podem vir eh outros futuros possíveis, né, olhando pro passado, reconhecendo onde que a gente vem. Eh, e eu acho que uma das coisas que a gente
talvez seja, né, uma unidade básica do sentido da reparação, seja a ideia de território e e que talvez e e aí quando a gente começa a pensar o que que a gente precisa, o que que a gente pode fazer para pensar um futuro, para pensar uma democracia, para pensar uma solução eh para essas policrises que a gente vive, incluindo a crise climática aqui, é que é a gente saber que essas soluções eh as essas inovações, elas vão vi dos territórios e os territórios entendido aqui num sentido amplo, né, como movimentos, como comunidades, como territórios indígenas,
quilombolas. Mas eu também queria fazer a talvez a provocação que a gente pensasse junto que é e a cidade, a cidade pode ser um território, né? Que eu acho que essa é a provocação que o movimento Passe Livre faz, né? pode a cidade ser um território e, né, se a gente tá pensando que a reparação é fundamental para pensar a inovação, para pensar futuro da democracia e que o território é essa unidade da reparação, acho que a pergunta que a gente fica, tem que pensar, né, nesse contexto e óbvio, a cidade também é uma estrutura
colonial, né, ela também se organiza a partir de toda essa história horrorosa que nos levou até onde a gente tá, mas ao mesmo tempo Como a gente pode fazer dessa estrutura, se é que pode, um território, um lugar em que um jovem negro não precisa ser um sobrevivente com 25 anos, né? Então, em que os povos indígenas possam circular, em que, por que não, e eu acho que isso é importante de lembrar dessa categoria, os trabalhadores e trabalhadoras que fazem a cidade acontecer, que fazem ela existir, sejam de fato as pessoas que tomem as decisões
sobre os rumos da cidade, né? Eu tô falando aqui eh como militante do movimento Passe Livre e eu acho que essa é a provocação que a gente faz desde sempre, desde 2004, quando a gente começou a se organizar, a provocação que a gente faz é essa. Será que a gente consegue fazer na cidade uma luta territorial? E o que que significa ter um território numa cidade? Eh, pro movimento Passe livre, eh, a cidade é um território móvel, ela não é um território igual um uma terra indígena demarcada, como a gente pensaria. Não que não existem
mil mobilidades dentro das terras indígenas também, mas a cidade é fundamentalmente a possibilidade de você circular por ela, né? ter direito à cidade, é a possibilidade de você circular por ela, é a possibilidade de você acessar eh a a enfim a serviços, a direitos e também a possibilidade de você se encontrar, né? Porque o que faz o território não é o físico simplesmente, são os laços que você constrói, são as comunidades que você cria, né? Então quando a gente tá falando, e eu não teria como pensar, né? Ah, que política não seria uma boa forma
de eh reinventar democracia. né? Sem puxar aqui para nossa sardinha e dizer a tarifa zero é isso, né? A tarifa zero é uma provocação que diz a cidade pode ser ocupada, vivida, transformada, pensada por aquelas pessoas que a fazem cotidianamente, né? E aí, trazendo de volta essa categoria que às vezes eu acho que fica esquecida, mas é importante, que é a categoria dos trabalhadores e trabalhadoras, né, de fato. Então, eh, eu acho e de novo, né, como sempre, essas inovações, né, que, enfim, se a gente não tá tão ruim hoje, e não que a gente
não esteja, mas se de algum lugar veio solução, veio desses territórios, veio dessas comunidades e veio desses movimentos, né? E essa é a mesma história do do da tarifa zero, né? Assim, a gente tá vendo hoje eh bem, houve um tempo que eu achava que a gente só via isso porque a gente é muito obsecado pelo tema, né? Mas já passou esse tempo. A tarifa zero tá aí, a gente vai ver ano que vem a dimensão que ela vai ganhar num processo eleitoral que vai ser, infelizmente, de novo, disputado voto a voto, né? E sendo
que, gente, como parece que todas as soluções que vêm dos territórios, dos movimentos e que de alguma forma questionam a lógica, há 10 anos atrás a tarifa zero era uma loucura, uma insanidade da nossa parte, né, assim, as pessoas olhavam pra gente e falavam: "Nossa, vocês são doido, imagina seus moleque", né? Assim, e hoje ela tá aí como uma pauta que vai eh disputar, vai ser fundamental para um processo eleitoral. Aí você vê também como é louco esse processo de construção de inovação institucional, né? Porque a gente levou muito no lombo para receber para hoje
tão tá dizendo que para ter, enfim, tarifa zero em 148 cidades do Brasil, sabe? Eh, para ser uma pauta que tá aí sendo discutido, como que a gente faz? E e aí, enfim, fazendo uma pequena confissão assim, toda vez que o Lula pergunta pro Hadad se é possível a tarifa zero, eu particularmente me tenho uma pequena felicidade porque 2013 estávamos lá levando porrada do Hadad contra o aumento das passagens e hoje eu estou me divertindo muito porque afinal de contas e só por isso a tarifa zero já vai ter cumprido um papel institucional fenomenal que
vai ser ajudar a ganhar a próxima eleição, né? Mas assim, por mais que a gente esteja que tenha que pensar para além disso, mas eu acho que isso, essa situação toda que a gente viveu, essa bandeira, né, o processo dessa luta, eh, ele demonstra exatamente como também a luta é contraditória, complexa, mas que ela vai vir, né, que é dessa luta, é do ativismo, é dessas comunidades e esses laços que se constróem, que qualquer solução que depois vira inovação institucional vai surgir. né, assim. Então, eh, eu queria, eh, puxar essa sardinha aqui pra gente pensar
junto, né, que se a gente precisa pensar numa reinvenção da democracia, numa reinvenção de futuro, e a gente precisa porque é urgente, não tem outra, né, assim, não tem muita alternativa, a gente precisa pensar nisso sim ou sim, a gente não pode deixar o processo da cidade de fora. E a gente já aprendeu que a cidade que, né, que as soluções, as possibilidades de outro mundo, as possibilidades de outra democracia, elas vem dos territórios. Então a gente precisa pensar junto como transformar a cidade num território de laços, de comunidades, de afetos, de direitos. E a
tarifa zero é um dos caminhos para isso, né? É tirar a passagem que impede, né? Isso também a gente ouvia, né? Ai, 20 centavos, o que é isso, gente? Alguém que fez essa pergunta não anda de ônibus, né? assim, porque 20 centavos é muita coisa, mas além disso, ignora que o fato de você poder circular pela cidade muda tudo. Muda tudo. E eu tô falando de que muda tudo desde você ir para o conseguir ter direito a um hospital até você ir visitar sua mãe, sabe? E você poder ir construir essas comunidades, né? Então é
isso, né? E aqui eu não posso deixar de, né, de fazendo essa conexão de como a cidade funciona e como o transporte é uma barreira a todos os nossos direitos, a e justamente recuperar, né, a tese do meu companheiro de luta Paik, que faz uma conexão que é brilhante de efetivamente fazer um trabalho histórico, de ver como o transporte de carga no período e eh escravagista, ou seja, o transporte de corpos negros, é exatamente ente de onde vem a mesma lógica do transporte público hoje em dia, ou seja, o transporte de corpos majoritariamente negros também,
né? Então, eh, isso dá, eh, enfim, evocar um pouco essa tese do paí, que é para lembrar justamente de se a gente precisa pensar, né, desmontar a estrutura colonial da nossa democracia para pensar em qualquer futuro, a gente precisa pensar o transporte como uma dessas ferramentas e a gente precisa pensar nas possibilidades da cidade de fato ser um território. Então assim, eu acho que a conexão aqui entre as nossas falas é toda, né? Porque no final das contas a gente tá falando de futuro ancestral, a gente tá falando de política afirmativa e a gente tá
falando, no final das contas, de uma disputa que é eh que democracia é essa que a gente quer inovar e como, né? E eu acho que, enfim, o que nós temos para demonstrar é isso, né? Que a solução tá em reforçar essas comunidades, esses territórios e ela vai vir de lá. E a tarifa zero faz parte delas. Obrigado. >> Muito obrigado, Leila. Eh, todas super no tempo aqui, né, Marisa? A gente tá super tranquilo com essa coisa do tempo. Eu queria, eu não sei se eu já comentei isso com você, Leila, que eu sempre uso
esse exemplo da tarifa zero com os meus alunos e alunas. Quando eu digo assim, quando vocês acharem que uma pessoa tá falando algo que pode parecer muito utópico, né, enfim, que fala, nossa, imagina que loucura, isso não vai acontecer, cuidado, porque a tarifa zero tá aí para mostrar, né, que as coisas não são bem assim. Se há 10 anos atrás alguém falasse, né, ministra, que a gente ia ter uma universidade indígena, tenho certeza que alguém ia falar, imagina, Sônia, onde universidade indígena no Brasil, isso não vai acontecer. Ou seja, quando a Viviana traz, né, Viviana,
a questão do que que o mundo que a gente tem é um mundo, dentre outros possíveis, e que nós podemos, né, construir outros, outras realidades, outras democracias, talvez seja melhor as pessoas levarem a sério o que você tá falando, né? Porque de fato, né, eh, a história tá aí para mostrar que é possível. Sim. Bom, seguindo aqui então a a pra nossa segunda rodada, né, eu vou trazer aqui o tópico dois, né, que a gente nomeou como a força da resistência e a construção de políticas de estado, né, que eu acho que conecta perfeitamente com
tudo isso que vocês estão falando. Eu confesso que eu fiquei imaginando você dando risada toda vez que o Lula pergunta pro Hadad. Eh, bom, em contraponto a persistência das desigualdades, as últimas décadas têm sido o palco de uma reconfiguração notável nas formas de resistência. O fortalecimento de movimentos sociais territoriais, organizações de justiça racial e ambiental e o avanço de agendas que desafiam a própria matriz colonial do desenvolvimento demonstram o potencial democrático das lutas populares. Diante desse cenário, gostaria de propor que nessa segunda rodada focássemos na interface entre a resistência, né, entre os processos de resistência
e a luta ativista de um lado, e o poder público do outro. Daí eu pergunto, quais são os mecanismos e as estratégias mais eficazes para traduzir o ativismo, a resistência das ruas, os saberes ancestrais e as agendas antirracistas e feministas para a arena das políticas públicas e para uma sustentação duradoura do regime democrático. Repasso a palavra pra ministra. >> Ave Maria. >> Desse jeito uma tese. Escreva pra gente poder publicar depois. Mar aí você falou, né? Se há 10 anos a gente falasse de criar uma universidade parecia impossível, né? Aí eu digo também há 3
anos, né? Pouco mais de 3 anos, pensasse em ter um ministério indígena, quem poderia imaginar que fosse possível, né? Então, não tenho dúvida que é também essa é resultado de toda essa luta dos movimentos, né, sociais e nesse caso do ministério da própria universidade, resultado da luta do movimento indígena, dos povos indígenas, que nunca desistiu, né? Então, a gente vive hoje num sistema que a gente vivencia dois tipos de democracia, né? talvez a democracia participativa e a democracia representativa. E aí uma forma, né, acho que uma forma de eh assim crucial de termos uma democracia
mais duradora é exatamente criar espaços, oportunidades para, né, os setores subalternizados da sociedade para poder ocupar esses lugares de representatividade, né? E, ou seja, né, nós precisamos de mais indígenas, mais mulheres pretas, pretos, né, eh, como parlamentares, mais ministras, ministros de estado, né, de todas essas essas categorias, né, ministras no STF, né, precisamos de pensar mais mulheres pra gente poder ter essa representatividade também em maior quantidade no Supremo para que a gente possa fortalecer essa representatividade no poder ou nos poderes, né? E assim a gente ocupar de fato a democracia representativa, porque por mais que
é que mais a gente vivencia, mas ainda é muito a quem do que realmente, né, poderia representar uma democracia de fato, né? Por outro lado, para quem também eh para que também a gente tenha a democracia participativa para que ela possa ser exercida de maneira mais informada, nada é tão necessário quanto uma saúde de qualidade, né, uma educação de qualidade, né, e que aconteça de forma, né, muito mais eh ampla, né, e suficiente. Porque hoje, por exemplo, né, nós temos uma uma saúde indígena que é conhecida como uma saúde diferenciada, né? Nós temos um subsistema
dentro do do SUS, né, vinculado ao Ministério da Saúde, que eh garante aos povos indígenas um subsistema, mas que está é um dispositivo do SUS e muita gente confunde, né? Ah, é, é como se fosse um plano de saúde, na verdade não é. Nós temos um subsistema que garante atender nos territórios, que garante atender na base, né, o o atendimento primário. Quando você chega na média e alta complexidade, a gente tá no SUS como qualquer outra pessoa, né? E aí os indígenas que estão em contexto urbano, eles não é atendido nenhum nem outro, porque ele
não é atendido no território porque ele não tá lá, né? E lá é o atendimento primário, ele precisa estar dentro do sistema ali da CESAI, então ele não consegue ser atendidor lá, ele não tá contado lá na aldeia, né? Aí quando ele busca o atendimento na cidade, ele não tem a regulação que vem do município, que vem de um outro atendimento para ele ser atendido ali, né? Então, a gente tem um subsistema de saúde indígena que acaba excluindo também parte dos próprios indígenas, né, esses que vivem em contexto urbano. E aí quando a gente fala
também de eh poder alcançar essa democracia representativa por meio da educação de qualidade, aí muita gente pensa: "Ah, é uma solução muito antiga, né? Parecendo que não é mais necessário tipo da educação para alcançar a democracia". Então é uma solução antiga, né, mas nunca foi realmente levada a sério, né, e concretizada, porque a própria lei 11645 de 2008, que garante o ensino afrodescendente e indígena, né, nas escolas, né, até hoje, olha só quanto tempo. E aí a gente ainda escuta muitas vezes, né, direção de escola, dizer, não, não, não temos pessoas preparadas, capacitadas para lecionar,
para trabalhar essas disciplinas, sabe? Então você tem uma lei, mas acaba que não adequou para se tornar uma realidade, né? Por que que não traz eh indígenas, né? Eh, lideranças para poder trabalhar esses temas, né? Ou quilombolas, né? lideranças do movimento negro, tá?Í, Porque eh a academia acaba que só reconhece também como como professor, como educador, quem tem o diploma da academia, né, e não quem tem o saber próprio, né, quem traz esses saberes eh já da vivência, né, do que é realmente a a sua história. Então é preciso que a universidade também se abra
para isso, né, para poder ter os professores doutores da academia, mas que também considere esse conhecimento próprio, né, o conhecimento ancestral, o conhecimento tradicional desses povos. Então é realmente ainda uma grande dificuldade, né, a gente ter essa democracia participativa por meio da educação. E aí eu queria só fazer um parêntese em relação a a isso, né? No sábado eu fui eh ser madrinha de uma turminha do ABC. Eu achei a coisa mais linda do mundo, né? ali eu ali na na salinha e 22 crianças se formando no ABC e aí alguns vinham, já falavam naturalmente
ali comigo, porque foi trabalhado isso na própria sala de aula, né, que o tema paraa formatura foi eh cultura, natureza e povos indígenas. Então eles trouxeram, né, várias várias realidades de hoje para que eles pudessem conhecer o indígena hoje, não só o indígena do passado, como às vezes até o próprio livro didático insiste ainda em falar, né? Vivia, comia, andava, vestia, né? Bom, aí eh alguns já muito ali tranquilo e outros chegava, ficava assim me pegando, sabe, desconfiada, dis assim, será que ela é de verdade? Né, assim? Então é muito interessante porque eh você pode
não mudar a mentalidade, né, de pessoas adultas, né, que já na universidade, mas você consegue mudar gerações. E trabalhando isso, esse tema na escola desde do infantil, né, você muda a cabeça, você forma, né, uma consciência ali dessas crianças que eles vão fazer uma diferença grande, né, na vida adulta, que é exatamente o que hoje a gente sente falta, né? Não tem ainda essa formação, esse conhecimento sobre quem são os indígenas. E a falta desse conhecimento produz aí um um grande distanciamento, né? E aí volto pro ministério que com a criação do Ministério dos Povos
Indígenas a gente conseguiu também, a gente sente isso, né, que a gente conseguiu aproximar mais a sociedade dos povos indígenas, né? E aí a gente vê o quanto que aumentou a representação indígena em vários outros espaços da moda, da televisão, né, que antes era muito difícil, só estava ali como caricatura, né, e aí a gente consegue hoje ver outras formas de participação, né? Bom, aí esse aqui é pano para manga, professor. Desculpe, né? Mas bom, aí voltando aqui, né? O voto nas eleições em referendos e plebiscitos somente vai ser livre quando todos os votantes tiverem
o mesmo acesso a uma educação de qualidade que enfatize a diversidade e a educação para os direitos humanos. Assim como no caso das eleições a questão das urnas, né? onde se garanta o acesso às urnas no lugar onde a pessoa está. E a gente tem muitas realidades, né, distintas realidades e que não permite que os indígenas votem porque não tem condições, estruturas, né, de deslocamento para chegar onde está ali as urnas, né? Então isso também acaba distanciando os indígenas dessa democracia, né, participativa. Bom, além dos cargos, além dos cargos públicos, eu penso que uma sociedade
democrática é aquela que possui sua diversidade refletida nos cargos responsáveis pela tomada de decisões e também em todas as profissões. Quantos médicos, advogados, empresários, a gente conhece indígenas? Alguns, né? Mas muito pouco ainda. Mas quando você vem, né, e olha quantos gações domésticas, entregadores de aplicativos, né, eh, caixa de supermercados, então você vê aí muitos, porque geralmente é o lugar mais fácil, né, de você conseguir um trabalho. Bom, então, né, dá para perceber bem assim a diferença. E aí quando você acha que isso é da vida, que é a si mesmo, que sempre foi assim,
é deixar de sonhar com o futuro mais justo e fechar os olhos para uma estrutura secular de desigualdade, que acaba jogando para as margens justamente essa diversidade que é uma das maiores riqueza do nosso contexto latino-americano, né? E o Brasil é um país muito rico em diversidade, né, de cultura, de povos, de territórios. E isso poderia ser usado como uma grande estratégia também internacional para valorizar, apoiar, sobretudo, né, para que essas pessoas pudessem estar mais presentes em todos os lugares, né? Então, o futuro mais justo para quem está à margem da sociedade significa direito à
saúde, à educação, a segurança alimentar, né, entre tantas outras políticas públicas. E aqui eu abro um outro parêntese para um um post, né, que a gente olha de vez em quando e quando tá perto das eleições sempre volta, que é a senadora Ktia Abreu, né? Ela visita uma aldeia, algum de vocês devem ter visto, ela visita uma aldeia no Tocantins e aí ela volta de lá animada para ajudar e ela faz um post pedindo ajuda pras amigas dela, para todo mundo ajudar, doar roupas usadas, lençol velho, cobertas velhas para levar. E eu convido vocês para
ir comigo na aldeia, ela diz, né? Vocês podem ir comigo parecendo que ela já é a caica, né? Eh, levo vocês, né? Na aldeia. E aí, eh, esse post, né, eh, foi feito depois com uma indígena Craô e ela fala: "Ei, Cab Abreu, a gente não quer roupa usada não, a gente trabalha aqui para comprar nossa roupa nova. A gente, né, tem nossa nossa roupa, nosso jeito de se vestir. O que a gente quer mesmo de você é saúde boa, é educação de qualidade, a gente quer a nossa estrada, a gente quer aqui a política
pública, sabe? Então você vê o quanto que as pessoas ainda subjulgam, né, o que realmente a gente precisa, o que realmente a gente busca, né, para dentro dos territórios. Bom, e aí para quem já está incluído um futuro mais justo significa menos problemas de segurança pública, menos problemas de saúde mental, né, um debate político mais qualificado e o próprio transporte público de qualidade gratuito, né, Leila? Aliás, né, isso também é uma consequência que vem para as pessoas marginalizadas. Então, além de tudo que a gente já enfrenta lá, tudo isso que vem para quem tá incluído
já chega também para todos, né, que está à margem. Então é uma equação ganha a ganha, onde o espaço público fica mais acessível e as pessoas conseguem avançar, exercer sua cidadania de maneira digna, informada e consciente. Então, sem essas políticas afirmativas e uma educação de qualidade, nós não veremos uma sociedade mais democrática e mais justa, infelizmente, né? Então, acho que temos passos importantes, temos avanços importantes, temos conquistas importantes que vêm dessa luta, né, dos movimentos, porque nada disso que a gente consegue alcançar vem de mão beijada, né, ou foi dada gratuitamente. é realmente resultado de
muita mobilização, de muita luta, de muita unidade nos movimentos, né, para que a gente possa de fato, né, ter essas pequenas vitórias, né? E aí um exemplo claro dessa da força da mobilização e da sociedade foi exatamente a a mobilização contra o PL da bandidagem, né? Olha só a força do povo, né? da sociedade junta se manifestando. Então, não tem jeito. É muito importante você exercer essa democracia participativa quando você vota, mas também quando você cobra quem você coloca lá. Então, tem que ser uma participação permanente, não só pontual na hora do voto, né? Porque
essa força da sociedade é exatamente de quem vota. Então ele pode estar participando ativamente dessa vida pública, dessa vida política também com essas cobranças, esses movimentos para aquilo que não representa o interesse da sociedade, né? Para aquilo que realmente não vai fazer diferença nenhuma paraa população. Muito obrigado, ministro. Muito obrigado mesmo. Bom, retomando aqui, passo novamente pra Viviana. Obrigada. Eh, quando a gente é de religião de matriz africana, eh, quase todas elas a gente faz os processos em em círculo, né? A gente dança, a gente canta, a gente bate palma, a gente invoca os nossos
orixás, os nossos encantados, o povo da rua. A gente faz isso em roda e a gente faz isso no sentido antihorário. Isso significa eh uma representação de que a gente precisa voltar no passado e ir pra frente. Ou seja, nem a gente fica lá, nem a gente pensa só no futuro. Eu acho que para mim, quando eu penso o processo democrático e o processo de participação política, esse é um exercício muito importante para que a gente pense sobretudo, né, a resistência democrática que foi se construindo até agora, pra gente não achar que democracia é dada,
que caiu do céu ou das mãos de Isabel, como diz aquele samba, né? A democracia conquista, né? aqui no nosso caso, eh, no entanto, é uma democracia incompleta. E a gente já explicou aqui, eh, por que essa democracia é uma democracia incompleta, porque a gente não consegue viver baixo essa democracia no mesmo estado de acesso aos nossos direitos, né? Nesse sentido, a resistência democrática, ela é fundamental para o aprimoramento da democracia, né? Pensar eh a participação dos movimentos sociais, né? Tanto no sentido de chamar atenção para aquilo que não está consolidado, quanto para melhorar os
equipamentos, né, a própria estrutura democrática, é fundamental, né? E isso só é possível quando a gente reconhece que essa é uma democracia inacabada, né? Se a gente não tiver a capacidade de autocrítica de dizer sim, é uma democracia, mas é uma democracia inacabada, a gente não vai ter suficiente capacidade, né, para lutar pelo seu aprimoramento. E por que que isso é fundamental? Porque nós estamos hoje eh baixo um profundo escrutínio dos movimentos sociais, né? E a criminalização dos movimentos sociais agora, ela se dá eh por diversas vias. Por exemplo, quando a gente tem um projeto
de lei que quer criminalizar eh no Rio de Janeiro a construção de barricadas na rua, né? Porque ah porque os traficantes usam isso para atacar polícia, não sei o quê. Se a gente não olha, se o debate sobre democracia ele não tá acontecendo de maneira suficiente, a gente vai dizer: "É isso mesmo, minha gente, bora, porque é isso. O traficante bota ali a barricada, a polícia não entra, mata todo mundo." Gente, mas o que é que a gente faz quando a gente quer chamar a atenção do poder público? Vai em qualquer periferia, o que que
a gente faz? Eu trabalhei numa organização uma época que tinha uma diretora que era assim, estudou na escola de Cátia Abreu. E aí tinha um um grupo da organização que era do Capão Redondo, que é uma periferia lá de São Paulo. E e ela chamava essa galera, sabe do quê? Queima colchão. Porque o que é que a galera faz quando quer protestar? a gente faz uma barricada, a gente queima colchão, queima pneu. Então esse projeto de lei que quer criminalizar esse processo, ele criminaliza os movimentos sociais. Quando a gente pensa na equiparação, né, de olha,
a gente vai utilizar aqui, né, finalzinho do governo Dilma, que criminaliza os movimentos sociais e a gente tem a lei antiterrorismo. A lei antiterrorismo aqui ela criminaliza os movimentos sociais. Então, a gente precisa eh entender que o debate sobre a democracia ele é fundamental e ele não é feito de forma suficiente aqui no Brasil. A gente ainda acha que discutir democracia é para alguns. A gente não tem letramento para discutir democracia. E eu acho que essa é uma, todo mundo que atua nos movimentos sociais, a gente tá produzindo aprimoramento democrático, mas às vezes falta gramática.
Às vezes, como a galera fala na COP, os negociadores, eles dizem assim: "Olha, esse assunto a gente tá conversando, mas a gente não tem linguagem. Não tem linguagem, quer dizer, ainda não entrou no texto, né? Então, eu tenho a impressão que a gente ainda não tem suficiente linguagem aqui no Brasil, embora todas e todas façamos resistência democrática, a gente tem uma invisibilização, como se essas lutas elas não fossem lutas para o fortalecimento da democracia. Por outro lado, eu acho que entender a democracia, né, como esse mar de rosas que que muitas vezes sob o o
medo do fascismo e da extrema direita é um perigo, né? Ah, não, mas tá tudo bem, a gente já conquistou isso, a gente teve as diretas já, não sei o quê. Como se fazer a crítica à democracia fosse um problema que fragilizasse a democracia. Mas a democracia se faz de conquistas. A democracia ela se atualiza e sem fazer a crítica à democracia, a gente não percebe essa democracia como uma democracia inacabada e capturada. E eu acho que pensar a resistência democrática requer da gente entender que democracia e desigualdade não podem coexistir. E aí hoje a
gente tem no mundo as plutocracias, né, que são as democracias capturadas pelos super ricos e com pouquíssima linguagem sobre isso. Quando a gente entende o poder de uma delegação de 1370 lobistas na COP 29, isso é democracia capturada. Isso são os interesses dos super ricos. E aí eu vou puxando a sardinha paraa nossa agenda de enfrentamento à desigualdade, né, na Oxfor, né, que se dá principalmente por pensar a agenda fiscal. Como é que a gente pode fortale acreditar que a democracia quando o Brasil está no mapa da fome durante a pandemia, os povos indígenas literalmente
morrendo de fome, de negligência desse estado e o e o Brasil forma ao mesmo tempo 10 novos bilionários nesse mesmo período. Então, a profunda desigualdade e a maneira como o sistema tributário, os sistemas fiscais produzem desigualdade aqui no Brasil, fragilizam a vivência democrática porque possibilitam a partir desse da estruturação, não apenas, mas fundamentalmente das políticas fiscais, a gente produz concentração de renda, a gente produz desigualdade. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. E isso produz a captura do Estado pelos super ricos, a plutocracia. Então, quando a gente pensa na resistência e indo
ao encontro do que a ministra ela nos diz, de pensar os processos de discussão, de popularização de agendas para que a gente possa continuar discutindo e formando capacidade crítica, isso é fundamental porque a gente vai da rua, a gente encontra os espaços de resistência, a gente tem capacidade então de entender que rua e parlamento são igualmente importantes, que muitas muitas vezes e ter uma atuação de incidência política, como é o caso de organizações como a Oxfan Brasil, é importante, mas não é suficiente. Mas muitas vezes ter o processo da rua sem ter a capacidade de
vigilar o parlamento também não é suficiente. E aí de novo, a linguagem é fundamental. Por que que a gente conseguiu ter milhões de pessoas na rua para tributar os super ricos? Por que que a gente conseguiu ter milhões de pessoas na rua para o PL da bandidagem? Porque a gente tinha uma linguagem que as pessoas podiam entender. Porque quando começou a ter tudo que é meme de gatinho falando de super rico, vídeo produzido com inteligência artificial, aquelas bizarrice toda, as pessoas começaram a entender: "Eita, porque faz parte desse campo que é produtor de desigualdade eh
a complexidade, dizer que esse é um tema muito complexo. Eu trabalho desde que assumi a direção executiva da Oxfan e na agenda fiscal. Eu sou pedagoga. Meu sonho de menina era entender o que significava alíquota. Eu sempre quis entender a minha vida inteira e as pessoas diziam que era muito complexo, muito complexo. E eu tenho certeza que vocês estiveram em várias meses que as pessoas começam assim, discutir blá blá blá é muito complexo. E na fiscalidade é assim, todo mundo que chega, eu não preciso dizer a quantidade, mas eu vou dizer o perfil, é um
homem é branco de terno de óculos. Ah, porque o campo da fiscalidade é muito complexo, porque a política tributária no Brasil é muito complexa. Aí eu digo assim: "Sim, mas tu entende e o que é que tu tás querendo dizer com isso quando tu fala dessa complexidade que você domina de novo colonialidade? Porque tem um conhecimento que tem uma pequena elite que é detentora desse conhecimento. De novo, as pessoas que estão fazendo eh eh resistência democrática, elas quando elas estão fortemente alinhadas com os ideais colonizatórios, mesmo querendo fazer democracia, elas reproduzem, ela tá ali na
colonialidade. E a gente precisa decolonizar esses campos de conhecimento que atravessam a vida de todo mundo e que poucas pessoas sabem sobre ele. Toda vez que a gente tem uma discussão que a gente não tem uma linguagem que faz com que todas as pessoas a entendam, a gente precisa pensar sobre isso. O que que significa poucas pessoas entenderem o que é democracia aqui no Brasil? O que que significa poucas pessoas entenderem da desigualdade? O que que significa a gente dizer que não dá para simplificar porque é complexo demais? Porque esse conhecimento é um instrumento de
poder. Então, nesse sentido, pensar como é que a gente cria linguagem acessível para que a gente consiga fazer a tradução, né, dos temas complexos que produzem a democracia para o cotidiano das pessoas e como é que a gente consegue também fazer linguagem para que as pessoas possam compreender onde é que essas decisões são tomadas, porque isso já aconteceu, pele da bandidagem, né, a tributação dos super ricos, a gente teve um momento de encontro entre ruas, a a tramitação, né, da reforma tributária. As pessoas conseguiram entender porque naquele momento histórico a gente produziu uma coisa pouquíssimo
produzida aqui no Brasil. Então, acho que a gente precisa eh aprender com essa experiência e a gente precisa consolidá-la para que, de fato, né, aquilo que atravessa a vida das pessoas todas eh seja cotidiano. Quando eu comecei a trabalhar na agenda dos objetivos de desenvolvimento sustentável, há quase 15 anos atrás, tinha um colega do Pará que ele dizia assim: "Eu só vou trabalhar nessa agenda com vocês se vocês conseguirem me dizer o que é que os objetivos de desenvolvimento sustentável t a ver com o preço do açaí. Se vocês não conseguirem me dizer isso, não
me interessa." Então, democracia é a mesma coisa. Obrigada. Eh, Viviana, parece que a gente combinou o jogo, viu? Porque quando você, eu tá, eu quase ri aqui na hora que você falou da barricada, porque porque eu queria retomar a barricada como processo de transformação democrática e de tradução e de possibilidade de outra democracia, né? Essa é uma discussão que eu faço na minha tese, justamente você falou barricada, eu falei: "Não é possível, a gente nem se conhecia, mas estamos junto." Porque eu acho que essa provocação que eu tentei um pouco também fazer antes, eu acho
que tá aqui, né? E eu não tô querendo dizer, gente, que essa articulação que você também comentou, Vivian Sonia também traz, né, da luta da que é que a gente eh simplesmente tem que abandonar a institucionalidade, que isso aí tem que deixar para lá, não tem que pensar. Eh, não que eu não sonhe com isso, mas eh, né, que que outras formas de política e organização social são possíveis para além do estado, né, contra o Estado. É, mas sem ignorar, né, o contexto que a gente vive e todas que a gente precisa usar todas as
armas necessárias. Eh, eu queria que a gente pensasse junto na importância da barricada e retomasse essa importância na nossa vida, porque a barricada ela recusa em primeiro lugar e nela ela questiona tudo. Justamente esse modo que a gente vive e eu não botei meu tempo e se eu falar de barricada sem tempo marcado vai dar errado. Pera aí. Eh, que que a barricada faz, gente? Ela recusa, ela questiona, a cidade precisa ser desse jeito. Ela não só demanda uma, por exemplo, passe livre, né, ou eh menos violência na na favela, ela não é só um
protesto, ela recusa um jeito de organizar a vida. E ao recusar, ela deixa a gente imaginar outros jeitos. É, a gente constrói relação para fazer barricada, a gente tá junto na rua, a gente constrói comunidade ao fazer barricada. E ao fazer isso, a gente pensa que outra democracia, que não é essa falida, é possível para além da conquista prática de uma política pública ou do atendimento de uma demanda. E por que que eu tô falando isso aqui, né? poderia falar mais do processo da institucionalização da tarifa zero, de como que a gente tá eh que
é que é de fato justamente uma tradução, né, de uma resistência em uma política pública. Mas eu queria provocar essa que a gente pensasse eh esse outro lado, né, assim, da nossa possibilidade de imaginar, da nossa possibilidade de recusar esse mundo que a gente vive, de dizer que não é só essa forma, na prática e pensar, gente, que imaginação, eh, e isso não sou eu que tô falando, né? Se você for pegar, você é pedagoga, você tá aqui o Vigotsk, né? Se você for pegar a teoria do Vigotsco de como que as crianças aprendem, como
que elas imaginam, elas não imaginam lá na teoria, ninguém é criativo sem sem fazer as coisas. A criança faz e ao fazer, ao brincar, ela pode imaginar outras coisas. a criatividade, a imaginação, a possibilidade de pensar para além dessa democracia e enfrentar esses lugares que às vezes parece que a gente só tá condenado a viver esse mundo colonial para sempre, ela não vai vir de um exercício meramente teórico, de gente, como a gente tá fazendo aqui, mas que tá pensando nisso. ela vai vir da prática de vivências de outras políticas como na barricada, né? Assim,
ela vai vir da possibilidade de você, ao construir relação com outras pessoas perceber que, nossa, nem sempre a gente precisa de um policial, né? Que coisa interessante isso. Nossa, às vezes a gente consegue resolver nossos problemas aqui em comunidade. É essa prática que vai possibilitar que a gente pense uma democracia além. E e eu acho que a gente abandonou essa prática. Então, se eu concordo que é urgente a gente pensar, né, a gente não deixar de lado essa dimensão, a dimensão da interface com as políticas públicas, a vigilância do parlamento, né, a demanda por avanços
institucionais, eh, eu não acho que a gente não tá deixando de lado. Eu acho que assim, né, isso não é uma dimensão desprezível e ela não e não pode ser, né, inclusive como movimento passe livre, a gente nunca desprezou essa dimensão, tanto que a gente luta por uma política pública, né, assim, mas eh a minha sensação é que nos últimos anos essa dimensão ela sufocou todas as outras, a dimensão da política pública, da institucionalidade, né, assim, ela tá acima de todas as outras dimensões na nossa prática e na nossa política. E aí? E aí? Sabe
qual que é o problema? O problema é que o lado de lá tá imaginando para caramba. Eles estão imaginando os, né? A gente tinha dito no MPL que infelizmente tá muito verdadeiro agora pro outro lado, que era os nossos melhores sonhos são seus piores pesadelos. A gente, né, gente, todo mundo meio punk e tal, faz sentido esse dito. Mas e de repente, gente, os nossos piores pesadelos são os sonhos da galera do lado de lá. E eles não estão imaginando sozinhos na casa deles, né? Assim, coisas que a gente conquistou para dar um exemplo aqui
que não pode ser ignorado, gente. Foram anos e eu e Soninha estávamos lá nessa luta, anos para derrotar a lei do marco temporal. Quanto tempo, né? Enfim, para garantir o artigo 231 de direitos da CES Indías já foi uma luta agora. Depois foram anos de manifestação, luta, mobilização para derrotar a lei do marco temporal. E o que que vai acontecer amanhã no STF? Eles estão imaginando um Brasil sem terra indígena, né? Eles conseguem imaginar um Brasil sem terra indígena. E ao imaginar eles estão tentando avançar com isso. Tá lá o STF vai discutir a constitucionalidade
da lei eh 14.701, do 701, né, que voltou com o marco temporal depois da gente derrotar ele. Tá lá a PEC 48 também tentando trazer isso. Então, se a gente abandonar a imaginação, a barricada, a possibilidade de pensar além, a gente vai na retranca desses caras, saca? Porque eles estão imaginando e eles estão indo, né? Não vou dizer que com tranquilidade, porque tem resistência, tem luta, tem um monte de coisa, mas eu que eu quero, eu tô querendo dizer é que eles estão conseguindo sonhar muito tranquilamente num mundo em que a gente não exista, sabe?
Ou que só exista para trabalhar para eles, né? E a gente precisa sonhar no mundo em que eles não existam, né? Que que a gente consiga sonhar um mundo paraa lei do capital, paraa lei do estado, para, né, com territórios garantidos. Eh, e aí eu acho que aí sim, eu acho que a história da tarifa zero, eh, faz a gente lembrar, né, o que você tava comentando, né, Thago, do do poder da utopia, né, quando alguém pensar uma coisa muito louca, não duvide. E acho que foi isso também que me fez eh direcionar um pouco
essa essa fala para esse lado, porque realmente a história da tarifa zero é uma história doida, porque a gente criou várias coisas, né, reinventou democracia de várias formas na prática da nossa barricada e tá aí conquistando uma política pública, né? Então assim, eh, e eu não tenho medo de que a resistência ou a barricada não tem impactos diretos nas institucionalidades, porque vai ter, tem que é, tem que ter. E mas é a luta. Se a gente ousa sonhar, imaginar e viver outras possibilidades de vida na forma como a gente faz a luta, a gente avança
a institucionalidade também. A gente avança, vai chegar. Pode ser que no começo digam que você tá maluco, né? Que é isso que você tá sonhando aí. Mas vai chegar inclusive as conquistas institucionais. Agora, se a gente deixa de imaginar e sonhar que as coisas podem ser diferentes e fazer barricada, não tem institucionalidade que segura do nosso lado, não tem, sabe? Então, eh, eu queria retomar um pouco o ativismo mesmo, sabe? A militância de rua, aimar o pneu, fazer demanda, é isso. E e no potencial criativo que isso tem. para qualquer democracia que não tem democracia
que se sustente sem a gente conseguir imaginar um mundo além desse que a gente vive. Então, acho que essa seria a minha provocação final. Obrigada. >> Bom, eu não vou falar mais nada, só vou abrir para perguntas porque eu acho que devem ter muitas, né? Então, vou fazer uma rodada de três ou quatro. tá começando ali. >> Érica. Tá aqui já temos quatro, então vamos fechar aqui começando ali. >> Ah, sim. Só reforçando, gente, a gente pede para que vocês se identifiquem e para que tentem ser mais breves possíveis, tá? Pra gente não prolongar muito.
>> Um bom dia a todos e todas. Eh, meu nome é Suélio. Eh, eu vou perguntar paraa ministra, eh, ministra, quando a senhora subiu, assumiu o ministério, a gente viu aquela situação dos indígenas no norte do país. Eh, gostaria de ouvir a da senhora como que está agora. Eh, a gente viu cenas, parece que a gente tava em outro país quando a gente, cidadão comum, viu aquelas cenas de indígenas passando fome, muito triste, é muito sofrimento, eh, muito crítico, muito extremo aquilo que a gente viu. A senhora pegou o ministério naquela época, naquela situação. Gostaria
de ouvir da senhora o balanço que a senhora faz, eh, como que estão os indígenas? a senhora conseguiu retirá-los de situação de fome. Eh, eh, eh, eu quero, eu quero problematizar com a representante da Oxí da, eh, da organização não governamental, a questão das crianças, adolescentes e jovens que o Brasil perde todo ano para violência e criminalidade. Eh, isso é me desestabiliza bastante como cidadão brasileiro, por nós podemos chegar a um ponto eh se continuarem morrendo crianças, adolescentes de jovens, de só ficar os adultos e os idosos no Brasil. Nossa população tá envelhecendo. Eh, eh,
não vai demorar muito tempo da gente ser um país eh com idosos e adultos. Se nossas crianças, adolescentes e jovens continuarem morrendo devido à criminalidade e a violência. E eu pergunto à senhora se a entidade da senhora trabalha com políticas públicas de prevenção. Eh, a gente não vai resolver esse problema da criminalidade, da violência com combate. A gente vai resolver eh eh com prevenção das raízes históricas, né, das causas que que provocam isso. é a representante aí do movimento Passe Livre. É, vocês ah, com todas as movimentações que aconteceram no país aí em governos anteriores
até o atual, vocês conseguiram aí o a isenção, né, pros estudantes do passe. Quais outras pautas que vocês estão pensando? Eh eh vocês focaram muito no nos estudantes, né? e quais outras pautas eh que vocês estão pensando? Obrigado. >> Obrigado. Você aqui. >> Alô. Opa, bom dia a todos. Primeiramente, gostaria de agradecer a oportunidade de estar aqui escutando essas exposições enriquecedoras de toda a mesa. Eh, minha pergunta vai mais diretamente paraa Leila Sarai em relação à questão da tarifa zero, mas também para toda a mesa. Eh, colocando um cenário rápido do DF, eu gosto de
estar minha experiência pessoal, que eu moro na ASA Norte agora, 408, mas eu faço questão de falar que eu sou gamense. Para quem é de Brasília sabe que o Gama é a ra mais a sudeste do nosso quadradinho que faz fronteira com o Goiás. Então, antes do BRT, por exemplo, a gente demorava 3 a 3 horas meia para chegar aqui, porque só tinha um ônibus que fazia tudo, né? E depois 3 3 horas me para voltar, 6 horas por dia, mais ou menos. Depois do BRT, 2 horas para vir, 2 horas para voltar, seis ônibus
por dia. Eh, nesse sentido, eu queria saber a sua opinião, Leila, em relação à questão do programa Vai de Graça, né, que foi por decreto do do Ibanês. E o Max Marciel, que é o deputado que fez o ativismo, fez a questão da luta nas ruas, né, que é do PESSOL. eh teve o seu projeto 1816 de 2025 aprovado. Nenhuma comissão só da Câmara Legislativa do DF para determinar tarifa zero, né, com uma instituição progressiva de 4 anos. E apesar dele ter comemorado o decreto de Ibanez, ele pediu pra população abrir os olhos em relação
a como a gente não pode só celebrar que temos tarifa zero aos domingos e feriados por e que isso vem de decreto, né, que não é uma lei assim que vá ser vigente. Nesse sentido, eu entendo que tem as dificuldades orçamentárias de implementação em relação a questões demográficas e populacionais. Pelo que eu vi rapidamente, as cidades hoje em dia no Brasil que tem tarifa zero completa, tem pouco mais de 100.000 habitantes. E aí eu entendo que, pô, para uma cidade como Brasília, 2 milhões, esse Belo Horizonte, Rio de Janeiro é mais complicado. Mas nesse sentido,
a minha pergunta nesse cenário é a partir da noção de territorialização que você trouxe, eh, e bem como de um uma noção que o Max Marciel falou sobre criação de conselhos territorializados em Brasília, eh, como ele propôs nesse PL dele, eh, qual seria a sua avaliação da viabilidade em termos de implementação e de previsão temporal da tarifa zero em Brasília? Obrigado. Eu sou o Juan de Ciências Sociais. Eh, bom dia todos, todas. Eh, >> oi, escutem, eh, eu sou a Érica Musquiva, eu sou professora do Instituto de Ciência Política, né, eh, eu parabenizo a mesa,
eu acho que foi a fala, né, de todas vocês, foi fantástica. E eu queria ressaltar um alguns aspectos que eu acho extremamente relevante paraa nossa discussão, que é em todas as falas, né, vocês ressaltaram a importância do tempo e do espaço, né? Vocês trabalharam passado, presente, futuro, vocês trabalharam a noção de territorialização, né, disputas por territórios. Eh, vocês trabalharam a questão dos grupos subalternos, né, de a inclusão democrática e repensar, né, de que forma nós vamos consolidar essa democracia, né, e e ao mesmo tempo repensar os pilares dos princípios democráticos. E a minha pergunta eh
gira em torno, né, seja por tarifa zero, seja por uma inclusão eh por educação, pela pela inclusão, pela linguagem. Eh, a minha pergunta eh, claro, né, nós estamos aqui para incluir, para criar, seja por meio de políticas afirmativas, né, e outras, eh, tantas políticas importantes, mas, eh, outro ponto que a gente tem que se atentar é como manter essas políticas, né, como não só criar espaços, né, porque afinal de contas, né, trazer uma universidade indígena, ela é extremamente importante. Mas como manter isso? principalmente diante dos ataques, né, antidemocráticos, do avanço da extrema direita, né, e
como manter pensando também, né, nos saberes, né, nos saberes dos quais, né, as diferentes falas nos colocaram, né, para pensar a inclusão desses grupos subalternos, para fazer com que, né, todas toda essa ancestralidade, né, ela possa ser incluída também nessa manutenção, porque nós estamos de fato de um diante de um ataque, né, seja, não é, por ideologias antidemocráticas, seja pelas pela grande empresa, seja pelos lobistas. Então, a nossa preocupação quando a gente entende os futuros da democracia é pensar nessa manutenção, né, de não só de curto prazo agora, né, não só pensar nas barricadas de
curto prazo, mas como pensar, por exemplo, a manutenção da tarifa zera para além do governo Lula, para além do Hadad, para, né, quando a gente tem todos esses ataques, né, para, né, pensando nessa manutenção da universidade indígena. Então essa é a preocupação que a gente tem, tá? Então como que vocês eh poderiam, né, tentar não só do ativismo, não só da PCARA, mas outras outras formas também dessa dessa manutenção? Obrigada. >> Obrigado. Tinha uma pessoa que tinha levantado a mão. Você aí a gente fecha com esse bloco, tá? Depois a gente abre um outro. Obrigada.
Eh, bom dia. Meu nome é Luciana, eu sou doutoranda em direitos humanos na UFG e também faço uma pós aqui na UnB. Eh, e eu queria fazer uma pergunta que vai muito no sentido da pergunta que eu fiz ontem também sobre como que nós do campo progressista podemos agir. Eh, e para mim é muito difícil falar de democracia sem falar de direitos humanos. Eh, eu acho que as duas coisas estão muito conectadas assim. E para desenvolver minha pergunta, eu queria eh falar duas citações aqui rapidamente. Uma do Bóbelo, que diz que o principal desafio em
relação aos direitos humanos na contemporaneidade não é mais justificá-los, mas sim protegê-los e efetivá-los. E uma outra que é uma frase bem mais popular, eh, que é o direitos humanos para humanos direitos, né? E eu percebo que eh existe um senso, ainda que comum eh de que os direitos humanos, a democracia, eh, e, enfim, a, a proteção institucional do Estado, ela precisa existir. Eh, e eu acho que esse é um consenso, tanto pra direita quanto pra esquerda. Eu acho que o que se difere um pouco é para quem são esses direitos, para quem é essa
democracia, eh quem são as pessoas que vão receber essa proteção institucional eh do Estado. Eh, eu acho que eh durante muito tempo a gente universalizou eh que isso era para todos, mas pensando muito a partir da régua e da figura do homem branco, eh, proprietário, enfim. E hoje, cada vez mais e eu vejo que nós do campo progressista, eh, tentamos alargar a dimensão do que é ser humano, né, do que é do que de quem são essas pessoas eh que são dignas eh que são eh que que precisam exercer os seus direitos. Eh, e a
ministra falou que um pouco sobre a democracia representativa e a democracia participativa. E algo que eu percebo é que na democracia participativa a gente tem uma maioria de mulheres, uma maioria de pessoas negras, uma maioria de trabalhadores e trabalhadoras, eh, que não se traduz eh da mesma forma nos espaços eh representativos. E aí eu queria que vocês falassem um pouco sobre isso, assim, sobre quais são as estratégias que a gente pode, enquanto campo político, eh, adotar, eh, para que a democracia participativa, né, a democracia de rua, a participação dos movimentos sociais que tem uma maioria
de liderança de pessoas negras, de mulheres, eh também possa se traduzir nos espaços de poder e decisão do nosso país. É isso. Obrigada. Perfeito. Obrigado. Vamos voltar então, ministro. >> Bom, acho que duas ou três perguntas, né, que que me cabe a responder. Acho que a primeira em relação ao povo Ianomame, né, a pergunta que foi feita pelo Soélio da situação que nós encontramos aquele território e aquele povo em no começo de 2023, né? E ali foi uma das ações que deu o start não só ao Ministério dos Povos Indígenas, mas ao próprio governo federal,
né, quando a gente se deparou com uma situação ali de, né, de desnutrição gravíssima, né, entre crianças, jovens e adultos. E imediatamente o próprio presidente Lula, né, assumiu aquela questão para si. chamando o conjunto dos ministérios, né, da explanada para pensar ali e agir imediatamente, né, para atender aquelas crianças, entendendo que inicialmente a gente pensava que era somente um caso de falta de saúde, de falta de atendimento, né, de assistência no território. Mas logo de início nos demos conta que ali não era um problema somente de saúde, que por trás de toda aquele que estava
visível na desnutrição, né, tinha o garimpo ilegal dentro do território, né, e num território de 30.000 indígenas tinha ali pelo menos 20.000 e o garimpeiros, né, ou da cadeia do garimpo, né, quando você junta todo mundo que trabalha ali dentro também, né, nesse nesse conjunto ali do garimpe ilegal. Então, a gente imediatamente reorganizou para que pudesse ter ações compartilhadas, né, ações eh ações conjuntas de todos esses ministérios que pudesse combater o garimpe ilegal, combater essa criminalidade, assim como, né, eh, garantir a assistência de saúde. Então nós conseguimos reduzir no território anomame hoje mais de 96%
da presença dos invasores ali dentro do território, né? Hoje, né? Você olha visivelmente já a diferença que tá desse território, né? tem consequências que você não consegue resolver a curto prazo ou mesmo a médio prazo, como é o caso da contaminação das águas, né, dos rios pro mercúrio. Mas mesmo assim já há um trabalho feito em conjunto com a com a o Ministério da Saúde, né, a CESAI, a Fi Cruz e acompanhamento do Ministério dos Povos Indígenas, né, para para limpar essa essa água, né, assim como um estudo que a gente fez em conjunto para
pensar o atendimento, né, forma de atendimento para as pessoas contaminadas, diagnosticada, né, contaminadas por Mercúrio. E aí a gente conseguiu reduzir em 27,6% os casos de óbito, né, no dentro do território, né, e conseguimos também, né, alcançar aí uma queda de 70% das mortes por desnutrição e garantir, né, um melhor atendimento, não só com as remoções, né, sendo atendido em Boa Vista, mas garantir um melhor atendimento dentro do território, né, na nos postos de saúde que a gente encontrou ali a maioria dos portos fechado. E tavam fechado não porque não tinha equipe somente, porque era
perigoso as equipes de saúde chegar naqueles locais por conta, né, do crime organizado e desses invasores que estavam ali dentro. Então, a gente alcançou ali um quadro de 690 profissionais de saúde e hoje a gente ampliou para mais de 2.000 profissionais de saúde que atuam dentro do território, né? Então a gente reduziu também em 25% os casos de remoções em casos de urgência e emergência com esse atendimento feito diretamente no território, né? E uma média de 160.000 1000 exames de malária que anteriormente não se fazia, né, ali pra gente poder detectar esses casos também de
malária e garantir o tratamento. Além da construção do centro de referência, né, de saúde indígena construído dentro do território na região de Surucu. E hoje esse centro está lá já funcionando com equipes que revezam ali e garante um atendimento permanente tanto para aquela região quanto das outras regiões que vem, né, para ser para ter o atendimento primário ali. Então ali mesmo muitos casos são evitados de levar para Casai em Boa Vista ou mesmo pro hospital. Então hoje tá muito, né, muito mudado essa realidade lá dentro do território anomame. E a e aí a gente tomou
como exemplo esse também e antecipou para outros casos que também, né, tem uma situação parecida ou até igual também de invasões, né? E aí eu só aproveito para complementar essa que para além da desintrusão do dos garimpeiros, né, dentro do território e eh Ianomami, a gente fez também a desintrusão de invasores dentro de mais nove territórios durante esses 3 anos, né, nessa nessa ação conjunta com a Polícia Federal, com o Ministério do Meio Ambiente, IBAMA, FUNÁ, ABIM, né, e tantos outros órgãos que ainda acompanham o território anomame, mas também a gente fez no território indígena,
eh, Alto Rio Guamá, no Pará, né, a Pitereu, Triro Aacajá, também no Pará, território indígena Caripuna em Rondônia, Caiapó e Mundurucu também no Pará e agora estamos finalizando no território indígena Urueu Auau, para qual estou convocada numa audiência amanhã no Senado para responder ali por dessa desintrusão que aí é isso, né? você tenta fazer as ações positivas para poder entregar o território livre para os povos, né? Mas ao mesmo tempo a gente é questionado pela democracia representativa, né, do Congresso Nacional que estão lá e aí não, né, questiona e não aceita essas ações que vão
garantir essa liberdade de segurança dos indías no território, né? Então, só para complementar que a Namami, né, não é um caso concluído, porque a gente não pode sair de lá. a gente sabe que saindo de lá tudo isso pode retornar. Então, a gente tem a casa de governo que permanece lá em Boa Vista e todo o acompanhamento, né, desses órgãos que seguem fazendo esse monitoramento, fiscalização, operações agora mais pontuais, né, e essa, né, e todo essa esse trabalho permanente ali. Bom, acho que em relação à universidade, né, e a políticas que a gente defende, bom,
a universidade nasce, né, a agora já a partir de de um decreto, mas que será votado no Congresso Nacional. Então, a ideia da continuidade é você garantir que seja uma política de estado, né, e realmente não uma política de governo. Então, a gente tá trabalhando que mesmo dentro dessa adversidade no Congresso Nacional, né, eh, a gente acredita que essa pauta da educação da universidade é possível da gente conseguir ali voto suficiente para aprovar um projeto de lei e garantir, né, essa criação eh por lei, porque ali no Congresso a gente precisa saber também como lidar,
né? Tem pautas que a gente chega, mesmo que sendo da pauta indígena, a gente consegue trazer muitas, muitos da oposição para votar junto, né? Agora, quando se trata de demarcação de terra indígena, desintrusão de terra indígena, legislação ambiental, aí não tem negócio, né? Não tem jeito. Então, tá muito dada ali quais são as pautas que realmente eles não abrem mão, né? E tem essas pautas, né? outras pautas que a gente consegue ali um diálogo, né, difícil, mas a gente consegue uma sensibilização. Então, para universidade indígena, nós estamos acreditando que vamos conseguir aprovar no Congresso e
garantir essa criação mesmo, né, por por lei. Bom, eh, a gente falou aqui de de democracia representativa, democracia eh participativa, mas é isso, é luta constante, né? Não tem jeito. Acho que não tem receita, não tem nada pronto, né? É luta permanente. Eu acho que por mais que a gente consiga alcançar criação, construção, né, por de políticas, a luta não vai acabar, né? E cada um de nós tem a luta dos nossos tempos, né? E parece que para nós todo dia, né? Cada dia é uma luta dos nossos tempos. Mas é isso, a gente nunca
vai vai acabar com essa necessidade de ter os movimentos sociais na rua, lutando por, né, por dignidade, por segurança, por por respeito. E acho que uma coisa que traz isso muito à tona agora é exatamente essa o aumento, né, da violência e do feminicídio, né, da violência contra as mulheres e do feminicídio, que por um momento a gente achava que tinha já as mulheres avançado bastante ocupando espaços, né, embora nunca igual, mas a gente tava conseguindo avançar. E aí, de repente a gente percebe que o nosso avanço também eh se se reproduz em em ódio,
né, em raiva de de homens que não aceitam muuit das vezes a mulher ocupada determinados espaços e acaba isso, né, eh se expressando em crime, em assassinato, enfim. E aí agora, mais uma vez as mulheres se levantam fortemente, né, para dizer: "Queremos estar vivas". Então era uma luta que a gente há pouco tempo a gente achava que não ia ser preciso ser tão fortemente. Era já uma necessidade, mas agora com o aumento desses dias ou a maior visibilidade, a gente não sabe direito, que é porque esses casos estavam todos escondidos, as mulheres tinham mais medo
de denunciar, né, ou de revelar o que estava acontecendo em casa. E hoje talvez as mulheres se encorajaram mais. Exatamente por isso a necessidade de continuar na rua juntas para encorajar mais mulheres a trazer essas denúncias, né? Então eu acho que é isso, sabe? A gente está sempre participando, lutando por representatividade, né? Mas são são eh tipos de democracias que se complementam, né? Uma não exclui a outra de forma alguma. É juntas na rua, né? E também nos espaços de poder. Obrigada. Eu eu não vou me alongar porque eh eu acredito que a ministra trouxe
todos os elementos que eu que eu traria, né? Eu penso que o que eu poderia adicionar eh em relação às às questões sobre essa fragilidade, né, democrática, eh, e sobre até onde, né, o que que a gente precisa fazer para conquistar, eu traria dois pontos. Eu traria um ponto relacionado ao que é que nós consideramos inegociável e nós do campo progressista, né? O que que é inegociável e como é que a gente constrói uma melhor interconectividade entre as lutas? Eu sou professora e eu cresci e continuo dizendo, né, aquela coisa que a gente diz, o
professor é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo e isso era muito dos movimentos de estudantes, né, podendo dizer isso. E o que eu sinto, ao mesmo tempo sendo professora, eu sou mãe, eu sou uma mulher negra, eu sou nordestina, eu sou de aché, né, sou macumbeira. é que essa interconectividade entre as lutas, ela não tá presente na realidade, no miudinho. Porque desde 2018 para cá a gente devia estar dizendo mais: "Mexeu com ele, mexeu comigo. Mexeu com mulher, mexeu comigo. Mexeu com mexeu comigo. Mexeu com professor, mexeu com trabalhador, mexeu com preto. E a
gente não diz porque na prática a gente não tem tantos innegociáveis assim. E a gente consegue dizer isso a gente que é mulher. Quando a gente vê as nossas pautas sendo rifadas o tempo inteiro. Ah, a gente é amigo até a página sete da página oito. Se for preciso aqui, a gente abre mão de direito de mulher. A gente não fala da questão racial. Eu sou conselheira, né, do conselhão do conselho da presidência da República e eu dei um chilique na semana passada dizendo, mas não é possível, né, que em 2025 a gente ainda tem
dedos para colocar ali o nome racial no documento. No país que tem a maior população negra fora de África, a gente vai conseguir fazer alguma coisa em termos de projeto de nação, sem ter coragem política de usar a palavra raça. Não, mas é porque a gente não pode falar, porque a gente quer que esse projeto seja adotado por todo mundo. Eu digo, todo mundo quem? Eu não quero que esse projeto seja adotado. Se para ele ser adotado, eu não posso falar indígena, eu não posso falar raiva, porque eu tô dizendo que eu tenho um preço
ali, né? Eu não quero incomodar alguns poderes. Então, o que é que te faz acreditar que vai ser possível implementar justiça racial, justiça étnica nesse país? Então acho que a gente precisa voltar ao processo de innegociáveis, por exemplo, democracia e desigualdade, né? Num país que daqui a pouco a gente vai ter um trilionário, mas tendo ainda pessoas em situação de fome, né? Isso deveria ser o innegociável, uma mulher negra, mãe de família, pagar mais imposto proporcionalmente do que um bilionário. Isso deveria ser inegociável. Deveria ser innegociável tantos mandatos que representam o agro. representam aí setores
que são poluentes, extrativistas, os novos extrativismos, né? Então eu acho que pensar os innegociáveis para que a gente pense, né, naquilo que seria uma maior interconectividade entre as estratégias de resistência. E por fim, eh, pode parecer desalentador, outras pessoas vão entender que a sua realidade é disputa, não vai se acabar nunca. a gente não vai ter certeza nunca, né, de que, ah, como é que eu posso garantir que vai estar para sempre? Não vai est se não houver vigilância, porque é sobre projeto de sociedade. E uma sociedade profundamente desigual, marcada. A experiência fundante da nossa
sociedade é o estupro e a exploração e que isso permanece a partir da colonialidade é uma sociedade de disputa. É aqui, é no mundo inteiro. Então não existe outro caminho senão o da vigilância, senão o da gente construir educação, né, para a democracia. E a educação paraa democracia é essa que junta, né, os mecanismos de resistência, que tem consciência do passado, que aprimora, sofistica a partir das juventudes, né, como é que a gente cria resistência democrática, porque é incontornável, é disputa, porque é sobre projeto de sociedade. Então, que a gente tem a capacidade de vigiar,
né, porque se a gente não tiver essa capacidade, quem não tá feliz com esse projeto vai sempre tentar desmantelá-lo, né? Então é isso. Obrigada. >> Eh, bem, vou começar respondendo a questão da tarifa zero no DF. Eh, gente, é isso, né? Do mesmo jeito que tudo tá em disputa. Qualquer qualquer tarifa zero que você pense de qualquer política, vai do vai de graça ao, né, também vigente passe livre estudantil aqui e mas não só aqui no DF, mas falando especificamente desse contexto, tudo isso é resultado direto da luta. O Ibanês não ia passar. Nossa, que
ideia é legal se as pessoas viajassem de graça, usassem passagem de graça no domingo. Olha só, se a gente não tivesse aberto essa possibilidade justamente, né, pela luta na rua, eh, e por esse enfrentamento. E óbvio que tem outros fatores e conjunturais também, né? A gente tem, enfim, uma falência desse modelo do sistema de transporte que tá aí. Eh, não não tem esse o sistema, a forma como a gente cobra, paga por passageiro hoje é feito para desmoronar assim, é a o que a gente chama de crise da mobilidade. Ele necessariamente, né, você aumenta a
passagem para aumentar o lucro do empresário, menos gente pega ônibus, aí daqui a pouco o empresário vai dizer que não tá lucrando suficiência de novo para sempre nesse ciclo. Eh, então isso vai dar errado, né? Mas e isso abre essa possibilidade desse contexto de um projeto como tarifaz no domingo, né? E nos domingos e feriados. É fraco, é ruim, eh é frágil, né? É um decreto, continua mantendo o lucro do empresário de ônibus, né? Porque não tem uma repensado como que vai eh como se é pago esse esse eh essa tarifa. Tudo verdade. Mas é
bom andar de ônibus de graça no domingo. É bom também, né, gente? E é isso, as possibilidades que uma política como essa, por mais fraca e frágil que ela seja, eh, se criam, né, para as pessoas, não pode ter um efeito desconsiderado, né, assim, agora, óbvio, eh, o projeto do Max tá aí, né, que, aliás, é muito parecido com o projeto que a gente sempre construiu no movimento Passe Livre. A ideia de conselhos territoriais tem tudo a ver com aquela coisa que eu tava falando no começo, né, de como que a gente constrói território na
cidade, porque a ideia da tarifa zero, que a gente sempre trouxe foi não mudar a lógica de operação, eh apagar eh o poder dessas figuras que são, gente, coronéis da cidade, né, assim, os empresários de transporte, não só daqui, mas de todas, né, isso é a a o macunamento, assim, essa essa junção entre os poderes e os empresários da cidade, não é casual, eh, e tá aí em todas as cidades. Então, tinha isso também, sempre teve essa proposta, né, de mudar a lógica de cobrança. Eh, mas tinha essa parte, tem essa parte que é muito
fundamental, que é a parte dos conselhos, porque o que a gente tá dizendo é decidir sobre como a cidade funciona, né, assim, é tentar é que a que a tarifa zero seja uma porta para se decidir como a cidade funciona. É, é claro que vai ser um pouco mais complexo numa cidade grande do que numa cidade pequena. É, mas não é impossível não assim. E gente, orçamento se cria, né? É isso. Não é assim, ai não tem orçamento, não tem sim. Taxa aí um bilionário para você ver o que que acontece com orçamento, né? Assim,
tá? Muda um pouco o sistema, o o sistema de impostos atuais para você ver se não tem orçamento paraa política. O que faz o orçamento existir é a nossa pressão justamente, né, assim. Então, eh, e por isso já respondendo, ah, passe livre conquistou, o MPL conquistou o Passe livre, verdade, eh, o MPL, enfim, vários de nós daqui na rua. Eh, qual é a luta ainda, gente? A, eu tô aqui falando que a gente já ganhou a tarifa zero, mas é mentira, tá? A gente não ganhou ainda não. A gente continua pagando, vou terminar. A gente
continua pagando pelo ônibus, a gente continua, né? Isso não se transformou. O empresário de ônibus ainda tá aí, né? Hoje saiu aqui uma manchete Hadad de novo. Ele tá me perseguindo. Eu não sou eu. Dizendo que já o sem verba foi a capa do Estadão hoje. Sem verba, Lula pede prece para estar fazer em transporte. Nunca imaginei que o Lula ia ser meu companheiro nessa, mas é. A Dad já disse que não há espaço fiscal para proposta. Então a luta tá aí ainda, gente. E é isso, né? Eh, e aí eu não não vou me
alongar mais porque a gente já aparentemente estourou o tempo da mesa, mas eh eu acho que a pergunta da manutenção, né, como mantém, concordo plenamente, não sei assim, né, não mantém. Acho que o que pode manter é a gente manter esse horizonte da luta interminável mesmo, né? E por isso que a gente tem que não só não pensar em, ah, eu não quero incomodar não sei quem, né, ao colocar a palavra raça num documento, mas como que a gente incomoda ao máximo, né? É mudar a lógica, é tentar incomodar o máximo pra gente ir tentando
avançar um pouco esse pêndulo da história pro nosso lado. Obrigado. >> Obrigado, Leila. Gente, eu queria agradecer enormemente. Eu, na verdade, eu nem sei como agradecer vocês três, porque a mesa foi realmente espetacular. Acho que foi um momento histórico, assim que a gente pode dizer, né, professora Marisa aqui pro pro iP, né, pro nosso instituto e e que deu brilho muito grande pro evento também, né? Obrigado mesmo. Eh, eu espero que a gente possa retomar esses diálogos em outros espaços, em outros momentos. Gente, antes de encerrar, eu queria só dizer o seguinte: não vão embora,
por favor, porque daqui a pouquinho, tá, às 11:15, vai começar a mesa de sistematização e debate final, que nós teremos a professora Luciena Tatajiba da Unicamp, a professora Rebeca Abers aqui do IPOL, mediada pela Marcela Rios, né, diretora do Ideia, tá? E depois ao meia:15 nós teremos o encerramento com a ministra Carmen Lúcia do STF, tá bom? Então, o pessoal aqui do apoio só vai mudar a posição da mesa. A gente vai trazer a mesa aqui para cima e a gente já começa a mesa da sistematização. Obrigado mais uma vez. Parabéns para todas.