Análise de "Construção", de Chico Buarque

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Clara MostraLíngua
Neste vídeo, analiso "Construção", de Chico Buarque, que faz sucesso há mais de 40 anos e ainda cont...
Video Transcript:
a construção de chico buarque de hollanda tem quase meio século e continua atual é um inesgotável banco de questões de vestibulares e concursos públicos e outras provas tanta riqueza de significados insignificantes possibilita perguntas de gramática de literatura de história de música construção é prédio em obra obra vende opus opus virou ópera ópera gênero dramático musical que nasceu das tragédias gregas no libreto desta ópera chico conta a história trágica de um obreiro como tantos da construção civil no brasil enquanto a letra vai descrevendo a construção do prédio descreve também a construção da sua própria estrutura poética
é pura metalinguagem o ritmo encontra apoio na métrica de 12 sílabas de seus versos todos coroados por proparoxítonas máquina príncipe beba do tímido essas propor aos sintomas colocadas sempre no final de cada verso produzem o efeito melódico da rima com as metáforas elas constroem e desconstroem a rotina do pedreiro a orquestra quebra a monotonia da repetição rítmica com buzinas estridentes que reclamam do corpo atrapalhando o tráfego que cria o ruído dos andaimes que não param de subir e descer o som do popular a google contrasta com os violinos da orquestra gostou os menores de couro
causa intenção palavras repetidas em ritmo também repetitivo transmitem o tédio daquele cotidiano dramático por natureza seus olhos embotados de cimento e lágrimas naquele dia porém uma nuvem sombria paira sobre a cabeça do pedreiro chico construiu um mau presságio usando o advérbio de modo como mais o verbo ir no imperfeito do subjuntivo como se fosse o efeito é angustiante amor daquela vez como se fosse a última e se for a última a morte ronda como na ópera construção se divide em atos todos dramático o primeiro ato é a despedida amor daquela vez como se fosse a
última beijou sua mulher como se fosse a última e cada filho seu como se fosse único e atravessou a rua com seu passo tímido o segundo até o trabalho subiu a construção como se fosse máquina ergueu no patamar quatro paredes sólidas tijolo com tijolo num desenho mágico seus olhos embotados de cimento e lágrima o terceiro ato é hora do descanso sentou para descansar como se fosse sábado comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe bebeu e soluçou como se funcionar frango dançou e gargalhou como se ouvisse música o quarto ato é o desenlace e
tropeçou no céu como se fosse um bêbado e flutuam no ar como se fosse um pássaro e se acabou no chão feito um pacote flácido agonizou no meio do passeio público morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego chico escancara a desumanização do pedreiro visto pelo capitalismo como mera ferramenta vivo é de paredes morto só atrapalha sua morte em pleno serviço é um estorvo não é uma tragédia morreu na contramão atrapalhando o tráfego atrapalhando público atrapalhando o sábado ea narrativa recomeça as mesmas estrofes voltam à cena porém com a mudança de efeito as propagou-se tunas no fim
dos versos vão se revezando como cubo mágico que formam um desenho diferente a cada gerada um dos resultados desse jogo é o surgimento do sagrado pela simples troca da propor o que se torna único por protótico o filho pródigo é a mais conhecida parábola de jesus tudo em construção desumanizam personagem os novos significados de uma impressão de que ele está enlouquecido mas este verso surpreende com uma repentina a obra bíblica que toca à família do pedreiro e cada filho seu como se fosse o pródigo à narrativa conta a vida do eu lírico de construção representante
de milhões de trabalhadores brasileiros não só pedreiros sempre no mesmo ritmo o autor conta três vezes na história na última ele resume a ópera em uma única troca de sete versos a monótona na repetição reparece um lamento que reclama mudanças mesmo sabendo que elas não viram de repente a monotonia acessa o ritmo fica intenso nervoso é o fim que se aproxima anunciado por três estrofes último verso dessas estrofes lembra o agradecimento do mendigo que recebe uma esmola deus lhe pague o trabalhador desta obra é um despossuído inconformado com a precariedade da sua vida ele denuncia
fingindo agradecer o favor a esmola de deixar nascer de deixá lo sorrir de deixá lo respirar de deixar de existir deus lhe pague ele agradece a cachaça que tem que engolir agradece a desgraça a fumaça que tem que torcer agradece os andaimes que tem que cair deus lhe pague e por fim agradece a carpideira mulher contratada pra chorar em seu velório agradece pelas músicas bicheiras que vão devorar o seu corpo agradece a paz que só a morte lhe dar a deus lhe pague
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