[Música] [Música] C a [Música] quando os gregos pensavam na política o que eles entendiam por política foi alguma coisa que eles próprios inventaram isso não quer dizer que antes antes dos gregos antes dos Romanos não houvesse o exercício do Poder não houvesse governo houvesse autoridade claro que havia né os grandes impérios que existiram antes e depois do mundo grego e do mundo Romano Mas qual era a marca do Poder nesses grandes impérios antigos a marca era a identidade entre o poder e a figura do governante o governante era a Encarnação do Poder ele como pessoa
encarnava nele a autoridade inteira o poder inteiro ele era o autor da lei o autor da recompensa o autor do castigo o autor da Justiça Ou seja a vontade do governante vontade pessoal individual dele era a única lei existente [Música] o que nós podemos dizer não é que não houvesse o poder a autoridade antes dos gregos e dos Romanos peloo a imensidão dos grandes impérios antigos mostra que o poder estava lá né qual é a diferença entretanto dos gregos e Romanos Face a esses grandes impérios a esse grande poder que havia na antiguidade é que
antes dos gregos e dos Romanos a característica do poder era a identificação entre o ocupante do poder e o próprio poder ou seja o governante era o próprio poder Isso quer dizer uma coisa muito simples a vontade do governante a sua vontade privada sua vontade pessoal sua vontade arbitrária né caprichosa o que lhe desse na telha era A Lei e era ela o critério pra guerra pra paz pra vida pra morte pra Justiça pra [Música] injustiça que fizeram os gregos e os romanos eles inventaram a política ou seja eles criaram a ideia de um espaço
onde o poder existe através das leis as leis não se identificam com a vontade dos governantes elas exprimem uma vontade coletiva essa vontade coletiva se exprimiu em público nas assembleias através da deliberação da e do voto ou seja os gregos e os romanos submeteram o poder a um conjunto de instituições e a um conjunto de práticas que fizeram dele algo público que conceria a totalidade dos cidadãos e que era discutida deliberada e votada por eles e portanto eles criaram a esfera pública aquilo que nós chamamos de esfera pública ou seja ninguém se identifica com o
poder a vontade de ninguém é lei e portanto a autoridade é coletiva pública é aquilo que constitui o cidadão [Música] os gregos puderam e depois deles os romanos distinguir com muita clareza a autoridade pública ou autoridade política e autoridade privada e não por acaso a autoridade privada tem um nome muito especial em grego o chefe de família que é aquele que detém a autoridade do espaço privado né e a detém e detém essa autoridade exclusivamente por sua vontade a vontade dele é a lei o chefe de família se chama despotes e é porque autoridade privada
autoridade um espaço privado da família é a autoridade do despotes que é autoridade sobre toos os membros da famía é que a autoridade no espaço privado se chama despótica os gregos diziam quando a autoridade for despótica o espaço público foi tomado pelo espaço privado e a política acabou a condição da política é que não haja despotismo o cristianismo vai criar um problema no campo da política por quê Porque se pros antigos era nesse espaço público que a ética melhor se realizava no momento em que com o cristianismo o espaço público é recusado em nome do
espaço privado né do recinto do coração e da consciência O que acontece no momento em que surgem as autoridades cristãs ou seja como é que vai haver um espaço público Cristão já que a autoridade e a ética no Mundo Cristão são pensadas de maneira privada ou seja Deus é o pai Deus é o senhor os cristãos são a sua família ele é o pastor de um só rebanho vocês vejam todas as metáforas e todas as palavras que indicam a autoridade no Mundo Cristão pertence ao espaço privado é o pai é o senhor né é o
pastor o rebanho como é que isso constituir como um espaço público não não há como constituir como um espaço [Música] [Aplausos] público Nós poderíamos ir enumerando uma série de características do poder eh medieval e portanto do Poder Cristão ou daquilo que a gente pode chamar o poder teológico político pelo qual o governante é uma figura privada o espaço do poder é um espaço privado e a ética é a ética da pessoa é ele que tem que ser educado para as virtudes é ele que não pode ter Vícios é ele que tem que cumprir o dever
porque das qualidades dele dependem as virtudes ou os vícios a felicidade ou a corrupção do reino não existe portanto a esfa política propriamente exe a esfa do Poder mas não esfera da política nãoe esfera pública é essa esfera que a modernidade vai constituir né a partir da queda do antigo regime da queda das monarquias por direito divino da da desmontagem do Poder teológico político e do ressurgimento da ideia de república né primeiro a República Oligárquica depois a república representativa depois a república democrática eh é que se reconfigura o Campo público da [Música] política burgesa é
um acontecimento histórico ela surge de modo bem datado a partir do século XV por aí ela vai se constituindo progressivamente a um projeto Burguês talvez nunca na história do homem esse projeto burguês tenha sido equacionado de maneira tão Clara e tão racional pelos próprios burgueses e nunca Talvez o homem tenha tomado consciência tão aguda do seu andamento dentro desse processo todo ele Hum quer dizer que é algo de bem determinado de outro lado a palavra burgues já oferece uma ambiguidade muito grande chega ser chega a ser usado essa palavra de um modo pejorativo e ainda
em terceiro lugar convém lembrar que quando se fala em burguês nós estamos falando de nós mesmos porque nós somos burgueses pertencemos evidentemente à cultura burguesa não há mais aristocracia mesmo a classe operária no século XX sobretudo se se busca assimilar o diário burguês o conforto burguês todo modo de ser da burguesia quer dizer que é muito curioso porque já por aí se percebe um fato novo é que pela primeira vez passa a existir na história do homem começa a existir realmente Universal mas em verdade o individualismo funciona como um grande a priori o grande pressuposto
que tá na raiz mesmo na base de todo o processo da cultura burguesa o que que eu vou dizer agora vai se vai ser um ser modo de especificar melhor esse pressuposto fundamental que é o individualismo e que configura aquela passagem que certos autor es caracterizam como sendo a a viagem Digamos que vai do teocentrismo medieval para o antropocentrismo dos Tempos Modernos quer dizer não é mais Deus que está no centro de toda a cultura de todas as motivações individuais sociais culturais políticas etc mas passa a ser essa motivação básica passa a ser pura e
simplesmente o próprio homem e é sem exagero então que se pode começar a falar num homem Novo num projeto moderno centrado justamente numa nova imagem do [Música] homem eu colocaria em primeiro lugar para caracterizar esse hom burguês justamente o conceito de autonomia esse homem burguês ele se oferece ele se impõe e ele vence Essa guerra toda Justamente a partir desse conceito de autonomia na filosofia isso se Explicita de modo muito Claro no século X é um processo histórico sempre complexo no século X com a filosofia de descart pela primeira vez na história do Homem nós
encontramos um pensamento que parte de uma experiência absoluta e essa experiência absoluta não é mais a experiência do absoluto ou do Deus essa experiência absoluta ela se situa está situada dentro do do próprio homem que é o cógido erbm eu penso logo existo para decart essa é uma uma certeza absoluta uma evidência absoluta e que vai ser o ponto de partida o fundamento último de toda a realidade da ciência e da filosofia Então a partir daí se entende essa autonomia eu daria alguns exemplos paraar bem claro o que tô falando é por exemplo a ideia
de biografia a biografia tal como nós entendemos não existia no passado grego ou medieval uma biografia como por exemplo de Santo Agostinho não é uma biografia que Deva ser entendida como normalmente se faz as biografias hoje nos tempos burgueses de um modo geral porque a biografia de Santo Agostinho coloca um problema e eu vou voltar depois esse problema que é da relação entre o singular e o Universal concreto Ou seja é o itinerário de uma alma e esse itinerário parte de Aurélio Augostinho digamos uma singularidade bem concreta o indivíduo bem datado no tempo no espaço
para se converter progressivamente ao Universal concreto quer dizer trilhar o caminho da Santidade e atingir de fato o sentido que tem a divindade para o singular quer dizer que de certa maneira a vida dos filósofos ilustres por exemplo de plut tarcas e toda essa essa biografia do passado de certa maneira é sempre um itiner ário através do qual o homem chega a se universalizar de um modo bem concreto e justamente isso cai por terra com advento da biografia burguesa claro que aqui é um itinerário se tomarmos por exemplo um Marco Polo aí não é mais
tanto Deus que funciona Universal concreto que funciona mas é algo de Fantástico que é a experiência que ele teve no Oriente São os fogos de artifícios são os condimentos os temperos picantes essa coisa toda então a pólvora quer dizer um mundo excitante Fantástico que ele traz pro mundo ocidental e é isso que dá Amparo a biografia do Marco Polo Mas aos poucos tudo desaparece o que nós encontramos é simplesmente a biografia de um homem que pode ser até muito comum Hum o que pode ser como a biografia de um Rousseau mas Rousseau já não se
apresenta mais como algo de universal de excepcional de Fantástico coisa que o vale ele se Prende por exemplo muito na autobiografia dele nas confissões a vida Iana a sua vida sensível sexual e coisas assim el não se oferece tanto ele pretende que essas essas experiências todas T um vulto uma importância muito grande mas no fundo ele não se afasta do do plano cotidiano em nome de uma universalidade transcendente o coisa que o [Música] [Aplausos] [Música] vale o segundo exemplo encontraria na pintura na no retrato é muito significativo que os retratos ratos fundamentais centrais digamos porque
pode haver um retratado secundário na margem de um quadro coisa desse tipo mas o que se retrata em todo o passado grego por exemplo medieval é sempre a figura do Universal concreto e um repertório do Universal concretos que são muito reduzidos é o Cristo a Virgem Maria os santos H os heróis os reis e não se vai além disso é como na na Grécia clássica também Deuses deusas não é mesmo os heróis os e não se vai muito além disso né quer dizer sempre Universal concreto e aqui é uma correspondência à aquilo que eu falei
da biografia ou seja esses universais concretos funcionam como paradigmas como modelos como o santo o caso da santidade como modelos que podem devem ser seguido por todos os homens que compõem uma certa comunidade então o príncipe o rei é como que o modelo Vivo para os seus súditos e é justamente essa ideia que cai por terra com advento do homem burguês porque passa-se a fotografar Simplesmente a pessoa comum uma a pessoa que tem Ah dinheiro por exemplo do alguns exemplos daqueles quadros maravilhosos do início da pintura flamenga quando a pintura representava a figura do Cristo
da Ressurreição do Cristo por exemplo e o pintor punha na margem esquerda embaixo quase junto da moldura do quadro ele punha atitude de oração um pequeno casal um comato de vient com o tamanho do cristo um pequeno casal rezando aquelas pessoas não são literalmente ninguém elas são muito bem vestidas e tem dinheiro e pagar o quadro pagaram um artista e essa pessoa que paga o artista que não tem nome é justamente burguês Hum e há toda uma história Belíssima na iconografia nas artes clássicas da renascência italiana e também nos países baixos que mostra Exatamente Essa
evolução quer dizer a figura do Cristo do Santo da virgem começa a entrar aos poucos em decadência e se acentua mais simplesmente por exemplo a mulher do comerciante instalado no seu pequeno interior burguês muito Limpo muito aado muito bem composto e ela com uma pequena balança pesa o ouro conquistado comercio pelo seu marido então começa a surgir essa ideia de que o burguês sem ser santo sem ser Herói Sem ser Rei sem tem uma insignia especial tem apenas o dinheiro mas ele merece também ser fotografado quer dizer retratado um grande p como por ex como
o poder estava marcado pela ética da esfera privada como o poder estava marcado pela ideia de que o governante é que tinha que ser Virtuoso o que acontece com os pensadores que vão criar a ideia da política que vão dizer que existe sim a res pública a coisa pública o espaço público que que eles vão fazer eles vão dizer que o espaço público a res pública poder político não pode ser regido pelos valores do espaço privado portanto pelos valores pelos valores da virtude e eles vão separar e essa grande separação feita porel eles vão separar
o público e o privado dizendo o privado é o campo da ética o público é o campo da política e a política e a ética não tem mais nada em comum queo daí das virtudes do governante o campo da política é regido por uma lógica que é a lógica das relações de força e para que o campo da política não seja o campo da violência e da guerra é preciso lidar com esse campo de forças ou portanto com os conflitos com as divisões que caracterizam a sociedade é preciso lidar com essas divisões com esses conflitos
com essas diferenças de um modo tal que a política não seja guerra que a política não seja a pura força a pura violência mas que ela tenha uma lógica das forças que é encarnada no poder político como um polo que simboliza para o todo da sociedade uma unidade que ela própria não tem né e que se através das instituições e através da Lei e portanto o importante é a qualidade da Lei e a qualidade das instituições a qualidade do direito e da Justiça né a qualidade das decisões e não mais se a pessoa ou as
pessoas que ocupam o campo político são ou não Virtuosas né e a virtude e portanto com ela a ética se torna alguma coisa própria da vida [Música] [Aplausos] [Música] privada mas esse homem que quer impor-se como novo e quer ser dono de si autônomo para isso ele tem que seguir um certo itinerário ou lançar mão de certos recursos e eu vou enumerar algum desses recursos o capitalismo sabe--se que o próprio Max reconhecia que na Idade Média a organização da Igreja era tão forte tão absoluta que ela decidia até mesmo um desenvolvimento da economia qu dizer
em última instância diria Marx não em última instância tudo econômico Mas de repente é uma Instância de ideológica que é a igreja no caso que dá as diretivas Gerais dentro das quais se desdobra a a economia toda ela bem isso é rompido também pelo homem burguês basta lembrar por exemplo que é na Veneza do século XV em que surge o primeiro banco em que se acumula se começa a acumular de fato o capital e a grande transformação que se estabelece aqui agora é simplesmente o seguinte é que a moeda que sempre foi considerada essencialmente um
meio para troca para facilitar a troca a moeda é essencialmente esse meio ela é como que alienada de sua de sua característica Fundamental e a moeda ela passa a ser um fim em si mesmo ela passa a ser uma realidade abstrata no sentido de que ela se desvincula do do conjunto da rede de trocas que é a sua motivação original Mas a partir daqui o capitalismo adquire uma uma espécie de dominação das estruturas sociais todas elas que é surpreendente para a evolução do homem especialmente para a evolução do homem burguês a liberdade tem toda uma
história não existe uma essência supr histórica perene estável da Liberdade A não ser que se queira começar digamos uma espécie de transcendência que é própria do homem o homem não se perde na imanência como animal ele tem consciência das coisas não é mesmo Então essa transcendência lhe dá uma certa superioridade no sentido de que ele pode quase que dispor das coisas de uma ou de outra maneira aqui estaria a origem da Liberdade o burguês porém ele vai elaborar um outro conceito de liberdade e Quem elaborou esse conceito fundamentalmente no ponto de partida essencial é decarte
mais uma vez e de tal maneira que se pode estabel ser uma relação entre a concepção cartesiana do conhecimento e a concepção que ele tem da liberdade e a Inovação de da Liberdade reside em dois pontos em primeiro lugar para ele liberdade e livre arbítrio são sinônimos é a mesma coisa tudo se reduz agora a capacidade que eu ent de escolha e em segundo lugar essa redução ou esse livre arbítrio ele se entende por esse simplesmente a partir daquela autonomia do homem burguês que não não ocorria na Idade Média lá o homem era um súdito
do Rei do Papa do Deus então esse ser súdito o livre arbítrio era como que tolhido por essa subordinação essencial do homem medieval agora quando o homem se torna autônomo ele tem livre arbítrio e livre arbítrio é toda a liberdade esse burguês se torna realmente um senhor isso fundamenta todo o projeto de vida dele ele é autônomo Ele tem ele trabalha é merecedor do que tem ele tem casa própria acumula o seu capital elabora a realidade toda transforma tudo num objeto que ele pode manipular né então se pode perceber que há de fato uma correspondência
entre o modo como se constitui o objeto em decarte um princípio de manipulab bilidade digamos se insere dentro da Essência mesma do objeto e o homem como livre arbitro que vai poder de fato manipular esse objeto constituído construo pelo próprio homem mas há uma última característica e que configura todo o drama do homem burguês um drama que chega a ter Lan de fato de tragédia de certo modo essa última característica que é nova profundamente burguesa é o contrato social é o contrato social porque realmente se cada homem é um indivíduo e realiza a seu modo
o individualismo como é que vai se entender a própria possibilidade de uma vida coletiva gregária social propriamente organizada se cada homem é uma ilha se a minha liberdade é uma frase cartesiana se a minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro como é que vai se organizar a sociedade é um problema pungente e original da burguesia o que tá em causa de fato é ideia que o burguês faz desse outro lado dele que ele não tem e que ele procura suprir pela imaginação através da Utopia né porque o grande problema está aí aí aqui
se percebe a a crise do burguês que começa já no ponto de partida como é que o burguês pode viver de fato coletivamente dentro de uma sociedade Por que que o burguês inventa a sociedade uma Utopia que é um lugar que não tem lugar e que ele nunca Rigor vai conseguir atingir não é mesmo quer dizer a crise do burguês começa já no nascimento do burguês nesse sentido que a dimensão coletiva política do homem de certo modo fica preterida é uma dimensão que fica marginalizada a ética fica prejudicada para voltar o nosso ponto de partida
em nome da afirmação da Moral e e essa moral é cada vez mais coincidente com a subjetividade do homem né Então a partir daí se coloca a questão do contrato social que encheu a biblioteca durante dois séculos mais ou [Música] menos a questão está aí e vejam bem no início quando estava se formando esse projeto burguês todo ele nã surgiu já o primeiro protesto muito forte com thomas thomas Robs né no leviatan L então o o o o thas parte dessa ideia né de que o homem é o lobo do homem o homem sendo lobo
do homem a vida coletiva a vida dois ou a vida plural ela se torna totalmente impossível e Robs é o primeiro que diz não o projeto burguês com palavras dele evidentemente não não com essas minhas o projeto burguês é inexequível ele não pode ser construído não pode ser realizado se o homem é o lobo do homem quer dizer se cada um tá preso em sua casa com seu amur assim por diante com a sua autossuficiência tão radicalmente implantada Então como é que vai se constituir de fato o projeto burguês não [Música] dá a esfera da
sociedade civil que é onde os onde os indivíduos existem é a esfera da vida privada Ora se a sociedade civil é a esfera da vida privada como é que o estado se constitui como esfera pública se o estado surge a partir da sociedade civil para reg a sociedade civil e comandar a sociedade civil ou seja a base do Estado São relações as relações privadas do mercado baseadas por exemplo na lógica da competição Então o que eu estou tentando dizer é o seguinte a sociedade moderna ao criar sociedade civil como o mercado dos contratos de trabalho
da produção das mercadorias e da acumulação do capital e da propriedade privada faz com que a esfera pública que a esfera social seja uma esfera privada seja a esfera dos proprietários privados e portanto Nós não sabemos onde é que o estado vai nascer para ser propriamente esfera pública assim a separação que dizia na esfera pública eu tenho a lógica política e esfera privada eu tenho a lógica ética se complica porque eu tenho aí uma esfera que é pública que é a esfera social na qual os elementos da vida privada estão [Música] presentes nós podemos dizer
que há dois motivos principais para essa enorme dificuldade que existe no mundo moderno no nosso mundo contemporneo para separar o público e o privado e deixar a ética num dos lugares e a política no outro a primeira dificuldade é a seguinte o homem ou seres humanos são diferentes de todas as outras coisas que existem Que diferença é essa todas as coisas que existem Estão submetidas às leis necessárias da natureza a natureza é um enorme sistema de causas e efeitos aquilo que a gente chama de determinismo né na natureza tudo tem causa tudo produz um efeito
e a relação entre a causa e o efeito é uma relação na natureza não existe acaso na natureza não existe jogo na natureza não existe Liberdade ao contrário a marca dos seres humanos é a liberdade os seres humanos não pensam e não agem segundo relações de causa e efeito eles agem escolha por deliberação por decisão eles agem por liberdade eles agem escolhendo os fins das ações que eles realizam das práticas que eles têm dos comportamentos que eles têm e portanto o reino humano ou a esfera humana é diferente do resto da natureza [Música] essa separação
entre a natureza e os humanos se deu a partir de um critério que é fundamental na ética que é a liberdade e a finalidade se a política vai operar com o critério da Liberdade da Justiça das finalidades humanas então há na raiz da política um valor que é ético né esse valor pode ser chamado de liberdade ele pode ser chamado de Justiça né ele pode ser chamado de responsabilidade mas esse valor é ético então ao mesmo tempo em que há todo esse trabalho para separar a ética e a política há toda uma elaboração teórica de
separação entre o homem e a natureza que coloca para a ética e para a política os mesmos fundamentos ou seja elas estão baseadas as duas nas mesmas coisas elas estão baseadas na Liberdade na finalidade na temporalidade humana né ou no fato do homem ser um ser cultural Então vai a separação ética política vai ter que se dar no interior desse Campo comum que é o campo da cultura o campo da história o Campo da civilização essa é uma primeira dificuldade então para separar a ética e a política já que elas possuem o mesmo fundamento só
que a o aparecimento desse fundamento comum entre a ética e a política que é a liberdade vai ao mesmo tempo introduzir um complicador e que vai explicar Afinal porque que é tão difícil a relação entre a ética e a política e esse complicador é um complicador para a ética para a política e para a relação entre elas que complicador é este é o seguinte ao afirmar que todos os homens ou todos os seres humanos são livres é afirmado simultaneamente que por causa disto todos eles são iguais a igualdade deles é a liberdade Mas de fato
na prática essa igualdade não existe muito pelo contrário a sociedade é feita por uma divisão social entre os desiguais e esta desigualdade ferindo portanto a liberdade ferindo aquilo que seria a igualdade introduz para a ética e para a política o problema da violência Ou seja a desigualdade real faz com que fal da Liberdade como o critério da vida ética torna a ética alguma coisa irreal porque a igualdade pela qual Ela poderia funcionar não existe e torna a política incapaz também de realizar a liberdade estô chamando de violência todo ato pelo qual um ser humano é
tratado desprovido da sua humanidade Ele é tratado como se ele fosse uma coisa e nesse sentido nós podemos dizer que há pelo menos três critérios pelos quais nós podemos dizer que a ética e a política se relacionam uma sendo subsídio para a ação da outra subsídio da ética para política primeiro critério a relação entre meios e fins na ética é uma relação na qual não há exercício da violência que que é a violência é tratar um outro ser humano como se ele fosse uma coisa como se ele fosse um objeto tratar um ser humano como
um sujeito e não como um objeto é tratá-lo eticamente se a política na esfera pública For Capaz de tratar os fins políticos através de meios não violentos Isto é não tratando os seres humanos como coisa os sujeitos como objetos nós temos uma política ética segundo critério embora a ética se realize no campo da vida privada o que a ética busca n nessa esfera que lhe é própria é a ideia de que nenhuma autoridade é legítima se ela for despótica se ela for se ela se realizar como expressão da vontade individual e injustificada de alguém nesse
caso é a política que vai ajudar a ética na medida em que o próprio da esfera pública é afastar a autoridade despótica Isto é aquela autoridade que se exerce como uma pesso individual arbitrária acima de todas as outras assim agora a relação vem da política para a ética em que a política auxilia a ética na luta contra as formas arbitrárias de autoridade no interior da vida privada significa por exemplo que a posição do pai da mãe do avô da avó do patrão do chefe não é tão simples e não basta a vontade deles para que
a autoridade deles seja eticamente legítima a política portanto nos ajuda a melhorar a própria ética e o terceiro critério é o critério que vai que pode valer pra ética e pra política que é a redefinição da ideia mesma de liberdade em vez de nós pensarmos a liberdade como o direito de escolha vale a pena pensar a liberdade como o poder de criar o possível Ou seja a liberdade é essa capacidade dos seres humanos de fazer existir o que não existia de inventar o possível de inventar o novo e se a liberdade for pensar dessa maneira
a relação entre a ética e a política pode se dar como criação histórica na Esfera privada na esfera pública estou convencida de que há uma única forma da política compatível com a ética e uma única modalidade da ética compatível com a política essa forma política é a democracia e essa forma ética é a liberdade através dos direitos então como a democracia é o campo da criação dos direitos e como a ética é a afirmação de direitos através do direito fundamental que é o direito à vida e à liberdade a compatibilidade entre a ética e a
política só pode ocorrer quando o campo da política permite o tratamento dos conflitos e quando o campo da ética permite a divulgação dos seus princípios então eu diria que é a possibilidade de dar a ética um conteúdo público e dar a política um conteúdo moral que ocorre na democracia eu acho que não foi por acaso para ir lá no meu ponto de partida não foi por acaso que os inventores da política os gregos considerassem que era só na política que a ética se realizava e por política eles entendiam a democracia como a igualdade perante a
lei a isonomia e o direito a expor discutir e votar a opinião em público que é exoria n então se nós considerarmos que o campo da ética o campo da liberdade e o campo da política é também o campo da Liberdade só uma forma política na qual Esse princípio possa ser realiz é que torna viável uma relação entre a ética e a política o que significa que o ideal ético da visibilidade só pode se realizar na prática política da democracia e vice-versa evidentemente isso seria um ponto de partida isso não é uma conclusão pelo contrário
se assim for nós temos que começar tudo de novo porque nós temos que recomeçar a discutir a desigualdade a violência a mentira a corrupção a privatização e a oficialização estatal das nossas vidas [Música] [Aplausos] [Música] [Música] [Música] [Música] [Música]