A Divina Comédia (Parte II) - Prof. Carlos Tadelle

1.08k views7553 WordsCopy TextShare
Flos Carmeli Vídeos
Na aula de hoje, o Professor Carlos Tadelle aprofunda o tema dos símbolos e significados dos element...
Video Transcript:
[Música] Cristos, Kristos, V. Christos, Chos [Música] em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte.
Amém. Auxílio dos Cristãos, rogai por nós. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, rogai por nós.
São Tomé, rogai por nós. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Hoje, dia de São Tomé, e o meu filho nasceu hoje, e ele tem o nome de Tomé também. Então, por isso, a invocação. Então, a minha intenção era dar continuidade àquela aula que comecei falando do Dante.
Dei uma, mas conforme a gente vai lá, prepara o tema, né? E conforme a hora vai chegando, vai dando aquele choque de realidade e falo: "Eu acho que peguei uma coisa maior do que as minhas mãos. " É o Paraíso.
Rante, é realmente uma coisa. . .
É como eu vi uma tese lá falando: “Como é que você vai elogiar um clássico e você vai criticar o quê? ”. Então, o que sobra para falar?
Então, o que eu vou falar. . .
Eu me inspirei aqui no artigo do professor mesmo, Parí, do Dante. Ele não fala só do Paraíso, faz uma visão geral do Dante, da comédia. Eu vou falar um pouco também, vou falar menos do que o artigo, mas deem uma olhada lá, o artigo vale bem a pena.
Está bem explicado. O título é esse mesmo: "Paraí Dante". Até copiei o subtítulo: "Dante, sua vida, suas obras e seu tempo.
" Eu vou falar bem menos que isso, mas achei que como referência valia manter o título completo. Então, só para rever o que a gente já viu na aula passada sobre os personagens principais da Divina Comédia. Aqui nós temos, em primeiro lugar, o primeiro lugar, primeiro lugar aqui nos meus itens, mas não necessariamente na obra: Virgílio, que representa a razão humana.
Eu vou falar um pouco melhor disso, então só aceitem por enquanto. Beatriz representa a sabedoria divina e o Dante, que representa a humanidade. O Virgílio, ele vai ser, como eu falei, a razão humana; vai ser o personagem que vai guiar o Dante.
Mas ele também pode representar a filosofia, aquela filosofia natural que guia o homem sem a revelação. Assim como o Aristóteles chegou até o conhecimento do ato puro, falando de Deus, a razão e a filosofia também podem guiar o homem até um certo ponto, a filosofia natural e correta, para que ele se dirija ao caminho verdadeiro, de certa forma, sem a revelação, seguindo a lei natural. Então, Virgílio representa isso também, pelo menos numa visão boa da comédia.
Claro que, se vocês lembrarem lá da primeira aula, eu disse que a Divina Comédia, e aí nos próprios ditos dos autores da época e do próprio filho do Dante, tem ao mesmo tempo quatro sentidos: tem o sentido literal e os alegóricos. E, apesar de ele representar isso, ele também pode representar outras coisas, como, por exemplo, claramente, ele é aquele que inicia o Dante naquele caminho para conhecer, para ele se salvar. Mas salvar do quê?
A gente viu que ele estava perdido na selva escura e ele diz que o caminho verdadeiro havia sumido. Não que ele tinha se perdido, o caminho tinha sumido. Então, o Virgílio leva ele a uma viagem.
O próprio tema da viagem já é estranho, obviamente. Desculpa, na primeira aula, quais são os três sentidos da alegoria? São os mesmos da Sagrada Escritura, né?
Ah, tá, são iguaizinhos. Então, tem o. .
. agora me perdi, mas é o literal, tem o moral, tem o místico e o anagógico, exatamente. São exatamente os mesmos, só que aqui ele dá uma, obviamente, uma distorcida, né?
Nesse sentido, e aqui a gente vê essa viagem, que representa essa iniciação. O tema da viagem às vezes, e a gente vê, é bem caro para toda a iniciação. A gente vê várias obras que falam de viagens e, às vezes, a gente não percebe que ele está falando de uma iniciação.
Às vezes, mesmo autores que são conhecidos falam: "Não, ele está falando simplesmente de uma viagem, não tem nada de mal nisso. " Como, por exemplo, Júlio Verne. Ele fala de "Viagem ao Centro da Terra", "20.
000 Léguas Submarinas"; tudo que mergulha vai para a escuridão, para conhecer algo. É um tema recorrente, mas sempre o mesmo tema. Não é estranho que seja assim que ele tem que ir para as trevas para depois.
. . ou seja, tem que ir para as trevas para ter a luz.
Então, obviamente, não é só uma coincidência. Eles usam o mesmo tema da iniciação, iniciação mística, no sentido gnóstico, no sentido ruim. E aqui o Virgílio tem aquela parte que a gente comentou da Medusa, que quando ele está, quando ele entra em um dos círculos do Inferno, depois eu aqui eu pulei, né?
Várias partes, ele já está aqui no Inferno, ele está na Cidadela. Eles não conseguem passar porque os diabos travam a passagem para eles. Então, o Virgílio diz que o anjo vai vir abrir o caminho para eles, mas enquanto isso, eles esperam.
Então, os demônios aparecem e ameaçam a eles. Os demônios são representados pelas Fúrias e elas chamam a Gorgona, a Medusa, para que acabe com o Dante. E o que é a Medusa?
A Medusa é aquela górgona que tem os cabelos em forma de serpente e que tudo o que ela olha petrifica. Isso representa, num sentido gnóstico, que a Medusa representa a razão humana. Por quê?
Porque é a razão humana que petrifica. Ah, eu vejo uma jarra, eu vejo um mouse, eu vejo uma mesa; a minha mente abstrai essa ideia e tem, assim, uma ideia, por assim dizer, petrificada. Ela petrifica o mundo.
Isso, para os gnósticos, é ruim. Como eu tiro essa foto? Que eu tiro para eles?
É a pedra. Pronto! Você petrificou essa ideia e ela está presa.
A Medusa é exatamente essa razão humana que petrifica. Por isso, os cabelos dela, que representam os pensamentos humanos, são serpentes. É um símbolo de que os pensamentos são ruins.
E quem protege Dante contra a Medusa? O Virgílio. O Virgílio manda que Dante tampe os olhos com as mãos e ele mesmo tampa, colocando as mãos em cima das mãos de Dante e tampando os olhos dele.
Então, como é que Virgílio pode ser a razão humana se a Medusa é a razão humana? Então, aqui há uma contradição entre os símbolos. Assim, o Virgílio, a gente percebe, não é puramente a razão humana; é mais esse conhecimento gnóstico pagão.
E aqui, se a gente vê na Eneida, tem uma, não por coincidência, que Eneias, na Eneida escrita por Virgílio, também faz uma viagem ao inferno e lá ele conversa com o pai dele, Anquises. Uma das coisas que ele pergunta lá é o destino das almas. Ah, mas por que as almas voltam?
E o pai dele explica; Anquises explica para Eneias sobre esse retorno, que as almas vão para o inferno, depois do inferno, elas pagam os pecados, vão para os Campos Elíseos, onde têm um certo alívio, vão para o Rio Lethe, onde um Deus as leva para esquecerem tudo, e daí elas voltam para os corpos. Ah, então o pai explica isso, explica uma transmigração das almas. Pô, não lembrava que Picó?
Sim, tem! Então, ele fala dessa reencarnação da alma que passa por uma purgação e volta para a Terra, que é um tema bem gnóstico mesmo, uma que vai, por assim dizer, evoluindo até chegar à divindade. Então, Virgílio escreve isso na Eneida, que é a inspiração de Dante, desculpa, dessa que é a inspiração de Dante aqui para A Divina Comédia.
Por isso, ele escolhe Virgílio para ser seu guia na viagem. E aqui falando dos outros personagens, só passando, coloquei três personagens; alguns autores colocam um quarto personagem, que é um personagem oculto. Então, falei do Virgílio, falei da Beatriz, falei do próprio Dante, que é um personagem da obra dele.
Outros autores colocam Deus como personagem oculto, porque ele está, de certa forma, sempre presente, e a gente vai ver isso mais para frente. Eu vou comentar quando isso acontecer. Então, se coloca também esse quarto personagem principal, Deus, do qual Dante muitas vezes é, é contra como um personagem.
Aqui vale a pena falar da Beatriz. A Beatriz, apesar de ter falado na outra aula, falo aqui só para relembrar: o nome dela já é estranho, né? Lembrando aqui do que era costume nessa época, que autores escolhessem uma dama que não era real para fazerem suas poesias.
Dante não é o primeiro a fazer isso, mas tem muita controvérsia aqui se Beatriz existiu ou não, se foi uma mulher de verdade ou não. Outros autores claramente elegem uma dama que não é real, inclusive dando nomes para ela, M. Dama Inteligência e tal, fica claro que não é real.
Dante sempre se pergunta: "mas Beatriz existiu ou não? " Ele a coloca como a Beatriz que é a sabedoria divina. Esse final, o sufixo, né, "Beatrix", é da ideia de alguma coisa geradora, né, de a aquela que produz beatitude.
Então, mais tarde a gente também vai ver isso aqui e eu vou retomar, mas por enquanto, ficamos com o Virgílio, só para essa explicação de que ele representa a razão humana, mas não tanto assim. E para dar um contexto aqui do Dante, eu também falei da vida do Dante na aula passada, falei dos pais dele, da questão política de Florença. Então, essa parte eu não vou retomar, mas uma parte que eu não falei é a questão dos franciscanos.
Dante era terceiro franciscano, alguns autores até dizem que ele foi noviço, mas parece que não é consenso; então, não parece que não é verdade, só um autor diz isso de vários. Mas ele onde estudou, na Santa Croce, onde muitos franciscanos davam aula lá, inclusive franciscanos famosos. O que é a Santa Croce?
É uma universidade em Florença, sabia? Mas não sei se é uma universidade, mas porque desde criança ele estudou lá. Não sei se é um convento; também tinha para crianças, aulas, então, ele estudou lá desde criança.
E essa época, que é 1200 e pouco, quase um pouco antes de 1300, lá, os franciscanos estavam em crise, já bastante crise, na verdade. Eles entram em crise logo depois da morte de São Francisco. São Francisco morreu em 1226 e em 1300 Dante tinha 35 anos, mais ou menos.
Então, logo após a morte de São Francisco, já teve grupos de franciscanos pedindo para aliviar a regra de São Francisco, que era muito dura. Outros grupos achando que isso era um absurdo falam: "Imagina, é aliviar a regra! Vocês são fracos, vocês estão errados!
Não tem, tem a regra, tem que ser mais dura ainda. " Então, teve erros dos dois lados: gente querendo relaxar a regra e gente querendo que a regra fosse mais dura. Por exemplo, dizendo que todos tinham que ser pobres, inclusive chegando ao extremo de alguns grupos franciscanos, heréticos, né?
Não propriamente franciscanos, né? Dizerem que todos têm que ser pobres e matavam pessoas que não eram pobres, matavam os ricos, por assim dizer (não literalmente). Então, teve uma gama de erros bem grande entre os franciscanos, esses e, inclusive, os espirituais.
Eles davam aula nessa Santa Croce onde Dante estudou. Eles foram condenados por vários papas; a gente vê até essa condenação em outras obras. Por exemplo, no "Nome da Rosa", aparece lá a condenação dos franciscanos pelo Papa João XXII.
Todos os grupos franciscanos, de um lado e de outro, são condenados. É o mesmo que condenou também, né? Sim, João XXII condenou todo mundo, até ele mesmo.
Ele exatamente falava isso, é exatamente porque ele fez o que ele falou: "Eu não lembro exatamente qual era, acho que ele falava do que a pessoa conduzia as pessoas. Morriam e não iam diretamente pro céu. " Não, céu é uma espécie de dormição.
Ele falou isso num sermão, só que tá errado, obviamente. Aí, depois, ele pegou e condenou essa tese; ele se corrigiu, por assim dizer, se condenando, mas ele condenou a tese herética porque realmente é herético. E também uma coisa que estava muito presente eram as teses de Joaquim de Fiore, que inclusive Dante colocou no Paraíso.
Joaquim falou: "O Monte de Aquino é dotado de espírito profético. " Então, ele faz um elogio a Joaquim de Fiore. Quem não lembra de Joaquim de Fiore?
Ele é responsável, ele é pai de várias heresias que têm a mesma ideia de que há divisões no mundo. Ele coloca, ele diz que a cada 42 gerações o mundo passa por um novo reino. Então, eu teria o Reino do Pai, que duraria 42 gerações; depois, o Reino do Filho, que é a Igreja, que começa com Cristo, era franciscano.
Mais 42 gerações, depois do Reino do Filho, que seria mais ou menos em 1260, segundo a tese dele, teria o Reino do Espírito Santo, que seria o reino do amor, então livre da Lei. Essa tese fez muito sucesso; tem vários autores que reescreveram ela de outra forma. Vocês veem ela até no.
. . Quer dizer, aqui tem a primeira era, a segunda era, a terceira era, que é o Reino do Amor.
Então, por exemplo, vocês devem lembrar do Primeiro Reich, o Segundo Reich, o Terceiro Reich? É baseado em Joaquim de Fiore. Sim, mas a influência de Joaquim de Fiore é gigantesca.
A gente vê esse milenarismo desse Reino de Amor, que vem depois de durar mil anos, de várias formas. Aí, né? E como eu disse, Dante colocou Joaquim de Fiore no céu.
E não é porque é uma ignorância; Joaquim de Fiore foi condenado. A tese dele foi condenada como herética, então não é uma ignorância do Dante. Não, essa tese era errada.
E é baseada nessa tese, chegou ao término da segunda era, que é o Reino do Filho, para iniciar a terceira era, que é o Reino do Espírito Santo, o Reino do Amor. Aconteceria algo inusitado: viria o Anticristo. A Beatriz, que é aquela que produz a beatitude dos homens, ela se corromperia e se tornaria a Meretriz do Apocalipse, e depois disso, ela seria vencida.
O Anticristo seria vencido. E aí, daria início ao Reino do Espírito Santo. A gente vê que Dante coloca isso claramente quando ele fala, lá no.
. . Quando ele vai começar no Paraíso, ele fala da Beatriz, que é carregada numa carroça, por um animal de duas naturezas, que representa Cristo, precedido pelos livros do Antigo e do Novo Testamento.
Então, tem toda uma coisa estranha para uma mulher, teoricamente, para quem defende que Beatriz é uma mulher comum. Então, de repente, a carroça, que é carregada por Cristo, com a Beatriz em cima, um gigante sobe na carroça. Vem uma águia imperial e saca as asas, a carroça fica cheia de penas e afunda.
A carroça se transforma numa espécie de monstro. E ela beija o gigante e se transforma. Então, ela representa exatamente a Igreja que se corrompe com a doação de Constantino, né?
A águia imperial representa que derrama essas penas na carroça, representa a doação de Constantino que corrompe a Igreja. E a partir daí, ela se torna a Meretriz do Apocalipse. Essa é a tese baseada em Joaquim de Fiore que Dante defendia.
Dante coloca essa figura na Divina Comédia. Então, daí a gente tem a corrupção da Igreja. A Igreja, então, ela não pode ser rica; a Igreja tem que ser pobre.
Então, era a condenação da riqueza da Igreja. A Igreja tem que ser pobre e tem que ser submissa ao Estado. Ela não tem que ter supremacia sobre o Estado; o Estado é que tem que ter supremacia sobre a Igreja.
A Igreja se torna simplesmente uma Igreja espiritual. Tudo bem, então, vamos lá, voltando aqui na Comédia, na Divina Comédia. Então, a Divina Comédia, ela já estranha.
. . Pelo título dele, você fala para uma pessoa que não conhece a Divina Comédia.
Pessoal, tem esse nome por chama comédia; ela é engraçada. Muitas pessoas se perguntam: "Realmente isso? " E não é.
Hoje, na época, o nome já causou estranheza. Se bem que na época ela não chamava Divina Comédia; o Dante deu o nome dela de comédia. O "Divina" vai ser colocado a posteriori.
Então, o próprio Dante escreve para justificar o título. Ele fala que, por comédia, ele quis dizer que a sua obra não era uma obra, como uma epopeia, uma grande obra. Então, eu dei um título genérico e inferior para ela: comédia.
Mas ele foi ainda pressionado; ele mesmo achou que a resposta não era muito boa. Ele falou também que, porque a comédia na Idade Média, esse título genérico, comédia, esse estilo representa uma obra de ficção que tem um final feliz. Então, essa é a resposta do próprio Dante para esses questionamentos.
Então, ele deu aquela primeira resposta e depois dá essa segunda resposta, falando que a minha obra tem um final feliz. Então, eu quis dar o nome dela de comédia. Mais tarde, outros autores vão colocar o nome de Divina, devido ao valor dela.
No entanto, para fazer uma obra completa, o que é uma obra completa? Quando a gente pensa na Idade Média, exatamente na época em que viveu Dante — ele viveu no apogeu da Idade Média, ou seja, há pouco tempo reinava São Luís, e há pouco tempo ensinava e pregava São Tomás de Aquino e São Boaventura, que morreram —, vai começar a decadência. Então, ele está bem no apogeu da Idade Média mesmo.
O que se dizia bastante aqui era aquela ideia da coruja e do rinoceronte. Isso era um tema bastante discutido na Idade Média. A filosofia, embora bastante interessante e precisa, é, no entanto, seca.
A poesia é agradável, mas é imprecisa; ela não explica muito bem. E o medieval tinha o interesse de juntar as duas coisas. Isso estava muito na alma do medieval.
Diz-se que nunca foi possível fazer isso; nunca teve um autor que conseguiu juntar, por assim dizer, São Tomás e Santo Agostinho, ou Aristóteles e Platão, numa coisa só. Mas não é tão verdade. É verdade que não teve uma obra assim, no entanto, uma obra literária.
Quando o medieval conhece, vindo do Oriente, a rosa, que é uma flor que eles gostaram muito, era muito bonita, tinha um cheiro muito agradável, mas morria logo. E eles conheciam a pedra, que era forte, dava para construir prédios, mas era seca e não tinha muito, não era muito agradável. E o medieval pega e junta as duas coisas e faz a roseta, faz a catedral.
Sim, eles se juntaram; foram capazes de juntar as duas coisas. Na catedral, a catedral junta os dois: é forte, é alta, é de pedra; no entanto, ela tem as rosáceas, que são agradáveis como uma poesia que ensina o povo nos seus vitrais e mesmo nos afrescos, de tudo ensina, desde a criancinha até o filósofo teólogo, toda a doutrina da igreja, e também coisas mais comuns, como até a astronomia, que se colocavam nas catedrais. Então sim, o medieval conseguiu juntar as duas coisas.
Por exemplo, é verdade que faltou uma obra; o Dante queria fazer isso numa obra literária: juntar as duas coisas, a filosofia e a poesia, em uma só. Ele conseguiu, pena que não pro lado certo. Apesar de a Divina Comédia ter muita coisa verdadeira, muita coisa bonita e ensinar bastante, ele não era tão ortodoxo assim.
Tem muito de cor e muito de rinoceronte. Isso tem muito dos dois, mas também tem muito veneno misturado. Mas o tema aqui não é tanto para, neste momento, pelo menos, não é.
Eu falei que ia falar do paraíso, né? E não falei nada, só falei. Então, vamos falar um pouquinho do paraíso, pelo menos.
E por que eu falei da catedral? Porque tem muito a ver com um tema que também era caro pros medievais, principalmente a escola de São Vítor, baseado nas ideias de uma pessoa que não era boa, mas que se acreditava que era boa, que era o pseudo-Dionísio. Nessa época, hoje nós chamamos de pseudo-Dionísio; na época, eles falavam Dionísio, ou mesmo São Dionísio, que eles acreditavam ser o discípulo de São Paulo que escreveu e ele escreveu fingindo ser Dionísio.
Então, ele influenciou bastante. O único que deu uma certa corrigida, assim, mesmo assim, de forma velada, foi São Tomás. Ele, na verdade, corrigiu e não falou mais nada; falou: "aquele erra ponto".
Mas tem essa ideia aqui correta, que é exatamente da luz. Não uma ideia simplesmente dele, uma ideia original do pseudo-Dionísio, mas já está na Sagrada Escritura, na epístola de São João, por exemplo, que fala que Deus é luz. E é por isso que a catedral é tão importante, a luz, né?
Pros vitrais. Mas aqui, Hugo de São Vítor vai desenvolver essa ideia da luz e doçura. O que significa isso?
Ele fala que se o homem é formado de corpo e alma, o paraíso, de certa forma, tem que agradar as duas partes. Porque nós não somos anjos enfiados em uma matéria; nós somos corpo e alma. Isso é o homem.
Então, nós precisamos das duas coisas, segundo ele: luz e doçura. Assim, a felicidade humana depende da posse da luz e da doçura. O que é a luz?
A luz é a verdade. O que é a doçura? A doçura é a proporcionalidade ao nosso corpo.
Aqui está a passagem, né? Então, no céu, nós precisamos ter a posse de Deus, porque Deus é luz. Deus é a verdade.
Então, Ele é da nossa inteligência e isso agrada a nossa alma. Como nós não estamos no céu, aquilo que nos agrada também é o que nós queremos. Então, nossa inteligência e vontade não têm e vão amar aquilo que ela vê, né?
Que é Deus. Então, isso vai atender à luz, à verdade de Deus, atender à nossa inteligência e vontade. Mas e as outras partes?
Ah, calma aí, vamos seguindo ainda com o e aqui, falando do verbo, né? O que é o verbo, segundo o próprio Credo? "Lum de lumine" é a luz da luz e, por meio do verbo, tudo foi feito.
Então, Deus é Cristo, né? A segunda pessoa da Santíssima Trindade. Na verdade, o que é o verbo?
É Ele mesmo que disse a verdade, né? "Ego sum Lux mundi", eu sou a luz do mundo. Então, Ele é a verdade, Ele é a luz do mundo.
Então, só para deixar claro que essa luz é Deus, essa luz é o verbo, né? Que é luz de luz. E a doçura?
O corpo humano precisa da proporção. Tudo que é desproporcional é ruim para nosso corpo. Ah, o que é bom pra gente?
Pensando no corpo, água é bom. Água é boa, depende demais. Até a água faz mal de menos, também faz mal, então tem que ser tudo proporcional.
Isso é o que Goodson Vito chama de "dossa", essa proporção. Enquanto a luz é a verdade, a dossa é a proporção, essa beleza que agrada. O que agrada à nossa sensibilidade?
Então, a gente já viu a verdade, a inteligência e vontade, e agora a sensibilidade. Por exemplo, a música. A música, o que é?
Não é uma proporção? Já dizia Pitágoras isso aqui há muito tempo: a música é a proporção. Aqui, exatamente, proporção mesmo, uma proporção matemática, uma proporção sonora que nos é agradável.
Então, essa é uma tese bastante comentada, bastante repetida. No céu, tem que ter luz e doçura, e Dante repete isso e assume isso na Comédia. O céu, o Paraíso de Dante, é formado de luz e doçura.
Aqui, ele vai repetir várias vezes. Eu não coloquei nenhum trecho aqui, mas ele tem várias repetições que ele fala de luz e doçura, luz e doçura. Então, ele vai repetir bastante essa questão.
Então, só agora, só falando. . .
Como eu não falei nada, eu só falei do Dante, falei da parte política, eu falei pouquíssimo da obra em si, né? Da outra vez, eu não trouxe uma imagem. Agora, trago aqui só para ver como Dante imaginava essa viagem que ele fez, né?
Do inferno pro purgatório até o Paraíso. Mais ou menos aqui, eu peguei uma imagem que era livre de direitos autorais. Então, se depois vocês acharem uma imagem melhor, fiquem à vontade.
Só peguei essa aí por causa disso. Eu comentei da outra vez que, quando Lúcifer foi expulso do Paraíso, ele foi jogado na Terra com tanta força que ele fez um buraco na Terra e produziu o inferno. Esse funil, ou essa, como Dante fala, essa montanha invertida, onde em cima a gente tem o primeiro ciclo do círculo do inferno, que tem mais pecadores, mas também são aqueles que cometeram pecados menos graves.
No caso aqui, são pecadores que cometeram pecados contra a luxúria e são aqueles que pecaram contra a pureza. Até o centro, que é onde está Lúcifer, e os traidores, que são os piores pecadores para Dante. Quando Lúcifer fez esse buraco na Terra, que foi em Jerusalém, do outro lado da Terra, porque, como eu comentei lá na aula passada, a Terra, para eles, é um globo.
Então, essa história de que os medievais acreditavam que a Terra era chata é uma bobagem. Então, Lúcifer cai em Jerusalém, faz um buraco que vai até o centro da Terra. Esse deslocamento de terra faz um calombo do outro lado da Terra, uma parte antípoda a Jerusalém.
Óbvio que nem Dante acreditava literalmente nisso, não. Ou melhor, provavelmente não. Mas coloca-se assim como um símbolo.
Então, do outro lado se produz uma montanha que é exatamente a montanha do purgatório. Aqui, mesmo acaso, eu peguei uma imagem livre de direitos autorais. Então, aqui a pessoa vai subindo a montanha.
Percebam que ela é espiralada. A pessoa vai subindo e vai se purificando. Ela tem o anti-purgatório, onde ela tem que passar um tempo esperando.
Depois, ela tem uma licença para passar. Ela vai subindo. Um anjo na entrada do purgatório coloca lá sete "P"s na testa da pessoa que vai pagar os pecados, né?
Cada um representando um vício capital. E conforme a pessoa vai subindo os círculos, ela vai se purgando, vai limpando esses pecados. Até, quando ela chega no topo, que tem o Paraíso terrestre, ela está tão leve, tão leve que sobe aos céus, por assim dizer.
Por estar tão leve, ela acaba subindo. E como que é o céu, o Paraíso, né? Aí, no centro, está a Terra, e estão vendo que é um sistema solar, exatamente o sistema solar segundo Tolomeu.
Então, aqui, nós no centro, a Terra. Depois, a lua Mercúrio e assim os outros planetas. Então, ele considera que isso aqui são os círculos do paraíso.
É então conforme, quanto mais alto, mais beata, mais santa a alma é. No círculo maior, ela vai ficar e até se aproximar mais de Deus. Então, só para não deixar passar alguma coisa da obra, contar alguma historinha para não ficar tão chato, vamos voltar agora para a obra.
Eu escolhi aqui dois cantos para comentar: um do Inferno e um do Paraíso. Então, no Inferno, eu escolhi o canto quinto. O canto lá anterior normalmente fala do Limbo.
Antes disso, a gente já comentou bastante, já também é bastante comentado o canto onde Virgílio mora. Então, a gente vai para o próximo, que é propriamente onde começa o Inferno dos condenados, aqueles que pecaram. Logo no início, ele tem que passar — Dante tem toda a história lá que ele tem que passar pelo rio, e Caronte não quer levar ele.
Mas ele acaba passando; acaba passando, não se diz como, mas ele passa. Mas ele não passa pela barca de Caronte, porque pela barca de Caronte só podem passar os condenados. Como ele passa, não se sabe; ele desmaia e acorda do outro lado.
E, do outro lado, ele vai encontrar o juiz do Inferno. Quem é o juiz do Inferno? Minos, o rei Minos, aquele lá do Minotauro.
Vai ser esse juiz que vai julgar para onde vai a alma do condenado. Então, ele coloca Minos como se fosse um diabo, um demônio gigante, e alguns autores falam que o Dante aqui perdeu a noção de praticidade, porque o Minos, conforme a pessoa diz os pecados que ela tem, o Minos diabo tem uma cauda gigante. Ele pega e dá tantas voltas no corpo dele com a própria cauda para dizer em que círculo a pessoa vai ser jogada no Inferno.
Por exemplo, se ele dá uma volta com a cauda em volta dele, ele vai para o primeiro círculo do Inferno; duas voltas, ele vai para o segundo círculo do Inferno, e assim vai. Mas, obviamente, não é que ele perdeu a noção de praticidade. Ah, é pouco prático.
É, mas o Dante não quer fazer uma coisa bonita. É o Inferno; no Inferno, tudo é feio. Ele tem que colocar uma coisa feia realmente.
Então, ele coloca Minos fazendo esse malabarismo com a cauda para ser uma coisa realmente feia, digna do Inferno. Então, Minos fala contra ele: “Onde você está? Onde você pensa que está indo?
Você acha que entrar, só porque entrar é fácil? Você acha que sair é fácil também? Entra aí.
” Aí o Virgílio, que está com Dante, já começa a tremer; ele não quer seguir, né? E o Virgílio dá uma bronca no Minos e fala: “Você quer impedir nossa passagem? Nossa passagem foi decidida pelo alto.
Você não pode, aqui você não tem direito nenhum, você não tem poder nenhum. ” E é interessante; alguns autores comentam, né, como o lembra que o autor é o Dante, o personagem é o Dante, mas o autor é o Dante também. Então, quem disse pela boca de Virgílio essas palavras para Minos, dizendo que ele ficar quieto, foi o Dante também.
Mas ele se coloca como medroso, alguém que treme. Por quê? Porque, de novo, é o Inferno; ele tem que tremer, ele tem que ter medo do Inferno para que a gente perceba que é uma coisa que tem que ter medo.
Então, é, sem dúvida, uma genialidade do Dante se colocar como personagem e se colocar reagindo dessa forma, tremendo com o Inferno. Mas vamos lá. Então, ele vai para o primeiro círculo, que é o círculo dos luxuriosos.
Então, lá ele encontra vários personagens famosos. Aqui eu coloquei Semíramis, Dido, Cleópatra, Helena, Quícles, Páris e Tristão. São várias pessoas que pecaram contra a pureza.
Aqui, a Dido, eu não sei se vocês lembram, é a rainha de Cartago que encontrou Enéas quando Enéas foi para Cartago. Então, todos eles pecaram contra a pureza e, por isso, coloca eles nesse primeiro círculo. Aqui, o Páris também vale, e a própria Helena, né?
Helena de Tróia. Estão aqui nesse círculo, mas tem duas almas que Dante olha e chamam atenção dele. Primeiro, porque ele conhece a história delas e, segundo, porque elas chamam atenção porque estão juntas, uma grudada na outra, sempre unidas e não separam.
Aí, o que é esse círculo? Eu não expliquei. Nesse círculo, as almas são jogadas como folhas por um vento impetuoso, uma espécie de furacão que joga elas para um lado e para o outro; elas não têm poder nenhum, elas são jogadas como folhas nesse vento.
Exatamente porque não se controlaram em vida, agora elas são agitadas como folhas ao vento. Então, ele vê essas duas almas que estão juntas sendo jogadas para lá e para cá nesse vento, nessa tempestade. Ele fala: “Eu gostaria”, fala para Virgílio, “eu gostaria de falar com aquelas duas almas.
” E Virgílio fala para ele: “Então, chama elas, mas chama elas falando do amor delas. ” Então, eu não lembro agora exatamente as palavras, mas Dante chama elas falando do amor que uniu elas. E, então, elas se aproximam dele por causa das palavras bonitas de Dante e falam: “Ah, se nós fôssemos amigos do Rei do Universo, nós rezaríamos por ti.
” Que você tivesse paz! O que é um absurdo, né? Umas almas do inferno.
. . Não, não, sempre vão ter raiva de Deus.
Elas não agiriam assim nunca. Mas elas se apresentam como. .
. é melhor, elas não dizem o nome delas. O Dante as reconhece; ela sabe que ele sabe que são Francesco e Francesca.
Desculpa, Francesca e Paulo. São dois personagens da vida real que ele conhece e que tiveram um fim trágico. Então ele pede para conhecer a história deles.
O que acontece? A história deles é real. Eu não sei muitos detalhes, mas eu sei que a Francesca vai se casar.
Se eu não me engano, ele era duque; eu não me lembro agora, mas era lá da Itália, de Florença. Eles mandam, e ela vem numa caravana para ele, pois está prometida. Quando chega a caravana do noivo, sai o Paulo, que é irmão do noivo.
O noivo não vai apresentá-la, então, a primeira pessoa que ela vê é o futuro cunhado, que é um rapaz jovem e forte. Então, por assim dizer, a história insinua que ela se apaixona pelo cunhado. Depois, o marido dela era corcunda, tinha problemas de saúde.
Então, também tem essa questão, né? Mas ela se casa e passa muito tempo com o cunhado. Então, Dante quer saber como eles pecaram; quer saber o que fizeram, o que os levou ao inferno.
Então, ela começa a contar a história dela. Ela diz que eles estavam lendo juntos, isentos de malícia. Diz ela que estavam lendo um livro de cavalaria, exatamente a história de uma das histórias do Rei Artur, que fala sobre a história da Guinevere e do Lancelote.
Na história, Guinevere e Lancelote estão lendo juntos, estão muito próximos. Na história do Rei Artur, acontece um adultério entre Guinevere e Lancelote. Mas, nesse momento em que estão juntos, passa um outro cavaleiro da corte do Rei Artur, que se chama Galeoto.
Ele olha para os dois, vê a proximidade deles e pergunta: "Por que você não a beija logo? " falando para Lancelote, referindo-se à Guinevere. Exatamente, eles estão lendo esse trecho e, naquele momento, eles param de ler e não leem mais naquele dia.
Ela diz: "Galeoto, o livro e seu autor". Ou seja, ele agiu mal, induzindo-os ao adultério. O livro e o autor do livro, Dante coloca isso na boca da Francesca.
Então, eles são pegos em adultério e o marido dela mata os dois ao mesmo tempo. E ela não conta essa parte. Ela conta até aí.
Mas aí, o Paulo não fala nada; ele só começa a chorar, chorar desesperadamente. Então, nesse momento, Dante fica tão cheio de piedade pelos dois que ele desmaia. Ele coloca "E caiu como um corpo morto".
É bonito, né? O verso porque mostra a queda; parece algo duro que cai. O "E caiu como um corpo morto" dá essa impressão, né?
É interessante, mas é de novo estranho ter piedade por alguém que está no inferno. E aí, quem comenta isso é o que fala do outro personagem, que é Deus. Deus coloca eles no inferno, e Dante se coloca, de certa forma, contra Deus, porque tendo piedade dos dois que estão no inferno, justamente por justiça, porque se eles estão lá é porque morreram em pecado.
Eles escolheram isso, então ele se coloca contra Deus nesse momento, e ele desmaia. E aí, esse canto acaba dessa forma. Agora, vamos falar de um canto do Paraíso.
Aqui tem todo o inferno pela frente; obviamente, não vou falar da história. Tem todo o purgatório. A gente vai pular tudo e vou falar de mais um canto do Paraíso, só para passar uma partezinha da história.
Vamos falar do Canto três do Paraíso. Então, Dante vai passar por todo o inferno, vai passar pelo purgatório, vai subir. Ah, uma coisa que eu queria falar aqui, né?
Quando Dante chega no Paraíso terrestre, que ele está livre dos pecados dele porque ele também pagou os pecados dele, subindo, o anjo colocou na testa dele os sete P's. E conforme ia passando, cada porta era cuidada por um anjo. O anjo passava a asa e apagava um P, significando que ele tinha se purgado daquele pecado.
Aqui eu não comento nada; leiam, vale a pena. Ele chega no Paraíso terrestre já leve. Então ele sobe aos céus.
Virgílio não pode acompanhá-lo; Virgílio fica na terra. E, a partir desse momento, quem vai guiá-lo é Beatriz. Chega Beatriz no Paraíso terrestre e guia-o agora pelo céu.
Vamos direto agora para o terceiro canto, onde ele vai ter o primeiro círculo do Paraíso. Então, ele vai querer falar com as almas, mas, dessa vez, não é ele que chama: é uma alma que o reconhece como uma pessoa lá da cidade dela, que quer falar com ele. É uma pessoa que Dante conheceu, que é a Picarda.
Ela se aproxima dele, começa a falar, mas Dante não a reconhece. Ri e ela fala: "É verdade que agora eu tô mais bela do que antigamente porque eu tô no Paraíso. " Então, ela tá cheia de outras damas em volta dela.
Ela fala da história dela: ela era uma moça que escolheu ser freira. "Ah, só falar do. .
. tá errada essa inscrição sua. Voluntá, outra parte vol.
Pode ser que eu tenha ou 'B'. Aí depois eu corrijo. " Então, o primeiro círculo são as almas que são menos santas, por assim dizer.
D falando isso do Paraíso, né? Que almas são essas? São aquelas que não cumpriram os votos que prometeram, mas não pecaram, que é o caso exatamente da Picarda Dorna.
Ela escolheu ser freira, ela se colocou num convento, e ela era de uma certa nobreza. Os irmãos não aceitaram que ela se colocasse num convento; queriam que ela se casasse, a retiraram à força do convento e fizeram com que ela se casasse. Então ela se casou, teve filhos, teve uma vida normal, morreu e, segundo Dante, foi para o Paraíso—esse Paraíso, esse primeiro círculo.
Então, como eu falei, ela mesmo procura o Dante, conta a história dela e fala: "Eu sou a Picarda Dorna. " Ela se apresenta, né? E o Dante pergunta para ela: "Mas você não aspira ao círculo mais alto?
Você não fica frustrada de ter sido tirada dos seus votos e, por causa da violência dos outros, ficar nesse círculo menor? " Então ela e as damas que estão em volta dela se entreolham, como se ele tivesse falado uma bobagem. Realmente, ele falou.
Então, ela começa a falar: "Isso não existe aqui porque a caridade não permite. Nós queremos uma coisa diferente do que Deus quer. Se Deus nos colocou neste círculo, a nossa felicidade é fazer a vontade de Deus.
Em sua vontade está a nossa paz. " Então, a vontade de Deus é a nossa paz. E ela fala uma frase, depois termina dizendo essa frase que é bem bonita: "Onde in Cielo é Paradiso.
" A tradução literal é "é qualquer lugar no céu é Paraíso," ou seja, não tem tristeza aqui, não tem o que sofrer aqui; todo lugar é Paraíso. Então, não tem como ser triste aqui. Essa parte que eu queria comentar porque, apesar de Dante ter tanta coisa ruim, ele tem aquela ideia—essa ideia é muito medieval e muito verdadeira.
E eu tenho a impressão de que eu copiei mesmo. . .
Então, essa ideia é muito medieval, é muito teocêntrica: a vontade de Deus é a nossa felicidade. Se eu cumpro a vontade de Deus, essa é a minha felicidade. É exatamente o passo.
O que vem depois, o humanismo, é que diz o contrário: "Fazer a minha vontade é a minha felicidade. " E aí que o mundo sai dos eixos, quase que literalmente, porque você tira Deus do centro; o eixo se perde, tudo fica excêntrico. E aqui eu não tenho mais anotações, mas eu preparei mais uma parte falando depois da questão do Dante, porque a gente se pergunta: "Mas então, tem tanta coisa bonita.
. . " Ele fala dessa questão da luz e doçura que é tão bonito.
E ele realmente não era católico, então tem muita coisa que diz que não. . .
Ele mesmo, nessas passagens, aquela da Medusa, por exemplo, que eu coloquei na aula passada: "Como que era? 'Miratel a doutrina que se esconde. .
. '" Ah, agora não lembro. "Olha, veja, a doutrina se esconde sob a aparência de versos estranhos.
" E tem aquela: "Pap Satã, pap Satã alepe," e a questão da Medusa que petrifica tudo. Essa questão depois, a Beatriz que se corrompe com a doação de Constantino representada pela águia, o livro. .
. Não li. É uma linguagem secreta, não é um livro que eu acho.
. . Ah, sim, é interessante, bem assim, no detalhe das coisas que ele diz e o que ele quer dizer com o que ele diz.
E depois, lembrando do contexto do Dante, né? O Dante conheceu muitas pessoas lá que eram claramente heréticas. Ele era amigo de várias pessoas bem ruins.
Ele mesmo coloca no inferno vários amigos dele. Um professor dele, que é Bruneto Latini, ele coloca entre os sodomitas no inferno. Era professor dele, muito próximo e muito querido.
Inclusive, lá no inferno, ele fala que oferece a obra dele, né? Que é o tesoretto, uma espécie de enciclopédia que é a obra que ele fez. O Dante coloca, né?
Mas ele, oferecendo esse tesouro para Dante, essa obra literária desse Bruneto Latini e outros, e o Farinata, por exemplo, que foi condenado como herético e cátaro. Foi condenado como herético também, próximo do Dante. Dante não tem como escapar.
Dante coloca ele no círculo dos heréticos no inferno, só que ele coloca ele como herético epicurista, ou seja, materialista. Os epicuristas dizem que só existe esse mundo; você morreu, acabou tudo, não tem outro mundo. Então, é bem materialista mesmo.
Ele foi condenado por catarismo. Dante tinha vários amigos cátaros, tinha vários amigos franciscanos lá. .
. Dos espirituais é heréticos também condenados. Ah, é certeza que ele era cátaro, é certeza que ele era um espiritual franciscano.
Certeza não é, mas e ele tá tão. . .
Nesse contexto, ele tinha tanto amigo ruim, e ele. . .
e não só ruim: ele esconde os erros desses amigos. Por exemplo, o amigo dele que é condenado por catarismo, ele diz: "Não, ele foi condenado, ele era. .
. ele realmente era herético, mas ele era materialista. " Ele esconde o verdadeiro crime dele, que é estranho, é uma atitude estranha, pô, amigo.
Então, é estranho, mas você não tem provas, né? Pode ser, pode ser muita coisa, pode ser, não é? Eu não consigo dizer: "Ah, então o Dante era cátaro.
O Dante era espiritual por causa disso. " Mas é estranho ter tantos amigos ruins assim. E depois tem a questão do "Il Fiore", que é também bastante complicada.
O "Il Fiore" é uma obra bastante ruim, bastante anticatólica, que os autores chegam à conclusão de que o autor não propriamente ele é, mas ele seria o tradutor da obra original pro toscano, que a obra original é o "Roman de La Rose", que é traduzido pro toscano como "Il Fiore". Conta a mesma história, uma história recontada, mas a mesma história. E há um certo consenso de que foi ele quem escreveu, apesar de, de novo, não haver certeza.
Mas a obra é bem ruim; ela já começa com um rapaz lá que tem a amada dele sequestrada. A Rosa é sequestrada, levada para um castelo de pedra, e lá ela fica presa, escondida. Então, para esse rapaz, aparece Deus de Amor e diz: "Eu não quero nada de você, eu não quero.
. . não quero muita coisa, eu só quero que, em meu nome, você renuncie a Lucas, Mateus, Marcos e João.
" Então, é uma apostasia clara por parte de uma pessoa que se diz católica. Então, o romance é péssimo, né? E depois ele dá todo um passo a passo para a destruição da Igreja Católica.
Obviamente, o castelo de pedra, o castelo, o château Pierre em francês, o castelo de Pedro é a Igreja Católica, e ele a acusa de ter uma rosa escondida, uma doutrina escondida lá dentro. Então, é difícil. .
. não é fácil dizer que o Dante é católico. Muitos até dizem que ele poderia ser uma espécie de papa cátaro, mas, de novo, a gente não tem certeza, não tem prova de nada.
Mas também fica difícil defendê-lo como católico com o que ele escreveu. E acho que é isso. Alguma dúvida?
Vamos rezar, então, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco.
Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.
Auxílio dos cristãos, rogai por nós. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, rogai por nós. Santo Hé, rogai por nós.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Related Videos
A Divina Comédia (Dante Alighieiri) - Prof. Carlos Tadelle
1:11:08
A Divina Comédia (Dante Alighieiri) - Prof...
Flos Carmeli Vídeos
5,270 views
Devoção às Dores e Alegrias de São José - Prof. Dr. Rogerio Pazetti
1:17:17
Devoção às Dores e Alegrias de São José - ...
Flos Carmeli Vídeos
872 views
Principais Acontecimentos e Momentos Mais Marcantes da Guerra Fria | Marcelo Andrade e André Melo
1:44:55
Principais Acontecimentos e Momentos Mais ...
Flos Carmeli Vídeos
669 views
Mark Zuckerberg - do ESTABLISHMENT à luta contra a CENSURA - PHVox
1:22:52
Mark Zuckerberg - do ESTABLISHMENT à luta ...
Marcelo Andrade
32,277 views
Aula 1 - A Importância da Disciplina História Econômica Geral
1:04:12
Aula 1 - A Importância da Disciplina Histó...
Professor Eduardo Costa
3,886 views
A namorada de Rahner - Profa. Dra. Ir. Anna Maria Fedeli
52:22
A namorada de Rahner - Profa. Dra. Ir. Ann...
Flos Carmeli Vídeos
8,819 views
Conheça Dante Alighieri, autor da obra "A divina comédia"
21:00
Conheça Dante Alighieri, autor da obra "A ...
Culturaria da Rê
2,853 views
Como Canadense viu a RENÚNCIA do JUSTIN TRUDEAU?! - Entrevista com um brasileiro no Canadá
46:25
Como Canadense viu a RENÚNCIA do JUSTIN TR...
Marcelo Andrade
26,320 views
A defesa da Imaculada Conceição - por Duns Scotus
15:15
A defesa da Imaculada Conceição - por Duns...
Renan Santos
512,704 views
A Renovação Carismática
27:14
A Renovação Carismática
Flos Carmeli Vídeos
4,097 views
Série: A DIVINA COMÉDIA II - O PURGATÓRIO de DANTE - Prof. Renata Peluso
1:09:59
Série: A DIVINA COMÉDIA II - O PURGATÓRIO ...
NOVA ACRÓPOLE BRASIL
139,802 views
A Sabedoria de Santo Tomás de Aquino | Ep. #137 | com Sidney Silveira
1:57:34
A Sabedoria de Santo Tomás de Aquino | Ep....
Anima Podcast
84,266 views
6 Hours Mozart for Studying, Concentration, Relaxation
6:04:15
6 Hours Mozart for Studying, Concentration...
HALIDONMUSIC
29,729,574 views
Cozy Winter Coffee Shop Ambience with Warm Jazz Music & Crackling Fireplace to Relaxing, Study, Work
Cozy Winter Coffee Shop Ambience with Warm...
Relax Jazz Cafe
A Teologia da Libertação e seu impacto sobre a América Latina | Prof. Raphael Tonon
2:06:30
A Teologia da Libertação e seu impacto sob...
Raphael Tonon
16,725 views
Ele REALIZOU MILAGRES que impactam o mundo até hoje | Santo Antônio
1:15:19
Ele REALIZOU MILAGRES que impactam o mundo...
Vozes Sagradas
103,553 views
Tree Of Life | Cleans The Aura And Space | Attract Prosperity Luck & Love, Heal Root Chakra #3
Tree Of Life | Cleans The Aura And Space |...
Healing Energy Frequency
Aulão do Enem - Filosofia
1:13:03
Aulão do Enem - Filosofia
Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão
57,289 views
Uma introdução a Dante Alighieri e aos Fedeli d´Amore (Profa. Ivone Fedeli) - MONTFORT
1:34:17
Uma introdução a Dante Alighieri e aos Fed...
MontfortAC
25,066 views
Copyright © 2025. Made with ♥ in London by YTScribe.com