Uma das mais brutais guerras do século 20, aconteceu ali no sudeste asiático e foi o principal conflito armado do período da Guerra Fria. Eu sou o Vogel, bem-vindos ao Vogalizando a História e hoje a gente vai te contar sobre a Guerra de Vietnã. Antes de a gente começar a falar em ak47, helicóptero dando rasante e retiradas estratégicas, não se esquece de curtir o nosso vídeo e de se inscrever aqui no nosso canal.
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Quando a guerra chega ao fim em 1945, começa o processo de descolonização mundo afora, com algumas potências europeias facilitando o caminho pra independência das suas colônias, mas a França não foi um desses países. Em 1946, o ano seguinte ao término da Segunda Guerra Mundial, a Indochina trava uma guerra de independência contra a França que dura até 1954. A França deixa a região e Vietnã, Laos e Camboja se tornam países independentes, mas como aconteceu com outros países do mundo na época, ele foi dividido em dois: Vietnã do Norte e Vietnã do Sul.
Aqui é importante a gente falar de uma das figuras mais queridas pelo Vietnã do Norte, esse cara aqui (Nguyen Sinh Cung) também conhecido como Ho Chi Minh. Ele já era uma figura conhecida na luta pela independência do Vietnã, já tinha endereçado cartas aos franceses solicitando essa liberdade e também foi um dos principais líderes dos Viet Minh, o grupo que de fato lutou contra os franceses por essa independência. Esse cara era considerado uma liderança muito positiva pro Vietnã, inclusive pelos Estados Unidos, mas isso enquanto a Segunda Guerra Mundial ainda rolava e ambos tinham inimigos em comum, os japoneses, que além do Vietnã, tinham ocupado a Coreia no começo do século 20.
A Coreia, quando a Segunda Guerra Mundial termina, também foi dividida e também teve um violento conflito, que foi simultâneo à Guerra da Indochina, só que durando de 1950 até 1953. Nesse contexto a grande rivalidade mundial já era outra, Estados Unidos e União Soviética, com políticas, estruturas econômicas e aliados diferentes. A parte norte do Vietnã estava mais alinhada aos ideais soviéticos e chineses, enquanto a parte sul estava mais alinhada aos ideais estadunidenses.
Com um grande impasse na Guerra da Coreia, que terminou com milhares de mortos e com o país ainda dividido, quando o Vietnã também é dividido, no paralelo 17, essa divisão não agradou ninguém. Só que aí a gente chega no ano de 1955, o ano em que uma eleição deveria acontecer e finalmente unificar o país, só que essa eleição não aconteceu. Quem provavelmente venceria seria o Ho Chi Minh, que não tinha um pensamento aliado ao que os Estados Unidos estava buscando no momento.
Houve uma desconfiança de que o norte fraudaria essas eleições a seu favor e o país continuou dividido. É aí que os vietnamitas que tinham ligações com os franceses ou americanos foram para o sul e quem tinha ligação com os ideais socialistas/comunistas foi pro norte. Claro que não todos né, principalmente lideranças políticas alinhadas ao norte que ficaram no sul, com o objetivo de montar uma resistência que atuaria nas regiões rurais do país.
Isso era motivo de pavor na política estadunidense, por causa do efeito dominó. Se o Vietnã se tornasse um país comunista, o que aconteceria depois? Laos e Camboja também cairiam nas garras do comunismo?
Depois a Tailândia e a Índia? Depois toda a Ásia? Então o comunismo era uma força a ser parada.
Na política sul vietnamita a esperança era um cara chamado Ngo Dinh Diem, católico em um país majoritariamente budista, mas que seria o presidente de um governo legítimo. Ele também detestava os comunistas, até mesmo por ter sido preso por eles anos antes e por seu irmão e sobrinho terem sido mortos por eles. A parada é que desde de 1955, a tensão vinha aumentando no Vietnã, mas é em 1959, com uma grande escalada de violência que a guerra de fato tem início, com conflitos cada vez mais frequentes entre o Vietnã do Norte e Vietnã do Sul.
Surge em cena John Kennedy, que foi a pessoa mais jovem a assumir o cargo de presidente dos Estados Unidos e que ganhou as eleições tendo como uma de suas principais promessas o combate ao comunismo. Antes do Kennedy assumir, durante a gestão Eisenhower, os Estados Unidos já tinham investido uma bagatela no Vietnã do Sul e tinham conselheiros militares por lá também, mas Kennedy dobrou o apoio financeiro ao governo do presidente Diem, além de enviar blindados e helicópteros e autorizar o uso de napalm e agente laranja, entre outros produtos químicos, que até hoje tem seus efeitos sentidos no país. Kennedy não começou bem no seu governo, tendo que lidar com algumas crises que colocaram em xeque o seu poder de liderança.
A invasão na Baía dos Porcos em Cuba foi um grande fracasso, eles não conseguiram tirar o Fidel Castro do Poder e logo o Muro de Berlim começou a ser construído na Alemanha Oriental, com direito a tanques de guerra se encarando e tudo, preparados pra dar início à Terceira Guerra Mundial. Então o cara precisava mandar bem quando o assunto era Vietnã, lembrando que no começo do conflito, os Estados Unidos ainda não estavam envolvidos diretamente com a guerra, apesar de terem participações em algumas batalhas. A atuação deles era vista apenas como a de apoio ao exército do Vietnã do Sul, que não era lá um exemplo de eficiência e que não estava conseguindo derrotar os guerrilheiros da região.
Mas quem eram esses guerrilheiros? Os estadunidenses chamavam eles de Comunistas traidores da nação vietnamita, “Communist vietnamese”, Viet Cong. Esse grupo, que na verdade se chamava Frente Nacional para a Libertação do Vietnã, era formado por sul vietnamitas que tinham o seu próprio exército e lutavam contra o governo do Vietnã do Sul, alinhados ao Vietnã do Norte.
Também foram popularmente chamados de Charlie. Mas eles tinham motivo pra lutar contra o governo do presidente Diem no próprio país? Então, veja bem.
O Ho Chi Minh, no norte, criou pra si uma imagem de homem simples, educado, pacífico, amigo das crianças e da comunidade. O cara até deixou a barba crescer pra parecer mais velho. Enquanto no governo Diem, a corrupção corria solta, inclusive dentro do exército.
O irmão dele (Ngo Dinh Nhu), líder de uma violenta polícia secreta, vivia dando pitaco no governo e muita gente dizia que na verdade era ele quem governava. Pra piorar, esse irmão era casado com a Madame Nhu, vista como a primeira dama do Vietnã do Sul, já que o presidente era um solteirão. Essa mulher vivia dando declarações polêmicas e a família se envolveu em vários escândalos religiosos.
Eles eram cristãos em um país onde a maioria da população era budista e no 25º aniversários da nomeação de um irmão do presidente como bispo católico, os caras ergueram bandeiras cristãs no palácio, só que quando os budistas ergueram bandeiras budistas pra comemorar o aniversário de Buda, a polícia rasgou as bandeira tudo. Obviamente manifestações aconteceram pelo país e a galera do governo ficou possessa, dizendo que isso era culpa dos comunistas. É no contexto dessas manifestações que o Michael Browne faz uma das mais importantes fotografias de todos os tempos, quando um monge se sentou em um cruzamento e outros monges atearam fogo no corpo dele, fazendo ele queimar até a morte.
Ele não foi o único a fazer isso, nos dias seguintes outros monges protestaram da mesma forma e as imagens correram o mundo, mostrando o problema causado pelo governo vietnamita. Só que dentro do Vietnã do Sul isso não resolveu muita coisa, porque pra acabar com os protesto foi imposta lei marcial, escolas foram fechadas, de ensino fundamental e superior, um toque de recolher depois das 21 horas foi imposto e a polícia secreta foi enviada pra templos budistas onde 1400 monges foram presos. A Madame Nhu ainda teve a empáfia de dizer que se os monges quiserem queimar a si mesmo, ela daria os fósforos.
Conforme o governo aumentava o número de absurdos, aumentava também o número de vietcongues nas áreas rurais do país, onde os conflitos armados estavam acontecendo. O Vietcong tinha uma habilidade única pra conseguir se camuflar na mata e atacar os inimigos de surpresa, então pra conseguir pegar os caras, aviões estadunidenses bombardeavam imensas regiões, só que desse jeito matavam gente inocente também, o que aumentava o ódio dos sul vietnamitas. Conforme o ódio deles aumentava, aumentava o número de vietcongues, prometendo um governo justo para quem lutasse contra os invasores e opressores.
Se esses ataques americanos matassem um inimigo, ele logo seria substituído, mas se matassem um inocente, eles ganhariam 10 inimigos. Em 1962, o secretário de defesa Robert Mcnamara, tinha dito que até 1965 a situação do Vietnã já estaria resolvida, mas não foi isso o que acabou acontecendo, principalmente depois da Batalha de Ap Bac, que aconteceu em janeiro de 1963. Contando com quase um quinto dos soldados e com nenhum equipamento militar aéreo ou veículos blindados, como os tanques utilizados pelo Vietnã do Sul, os Vietcongues conseguem vencer a sua primeira grande batalha, mostrando que eles tinham chance de ganhar a guerra e que eram capazes de resistir à potência dos Estados Unidos.
O Vietnã do Norte estava militarmente equipado com armamento soviético e 320 mil militares chineses foram enviados ao Vietnã pra compor a sua resistência e dar apoio aos Vietcongues. Kennedy estava cada vez mais preocupado com o desandar da situação no Vietnã, afinal a coisa não estava boa por lá, mas esse tipo de informação não poderia chegar no público geral, então o que era relatado nos noticiários não correspondia com a realidade do campo de batalha. Notícias ruins não poderiam ser reportadas, mas com aquele governo liderado pelo presidente Diem era bem difícil aparecer uma notícia boa.
É aí que o governo estadunidense comunica alguns generais sul vietnamitas que caso alguém queira planejar um golpe contra o presidente Diem, eles não iriam impedir. A gente não vai derrubar o cara, mas se vocês quiserem, a gente não vai se opor. E aí aconteceu, no dia 1º de novembro de 1963, tropas de oposição ao governo atacaram o palácio presidencial e exigiram a saída do presidente Diem.
Foi um caos na capital Saigon, com confrontos entre as tropas leais ao presidente e as tropas de oposição, até que o presidente e seu irmão fogem pra uma igreja e falam que vão se render e aceitar a deposição se tiverem como garantia uma viagem pra fora do país. Os opositores aceitam e levam um tanque pra buscar os caras em segurança. Assim que eles entram no tanque, os dois são assassinados.
Madame Nhu, que estava nos Estados Unidos, sobreviveu. Kennedy condenou as ações do golpe, mas não adiantou muito, porque 20 dias depois ele também foi assassinado. Quem assumiu a presidência foi o seu vice, Lyndon Johnson, que deu um novo rumo pra guerra.
O presidente Johnson tem a sua importância. Foi ele quem assinou a Lei dos Direitos Civis em 1964 e também a Lei do Voto em 1965, ampliando direitos de cidadãos para pessoas negras, e ele se opôs ao golpe que aconteceu no Vietnã. Ainda quando o governo estadunidense debatia o caso, se apoiaria um golpe ou não, Johnson disse que isso só pioraria as coisas.
E ele tinha razão. Vários militares sul vietnamitas se revezavam no poder e se mostravam um pior do que o outro, o que só aumentava a vergonha estadunidense em apoiar um governo desses. Só que vergonha grande mesmo passou o secretário McNamara durante uma visita ao Vietnã do Sul, quando foi demonstrar o seu apoio ao novo líder, o general Khanh.
Esse general tinha feito um discurso chatão, só que ele terminou com as palavras “Vietnã mil anos” ou algo parecido com “Viet nam ngan nam”. Só que da mesma maneira que eu não consigo falar isso direito, o McNamara também não conseguia, mas o cara viu que o público sul vietnamita se animou um pouquinho quando o general falou essas palavras e não se conteve. Ele pegou o microfone e com toda a animação do mundo falou a mesma coisa que o general.
Aí a galera foi à loucura. Só que como ele falou numa pronúncia diferente, ele falou palavras diferentes. Enquanto a galera gritava em êxtase e aplaudia o americano, McNamara estava dizendo “o patinho quer deitar”.
O auge foi quando o general Khanh chegou perto do McNamara, talvez pra avisar que ele estava falando tudo errado, e o McNamara pega a mão dele e levanta pra cima gritando “o patinho quer deitar”. Johnson já tinha se questionado sobre o real valor daquela guerra, mas a entrada do exército estadunidense no conflito aconteceu justamente durante a sua gestão, depois que um destroyer da marinha estadunidense foi atacado por lanchas da marinha do Vietnã do Norte. Nesse momento Johnson viu a necessidade de entrar de vez na guerra e enviar tropas terrestres pro Vietnã a fim de parar o exército norte vietnamita e também os Vietcongues.
Apesar de a maioria dos estadunidenses sequer saber onde ficava o Vietnã, essa decisão foi apoiada pelo público geral e a popularidade do presidente aumentou. Em 2005, documentos vieram à público afirmando que esse ataque nunca foi confirmado e que ele só serviu como pretexto pros Estados Unidos entrarem na guerra. É só em março de 1965 que tropas terrestres americanas chegam ao Vietnã, sem nem sequer consultar o governo do Vietnã do Sul, mas mudando bastante a maneira como a guerra estava sendo travada.
A Operação Trovão Retumbante começou uma série de bombardeios aéreos no território do Vietnã do Norte, mas bombardeios também aconteciam no Laos, que segundo algumas estimativas é até hoje o país mais bombardeado do mundo, com três milhões de toneladas de explosivos tendo sido jogadas no seu território com o objetivo de destruir a trilha Ho Chi Minh. Que que é isso? Foi uma trilha por onde o exército do Vietnã do Norte conseguia suprir as necessidades dos aliados no Vietnã do Sul.
Ela passava pelo Laos e pelo Camboja e foi um dos grandes trunfos dos aliados comunistas. A quantidade de explosivos que foram jogados na região é quase o dobro do que foi jogado sobre a Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial, mas mesmo assim, os caras não conseguiram acabar com a trilha. É mole cara?
Eles destruíam uma ponte? Uma semana depois ela já tinha sido reconstruída. Conseguiram destruir uma reserva de armamento?
Cinco dias depois essa reserva já estava de pé de novo e tinha mais equipamentos do que tinha antes. Os estadunidenses destruíam, os vietcongues consertavam. Se locomover do ponto A até o ponto B se mostrou uma das principais dificuldades da guerra, mas só pros estadunidenses, porque os vietnamitas pareciam não ter dificuldade alguma em se locomover pela mata, tanto que os caras montavam armadilhas e emboscadas que mataram vários soldados americanos.
Os vietcongues estavam em todo lugar, ao mesmo tempo que não estavam em lugar nenhum. Percebendo que eles não conseguiriam identificar a localização dos vietcongues, cada vez mais ataques áereos com napalm começaram a acontecer, só que até isso foi usado contra os estadunidenses. A primeira grande batalha travada entre o exército estadunidense e o do Vietnã do Norte foi a de La Drng, que chegou a durar alguns dias e ficou marcada pela proximidade que os norte-vietnamitas lutaram do seu inimigo.
Porque dessa maneira, tão próximo, se os aviões americanos bombardeassem a área, atacariam também os seus próprios soldados. No fim da batalha ambos os lados clamaram pela vitória, mas nenhum dos exércitos conseguiu grandes avanços, o que levantou a dúvida: o que significaria uma vitória? O número de soldados mortos geralmente era maior do lado norte-vietnamita, mas os caras saíam das batalhas com a moral elevada, diferente dos Estados Unidos, que parecia não conseguir evoluir nessa guerra.
Eles tomavam um posição, mas uma semana depois os norte-vietnamitas já tinham tomado ela de novo. É aí que os Estados Unidos começam a medir o seu sucesso baseado na quantidade de norte-vietnamitas e vietcongues que eles matavam. A partir daí, a contagem de corpos se tornou um dos principais objetivos estadunidenses.
Na busca por vietcongues, os soldados passaram a hostilizar a população civil que vivia no campo e começaram a chegar notícias de soldados queimando casas e matando pessoas inocentes. Aí imagina na perspectiva vietnamita. Os estadunidenses invadem tua aldeia, queimam 150 casas, matam um bebê, estupram três mulheres, dão um tiro em dois idosos e encontram quatro vietcongues.
Quando esse tipo de situação acontecia era difícil convencer os vietnamitas de que os estadunidenses estavam do lado deles. O secretário de defesa adjunto, John McNaughton, disse uma vez, não em público, é claro, que 80% do objetivo americano na guerra era evitar uma humilhação, 20% era conter o comunismo e 10% era ajudar o Vietnã. O trabalho dos jornalistas nessa guerra foi fundamental e mais de 200 jornalistas morreram no sudeste asiático enquanto faziam seu trabalho, só que poucas eram as notícias que de fato eram transmitidas ao grande público na primeira metade da década de 1960.
E aquelas emissoras que falavam sobre as derrotas americanas eram chamadas de comunistas. Só que durante a segunda metade da década de 1960 mudanças foram acontecendo, inclusive no território dos Estados Unidos. Por mais que o presidente Johnson quisesse acabar com os comunistas na Ásia, ele tinha sérios problemas pra resolver em casa.
Em 1966, 30 mil jovens foram convocados pra guerra e geralmente quem era obrigado a ir era pobre e preto. Levantamentos apontaram que era maior o número de soldados mortos negros do que brancos, porque eles eram os escolhidos para as missões onde os soldados tinham maior risco de morte. Claro, no Vietnã do Norte, quem foi recrutado também foi a camada mais pobre da população, então não era uma realidade muito diferente.
Os filhos dos dirigentes do partido comunista foram enviados pra estudar na China ou na União Soviética, bem longe dos bombardeios estadunidenses. E esses bombardeios erravam o alvo pra caramba, volta e meia acertavam bairros residenciais e matavam inocentes. Só que volta e meia também os norte-vietnamitas conseguiam derrubar um avião estadunidense e o piloto era feito prisioneiro.
Esses prisioneiros passavam por dias de tortura intensa, tanto física quanto psicológica, com surras constantes, com direito a ossos quebrados, e gravações, onde os soldados eram forçados a confessar crimes de guerra americanos e expor o seu ódio ao próprio país. Em uma dessas gravações, enquanto o soldado falava sobre os crimes americanos, ele piscou soletrando a palavra “tortura” em código morse. Aí entra um assunto delicado, porque esses prisioneiros não foram tratados como prisioneiros de guerra, mas sim como criminosos, porque nunca houve uma declaração de guerra por parte dos Estados Unidos.
Pra que o sofrimento dos prisioneiros fosse ainda maior, os norte-vietnamitas tentavam não deixar os caras morrer. Um dos prisioneiros mais famosos foi o John McCain, que era filho de um almirante da segunda guerra mundial, e que foi candidato à presidência dos Estados Unidos em 2008. Enquanto era prisioneiro, ele pôde dar uma entrevista e depois dela foi espancado por não demonstrar gratidão aos norte vietnamitas.
A gente não tem como objetivo aqui dizer que os estadunidenses são os vilões e os norte-vietnamitas são os mocinhos, não é bem assim que funciona a história. Os norte vietnamitas e vietcongues também fizeram suas atrocidades e cometeram constantes atentados terroristas que mataram inocentes em hotéis, restaurantes e bases americanas. Enquanto esteve no país, o governo americano também tentou fazer ações positivas por lá, como a construção de escolas e oferecendo serviço médico nas zonas rurais e fornecendo energia elétrica.
Só que é aí que a gente fala da Ofensiva do Tet, que já vinha sendo planejada desde meados de 1967 e tinha como objetivo a derrubada do governo em Saigon, capital do Vietnã do Sul. Pouco a pouco, soldados norte-vietnamitas vestidos como civis estavam indo para o Vietnã do Sul pra se encontrar com os Vietcongues e planejar um ataque massivo contra as principais instituições do país. Pra isso, é claro, eles contariam com o apoio da população sul vietnamita, que quando visse que a ofensiva tinha começado se uniria aos revolucionários e também combateria o governo.
Os caras decidiram fazer isso, em um dos principais feriados do país, o Tet, o ano novo lunar, e até tinham combinado uma trégua com os estadunidenses, mas os caras não quiseram nem saber, naquela madrugada 84 mil soldados norte-vietnamitas e vietcongues atacaram 36 cidades no Vietnã do Sul, todas elas capitais de províncias. Os estadunidenses pensaram que as primeiras explosões eram fogos de artifício, mas logo se armaram e partiram pra combates nas ruas das principais cidades do país, inclusive Saigon. Bases americanas e do exército do Vietnã do Sul foram atacadas, assim como a própria embaixada dos Estados Unidos.
Os vietcongues conseguiram invadir a rádio nacional de Saigon pra passar uma mensagem do Ho Chi Minh ao povo sul vietnamita, mas um radialista conseguiu interceptar a mensagem e ao invés dela, colocou pra tocar músicas dos Beatles. Poderia ter sido um imenso sucesso pros norte-vietnamitas e vietcongues, mas o povo não comprou a ideia, não se juntou aos invasores e as forças estadunidenses, junto com o exército do Vietnã do Sul, conseguiram fazer uma boa defesa. A ofensiva continuou por alguns meses e batalhas importantes foram travadas em cidades como Hue e Danang também.
Em Hue, a batalha pelo controle da cidade terminou com a morte de 6 mil civis e das 135 mil pessoas que viviam lá, 110 mil perderam suas casas. Um repórter chegou a dizer que só o que sobrou de Hue foram escombros divididos por um rio. Os vietcongues e norte-vietnamitas, longe de conseguir a vitória, recuam.
58 mil deles foram mortos, feridos ou capturados. Depois da retirada dos vietcongues, valas imensas são encontradas com sul vietnamitas executados. Apesar de o governo norte vietnamita sempre negar, 2800 sul vietnamitas que não se juntaram à causa e poderiam identificar os vietcongues foram executados com tiros na cabeça a queima roupa.
Pros Estados Unidos isso foi uma vitória militar, mas uma grande derrota moral. Essa ofensiva só mostrou que a guerra não era mais travada nos campos, mas sim dentro das cidades e que os norte-vietnamitas não eram nativos que usavam zarabatanas como arma. Inclusive, a ak47, utilizada pelos vietcongues, funcionava melhor que a m16 utilizada pelos estadunidenses, que vivia travando e deixava os caras em maus lençóis quando o pau estava torando.
Foi durante essa ofensiva que foi feito um dos mais famosos registros não só da guerra do Vietnã, mas de toda a história, que é quando o vietcong Nguyen Van Lem é capturado e levado pro chefe de polícia do Vietnã do sul, que executa o cara com uma tranquilidade assustadora. Essas imagens chegaram na tv da população nos Estados Unidos assim como outras imagens que o público ainda não tinha visto e é nesse momento que o povo americano começou a se questionar se estava de fato lutando pelo lado certo nessa guerra. Robert McNamara deixa o cargo em fevereiro de 1968, dando lugar para o Clark Clifford, e o presidente Lyndon Johnson faz um anúncio dizendo que não vai concorrer a uma reeleição.
Nesse mesmo ano o senador Robert Kennedy é assassinado, assim como uma das mais importantes vozes da luta contra o racismo, Martin Luther King. 1968 foi um ano turbulento em todo o mundo, com protestos acontecendo em Paris, Praga, Londres e até no Rio de Janeiro. Protestos durante a Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago, também terminaram em violência e a questão racial nos Estados Unidos foi motivo de mais protestos.
No ano anterior, o boxeador Muhammad Ali se recusou a servir na guerra, alegando não ter motivo nenhum pra lutar, dizendo até que nenhum vietnamita nunca o chamou de crioulo. E aí veja bem, soldados negros, heróis no Vietnã, que arriscaram sua vida pelo seu país, voltavam pros Estados Unidos pra serem considerados cidadãos de segunda classe e mal conseguir pegar um táxi pra voltar pra casa. Até o fim da guerra, vários outros protestos aconteceram e alguns com episódios chocantes de violência, como o que aconteceu na Universidade de Kent, no estado de Ohio, quando estudantes e a guarda nacional se enfrentaram, deixando 4 jovens mortos.
Uma das frases mais famosas da época é que não bastava pro governo americano mandar os jovens pra morrer no Vietnã, agora ele estava matando os jovens em casa também. Pesquisas já estavam apontando que o povo achava que o envolvimento com o Vietnã tinha sido um erro e como o governo do Vietnã do Sul era corrupto e o todo mundo sabia disso, não fazia sentido esse lado ser o lado apoiado pelos Estados Unidos. Muitos dos que lutaram fizeram isso por amor à América.
Seus pais tinham lutado na Segunda Guerra Mundial e agora era a vez deles de defender a sua pátria. O governo jamais mentiria pra eles, só que conforme a década de 1960 passou, foi ficando cada vez mais nítido que os Estados Unidos não tinha como vencer essa guerra, mas continuou nela pra satisfazer o próprio ego. O Vietnã nunca fez nada que ameaçasse a segurança dos Estados Unidos, mas era mais fácil seguir na guerra do que admitir que entrar nela foi um erro.
Mesmo em campo de batalha, nem todos os soldados concordavam com a situação no Vietnã e quando voltavam pros Estados Unidos se juntavam ao movimento antiguerra. Foi a primeira vez na história que veteranos voltavam de uma guerra que ainda estava acontecendo e pediam pelo fim dela. Grupos formados por veteranos montaram protestos e em um dos momentos mais emblemáticos, jogaram suas medalhas na Casa Branca.
Eram soldados que voltaram pra casa traumatizados, às vezes mutilados, sem pernas, em cadeiras de rodas e recebendo pensões mínimas do governo. Em 1968 começaram as negociações de paz, em Paris, envolvendo os quatro lados da guerra: Vietnã do Norte, Vietcongues, Vietnã do Sul e Estados Unidos. Mas era difícil pra esses quatro se entenderem, eles discutiam até pra ver quem sentaria ao lado de quem, tanto que tiveram que fazer uma mesa redonda pra não ter mais briga.
1969 marca o início do mandato do presidente Richard Nixon, que tinha prometido dar fim nessa guerra, mas em abril de 1969, 543482 soldados estavam no Vietnã e mais de 70 bilhões de dólares já tinham sido gastos. Foi nesse ano também que Ho Chi Minh morre, por conta de problemas cardíacos, dando espaço para Le Duan, figura já muito importante na política norte-vietnamita e atuante na guerra desde o seu início, assumir a liderança. Há até quem veja ele como o grande líder norte vietnamita na guerra e não o Ho Chi Minh.
É em 1969 também que vem à tona o Massacre de My Lai, que aconteceu em março de 1968. 125 soldados estadunidenses receberam ordens de ir até esse vilarejo chamado My Lai. Esse não era um lugar que os soldados tinham muito apreço e pra piorar a situação, aquela companhia tinha perdido 28 homens pra minas terrestres, armadilhas ou atiradores escondidos.
Poucos dias atrás um sargento muito querido por eles também tinha morrido, então os caras carregavam no coração um forte desejo de vingança. Eles tinham recebido a informação de que vietcongues estariam esperando por eles no vilarejo e embora não tivesse lá vietcongue nenhum, isso não impediu que a operação fosse executada com uma violência ainda não vista contra civis no Vietnã. Ao todo, 504 pessoas foram assassinadas, entre elas mulheres, crianças e idosos.
As mulheres chegaram a ser estupradas antes de ser executadas. E a parada só não foi mais feia porque um piloto de helicóptero (Hugh Thompson Jr) pousou no meio da carnificina e deu a ordem pra sua tripulação metralhar os soldados estadunidenses que continuassem atacando os civis. Quando a história chegou aos Estados Unidos foi um choque, mas pros soldados que estavam no Vietnã aquilo ali era uma terça-feira qualquer, eles já tinham visto coisa parecida acontecer.
Evitaram chamar o que aconteceu lá de massacre, meio que pega mal, então começaram a chamar de tragédia de grandes proporções. O uso de helicópteros na guerra do Vietnã foi comum e muitas vezes teve um uso positivo, como esse no Massacre de My Lai, mas também era comum um helicóptero voar baixinho atirando em todo vietnamita que passasse pelo caminho. Na visão de alguns soldados, tinha que atirar naqueles vietnamitas que corriam porque se eles corriam é porque eram vietcongues e tinha que atirar nos que não corriam, porque se ele não corria, estava fingindo não ser vietcongues.
Os caras estão num helicóptero com uma metralhadora atirando em todo mundo e não querem que a galera saia correndo. É chegada a hora. Depois de tantas mortes e massacres, no fim de 1969, Nixon autoriza o retorno de soldados pros Estados Unidos e a popularidade do cara sobe.
Muitos retornos foram autorizados com base em sorteios por data de aniversário dos soldados, de modo a não privilegiar ninguém. Esse retorno não significou o fim da guerra, mas sim que os Estados Unidos estavam diminuindo a quantidade de soldados em solo vietnamita, ou seja saindo de fininho. Até hoje alguns defensores dizem que os Estados Unidos não perdeu a Guerra do Vietnã, só fez uma saída estratégica.
Ainda buscando matar o máximo de vietcongues possível, Nixon autoriza uma invasão ao território do Camboja, onde alguns vietcongues se refugiavam, o que levantou a questão sobre a eficiência do exército do Vietnã do Sul, porque sem o apoio estadunidense eles não teriam força o suficiente pra combater o Vietnã do Norte, que parecia estar em todo lugar. Em 1972 uma nova ofensiva do Vietnã do Norte acontece, a Ofensiva de Páscoa, que também contou com violentas batalhas, mas provavelmente o momento mais marcante dela aconteceu no dia 8 de julho de 1972. Nesse dia o fotógrafo Nick Ut estava acompanhando tropas do exército do Vietnã do Sul em uma rodovia que levava até um vilarejo ocupado por tropas do norte, mas por engano, um avião sul vietnamita bombardeou o vilarejo que estava cheio de gente inocente.
De lá algumas pessoas saem correndo apavoradas, entre elas crianças, uma delas sem roupa e com 30% do corpo queimado. Com a pele caindo. Esse é talvez o registro mais famoso da guerra e a foto rodou o mundo inteiro.
O Nick Ut ganhou o prêmio Pulitzer e o mundo se convenceu ainda mais que já tinha passado da hora dessa guerra terminar. Nixon autoriza bombardeios em Hanói, capital do Vietnã do Norte, com o objetivo de pressionar os norte-vietnamitas a aceitarem um acordo pra pôr fim à guerra. Richard Nixon é provavelmente o mais polêmico presidente da história dos Estados Unidos e em 1972 o cara se envolveu no Escândalo de Watergate, quando membros do partido do cara, ligados a ele, foram pegos bisbilhotando e plantando escutas na sede do partido democrata em Washington.
Isso não impediu a reeleição do cara, mas fez com que, em 1974, ele renunciasse ao cargo de presidente. Foi a primeira vez que alguém fez isso nos Estados Unidos. Claro, antes de renunciar ele já tinha feito um comunicado na televisão avisando que daria início ao processo de retirada dos Estados Unidos do Vietnã, encerrando a participação do país na guerra.
Foram feitos acordos com os norte-vietnamitas e os prisioneiros de guerra foram libertados depois de anos mantidos em condições cruéis e insalubres. O retorno dos caras é bem emocionante. Em 29 de março de 1973, as últimas tropas dos Estados Unidos deixaram o Vietnã do Sul, contudo, aproximadamente 200 soldados ficaram no país pra fazer a guarda da embaixada americana e algumas outras instalações importantes.
Agentes da CIA e diplomatas também ficaram por lá, como o embaixador Graham Martin, um grande defensor da Guerra Fria. A guerra, agora travada entre norte e sul, continuou violenta e com cada lado do Vietnã tentando ocupar o máximo de território que conseguia e cometendo uma série de atrocidades no caminho. Com a renúncia de Nixon, quem assume o cargo é seu vice, Gerald Ford, que teria que agora cumprir com as promessas que seu antecessor tinha feito ao presidente que ocupava o cargo de presidente do Vietnã do Sul desde 1965.
O Nixon tinha prometido ajuda militar e financeira e o Thieu acreditou na palavra dele, só que o congresso dos Estados Unidos cortou essa ajuda poucos dias depois do Ford assumir a presidência. Thieu já ocupava o cargo a um bom tempo, mas isso não quer dizer que era um presidente popular. Depois da saída dos Estados Unidos, o desemprego e a inflação bateram no teto e a dificuldade militar do Vietnã do Sul ficou ainda maior.
Os caras tinham sido treinados em equipamentos modernos que eles não tinham mais. Eles tinham um montão de aviões, mas não tinham pilotos. Tinham um montão de veículos de artilharia, mas não tinham peças de reposição.
A falta de equipamento chegou em um estágio tão crítico que os soldados eram instruídos a dar só 85 tiros por mês e jogar uma granada só. E mesmo assim eles tinham que ganhar a guerra de um exército que nem os Estados Unidos conseguiu ganhar. Só que o norte ainda tinha medo que os Estados Unidos voltasse pra guerra caso eles fizessem um ataque muito violento no sul, então resolveram fazer uma nova ofensiva que serviria como teste, pra ver se os caras voltariam ou não.
Esse ataque aconteceu em dezembro de 1974 e logo conquistou a cidade de Phuoc Long, a 150 quilômetros de Saigon. Toda a província foi conquistada em 3 semanas e os Estados Unidos não fizeram nada. Ford até pediu uma grana pro congresso pra ajudar a equipar o sul, mas teve seu pedido negado.
Os caras não tinham muito interesse em cumprir as promessas que o Nixon tinha feito. Como esse ataque foi um sucesso, o exército do Vietnã do Norte resolveu continuar com a sua ofensiva e uma nova província foi tomada em dois dias. Em 29 de março de 1975, o norte invade Danang, a segunda maior cidade do Vietnã do Sul, causando um abandono em massa da cidade.
É a partir desse momento que se começou a ver balsas abarrotadas de vietnamitas tentando fugir do país. Pela lógica e pela geografia, a próxima cidade a ser atacada seria Saigon, então os americanos restantes começaram um processo de evacuação do Vietnã do Sul, pensando em tirar de lá também os vietnamitas que colaboraram com eles. Mas aí entra em cena o embaixador Graham Martin, que disse que tudo isso era uma grande histeria, a mídia estava aumentando as coisas e que não tinha nenhuma chance de o exército do norte invadir Saigon.
O cara chegou a enviar uma mensagem pro secretário de estado dos Estados Unidos dizendo que ninguém tem com o que se preocupar, porque não vai ter ataque nenhum em Saigon e essa é a opinião unânime de todo mundo que está lá. Não era. O que ele queria era tranquilizar os presidentes.
O Thieu poderia ficar tranquilo porque os Estados Unidos continuariam ajudando o Vietnã do Sul e não entregariam o seu país para os comunistas. Mas aí entra uma discussão importante, que vai fundo no negacionismo do cara. O filho dele tinha sido morto no Vietnã.
O Davi vietnamita iria vencer o Golias americano. Mas qual seria o significado dessa guerra se esse fosse de fato o resultado? Se o norte conquistasse o sul, a morte do filho do embaixador teria sido em vão.
Era necessário dar sentido ao sacrifício e ao sofrimento que foi causado. E o pensamento do embaixador não era diferente do pensamento de estadunidenses que perderam pessoas que amavam no Vietnã. Era difícil admitir a derrota pro país, mas era ainda mais difícil admitir a derrota a si mesmo, então essas pessoas se agarraram às suas fantasias com todas as forças que tinham.
Um ataque não aconteceria, porque esse ataque seria a nossa derrota e nós não podemos perder essa guerra. Querendo ou não, a evacuação de Saigon começou, através de cargueiros no porto da cidade, aviões comerciais e militares e também helicópteros que levariam as pessoas até navios e porta-aviões americanos que estavam no Mar do Sul da China. O exército do sul tentou resistir mas não conseguia parar o exército do norte, a capital começou a ser bombardeada e o processo de evacuação ficou mais apressado.
O presidente Thieu renuncia ao cargo e é levado pra Taiwan, onde recebe um recado do presidente Ford que dizia que não era uma boa ideia ele ir pros Estados Unidos, por conta do sentimento antiguerra. Thieu disse que não era fácil ser inimigo dos Estados Unidos, mas que também era bem difícil ser amigo deles. Na madrugada de 29 de abril, o aeroporto é bombardeado e se percebeu que eles não teriam como tirar de lá todo mundo que eles queriam tirar.
E aqui é importante a gente falar de uma árvore que tinha na embaixada americana. Uma árvore de tamarindo. Ela ficava bem no meio do pátio e atrapalhava pousos de helicópteros ali, então já tinham pedido pra cortar aquela árvore, mas o embaixador Graham Martin não deixava, porque ela simbolizava os Estados Unidos.
O cara não ajudava e ainda fazia questão de atrapalhar. No final cortaram a árvore e mais de 50 helicópteros auxiliaram na retirada das últimas pessoas de Saigon. Documentos sigilosos começaram a ser destruídos e oficiais do Vietnã do Sul também pegaram helicópteros pra tirar suas famílias do país.
O problema é que não tinham espaço pra esses helicópteros nos porta-aviões, então alguns helicópteros tiveram que ser jogados ao mar depois que pousavam nas embarcações. Alguns deles nem conseguiam pousar, então os tripulantes tiveram que pular do helicóptero pra embarcação e o piloto levava o helicóptero pro mar e pulava dele enquanto o helicóptero caía. A queda de Saigon, no dia 30 de abril de 1975, marcou o fim da guerra do Vietnã.
As 7h53 da manhã daquele dia o último helicóptero decolou da embaixada de Saigon e levou embora os últimos americanos que estavam lá, deixando pra trás milhares de vietnamitas que ainda tinham esperança de fugir do país. Soldados do Vietnã do Sul queimavam os seus uniformes e tentavam se passar por cidadãos comuns. Ao meio dia daquele dia, tanques do Vietnã do Norte invadiram o palácio presidencial e o governo foi derrubado.
Saigon passou a se chamar Cidade de Ho Chi Minh. O Vietnã agora estava reunificado, mas estava destruído. Estima-se que um milhão e meio de opositores políticos passaram por algum campo de reeducação e houve um projeto de apagamento da história do Vietnã do Sul.
Até os cemitérios onde estavam os mortos pela guerra foram destruídos, o que não permitia que as pessoas de lá honrassem de maneira apropriada os entes queridos que tinham morrido. O governo dos Estados Unidos não reconheceu o novo governo no Vietnã e foi colocado um embargo econômico nas costas do país, que só foi retirado em 1994. Agricultura coletiva, nacionalização das indústrias e a desaceleração do capitalismo, fizeram parte das políticas do Vietnã, só que esse plano não deu certo e a economia do país só piorou, chegando a uma inflação de 700% ao ano e gente morrendo de fome.
O Vietnã ainda ficou numa posição política muito delicada, entre a China e União Soviética. O Camboja, país vizinho, deu início a um regime comunista marcado por uma das mais cruéis repressões de todos os tempos, mas apoiado pela China. Quando o Vietnã, usando armas soviéticas, invade o Camboja, a fim de dar fim a esse regime opressor, 85 mil chineses foram enviados em uma invasão ao Vietnã do Norte como represália.
A paz ainda não tinha chegado no Vietnã. 400 mil vietnamitas conseguiram chegar aos Estados Unidos e no país é possível encontrar uma comunidade chamada Pequena Saigon onde 189 mil vietnamitas vivem atualmente. Houve uma reaproximação entre os dois países na década de 1990 e atualmente as relações entre eles são de maneira geral bem amigáveis.
Os estadunidenses veteranos da guerra costumam relatar que voltar pra casa foi tão traumático quanto a própria guerra e vários deles sofrem com o estresse pós traumático. Na capital dos Estados Unidos se localiza o monumento em homenagem aos veteranos da Guerra do Vietnã, onde estão marcados os nomes de todos os soldados que perderam a vida no conflito. Ao todo foram 58 mil soldados estadunidenses mortos, 250 mil soldados sul vietnamitas, um milhão de vietcongues e soldados norte vietnamitas e dois milhões de civis.
Sem falar nos milhares de mortos no Laos e no Camboja. Se a gente for contar a partir da guerra civil, foram 20 anos de envolvimento com o Vietnã, mas se for contar desde a descolonização, foram 30. Cinco presidentes se envolveram na guerra e de ambos os partidos políticos.
Foi um forte período de polarização no país, o que não se via de maneira tão agressiva desde a Guerra de Secessão. Um soldado vietnamita uma vez disse que só quem não lutou nessa guerra é quem fala sobre quem ganhou ou perdeu, enquanto o veterano Vincent Okamoto relembra que por trás de todos os 58 mil nomes que estão naquele monumento tem um pai, uma mãe, uma esposa ou um filho que teve a sua vida despedaçada pra sempre por causa daquela maldita guerra.