INTRODUÇÃO: – Arthur Osborne. Muitas pessoas perguntavam a Ramana Maharshi a respeito do sofrimento. A resposta habitual de Bhagavan era propor ao buscador que ele descobrisse quem é que sofre, assim como ele convidava àqueles assolados pelas dúvidas a descobrirem quem é que duvida, pois o Eu Real está além do sofrimento e da dúvida (logo, eles descobririam que quem sofre e quem dúvida é apenas o ego).
Ocasionalmente, ele também apontava que o que quer que faça a pessoa se sentir insatisfeita com a sua vida de ignorância e a faça buscar o Eu Real é benéfico, e que em geral isso acontece através do sofrimento. Assim disse Bhagavan: “Se não existisse o sofrimento como iria surgir o desejo pela felicidade? E se esse desejo não surgisse como poderia surgir a busca pelo Eu Real?
” No entanto, às vezes as perguntas eram impessoais, referindo-se não a uma tragédia particular, mas ao mal e sofrimento universal do mundo. Nesses casos, geralmente as perguntas eram feitas por visitantes que não compreendiam a doutrina da não-dualidade ou que não seguiam o caminho da auto-inquirição. Certa vez, um visitante perguntou a Bhagavan: Problemas globais como a fome e as doenças devastam o mundo.
Qual é a causa disso? O que é o Sofrimento? Ramana Maharshi.
Bhagavan respondeu: Para quem tudo isso aparece? Você não está consciente do mundo e dos seus sofrimentos enquanto você dorme, mas está agora enquanto está acordado. Permaneça naquele estado no qual essas coisas não o afetavam.
Quando você não está consciente do mundo, isto é, quando você permanece como o Eu Real no estado de sono profundo, os seus sofrimentos não o afetam. Portanto, volte-se para o interior e busque o Eu Real – com isso, haverá um fim para o mundo e para todas as suas misérias. Mas isso é egoísmo!
– Disse o visitante. Bhagavan respondeu: O mundo não existe fora de você. Como você se identifica erroneamente com o corpo, você vê o mundo como algo externo a si mesmo, e então os seus sofrimentos aparecem; mas o mundo e os seus sofrimentos não são reais.
Busque a Realidade e livre-se desse falso sentimento. Ainda assim, presumindo a realidade do mundo, o visitante perguntou: Existem grandes homens e servidores públicos que não conseguem resolver o problema do sofrimento no mundo, embora trabalhem nesse sentido. Por que os Mahatmas não ajudam?
Inicialmente, Bhagavan respondeu no nível de entendimento do visitante: Como você sabe que eles não ajudam? O silêncio dos Mahatmas é muito mais importante do que fazer discursos, promover atividades externas ou dar ajuda material. Os Mahatmas ajudam mais do que os outros.
O mundo ou a ignorância só existem devido à nossa ilusão. Se a realidade objetiva do mundo é uma ilusão, então o mal que existe nela também o é, e o remédio é voltar a mente para o interior, para a Realidade do Eu. Nossa natureza essencial é Felicidade, mas nós esquecemos o Eu Real e imaginamos que o corpo ou a mente são este Eu.
Todo sofrimento é devido à essa falsa noção “eu sou o corpo”. É essa identificação errônea que dá origem ao sofrimento. Essa tendência está profundamente arraigada e cresceu forte por ter sido alimentada durante muitos nascimentos.
E ela deverá desaparecer, para que a sua natureza essencial, que é Felicidade, possa ser revelada. A causa da sua infelicidade não está nas circunstâncias externas; ela está em você, é o ego. Toda infelicidade e miséria vem do ego.
Ele é a origem de todos os seus problemas. Qual é a utilidade de atribuir a causa da infelicidade aos acontecimentos da vida quando a causa está realmente dentro de você? Se você estiver livre do sofrimento, então não haverá sofrimento em parte alguma.
O problema é que você vê o mundo como algo externo a você, e pensa que há sofrimento nele. Mas tanto o mundo quanto o sofrimento estão dentro de você. Agora, se você se voltar ao seu interior, não haverá mais sofrimento.
Primeiro, veja a si mesmo, e depois veja o mundo como uma manifestação do Eu Real. Você não é orientado a fechar os olhos para o mundo, mas apenas para ver a si mesmo primeiro, e então, ver mundo todo como uma manifestação do Eu Real. Se você se considera um corpo, o mundo parece ser algo externo, mas se você vive como o Eu Real, o mundo aparece como o Brahman manifesto.
Brahman é a Realidade, e a Realidade é aquilo que está além de todos os pares de opostos. Prazer e dor são apenas aspectos da mente. Bem e mal são termos relativos.
Deve existir um sujeito para que o bem e o mal possam ser conhecidos. Esse sujeito é o ego. O “eu” que tem percepções e memórias, de onde ele vem?
Descubra. A percepção, a memória e qualquer outra experiência surgem sempre para este “eu”. Você não tem essas experiências durante o sono e mesmo assim você existe enquanto dorme, assim como você existe agora.
Isso apenas mostra que o Eu Real permanece, enquanto as outras coisas vêm e vão. Você veio da mesma Fonte em que esteve durante o sono. Ao despertar para o estado de vigília, o ego surge, e então, os pensamentos aparecem simultaneamente.
O surgimento do pensamento é a raiz de todo o mal. Descubra de onde surgem os pensamentos, e então você permanecerá no mais íntimo e onipresente Eu, livre do conceito do nascimento e do medo da morte. O Eu puro é a Realidade, o Absoluto Ser-Consciência-Bem-aventurança.
Quando o Eu Real é esquecido, todas as misérias surgem; quando o Eu Real é mantido firmemente, as misérias não podem afetar a pessoa. Tudo o que você precisa fazer é abandonar a sua identificação com esse corpo e abandonar todos os pensamentos de coisas externas, isto é, de coisas que não são o Eu Real. Por mais que a mente se exteriorize em direção aos objetos dos sentidos, detenha-a e fixe-a no Eu.
Esse é todo esforço que você precisa fazer. Se você seguir o caminho dos seus pensamentos, você será levado por eles e se encontrará em um labirinto sem fim. Volte-se para dentro e descubra de onde surgem os pensamentos.
Para todos os pensamentos, a base ou a fonte é o “pensamento-eu”. Descubra quem tem os pensamentos. Se nos voltarmos para dentro perguntando pela Fonte do “eu”, o “eu” sucumbe.
Tudo o que você precisa fazer é encontrar a Fonte do “eu”. Esta é a investigação da Sabedoria (Jnana-vichara). A Bem-Aventurança do Eu Real sempre foi sua, e você a encontrará, se buscá-la seriamente.
Descubra: “Quem sou eu?