Uma menina de rua interrompeu o casamento do milionário e gritou: "Não case com ela ou você não sobreviverá!" Logo em seguida, o milionário ficou arrepiado ao descobrir do que sua esposa era capaz. Mariana e João eram apaixonados, daqueles casais que conversam com os olhos e ainda seguram as mãos quando caminham juntos. Eles tinham construído uma vida simples, mas cheia de amor. Para Luí, a mãe era sua heroína. Mariana sempre tinha tempo para brincar, para ouvir as histórias imaginárias da filha e para transformá-las em pequenas aventuras. Para João, ela era o centro do universo, a
mulher que organizava a casa, cuidava da família e fazia com que tudo parecesse funcionar perfeitamente, mesmo nos dias mais difíceis. Mas, de repente, as coisas começaram a mudar. Mariana começou a sentir-se cansada demais, um cansaço que não passava. A princípio, ela achou que era só o peso da rotina, a correria de cuidar de uma casa e de uma criança. Mas, conforme os dias passavam, o cansaço virou algo mais sério. Ela começou a sentir dores constantes que iam e vinham sem motivo aparente. João insistiu para que ela fosse ao médico e, mesmo relutante, ela concordou. Foi
no consultório que Mariana recebeu a notícia que mudaria sua vida: ela tinha um câncer agressivo. João estava ao lado dela quando o médico explicou; o diagnóstico era grave, mas havia tratamento. Mariana ouviu tudo com calma, como sempre fazia, mas por dentro estava apavorada. Ela pensava em Luí, em como a filha ainda era tão pequena, em como não podia deixá-la crescer sem uma mãe. Pensava em João, no quanto ele dependia dela para manter tudo em ordem. Mariana decidiu que lutaria com todas as forças por eles. O tratamento começou rapidamente. Mariana enfrentou sessões de quimioterapia que a
deixavam exausta, noites sem dormir por causa da dor e dias em que mal conseguia sair da cama. Mesmo assim, ela tentava manter o sorriso, especialmente na frente de Luí; não queria que a filha visse o quanto ela estava sofrendo. Nos dias bons, ela ainda brincava com a menina, fazia desenhos e contava histórias. Nos dias ruins, se limitava a segurar a mão de Luí, sussurrar palavras de carinho. Para João, foi devastador ver a mulher que ele amava definhar diante dos seus olhos. Ele tentava ser forte, tentava cuidar de tudo, mas no fundo sentia-se impotente. João acompanhava
Mariana em cada consulta, segurava o cabelo dela quando ela vomitava e ficava ao lado dela à noite, mesmo quando ela não tinha forças para falar. Ele fazia o possível para manter a casa funcionando, mas sem Mariana tudo parecia um caos. Luísa, mesmo tão pequena, sentia que algo estava errado. Ela percebia como a mãe estava mais fraca, como as risadas estavam ficando mais raras e como o pai estava cada vez mais sério. Ela perguntava constantemente se a mãe ia ficar bem, e Mariana sempre respondia com a mesma frase: "Eu vou melhorar, meu amor, só preciso descansar
um pouco." Mas, conforme os meses passavam, a saúde de Mariana continuava piorando e até Luísa começou a perceber que as coisas estavam saindo do controle. O dia em que Mariana não conseguiu levantar da cama foi o mais difícil. João chamou o médico em casa, que explicou que o câncer havia avançado muito e que não havia mais o que fazer, além de mantê-la confortável. A notícia foi como um golpe para João, mas ele tentou esconder o desespero de Luí. No entanto, mesmo sem entender exatamente o que estava acontecendo, a menina sabia que algo terrível estava prestes
a acontecer. Nos últimos dias de vida, Mariana parecia ter aceitado o que estava por vir. Ela passou todo o tempo que podia ao lado da filha, segurando sua mão, acariciando seus cabelos e repetindo o quanto a amava. "Você sempre será minha menina," disse ela uma noite, enquanto Luí chorava baixinho ao seu lado. "Mesmo quando eu não estiver aqui, estarei com você em cada flor, em cada abraço do papai, em cada sorriso que você der." Quando Mariana finalmente partiu, a casa ficou mergulhada em um silêncio que parecia impossível de quebrar. João, destruído pela perda, se trancou
no quarto por horas, enquanto Luísa ficava na sala, abraçando o ursinho que a mãe havia dado para ela. A menina não entendia por que a mãe tinha ido embora, mas sentia uma dor profunda, como se uma parte dela tivesse sido arrancada. Nos dias seguintes, João tentou ser forte por Luísa, mas era evidente que ele estava perdido. Ele não sabia como continuar sem Mariana, como ser pai e mãe ao mesmo tempo. A tristeza dele era tão grande que muitas vezes esquecia que Luí também estava sofrendo. A menina, por sua vez, não sabia como pedir ajuda. Ela
se sentia sozinha, abandonada em uma casa que agora parecia grande demais e vazia demais. O jardim que Mariana amava tanto logo ficou descuidado; as flores murcharam e as cores vibrantes desapareceram, assim como o riso que antes preenchia aquele lugar. O balanço na árvore, onde mãe e filha costumavam brincar, agora estava parado, balançando suavemente com o vento. Para Luí, o mundo parecia cinza, sem vida, e a única coisa que ela queria era que a mãe voltasse para casa. Mas Mariana não voltaria, e para Luí e João, a vida nunca mais seria a mesma. Depois de um
ano de silêncio pesado e tristeza funda, João, pai de Luí, começou a dar sinais de que queria algo mais leve em sua vida, algo que pudesse trazer um pouco de cor de volta aos dias sombrios. Em uma tarde qualquer, ele surgiu com uma expressão diferente, quase animada. Enquanto preparava o jantar na pequena cozinha, ele cantarolava baixinho uma música, coisa que Luí já nem se lembrava de ouvir vinda dele. Ela notou, mas continuou mexendo com o garfo na comida, meio distraída. No meio daquele silêncio que durava meses, João soltou uma novidade: "Luí, eu conheci alguém." Ele
sorriu. De leve, como se estivesse esperando uma reação da filha, algo que mostrasse entusiasmo, mas Luí só o olhou sem entender. Ele continuou com um brilho nos olhos. O nome dela é Renata. Ela é legal, você vai ver; acho que você vai gostar dela. Luísa, com apenas 7 anos, não sabia bem o que sentir. Parte dela estava confusa; a imagem da mãe era algo que ela guardava com tanto cuidado e carinho que a ideia de outra mulher entrando na vida deles parecia um pouco errada, um pouco errada demais. Ela não sabia como explicar aquilo, mas
era algo como medo misturado com tristeza e talvez até um pouco de raiva. No entanto, ela não falou nada, apenas baixou a cabeça e continuou comendo em silêncio. Alguns dias depois, Renata apareceu pela primeira vez na casa. Luísa, curiosa e um pouco receosa, observou a mulher ao lado do pai de longe. Renata tinha um sorriso largo, cabelos bem cuidados e usava roupas que pareciam feitas para chamar atenção, mesmo que fossem discretas. Ela era bonita, e a cada palavra que dizia, parecia saber exatamente o que falar para conquistar a simpatia de João. Ele estava visivelmente encantado,
rindo das histórias que ela contava, prestando atenção em cada palavra. Quando finalmente se aproximou de Luí, Renata abaixou-se, ficando na altura da menina, e estendeu a mão. — Oi, Luísa! Já ouvi tanto sobre você. Seu pai me falou que você adora desenhar. É verdade? — Ela sorria, mas Luísa não conseguia ver muito além do sorriso; havia algo ali que a fazia recuar um pouco, como se o brilho nos olhos de Renata fosse apenas de fachada. Mesmo assim, sim, Luí apertou a mão dela, sentindo-se um pouco desconfortável, mas também querendo agradar ao pai. João, ao lado,
parecia aliviado por ver as duas se cumprimentando, como se estivesse torcendo para que tudo desse certo. Desde aquele dia, Renata começou a aparecer mais vezes. Toda semana, ela trazia uma sobremesa diferente, tentava ensinar Luí a cozinhar e até ajudava com a lição de casa. João estava feliz e, por isso mesmo, sentindo que algo não estava certo, Luísa tentou não se opor. Ela sorria de leve quando Renata fazia piadas e se esforçava para parecer simpática. Talvez, pensava, Luísa estivesse apenas com ciúmes ou imaginando coisas. Em pouco tempo, Renata passou a fazer parte do cotidiano da casa.
Ela chegava cedo, saía tarde e, cada vez mais, ocupava o espaço que antes era apenas da mãe de Luí. Aos poucos, ela começou a sugerir mudanças, dizendo que o sofá poderia ser trocado, que as cortinas estavam velhas e que uma nova cor para as paredes seria ótima. João, por sua vez, gostava da ideia de renovar a casa e parecia concordar com todas as sugestões de Renata, deixando-a cada vez mais à vontade para transformar o ambiente. O tempo foi passando, e o relacionamento entre João e Renata se tornava cada vez mais forte. Um dia, ele chamou
Luí para conversar e, com uma mistura de ansiedade e nervosismo, contou que ele e Renata iriam se casar. — Ela vai se tornar parte da nossa família, Luísa — ele disse, tentando sorrir. — Ela vai cuidar de nós, trazer alegria para nossa casa. Luí ouviu, mas algo dentro dela gritava que aquilo era um erro. Era como se um alarme soasse em sua cabeça, mas ela não tinha coragem de dizer nada, de decepcionar o pai que parecia finalmente estar feliz. O dia do casamento de João e Renata chegou rápido. João estava empolgado, animado como não se
via desde a morte da esposa, enquanto Luí, com apenas 7 anos, observava tudo meio confusa e um pouco assustada. Ela entendia que o pai estava feliz, mas não conseguia sentir o mesmo; em seu coração, algo ainda parecia fora do lugar. O casamento foi simples, sem festa grande, como João e Renata tinham combinado. Não havia vestido longo nem decoração luxuosa; era apenas uma ida ao cartório com alguns amigos próximos e familiares. Renata usava um vestido discreto, mas elegante, e João vestia um terno que há tempos estava guardado no fundo do armário. Luísa estava ao lado do
pai, vestida com um vestido que Renata tinha escolhido para ela, embora a menina tivesse preferido usar uma roupa diferente, algo que ela mesma escolhesse. Ao longo da cerimônia, Renata mantinha aquele sorriso impecável, o mesmo que ela exibia desde que apareceu na vida de João. Ela segurava a mão dele, olhava em seus olhos e sussurrava promessas de amor eterno. João estava encantado, perdido naquele olhar, como se o mundo ao redor desaparecesse. Ele se sentia renovado, como se tivesse finalmente encontrado uma nova chance de ser feliz. Para ele, Renata era tudo que ele precisava para preencher o
vazio que a esposa tinha deixado. Enquanto João e Renata trocavam os votos, Luísa os observava em silêncio. No fundo, a menina tentava entender o que exatamente significava aquela cerimônia. Em sua cabeça, era como se o pai estivesse substituindo a mãe, e isso causava um aperto em seu peito que ela não sabia explicar. Por mais que não quisesse pensar assim, sentia como se a mãe estivesse sendo, de algum jeito, esquecida. Era como se Renata estivesse ocupando um espaço que não era dela. Depois do cartório, todos seguiram para um restaurante simples; era uma reunião pequena, só com
os amigos mais próximos e alguns parentes. Mas João e Renata pareciam radiantes. João tentava mostrar para Luí que aquela era uma nova fase, uma fase boa para todos. Durante o jantar, João brindou à nova vida ao lado de Renata e disse que estava muito feliz por ela fazer parte da família agora. Ele segurou a mão de Renata e fez um carinho nos cabelos de Luí, tentando incluir a filha naquele momento. Mas Luí sentia-se deslocada; ela não sabia se queria aquela nova família que o pai tanto falava. Em certo momento do jantar, Renata se inclinou e
disse para... Luí falou com uma voz suave e meio melosa: "Agora nós três somos uma família. Vou cuidar de você como se fosse minha própria filha." Ela falava como se fosse algo lindo, mas havia um tom na voz dela que fez Luí arrepiar. Mesmo tão pequena, Luí percebeu algo estranho. O sorriso no rosto de Renata parecia exagerado, forçado, como se ela estivesse dizendo algo que não era totalmente verdadeiro. Mas João não percebia nada disso. Para ele, aquele era um dos dias mais felizes em muito tempo. Depois do jantar, todos foram para casa. Ao entrar, Renata
olhou em volta, observando cada canto com aquele olhar que ela tinha, como se estivesse estudando o lugar. A casa era simples, mas aconchegante, cheia de memórias que Luí e o pai tinham construído ao longo dos anos. Renata, no entanto, parecia ter outros planos para o espaço. Assim que se instalaram, ela começou a comentar sobre as mudanças que gostaria de fazer. Disse que o sofá estava velho, que as cortinas poderiam ser trocadas e até sugeriu pintar as paredes de uma cor mais clara para trazer mais luz para o ambiente. João parecia gostar das ideias, mas para
Luí, aquilo soava estranho. Era como se Renata quisesse apagar tudo o que tinha sido construído antes dela. Nos dias que se seguiram, Renata foi assumindo cada vez mais controle da casa. Ela começou a reorganizar tudo, colocando os objetos em lugares diferentes, trocando fotos antigas por outras novas e dando um toque que para Luísa não combinava nada com o lar que ela conhecia. Uma das primeiras coisas que Renata fez foi tirar uma foto grande da mãe de Luí, que ficava na sala, e guardá-la em uma caixa no quarto dos fundos. Quando Luísa percebeu, seu coração apertou,
mas ela não teve coragem de reclamar. Sabia que o pai estava feliz e não queria estragar isso. Ainda assim, sentia-se cada vez mais deslocada, como se a casa fosse ficando menos dela a cada dia. João, por outro lado, parecia renovado com tudo aquilo. Ele fazia o possível para incluir Luí em todos os momentos, mas estava tão encantado com Renata que não percebia o incômodo da filha. Para ele, Renata era a mulher que finalmente traria alegria para a vida deles. Ele passava os dias elogiando as mudanças e se mostrava grato por Renata estar tão envolvida. Acreditava
que Luísa, com o tempo, entenderia e aceitaria Renata como parte da família. Renata, cada vez mais segura de sua posição, começou a impor algumas regras que antes não existiam. Ela decidia o que iriam comer, como deveriam organizar o armário e até começou a supervisionar as tarefas de Luí com um ar de autoridade. João achava que era apenas um jeito de Renata se preocupar e cuidar da casa, mas para Luísa, aquilo era sufocante. Sentia que Renata queria controlar tudo e, cada vez mais, a casa deixava de ser um lugar onde Luísa se sentia confortável. Aos poucos,
a rotina foi se transformando. O lar que antes era cheio de lembranças da mãe de Luí agora se tornava um espaço onde Renata ditava as regras. Luí, que antes se sentia segura ao lado do pai, agora começava a se sentir sozinha, mesmo quando ele estava por perto. A mãe, que ainda vivia nas memórias da menina, parecia cada vez mais distante, enquanto Renata assumia um espaço maior e mais definitivo. E assim, com o tempo, Luísa começou a entender que as coisas não voltariam a ser como eram antes. Ela estava presa em uma nova dinâmica, em uma
casa que, de alguma forma, parecia menos sua a cada dia. João, envolvido pelo brilho de Renata, parecia incapaz de perceber os sinais. E Luísa, sem saber como expressar o que sentia, apenas assistia em silêncio enquanto tudo ao seu redor mudava. No começo, Luí achava que talvez fosse tudo uma questão de se acostumar. Ela ainda estava confusa com a presença de Renata na casa, mas, por amor ao pai, tentava se adaptar. Mas logo algumas coisas estranhas começaram a acontecer. E não eram mudanças na decoração da casa ou nas regras de rotina que Renata gostava de impor,
eram atitudes, palavras e olhares que só apareciam quando João não estava por perto, coisas que só Luísa parecia perceber. Renata, que antes era sempre sorridente e gentil na presença de João, começava a se transformar quando ficava sozinha com a menina. Tudo começou com pequenos comentários que deixavam Luí desconfortável, mas, aos poucos, as coisas foram ficando mais estranhas e pesadas. Renata olhava com um ar diferente, de cima para baixo, como se estivesse avaliando cada movimento da menina. Às vezes, ela deixava escapar um sorriso malicioso, rápido, que desaparecia no instante em que João surgia na sala. Em
um dos primeiros dias em que ficaram sozinhas, Renata chamou Luí para a cozinha, dizendo que queria que a menina ajudasse com o jantar. Luísa, sempre disposta a agradar o pai, foi sem reclamar. Enquanto picava alguns vegetais, Renata começou a falar com uma voz baixa e fria: "Você sabe que agora essa é a minha casa, não sabe? Tudo o que está aqui, até você, está sob o meu controle." O coração de Luísa acelerou. Ela parou o que estava fazendo e olhou para Renata, mas não encontrou o sorriso amigável de antes. Renata estava séria, com um olhar
fixo, como se estivesse esperando uma reação. A menina não sabia o que responder. Aquilo soava estranho, assustador, e parecia vir de uma pessoa completamente diferente daquela que seu pai acreditava conhecer. Depois desse dia, Renata começou a agir de forma ainda mais controladora. Luí não podia mais fazer nada sem antes pedir permissão. Até os brinquedos dela passaram a ser guardados em uma prateleira alta, e ela só podia brincar com eles quando Renata permitia. Era como se Renata estivesse criando pequenas barreiras e impondo limites para mostrar que estava no comando. Luí tentava falar disso com o pai,
mas ele... Nunca estava por perto nos momentos em que essas coisas aconteciam e, quando ela comentava algo, ele apenas dizia que Renata queria apenas manter a casa organizada e que isso era bom para todos. Com o tempo, Renata começou a ser mais dura; ela passou a fazer comentários maldosos que deixavam a menina triste e confusa. — Você acha que seu pai realmente precisa de você agora que ele tem a mim? — perguntou uma vez, com um tom de voz que não deixava dúvida de que a resposta que ela esperava era não. Luísa abaixou a cabeça,
segurando as lágrimas. Tudo que ela queria era o carinho do pai, mas Renata, pouco a pouco, a fazia sentir que não havia espaço para ela naquela casa. Cada palavra parecia pensada para machucá-la, mas dita de forma que parecesse uma conversa comum. Quando João estava em casa, Renata voltava a ser doce e amável, cheia de sorrisos e palavras carinhosas. Ela agia como a nova mãe que se preocupa com Luísa, sempre disposta a ajudá-la a ensinar algo novo. João ficava encantado, acreditando que estava tudo bem. Não havia como ele perceber que, assim que saía para trabalhar ou
ia para o quarto, o rosto de Renata mudava completamente. Era como se uma máscara caísse, revelando o que Luísa agora sabia que era a verdadeira face dela. Um dia, Luísa cometeu um pequeno erro; ela deixou uma xícara de chá na sala, esquecendo-se de levá-la para a cozinha. Assim que Renata viu a xícara abandonada, seu rosto ficou vermelho de raiva. — Você acha que pode fazer o que quer nessa casa? — ela disse, com uma voz fria, sem esperar resposta. Pegou Luísa pelo braço e a levou até o porão, que era um lugar escuro onde quase
ninguém entrava e que a menina sempre teve medo. — Aqui é o lugar de quem não sabe se comportar — disse Renata, deixando-a sozinha ali. Luísa chorava, mas Renata não ligava; só a tirou de lá muito tempo depois, sem demonstrar nenhuma compaixão. A partir daquele dia, a vida de Luísa virou uma sequência de medos e incertezas. Qualquer erro, qualquer coisa fora do lugar, qualquer palavra dita no momento errado, podia ser motivo para Renata inventar um novo castigo, e ela sempre parecia ter uma desculpa perfeita para tudo, uma justificativa que João acreditava sem questionar. Quando Luísa
tentou contar a ele sobre o porão, Renata interrompeu com um sorriso. — Ela só estava brincando, João. Eu disse que o porão é assustador e que as crianças que não arrumam a bagunça podem acabar lá. É só brincadeira, só uma piada, não é, Luísa? A menina, vendo o pai acreditar em Renata, sentiu-se ainda mais sozinha. Com o tempo, Luísa começou a entender que não podia confiar em ninguém. O pai estava cego, iludido pelo sorriso falso de Renata, e ela não sabia a quem mais recorrer. Todos que visitavam a casa viam Renata como a esposa perfeita
e a madrasta dedicada. Para o mundo, ela era uma mulher exemplar, e Luísa era apenas uma menina que ainda estava se adaptando à nova fase da família. A cada dia, Renata mostrava uma nova forma de intimidar Luísa. Às vezes era com palavras; outras vezes, apenas com um olhar fixo e silencioso que a deixava com medo até de se mexer. Renata gostava de deixar claro que Luísa não tinha controle sobre nada ali. O quarto da menina, que antes era seu refúgio, passou a ser invadido pela madrasta, que arranjava as coisas sem pedir, tirava brinquedos e livros
que, segundo ela, eram infantis demais. Luísa já não se sentia segura nem no próprio espaço; tudo nela parecia girar em torno da presença controladora e fria de Renata. Mesmo com todas essas experiências dolorosas, Luísa se agarrava às lembranças da mãe e ao amor pelo pai; era tudo que ela tinha para se sentir um pouco mais segura nos dias mais difíceis. Ela fechava os olhos e tentava lembrar do toque da mãe, da voz suave dela, dizendo que estaria sempre ali para protegê-la. Agora, era como se a proteção tivesse desaparecido e Luísa estivesse sozinha, sem ninguém que
realmente pudesse ajudá-la. Os dias viraram uma mistura de silêncio, medo e solidão, e ainda que fosse pequena, Luísa entendia que Renata não ia parar. A cada semana, a cada castigo, a cada palavra dura, Renata mostrava um lado ainda mais sombrio, e a menina sabia que, enquanto o pai continuasse acreditando na perfeita madrasta, ninguém a tiraria daquela situação. Luísa, mesmo sendo pequena, sabia que precisava encontrar uma forma de contar ao pai sobre o que estava acontecendo. Cada vez que Renata a deixava sozinha no porão escuro, cada comentário cruel e humilhante, cada olhar de desprezo quando João
não estava por perto, tudo isso parecia apertar o peito da menina até quase faltar o ar. Ela se sentia cada vez mais isolada, como se vivesse em um lugar onde ninguém acreditava nela, onde sua voz não tinha força. Mas, mesmo com tanto medo e tristeza, Luísa ainda acreditava que o pai poderia ajudá-la. Afinal, ele era a pessoa que mais amava e confiava no mundo. João sempre foi seu protetor, seu melhor amigo. Ele sempre esteve ao seu lado, principalmente depois da perda da mãe. Era com ele que ela desabafava, era ele que a fazia rir, que
secava suas lágrimas quando ela tinha pesadelos. O pai era tudo para ela, e Luísa achava que, se ele soubesse como Renata realmente era, ele faria algo para protegê-la. Então, um dia, enquanto estavam na sala, Luísa tentou contar. Ela se aproximou devagar enquanto ele assistia à televisão e ficou ali parada ao lado do sofá, pensando em como começar. Depois de um tempo, ela respirou fundo e disse, baixinho: — Pai, eu preciso falar com você. João olhou para ela, um pouco distraído, e respondeu com um sorriso: — Claro, filha, o que foi? A menina tentou escolher as
palavras, mas, de tão nervosa, tudo saiu de uma vez. Ela começou. A contar sobre como Renata tratava quando ele não estava em casa, sobre os castigos, o porão escuro, as palavras duras que a madrasta usava, Luí falou tudo sem parar, os olhos arregalados e as mãos esperando que o pai acreditasse nela. Mas João olhou com uma expressão de surpresa que logo se transformou em algo que a menina não esperava: um olhar de cansaço, de impaciência. Ele balançou a cabeça devagar e disse, num tom de voz que Luí nunca tinha ouvido antes: "Luí, Renata está tentando
ajudar. Ela só quer o melhor para você. Talvez você ainda não tenha se acostumado com ela, mas é importante que você tente, filha." João suspirou como se o que a menina tinha contado fosse apenas uma bobagem, algo inventado. "Sei que é difícil ter uma nova pessoa em casa, mas Renata é uma boa mulher. Ela cuida da gente e eu não quero que você pense coisas ruins dela." O coração de Luí quase parou; aquele era o pai dela. Ele realmente não estava acreditando nela. Ela tentou insistir, tentando explicar de novo, mas ele interrompeu: "Já chega, Luí.
Você é minha filha e sempre será, mas agora Renata também faz parte da nossa família e você precisa aprender a respeitá-la." As palavras dele foram duras, ditas de um jeito que Luísa nunca tinha ouvido. Ela se sentiu ainda menor, ainda mais sozinha. Parecia que, para João, ela estava apenas com ciúmes, como se tudo aquilo fosse uma invenção para chamar atenção. Nos dias que seguiram, Luísa não conseguiu mais tentar falar sobre Renata. Cada vez que pensava em se abrir com o pai, lembrava-se do jeito como ele a mandara parar, das palavras que ele usou, como se
ela fosse uma criança teimosa. O que ele não via, porém, era que ela tentava desesperadamente pedir ajuda. Ela só queria que ele ouvisse; só queria que ele percebesse que Renata não era quem ele pensava. Mas João parecia cego, encantado demais pela esposa para ver qualquer coisa. Com o tempo, o silêncio se tornou uma espécie de barreira entre eles. Mesmo que ainda vivessem na mesma casa, mesmo que João ainda dissesse que amava, Luí sentia que estava ficando cada vez mais distante do pai. Ele continuava a acreditar na imagem de Renata que ele mesmo tinha criado em
sua mente: uma esposa dedicada, uma mulher boa que estava ali para ajudar. João estava tão envolvido nessa ideia que não conseguia nem imaginar que, para a filha, Renata era o próprio pesadelo. Luí começou a entender que talvez ela realmente estivesse sozinha. Ela sentia um aperto no peito cada vez que via o pai e a madrasta juntos, rindo e conversando. Era como se o pai dela tivesse mudado; como se ele estivesse ali, mas ao mesmo tempo longe demais para ouvir ou ver o que realmente estava acontecendo. João não era mais aquele pai que ouvia cada palavra
da filha, que a protegia e a confortava. Ele parecia ter virado outra pessoa, alguém que ela mal reconhecia. Renata, claro, percebeu a situação e usou isso a seu favor. Ela sabia que Luí estava sozinha e, aos poucos, passou a ser ainda mais cruel. Sempre que João saia de casa, ela fazia questão de lembrar Luí de que ninguém acreditaria nela. "Você viu, não foi?" dizia Renata, com um sorrisinho sarcástico. "Seu pai confia em mim e acha que você é apenas uma criança mimada. Ele não vai te ouvir. Eu já disse que mando aqui e você vai
fazer o que eu mandar." Luísa sentia o coração apertado de desespero. Ela olhava para casa, para as paredes que antes traziam conforto e que agora pareciam claustrofóbicas, como uma prisão da qual não conseguia escapar. Tentava não chorar, tentava não deixar que Renata visse o quanto ela estava abalada, mas era difícil; era impossível ignorar o vazio que ela sentia quando olhava para o pai e sabia que ele não estava ali para protegê-la, que ele havia escolhido acreditar nas mentiras de Renata. Algumas noites, Luí chorava baixinho em seu quarto, escondendo o rosto no travesseiro para não ser
ouvida. Ela se lembrava de como era bom se sentir protegida, do abraço do pai, da presença da mãe, de como a casa era acolhedora antes de Renata aparecer. Agora, tudo parecia desmoronar. Ela estava sozinha em sua dor, sem ninguém que realmente acreditasse no que ela estava passando, e o silêncio de João era como uma confirmação de que ela não tinha para onde fugir. Renata continuava a agir como uma madrasta perfeita na frente de João, e ele, por sua vez, continuava acreditando em cada sorriso e palavra dela. Quando João olhava para a filha, ele ainda dizia
que amava, mas Luísa sabia que ele não via de verdade. Ele não via o quanto ela estava sofrendo, o quanto a presença de Renata destruía tudo o que eles tinham construído juntos. Era como se Luí tivesse se tornado invisível para ele; uma presença que ele não enxergava mais. Os castigos foram deixando marcas não só no coração de Luí, mas também em seu corpo. Ela começou a emagrecer, já que Renata controlava cada refeição e fazia questão de reduzir as porções da menina. Os ossos começaram a ficar mais aparentes e as roupas, folgadas. A energia que antes
tinha para brincar, rir e correr foi se esvaindo, até que tudo o que restou foi uma menina calada e assustada, sempre olhando para baixo, sempre se encolhendo ao menor sinal de repreensão. Certo dia, Luí tentou mais uma vez contar ao pai. Ela juntou coragem e foi até ele, dizendo que Renata a deixava sem comer e que a trancava no porão. Mas, como sempre, João acreditou em Renata, que apareceu no momento exato e inventou uma história, dizendo que Luísa estava apenas inventando coisas. João apenas balançou a cabeça e disse: "Luísa, você precisa parar com isso." E
Renata, de novo, venceu. Luí voltou ao seu quarto. Derrotada, sentiu como se estivesse desaparecendo cada vez mais sozinha. O silêncio de João, os castigos de Renata, a fome, o medo, tudo isso parecia um peso invisível que sufocava a menina, dia após dia. Ela tentava manter a esperança, lembrando dos tempos felizes que viveu com o pai e a mãe, mas à medida que os dias passavam, era como se esses momentos fossem se apagando, ficando cada vez mais distantes, como se aquela menina cheia de vida estivesse sendo substituída por alguém triste, frágil e com medo. Renata parecia
saber o quanto Luísa estava fraca e continuava empurrando a menina para baixo, pouco a pouco, sem nenhuma piedade. Renata parecia estar cada vez mais à vontade naquela casa; ela controlava tudo e todos ao seu redor, especialmente Luísa, que vivia em uma rotina de medo e castigos. E conforme o tempo foi passando, Renata começou a olhar para João de um jeito diferente. Ela o estudava, observando como ele tomava seus remédios, como ele confiava cegamente nela, e aos poucos uma nova ideia começou a tomar forma em sua mente. Desde que entrou na vida deles, Renata já tinha
planos de controlar o que pudesse, mas agora sua ambição era ainda maior. O que ela realmente queria era ficar com tudo o que João tinha; ela sabia que, se algo acontecesse a ele, a casa, o dinheiro, tudo passaria para suas mãos. E com Luísa fora do caminho, não haveria ninguém para questioná-la ou para impedir que ela seguisse em frente com seus planos. Foi assim que ela decidiu agir devagar, de forma calculada. Não podia fazer nada que parecesse suspeito. Afinal, João ainda confiava nela e acreditava que Luísa estava apenas sendo uma criança difícil, imaginando coisas. Renata
precisava ser inteligente, precisava agir sem deixar rastros. Ela sabia que João tomava remédios diariamente, então decidiu que esse seria o caminho mais seguro para executar o que tinha em mente. Certo dia, enquanto preparava o café da manhã, Renata se aproximou de João e, com um sorriso falso no rosto, perguntou casualmente sobre os remédios que ele tomava: "Você já foi ao médico ver se eles estão funcionando bem, querido?" Ela perguntou, enquanto colocava uma xícara de café na frente dele. João, despreocupado, explicou que eram apenas medicamentos para pressão e que ele tomava havia anos, mas que estavam
sob controle. Ele não percebeu o olhar atento de Renata, que, sem ele saber, estava anotando mentalmente quais das pequenas alterações nos dosagens de João ela trocava um comprimido por outro, diminuía as doses que eram importantes e aumentava outras, fazendo com que ele começasse a se sentir estranho, mais cansado, mais fraco. Era tudo planejado para que, aos poucos, a saúde dele fosse piorando, sem levantar suspeitas. Ela agia de maneira calculada, nunca fazendo alterações bruscas, sempre aos poucos, para que ele acreditasse que estava ficando mais doente naturalmente. João começou a notar que não se sentia bem, mas
toda vez que comentava com Renata, ela dizia que ele devia estar apenas estressado, que precisava descansar e relaxar. "Isso é normal, querido", ela dizia com um tom de voz tranquilo, como se estivesse realmente preocupada. Mas no fundo, ela sabia que tudo estava indo conforme o planejado. Quanto mais ele se sentisse mal, mais vulnerável ele ficava, e mais ela podia controlar a situação. Luísa, por outro lado, observava tudo de perto. Ela percebia que o pai estava cada vez mais cansado, que sua saúde estava piorando, e isso a preocupava profundamente. Mesmo com toda a dor e sofrimento
que Renata fazia passar, Luí ainda sentia um amor enorme pelo pai e queria que ele estivesse bem. Certa noite, enquanto ele estava deitado no sofá, ela se aproximou e perguntou de forma cuidadosa: "Papai, você está bem?" João abriu um sorriso fraco e fez um carinho no cabelo dela, dizendo que estava apenas cansado, mas por dentro Luí sabia que havia algo errado. Para ela, era como se Renata estivesse sugando a energia dele. Não sabia ao certo o que estava acontecendo, mas sentia que a madrasta tinha algo a ver com aquilo, e cada vez que João tomava
um de seus remédios, Luí sentia uma angústia que não conseguia explicar. Ela era muito nova para entender o que Renata estava fazendo, mas seu instinto dizia que aquela mulher estava por trás de tudo. Enquanto isso, Renata seguia com seu plano. Sem pressa, ela sabia que quanto mais tempo passasse, mais João se tornaria dependente dela e mais ele acreditaria que sua saúde estava se deteriorando naturalmente. Algumas vezes, Renata até se oferecia para preparar os remédios, dizendo que queria ajudar, que não queria que ele se preocupasse. João, grato pela atenção e cuidado da esposa, aceitava sem questionar,
sem perceber que cada pílula que ela oferecia era mais um passo em direção ao plano maligno que ela estava executando. Certa manhã, João acordou com uma fraqueza ainda mais intensa. Ele mal conseguia se levantar da cama, sentia-se pesado e movia-se com dificuldade. Renata entrou no quarto preocupada e disse: "Não se preocupe, vou cuidar de tudo por aqui, João." Ela disse com um sorriso que parecia gentil, mas que escondia uma satisfação sinistra. Para ela, aquilo era um sinal de que estava chegando cada vez mais perto de conseguir o que queria. Luí, vendo o pai cada vez
mais debilitado, sentia-se completamente impotente. Ela tentava cuidar dele, trazer água, ajudar em pequenos afazeres, mas Renata estava sempre por perto, afastando-a e dizendo que sabia o que era melhor. Aos poucos, Renata foi assumindo cada vez mais o controle da casa, das contas, das decisões, como se já estivesse se preparando para a vida sem João. Dias depois, João teve uma piora significativa; ele mal conseguia sair da cama e começou a ter dificuldade até mesmo para falar. Renata, fingindo desespero, dizia que o levaria ao médico, mas nunca o fazia de fato. Ela continuava a... Agir como se
estivesse tentando cuidar dele, mas Luí sabia que era tudo uma farsa. Ela via o jeito frio com que Renata olhava para o pai, sem um pingo de verdadeira preocupação. Em uma noite particularmente difícil, quando João parecia estar à beira de um colapso, Renata se aproximou dele e segurou sua mão. "Eu sempre estarei aqui para cuidar de você", ela disse com uma voz que parecia reconfortante, mas que escondia um tom de satisfação. Para ela, era apenas uma questão de tempo: cada pílula trocada, cada dose errada que ela dava a João, a deixava mais próxima de conseguir
tudo o que queria. Ei, com Luísa presa naquele ambiente, sozinha e impotente, Renata acreditava que ninguém jamais descobriria o que ela estava fazendo. A cada dia, a saúde de João se deteriorava e Luísa, desesperada, não sabia o que fazer. Ela tentava contar ao pai o que sentia sobre Renata, mas ele estava tão fraco e confuso que mal conseguia entender. Renata, sempre atenta, afastava Luí, dizendo que a menina estava sendo dramática e que João precisava descansar. A cada nova manipulação, Renata se sentia mais perto de alcançar seu objetivo, confiante de que em breve tudo estaria sob
seu controle. Luí, perdida e sem forças, observava tudo, sem saber que aquilo era apenas o começo de algo ainda pior. João já não era mais o mesmo; ele mal conseguia levantar da cama e até respirar parecia um esforço enorme. Cada vez que tentava falar, sua voz saía fraca, quase como um sussurro, e as palavras pareciam se perder antes mesmo de serem ditas. Renata continuava ao seu lado, fingindo estar preocupada, mas Luí sabia que aquilo não era real. O jeito que a madrasta o olhava, a forma como controlava tudo ao redor, nada disso era carinho. Para
ela, aquilo tudo fazia parte de um jogo, um jogo que estava prestes a terminar exatamente como ela queria. Naquela manhã, João acordou mais fraco do que nunca, sentindo-se pesado, como se estivesse sendo empurrado para baixo por uma força invisível, e mal conseguia abrir os olhos. Renata entrou no quarto com um sorriso, carregando uma bandeja, como se ele precisasse tomar a medicação para se sentir melhor. João, que não tinha forças para discutir, tomou os comprimidos, acreditando que aquilo ajudaria, mas Luísa, que observava da porta, sentiu um aperto no peito. Ela sabia que algo estava muito errado,
mesmo sem entender o que realmente acontecia. Depois de alguns minutos, Renata saiu do quarto e fechou a porta, deixando João sozinho para descansar. Ela encontrou Luí no corredor e lançou um olhar frio, quase desafiador, como se estivesse dizendo que a menina não poderia fazer nada para impedir o que estava acontecendo. "Seu pai precisa de paz", disse Renata com uma voz calma, mas cheia de autoridade, "e você, Luísa, precisa me obedecer. Se tentar fazer qualquer coisa, quem vai pagar é você." Aqueles palavras foram como uma facada no coração de Luí; ela sabia que estava sozinha e
que ninguém acreditaria nela. Luísa passou o resto do dia sentada na porta do quarto do pai, esperando ouvir algum sinal, algum som que mostrasse que ele estava bem, mas o silêncio que vinha de lá parecia cada vez mais profundo, como se o próprio quarto estivesse mergulhado em uma escuridão sem fim. Em um momento de coragem, ela tentou abrir a porta, mas Renata apareceu e a empurrou para longe, dizendo que João precisava descansar e que ela, Luísa, estava sendo apenas uma criança teimosa. Conforme o dia foi passando, a angústia de Luí só aumentava; ela sentia que
algo terrível estava para acontecer, mas não sabia o que fazer. Tentou ligar para um amigo da família, alguém que pudesse vir ajudar, mas Renata impediu, tirando o telefone das mãos da menina e dizendo que ninguém precisava se meter em sua casa. Luí estava encurralada, presa em um ambiente onde a única pessoa que poderia protegê-la estava fraca demais para fazer qualquer coisa. Quando a noite chegou, o clima na casa ficou ainda mais pesado. Renata parecia tranquila, como se já estivesse comemorando a vitória antes mesmo de tudo terminar. Ela preparou um jantar simples, mas Luí mal conseguia
tocar na comida, sentindo o estômago embrulhado. Depois de algum tempo, Renata levantou-se da mesa e foi até o quarto de João, onde ficou por alguns minutos. Luí esperou nervosa até que a madrasta saísse; ela não fechou a porta completamente, e foi então que Luí viu algo que a deixou em pânico. Do corredor, ela conseguiu enxergar a cama do pai. João estava deitado, imóvel, com os olhos fechados e a pele pálida. Luí não conseguia entender exatamente o que via, mas o coração dela acelerou, e uma sensação de desespero tomou conta dela. "Pai", ela sussurrou baixinho, como
se sua voz pudesse chegar até ele, mas ele não respondeu, nem se mexeu. Ele estava parado, quieto demais, e ao ver aquilo, Luí soube que algo estava muito, muito errado. Renata notou o que a menina estava fazendo e se aproximou rapidamente, fechando a porta do quarto e trancando-a. Ela olhou para Luí e, pela primeira vez, não tentou esconder sua verdadeira face. Com uma expressão dura e fria, ela disse: "Acabou, Luí. Seu pai não vai mais te proteger." As palavras dela foram como um golpe para a menina. Sem conseguir acreditar no que acabara de ouvir, Luí
sentiu as lágrimas começarem a escorrer pelo rosto enquanto tentava processar o que aquilo significava. A realidade caiu sobre Luí como uma tempestade; ela não sabia o que fazer, não sabia como reagir. O pai, sua única família, a pessoa que ela mais amava no mundo, estava do outro lado daquela porta, sem vida, sem a chance de protegê-la ou de ouvi-la. Pior ainda, ela sabia que ninguém acreditaria nela, que todos veriam a madrasta como a esposa dedicada e sofredora, enquanto ela, Luí, seria apenas uma menina desamparada e sem ninguém. Renata, satisfeita, foi para a sala e ligou...
Para alguns conhecidos e, com uma voz de falsa tristeza, começou a contar o que havia acontecido. Ela dizia que João tinha falecido em casa, de forma inesperada, e que agora ela precisava de ajuda para lidar com a situação. Os amigos e parentes, sem saber de nada, ofereceram apoio e palavras de conforto, sem imaginar o que realmente se passava naquela casa. Luí, sozinha, trancada em seu quarto, sentia como se o mundo estivesse desmoronando ao seu redor. O silêncio da casa, que antes era algo confortável, agora parecia uma prisão. Ela sabia que ninguém viria ajudá-la, que ninguém
acreditaria nela. Ela chorou, encolhida em um canto, sentindo-se completamente sozinha e sem esperança. A única coisa que a mantinha de pé era a lembrança dos momentos felizes que teve com o pai: as risadas, os abraços, o amor que ele sempre demonstrou. Com o desfecho fatal de João, Renata finalmente tinha tudo o que queria. Ela era a única dona da casa, do dinheiro, e tinha o controle total sobre a vida de Luí. E para a menina, restava apenas uma realidade: ela estava à mercê da madrasta, presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar. Depois da
morte do pai, Luí não podia imaginar que as coisas pudessem piorar, mas ela estava errada. Nos dias que se seguiram, Renata passou a agir como se fosse a dona de tudo, dando ordens na casa e tratando Luí com mais frieza do que nunca. A pequena menina, ainda em choque e tristeza pela perda de João, tentava se refugiar nas memórias dele, mas Renata parecia determinada a arrancar até isso dela. Os dias passaram lentamente e, embora Luí soubesse que Renata estava envolvida na morte de seu pai, ela não podia fazer nada; apenas aceitou a situação. A manhã
começou como qualquer outra. Luí acordou no seu pequeno quarto e viu os primeiros raios de sol entrando pela janela. Mesmo depois de tudo o que Renata havia feito, ainda havia uma pequena parte dela que queria acreditar que as coisas melhorariam. Talvez, de algum jeito, Renata pudesse ser a mãe que prometera ser quando chegou; era uma esperança frágil, mas era tudo o que Luí tinha. Renata, por sua vez, parecia diferente naquela manhã. Ela entrou no quarto de Luí com um sorriso no rosto, o tipo de sorriso que a menina raramente via. — Bom dia, Luí —
disse ela, com uma voz surpreendentemente doce. — Hoje vamos dar um passeio. Luí olhou para ela, surpresa, mas ao mesmo tempo esperançosa. Fazia muito tempo que Renata não demonstrava nenhum tipo de gentileza e aquilo parecia quase normal. — Um passeio? — Luí perguntou, com os olhos brilhando. — Sim — respondeu Renata, puxando o cobertor para ajudá-la a levantar. — Só nós duas. Você não quer um dia especial fora de casa? Luí se sentiu animada. Apesar de tudo, ela ainda era uma criança e a ideia de sair de casa para um momento só dela e da
madrasta fazia-a sentir especial, algo que ela não sentia há muito tempo. Enquanto se vestia, Luí pensava em todas as coisas que poderiam fazer. Talvez fossem a um parque ou tomar sorvete, como ela fazia com a mãe antes. Ela pegou seu ursinho de pelúcia, o único objeto que ainda carregava consigo para onde fosse, e o colocou dentro da mochila. — Pronto! — disse, com um sorriso que parecia iluminar o rosto dela. Renata olhou por um momento e, por um segundo, parecia ter hesitado, mas isso passou rápido. Ela se virou e disse: — Vamos! Elas saíram de
casa e Renata a levou até o carro. Durante o caminho, Luí fez perguntas sobre onde iriam, mas Renata dava respostas vagas. — Você vai ver — dizia ela, sem tirar os olhos da estrada. A menina não desconfiou de nada, pensando apenas que talvez Renata quisesse fazer uma surpresa. Ela olhava pela janela, tentando adivinhar para onde estavam indo, enquanto segurava o ursinho contra o peito. Depois de algum tempo, Renata estacionou o carro em frente a uma praça. Era um lugar bonito, com árvores altas, bancos de madeira e crianças brincando no parquinho. O coração de Luí acelerou;
parecia algo que sua mãe teria planejado. Por um momento, ela sentiu que talvez Renata estivesse tentando ser diferente, tentando ser a pessoa que fingia ser no início. Renata saiu do carro e abriu a porta para Luí: — Vamos, querida — disse, com o tom ainda gentil. Luísa desceu e começou a olhar ao redor, tentando absorver o ambiente. Renata segurou sua mão, o que a menina achou estranho, mas reconfortante. Elas caminharam juntas por alguns minutos, e Renata apontou para um banco vazio perto de uma fonte. — Espere aqui — disse. — Vou buscar algo para nós.
— Está bem — respondeu Luísa, sentando-se no banco, ansiosa. Ela abraçou o ursinho e observou as pessoas ao redor: crianças brincando, casais passeando. Por alguns minutos, tudo parecia normal, mas conforme o tempo passava, Luí começou a perceber que algo estava errado. Renata não voltava. Ela olhou para os lados, tentando encontrar a madrasta, mas não havia sinal dela. O sorriso de Luí começou a desaparecer, substituído por uma expressão de preocupação. Ela desceu do banco e andou um pouco, chamando por Renata: — Renata, onde você está? — Perguntou, mas não obteve resposta. Os minutos se transformaram em
uma eternidade. Luí começou a andar pela praça cada vez mais rápido, sentindo o pânico crescer em seu peito. — Renata! — gritou, mas ninguém respondeu. As pessoas ao redor apenas olhavam para ela, algumas com curiosidade, outras com indiferença. Foi então que Luí percebeu: Renata havia deixado-a ali, sozinha. A menina sentiu o chão sumir sob seus pés. Ela não sabia o que fazer; ficou parada por um momento, segurando o ursinho com tanta força que os dedos começaram a doer. O coração batia rápido e as lágrimas começaram a escorrer pelo rosto. — Por que ela me deixou
aqui? — pensava, sem conseguir entender. Sua cabeça estava cheia de perguntas, mas nenhuma resposta fazia sentido. Com o passar das horas, Luí... Percebeu que ninguém viria buscá-la. Ela tentou falar com algumas pessoas, mas ninguém sabia quem ela era ou onde Renata poderia estar. Algumas pessoas lhe deram olhares de pena, outras disseram que ela deveria ir para casa, mas nenhuma delas ofereceu ajuda real. Luísa estava sozinha, de verdade. Quando o sol começou a se pôr, o medo de Luí atingiu seu auge. Ela estava cansada, com fome, e o mundo ao seu redor parecia assustador. Não havia
mais o conforto do carro, nem a ideia de que Renata voltaria. Tudo o que ela tinha era a mochila e o ursinho. Encontrou um canto perto de uma árvore e se encolheu ali, tentando se proteger do frio da noite. Abraçou o ursinho com força e chorou baixinho até que as lágrimas secaram e tudo o que restou foi um vazio. Naquela noite, Luí entendeu que estava por conta própria. Ela não tinha mais ninguém. Cada dia nas ruas era uma batalha para Luísa: a fome, o frio, a falta de um lugar seguro para descansar, tudo isso pesava
em seus ombros. Ela era apenas uma criança, mas estava tendo que lidar com situações que pareciam grandes demais para alguém da idade dela. No começo, ela acreditava que alguém viria ajudá-la, que talvez a polícia ou algum adulto pararia e perguntaria o que tinha acontecido. Mas os dias passavam e ninguém parecia notá-la. Era como se ela fosse invisível, como se não houvesse ninguém para se importar com seu sofrimento. A verdade era que Luí parecia ser apenas mais uma menina de rua, como tantas outras, por isso dificilmente alguém se importaria com ela. Luísa se viu aprendendo a
se virar sozinha. Ela vagava pelas ruas de um lado para o outro procurando algum lugar onde pudesse encontrar comida ou até mesmo uma sombra para se proteger do sol quente do meio-dia. Nas calçadas, observava as pessoas passando apressadas, carregando sacolas cheias de compras ou segurando a mão dos filhos. Ela se perguntava se algum dia teria de novo uma vida normal, com uma casa para voltar e uma família que a amasse. Mas esses pensamentos só a deixavam mais triste, então ela tentava focar em coisas mais simples, como encontrar algo para comer ou um lugar seguro para
passar a noite. Às vezes, ela encontrava restos de comida perto de restaurantes ou mercados. As sobras eram poucas, mas era tudo o que tinha, e por isso ela agradecia por cada pedacinho de pão que conseguia achar. Com o tempo, aprendeu a procurar nos lugares onde as pessoas menos olhavam, lugares onde sabia que ninguém a expulsaria. Mas mesmo isso não era suficiente, e muitos dias ela ia dormir com o estômago vazio, sentindo uma dor profunda que parecia vir de dentro. A fome era uma constante em sua vida, e ela começou a se acostumar com a sensação
de fraqueza que vinha junto. O frio, quando chegava, parecia ainda mais difícil de suportar. As noites eram geladas e, sem um cobertor, Luí encolhia-se o máximo que podia, tentando se aquecer. Nos primeiros dias, ela ainda tinha algumas roupas extras na mochila, mas depois de um tempo, tudo começou a se desgastar. As roupas já não protegiam do frio como antes, e ela se via tremendo durante horas, esperando que o sol nascesse logo para lhe dar um pouco de calor. A pior parte, porém, era a solidão. Lu não tinha ninguém com quem pudesse conversar, ninguém para dividir
suas angústias e medos. Ela falava sozinha, às vezes contando histórias que inventava para se distrair. Em outras ocasiões, sussurrava para o ursinho de pelúcia que levava na mochila, contando sobre como sentia saudade do pai, sobre como queria que ele estivesse ali para protegê-la. O ursinho se tornou seu amigo e confidente, a única lembrança de um tempo que agora parecia distante. Por mais difícil que fosse, Luí tentava manter a esperança. Ela lembrava dos momentos bons com o pai e usava essas lembranças como combustível para continuar. Em uma noite especialmente fria, enquanto tremia debaixo de uma marquise,
fechou os olhos e se lembrou do abraço dele, da forma como ele sempre a confortava e a fazia sentir segura. Essa lembrança ajudava a resistir, mesmo quando tudo parecia perdido. Com o tempo, Luí foi ficando cada vez mais fraca. Seus ossos começaram a aparecer e suas roupas estavam soltas em seu corpo pequeno. Ela evitava se olhar em espelhos ou vitrines porque não queria ver o quanto havia mudado. A menina cheia de vida de antes parecia estar desaparecendo, sendo substituída por uma criança cansada e sem brilho. Mesmo assim, ela continuava um dia de cada vez, sempre
esperando que algo bom pudesse acontecer. As noites continuavam sendo as piores. O medo de ser atacada ou de que alguém a machucasse era constante. Ela não sabia em quem confiar, então tentava se esconder o máximo possível, escolhia lugares escuros e ficava ali, quieta, segurando o ursinho contra o peito e torcendo para que ninguém a visse. Algumas vezes, outras crianças de rua apareciam e a chamavam para ir com elas, mas Luí tinha medo. Ela já havia visto algumas dessas crianças roubando ou brigando, e isso a deixava assustada. Ela preferia enfrentar o frio e a solidão do
que se envolver em algo perigoso. A situação continuou assim por semanas, e Luísa se acostumou a viver nessa rotina. Ela sabia onde procurar comida, onde encontrar um pouco de água e os melhores lugares para se esconder. Era uma vida dura, mas era o que ela tinha, e no fundo, ela sabia que precisava se adaptar para sobreviver. Mesmo sendo tão pequena, ela carregava uma força que parecia vir do próprio amor que sentia pelo pai. Ela sabia que ele não iria querer que ela desistisse, então, mesmo que tudo fosse difícil, ela continuava. Em um dia especialmente quente,
enquanto caminhava pelo centro da cidade, Luí sentiu uma tontura forte. Ela tentou se apoiar em uma parede, mas as pernas fraquejaram e ela caiu de joelhos. Na calçada, algumas pessoas olharam, mas logo seguiram em frente, sem prestar muita atenção. Luí respirou fundo, tentando se levantar, mas o corpo parecia não obedecer. O cansaço e a fome estavam cobrando um preço alto, e ela sabia que precisava de ajuda, mas não tinha ninguém para chamar. Ela se arrastou até uma sombra e se encostou na parede, fechando os olhos por alguns minutos para recuperar as forças. Naquele momento, ela
sentiu o desespero aumentando, como se o mundo estivesse desmoronando ao seu redor. Ela queria chorar, gritar, pedir socorro, mas já não tinha mais voz. Todo o sofrimento das últimas semanas parecia se concentrar naquele momento, e ela se sentiu completamente sozinha, sem saber se conseguiria aguentar por muito mais tempo. Mesmo assim, Luí continuava. No fundo do coração, uma pequena parte dela ainda acreditava que as coisas poderiam mudar, que alguém finalmente haveria, que talvez uma pessoa boa aparecesse para ajudá-la. Mas, por enquanto, tudo o que ela podia fazer era lutar para sobreviver, cada dia sendo uma vitória,
cada pedaço de pão encontrado sendo um alívio. Luísa, sozinha e sem ninguém, continuava lutando, com João fora do caminho e Luí abandonada à própria sorte. Renata estava finalmente livre. A casa agora era toda dela, e não havia ninguém para incomodá-la ou questioná-la. Nos primeiros dias, ela aproveitou o silêncio e a sensação de poder absoluto, sem uma criança rondando e sem precisar se preocupar em esconder sua verdadeira natureza. Renata sentia que o mundo estava aberto para ela. Mas, em pouco tempo, aquilo deixou de ser suficiente. Por mais que tivesse a casa e o dinheiro de João,
Renata queria mais. O tempo passou, e ela começou a se cansar da rotina monótona de sua nova vida. Passava os dias andando pela casa, sem ninguém para impressionar, sem ninguém a quem enganar. A diversão de manipular João e de controlar a pequena Luí havia acabado, e agora ela se via buscando uma nova oportunidade para mostrar o que sabia fazer de melhor: encantar e controlar. Foi em uma dessas saídas pela cidade, enquanto fazia compras em uma loja cara, que Renata viu Eduardo pela primeira vez. Ele era um homem charmoso, vestido com roupas de qualidade, e tinha
um jeito amável que ela percebeu logo de início. Eduardo era um homem de negócios bem-sucedido, um tipo que exalava confiança e, ao mesmo tempo, tinha um ar de generosidade que atraía as pessoas. Renata observou por um tempo, escondida entre as prateleiras, e notou como ele conversava com todos de maneira simpática, sem arrogância. Ela sorriu para si mesma, já calculando mentalmente cada detalhe. Eduardo seria perfeito. Renata sabia que se aproximar dele exigiria paciência e estratégia. Eduardo parecia ser o tipo de homem cuidadoso, o tipo que não se deixa impressionar com facilidade. Ela precisaria de uma história
convincente, algo que o tocasse de verdade, que despertasse o lado protetor dele. E foi então que uma ideia começou a se formar em sua mente: se ela se mostrasse como uma mulher frágil, uma viúva que havia passado por uma perda trágica e que estava buscando recomeçar, talvez ele sentisse compaixão. Talvez ele se interessasse em ajudá-la, e, com o tempo, ela encontraria uma maneira de conquistar sua confiança. No dia seguinte, Renata voltou à loja de roupas caras onde o havia visto pela primeira vez. Ela vestiu um traje simples, mas elegante, algo que transmitisse seriedade e sofisticação.
E, para dar o toque final, usou um colar discreto que pertencia a João, uma pequena lembrança que ela sabia que transmitiria uma imagem de viúva ainda mais convincente. Como esperava, Eduardo estava lá, escolhendo algo em uma das prateleiras. Renata se aproximou, fingindo estar distraída, e então esbarrou, sem querer, nele. "Oh, me desculpe", disse ela, com um sorriso tímido. Eduardo sorriu de volta, educado, e comentou que estava tudo bem. Eles trocaram algumas palavras e, como ela já havia previsto, ele perguntou se ela morava na cidade. Renata, aproveitando a deixa, contou sua história cuidadosamente inventada, disse que
era viúva há pouco tempo, que ainda estava tentando se adaptar a uma nova vida sozinha, que sentia muita falta do marido e que, às vezes, precisava sair para não se sentir tão sozinha. Eduardo, que parecia ter um coração generoso, ficou sensibilizado. Ele disse que entendia a situação e que, de alguma forma, podia imaginar a dor dela. "Se precisar de alguém para conversar, estou à disposição", ofereceu ele, simpático. Renata sentiu uma satisfação interna, mas manteve a expressão triste, agradecendo com um sorriso fraco. Sabia que tinha dado o primeiro passo. Eduardo agora era oficialmente o seu novo
alvo, e ela faria o que fosse necessário para conquistá-lo. Com o passar das semanas, Renata e Eduardo começaram a se encontrar com mais frequência. Eles tomavam café juntos, saíam para jantar em lugares elegantes, e ela sempre mantinha uma postura cuidadosa. Sem pressa, ela sabia que era importante que ele acreditasse que estava conhecendo uma mulher honesta, alguém que só queria reconstruir a vida. Renata falava pouco sobre si mesma, apenas o suficiente para manter Eduardo curioso e interessado em saber mais sobre sua história. O tempo todo, Renata estava atenta aos sinais que ele dava, aos detalhes sobre
sua vida e seus gostos. Ela se adaptava a cada situação, moldando-se de acordo com as preferências dele, rindo de suas piadas e mostrando-se sempre compreensiva. Eduardo se sentia confortável com ela e, aos poucos, começou a confiar cada vez mais naquela mulher que parecia tão encantadora e sincera. Certo dia, durante um jantar, Eduardo mencionou que gostava de ajudar pessoas em situação difícil, especialmente crianças. Ele contou histórias de projetos sociais que apoiava e mencionou como queria fazer a diferença no mundo. Ao ouvir isso, Renata quase não conseguiu segurar o sorriso. Ela já sabia como usar essa informação
a seu favor. Naquela noite, ela se preparou para jogar uma nova cartada. "Eduardo", disse ela, com a voz ligeiramente embargada, como se estivesse prestes a chorar, "tem algo..." Que eu não contei a você? Eduardo olhou para ela, surpreso e preocupado, e Renata continuou fingindo hesitação. Ela contou uma história dramática sobre uma filha que havia perdido, uma criança que supostamente tinha morrido em um acidente. Ela sabia que isso tocaria o lado emocional dele e que ele não conseguiria resistir ao impulso de consolá-la. Eduardo ficou visivelmente comovido, colocou a mão sobre a dela e disse que lamentava
profundamente. Ele disse que entendia o que era perder alguém importante, que estava ali para ela se precisasse de apoio. Renata usou essa oportunidade para se aproximar ainda mais, fingindo que confiava nele, que se sentia protegida ao lado dele, e assim ela foi fortalecendo o vínculo, sabendo que cada palavra, cada gesto calculado, a aproximava do objetivo final. Em pouco tempo, Eduardo já estava completamente encantado por Renata. Ele a via como uma mulher forte, alguém que enfrentou grandes dificuldades e que merecia uma nova chance de ser feliz. E assim, sem que percebesse, ele estava caindo exatamente no
jogo dela, tornando-se mais um alvo em sua lista. A relação entre Eduardo e Renata crescia a cada dia, tornando-se cada vez mais intensa. Eduardo, sem saber das intenções sombrias de Renata, começou a planejar o futuro ao lado dela. Ele a apresentava como uma mulher admirável para amigos e parceiros de negócios. Renata, por sua vez, sabia como agir em cada situação, mostrava-se humilde e gentil, com uma pitada de vulnerabilidade que deixava todos comovidos. Com o tempo, Eduardo começou a confiar mais nela e a compartilhar detalhes importantes sobre sua vida e seus negócios. Renata escutava com atenção,
memorizando tudo. Ele era dono de uma empresa lucrativa, com investimentos em vários setores; para Renata, aquilo era uma mina de ouro. Ela só precisava de paciência para agir no momento certo. Eduardo estava completamente encantado por ela, vendo em Renata a mulher ideal, carinhosa, companheira e aparentemente sincera. Para ele, ela era uma força tranquila, alguém que trouxe paz e alegria para sua vida. Renata, por outro lado, continuava a desempenhar seu papel com perfeição, mostrava-se atenciosa, dedicada e sempre disposta a apoiá-lo em qualquer situação. Conforme os meses passavam, Eduardo começou a falar cada vez mais sobre o
futuro juntos. Ele fazia planos para viagens, falava sobre como Renata seria a pessoa certa para estar ao seu lado nos momentos mais importantes de sua vida. Renata ouvia com paciência, deixando que ele acreditasse que ela compartilhava o mesmo sonho. Foi durante um jantar romântico em um restaurante elegante que Eduardo decidiu dar o próximo passo. Ele havia reservado uma mesa isolada, decorada com flores e velas. Renata, fingindo surpresa, sorriu ao notar o cuidado nos detalhes. Enquanto o jantar avançava, Eduardo segurou a mão dela com firmeza, olhou em seus olhos e fez o pedido: "Renata, você transformou
minha vida de uma forma que eu nunca imaginei. Eu não quero mais imaginar um futuro sem você. Casa comigo?" Renata fez uma pausa calculada, permitindo que um leve brilho de emoção surgisse em seus olhos. Ela colocou a mão sobre a dele e respondeu com a voz embargada: "Eduardo, eu nem sei o que dizer. Claro que sim." Eduardo sorriu, visivelmente emocionado, e colocou o anel no dedo dela. Ao redor, algumas pessoas aplaudiram discretamente, celebrando o momento do casal. Renata manteve a expressão de felicidade, enquanto internamente pensava que tinha acabado de dar mais um passo em direção
ao controle total da vida de Eduardo. A partir daquele momento, os planos de Renata avançavam para um nível ainda maior. Ela sabia que, ao se casar com Eduardo, teria acesso a tudo o que ele possuía, e, como sempre, ela estava disposta a fazer o que fosse necessário para garantir que nada atrapalhasse seus objetivos. O casamento de Renata e Eduardo estava marcado para um sábado ensolarado. O dia estava perfeito, com o céu claro e uma brisa suave, e a igreja onde seria a cerimônia estava toda decorada com flores brancas. Amigos e familiares de Eduardo preenchiam os
bancos, ansiosos para ver o casal se unir oficialmente. Todos pareciam felizes por ele, pois sabiam que Eduardo havia passado por muitas dificuldades na vida e merecia encontrar alguém que o fizesse feliz. Mas, claro, ninguém sabia que a mulher ao lado dele era Renata e do que ela era capaz. Luísa, que sobrevivia nas ruas há meses, estava magra e frágil, mas em uma manhã, ao caminhar pela praça da cidade, ouviu duas mulheres comentando sobre o casamento de Eduardo e Renata. Quando ela ouviu o nome de Renata, sentiu seu coração bater mais forte. Não era possível! A
madrasta tinha encontrado um novo alvo e estava prestes a se casar novamente. Aquele nome trouxe à tona toda a dor e o abandono que Luísa tinha vivido. Sem pensar duas vezes, a menina decidiu que precisava encontrar Eduardo. Ela precisava alertá-lo sobre quem era realmente aquela mulher que estava prestes a se tornar sua esposa. No dia do casamento, Luí concentrou todas as forças que tinha e se dirigiu à igreja. As pernas tremiam, e o medo de encontrar Renata fazia seu estômago se revirar, mas ela sabia que precisava ir até o fim. Assim que chegou, viu a
noiva conversando com algumas pessoas na entrada da igreja, sorrindo e cumprimentando os convidados. Luísa observou de longe; era como se estivesse vendo um monstro disfarçado. Renata estava deslumbrante, com um vestido impecável, toda arrumada como se fosse a mulher perfeita. E mais uma vez, Luí viu como Renata era boa em enganar as pessoas. Ela sabia exatamente o que fazer e o que dizer para conquistar todos ao seu redor. Quando Eduardo chegou, sorridente e visivelmente feliz, Luí sentiu a urgência aumentar. Ela não podia deixar que ele se casasse com aquela mulher sem saber a verdade. Então, respirando
fundo e ignorando o medo, aproximou-se dele. Com sua voz fraca e tremida, ela chamou por ele: "Eduardo, por favor, espere!" Eduardo se virou, surpreso. Ao ver aquela menina magra e malvestida que parecia ter vindo de muito longe, ele olhou para ela com curiosidade, mas também com uma certa preocupação, como se tentasse entender o que ela queria ali, no meio de seu casamento. — O que aconteceu, querida? Como posso te ajudar? — ele perguntou, com uma gentileza que Luí já não estava acostumada a ouvir. — Por favor, você não pode se casar com ela! — disse
Luí, quase chorando. — Renata, ela não é quem você pensa. Ela é perigosa, uma pessoa muito ruim! Ela me abandonou! Meu pai morreu por causa... Luí não conseguiu terminar a frase, pois as lágrimas começaram a rolar. Ela tentou se recompor, mas a lembrança de tudo o que tinha vivido ao lado de Renata tornou difícil continuar. Eduardo ficou surpreso e um pouco confuso; olhou para Renata, que agora havia notado a presença da menina e começava a se aproximar, com o rosto sério. — O que você está dizendo, menina? — ele perguntou, mas com um tom de
voz que mostrava que não estava levando aquilo a sério. Afinal, como acreditar em uma criança que parecia estar perdida e que ele nunca tinha visto antes? Renata, já com o rosto fechado, chegou perto deles e colocou a mão no ombro de Eduardo. — Ah, Eduardo, desculpe por isso — ela disse, com um tom fingido de compaixão. — Essa pobre criança apareceu na minha casa alguns meses atrás, dizendo que era órfã e que precisava de ajuda. Tentei cuidar dela, mas era difícil; ela inventava histórias, tinha surtos. Renata fez uma pausa e olhou para Luí com um
olhar de pena, como se estivesse tentando justificar alguma coisa. — Infelizmente, não consegui lidar com ela e tive que pedir ajuda para que a levassem embora. Nunca imaginei que ela voltaria. Eduardo olhou para Luí com uma expressão de pena e, em seguida, sorriu para Renata como se estivesse aliviado por tudo estar esclarecido. — Ah, então é isso! — ele disse, suspirando. — Renata, você realmente é uma pessoa muito bondosa. Tentar ajudar uma criança assim deve ter sido difícil. — Eu só fiz o que pude — respondeu Renata, apertando a mão de Eduardo com força, como
se quisesse ter certeza de que ele estava do seu lado. Mas Luí, percebendo que ele estava sendo enganado, começou a chorar, ainda mais desesperada para fazer Eduardo ouvir. — Por favor, você tem que acreditar em mim! Ela mentiu para você, ela só quer o seu dinheiro! Ela vai machucar você! Mas, para os outros convidados e até para Eduardo, Luísa parecia apenas uma criança perturbada, com aquele vestido velho e os cabelos embaraçados. Ela parecia alguém que estava inventando uma história para chamar atenção. A maioria dos convidados a olhava com um misto de pena e desconforto, sem
saber como reagir. E, para Renata, aquilo era perfeito. Ela sabia que Luí parecia desesperada e que ninguém ali acreditaria em uma palavra do que ela dizia. Eduardo, então, se abaixou à altura de Luí e falou com calma, tentando acalmá-la: — Eu não sei o que aconteceu com você, menina, mas aqui você está segura. Vou pedir para alguém te ajudar, está bem? Mas não precisa inventar essas histórias. Ele sorriu, mas a expressão no rosto de Luí mostrava que seu coração estava se despedaçando. Ela tinha feito de tudo para alertá-lo, para evitar que ele passasse pelo mesmo
sofrimento que ela, mas ninguém acreditava nela. Renata se aproximou e, com o rosto cheio de falsa compaixão, passou a mão pelos cabelos de Luísa, como se fosse uma mãe preocupada. — Venha, querida, eu vou chamar alguém para te ajudar — disse ela, mas seu olhar para Luísa era frio, como se a estivesse ameaçando. Luí tentou resistir, mas naquele momento percebeu que estava sozinha. Todos ao redor pareciam convencidos da bondade de Renata e ninguém ali estava disposto a ouvir a verdade. Com os olhos cheios de lágrimas e o coração despedaçado, Luí foi retirada da igreja, ainda
chamando por Eduardo, ainda tentando gritar a verdade. Mas, para todos ali, ela não passava de uma criança desajustada, e Renata, mais uma vez, conseguiu escapar com sua mentira intacta, pronta para seguir com seus planos e com o casamento. Enquanto Luí era levada para longe, Eduardo e Renata seguiram em frente com a cerimônia e, quando trocaram os votos, Renata não pôde evitar o pequeno sorriso de vitória. Ela sabia que havia vencido mais uma vez, que ninguém desconfiava dela e que Luísa, sua única ameaça, estava fora de cena. Depois daquele dia estranho, Eduardo não conseguia parar de
pensar na menina que apareceu no casamento. A imagem de Luí, magra, assustada e desesperada, continuava em sua mente. As palavras dela sobre Renata eram difíceis de esquecer. — Ela vai te machucar — Luí havia dito, e a intensidade no olhar da menina ficou ecoando na cabeça dele. Mesmo tentando se convencer de que era apenas uma criança perturbada, algo parecia não se encaixar. Eduardo tinha uma sensação esquisita no peito, como se um alarme estivesse tocando baixinho, alertando-o para algo que ele ainda não conseguia ver. Renata, é claro, notou a preocupação dele e começou a agir de
forma ainda mais carinhosa e atenciosa, tentando desfazer qualquer dúvida. Preparava suas refeições favoritas, fazia questão de estar sempre ao lado dele, mostrando-se dedicada e doce. Mas, mesmo com toda essa demonstração de amor, Eduardo sentia que alguma coisa estava fora do lugar. Em um momento de dúvida, ele resolveu seguir sua intuição e investigar. Eduardo decidiu que, em vez de questionar Renata abertamente, ele iria observá-la. Começou a prestar atenção nos detalhes, nos pequenos deslizes que ela talvez cometesse quando achava que ele não estava olhando. Ele observava o rosto dela se transformar em algo frio e calculista, bem
diferente da mulher doce que aparentava ser. Aos poucos, Eduardo começou a perceber que Renata não era exatamente a pessoa que ele imaginava. Para ter certeza, Eduardo decidiu ir mais fundo. Em uma noite, ele esperou que Renata adormecesse e, com cuidado para não... Fazer barulho, pegou o celular dela, que estava na mesinha ao lado da cama. Ele sabia que se Renata estivesse escondendo alguma coisa, o celular poderia ter respostas. Com a luz mínima da tela, começou a procurar por mensagens, fotos e contatos, e após alguns minutos de buscas, encontrou um número de telefone que parecia pertencer
a um advogado. Sem pensar duas vezes, ele anotou o contato e decidiu fazer uma ligação no dia seguinte, fingindo ser outra pessoa. Na manhã seguinte, Eduardo ligou para o advogado e, ao se apresentar como um amigo próximo de Renata, ele perguntou sobre alguns documentos. O advogado, acreditando na história, mencionou um seguro de vida antigo de João e como a herança havia passado toda para Renata após a morte dele. Eduardo ficou chocado. Ele sabia que João era o primeiro marido de Renata, mas ouvir sobre os detalhes do seguro e da herança deixou claro que ela não
estava com ele apenas por amor. Aquela era a primeira confirmação de que algo não estava certo. Ao desligar o telefone, Eduardo sentiu o coração disparar. A história de Luí começou a fazer sentido, e ele percebeu que provavelmente a menina havia dito a verdade. Eduardo decidiu que precisava ser mais cuidadoso; ele sabia que, se Renata fosse realmente perigosa, como Luí dizia, qualquer deslize poderia colocar sua vida em risco. Nos dias seguintes, Eduardo começou a testar Renata discretamente. Durante um jantar, ele comentou sobre a possibilidade de adicionar Luiz em seu testamento, dizendo que sentia pena da menina
e que queria ajudar crianças que passaram por situações difíceis. A reação de Renata foi imediata; ela ficou rígida por um momento, mas logo sorriu, disfarçando o desconforto. "Ah, claro, querido! Que ideia maravilhosa!" respondeu, tentando parecer natural. Mas Eduardo percebeu que algo no olhar dela havia mudado; era como se ela tivesse se incomodado profundamente com aquela possibilidade. Depois disso, Eduardo decidiu levar o plano a um nível mais sério. Ele sabia que Renata poderia estar apenas esperando o momento certo para agir, assim como havia feito com João. Então, bolou uma ideia ousada: ele fingiria estar ficando doente
para ver como ela reagiria. Era arriscado, mas ele precisava saber até onde Renata estava disposta a ir. Eduardo começou a agir como se estivesse doente. Ele reclamava de tonturas, dizia que estava sem apetite e que se sentia fraco. Renata, sempre em seu papel de esposa preocupada, se ofereceu para cuidar dele e até sugeriu que ele descansasse mais e tomasse alguns remédios naturais que ela mesma poderia preparar. Eduardo fingiu aceitar a ajuda dela, mas secretamente escondia as bebidas que Renata lhe dava. Ele não confiava nela e queria ver até onde ela iria. Certo dia, Renata apareceu
com um frasco novo de vitaminas e disse que aquilo ajudaria a se sentir melhor. Eduardo sorriu e fingiu gratidão, mas guardou as cápsulas em um canto do quarto onde ela não conseguiria vê-las. Ele sabia que Renata podia estar usando aquilo para tentar piorar sua saúde, assim como tinha feito com João. A cada nova tentativa dela de ajudá-lo, ele disfarçava, fingindo tomar os comprimidos, mas sempre dando um jeito de se livrar deles em segredo. Com o passar dos dias, Eduardo observava como Renata parecia cada vez mais relaxada, quase como se estivesse ansiosa por um desfecho. Ele
notava o quanto ela se mostrava preocupada com sua saúde, mas, ao mesmo tempo, fazia planos sobre o futuro, falando sobre viagens e sobre como eles poderiam viver uma vida confortável em outra cidade. Para Eduardo, aquilo era um sinal claro de que ela estava esperando o momento certo para se livrar dele. Eduardo decidiu que era hora de encerrar o plano e confrontar Renata de uma vez por todas. Ele reuniu todas as provas que tinha: as mensagens, as conversas com o advogado e até mesmo as cápsulas suspeitas que ela havia lhe dado. Mas, em vez de confrontá-la
diretamente, Eduardo decidiu envolver a polícia. Ele entrou em contato com um detetive particular e explicou toda a situação, pedindo que ajudassem a investigar a morte de João e as ações de Renata. O detetive sugeriu que eles esperassem o próximo movimento de Renata e, para a surpresa de Eduardo, não demorou muito. Era uma noite calma, mas Eduardo sentia o coração batendo rápido. Ele sabia que aquela poderia ser a última vez que Renata tentaria algo contra ele e que, se tudo saísse como planejado, ele finalmente teria a prova que precisava. O jantar estava à mesa, e Renata,
como sempre, havia preparado tudo com cuidado, desde o prato principal até a decoração da mesa, como se fosse uma noite especial. Mas Eduardo sabia que a intenção dela era bem diferente de uma simples celebração. No meio do jantar, Renata se levantou e foi até o armário pegar uma garrafa de vinho. "Vamos brindar a nossa nova vida", disse ela, sorrindo. Eduardo retribuiu o sorriso, mas por dentro sentia um frio percorrer sua espinha. Ele sabia que aquele vinho era parte do plano dela e, mesmo sem saber exatamente o que ela havia feito, suspeitava que Renata tivesse adulterado
a bebida de alguma forma. Ele precisava agir com calma para não levantar suspeitas. Renata abriu a garrafa, serviu o vinho e entregou uma das taças a Eduardo. Ele pegou a taça, observando-a com cuidado, e notou que Renata mantinha os olhos fixos nele, como se estivesse esperando por algo. Eduardo agradeceu, mas, em vez de levar a taça direto à boca, fingiu lembrar-se de algo. "Ah, só um minuto, querida", disse ele, levantando-se com um sorriso. "Vou pegar uma coisa na cozinha; volto já." Ele saiu da sala segurando a taça. Ao chegar à cozinha, trocou rapidamente o conteúdo
dela com o de outra taça de vinho que ele já havia deixado preparado. Ele queria garantir que, caso algo acontecesse, não seria ele quem pagaria o preço. Voltou para a sala com a taça trocada e sentou-se novamente ao lado de Renata. "Parecia aliviada ao vê-lo de volta. 'Agora sim, vamos brindar', disse Eduardo, levantando a taça. Eles brindaram, e Renata, com um sorriso satisfeito, levou o vinho à boca, tomando alguns goles. Eduardo observou cada movimento dela, tentando disfarçar sua ansiedade. O que ele esperava era que, se realmente houvesse algo errado com aquele vinho, Renata sentiria os
efeitos em breve. Os primeiros minutos se passaram sem nenhuma reação, e Eduardo começou a se perguntar se havia feito algo errado. Mas então Renata começou a piscar mais devagar, como se estivesse com dificuldade para se concentrar. Ela levou a mão à cabeça e olhou para ele com um leve desconforto no rosto. 'Estou me sentindo estranha', murmurou, colocando a taça na mesa e tentando se levantar. Eduardo observava em silêncio, esperando a confirmação do que já suspeitava. Renata tentava manter o controle, mas era evidente que algo não estava bem. Ela cambaleou ao levantar e quase caiu, segurando-se
na cadeira. 'Eduardo, eu... eu não sei o que está acontecendo', disse com a voz enfraquecida e o olhar confuso. 'Renata', disse Eduardo em um tom sério, olhando diretamente para ela, 'está tudo bem? Parece que você não está se sentindo muito bem.' Ele percebeu que ela começava a entrar em pânico, provavelmente entendendo que algo estava dando errado. Renata tentou responder, mas sua voz saía trêmula, quase apagada, e ela olhava ao redor como se buscasse alguma explicação. Ela caiu de joelhos, ofegante, e Eduardo se aproximou lentamente. 'Renata, será que você colocou algo no vinho?' perguntou, sem disfarçar
a acusação. Ao ouvir isso, Renata arregalou os olhos, mas já estava fraca demais para reagir. Ela tentou balbuciar alguma coisa, mas as palavras não saíam. Eduardo observava tudo com um olhar firme, sabendo que finalmente a verdade estava se revelando. Nos minutos que se seguiram, Renata ficou cada vez mais debilitada. Eduardo decidiu chamar uma ambulância, mas sabia que não tinha muito que fazer, a não ser esperar. Ele se manteve ao lado dela, observando enquanto a expressão de Renata passava de surpresa para desespero e finalmente para uma compreensão amarga. Ela havia sido enganada. Eduardo não tinha caído
em seu plano, e agora ela era vítima de sua própria armadilha. Quando a ambulância chegou, os paramédicos a encontraram fraca e sem forças para reagir. Eduardo explicou que ela havia tomado um vinho e que, de repente, começou a passar mal. Ele não mencionou suas suspeitas nem o fato de que havia trocado as taças, sabia que agora a verdade estava prestes a vir à tona e que o melhor era deixar que a investigação seguisse seu curso. Renata foi levada ao hospital, e Eduardo se sentiu aliviado. Ele sabia que o pior havia passado e que finalmente estava
livre daquela mulher que havia tentado manipulá-lo e possivelmente até acabar com sua vida. Renata foi levada às pressas para o hospital, e enquanto Eduardo observava a ambulância se afastar, sentiu um alívio enorme, mas também uma tensão no ar, como se ainda não estivesse completamente livre dela. Ele sabia que Renata era astuta e capaz de qualquer coisa para sair daquela situação, mas por enquanto ela estava fora de cena, e isso lhe deu um pouco de paz. No hospital, Renata foi internada em estado grave. O veneno que ela mesma havia preparado parecia estar fazendo efeito agora em
seu corpo. Ela mal conseguia abrir os olhos, sentia o corpo pesado, as mãos trêmulas e a mente confusa, como se estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia sair. Os médicos cuidaram dela com urgência, tentando estabilizá-la, e ela ficou em observação por horas, até que finalmente entrou em coma. Enquanto isso, Eduardo respirava um pouco mais tranquilo, sabia que com Renata fora de ação ele finalmente poderia investigar tudo o que ela havia feito e entender até onde iam suas mentiras. Agora, sem Renata por perto, ele se deu conta do quanto havia sido enganado e de
como havia se deixado levar pela imagem falsa que ela criara. Eduardo não se sentia feliz pela situação dela, mas sabia que aquela era a consequência dos próprios atos de Renata; tudo que ela havia tentado fazer com ele e com João agora parecia se voltar contra ela. Nos dias que se seguiram, Eduardo começou a reconstruir sua vida, mas dessa vez sem a presença sufocante de Renata. Ele já havia falado com seu advogado e iniciado uma investigação sobre a morte de João, querendo entender se Renata realmente havia feito algo para acelerar a morte do primeiro marido. O
advogado, ao ver as provas e a situação dela no hospital, ficou chocado e prometeu ajudar Eduardo a resolver a questão de maneira legal. Eduardo sentia que, pouco a pouco, estava recuperando o controle sobre a própria vida. Por outro lado, o caso de Renata se tornava um mistério para os médicos; eles sabiam que algo sério havia acontecido, mas ainda não conseguiam entender o que havia provocado aquela condição. A única coisa que podiam fazer era mantê-la sob cuidados intensivos e esperar. Para eles, Renata era apenas uma paciente, mas para Eduardo ela era uma ameaça que estava temporariamente
controlada. Ele não queria baixar a guarda, sabia que assim que ela acordasse, provavelmente tentaria se vingar de alguma forma. O tempo passou, e Eduardo aproveitou essa fase para se reerguer, colocar a vida nos eixos. Ele até começou a fazer planos para o futuro, buscando deixar para trás tudo o que havia acontecido. Mas em seu íntimo, ele sabia que a situação de Renata ainda não estava completamente resolvida. A cada dia que passava, ele imaginava quando ela acordaria e o que aconteceria depois disso. Depois de alguns dias, Eduardo recebeu uma ligação do hospital. O médico informou que
Renata continuava em coma, mas que havia tido uma leve melhora. A voz do médico era de cautela, mas Eduardo percebeu que aquilo significava que ela poderia acordar a qualquer momento, e ao ouvir isso, ele sentiu uma nova onda de preocupação." Revisar as medidas de segurança em sua casa: trocou fechaduras, instalou câmeras e até pediu ajuda a um segurança particular. Ele sabia que, se Renata acordasse, provavelmente tentaria continuar de onde havia parado, e ele queria estar preparado. Durante o tempo em que ela estava no hospital, Eduardo trabalhou dia e noite para garantir que, ao menos se
ela tentasse algo, não teria mais controle sobre sua vida. Algumas semanas se passaram e, para a surpresa de todos, Renata finalmente começou a dar sinais de que estava saindo do coma. Os médicos avisaram Eduardo, que sentiu o corpo todo ficar tenso. Sabia que aquele momento chegaria, mas agora que estava tão próximo, era difícil não se preocupar com o que ela poderia fazer. No entanto, Renata ainda estava fraca, e isso deu a Eduardo uma vantagem; ele sabia que, enquanto ela estivesse se recuperando, teria tempo para buscar provas contra ela e terminar aquilo de vez por todas.
Mesmo assim, a ideia de que ela pudesse sair do hospital e tentar se vingar o deixava em alerta constante. Renata, ainda no hospital, começava a perceber sua situação. Estava presa a uma cama, sem forças para se mover, com enfermeiras e médicos entrando e saindo do quarto. Ela sentia o corpo dolorido; cada movimento era difícil e sua mente ainda estava lenta, confusa. Mas, ao recuperar um pouco da lucidez, Renata lembrou-se do que havia acontecido com Eduardo. Ele havia trocado as taças e ela havia caído em sua própria armadilha. A ideia de que ele a enganou, a
esposa, a própria arma, a deixou furiosa. Ela não sabia como, mas estava determinada a se vingar, a fazer Eduardo pagar por tudo o que havia passado. Os dias se arrastavam para Renata, mas a cada novo amanhecer, ela recuperava um pouco de força, e a cada pequeno avanço, sua raiva por Eduardo aumentava. Ela sabia que ele estava seguro e que estava por trás de sua condição; então, em sua mente, tudo que conseguia pensar era em como voltaria para se vingar dele. Ela não planejava desistir; para ela, aquele era apenas um revés, uma queda temporária. Os dias
no hospital se arrastavam para Renata; cada segundo parecia uma eternidade. O quarto frio, as paredes brancas e as enfermeiras que entravam e saíam eram tudo que a mantinha consciente do tempo passando. Mas, ao mesmo tempo em que se sentia presa, ela se fortalecia. Estava se recuperando, mesmo que lentamente; a raiva e a sede de vingança a mantinham firme. Renata sabia que, assim que tivesse forças suficientes, não deixaria que aquilo terminasse daquela forma. Enquanto se recuperava, Renata se esforçava para manter um comportamento neutro, fingindo aceitar a situação, fingindo estar pacífica, mas, por dentro, ela arquitetava cada
passo que daria assim que deixasse aquele hospital. Ela observava tudo ao seu redor, cada detalhe que poderia ser útil. Sabia que os enfermeiros faziam as rondas em horários fixos e que alguns deles deixavam a porta aberta enquanto organizavam medicamentos. Era questão de tempo até encontrar uma oportunidade para escapar. Após semanas de paciência, Renata finalmente percebeu uma chance real de fugir. Numa noite em que havia apenas uma enfermeira de plantão, ela notou que o hospital estava mais silencioso do que de costume. As luzes no corredor estavam reduzidas e as portas que antes ficavam sempre trancadas agora
estavam entreabertas. O coração dela bateu acelerado e, com o pouco de força que tinha, ela se preparou para o que seria a chance de sair dali. Ela aguardou até o horário em que a enfermeira trocava de plantão, exatamente às 4:00 da manhã. Com o corredor vazio, ela lentamente levantou-se da cama, segurando-se nas paredes para não perder o equilíbrio. Cada passo parecia um esforço monumental, mas ela se forçava a continuar; sabia que, se voltasse agora, a oportunidade seria perdida. Em sua mente, via o rosto de Eduardo; lembrava-se da forma como ele a enganara, e isso a
fez seguir em frente. Ao sair do quarto, Renata avançou pelo corredor silencioso, passando rapidamente pela ala dos pacientes. Ao final do corredor, uma porta levava para o estacionamento do hospital, mas antes de chegar até lá, ela precisaria passar pela recepção. Renata respirou fundo e avançou devagar, tentando ao máximo não chamar atenção. A recepcionista estava distraída, conversando no telefone, e Renata aproveitou o momento para se esgueirar pela porta lateral que dava acesso a uma escada de emergência. Ela desceu a escada com o máximo de cuidado, mas sentia que, a qualquer momento, alguém poderia aparecer. Sua respiração
estava pesada, os músculos fracos, mas ela não podia desistir agora. Quando chegou ao térreo, encontrou uma saída para o estacionamento e finalmente alcançou o lado de fora do hospital. O ar frio da madrugada envolveu-a e ela sentiu a liberdade ao seu redor. Era isso: estava fora daquele lugar, estava livre. Com dificuldade, Renata caminhou até a rua. Ela sabia que não podia parar ali; precisava encontrar um lugar onde pudesse se esconder, recuperar a força e pensar no próximo passo. Cada movimento ainda era doloroso, mas sua determinação era maior. Lembrou-se de uma casa abandonada em um bairro
próximo, um lugar que, se ninguém tivesse mexido, poderia servir como esconderijo por alguns dias. Renata sabia que a polícia logo saberia de sua fuga, mas confiava que teria tempo suficiente para se esconder antes que alguém pudesse encontrá-la. Com esforço, ela chegou até a velha casa, empurrando a porta enferrujada e entrando em um espaço escuro e vazio. O lugar estava sujo e frio, mas naquele momento era tudo que ela precisava. Sentou-se no chão, tentando recuperar o fôlego, e começou a organizar os pensamentos. Sabia que Eduardo provavelmente estava se sentindo seguro, acreditando que ela estava incapacitada no
hospital. Ele não fazia ideia de que agora ela estava livre e pronta para dar o próximo passo. Renata passou os dias seguintes se escondendo, saindo apenas de noite para buscar um pouco de comida. Em lugares onde ninguém prestava atenção, ela se movia rápido, se mantinha nas sombras e, sempre que possível, evitava qualquer contato com outras pessoas. Sua determinação a mantinha forte e, apesar das dificuldades, ela continuava a se preparar. Eduardo não ficaria impune; ele iria pagar por tê-la enganado, e Luí também. Eduardo não conseguia parar de pensar em Luí desde o dia em que ela
apareceu no casamento. Apesar de Renata ter dado sua versão da história, algo naquela menina frágil, magra e desesperada mexia profundamente com ele. Era o jeito como ela olhou em seus olhos, como se estivesse carregando o peso do mundo e precisasse de alguém que acreditasse nela. E Eduardo acreditava. Por dias, ele tentou encontrar informações sobre Luí, perguntou discretamente para pessoas que conheciam Renata, mas, como sempre, ela tinha manipulado a verdade. Dizia que a menina era uma órfã problemática, que ela tentou ajudar, mas que não havia como lidar. Eduardo sabia que havia mais nessa história; sua intuição
dizia que ele precisava fazer algo, que não podia simplesmente ignorar a situação. Em uma noite chuvosa, enquanto dirigia pela cidade, Eduardo viu uma figura pequena encolhida sob a marquise de uma loja fechada. O coração dele apertou; reduziu a velocidade. Ao se aproximar, reconheceu o rosto de Luí, escondido sob os cabelos embaraçados. Ela estava abraçada a um ursinho de pelúcia, com o olhar perdido e as roupas molhadas pela chuva. Eduardo estacionou o carro rapidamente e desceu. Luí chamou com cuidado para não assustá-la. A menina levantou o rosto devagar e, ao vê-lo, ficou imóvel, como se não
pudesse acreditar que alguém tinha vindo. “Você está bem?” perguntou Eduardo, aproximando-se devagar. Luísa começou a chorar, balançando a cabeça. “Ela me deixou, ela me deixou sozinha,” soluçou, segurando o ursinho com força. Eduardo se ajoelhou ao lado dela e colocou as mãos em seus ombros. “Eu sei,” disse ele com a voz cheia de empatia. “Eu sei tudo que ela fez e sinto muito que você tenha passado por isso, mas agora acabou. Você não precisa mais ficar sozinha. Venha comigo, vou cuidar de você.” Luísa olhou para ele, buscando alguma verdade em seus olhos, e viu algo que
não estava acostumada a ver: confiança. Sem hesitar, Eduardo a pegou no colo e a levou para o carro, cobrindo-a com uma manta que estava no banco de trás. Durante o caminho para casa, ele explicou com calma: “Eu investiguei. Sei o que Renata fez com o meu pai e com você, e agora vou garantir que ela nunca mais machuque ninguém.” Luí ouviu em silêncio, segurando o ursinho, mas por dentro algo começou a se acender; pela primeira vez, alguém acreditava nela. Quando chegaram à casa de Eduardo, ele preparou um banho quente para Luísa e um jantar simples,
mas especial. Enquanto ela comia, ainda tímida, ele começou a falar mais sobre o que sabia. “Renata... ela manipulou meu pai, fez ele acreditar que ela era alguém boa. Mas agora eu sei que foi tudo mentira; ela é perigosa, Luísa. Mas nós vamos acabar com isso juntos.” Luí, mesmo tão pequena, percebeu a sinceridade na voz de Eduardo. Aquilo não era como as falsas promessas de Renata; era real. E pela primeira vez, ela começou a acreditar que poderia ter um lugar seguro com Luí, agora morando com ele. Eduardo redobrou a atenção; ele sabia que Renata não ficaria
quieta por muito tempo. A polícia ainda procurava, mas Eduardo tinha certeza de que, mais cedo ou mais tarde, ela apareceria. E foi exatamente isso que aconteceu naquela noite. As luzes da casa estavam baixas. Eduardo e Luí estavam na sala, lendo juntos um livro que ela havia escolhido. Apesar de todo o medo que carregava, Luí começava a se sentir em casa ali, especialmente ao lado de alguém que realmente a ouvia. Mas do lado de fora, nas sombras, Renata os observava. Seus olhos estavam fixos na janela e sua mente estava tomada por raiva. Para ela, Eduardo havia
traído sua confiança ao acolher Luí; ele precisava pagar por isso. Renata esperou o momento certo e entrou pela porta dos fundos que Eduardo havia esquecido de trancar. Com passos silenciosos, ela se aproximou da sala. A visão de Eduardo e Luí juntos, rindo baixinho, fez sua raiva aumentar ainda mais. Sem hesitar, ela apareceu na porta, segurando uma faca que havia pegado na cozinha. “Boa noite,” disse Renata com um sorriso frio. Eduardo levantou-se rapidamente, colocando-se entre ela e Luí. “Renata, acaba!,” disse ele, tentando manter a calma. “Você não tem mais poder aqui; a polícia está te procurando.
É só questão de tempo.” “Você acha que me importo?” respondeu ela, rindo. “Você tirou tudo de mim, Eduardo. Tudo! Agora vou tirar o que você tem.” Ela deu um passo à frente e Eduardo percebeu que a situação poderia se tornar ainda mais perigosa. “Luí, vá para o quarto e tranca a porta,” disse ele rapidamente, sem desviar os olhos de Renata. Mas antes que a menina pudesse se mover, Renata avançou, gritando. Eduardo reagiu instintivamente, agarrando o braço dela e lutando para desarmá-la. Luí, assustada, correu para o canto da sala, observando tudo com os olhos arregalados. Eduardo
conseguiu segurar Renata, mas ela era forte, movida pela fúria. A luta foi intensa e a faca caiu no chão, deslizando para longe. Luísa viu a faca e, reunindo toda a coragem que tinha, correu para pegá-la antes que Renata pudesse alcançá-la. “Pare!” gritou ela, segurando a faca com as mãos trêmulas. “Você já fez mal demais; não vai machucar mais ninguém!” Renata olhou para a menina, surpresa pela coragem, mas antes que pudesse dizer algo, as sirenes da polícia ecoaram do lado de fora. Uma das empregadas da casa havia presenciado toda a cena e rapidamente ligou para a
polícia. Os policiais invadiram a casa rapidamente, dominando Renata. Ela lutou, mas estava em desvantagem. Quando finalmente foi levada, Eduardo e Luí caíram no sofá, exaustos, mas aliviados. Pela primeira vez, Luí sentiu que o pesadelo havia acabado e ao... Olhar para Eduardo, viu algo que nunca havia tido: uma família de verdade. Com Renata finalmente fora de suas vidas, Eduardo e Luí começaram a experimentar um tipo de paz que ambos haviam esquecido que existia. A casa, antes cheia de tensão e medo, parecia diferente; era como se um peso invisível tivesse sido tirado e, pela primeira vez, Luí
podia caminhar por aqueles cômodos sem sentir medo ou necessidade de se esconder. Os primeiros dias foram de ajuste. Eduardo se dedicou inteiramente a Luí, fazendo tudo o que podia para garantir que ela se sentisse segura e amada. Ele sabia que a menina carregava traumas profundos e que apenas o tempo e o cuidado verdadeiro poderiam ajudar a curá-los. Assim, ele começou uma rotina tranquila com ela, cheia de pequenas atividades que ajudavam a recuperar a confiança na vida e a sentir que, finalmente, ela tinha alguém com quem contar. A cada manhã, Eduardo preparava o café da manhã
para os dois, sempre com a intenção de criar um momento especial. Ele sabia que, para Luí, esses gestos simples significavam muito. A menina, aos poucos, foi relaxando e, com o passar dos dias, começou a se abrir mais, contando a ele histórias da infância ao lado do pai, das coisas que gostava de fazer e até das saudades que sentia de uma época em que se sentia segura. Um dia, enquanto tomava um café, Eduardo fez uma proposta que a deixou surpresa. Ele olhou nos olhos dela e, com um sorriso gentil, disse: — Luí, eu gostaria de ser
parte da sua vida de verdade. Se você quiser, eu adoraria cuidar de você como meu próprio pai faria. A menina olhou para ele, emocionada, sem acreditar que alguém finalmente estava ali para ficar, para cuidar dela de verdade, sem nenhuma mentira. Ela sentiu, e os dois se abraçaram, marcando o início de uma nova vida juntos. Eduardo, então, começou a tomar providências legais para adotar Luí oficialmente. Ele queria que ela soubesse que nunca mais estaria sozinha, que sempre teria um lar para onde voltar e uma família que a amasse de verdade. Durante esse processo, ele buscou ajuda
profissional para que ambos pudessem lidar com tudo que haviam passado. Luí começou a frequentar sessões com uma terapeuta especializada em crianças, e Eduardo também participou, sabendo que precisava de apoio para reconstruir a vida e ser o melhor pai que poderia ser para ela. Com o tempo, as sessões de terapia foram ajudando Luí a falar sobre os medos e traumas que Renata havia causado. Aos poucos, ela começou a perceber que a culpa e a dor que sentia não pertenciam a ela, que tudo o que havia sofrido era responsabilidade de Renata e que ela, Luísa, era uma
menina forte e digna de amor. Essa compreensão foi libertadora para a menina, que passou a ver a si mesma com mais confiança e a construir uma imagem mais positiva de quem ela era. A cada pequeno progresso, Eduardo a incentivava, comemorando junto com ela cada conquista. Se Luí conseguisse dormir a noite inteira sem pesadelos, ele fazia um jantar especial no dia seguinte; se ela tivesse um bom dia na escola, ele a levava ao parque ou ao cinema. Ele queria que Luísa sentisse que cada vitória era importante e que ela não estava mais sozinha. Com o passar
dos meses, Eduardo e Luí se tornaram mais do que apenas pai e filha; eles se tornaram parceiros, amigos, uma verdadeira família. Eduardo, que nunca tinha pensado em ser pai antes, descobriu que aquele papel era o mais importante de sua vida. Ele sabia que não poderia substituir o pai de Luí, mas também sabia que podia oferecer o amor, o apoio e a segurança que ela merecia. Ele se dedicou de coração, e isso transformou a vida dos dois. No primeiro Natal juntos, Eduardo e Luí enfeitaram a casa de um jeito especial. Foi a primeira vez em muito
tempo que Luí sentiu o verdadeiro espírito natalino, sem medo ou tristeza. Eles montaram a árvore juntos, rindo e brincando enquanto penduravam as luzes e os enfeites. Naquela noite, Eduardo presenteou-a com um álbum de fotos, onde poderiam guardar cada lembrança nova que criassem. Luí abriu o presente com um sorriso, sabendo que finalmente tinha uma vida pela frente, onde poderia colecionar boas memórias. Na escola, Luísa também começou a fazer novos amigos. Com o apoio de Eduardo, ela entrou para um clube de desenho e passou a desenvolver seu talento artístico, algo que sempre havia gostado, mas que nunca
tinha tido a oportunidade de explorar. Eduardo fazia questão de apoiá-la em cada projeto, sempre elogiando seus desenhos e incentivando-a a continuar. Essa expressão através da arte ajudava Luí a colocar para fora tudo o que sentia, a transformar o medo e a dor em algo bonito, algo que representava sua força e sua superação. Com o tempo, Luí começou a se abrir para os novos amigos, contando a eles de forma leve parte da sua história e das dificuldades que enfrentou. Os colegas ouviram com atenção, e ela ficou surpresa ao perceber que eles a acolheram, respeitando seu passado
e admirando sua coragem. Isso deu a ela mais confiança, ajudando-a a sentir que sua história, por mais dolorosa que fosse, também tinha um lado de superação que valia a pena compartilhar. E assim, os dias foram passando. Eduardo e Luí continuaram a construir uma vida juntos, com base em amor e confiança. A casa, antes marcada pelo sofrimento que Renata havia causado, agora era um lar de verdade, cheio de risadas, momentos especiais e promessas para o futuro. Eles começaram a fazer planos de viagem, a organizar jantares com amigos e até a fazer caminhadas nas manhãs de sábado,
aproveitando cada momento e construindo uma rotina simples, mas cheia de significado. Luí, ao olhar para o futuro, já não sentia o peso do passado. Ela sabia que as lembranças ainda estavam lá, mas também sabia que agora... Tinha alguém com quem dividir tanto as tristezas quanto as alegrias: Eduardo estava ao seu lado, e isso bastava.