Você está comendo 1 cartão de crédito por semana e 50 sacolas de plástico por ano! No vídeo de hoje eu vou te contar sobre o problema dos microplásticos, que estão se tornando um problema sério de saúde pública e para o meio ambiente. Você pode não saber, mas a cada garfada, você acaba colocando pra dentro pequenas partículas do lixo mais comum do planeta.
Existe um componente que está muito mais presente na sua vida do que você imagina. Você acorda e desliga o despertador do seu celular, usa sua escova de dentes, passa um creme no cabelo e vai trabalhar olhando o painel do seu carro. No trabalho, você assina um contrato com a sua caneta preferida.
No fim do dia, você volta pra casa ouvindo sua música preferida no rádio do carro, pega o controle remoto, liga sua TV no Olá Ciência e descobre o que todos esses objetos têm em comum é o plástico. O plástico é um dos produtos sintéticos mais comuns do nosso cotidiano. Produzido a partir do petróleo, ele pode ser misturado com várias substâncias químicas, que dão resistência e maleabilidade pra ele atingir infinitas formas e usos.
O problema é que o plástico está se acumulando no planeta. Uma pesquisa de 2022 descobriu rochas formadas por plástico aqui no Brasil, na Ilha de Trindade, na costa do Espírito Santo. E não são rochas com plástico agarrado.
São rochas formadas de plástico! Isso porque o plástico derrete e se funde com os sedimentos do solo, formando rochas compactas, que vão passar pelos mesmos processos geológicos que as rochas comuns, como a erosão. Nós, seres humanos, estamos interferindo tanto no planeta que até estamos alterando os ciclos geológicos da Terra, deixando marcas.
Imagine que daqui a milhares ou até milhões de anos, quem analisar o planeta Terra vai encontrar rochas contendo plásticos enterrada, assim como encontramos pequenas partículas do asteroide que dizimou os dinossauros em sedimentos de rochas de 66 milhões de anos atrás. E isso é tão real, pessoal, que o plástico acumulado na composição das rochas hoje pode marcar uma nova época geológica na Terra, o Antropoceno, o período em que o ser humano alterou significativamente o planeta. Mas por que será que encontrar plástico na composição das rochas é um problema tão grave?
O plástico não está só nas rochas. O plástico também está se acumulando no solo, nos rios e principalmente nos oceanos. Existem regiões nos oceanos, que devido ao movimento das correntes marítimas, acumulam esse plástico, formando verdadeiras ilhas de plástico.
A maior dessas ilhas, chamada de grande mancha de lixo do Pacífico é tão grande que cabem três Franças dentro dela. E não é só a superfície dos oceanos que está dominada pelo plástico. O plástico também já está se acumulando nas profundezas.
A Amanda, nossa parceira do canal Zoomundo, bióloga e roteirista deste vídeo, faz parte de um projeto que estuda os animais das profundezas. A equipe de pesquisa que ela faz parte registrou uma quantidade imensa de lixo plástico em profundidade de até 1. 500 metros.
Até na região mais profunda do planeta Terra, a Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico, com quase 11 mil metros de profundidade, já foi encontrado plástico. Muitos animais ingerem plástico confundindo com alimento, e outros acabam se enroscando e se machucando. Pedaços maiores de plástico podem servir até como meio de transporte de pequenos animais por quilômetros!
É o caso de mexilhões, estrelas do mar e outras 300 espécies marinhas que pegaram carona nos detritos plásticos que foram lançados no mar durante o tsunami que assolou o Japão em 2011. Esses animais chegaram no Havaí e na costa oeste dos Estados Unidos, se tornando espécies invasoras por lá. Todos os anos, cerca de 12 milhões de toneladas de plástico chegam aos oceanos.
325 mil toneladas são lançadas pelo Brasil. E as projeções futuras não são nada animadoras: estima-se que até 2050, os oceanos terão mais plástico do que peixe! Mas e se a gente puder remover essa quantidade de plástico, com alguma tecnologia?
Bem, mesmo se você tivesse uma máquina mágica, que ao simples toque de um botão, pudesse desaparecer com todo o plástico que você vê pela frente, o plástico ainda seria um problema. O perigo está no plástico que você não vê e que está se acumulando neste momento dentro de todos os seres vivos e dentro de você! Esses são os microplásticos.
O plástico é um material muito resistente e pode demorar centenas de anos para se decompor. Mas com o passar do tempo, ele se quebra em pedaços pequenos, menores que 5 milímetros, chamados microplásticos. E se o planeta está todo cheio de plástico, ele está ainda mais cheio desses pedaços menores.
Os microplásticos são comidos por pequenos animais aquáticos, que, aos poucos, acumulam essas partículas. Outros animais que comem animais pequenos adquirem o microplástico e, ao longo de sua vida, acumulam ainda mais. Animais predadores de topo, como os tubarões, são campeões em acumular partículas.
Outros animais filtradores, como mariscos e camarões, também são fonte de microplásticos, especialmente porque comemos esses animais por inteiro. Então é só não comer peixes e frutos do mar, para não correr o risco de acumular microplásticos no corpo. Infelizmente, não é bem assim.
Como todos os seres vivos estão expostos aos microplásticos, nós podemos ingerir essas partículas através de vários alimentos e também pela água. E por mais estranho que pareça, podemos inalar microplásticos ao respirar. Cara, eu ainda me lembro das primeiras aulas da faculdade quando descobri o conceito de ubíquo.
Bactérias e fungos são ubíquos, se você procurar com um microscópio qualquer lugar da superfície do planeta Terra vai ter algum tipo de microorganismo. Mas o que me chocou mesmo nos últimos anos é que os microplásticos… também são ubíquos. Nós adicionamos plástico a todo tipo de objeto nos últimos 100 anos e agora eles são como bactérias.
Eles estão em todo lugar: no solo, na água, nos alimentose no ar. Microplásticos são adicionados deliberadamente em alguns produtos cosméticos e até em produtos de limpeza. Além disso, microplásticos são liberados cada vez que lavamos roupas de tecido sintético, como aquele tecido bem versátil que eu tenho certeza que faz parte do seu guarda-roupas: o jeans.
Em 2021, pesquisadores da Austrália e Cingapura, estimaram que a quantidade de microplásticos que ingerimos é de cerca de 5 gramas por semana. É o equivalente a comer um cartão de crédito por semana, a partir da água e dos alimentos do dia a dia. Quem é que não fica chocado com essa informação?
Comenta aí se você já conhecia os microplásticos dessa maneira. E se essas informações são novas pra você, me conta aí embaixo o que você está sentindo com essa série que mistura um pouco de meio ambiente e saúde? Eu acho que vale um like nesse vídeo, não vale?
Essa estimativa é bem alta e vêm sendo contestada por alguns cientistas Eles alegam que os valores de microplásticos absorvidos no corpo estão superestimados, só que por outro lado, os mesmos cientistas insistem que, ainda que esse valor seja menor, não significa que o problema deve ser ignorado. E aí surge a questão: será que essa quantidade de microplásticos que ingerimos pode se acumular no nosso corpo? Um microplástico pode causar dano à nossa saúde?
Uma pesquisa recente, realizada em 2022, detectou a presença de microplástico no leite materno em 76% das lactantes que fizeram parte do estudo. A mesma equipe de pesquisa também descobriu a presença de microplásticos na placenta humana, o que ligou um alerta sobre os possíveis riscos dos microplásticos para o desenvolvimento de embriões e bebês. Mas esses não foram os únicos achados de microplásticos em amostras humanas.
Eles já foram encontrados em fezes e sangue humano, e em órgãos como o pulmão, incrustados em regiões muito pequenas lá no meio do órgão. E os riscos ainda são incertos. Como a detecção de microplásticos em seres humanos é algo recente, nós precisamos recorrer a pesquisas que já estão sendo realizadas com células e outros animais.
Estudos preliminares já demonstraram que microplásticos podem ser absorvidos pelas células e causar a liberação de toxinas por elas, como uma resposta a uma reação alérgica, sabe? Eles também podem causar a morte das células. Já estudos com animais mostraram que produtos químicos contidos nos microplásticos podem desregular o sistema endócrino, afetando o equilíbrio de hormônios e a reprodução.
Em uma pesquisa realizada em camundongos, os indivíduos que ficaram mais expostos aos microplásticos desenvolveram baixa contagem de espermatozoides, implicando na fertilidade dos machos. Já em uma outra pesquisa, realizada com codornas, a ingestão de microplásticos causou frequências mais altas de cistos no sistema reprodutivo dos machos e pequenos atrasos no crescimento e na maturidade sexual dos filhotes. Estudar os efeitos dos microplásticos na saúde humana é mais desafiador, porque a gente não pode expor seres humanos deliberadamente a esses compostos e depois estudar eles.
Mas sabemos, por exemplo, que trabalhadores da indústria têxtil desenvolvem vários problemas pulmonares relacionados à ingestão e inalação de microplásticos. Por outro lado, esses trabalhadores estão expostos a uma quantidade imensa de microplásticos por períodos prolongados, o que não é a realidade para a maioria das pessoas, então esses estudos servem apenas como um alerta. Ainda falta responder questões básicas, como a quantidade de microplásticos que se acumulam no organismo, se existem órgãos específicos que acumulam esses compostos, quais as concentrações de microplásticos que estariam relacionadas a danos na saúde e quais seriam exatamente esses danos… Pois é.
Microplásticos têm um potencial enorme de causar danos à saúde e ao meio ambiente, mas será que existe alguma maneira de minimizar esses impactos? O que você pode fazer? É claro que descartar o lixo corretamente, separando os recicláveis e dando o destino correto é um ato muito importante de conscientização e faz a diferença.
Mas, pessoal, o negócio é bem mais complexo. Você já pensou que quando a gente joga o lixo fora, não existe o “fora”? O lixo continua no planeta.
Ele só muda de lugar. Como não se pode, de fato, jogar o plástico fora, a gente precisa pensar em alternativas mais eficientes para lidar com ele. Melhorar a tecnologia da reciclagem é um ponto, usar bactérias ou fungos que comem plástico é outro, mas existe uma outra ação ainda mais importante: a redução do uso!
Essa é uma tarefa difícil, já que o plástico faz parte da composição de inúmeros objetos. Por isso, se você quer começar a mudar esse problema, começa reduzindo aquele plástico de uso único, sabe? Aquele copinho descartável, aquele canudinho e até aquela sacolinha plástica que te acompanha em tudo.
Usar a sua própria xícara de café no trabalho economiza pelo menos 200 copinhos de café por ano. Você já pensou nisso? Olha!
Essa xícara eu deixei no link da descrição caso você se interesse. O que mais você já está fazendo pra reduzir o uso de plástico? Comenta aqui embaixo.
Pequenas ações individuais podem sim impactar o coletivo, além de incentivar novas políticas públicas para a gestão dos resíduos sólidos. Saber do problema também pressiona! Temos aí o exemplo de vários países que já baniram as sacolinhas plásticas e que têm projetos de eliminar cada vez mais os plásticos.
A gente ainda não sabe em detalhes os riscos à saúde causados pelos microplásticos que a gente come, mas já sabemos que essas partículas estão causando danos enormes no meio ambiente, e isso nos afeta diretamente. Saber que o problema existe é o pontapé inicial para iniciar uma mudança. Assim como aconteceu com os inscritos no canal que descobriram que viver em grandes cidades impacta a saúde mental e se reconectar com a natureza pode ter inúmeros benefícios comprovados pela ciência.
Eu conto isso aqui nesse vídeo. Um grande abraço, leva sua própria xícara de café pro trabalho e eu te vejo no próximo vídeo. Tchau.