Se você já se perguntou como é o planeta Terra durante uma extinção em massa, é muito fácil descobrir. Apenas abra a sua janela e olhe para a paisagem, onde quer que você esteja. As transformações que os seres humanos tem feito na Terra provocaram todos os tipos de mudanças, extinguiram milhares de espécies e erradicaram ecossistemas inteiros.
Nesse documentário, vamos voltar no tempo para presenciar momentos tão definitivos quanto esse na história da vida, conheceremos as 5 grandes extinções e massa e muitas outras menores, mas igualmente determinantes, para enfim, compreender a atual sexta extinção em massa. Prepare-se para viajar mais de 4,5 bilhões de anos no tempo para presenciar alguns dos eventos mais macabros de toda a história da biologia, como a morte de muitos dos primeiros seres vivos, A vez que o oxigênio deixou os céus azuis e a Terra congelada, Quando seres estranhos e enigmáticos do fim da era das bactérias deram passagem para a explosão de diversidade animal como conhecemos, O momento em que a invasão da Terra firme pelos tetrápodes quase falhou por muito pouco, A mãe de todas as extinções, chamada de grande morte do permiano, O fim da era dos dinossauros, trazido por um impacto extraterrestre profundo e devastador, A extinção da megafauna da era do gelo, entre outros momentos em que a vida ficou por um fio. Ao final, teremos uma noção melhor do que está acontecendo nesse exato momento e como o planeta Terra pode se recuperar depois da extinção que estamos atravessando.
Acontece que mudanças climáticas, acidificação dos oceanos, perda de habitat e extinção da megafauna são eventos comuns durante fases de instabilidade na biosfera, mas dessa vez, a causa é diferente. Essa é a história das extinções em massa do planeta Terra. Bem-vindo ao éon Hadeano, pouco depois da formação da Terra.
Foi nas águas desses oceanos jovens, quentes, escuros e quimicamente caóticos que a vida surgiu, muito provavelmente nas chaminés submarinas geologicamente ativas. Nessas águas, flutuam livremente aminoácidos, os blocos fundamentais para a construção de cadeias de DNA. É possível que na superfície dessas chaminés submarinas, se acumulasse uma fina película lipídica, que com o calor, formasse pequenas bolhas de gordura que acabavam encapsulando aminoácidos livres na água.
Isso não é uma célula viva, mas tem uma camada fosfolipídica separando o mundo interno do mundo externo e um interior quimicamente rico e repleto de aminoácidos, assim como as células vivas. Esses são os protobiontes, um modelo de como a vida pode ter começado a se organizar, mais de 4 bilhões e 300 milhões de anos atrás. Curiosamente, a primeira extinção em massa do planeta aconteceu não muito depois da própria origem da vida.
E ela é meramente hipotética. Isso porque as formas de vida mais simples conhecidas são bactérias e arqueias, os chamados organismos procariontes, de células geralmente pequenas e simples, se comparadas com as células eucariontes como as de protozoários e de organismos pluricelulares, como fungos, plantas e animais. Os procariontes são sem dúvidas os organismos mais importantes que existem, porque com seus inúmeros truques químicos e biomassa colossal, eles são capazes de definir as condições químicas dos mares e dos céus.
Mas se assim que apareceram eles imediatamente começaram a mudar a química dos oceanos e da atmosfera, eles podem ter destruído justamente as condições específicas que deram origem à vida, junto com os primeiros e mais simples organismos da história, como os protobiontes. O sucesso estrondoso e cosmopolita dos primeiros procariontes pode ter alterado as condições químicas do oceano a ponto de eliminar totalmente as formas de vida mais simples do que eles, que deram origem a eles. Pode ser por isso que hoje, para nós, é tão difícil entender como a vida surgiu e como eram os primeiros organismos, porque eles não foram capazes de lidar com a própria criação e suas consequências.
Com essa primeira extinção que possivelmente coincidiu com a grande explosão de vida procarionte nos oceanos, foi inaugurada a chamada “Era das bactérias”, de longe, a fase mais longa da história da Terra, tomando mais de 4 bilhões de anos, praticamente uma eternidade. Ela é dividida em dois grandes éons, o arqueano e o proterozóico. Durante os mais de dois bilhões de anos do arqueano, não existia nenhuma planta, nenhum animal, nenhum fungo, nenhuma célula eucarionte mais complexa, e mesmo se existissem, eles não sobreviveriam.
Os níveis de gás oxigênio diluído na água variavam entre o nulo e o mínimo, na atmosfera, ele era ainda mais raro, praticamente inexistente. Os oceanos, repletos de ferro livre e enxofre tinham uma cor turquesa esverdeada, com eventuais manchas roxas de concentrações de bactérias, já os céus ostentavam cores que iam do bege ao esverdeado, formando uma paisagem praticamente alienígena. Nessas condições profundamente anóxicas, ou seja, sem oxigênio, prosperavam as bactérias sulfúricas e metanogênicas, vulgarmente conhecidas como bactérias roxas.
Elas praticavam uma modalidade de fotossíntese que só é possível na ausência do oxigênio, muitas delas obtém como subproduto o tóxico sulfeto de hidrogênio, gás com odor podre capaz de matar um mamífero em concentrações muito baixas. O metano também era um subproduto muito comum de muitos dos processos metabólicos da época, assim como é até hoje, servindo também com um poderoso gás estufa. Nessa Terra asfixiante, não existia fogo, já que não havia oxigênio para alimentar a combustão, um tipo de oxidação da matéria promovida pelo calor, provando a imensa reatividade do oxigênio.
Mas havia uma imensa quantidade de vapor de água, metano e gás carbônico, formando um efeito estufa monstruoso que mantinha a água liquida do planeta. Assim como a Terra, o Sol também envelheceu, no início do arqueano, ele era cerca de 30% menos quente e brilhante do que é hoje, uma estrela muito mais jovem, em contraste com o sol de meia idade que nos ilumina hoje. Nas praias fétidas do arqueano, estavam as maiores estruturas vivas do planeta durante muito tempo: os estromatólitos.
Estruturas biossedimentares formadas na interação entre os biofilmes de organismos fotossitéticos e o sedimento movimentado pelas marés e ondas. Esses biofilmes eram finas películas de bactérias que colonizavam a superfície em busca de sol na ausência de herbívoros que os consumissem. Quando uma camada era soterrada, outra se formava por cima, mineralizando as camadas inferiores e produzindo diversas estruturas e formas com um padrão laminado característico.
Essas estruturas muitas vezes em formatos de domos que lembram cupinzeiros existem e se formam até hoje, embora muito menos comuns, especialmente em Shark Bay na Austrália. Hoje, as bactérias roxas que dominavam nos mares quentes do éon arqueano são encontradas apenas em condições muito específicas, com sua proliferação sendo muito prejudicial as formas de vida oxigênicas como nós. No arqueano, os papéis estavam invertidos, e as chamadas cianobactérias, as que fazem a fotossíntese verde oxigênica eram as formas de vida extremófilas cuja proliferação liberava o venenoso gás oxigênio, incompatível com a vida das bactérias roxas.
Essas duas modalidades de fotossíntese travam uma batalha épica há bilhões de anos, batalha essa que atualmente, estamos vencendo, e cuja virada de jogo aconteceu na passagem entre o éon arqueano e o éon proterozóico, cerca de 2,5 bilhões de anos atrás. As cianobactérias se proliferaram pelo equador da Terra e eventualmente, dominaram o mundo, transformando completamente o Planeta em algo muito mais familiar para nós. A imensa carga de gás oxigênio primeiro, saturou as águas, se ligando com o ferro em um processo de oxidação que forma ferrugem, deixando os oceanos vermelhos por milhões de anos.
A forma oxidada do ferro é insolúvel na água e tende a se aglutinar e decantar, em um processo lento e constante que resultou nas formações bandadas de ferro, quase todas um grande fóssil da grande oxigenação do planeta Terra. Na medida em que o oxigênio começou a escapar dos oceanos e contaminar a própria atmosfera, deixando de ser um gás traço e passando a ser um dos seus principais componentes, a química da atmosfera foi completamente alterada e com ela, o clima. O oxigênio destruiu as moléculas de metano que funcionavam como o principal gás estufa do planeta, provocando uma queda brutal na temperatura que causou a primeira e mais intensa era do gelo da história da Terra: a glaciação huroniana.
O planeta se congelou completamente, dos polos até o equador, no primeiro evento “Terra bola de neve”, diretamente associado ao grande evento de oxigenação e consequente catástrofe do oxigênio, a extinção em massa que formou o mundo que conhecemos hoje. Mas o mesmo oxigênio acabou formando a camada de ozônio, que barra grande parte da radiação cósmica e solar e torna nosso planeta um lugar bem mais hospitaleiro para a vida complexa. Ele também deixou nossos céus azuis como são até hoje.
Essa era do gelo durou mais de 300 milhões de anos, um tempo maior do que o que se passou desde os primeiros dinossauros até hoje. Mas enfim, as erupções vulcânicas acumularam CO2 o suficiente para derreter o gelo, iluminado por um sol mais jovem e mais frio. As novas condições que emergiram no éon proterozóico, agora dominado pelas cianobactérias, deram origem as primeiras células eucariontes, talvez o maior salto de complexidade da história da vida.
Sabemos que o último ancestral comum entre todos os animais viveu mais de 800 milhões de anos atrás, estimativa também sustentada por evidências de esponjas mais ou menos dessa idade, provando que os animais já existiam no período Toniano da era neoproterozóica do éon proterozóico. Mas os animais só ficam grandes, complexos e abundantes quase 300 milhões de anos depois, na chamada explosão cambriana de diversidade, porque durante todo esse tempo, o planeta era uma bomba climática imprevisível. Cerca de 720 milhões de anos atrás, o termostato da terra quebra novamente, com novos pulsos de oxigênio, em mais um evento Terra bola de neve, durante o período criogeniano.
É possível que existissem regiões no equador sem gelo, em que a vida animal poderia existir, assim como muitas formas de vida fotossintetizantes podem ter prosperado no próprio gelo. A vida como um todo e em especial a vida animal, sobreviveu de alguma forma a mais esse evento extremo de glaciação. Com o final do criogeniano, começa o ediacarano, período que sediou a explosão de Avalon, a verdadeira primeira irradiação significativa de vida multicelular da história, cerca de 570 milhões de anos atrás.
Mas essas formas de vida ediacaranas são tão diferentes de qualquer coisa que conhecemos, que sua interpretação foi uma tarefa quase impossível. Formas fractais planas com mais de 1 metro sem nenhuma evidencia de algum tipo de boca ou órgãos sensoriais, como dickinsonia, os chamados vendobiontes. Hoje, eles são considerados animais pela maioria dos especialistas, mas existem propostas sérias de que eles se tratem de um outro grupo multicelular completamente extinto.
Imensas penas marinhas como Charnia se estendiam até os pontos abissais do oceano, vivendo da filtragem de partículas orgânicas na água e crescendo muito devagar, sem a preocupação de predadores. O ediacarano é muitas vezes comparado com um tipo de jardim do éden evolutivo, um momento na história antes do pecado, onde todos viviam em harmonia, e embora poético, não era bem assim. Sabemos que muitas dessas formas de vida eram as primeiras herbívoras do planeta, se alimentando dos biofilmes e tapetes de algas que cobriam as águas rasas onde a luz solar atinge o sedimento marinho.
Mas a maioria dos animais ainda tinham corpos moles, sem esqueletos, que só conhecemos justamente porque sua preservação foi possibilitada por esses tapetes de algas que dão estabilidade ao sedimento. Ao final do ediacarano, começamos a ver os primeiros inventores dos esqueletos organizados. O esqueleto foi inventado independentemente por vários grupos animais, mais ou menos por essa época, respondendo a uma pressão evolutiva comum: um imenso aporte de cálcio que estava sendo jogado regularmente nos oceanos como resultado do desgaste e da erosão das rochas em um ciclo glacial-interglacial menor, mas ainda intenso.
Assim surgiram alguns dos primeiros animais complexos com esqueletos de carbonato de cálcio, como corumbella, que viveu no Brasil no final do período ediacarano, sendo interpretado como um cnidário, o filo animal que abriga também os corais, anêmonas e águas vivas. Corumbella ocorria juntamente com outros seres, como Cloudina e Namacalathus, filtradores sésseis de poucos centímetros de altura, mas que secretavam esqueletos segmentados altamente organizados e móveis. Como um buraco encontrado em uma Cloudina sugere, pode ser que esses esqueletos estivessem protegendo esses organismos dos primeiros predadores da história, quem quer que eles tenham sido.
Essas comunidades ediacaranas perduraram por poucas dezenas de milhões de anos, antes de atravessarem uma extinção em massa muito esquecida, que substituiu quase que completamente a biota ediacarana pela fauna cambriana. Essa substituição é tão brusca que chamamos tudo que aconteceu até o fim do ediacarano de pré-cambriano, porque é a partir dele que se estabelecem os papéis ecológicos que perduram até hoje. A evolução dos esqueletos inaugurou um tipo de guerra armamentista que se retroalimentou até o ponto de provocar mudanças irreversíveis na própria estrutura dos ecossistemas.
Com ela, a inauguração da relação presa-predador, uma força evolutiva fundamental desde então, que levou ao evento de complexificação anatômica e ecológica chamado de explosão cambriana. Os novos animais com esqueletos passaram a nadar, consumir outros seres, buscar alimento ativamente e se enterrar, perturbando o subsolo e destruindo os tapetes de algas e as próprias condições de fossilização de seres de corpos moles. Ao mesmo tempo, esqueletos se preservam com muito mais facilidade, o que faz com que tenhamos a impressão de que todos os animais surgiram ao mesmo tempo, já complexos na explosão cambriana, mas mesmo ela é subdividida em estágios que duraram milhões de anos, e foi precedida por mais de 300 milhões de anos de evolução animal praticamente invisíveis no registro fóssil.
Já que se passou com animais pequenos, de corpos moles debaixo de uma glaciação global, onde poucos fósseis se formam e muitos são destruídos. Durante o Cambriano, os predadores mais dominantes eram artrópodes, como anomalocaris, com bocas redondas e dois membros moveis com garras, guiados por olhos altamente sofisticados. Os ancestrais dos vertebrados, como nós, estavam bem distantes do topo da cadeia alimentar, como Pikaia, de cerca de 1cm.
A dominância dos invertebrados como artrópodes, moluscos e braquiópodes se estendeu até o período ordoviciano. Esse foi o período que presenciou até a evolução dos primeiros “gigantes” filtradores, como Aegirocassis, que media cerca de 2 metros de comprimento, um análogo invertebrado das baleias, que vivia de comer pequenos animais e matéria orgânica suspensa na água. Mas também os primeiros predadores gigantes, como Cameroceras, um cefalópode de cerca de 9 metros de comprimento que estava no topo da cadeia alimentar ordoviciana.
Entre os predadores menores, mas ainda assustadores, estavam os euripterídeos, comumente chamados de escorpiões marinhos. Os peixes mais comuns durante o ordoviciano não tinham mandíbulas e não atingiam tamanhos expressivos, mas logo, sua hora chegaria com o início da chamada era dos peixes. O final do ordoviciano é marcado pelo que é considerada a segunda extinção em massa mais catastrófica dentre as 5 grandes.
Mais de 80% das espécies desapareceram na extinção entre o ordoviciano e o siluriano. Uma glaciação muito intensa se estabeleceu na medida em que as massas continentais se encaminhavam para o polo sul do planeta, alterando padrões de circulação globais e causando mudanças climáticas profundas. Com mais gelo armazenado acima do nível do mar, o nível dos oceanos abaixou drasticamente, destruindo os ambientes de mares rasos em que a maioria da vida animal habitava.
Os recifes de corais podem ter demorado mais de 100 milhões de anos para atingir o nível de complexidade perdido na extinção ordoviciana, mais de 445 milhões de anos atrás, a primeira das 5 grandes. Para conhecer a segunda das 5 grandes extinções da história da vida, avançaremos até o fim do devoniano, cerca de 372 milhões de anos atrás, para um planeta Terra muito diferente. Nos oceanos, agora dominados por peixes, nadavam placodermes imensos como Dunkleosteus, comparáveis com orcas atuais.
Também existiam peixes cartilaginosos ancestrais de tubarões e arraias, e muitas linhagens de peixes sem mandíbula, embora já em declínio. Nos continentes, as plantas já haviam dominado e estavam formando as primeiras florestas, embora muito diferentes das atuais, dominadas por plantas sem sementes como samambaias e cavalinhas imensas que conviviam com algumas das primeiras plantas com sementes verdadeiras. Nos pântanos, deltas de rios e regiões de marés, um grupo de peixes levava uma vida anfíbia, capazes de respirar ar, mas com membros pouco aptos para a locomoção em terra firme.
Esses são os ancestrais dos tetrápodes, muito parecidos com Tiktaalik. Sabemos que essa imensa diversidade de animais foi quase completamente erradicada na extinção do final do devoniano, sobrando apenas a linhagem que daria origem aos anfíbios. Se não fosse esse misterioso evento de perda de diversidade, animais parecidos com Tiktaalik poderiam existir até hoje, assim como celacantos, que conservam uma anatomia muito parecida com um ancestral ainda mais antigo.
De qualquer forma, a maioria dos peixes sem mandíbulas desapareceu, assim como todos os peixes placodermes como Dunkleosteus. Os ambientes marinhos foram os mais impactados, mas a causa pode ter sido uma revolução nos ambientes terrestres, causadas por inovações no mundo vegetal. No final do devoniano, florestas de plantas com sementes como Archaeopteris começam a se espalhar em locais mais secos do que os esporos de plantas sem sementes são capazes de suportar.
Suas raízes rapidamente aumentaram a taxa de erosão do terreno e começaram a formar o solo, organicamente carregado. Isso pode ter aumentado significativamente o intemperismo das rochas e aumentado o aporte de nutrientes que são carregados pelos rios até o oceano, que alimentam explosões de algas imensas causando eventos de eutrofização. Durante a eutrofização, a própria decomposição da imensa quantidade de matéria orgânica demanda tanto oxigênio que torna as águas sufocantes para a vida animal.
Talvez isso explique o porquê dos únicos tetrápodes sobreviventes da extinção devoniana tenham sido aqueles mais terrestres. Mas não seria a última vez que mudanças promovidas pela evolução dos vegetais transformaram o planeta e desestabilizaram a ecosfera. Chega então, o Carbonífero, período que dura de 359 até 300 milhões de anos atrás, um mundo quente e úmido com florestas globais.
Nos chãos dessas florestas úmidas, artrópodes de todos os tamanhos e anfíbios diversos dominavam esse mundo muito mais oxigenado do que o atual. Entre eles, Arthropleura, um dos maiores artrópodes conhecidos, um milípede de quase 3 metros de comprimento. E também Meganeura, uma libélula predadora com mais de meio metro de envergadura.
Foi nesse momento que surgiram os amniotos, dentro da linhagem dos anfíbios, os primeiros vertebrados capazes de se reproduzir em terra seca, graças a inovação evolutiva dos seus ovos porosos que preservam a umidade interior sem impedir as trocas gasosas no exterior, diferente dos ovos moles de anfíbios que precisam se desenvolver na água. Essas florestas eram compostas por algumas das primeiras plantas com lignina, como Lepidodendron, que chegava a mais de 50 metros de altura. A lignina hoje é um componente importante da construção da madeira verdadeira, ela permite uma combinação de resistência e flexibilidade que foram exploradas pela estrutura dessas licófitas colossais.
Essa nova molécula fibrosa carecia de microrganismos capazes de digeri-la com eficiência e rapidez suficiente para compensar seu crescimento frenético. Como resultado, essas árvores cresciam capturando carbono atmosférico e armazenando em seus corpos, caiam e não eram completamente decompostas antes de serem soterradas pela próxima geração de árvores mortas. Nessas condições, se formam rochas altamente orgânicas como o carvão mineral, um dos combustíveis fósseis mais usados na matriz energética global, aquele que deu início a revolução industrial.
Mas se o problema hoje é que todo esse carbono está voltando para atmosfera, no final do carbonífero, era o exato contrário disso. Na medida em que as árvores cresciam e se empilhavam, elas drenavam o CO2 atmosférico, diminuindo a temperatura do termostato terrestre até um ponto irreversível. Esse foi o chamado colapso florestal do carbonífero, um momento em que as florestas de carvão deram um fim em si mesmas, ao brincar com o ciclo do carbono.
A consequência foi a glaciação Karoo, 300 milhões de anos atrás, uma imensa geleira no polo sul do planeta que cobria grande parte do Brasil, na época, posicionado numa latitude muito mais ao sul. Isso somado a acumulação continental que resultaria na pangea, que dificulta o transporte de umidade oceânica para o vasto interior continental, marcou o fim das florestas úmidas carboníferas e o início de um mundo mais frio e mais seco: o permiano. Nesse novo mundo, os tetrápodes amniotos, que tinham aprendido durante o carbonífero a se reproduzir em ambientes mais secos, dominaram pela primeira vez.
Os ecossistemas começam a se parecer mais com o que são hoje, com animais de 4 patas competindo pelos principais nichos ecológicos terrestres. Essas primeiras comunidades de tetrápodes amniotos do permiano tinham poucas formas familiares e estavam subdivididos em duas grandes linhagens, a que deu a origem a todos os repteis e aves, os sauropsidos e a que deu origem aos mamíferos, os sinápsidos. Durante o permiano ambos se diversificaram, mas os sinápsidos eram os maiores e mais abundantes, como os pelicossauros do início do período, Os dinocefálios com crânios de formatos bizarros que prosperaram no meio do permiano, que ocupavam tanto papeis de herbívoros quanto de carnívoros, Os terríveis gorgonopsídeos, predadores de topo do fim do permiano com dentes de sabre e uma boca que se abria de forma muito ampla, E os pequenos dicinodontes, com bicos e presas adaptadas para cavar e viver vidas subterrâneas, como Lystrosaurus, que por incrível que pareça, são mais aparentados com os mamíferos do que com os repteis, apesar de pertencerem a uma linhagem hoje totalmente extinta de sinápsidos.
A linhagem que daria origem aos repteis tinha alguns representantes bastante grandes, como os pareiassauros, mas a maioria era pequena e parecida com um lagarto. O permiano terminou com a terceira das 5 grandes extinções em massa e de longe, a mais grave de todas, com o apelido macabro de “A grande morte”. Nesse evento, cerca de 252 milhões de anos atrás, uma série de desventuras geológicas abalaram o mundo, eliminando mais de 90% das espécies viventes.
Se algo existia antes do permiano, provavelmente não existia mais depois dele, Como os trilobitas, um dos grupos animais que haviam surgido no Cambriano, 300 milhões de anos antes. Tudo começou quando um imenso derrame basáltico onde hoje é a Sibéria, liberou imensas quantidades de gases estufa e enxofre na atmosfera durante milhões de anos. O carbono acumulado na atmosfera pode ter causado um aumento de mais de 10 graus na temperatura média, com ondas de calor insuportáveis o ano inteiro.
Quando absorvido pelos oceanos, o CO2 se liga com a água e forma ácido carbônico, acidificando os oceanos e dificultando a formação e o crescimento de animais com conchas. As mudanças climáticas foram tão bruscas que o oceano praticamente estagnou e apodreceu, causando eutrofização, anoxia e consequente explosão de bactérias roxas, que envenenaram as águas e a atmosfera. A combinação entre chuva ácida, mudanças climáticas, colapso das cadeias tróficas marinhas, envenenamento por sulfeto de hidrogênio e desertificação agravada pelo pico da pangeia, levaram a vida animal até o seu limite e quase erradicaram a vida complexa.
Por mais de 5 milhões de anos, a Terra foi um planeta vazio, quente, fedorento e venenoso. Esse evento marca o fim da era paleozóica e o início da era mesozóica, conhecida como a era dos dinossauros. Muitos dos sobreviventes da terceira grande extinção em massa, a grande morte do permiano, eram animais que se enterravam, capazes de escapar momentaneamente do calor e da secura cruel.
Esse evento fechou o permiano e abriu o triássico, 252 milhões de anos atrás. O triássico inaugura o mesozóico, a era dos dinossauros, mas eles não foram os primeiros animais a repopularem o planeta depois da extinção. Os descendentes dos pequenos diápsidos, que se pareciam com lagartos durante o permiano se diversificaram em muitas formas bizarras, como os aetossauros, que se parecem superficialmente com crocodilos herbívoros armados.
Mas durante os primeiros milhões de anos, antes que a Terra se recuperasse totalmente, os animais mais comuns do triássico eram os sinápsidos dicinodontes como Lystrosaurus, que se espalharam como pragas pelo mundo inteiro e se tornaram a espécie de vertebrado terrestre mais comum do mundo. Por um breve tempo, no início do triássico, esse foi o planeta dos Lystrosaurus. Seus descendentes chegaram a tamanhos de elefantes, como o impressionante Lisowicia, os primeiros animais gigantes da era dos dinossauros, mas que ironicamente, são sinápsidos, como os mamíferos.
Mas esse é só o começo de uma imensa gama de animais que aparentam totalmente estranhos para nós, que dominaram durante o período triássico. Esse pode ter sido o segundo maior evento de diversificação animal na história do planeta, uma explosão de diversidade proporcional ao abismo ecológico deixado pela extinção. Isso porque quando a Terra está vazia, os ecossistemas se tornam menos competitivos, e linhagens animais podem experimentar viver de outros recursos inexplorados e novas formas corporais inovadoras.
Esses são alguns dos momentos mais recompensadores na história da vida para a inovação evolutiva, quando seus riscos estão mais baixos e quase tudo pode funcionar. Já quando os ecossistemas se estabelecem, temos os papéis de produtores, herbívoros e predadores bem definidos e muito competitivos. Em momentos mais saudáveis da biosfera, uma das maiores forças evolutivas é a pressão pela permanência, se você se aperfeiçoou por milhões de anos até virar um especialista em determinado modo de vida e já dominou o ambiente em que vive, geralmente não compensa mudar de hábito.
A evolução continua, mas é bem menos aparente, porque acontece mais no nível genético do que nas formas dos seres. Mas a farra evolutiva do Triássico foi interrompida pela quarta grande extinção em massa do planeta Terra, aquela na transição entre o triássico e o Jurássico. Enquanto a pangeia se fragmentava, ela novamente introduzia uma quantidade colossal de gases estufa e enxofre na atmosfera, novamente acidificando os oceanos e causando desertificação e aridez global.
Esses derrames vulcânicos não são como nenhuma erupção atual, são verdadeiros pontos em que a crosta terrestre se fragiliza e o calor do manto vaza, formando imensos depósitos de rochas que conhecemos hoje como Provincia magmática do atlântico central, CAMP, em inglês. Essa também foi uma das extinções mais graves, tanto para a vida terrestre quanto para a vida marinha. Todos os dicinodontes como Lystrosaurus e Lisowicia foram perdidos, assim como uma boa parte das linhagens de arcossauros terrestres e repteis marinhos estranhos.
É por isso que os animais do triássico parecem tão bizarros para nós, porque não duraram muito por estarem no meio de duas das extinções mais severas da história da vida. A maioria das formas de vida do triássico viveram APENAS no triássico. Os ganhadores na loteria desse evento de extinção em massa foram os dinossauros, até então geralmente pequenos e generalistas, mas também equipados com um sistema respiratório eficiente muito conveniente para os baixos níveis de oxigênio do fim do triássico.
Durante os períodos seguintes, o Jurássico e o Cretáceo, eles se diversificaram e prosperaram nas muitas formas que conhecemos hoje, em um mundo mais úmido e florestado do que o Triássico. Entre o Jurássico e o Cretáceo também há um evento de extinção em massa muito mal compreendido, assim como em praticamente todas as divisas entre categorias do tempo geológico. A tabela do tempo geológico não é arbitrária, ela se baseia fortemente em eventos biológicos e evolutivos marcantes que definem períodos de mudança profunda e estabilidade que coincidem com substituições de fauna e flora ao longo do tempo.
Nas dobradiças do tempo geológico, entre um período e outro, estão os piores momentos da história da vida, seguidos do mundo que renasceu das cinzas do anterior. Por mais de 100 milhões de anos os dinossauros dominaram todos os continentes do planeta, dando origem a muitas linhagens diferentes, cuja única sobrevivente é a das aves. Isso porque ao fim do cretáceo, 66 milhões de anos atrás, a era dos dinossauros foi encerrada de forma abrupta com um impacto extraterrestre que atingiu a península de Yucatán, no México.
O asteróide de Chicxulub tinha mais de 10km de diâmetro e se chocou com o planeta muito mais rápido do que uma bala. A combinação entre a nuvem de poeira, os incêndios globais causados pela reentrada de rocha fervendo na atmosfera, terremotos insanos e tsunami com mais de 100 metros de altura varrendo o oceano atlântico, foi um golpe duro na biodiversidade global, certamente um dos piores dias da história do planeta. Mas o que de fato sufocou e matou de fome os animais grandes e dominantes do período cretáceo foi a camada de poeira que cobriu a atmosfera por décadas e contaminou toda a terra e os mares por milênios.
Sem a luz solar, as temperaturas abaixaram brutalmente, em um inverno macabro e escuro que terminou de matar os dinossauros não avianos que porventura tivessem sobrevivido ao impacto inicial. Uma das principais evidências desse impacto está em uma camada global de fuligem repleta de irídio, elemento raro na terra, mas comum em asteroides. Abaixo dela, uma riqueza inesgotável de dinossauros gigantes, acima dela, nenhum deles, marcando a última das 5 maiores extinções em massa da história.
A descoberta de uma cratera de impacto na península de yucatán, no México, com mais de 200km de diâmetro exatamente da idade da camada de irídio, na década de 80, permitiu que a antiga questão da razão da extinção dos dinossauros fosse finalmente respondida com evidências sólidas. Essa foi certamente uma das extinções mais súbitas e dramáticas da história da evolução, em um dia, o mundo dos dinossauros existia e prosperava, no dia seguinte, não mais. Com o fim do cretáceo, se encerra também o mesozóico e se inicia o cenozóico, conhecido como a era dos mamíferos.
Após terem vivido por centenas de milhões de anos confinados na escuridão da noite pela dominância opressora dos dinossauros, eles encontraram um mundo para chamar de seu. Mas eles não estavam sozinhos. Diversas linhagens de repteis, como lagartos, crocodilos e tartarugas também sobreviveram, assim como uma única linhagem de dinossauros: a das aves.
Esses sobreviventes frequentemente estavam associados a ambientes de água doce, porque esse pode ter sido um dos ecossistemas menos afetados pela extinção. Durante o Paleogeno, primeiro período da era dos mamíferos, muitas linhagens hoje extintas se diversificaram e ocuparam os principais papéis ecológicos disponíveis. A era dos mamíferos estava a pleno vapor, mas isso não significa que esses animais seriam familiares para nós.
Um dos maiores animais 50 milhões de anos atrás era Uinatherium, mamífero da ordem extinta dinocerata que ostentava protuberâncias ósseas extremas no crânio, dando a ele em vida, uma aparência bizarra. Mas também Barylambda, que pesava quase 700kg apenas 5 milhões de anos depois da extinção dos dinossauros, um pantodonte, família extinta de mamíferos que se assemelhavam superficialmente com preguiças gigantes. Dentre os principais predadores estavam os creodontes e Mesonychideos, apenas superficialmente semelhantes aos atuais carnívoros canídeos e felídeos.
O mundo era um lugar com muitas florestas densas, assim como no cretáceo, mas como sabemos, essa condição não durou pra sempre. Ainda no paleogeno, cerca de 34 milhões de anos atrás, a Terra entrou em uma tendência lenta e constante de resfriamento. No Polo Sul, o continente Antártico, antes coberto com florestas de características temperadas e repleto de vida, começou a ter invernos cada vez mais rigorosos ano após ano, enquanto as florestas se desintegravam e a vida perecia.
23 milhões de anos atrás, na passagem do Paleogeno para o período Neogeno, essa tendencia de resfriamento havia transformado totalmente o planeta Terra, criando as condições para as faunas que estamos mais familiarizados hoje. Nesse mundo mais frio e mais seco, grandes savanas, campos e planícies de pastagem se estabeleceram, selecionando os herbívoros capazes de explorar essa vida em campo aberto consumindo grama. Foi nesse momento que os animais com casco, como os artiodátilos e perissodátilos que conhecemos hoje se tornaram extremamente diversos, grandes e abundantes.
Como também foi o momento em que os predadores da ordem carnivora se estabeleceram em boa parte do mundo. Austrália e América do Sul na época, eram continentes ilhados, atravessando cada uma era dos mamíferos paralela, outros laboratórios evolutivos com outras personagens, que em breve, contaremos a história aqui no canal. Mas mesmo dentro dessas linhagens, existia uma ampla gama de animais que nos espantariam, como os calicothérios, que se assemelham a um cruzamento profano entre um cavalo e um gorila.
Ou as muitas linhagens bizarras que eram mais próximas dos elefantes, como Platybelodon, que aparentava ter um tipo de pá na boca. Uma parte significativa dessa megafauna é perdida cerca de 2,5 milhões de anos atrás, em um pulso de extinção causado pelo início da era do gelo que vivemos. Pode não parecer, mas nós estamos em uma era do gelo, definida geologicamente como qualquer momento em que a Terra tem dois polos congelados, ou seja, os momentos em que nosso planeta tem uma criosfera, uma camada de gelo permanente.
Essa glaciação alterna ciclos de glaciação intensa com ciclos mais curtos do que chamamos de interglaciações, intervalos mais quentes e úmidos como o que vivemos hoje. Durante as fases de glaciação intensa, as camadas de gelo avançam milhares de quilômetros, os oceanos perdem dezenas e até centenas de metros de profundidade, os desertos e savanas se expandem e as florestas recuam e se fragmentam. O mundo glacial, principalmente pontuado por ciclos de mudanças climáticas significativas, é um mundo bem mais inóspito e instável para a maioria das formas de vida, em especial a megafauna de mamíferos.
Com o início da glaciação, extinguem-se dezenas de tipos de mamíferos e surgem os animais característicos da era do gelo, para nós, como os mamutes lanosos, adaptados para climas muito mais frios do que os que seus ancestrais habitavam. É durante o pleistoceno, nesse momento de fragilidade ecológica e mudanças bruscas, que a linhagem dos humanos, originados na África, dominou grande parte do mundo e se adaptou a uma variedade de ambientes, até os mais inóspitos. Até então, apesar de ter se espalhado pelos 4 cantos do planeta, os humanos viviam uma existência nômade, caçadora e coletora, sem se estabelecer por muito tempo em um lugar só, dependendo intimamente da disponibilidade de alimento que ocorria naturalmente no ambiente.
Mas entre 12-10 mil anos atrás, na passagem do pleistoceno para o Holoceno, começa a atual interglaciação, um intervalo com um clima mais generoso, mas acompanhado de mais um pulso de extinção que afetou severamente a megafauna planetária. Em todos os continentes, uma boa parte dos animais gigantes desaparece praticamente ao mesmo tempo, como as últimas preguiças gigantes na América do Sul e os icônicos mamutes lanosos do hemisfério norte. Ainda nesse tempo agitado de transição, os humanos inventam a agricultura e a pecuária, se tornando dependentes de uma só terra pela primeira vez, com as primeiras plantações e animais domésticos como o gado.
Com essas inovações, os seres humanos se estabeleceram nas margens de grandes rios no crescente fértil e logo, humanos em todo o planeta estavam praticando a agropecuária, construindo cidades e instituições cada vez mais elaboradas. Muito se discute sobre o papel dos humanos na extinção da megafauna pleistocênica, com alguns defendendo que nossa pressão de caça foi o que exterminou muitos dos mamíferos que tentavam se adaptar ao novo clima do holoceno, em um mundo que se transformava rapidamente. Já outros pesquisadores não tem tanta certeza de que nós somos os culpados, defendendo inclusive que a invenção da agricultura pode ter sido uma resposta a diminuição da disponibilidade de presas grandes em boa parte do mundo.
Uma Terra saudável tem migrações épicas de milhões de animais gigantes em todos os continentes. O próprio fato de não vermos um animal grande ou qualquer tipo de animal terrestre com facilidade, mesmo no país mais biodiverso do mundo, é uma grande evidência de que as coisas não vão bem. A megafauna atual é quase inteiramente composta de animais domésticos sob nosso controle.
Em um planeta mais saudável, não demoraria muito até encontrarmos uma preguiça com mais de uma tonelada em nosso caminho. Quando nos perguntamos “Porque parece que os animais do passado eram tão maiores, ou que animais maiores eram mais comuns na pré-história? ” essa é a resposta.
Nós estamos atravessando uma extinção em massa, com um pulso no começo da era do gelo, 2,5 milhões de anos atrás e outro no início da interglaciação atual, cerca de 10 mil anos atrás. Apenas 10 milênios atrás, os maiores animais sul americanos eram preguiças gigantes que ultrapassavam facilmente uma tonelada de peso, já atualmente, o maior mamífero terrestre nativo do nosso continente é a anta, que pesa entre 250-300kg. De certa forma, paradoxalmente, nosso domínio sobre o planeta foi facilitado e ao mesmo tempo agrava a extinção que se iniciou no pleistoceno, mais de dois milhões e meio de anos atrás.
Somos uma espécie generalista e adaptável que certamente soube se aproveitar e ao mesmo tempo, agravou a fragilidade das populações de megafauna desde o final do pleistoceno. Assim como os Listrossauros, os humanos ocuparam um mundo esvaziado e menos competitivo, embora mais desafiador climaticamente, desafio que nós, construtores de nicho, conseguimos conquistar. Mas isso foi só o começo de um processo ainda mais grave: a extinção do antropoceno.
Esse terceiro pulso de extinção que se intensificou nos últimos 250 anos é ainda mais grave do que os últimos dois, ameaçando a própria integridade dos ecossistemas e a estabilidade do padrão climático glacial que a Terra vem se adaptado pelos últimos 2,5 milhões de anos. A Terra pode correr o risco de literalmente sair dessa era do gelo, o que seria absolutamente catastrófico e disruptivo para a nossa civilização. A ação humana no planeta Terra vem causando taxas de extinção milhares de vezes mais rápidas do que as taxas de extinção de fundo, que ocorrem naturalmente em ecossistemas saudáveis.
Entre os principais desafios que nosso planeta enfrenta atualmente estão a famigerada emissão de gases estufa, a perda e fragmentação de biomas para a agricultura e a acidificação dos oceanos, causada pela diluição dos gases poluentes na água do mar. Essas coisas também estão acontecendo extremamente rápido do ponto de vista geológico, eventos que levariam milhões de anos têm levado décadas, praticamente com os efeitos de um meteoro na vida do planeta Terra. Estamos sendo assombrados pelo fantasma das florestas de carvão do carbonífero, queimando para produzir energia, os mesmos átomos que foram incorporados nas plantas que cresciam nos pântanos 300 milhões de anos atras, os mesmos átomos de carbono cuja retirada da atmosfera causou a glaciação Karoo e favoreceu o sucesso dos amniotos.
Essa é uma realidade que tem assustado muitos de nós, principalmente jovens que lidarão com as consequências dessas ações pelo resto de suas vidas. As mudanças climáticas que levam a eventos extremos e cada vez mais energéticos, como incêndios, secas, tempestades e dificuldades relacionadas a poluição, nos afetam hoje e tendem a se tornar cada dia mais preocupantes. Mas sempre vai valer a pena entrar na disputa e lutar pela preservação do que ainda resta da nossa frágil biodiversidade, se não nos deixarmos abater pela desesperança.
Como a história da vida nos mostrou tantas vezes, os organismos são capazes de se recuperar mesmo das piores condições, assim como certamente farão novamente, depois da extinção que participamos e promovemos. Quem não tem a vida garantida em momentos de fragilidade e instabilidade da biosfera, são os animais grandes e dominantes, como o ser humano é hoje. A vida encontra um meio, mas será que nós encontraremos?
Essa é a tarefa de nossa geração. Para conhecer mais do passado do nosso planeta, eu tenho duas sugestões: Você pode se tornar membro do canal e assistir o curso “Evolução, terra e tempo”, aulas de temas chave muito úteis para vestibulares que eu organizei para entender melhor a evolução biológica e a história natural Ou você pode conhecer nossa biblioteca de sugestões de livros no nosso site, onde separei livros que serviram de inspiração e referência para os documentários do canal, como o novo guia completo dos dinossauros do Brasil, do professor Aneli ilustrado pelo paleoartista Julio Lacerda. Link na descrição!
Muito obrigado por acompanhar até o fim, se inscreva, compartilhe com os amigos e tenha uma ótima vida.