MICHELANGELO: a HISTÓRIA do GÊNIO IMPERFEITO

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Tinocando TV
Michelangelo: a história do gênio imperfeito. Michelangelo é sem sombra de dúvidas uma dos mais inc...
Video Transcript:
Este é Lourenço de Médici, conhecido também como “O Magnífico”. Ele era o chefe da família Médici e o grande líder da República Florentina, atual Florença na Itália. Certa vez, com o intuito de  apoiar novos artistas na cidade, ele criou um Jardim de Esculturas.
E dentre as obras de arte que havia lá, uma em especial chamou a atenção de um garotinho que passava por ali: um busto de um fauno. Esse garoto resolveu replicar essa escultura e em poucos dias conseguiu refazer com extrema perfeição aquele objeto. Esse pequeno aprendiz de apenas 15 anos, mostrou seu projeto para Lourenço de Médici, que em tom de brincadeira, disse que não fazia sentido um  fauno velho como aquele da escultura ainda possuir todos os dentes.
Assim, o garoto pega a sua estátua e começa a remover um de seus dentes, esculpindo a gengiva de tal forma que parecia que o dente havia  sido arrancado pela raiz. Isso impressionou Lourenço, que notou a perfeição do  trabalho daquele jovem rapaz. Então, O Magnífico, pergunta: “Qual o seu nome, meu jovem?
” E o garoto responde: “Meu nome? Michelangelo. ” Ninguém sabia naquela época, mas eles estavam de frente para um dos maiores artistas  da história da humanidade.
Aquele pequeno menino que havia esculpido algo com tamanha perfeição, seria capaz de fazer algumas das obras mais incríveis já criadas por mãos humanas. Este era um gênio à frente do seu tempo e é por isso que nós vamos entender a sua vida e sua obra por completo, hoje, no Biografando - Michelangelo. Oi, eu sou o Tinôco e Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni nasceu no dia 6 de março de 1475 na pequena cidade de Caprese, na Itália, que inclusive atualmente se chama Caprese Michelangelo – quando a sua cidade natal  muda de nome por sua culpa, você tem que ser no mínimo cabuloso.
Filho de Lodovico e Francesca, sua infância já foi inacreditável. Como toda criança em 1400, ele tinha uma chance enorme  de ir logo para o beleléu e diversas vezes ele quase foi. Teve uma vez que a mãe do Michelangelo estava andando de cavalo com ele no colo, quando os dois tomaram um capote absurdo, mas, felizmente, não tiveram um único arranhão.
Outra vez, seu irmão que  dormia no mesmo berço que ele, teve uma doença fortíssima  que inclusive o levou a óbito, mas o Micha não, ele ficou firme e forte. Pouco tempo depois, o seu pai ficou desempregado e eles tiveram que se mudar para Florença, a capital do Renascimento. A Renascença foi marcada por  um desenvolvimento insano em todas as áreas da sociedade, dando nome a grandes personalidades  históricas dessa época, desde Leonardo da Vinci, Maquiavel, Shakespeare e até o próprio Michelangelo.
Esse período marca a transição da Idade Média para a Idade Moderna e surge exatamente como uma oposição a esse pensamento medieval que ainda existia. No lugar da crença mística, a filosofia e a ciência começaram a iluminar o poder da razão na sociedade, o que verdadeiramente transformou o nosso mundo. E esse é o contexto que  cresce o jovem Michelangelo, mas enquanto o mundo se via  em constante desenvolvimento, a vida do pequeno Micha ia de mal a pior.
Aos 6 anos, ele perdeu a sua mãe e agora era ele, seu pai e seus 4 irmãos, têm que aprender a viver a vida sem o doce abraço de quem eles tanto amavam. Mesmo sendo patrícios, isso não  significa que a família dele era rica, tanto que estavam prestes a  perder seu título de nobreza, sendo rebaixados à plebe. Seu pai fazia de tudo para dar algum  tipo de suporte aos seus 5 filhos e Michelangelo sempre era enviado  para estudar com Francesco da Urbino, um pintor italiano com quem aprenderia  gramática, latim e matemática, mas, como toda criança, ele não tinha o menor interesse  em nenhuma dessas matérias e se sentia fortemente atraído pela pintura.
Ele nunca perdia a oportunidade de  desembolar um desenho aqui e ali, e isso só cresceu ainda mais quando  ele conheceu Francesco Granacci, um outro pintor que veio a ser  o seu mestre alguns anos depois. Granacci decidiu incentivá-lo  e deu a ele um suporte inicial, que foi essencial para ele perceber  que era realmente bom naquilo. Seu pai… não o apoiava e quando viu que seu filho estava  pintando ao invés de estudar o repreendeu, espancando o garoto.
Diante de tamanha repressão, Michelangelo, ao invés de apenas  aceitar as ordens de seu pai, ficou ainda mais decidido a buscar a sua paixão e focou no estudo da pintura até os seus 14 anos, quando ingressou como discípulo  de Domenico Ghirlandaio e seu irmão, Davide. Conta-se que foi nessa época que seu amigo lhe apresentou uma figura de Santo Antônio sendo atormentado por demônios, que serviu como referência para  Michelangelo pintar o seu primeiro quadro: O Tormento de Santo Antônio. Pouco tempo depois ocorreu aquela história  que eu contei lá no início do vídeo e assim, Michelangelo foi convidado por Lourenço para morar no Palácio dos Médici, que era a família mais  importante de Florença na época, além de arrumar um emprego  para o seu pai na alfândega.
Ele deu um suporte para a família de Michelangelo depois de perceber todo o  talento que o menino carregava. Lá, ele foi tratado como um  membro da família Médici, conhecendo assim, o filho de Lourenço, chamado João, que mais tarde veio a se tornar o Papa Leão X. E assim também ele teve a oportunidade de conhecer diversos artistas da época.
Hoje em dia, nós diríamos  que ele estava aumentando o seu know-how, fazendo diversos networks e vários brainstorms. Foi nesse momento, por exemplo, que ele foi apresentado ao Neoplatonismo, uma corrente baseada nos pensamentos de Platão que entende que o mundo físico é apenas uma representação do mundo das ideias, ou seja, do mundo ideal – e se você quer ver um vídeo sobre isso, a gente fez um aqui… só clicar aqui – Michelangelo aplicou essa  ideia em suas esculturas, representando assim, o homem  em seu estado mais perfeito. Ele era conhecido em sua época por  dizer que não criava esculturas, mas apenas libertava as figuras que  já estavam presas naquele mármore.
Pouco tempo depois, Lourenço vem a falecer e o jovem Buonarroti teve que  voltar para a casa de seu pai. E asso, ele demorou um pouco  para se acostumar com isso e chegou até a passar um certo tempo morando na Basílica de Santa Maria do Espírito Santo, dormindo e trabalhando junto a  corpos que seriam enterrados. Mas, por incrível que pareça,  isso foi ótimo para ele, já que ele aproveitou esse momento para poder estudar anatomia, sendo isso de extrema importância para o desenvolvimento de seu trabalho.
Nesse meio tempo, a política de  Florença fica completamente maluca. E enquanto Michelangelo tava rodando pela Itália, sua cidade foi invadida pela França de Carlos VIII e depois de um monte de treta, foi instituída uma República Democrática, liderada pelo padre Girolamo Savonarola, que pediu para que Michelangelo  fizesse alguns trabalhos para ele. Esses trabalhos começaram a  extrapolar as barreiras de Florença, chegando até a cidade mais importante da Itália: Roma.
E foi lá, que a vida de  Michelangelo mudou para sempre. Em Roma, Michelangelo se mudou  para a casa do Cardeal Riario, que ficou impressionado com o trabalho do artista, tendo como primeira obra, a escultura da imagem de  Baco, o deus romano do vinho. Ela tinha mais de 2 metros de altura, mas o Cardeal achou… ele achou meio [__].
Então a estátua passou pela mão de uma galera ali até ser comprada pela própria família Médici. Por exemplo, uma das pessoas que  tiveram essa escultura foi Jacopo Galli, que apresentou Michelangelo  para Jean de la Grolaye, embaixador da França de Carlos VIII em Roma e que resolveu encomendar  um trabalho de Michelangelo. E essa se tornaria uma de  suas obras mais emblemáticas: a Pietà.
Esse nome significa “piedade” em italiano e é o nome dado para qualquer momento que representa o corpo de  Jesus sendo retirado da cruz e sendo entregue à sua mãe, Maria. Pouco tempo depois, ela foi  instalada na Basílica de São Pedro. Conta-se que, pouco depois  da instalação da escultura, Michelangelo ouviu alguns visitantes falarem que aquele trabalho, na  verdade, era de algum outro escultor, duvidando assim da capacidade do Buonarroti, que, na época, tinha entre 24 e 25 anos de idade.
Então, para não haver dúvidas, Michelangelo assina o seu nome na  faixa que atravessa o torso de Maria, sendo essa a sua única obra  assinada de todos os tempos. Ele também foi criticado por representar a mãe com uma aparência mais jovem  do a do seu próprio filho, mas ele mesmo argumenta que  representou Maria dessa forma por ela ser uma mulher pura, sendo filha do Pai, mãe do Filho  e esposa do Espírito Santo, as três expressões de Deus de acordo  com a doutrina da Santíssima Trindade, enquanto Jesus recebeu o corpo de um homem comum, submetido a todos os pecados  que um homem pode cometer. Com essa obra inacreditável, Michelangelo começou a ficar  famoso e a receber outros pedidos.
Como, por exemplo, de esculpir  15 estatuetas para um altar, mas esse precisou ser parado logo no início, já que a Catedral de Santa Maria del Fiore fez um pedido ainda mais inusitado e que marcou a história de  Michelangelo para sempre: a estátua de Davi. Esse projeto, na verdade, começou muito antes de Michelangelo nascer. O plano inicial era de construir a  imagem dos 12 apóstolos de Jesus, que seriam colocadas no telhado da igreja, mas depois essa ideia foi modificada, dando início ao plano de colocar  Davi no alto da estrutura.
E é de Carrara, na Itália,  que saiu um bloco de mármore de mais de 5 metros de altura que seria usado única e  exclusivamente para o projeto, mas ele foi abandonado na Catedral por 25 anos, até que eles encontrassem um  artista capaz de produzir a obra e ao que tudo indica… eles encontraram. Michelangelo começou a esculpir  no dia 13 de setembro de 1501, sendo concluída no dia 25 de janeiro de 1504. Com mais de 5 metros de altura e 8 toneladas, a escultura de Davi nascia.
Naquela época, todo mundo conhecia  a história de Davi e Golias e na grande maioria das vezes, essa  história era retratada em sua parte final, depois que o Davi já tinha  vencido o gigante Golias, mas, nesse caso, não foi bem assim. A grande peculiaridade desse projeto é que ele vem a representar Davi antes da batalha. É por isso que ele tem esse olhar de medo diante da situação que estava prestes a acontecer.
O objetivo é representar Davi no momento  em que ele decide enfrentar Golias, ele tinha acabado de falar  eu que vou enfrentar esse… esse cara gigante ali… esse… esse cara… ele é… ele é bem musculo– esse cara aqui é grande hein mano? ! Mas, ela tem um erro que foi feito de propósito.
Como o objetivo era que a estátua  ficasse no topo da Catedral, Michelangelo fez as mãos e a cabeça  de Davi maiores do que deveriam ser, pois ele pensou que as pessoas  veriam ela de baixo pra cima, ficando proporcional nesse ponto de vista. Acabou que a estátua ficou tão insana que a galera resolveu instalar ela  na frente do Palazzo della Signoria, que era, basicamente, a  sede do governo de Florença. Só que a galera da época  começou a avacalhar a estátua, jogando pedras nela, da mesma  forma que Davi fez com Golias, isso deu até mesmo algumas quebradas  em algumas partezinhas dela, tendo que ser removida de lá e sendo instalada novamente na Galleria dell'Accademia em Florença, onde ela se encontra até hoje.
Pouco tempo depois, Michelangelo foi chamado para pintar uma parede que ficava na frente de onde  Davi havia sido instalado. E o objetivo era representar  uma batalha histórica da cidade. Assim, Michelangelo escolhe a Batalha de Cascina.
Mas, com o objetivo de dar um  clima de competição na parada, o governo resolveu chamar Leonardo da Vinci para pintar a parede oposta à de Michelangelo. Os dois se odiavam legal nessa época, já que um achava o trabalho  do outro meio… meia boca. Da Vinci, nessa época, já  tinha os seus 53 anos de idade enquanto Michelangelo ainda era um jovem rapaz.
Essa história tinha de tudo para ser uma das mais  inacreditáveis de todos os tempos, pena que nenhum dos dois concluiu o projeto. Da Vinci desistiu depois de alguns  problemas com as tintas usadas e Michelangelo recebeu uma  proposta ainda mais interessante. Ele foi chamado pelo Papa Júlio II, que queria uma magnífica tumba com 40 estátuas para ser enterrado depois de sua morte.
Michelangelo então vai até Carrara novamente, onde passa 8 meses buscando o  mármore perfeito para o projeto. Aqui, nós conseguimos ver como ele era cuidadoso para escolher o material que seria trabalhado, indo até as minas para escolher a dedo o mármore. Depois, Júlio mandou Michelangelo  até a Basílica de São Pedro para escolher um local  apropriado onde ficaria a obra, sabendo que a igreja seria reconstruída, já que ela havia sido atacada alguns anos antes.
Pouco tempo depois, o Papa desistiu do projeto, mas Michelangelo não tinha  feito tudo isso à toa não. Ele resolveu participar da reconstrução da igreja, e hoje em dia, nós sabemos que grande parte dela foi projetada pelo próprio Michelangelo. Obviamente, ele ficou boladíssimo  com o projeto inacabado e resolveu meter o pé, o que  deixou o Papa também bolado.
E depois de algumas desavenças, Júlio resolveu ir atrás do Micha, que falou para ele que nunca mais voltaria. Isso tudo também mostra como Michelangelo tinha uma personalidade forte, porque, naquela época, não era todo mundo que podia  negar uma ordem do Papa não. Mas as coisas não ficariam assim e os  dois conseguiram voltar a se acertar.
Não passou muito tempo até que outro  projeto foi encomendado pelo Papa: uma estátua sua feita de bronze que seria colocada na entrada  da Igreja de São Petrônio, os cara tinha pouco ego na época, né? ! Ele fez o projeto inteiro da estátua em 16 meses, mas pouco tempo depois, ela a estátua foi destruída  por invasores da cidade.
Assim, nós chegamos em 1508 e o Papa surge com mais uma ideia para o escultor, só que o problema é que dessa  vez não seria uma escultura, mas sim, uma pintura. O Papa pediu para que Michelangelo pintasse o teto da Capela de Papa Sisto IV, que mais tarde ficou conhecida  como a Capela Sistina. Quando o Papa chegou para ele com esse pedido, Michelangelo estranhou e ficou bastante  relutante em aceitar o projeto, já que, segundo ele, pintar não  era bem o seu maior talento.
Tanto que ele chegou até a indicar um  outro cara para fazer esse projeto: Rafael, mas o Papa não quis nem saber e disse que era ele mesmo que ia fazer isso tudo. Esse trabalho é, até hoje, o maior afresco contínuo do mundo, com 540 m². Para alcançar o teto da Capela Sistina, que ficava a mais de 13 metros do chão, Michelangelo projetou o seu próprio andaime.
Ele pintou toda a capela olhando para cima, o que deve ter rendido para o Michelangelo um belo torcicolo no pescoço. O teto da Capela Sistina é uma única obra cheia de personagens e eventos do Antigo Testamento. As nove pinturas no centro são cenas do livro Gênesis,  o primeiro livro da Bíblia, divididas em grupos de três.
Acima do altar, Buonarroti  começa retratando a Criação, passa pela história de Adão e Eva e terminando em Noé, acima da entrada da Capela. E é mais ou menos ali no meio  que nós temos a Criação de Adão, possivelmente a pintura mais  conhecida de Michelangelo. O significado dessa pintura me  intriga de uma forma inimaginável, isso porque, ela pode representar  duas coisas completamente opostas.
A criação de Adão pode tanto ser  a criação do primeiro homem, Adão, quanto também sobre algo criado por ele, no caso, a criação de Adão seria Deus. Mas assim, só de você ver o  tamanho gigantesco dessa obra, você deve imaginar o trabalho que ele deu. Ela inclusive começou a  mofar no início da pintura, o que deu um monte de problema, ele quis parar, não deu certo, aí o Papa ficou enchendo o saco dele para ele entregar logo essa parada, enfim.
Depois de 4 anos pintando, Michelangelo finalmente termina  o teto da Capela Sistina, criando assim, uma das obras mais  impressionantes da história humana. Terminando esse projeto, o Papa pediu para que ele  voltasse a trabalhar em sua tumba e ironicamente, pouco tempo depois, ele falece. Assim, o projeto fica na mão de  dois cardeais de sua confiança, que resolveram deixar tudo um pouco mais simples fazendo apenas 3 estátuas.
A primeira era O Escravo Moribundo, a segunda, O Escravo Rebelde, e o terceiro, e possivelmente  seu maior trabalho como escultor, Moisés. Essa obra tem pouco mais de 2 metros de altura e representa Moisés sentado  segurando os 10 mandamentos. Curiosamente, ele é representado  com alguns chifres na cabeça, mas isso deriva de alguns erros de  tradução da época de Michelangelo.
A palavra “karan”, no Renascimento,  era traduzida para “chifres”, enquanto hoje, nós sabemos que ela,  na verdade, significa “brilhante”. Michelangelo conseguiu esculpir essa obra com tamanha perfeição e nível de detalhe, que ele mesmo ficou impressionado  com o seu próprio trabalho. Conta-se que ao terminar a escultura, Buonarroti bateu com a sua marreta  no joelho direito de Moisés e exclamou em italiano “Perché non parli?
”, ou seja, “Por que você não fala? ”. O nível de detalhes do projeto  é tão absurdo que, por exemplo, a estátua apresenta esse músculo aqui, que é o músculo fusiforme extensor do dedo mínimo, que só aparece quando você  está levantando o dedinho e adivinha qual dedo Moisés está levantando!
E depois de tudo isso que ele tinha feito, todas as pinturas e esculturas, Michelangelo começou a ser conhecido  em sua época como “O Divino”, graças a sua capacidade  artística nunca antes vista. Pouco antes disso tudo acontecer, os Médici conseguem retornar a Florença. E lembra daquele João Lourenço  de Médici que eu mencionei?
Bom, ele substituiu o Papa Júlio II  se tornando o Papa Leão X em 1513. E como Michelangelo era o queridinho dos papas, mais uma vez ele foi convidado  para participar de um projeto. Dessa vez, seu trabalho seria ornamentar a fachada da Basílica de São Lourenço em Florença, mas esse projeto foi cancelado.
Então, Michelangelo é convidado  pelo primo do Papa, Giulio, que liderava Florença, a fazer  outro trabalho na mesma basílica. Agora, ele teria que fazer um mausoléu para abrigar o corpo de alguns  membros da família Médici. Esse mausoléu ficou conhecido como Sacristia Nova e é um grande exemplo da genialidade  artística de Michelangelo, não só na escultura, como demonstrou em Davi, ou na pintura, como demonstrou na Capela Sistina, mas também na arquitetura, construindo  e projetando toda a Sacristia.
Nos túmulos de Juliano e Lourenço, Buonarroti esculpiu a imagem  idealizada de cada um no centro e, abaixo deles, Michelangelo  representa respectivamente as personificações da Noite e Dia e do Crepúsculo e Amanhecer, simbolizando assim, o triunfo da família  Médici sobre a passagem do tempo. Pouco tempo depois, o Papa Leão X morre e quem assume o posto é o Papa Adriano VI, que vai de berço no ano seguinte, então o próprio Giulio resolve virar Papa, se tornando o Papa Clemente VII em 1523. Nesse meio tempo, Michelangelo terminou o projeto do mausoléu e iniciou a construção de uma biblioteca, o cara… ele não tem limite!
Infelizmente, ele não conseguiu  finalizar esse trabalho, já que uma guerra havia começado. O Papa Clemente resolveu apoiar o Reino da França no que ficou conhecido como  a Guerra da Liga Cognac, que tinha basicamente toda essa galera aqui contra o Sacro Império  Romano-Germântico de Carlos V. Carlos ganhou a batalha, mas não  conseguiu pagar os seus soldados, que se rebelaram contra ele e marcharam para Roma no que ficou conhecido como o “Saque de Roma”, um evento considerado por muitos historiadores como o marco do fim da Alta Renascença.
Esse foi um dos mais violentos e  devastadores episódios da época, tanto que é estimado que a população de Roma caiu de 55 mil para 15 mil. Esse evento marcou uma perda do  poder papal com relação ao imperador, de modo que em 1529, Clemente  assinou o Tratado de Barcelona, firmando assim, uma aliança  com o próprio Carlos V. Um ano depois, em 1530, o Papa coroou Carlos como Sacro Imperador Romano.
Enquanto isso, aproveitando o saque, o povo de Florença se rebelou  novamente contra os Médici, banindo-os da cidade por não suportarem mais a autoridade que a família exercia num lugar que era oficialmente uma República. Então, esperando que o Papa iria querer reaver o domínio da família na cidade, visto que ele mesmo era um dos Médici, o governo florentino, conhecido como Signoria, decidiram fortificar Florença e contrataram Michelangelo como comissário geral. O cara era pintor, escultor, arquiteto  e agora ia ser comissário geral.
Apesar da sua proximidade com os Médici, Buonarroti apoiou a sua cidade natal e arquitetou uma série de  fortificações para proteger Florença. Dentre elas, Michelangelo decidiu  murar o Monte de São Miniato e usá-lo como posto de artilharia. Esse lugar tinha uma grande vantagem estratégica, já que ele podia ver toda a cidade de cima.
Em 1529, depois da aliança do Papa com Carlos, iniciou-se o Cerco de Florença  que durou por quase 1 ano, fazendo assim, o governo florentino se render. Com isso, a família Médici retornou ao poder, prendendo, banindo e  executando muitos dos cidadãos e líderes da República. Michelangelo, assim, foi considerado um traidor, mas pouco tempo depois, recebeu o perdão do Papa, que ordenou que ele voltasse aos trabalhos.
E em 1534, ele sai da República Florentina e vai em direção à Roma, depois do falecimento do seu pai. E essa foi a última vez que  Michelangelo esteve em Florença. Em Roma, Michelangelo recebeu a tarefa de voltar a trabalhar na Capela Sistina, mas dessa vez não seria em seu teto, mas sim, nas paredes onde  ele retrataria o Juízo Final.
E, por incrível que pareça, aqui, nós entramos em um ponto  que você já deve ter ouvido falar. A soposta homossexualidade de Michelangelo. Isso porque, bem no cantinho dessa pintura, Buonarroti pinta dois homens se beijando.
Isso causou uma certa polêmica na época, mas até hoje não existem provas  concretas de que ela era gay ou não. A teoria mais aceita é que  sim, ele era homossexual, mas reprimia esse sentimento  quase que de forma obrigatória pela sociedade em que vivia. Como você deve ter percebido, Michelangelo era o artista preferido dos papas, que condenavam veementemente todos esses atos.
Mesmo que no século XV, na  Itália, especialmente em Florença, a homossexualidade não era algo incomum. Isso porque, o culto a Platão estava  se tornando cada vez mais popular, o que incluía a visão idealizada do amor erótico, sendo essa prática celebrada em poemas e canções. E Michelangelo nem era o único, Leonardo Da Vinci e Donatello também eram gays.
Mas enfim, o Juízo Final foi  finalizado com extrema perfeição, Buonarroti retrata uma parte do Livro Apocalipse, quando Jesus Cristo retorna à Terra mais uma vez. Durante a sua pintura, o Papa  Clemente VII veio a falecer, dando lugar ao Papa Paulo III. E quando finalizada, essa obra  foi alvo de diversas críticas, principalmente graças a Contrarreforma, que foi uma resposta da Igreja Católica contra as mudanças provenientes  da Reforma Protestante.
Ao final do Concílio, foi ordenado  que muitas artes renascentistas, que mostravam nus considerados  eróticos e indecentes, deveriam ser destruídas ou censuradas, o que foi o caso do Juízo Final de Michelangelo. No meio disso tudo, Buonarroti também foi encarregado por Paulo para projetar a atual Piazza del Campidoglio. O Papa queria um símbolo da “Nova  Roma” para impressionar Carlos V, que visitaria a cidade em 1538.
Buonarroti então projetou a praça para que ela ficasse de costas  para o antigo Fórum Romano e orientada para a Basílica de São Pedro, representando assim, o poder  da Igreja Cristã e do Papa. Buonarroti também projetou a versão contemporânea dos três palácios ao redor da praça: o Palazzo Senatorio, o Palazzo dei  Conservatori e o Palazzo Nuovo. Graças à demora para a construção de toda a praça, Michelangelo faleceu antes de  ver o seu projeto finalizado, mas toda a construção no século  XVI posterior a sua morte seguiu à risca as plantas e  os desenhos deixados por ele.
Enquanto ainda trabalhava na praça e depois de terminar o Juízo Final, Michelangelo fez outras duas  grandes pinturas na Capela Paulina, construída a mando do Papa Paulo III: A Conversão de São Paulo e  A Crucificação de São Pedro, terminando a primeira em 1545 e a segunda em 1550. Essa foram as suas últimas pinturas finalizadas. Além disso, ao mesmo tempo  que pintava essas obras, Michelangelo trabalhou também  na tumba do Papa Júlio II e finalmente conseguiu finalizá-la no  mesmo ano em que terminou a pintura.
Em 1555, o Papa Paulo IV assumiu o poder e imediatamente abriu um conflito contra o governo espanhol em Nápoles, que fica ao sul da Itália. Todo esse clima de tensão em Roma fez com que Michelangelo, em 1557, se refugiasse em um mosteiro em Espoleto. Inclusive, nessa época, Michelangelo  chegou a esculpir uma estátua para o seu próprio túmulo, que ficou conhecida como A Pietà de Florença, na qual acredita-se que ele  representou o seu próprio rosto na imagem do que se pensa ser  Nicodemos ou José de Arimateia.
Porém, por motivos desconhecidos, ele  quebrou a estátua tentando destruí-la e acabou vendendo ela e é por  isso que a escultura vista hoje, na verdade, precisou ser restaurada, tanto que Jesus está sem a sua perna esquerda. Mas, ele resolveu começar a esculpir  uma outra estátua para o seu túmulo: A Pietà Rondanini, iniciando o trabalho em 1552 e mantendo até os seus últimos dias, sendo essa a última escultura feita por ele. Enfim, entre os anos 1563 e 1564, a saúde de Michelangelo piorou consideravelmente, de modo que ele já não podia mais  se dar ao luxo de recusar ajuda, como fazia muitas vezes graças  ao seu temperamento forte.
Assim, no início de fevereiro de 1564, Michelangelo se sentiu mal,  possivelmente tendo febre, e resolveu queimar pilhas de  desenhos e esboços feitos por ele, mostrando assim, a sua preocupação em deixar para trás apenas o que  ele considerava digno e perfeito. E então, no dia 18 de fevereiro de 1564, o médico de Buonarroti escreveu  para Cosimo, duque de Florença: “Esta tarde, aquele mais excelente  e verdadeiro milagre da natureza, Messer Michelangelo Buonarroti passou disso para uma vida melhor”. Curiosamente, esse mesmo ano, é o ano de nascimento de Galileu  Galilei e de William Shakespeare.
Depois de falecer pacificamente com seus 88 anos, a um mês de completar 89, Michelangelo teve o seu corpo depositado  na Basílica dos Doze Santos Apóstolos, sob ordem do governador de Roma. Porém, seus amigos e familiares sabiam que ele desejava ser enterrado em Florença. Assim, seu sobrinho Lionardo consegue, no sigilo, transferir o corpo de Michelangelo  para a sua cidade natal, disfarçando o corpo como uma mercadoria comum.
Tudo isso para o Papa e o governo  de Roma não conseguirem impedir. O cadáver de Michelangelo chegou  então a alfândega de Florença, mesmo local que seu pai um dia trabalhou, e dali foi levado para um oratório até ser transferido no dia seguinte  para a Basílica de Santa Cruz, onde se encontra até hoje. E é nela que também estão os  túmulos de Galileu e Maquiavel.
De acordo com os registros históricos, Michelangelo escreveu apenas três  simples frases para o seu testamento, deixando sua alma para Deus, o seu corpo para a terra e os seus bens materiais  para os parentes próximos. Com centenas de trabalhos feitos, Michelangelo acumulou uma enorme  fortuna durante a sua vida, mas, como ele mesmo disse  para o seu discípulo Condivi: “Por mais rico que eu tenha sido, eu sempre vivi como um homem pobre”. Após a sua morte, a Academia de Belas Artes de Florença lhe elegeu "primeiro acadêmico"  – ”chefe, pai e mestre de todos".
Michelangelo é, sem sombra de dúvidas, um dos mais incríveis artistas  que já pisaram na face da Terra. Suas obras transcendem os séculos, trazendo emoções até os dias de hoje. Desde os afrescos no teto da Capela Sistina até a poderosa forma de Davi, Michelangelo soube capturar a  mais delicada essência humana.
Em cada pintura, cada escultura,  cada mármore escolhido a dedo, Buonarroti depositou ali a sua genialidade. E hoje, Michelangelo não vive  apenas nas galerias de museus, mas também no coração de todos aqueles que foram tocados pelo seu legado divino. A humanidade nunca mais foi a mesma depois que surgiu ao mundo Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni.
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Valeu, falou, um grande  abraço do Tinôco e lembre-se: a existência é passageira. Tchau!
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