Irmãos e irmãs, o Senhor, no Evangelho de hoje, começa a exclamar como um trovão: "Esta geração é uma geração má". E, de fato, ele depois diz: "Eles procuram um sinal, nenhum sinal lhes será dado a não ser o sinal do profeta Jonas", ou seja, um chamado ao arrependimento. Depois de que ele permaneceu três dias engolido por um peixe, aqui nós temos um tipo da ressurreição de Jesus Cristo.
E ele diz: "Os ninivitas se converteram pela pregação de Jonas, mas aqui está quem é maior do que Jonas. Vocês não se converteram. O próprio Deus encarnado desceu na terra e vocês não se converteram".
A primeira leitura nos descreve, muito resumidamente, a conversão dessa cidade perversa, Nínive. Os ninivitas, uma vez que a pregação chegou aos seus ouvidos, o rei de Nínive conclamou uma penitência pública. Homens e animais, etc.
, todos se penitenciaram, jejuaram, oraram, pediram perdão a Deus. E o texto termina dizendo que, vendo Deus as suas obras de conversão, em que os ninivitas se afastavam do mau caminho, compadeceu-se e suspendeu o mal que tinha ameaçado fazer-lhes, e não o fez. Tudo isso nos coloca diante de uma necessidade urgente que nós temos, que é termos um coração conversível, arrependível, ensinável, um coração dócil.
O contrário disso é o que nós chamamos de impenitência, que é quando, ao invés de se arrepender, a pessoa faz um monte de outras coisas. Por exemplo, não reconhece os seus pecados. E hoje, com esse tipo de geração que nós temos, que não quer ser contrariada em nada, que só quer ouvir aprovação, positividade, validação, em que as pessoas inventam teologias para justificar o pecado, etc.
, o arrependimento está se tornando cada vez mais raro, porque há muita retórica que justifica o injustificável à luz da palavra de Deus. Então, essas pessoas vão, cada vez mais, se endurecendo; elas não dizem, não reconhecem, não vão para o chão. Não dizem de jeito: "Oi, errei.
Não, eu não posso errar, eu não estou errado, você que está errado, eu não, Deus me entende, não sei o quê. " E vão argumentando, e se colocam numa posição de inquestionáveis. Assim, não podem alcançar a graça do arrependimento, estão na impenitência.
Uma outra forma de impenitência é adiar a conversão. A pessoa que escuta o apelo de Deus chamando-a: "Vem, volta, você foi longe demais", ela diz: "Domingo que vem eu vou, mês que vem eu vou, ano que vem eu volto". Ela está se expondo à capacidade de se endurecer, porque ela não sabe até quando a sua atitude indolente afastará a graça de Deus definitivamente dela.
Jesus passa muitas vezes; uma vez só, outras vezes ele passa mais vezes, mas eu não posso contar que ele vai passar sempre. Eu não posso adiar a minha conversão. Há uma outra forma de impenitência que é a presunção de se salvar contando apenas com a misericórdia divina, que é quando a pessoa diz: "Não, Deus é bom, Deus é misericordioso, Deus é bondoso demais, ele é amor, ele é aceitação, então não preciso me converter, eu não preciso obedecer os mandamentos, eu não preciso escutar a sua palavra, eu não preciso fazer nada, porque ele vai me levar para o céu".
Como é que você quer estar na companhia dos mártires tendo passado uma vida toda folgada? Estar na companhia das virgens, tendo vivido uma vida completamente imoral? Estar na companhia dos confessores da fé depois de ter vivido e praticado tão mal a sua fé?
Isso é presunção! Isto é impenitência, é não querer se converter. Também existe a impenitência quando nós achamos que o nosso pecado é imperdoável.
"Não, eu já fui longe demais, Deus não pode me perdoar. " Algumas pessoas consideram isso até uma prova de humildade, mas não é. Isso é simplesmente uma falta de esperança em Deus.
Veja, a única coisa que eu posso fazer é crer, esperar e amar, movido pela graça divina. Se eu desisto disso e digo: "Não, já não tem mais perdão para mim", eu torno a possibilidade da salvação ineficiente para mim. Ninguém tem o direito de colocar um limite para a misericórdia de Deus.
Ao mesmo tempo, ninguém tem direito de abusar da graça divina, de receber os sacramentos, de receber o perdão e continuar empacado no esgoto voluntariamente, porque não quer sair daquilo. O Evangelho é um convite amoroso, gentil, mas é um convite que tem que ser acolhido. Outra forma de impenitência é quando nós nos guiamos por uma espécie de espírito de engano, que hoje em dia está muito ativo nas mentes das pessoas, em que a pessoa esbarra na verdade, mas não dá o braço a torcer.
Ela quer continuar acreditando naquelas mesmas tolices que lhe ensinaram e se torna cega. É quando a vontade causa um eclipse no entendimento e a pessoa segue enganada, porque ela quer que aquilo seja verdade, embora tenha elementos para pensar que não seja, tem elementos para perceber que não é assim. A pessoa está enganada, com a mente embotada, com a inteligência entorpecida, e por isso fica como um trem obstinado.
Você não consegue demover a pessoa em um milímetro; ela vai que vai. E você pode tentar chamá-la à razão; ela não tem autodesconfiança. Como é que eu faço para não ter um coração impenitente, para não cair no engano, para não cair no desespero, para não cair nessa desculpa contínua de ficar justificando os próprios pecados?
Eu tenho que ter um coração contrito, "cor contrito, mete humilátum". Deus não desprezará um coração contrito e humilhado, porque o coração contrito é um coração que se quebra. Ele é rápido para se arrepender.
A pessoa erra e, quando percebe que o pecado de alguma maneira, ainda que uma sombra do pecado, entrou, ela desce para o chão: "Deus, me perdoa, Deus, tem misericórdia de mim". É alguém que não é fácil de. .
. Se arrepender e se desculpar, inclusive com as pessoas, não tem essa vaidade, esse orgulho de dizer: "Não, eu não errei, quem errou foi você. " Aí a pessoa vem te corrigir e, ao invés de você aceitar, você fica debatendo: "Não, mas você não está vendo meu lado, você não está me entendendo, você não me aceita, você está me julgando.
" Um cristão não deveria se justificar nunca, a não ser quando fosse algo do tipo criminal, mas porque aí é necessário. Tirando isso, no dia a dia a gente tem que pedir perdão, a gente tem que pedir desculpas até quando a gente está certo. E é isso que muita gente não entende.
Se diz: uma pessoa me falou: "É, teve uma pessoa da minha casa que surtou, começou a gritar, etc. , e ela ficou com raiva de mim. E aí ela queria que eu pedisse desculpas para ela.
" Aí eu falei: "Que que você fez? " Ah, eu não pedi desculpas, não, quem errou foi ela. Falei: "Mas não é assim.
O nosso coração tem que ser o coração quebrado, despedaçado. " Então, não tem: "Ah, me desculpa, que não, não queria, poxa vida, jamais me desculpa, me perdoa. " Você pode estar coberto de razão, mas um coração que se arrepende rápido é justamente o coração que rapidamente sabe pedir perdão.
Vai buscar a Deus. Deus tem que te derrubar desse pedestal, dessa panca, dessa atitude que é altiva, arrogante. Quanto cristão se sente general de Deus, se sente investido por uma série de medalhas e outros ornamentos, não desce do chão, do salto.
Desce, desce! Você só vai encontrar a misericórdia quando desistir de ter razão. Essa dureza, essa certeza que você tem, essa mente totalmente blindada, essa mente é a mente de quem muito facilmente pode ser cativa do engano.
E quanta gente já te enganou! Se os outros te enganaram, será que você não se enganou consigo mesmo tantas vezes? E até hoje não está enganado, olhando pro espelho e vendo um ente que não existe por causa da sua arrogância.
Tem que descer do salto. Eu não sou um homem penitente só porque eu jejuo não sei quantas horas, faço não sei quantos tipos de penitência, ando descalço, etc. Não!
E essa penitência, ela não é sequer a mais importante. A penitência mais importante é ter o coração contrito, o coração capaz de se arrepender em um segundo, capaz de dizer: "Eu tô errado mesmo quando eu tô certo. " Eu me lembro de Santa Bernadete, que certa vez estava limpando o pátio e estava mancando.
Uma irmã lhe disse: "A senhora está mancando porque gosta de chamar a atenção dos outros, a senhora é uma vaidosa, é uma exibida, quer ficar o tempo todo chamando atenção para si, e essa é a prova de que a senhora não viu Nossa Senhora coisa nenhuma e que a senhora tem um monte de ilusões na cabeça, todas que nasceram da sua vaidade. " Ela respondeu: "A senhora tem razão, me perdoe, desculpe. " Depois, o médico veio examiná-la, ela estava com um câncer na perna que já estava visível e foi isso que a matou.
Esses são santos. Agora, nós queremos sempre ter razão, queremos sempre estar do lado certo. Não que eu sou do bem.
Será? Será? Cresce um pouco e você vai ver que não é assim.
A gente tem um lado ruim que não é tão pequeno assim. Ninguém é tão bom e está sempre certo. Nós temos que ter um pouco de desconfiança dos nossos pecados e não querer maquiá-los.
É uma tentação diabólica essa da gente querer. . .
Por que que a confissão bem feita é rápida? Porque a pessoa diz: "Olha, eu cometi três vezes adultério, eu passei a perna numa pessoa, sei lá, exemplos. " Agora, por que que uma conversão às vezes demora?
Porque a pessoa quer justificar: "Ai, que meu casamento não anda muito bem, aí não sei o que, tudo mais, e lá, lá, lá. Por isso eu cometi tal pecado. " Ei, não é mais fácil dizer que você cometeu esse pecado, que você não presta, que você é ruim?
Quem tem um coração contrito já vai logo pro chão e já vai dizendo: "Não, isso aqui eu sou eu mesmo, por minha culpa. " É minha culpa. Não enfeita, não tenta se justificar.
Quem se justifica, quem se justifica não se arrependeu. No Carmelo havia um ditado muito interessante: quando uma Carmelita errava ou julgava-se que ela tinha errado, se dizia: "Carmelita não se justifica, beija o chão e segue em frente. " É uma boa lição para todos nós.
Irmos para uma posição de quem tem facilidade de reconhecer: "Eu estou errado mesmo, eu errei, eu sou errado, eu não sou certo assim. " Tem essa humildade interior que se desmancha dessa altivez. Vamos pedir ao Senhor que nos dê um coração realmente penitente.
Irmãos, nessa quaresma vamos exercitar esse verdadeiro espírito de penitência, a penitência interior, nos arrependermos de tudo, até do bem que nós fazemos. Porque quando a gente faz uma coisa boa e é mal feita, distraída, a gente reza, esquece, se atropela, se distrai, é tudo mal feito, nada do que a gente faz é 100% bom. Então, a gente tem que se arrepender de tudo e sair dessa posição de "eu tenho razão.
" Desce do pódio! Você não é ninguém, eu também não. A gente tá mais errado do que a gente imagina.
Os antigos diziam, né, até calado eu tô errado. É por aí. Nós temos que ter essa facilidade de, com muita paz na alma, nos colocar um pouco em questão.
Porque quem não faz isso se endurece, e quem se endurece não obedece às escrituras que nos dizem: "Não endureçais o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor. " "Quem se endurece vai pro inferno.