O que você pensa quando ouve Toshiba? A empresa japonesa que está no mercado desde 1875 se consolidou no mercado tecnológico e eletrônico do mundo ao trazer o primeiro laptop de mercado de massa e invenções como o DVD e o cartão de memória flash de computadores e celulares. Fundada pelo cara que ficou conhecido como o “Thomas Edison do Japão”, Hisashige Tanaka, a Toshiba foi fundamental para tornar o Japão uma potência manufatureira, ao ser responsável por levar ao país tecnologias como o telégrafo, o radar e o microondas, mas não só isso.
A Toshiba teve um papel chave na estratégia industrial do Japão para reestruturar o país após a segunda guerra mundial Porém, os dias de glória da empresa parecem ter passado. Hoje a empresa perdeu consideravelmente seu valor de mercado, além de ser associada a inúmeros escândalos, envolvendo até mesmo a quebra de um acordo econômico internacional. Mas foi só em 2015 que as coisas começaram a desmoronar de vez.
De lá para cá ela anunciaria a falência de uma de suas subsidiárias, e chegaria ao ponto de ter que vender sua maior fonte de renda para não ter que fechar as portas, até chegar aos dias de hoje, onde apesar de sua importância histórica se vê prestes a ser vendida. Como ela foi de uma potência mundial, à escândalos e quase falência é o que eu te conto nesse vídeo Antes de entendermos como a Toshiba caiu do topo, precisamos entender como ela se tornou um grande conglomerado japonês Hisashige Tanaka foi o grande responsável pelo início do que viria ser a Toshiba. Lá em 1875 no esforço do Japão de modernizar o país, o Ministro de Engenharia do Japão contratou um engenheiro para desenvolver equipamentos telegráficos para o país.
O telégrafo era uma tecnologia de comunicação que, apesar de ter 40 anos de história na época, ainda não havia chegado no Japão. Assim Tanaka, durante esse processo de desenvolvimento, fundaria a empresa Tanaka Seisakusho, que passaria a vender equipamentos telégrafos, mas em 1893 a empresa foi tomada pelo banco Mitsui, e a companhia passou a ser chamada Shibaura Engineering Works. Quando Tanaka faleceu, a companhia passou para seu filho, que vendeu parte da empresa para a General Electric.
A empresa, então, expandiu seu mercado e passou a vender torpedos e minas que eram vendidos para a Marinha Japonesa. Mais tarde, em 1939, se juntaria com a empresa Tokyo Electric Company que fabricava interruptores e lâmpadas, para formar a Tokyo Shibaura Electric, - que se tornaria futuramente a Toshiba. Juntas, a empresa passaria a ser contratada pelo governo para produzir suprimentos militares, assim como rádios e geradores.
Isso permitiu que a empresa sobrevivesse à guerra e ainda que ela se tornasse um super conglomerado, quando ela passou a comprar as empresas de engenharia que não haviam sobrevivido àquele período. Em 1984, com o ocidente já se referindo a empresa desta forma, a empresa faz uma junção dos nomes e se torna oficialmente Toshiba. Mas se você é um brasilieiro, talvez tenha conhecido a Toshiba com um nome um pouco diferente.
Lá em 1977 a Sociedade Eletro Mercantil Paulista, a SEMP oficializou um acordo de participação acionária e tecnológica com a então Tokyo Shibaura Denki. As duas aqui no Brasil se tornaram a SEMP Toshiba. Se você nasceu nos anos 90, com certeza lembra dos produtos da SEMP TOSHIBA.
Ela foi a única no mercado a disponibilizar no Brasil aparelhos de TV com janela dupla e tecnologia V3 para videocassetes, foi ela também a pioneira a disponibilizar no Brasil a tecnologia DVD em 1998. A SEMP, fundada em 1946, foi responsável em 1951 por lançar o rádio mais sofisticado da época, o PT 76, ou como era mais conhecido, o capelinha, um dos rádios mais conhecidos e vendidos do Brasil, foi ela também a responsável por trazer a primeira TV a cores para o país. Essa parceria, que durou 40 anos e que marcou uma geração inteira de brasileiros, teve fim quando a Toshiba decidiu encerrar sua produção de TVs.
Essa foi só uma das péssimas decisões da Toshiba, que englobam erros administrativos, estratégicos e até criminosos. Com o sucesso de seus produtos nos anos 80, ela passou a alargar seu setor e a criar subsidiárias, surgindo as empresas Toshiba Lighting, Toshiba Music e Toshiba Machine. Parecia dar certo até que a subsidiária Toshiba Machine, à qual a Toshiba possuía 51% das ações, se envolveu em um grande escândalo, embargando a Toshiba em vários países e quebrando um acordo universal ao qual o Japão fazia parte.
Entre 1981 e 1984 a Toshiba teria vendido fresadoras secretamente para soviéticos, utilizadas para produzir hélices mais silenciosas. Isso possibilitou tornar os submarinos soviéticos menos detectáveis pela Marinha americana. Na época, o Japão agia sobre um decreto que proibia a exportação de 178 itens estratégicos de alta tecnologia para países comunistas.
O decreto vinha do acordo COCOM, o Comitê de Coordenação de Controle de Exportação, assinado por diversos países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte, que incluía o Japão e embargava negociações de exportação para países comunistas. Em consequência, na época, o Senado americano votou pelo banimento da importação de produtos da Toshiba para os Estados Unidos por dois anos, alegando que as vendas ilegais custariam ao país e seus aliados bilhões de dólares para desenvolver tecnologias que identificassem os submarinos soviéticos com a nova tecnologia. Isso abalou a relação dos Estados Unidos e Japão, provocando no país americano inúmeros protestos pedindo o boicote da marca japonesa, isso preocupou e muito a empresa, que na época tinha cerca de 10% de todas as suas vendas realizadas nos EUA.
Para piorar, o boicote se estendeu para outras marcas japonesas, em um momento onde um terço das exportações do Japão eram destinadas aos Estados Unidos. Isso fez Sugiichiro Watari e Shoichi Saba, o CEO e o presidente da Toshiba, renunciarem logo em seguida. Dois executivos da Toshiba Machine foram presos e uma auditoria de investigação foi montada para investigar a subsidiária e a empresa.
A Toshiba então teve que seguir além do escândalo, trazendo inovações para deixar os acontecimentos para trás. Um pouco antes do escândalo, em 1985 a Toshiba havia lançado o T1100, o primeiro laptop para o mercado de massa vendido comercialmente. O T1100 daria forma a todas características que laptops e notebooks teriam ao andar dos anos.
Esse pioneirismo possibilitou a empresa a investir na tecnologia do produto e se manter sempre a frente de seus competidores, a tornando líder de vendas de laptops nos anos 1990. E grandes coisas ainda estavam por vir. A Toshiba Corp então se juntou a Time Warner e criou um disco chamado Super Density, o SD, uma tecnologia nova que daria origem, pouco depois, ao DVD, a qual a Toshiba disponibilizaria o primeiro player.
Essa tecnologia daria adeus aos vídeos cassetes e mudaria a forma de se disponibilizar arquivos de mídia. As inovações continuariam a vir e a Toshiba faria uma parceria com a Orion Eletric, um dos maiores fabricantes de produtos eletrônicos do mundo. A parceria proporcionou a Toshiba trazer de volta seu produto ao mercado americano.
O sucesso na época era tanto que a Toshiba comprou o display Times Square e passou a exibir a contagem regressiva do ano novo na festa de Réveillon mais famosa do mundo. Mas o contrato que deveria durar apenas sete anos, acabou justamente quando a Toshiba estava em seu auge. Para piorar em 2006, a Toshiba havia investido pesado no lançamento do HD DVD, mas na mesma época a Sony lançaria a tecnologia Blu-ray que deixaria a tecnologia da Toshiba completamente obsoleta e levaria todos estúdios de cinema, incluindo a Warner a lançarem seus filmes em Blu-ray.
Depois de perder todo seu investimento para o Blu-ray, a Toshiba sofreu outro golpe. Percebendo que seu laptop não retornava em mais um lucro significativo a empresa decidiu parar de produzir o produto comercialmente e se concentrar apenas no setor de negócios. Sem seus laptops, a Toshiba precisava de uma nova galinha com ovos de ouro, assim a companhia passou a fazer pesquisas na produção de TVs 3D.
Com o lançamento de Avatar, o 3D havia se tornado um fenômeno e chegava agora às TVs. Porém, essa nova tecnologia exigia que as pessoas usassem um óculos para ter a experiência completa, porém a Toshiba queria mudar isso e produzir uma TV 3D sem óculos. Uma ideia ambiciosa e cara, e que logo ficaria claro, uma ideia fracassada.
A empolgação do consumidor pela TV 3D durou pouco tempo e o investimento foi perdido. Depois do fracasso da TV 3D, a Toshiba anunciou que passaria, então, a concentrar seus negócios em energia nuclear. Não seria a primeira vez que a Toshiba investiria em energia nuclear, na verdade, era uma divisão que ela trabalhava desde os anos 1970, porém, deixar de vender seus principais produtos que a transformaram em uma das maiores empresas de eletrônicos no mundo para investir em energia nuclear, seria uma boa ideia?
Em 2006 a Toshiba anunciou a compra da Westinghouse Electric por US$5,4 bilhões de dólares, um valor três vezes maior do que especialistas acreditavam que a empresa valia. Mesmo assim, a compra foi vista como uma boa aquisição na época. A energia nuclear era considerada a energia do futuro, enquanto a energia solar e hídrica não pareciam chegar perto da capacidade de produção que a energia nuclear poderia gerar.
Os executivos da Toshiba defendiam que até 2020, a energia nuclear cresceria 50%. Mas não foi o que aconteceu. A energia nuclear, na verdade, estagnou.
Para piorar, em 2011 aconteceria uma tragédia no Japão e mudaria a forma como o mundo, mas principalmente o país, lidaria com a energia nuclear. Após um grande terremoto, um Tsunami tomou conta da costa do Japão matando milhares de pessoas e provocando um acidente na Usina Nuclear de Fukushima, levando à evacuação de cem mil pessoas do local. Ninguém mais se sentia seguro com a energia nuclear, era simplesmente muito arriscado.
Protestos exigiam novas leis de regulação e levaram o Japão a fechar usinas nucleares, apesar de elas representarem 30% de toda eletricidade produzida no país. Mesmo assim, o CEO da Toshiba na época, Norio Sasaki, garantiu a investidores que a energia nuclear voltaria a ser uma grande opção de produção de energia para o mundo. Quando a Chicago Bridge e Iron Company, maiores clientes da Westinghouse fecharam sua usina nuclear, em uma decisão desesperada a Westinghouse comprou a divisão nuclear da empresa e prometeu investir 3,68 bilhões na construção de dois reatores nucleares na Geórgia.
Mas essa estratégia mal pensada acarretou em uma queda de 12% nas ações da empresa e a quase faliu. Isso porque a aquisição veio em uma hora muito mal apropriada, a dívida só piorava a situação financeira da empresa que vinha de uma baixa gigantesca no ano anterior, depois de passar pelo que foi chamado de um dos maiores escândalos corporativos do Japão. Em uma investigação externa contratada pela própria empresa, foi descoberto uma fraude contábil de grande magnitude, realizado por executivos-chefes da Toshiba.
No relatório, ficava explícito que desde 2008 a empresa vinha inflando o lucro operacional da empresa. Os dirigentes estabeleciam metas inviáveis antes do final do trimestre fiscal, pressionando as unidades de negócios da empresa, fosse a divisão de eletrônicos ou nuclear. Com a cultura japonesa de não contrariar superiores, os dirigentes das unidades se viam obrigados a registrarem números contábeis irreais.
Por cerca de sete anos a companhia teria elevado artificialmente seu lucro em cerca de R$ 3,9 bilhões de reais. E ao contrário do que a Toshiba garantiu aos acionistas, a energia nuclear não voltava a ser um investimento de sucesso, na verdade cada vez mais ela se tornava difícil de vender diante do desagrado da população mundial. No entanto, mesmo assim a energia nuclear havia se tornado a prioridade da empresa.
A Toshiba havia parado de exportar TVs e sua venda de eletrônicos era baixa diante da perda de interesse da própria empresa, que deixava de investir neste setor. Tudo que restava para a Toshiba, além da energia nuclear, era a venda de chips de memória para computadores e celulares, onde ela era líder de vendas, porém nem mesmo dali poderia vir a salvação. Em março de 2017 a Westinghouse admitiu falência, encerrando a construção dos reatores nucleares nos EUA.
Isso fez com que a empresa tivesse de entrar em um acordo com a Georgia Power, uma subsidiária da Southern Company, para pagar em parcelas o valor prometido de mais de três bilhões de dólares. A Toshiba estava, neste momento, mais quebrada do que tudo e corria o risco de ser retirada da lista de empresas de primeira linha por não ter apresentado relatórios auditados de dois trimestres de 2016. A empresa estava tão mal que não viu saída senão vender a sua maior fonte de lucro por anos, a Nand, sua unidade de chips.
Se lá no passado perguntassem o futuro da Toshiba, ninguém imaginaria que a empresa líder de seu mercado, se tornaria o que é hoje. Estando praticamente esquecida, ela precisa se esforçar com o pouco que ainda tem. No Brasil, a Toshiba voltou ao país no ano passado no mercado de TVs em uma parceria com a Multilaser e a empresa chinesa Hisense, a parceria foi feita para dar visibilidade e nome às TVs lançadas pela Multilaser.
Muitos acreditam que a Toshiba ainda só não caiu por conta da ajuda do governo japonês, que busca manter os milhares de empregos que a empresa oferece aos cidadãos japoneses, mas não apenas isso. O governo japonês enxerga a Toshiba como um ativo estratégico devido ao seu reator nuclear e tecnologia de defesa, a empresa inclusive é responsável pelo desmantelamento da Usina Nuclear de Fukushima. Tanto é a sua importância dentro do país que o Ministério do Comércio do Japão chegou a conspirar junto à Toshiba para que acionistas estrangeiros fossem impedidos de ganharem influência em uma reunião de acionistas realizada em 2020.
Mais um escândalo pra conta da Toshiba. A Toshiba, então, decidiu por se dividir em três empresas: Uma ficaria responsável pela unidade de infraestrutura e energia; Outra seria formada pela divisão de semicondutores de energia e disco rígido; enquanto a terceira serviria para administrar ativos, mas principalmente a participação da Toshiba na Kioxia, empresa que comprou sua unidade de cartões de memória. No entanto, a proposta de separação não foi aceita por acionistas ativistas que exigiam que a empresa fosse fechada, a divisão de fato servia como estratégia para afastar esses acionistas.
Então, em fevereiro de 2022, a Toshiba anunciou um novo plano de divisão, onde apenas sua unidade de dispositivos seria dividida em dois. Só que mais uma vez a proposta foi recusada, assim como a proposta dos acionistas ativistas de que a Toshiba solicitasse ofertas de compra. Investidores passaram a defender que a empresa deveria primeiro lidar com suas deficiências antes de tomar uma decisão sobre estratégias de reestruturação.
E não teve jeito, a Toshiba teve que jogar a toalha. Em julho de 2022 o conglomerado anunciou que, dentro de dez propostas avaliadas, ela havia aprovado quatro propostas de venda para passar para a próxima fase de negociações. Entre as quatro propostas, há propostas de aliança de capital, assim como de fechamento.
Enquanto a decisão não é tomada, suas ações continuam em baixa, sendo sua principal fonte de negócios atualmente a venda de equipamentos eletrônicos industriais. O que o futuro reserva para a Toshiba ainda não é completamente claro, mas é óbvio que este grande conglomerado que teve tanta importância no desenvolvimento tecnológico e industrial do Japão logo pode desaparecer. E parece que é melhor tomar uma decisão o quanto antes e que dessa vez não seja como as decisões de investir em HD DVD, Tv 3d ou em energia nuclear.
E ai, você tinha ideia do caminho que a Toshiba tomou? Ou então, tinha pelo menos percebido que ela simplesmente desapareceu? Comenta aqui embaixo e dá uma olhada no que o pessoal tá falando sobre isso.
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