Milionário de olhar glacial, confundiu a faxineira ajoelhada com uma convidada especial. Esse mal entendido uniria para sempre dois mundos completamente opostos. Prepare-se, porque essa história irá tocar seu coração. Inscreva-se no canal, deixe seu gostei nesse vídeo e comente de onde você está assistindo. Ela, 23 anos, pura e inocente. Olhos castanhos que ainda brilhavam com a esperança dos sonhos. Não destruídos pela vida. Rebeca Silva caminhava apressada pelas ruas encharcadas da periferia, protegendo seus cadernos da faculdade debaixo do casaco fino demais para o frio de São Paulo. A chuva castigava seu corpo franzino, mas nem isso apagava
a luz de determinação que emanava daquela jovem. Mãos delicadas, porém marcadas pelo trabalho árduo, unhas curtas sem esmalte, pele ressecada pelo contato constante com produtos de limpeza. Rebeca nunca havia conhecido o toque romântico de um homem. Entre o trabalho no salão de beleza da mãe, os bicos de faxina e a faculdade de administração, que tanto lutava para pagar, não sobrava tempo para namoros. Sua pureza não era apenas física, mas uma inocência de alma que a fazia acreditar que o mundo podia ser justo para quem se esforçava. No outro extremo da cidade, em uma cobertura na
Avenida Faria Lima, ele despertava sozinho em uma cama king size. Gabriel Almeida, 40 anos, dono da Giatec, uma das maiores empresas de tecnologia do Brasil. Olhos azuis penetrantes, agora cercados por linhas de expressão que contavam histórias de decepções. O jornal ao lado da cama estampava sua foto ao lado da manchete. Divórcio milionário, abala mercado de tecnologia. Gabriel fitou seu reflexo no espelho enquanto fazia a barba. O homem que o encarava de volta parecia um estranho. Sete meses atrás, havia descoberto que sua esposa, Amanda, o traía há dois anos com seu sócio e melhor amigo. A
traição dupla envenenou seu coração, transformando o brilhante visionário em um homem frio e desconfiado. Agora, seus únicos relacionamentos eram contratos comerciais, mulheres apenas entretenimento ocasional, cuidadosamente selecionado para não representar ameaças emocionais. Senor Almeida, o carro está pronto. O senhor tem a reunião com a Associação Brasileira de Investimentos em uma hora. lembrou Anderson, seu assistente pessoal, através do interfone. Gabriel ajustou a gravata italiana de seda pura, sentindo o peso do império que construiu. Um império de tecnologia de ponta, contratos milionários e uma conta bancária invejável, um império vazio, sem alma, sem propósito, além da acumulação de
poder. O que ninguém sabia é que por trás daquela fachada impecável de sucesso havia um homem que não conseguia mais dormir sem remédios, que não se lembrava da última vez que havia sorrido genuinamente. Enquanto isso, no pequeno salão Brilho da Esperança, na zona leste, Rebeca corria de um lado para outro, toalha na mão, tentando conter a água que entrava pelas goteiras do teto antigo. "Mãe, preciso dar um jeito nessas telhas antes do inverno piorar", dizia. Enquanto posicionava baldes estrategicamente, o cheiro forte de acetona e produtos químicos misturava-se ao aroma de café requentado que sua mãe,
dona Célia, preparava para as clientes matinais. O celular de segunda mão, com a tela rachada vibrou no bolso do avental manchado. Era Juliana, sua amiga de infância, que trabalhava em uma empresa terceirizada de limpeza para hotéis de luxo. Rebeca, tem uma super oportunidade. O Hotel Unique está recebendo hoje à noite um evento da Associação Brasileira de Investimentos. Uma das meninas desistiu e precisamos de alguém de confiança para substituir. É limpeza durante o evento, pagamento em dinheiro vivo, no fim da noite. Rebeca olhou para o calendário na parede, onde as datas de vencimento das mensalidades atrasadas
da faculdade estavam marcadas em vermelho. Precisava desesperadamente daquele dinheiro. Que horas tenho que estar lá? 7 da noite, a entrada pelos fundos. Mas, Rebeca, a coordenadora foi bem clara. Você precisa ser invisível. Os milionários não podem nem notar que você existe. Invisível. A palavra ecoou em sua mente. Era assim que o mundo havia mesmo. Uma jovem da periferia, sem sobrenome importante, sem contatos, sem outra herança, além dos valores que seus pais haviam lhe ensinado. "Estarei lá", respondeu, desligando o telefone enquanto olhava para a única foto que mantinha na carteira. Seu pai, morto em um assalto
quando ela tinha apenas 12 anos, o homem que lhe ensinara que dignidade não tinha preço. Naquele momento, em partes opostas da cidade de São Paulo, dois seres humanos, tão diferentes quanto água e óleo, se preparavam para um encontro que o destino havia marcado. Um encontro que começaria com um terrível mal entendido, mas que mudaria para sempre a definição de valor, dignidade e amor para ambos. O hotel Unique destacava-se na paisagem urbana de São Paulo como um símbolo de exclusividade. Sua arquitetura arrojada em formato de meio círculo elevado, projetada por Rui Otak, era conhecida como a
melancia pelos paulistanos. Ali dentro, porém, nada lembrava o clima descontraído das ruas. Tudo era luxo, perfeição e distância. Rebeca chegou às 18:45, 15 minutos antes do combinado. Usava uma calça jeans simples tênis e uma blusa básica. Carregava uma mochila surrada onde guardava o uniforme bege discreto quase da cor das paredes, projetado para torná-la invisível. Ao entrar pela porta de serviço, sentiu o contraste imediato entre o calor abafado das ruas de São Paulo e o ar- condicionado gelado do hotel. O segurança mal olhou para seu rosto, apenas verificou seu nome numa lista e acenou com a
cabeça, indicando o caminho do vestiário. Atrasada, disse Márcia, a coordenadora de limpeza, uma mulher de expressão severa e olhar crítico. Tem 5 minutos para se trocar. Desculpe, cheguei 15 minutos antes. Rebeca tentou explicar. Aqui, antes é no horário. No horário é atrasado. Troque-se no pequeno vestiário, enquanto vestia o uniforme bege com o logo discreto do hotel, Rebeca observou outras mulheres como ela, todas silenciosas, eficientes, sabendo exatamente o ritual que viria pela frente. A maioria evitava olhares, como se já tivessem aceitado completamente seu papel de invisibilidade. Márcia reuniu a equipe para instruções finais antes do evento
começar. Atenção, esta noite é a festa anual da Associação de Investidores Brasileiros. Os imoites, homens mais ricos e influentes do país, estarão aqui. Vocês sabem as regras. Não falem a menos que sejam abordadas. Não olhem diretamente para os convidados. Sejam rápidas e eficientes. Qualquer sujeira deve ser limpa no exato momento em que acontece, mas vocês precisam ser como sombras, entenderam? Todas as sentiram em silêncio. Rebeca, você ficará responsável pelo salão principal. Se houver qualquer derramamento, qualquer mancha, qualquer problema, você resolve sem chamar atenção. Rebeca recebeu um carrinho discreto com produtos de limpeza, panos macios e
sprays sem cheiro, tudo pensado para que ela pudesse limpar sem ser notada. Ao entrar no salão principal, ainda vazio, Rebeca ficou momentaneamente deslumbrada. candelabros de cristal, arranjos de orquídeas brancas, mesas impecavelmente arrumadas com louças que provavelmente custavam mais que todos os seus pertences juntos. O mármore branco do piso brilhava tanto que parecia um espelho. A vista panorâmica da cidade, através das enormes janelas, mostrava São Paulo se iluminando gradualmente enquanto a noite caía. "Bonito, né?", perguntou um garçom jovem, provavelmente novo no trabalho, ainda não completamente doutrinado na regra do silêncio. "Muito", respondeu Rebeca, baixinho. "Dizem que
a conta final desse evento passa de R milhão deais. Uma noite 1 milhão. Dá para acreditar?" Rebeca apenas balançou a cabeça. Um milhão de reais o suficiente para pagar sua faculdade inteira, ajudar sua mãe a comprar um salão próprio. Talvez até comprar um pequeno apartamento. Tudo em uma única noite de festa para pessoas que provavelmente gastariam esse valor sem nem perceber. Os convidados começaram a chegar e Rebeca assumiu sua posição discreta próxima a uma das colunas do salão. Observava tudo com olhos atentos. pronta para agir ao menor sinal de sujeira. As mulheres em vestidos deslumbrantes,
joias reluzentes, os homens internos impecáveis, risadas educadas, taças de champanhe que custavam o equivalente a um dia inteiro de seu trabalho no salão de beleza. E ali estava ela, no mesmo ambiente que eles, respirando o mesmo ar, mas separada por um abismo invisível e intransponível. ou pelo menos era o que Rebeca acreditava naquele momento. A noite avançava no hotel Unique. O salão nobre já estava repleto de convidados, todos impecavelmente vestidos, circulando com taças de champanhe francesa, enquanto conversavam sobre investimentos, fusões empresariais e mercado financeiro. O burburinho elegante era acompanhado por uma orquestra de câmara que
tocava músicas clássicas suaves, criando a atmosfera perfeita. de sofisticação e exclusividade. Rebeca mantinha-se em seu posto, quase fundida à parede em seu uniforme bege. Seus olhos percorriam o ambiente constantemente, atenta a qualquer necessidade de limpeza. já havia removido discretamente alguns guardanapos caídos e limpo marcas de dedos em mesas laterais, sempre como uma sombra, sem ser notada pelos convidados que pareciam olhar através dela. Foi quando um jovem garçom, visivelmente nervoso, talvez em seu primeiro evento de grande porte, equilibrava uma bandeja pesada com várias taças de champanhe. Ele navegava com dificuldade entre os grupos de convidados quando
um empresário gesticulou amplamente durante uma conversa animada, esbarrando no braço do garçom. O tempo pareceu desacelerar para Rebeca. A bandeja inclinou-se perigosamente. O garçom tentou equilibrá-la com um movimento brusco, mas era tarde demais. Seis taças de cristal fino tombaram, derramando o líquido dourado sobre o imaculado piso de mármore branco, seguido pelo tilintar delicado dos cristais quebrados. Um silêncio momentâneo tomou conta do ambiente próximo. Olhares de desaprovação se voltaram para o garçom, que ficou paralisado, o rosto completamente pálido, sabendo que aquele erro poderia custar seu emprego. Sem pensar duas vezes, Rebeca moveu-se rapidamente. Em segundos, estava
ajoelhada próxima ao acidente, com luvas de proteção, uma pequena pá e um conjunto de panos absorventes. Seus movimentos eram precisos e eficientes. Primeiro recolheu os estilhaços maiores de vidro. Depois usou a pá para os fragmentos menores, enquanto simultaneamente absorvia o líquido derramado com os panos especiais. Seus olhos cruzaram brevemente com os do jovem garçom e ela ofereceu um discreto sorriso de solidariedade. "Vai ficar tudo bem", murmurou quase sem som, apenas com o movimento dos lábios. Concentrada em sua tarefa, Rebeca não percebeu que estava exatamente no campo de visão de um grupo de empresários que acabava
de entrar no salão. Ajoelhada, com a cabeça baixa, trabalhando com determinação e eficiência, ela criava, sem saber, uma imagem poderosa, contrastante com a ostentação ao redor. Entre esses recém-chegados estava Gabriel Almeida, 38 anos, fundador e CEO da GC, uma das maiores empresas de tecnologia do Brasil. Alto, com feições marcantes, cabelos levemente grisalhos nas têmporas e olhos perspicazes que pareciam avaliar constantemente tudo ao seu redor. Gabriel era conhecido não apenas por sua fortuna bilionária, mas também por sua frieza nos negócios. Nos últimos seis meses, sua vida pessoal havia sido exposta em todos os tabloides e revistas
de fofoca. A separação turbulenta da esposa, que o havia traído com seu ex-sócio, as acusações de que ele seria workaholic e emocionalmente indisponível, a disputa pela guarda do filho de 7 anos. Gabriel havia se tornado ainda mais reservado e desconfiado desde então. Seus olhos pousaram sobre Rebeca, ajoelhada no chão. Algo na cena capturou sua atenção. Talvez fosse a eficiência silenciosa. Talvez fosse algo na postura dela, ou talvez fosse apenas o contraste visual que ela criava naquele ambiente. "Quem é aquela?", perguntou a Marcelo Teixeira, o anfitrião do evento e presidente da Associação Brasileira de Investimentos. Marcelo
seguiu o olhar de Gabriel e franziu o senho por um momento antes de abrir um sorriso enigmático. Ah, Gabriel, sempre observador. Vejo que notou nossa surpresa especial da noite. Surpresa? Gabriel arqueou uma sobrancelha intrigado. Alguns de nossos associados gostam de entretenimento mais exclusivo depois dos eventos formais. Ela deve ser uma das convidadas especiais para After Party. Gabriel voltou a olhar para Rebeca, que agora terminava de limpar o chão, ainda ajoelhada. Em seu mundo, onde tudo tinha um preço e onde havia sido recentemente traído, a explicação de Marcelo fazia sentido. Ela seria apenas mais uma mulher
contratada para entreter homens ricos, disfarçada como funcionária, para manter a descrição. Interessante estratégia de disfarce. comentou Gabriel, sem tirar os olhos de Rebeca. As melhores são aquelas que ninguém suspeita, respondeu Marcelo com uma risada contida. Agora vamos preciso apresentá-lo a alguns investidores estrangeiros. Mas Gabriel não se moveu imediatamente por algum motivo que nem ele mesmo compreendia, não conseguia desviar o olhar daquela figura ajoelhada, trabalhando com dignidade, completamente alheia ao fato de que seu destino estava prestes a mudar drasticamente por causa de um terrível mal entendido. Gabriel Almeida observou Rebeca por mais alguns instantes, ignorando os
chamados de Marcelo para conhecer os investidores estrangeiros. Havia algo na postura dela, na maneira como executava seu trabalho, com precisão e dignidade, que parecia destoar completamente da descrição de Marcelo. Rebeca terminou de limpar o acidente, recolhendo os últimos fragmentos de vidro. Ao se levantar, sentiu-se observada. Seus olhos involuntariamente encontraram os de Gabriel Almeida. Foi um momento breve, mas intenso. O olhar dele era penetrante, analítico, como se tentasse decifrar um enigma complexo. O olhar dela franco e direto, sem submissão ou flirte, apenas o olhar limpo de quem nada tem a esconder. Gabriel sentiu algo estranho nesse
contato visual, um desconforto. As mulheres que frequentavam seu círculo, executivas, ambiciosas, socialistites calculistas, interesseiras diversas, nunca o olhavam daquela forma. Havia sempre uma segunda intenção, um jogo de interesses. Mas aquele olhar parecia autêntico. "Gabriel, você vem ou não?", insistiu Marcelo impaciente. "Sim, claro", respondeu ele, finalmente desviando a atenção. Durante a hora seguinte, Gabriel cumpriu seu papel de bilionário influente, conversando sobre fusões, aquisições e o mercado de tecnologia, mas sua mente frequentemente voltava àquele olhar. Não se lembrava da última vez que havia sentido tanta curiosidade sobre alguém. Em um momento de pausa, quando se afastou para
buscar uma nova taça de champanhe, avistou Rebeca novamente. Ela estava em um canto discreto do salão, verificando seu carrinho de produtos de limpeza. Sem pensar muito, Gabriel caminhou em sua direção. Rebeca percebeu a aproximação do homem elegante e sentiu um frio na barriga. reconheceu-o imediatamente. Seu rosto aparecia frequentemente em revistas de negócios que ela foliava na sala de espera da faculdade. Gabriel Almeida, o bilionário da tecnologia. O que ele poderia querer com ela? Talvez reclamar de algo que não estava limpo adequadamente. Boa noite, disse Gabriel com um meio sorriso que não alcançava seus olhos. Boa
noite, senhor, respondeu Rebeca educadamente, mas firme. Posso ajudá-lo em algo? Gabriel observou-a com mais atenção. De perto, notou detalhes que não havia percebido antes. As mãos de Rebeca, embora bem cuidadas, tinham pequenos calos nas pontas dos dedos. Suas unhas eram curtas, práticas, sem esmalte. Não usava joias, apenas um relógio simples e funcional. Seus sapatos, embora limpos e bem conservados, mostravam sinais de uso. Não era a imagem de alguém que estava ali para entreter homens ricos. Qual é o seu nome? Perguntou ele, suavizando um pouco o tom. Rebeca Silva, senhor, respondeu ela, mantendo a postura profissional,
embora seu coração batesse acelerado. O que poderia querer um dos homens mais ricos do Brasil com uma simples faxineira? Você trabalha aqui há muito tempo, Rebeca? Não, senhor. Sou temporária só para este evento. Gabriel assentiu pensativo. Algo não batia com a explicação de Marcelo. Mas então, porque ela estaria ali se não fosse funcionária regular do hotel? E você gosta deste tipo de trabalho? continuou ele, genuinamente curioso. Agora Rebeca hesitou por um momento. Ninguém, em todos os eventos em que havia trabalhado, jamais lhe perguntara isso. É um trabalho digno, senhor. Paga as contas. E ela fez
uma pausa, debatendo-se internamente se deveria continuar. E me ajuda a pagar minha faculdade. Faculdade? As sobrancelhas de Gabriel se arquearam em surpresa. O que você estuda? Administração, senhor. Estou no primeiro semestre. Gabriel ia fazer outra pergunta quando Márcia, a coordenadora de limpeza, aproximou-se rapidamente. "Rebeca, precisamos de você no banheiro feminino. Houve um problema", disse ela, lançando um olhar de advertência para a jovem. Virou-se então para Gabriel com um sorriso profissional. "Peço desculpa se ela o incomodou de alguma forma, Senr. Almeida." Ela não incomodou", respondeu Gabriel sec. "Estávamos apenas conversando. Mesmo assim, ela tem trabalho a
fazer", insistiu Márcia, fazendo um gesto discreto para que Rebeca se retirasse. "Com licença, senhor", disse Rebeca, baixando ligeiramente a cabeça antes de se afastar. Gabriel a observou partir agora completamente intrigado. Uma faxineira temporária que estudava a administração, uma jovem com olhar franco e postura digna, mesmo executando um trabalho que muitos considerariam humilhante. Definitivamente não era o que Marcelo havia insinuado. E foi nesse momento que algo despertou em Gabriel. Uma curiosidade genuína, um interesse que ia além da atração física ou da conquista. Algo que ele não sentia há muito tempo, o desejo de conhecer verdadeiramente uma
pessoa. Voltou ao grupo de empresários, mas sua mente permaneceu com aquela jovem de uniforme bege, que sem saber havia plantado uma semente de mudança no coração endurecido do bilionário. A noite avançava no hotel Unique. O jantar estava sendo servido e os convidados ocupavam suas mesas designadas. Gabriel Almeida sentou-se na mesa principal junto aos diretores da Associação Brasileira de Investimentos, mas sua atenção estava dividida. Entre uma conversa e outra sobre mercado financeiro e novas startups promissoras, seus olhos buscavam Rebeca pelo salão. Finalmente a avistou novamente ajoelhada, desta vez discretamente limpando uma mancha quase imperceptível próxima a
uma das colunas decorativas. observou sua concentração, a delicadeza de seus movimentos, como ela conseguia realizar aquela tarefa sem chamar atenção para si mesma. Interessado na limpadora, Gabriel, a voz de Marcelo ao seu lado tinha um tom de diversão maliciosa. Posso garantir que ela estará disponível após o evento oficial. Gabriel sentiu uma pontada de irritação. Não é o que você está pensando, Marcelo. Não, você mal tirou os olhos dela a noite toda. Estou apenas intrigado. Ela me disse que é estudante de administração. Marcelo riu, tomando um gole de seu vinho tinto caríssimo. Claro que ela diria
isso. Faz parte do charme do jogo. Histórias tristes, sonhos interrompidos, tudo para conseguir uma gorgeta mais generosa ou um protetor de longo prazo. As palavras de Marcelo deixaram Gabriel desconfortável. Seria possível que ele estivesse certo, que aquele olhar franco, aquela postura digna fossem apenas uma atuação bem ensaiada em seu mundo, cercado de pessoas interesseiras, de relacionamentos baseados em conveniência e vantagens mútuas? Não seria a primeira vez que alguém tentava enganá-lo com uma história comovente. Sua ex-esposa não havia feito o mesmo, jurando amor eterno enquanto se envolvia com seu sócio pelas suas costas. Gabriel terminou seu
jantar em silêncio, dividido entre a desconfiança instilada por Marcelo e algo mais profundo, uma intuição de que havia algo genuíno naquela jovem. Quando o jantar terminou e a banda começou a tocar música ao vivo, Gabriel viu sua oportunidade. Rebeca estava sozinha, organizando discretamente alguns produtos em seu carrinho de limpeza em um canto menos iluminado do salão, aproximou-se dela, determinado a descobrir a verdade. "Nos encontramos novamente", disse ele, fazendo Rebeca, sobressaltar-se de leve. "Senhor Almeida", respondeu ela, recompondo-se rapidamente. "Precisa de algo? Gabriel a observou atentamente. De perto, notou que ela não usava maquiagem além de um
batom suave. Seus olhos castanhos eram claros, límpidos. Nada nela sugeria artifício ou manipulação. "Na verdade sim", disse ele baixando a voz. "Precisamos conversar em particular". Rebeca sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Por que um bilionário quereria conversar com ela em particular? Sinto muito senhor, mas estou trabalhando. Não posso me ausentar. Tenho certeza que sua supervisora não se importará se eu pedir. Afinal, o cliente sempre tem razão, não é? Havia algo no tom dele, uma sugestão velada que fez Rebeca se sentir extremamente desconfortável. "Do que se trata, Senr. Almeida?", perguntou ela, tentando manter a voz firme.
Gabriel se aproximou um pouco mais e falou em tom baixo: "Não precisa fingir comigo, Rebeca. Eu sei porque você realmente está aqui. Os olhos dela se arregalaram em choque. Perdão. Marcelo me contou sobre as convidadas especiais para depois do evento sobre o entretenimento exclusivo. Foi como se um balde de água gelada tivesse sido derramado sobre Rebeca. A compreensão do que ele estava insinuando a atingiu como um tapa no rosto. Suas bochechas queimaram de vergonha e indignação. "Senhor Almeida", disse ela com voz trêmula de emoção contida. "Sou faxineira. Trabalho para pagar minhas contas e minha faculdade.
Não sei que tipo de evento paralelo existe aqui, mas não tenho nada a ver com isso." Gabriel notou a mudança em seu semblante, o brilho de lágrimas contidas nos olhos dela, a dignidade ferida em sua postura. Por um momento, duvidou da interpretação de Marcelo, mas anos de desconfiança e cinismo não se desfazem facilmente. "Não precisa fingir tanto", insistiu ele, abaixando-se ao lado dela, que havia se ajoelhado novamente, fingindo organizar produtos para esconder seu rosto corado de humilhação. "Estou acostumado com surpresas assim." Rebeca ergueu os olhos, uma única lágrima finalmente escapando e deslizando por sua face.
Havia tanta dignidade ferida, tanta indignação genuína naquele olhar, que por um instante Gabriel se sentiu pequeno, mesquinho. "Com licença, senhor", disse ela, levantando-se com o que restava de seu orgulho. "Preciso voltar ao trabalho." E sem esperar resposta, deu as costas e se afastou rapidamente, deixando Gabriel com uma sensação crescente de que havia cometido um terrível erro. Rebeca caminhou apressadamente pelo corredor de serviço do Hotel Unique, lutando para conter as lágrimas que ameaçavam cair. Suas mãos tremiam e seu coração batia forte contra o peito. A humilhação queimava como ácido em sua garganta. Quando finalmente chegou à
Copa dos Funcionários, um espaço pequeno e funcional, longe dos olhos da elite que circulava pelo evento, permitiu-se respirar, encostou-se na parede fria e fechou os olhos por um momento, tentando recuperar a compostura. "Você está bem?" A voz gentil fez Rebeca abrir os olhos. Era Luía, uma senhora de aproximadamente 60 anos, que também trabalhava na equipe de limpeza. Seus olhos bondosos refletiam décadas de trabalho duro e uma sabedoria que só os anos poderiam conceder. Estou, mentiu Rebeca, forçando um sorriso fraco. Não, não está, respondeu Luía, aproximando-se e oferecendo um copo d'água. Conheço esse olhar. Alguém te
desrespeitou lá dentro. Rebeca aceitou a água e tomou um gole. Um dos convidados, ele Sua voz falhou. Ele achou que eu estava aqui para para a minha filha", suspirou Luía, compreendendo imediatamente. "Não é a primeira vez que isso acontece. Esses homens ricos acham que todas as mulheres estão à venda. O pior é que ele parecia diferente no início", confessou Rebeca. Perguntou sobre minha faculdade. Parecia realmente interessado. Luía balançou a cabeça suavemente. Tática velha. finge interesse para baixar nossa guarda. Me senti tão suja, como se o simples fato de ele pensar isso sobre mim já me
manchasse de alguma forma. Escute, menina, disse Luía, colocando as mãos enrugadas sobre os ombros de Rebeca. Nada do que eles pensam define quem você é. Quando se trabalha servindo os ricos, você aprende que eles vivem em outro mundo, com outras regras. Não deixe que a visão distorcida deles afete seu valor. Rebeca a sentiu sentindo um nó na garganta. Mas dói tanto, Luía. Eu estudo, me esforço, trabalho honestamente e mesmo assim sou vista apenas como isso. A dor passa, querida. O que fica é o que você constrói com seu trabalho e sua dignidade. Nesse momento, Márcia,
a coordenadora, entrou na Copa com expressão severa. Rebeca, o que está fazendo aqui? Temos um evento acontecendo. Ela não está se sentindo bem, interveio Luía, só veio tomar um pouco d'água. Não pagamos por pausas. Se não está bem, vá para casa e não receba pelo dia. Respondeu Márcia friamente. Rebeca engoliu o nó na garganta. Não podia se dar ao luxo de perder aquele pagamento. Estou bem, já estou voltando. Ótimo. E Rebeca? Márcia hesitou, baixando a voz. Vi você conversando com o Sr. Almeida. Não é permitido interagir com os convidados além do estritamente necessário. Foi ele
quem iniciou a conversa. Defendeu-se Rebeca. Não importa. Nossa função é sermos invisíveis. Lembre-se disso. Quando Márcia saiu, Rebeca olhou para seu reflexo no pequeno espelho da Copa invisível. Era assim que o mundo havia. Era assim que Gabriel Almeida realmente a vira, mesmo quando fingia interesse, não como uma pessoa com sonhos, lutas e dignidade, mas como um objeto disponível, um serviço a ser adquirido. Ajeitou o uniforme, prendeu novamente os cabelos que haviam se soltado e respirou fundo. O uniforme bege, quase da cor das paredes, parecia agora simbolizar tudo o que ela combatia, a invisibilidade, a objetificação,
o desprezo. Vou terminar esse turno com dignidade", disse para si mesma. "Pois nunca mais volto a trabalhar em eventos como este." Luía apertou sua mão gentilmente. "Força, menina! Gente como nós sobrevive porque tem que sobreviver." Rebeca voltou ao salão principal, mas tomou o cuidado de se manter longe da área onde Gabriel Almeida estava. A cada minuto que passava, contava mentalmente o dinheiro que receberia e o quanto isso a aproximava de pagar suas mensalidades atrasadas da faculdade. Era seu sonho, sua saída, a promessa que fizera ao pai falecido. Nenhum milionário arrogante tiraria isso dela. Enquanto limpava
silenciosamente uma mesa lateral, sentiu um olhar sobre si. De soslaio, viu Gabriel Almeida a observando de longe, com uma expressão que ela não conseguiu decifrar. virou o rosto rapidamente, determinada a ignorá-lo pelo resto da noite. O evento chegou ao fim por volta das 2as da manhã. Os convidados começavam a se retirar, alguns visivelmente alterados pelo álcool, outros envolvidos em conversas finais sobre negócios que renderiam milhões. Para a equipe de limpeza, no entanto, a noite estava longe de terminar. "Todos permanecem até o salão estar impecável", anunciou Márcia, distribuindo novas tarefas. E lembrem-se, sem marcas de dedo,
sem um único copo esquecido, sem nada fora do lugar, Gabriel Almeida estava entre os últimos a sair. Em vez de se dirigir ao elevador, como os outros convidados, ele se afastou discretamente para um canto do saguão, tirou seu smartphone do bolso e começou a mexer na tela com expressão concentrada. O que ninguém sabia é que ele estava acessando o sistema de segurança do hotel. como um dos maiores investidores do grupo hoteleiro, tinha acesso privilegiado às câmeras, uma prática que havia adotado nos últimos meses, desde que descobrira a traição da ex-esposa, uma forma de se proteger,
de verificar as intenções das pessoas ao seu redor. Nas imagens de segurança, Gabriel localizou Rebeca, observou-a trabalhando durante toda a noite. sua eficiência, sua descrição, sua postura sempre digna, mesmo quando achava que ninguém a observava. Viu o momento em que ela havia entrado na copa, claramente abalada após a conversa com ele, e viu quando, minutos depois, ela retornou ao salão, enxugando discretamente uma lágrima enquanto voltava ao trabalho. Algo nessa imagem. A jovem secando uma lágrima furtiva, antes de retomar sua tarefa com determinação, tocou Gabriel profundamente. Não havia atuação ali, não havia estratégia, era apenas uma
mulher jovem, ferida por suas insinuações, mas forte o suficiente para não desistir. Sentiu um nó na garganta quando a realidade o atingiu. havia humilhado uma trabalhadora honesta baseado em uma suposição equivocada e preconceituosa. Marcelo se aproximou, interrompendo seus pensamentos. E aí, Gabriel? Vai participar da after party? Tenho algumas surpresas interessantes planejadas. Gabriel olhou para o homem à sua frente, vendo-o sob uma nova luz. O que antes lhe parecia sofisticação e exclusividade, agora soava como arrogância e desrespeito. "Não, Marcelo, tenho uma reunião importante amanhã cedo", respondeu secamente, guardando o smartphone. "Você está bem?", parece perturbado. "Estou
perfeitamente bem", respondeu Gabriel, afastando-se, só cansado. Foi uma noite longa. Ao sair do hotel, Gabriel não conseguiu tirar Rebeca de seus pensamentos. A expressão de dignidade ferida nos olhos dela o perseguia. Como havia permitido que o cinismo e a desconfiança o levassem a julgar alguém tão injustamente? Na manhã seguinte, em sua cobertura na Avenida Paulista, Gabriel acordou mais cedo que o habitual, o café da manhã cado, o notebook aberto, mas sua mente estava longe dos e-mails e planilhas de costume. Tomou uma decisão, pegou o telefone e fez uma ligação. Anderson, preciso que você encontre alguém
para mim, disse ao seu assistente pessoal. Uma jovem chamada Rebeca Silva trabalhou ontem à noite na limpeza do evento da associação no Hotel Unique. Quero tudo: Endereço, telefone, histórico, profissional, educacional, familiar. Por que esse interesse, senhor? Perguntou Anderson, surpreendendo-se com o pedido em comum. Não estou pagando pelo seu questionamento, Anderson, mas pela sua eficiência, respondeu Gabriel sec. Três horas depois, Gabriel tinha em mãos um relatório completo sobre Rebeca Silva, filha única de Célia Silva, proprietária de um pequeno salão de beleza na zona leste, pai falecido quando ela tinha 12 anos, vítima de um assalto. Estudante
de administração no primeiro semestre da Faculdade São Paulo com mensalidades atrasadas, histórico de trabalhos temporários como manicure no salão da mãe e faxineira em eventos para complementar a renda. Algo naquela história simples, mas digna, tocou Gabriel. Era tão diferente das pessoas que o cercavam com seus privilégios e jogos de interesse. Rebeca lutava honestamente por uma vida melhor, enfrentando obstáculos que ele, nascido em berço de ouro, jamais precisou enfrentar. Naquela tarde, Gabriel fez algo inédito em sua rotina meticulosamente planejada. cancelou todas as reuniões e dirigiu pessoalmente seu Porsche até a zona leste de São Paulo. Estacionou
a algumas quadras do Brilho da Esperança, o pequeno salão de beleza da mãe de Rebeca, vestindo jeans e uma camisa simples, sem a gravata e o terno habituais, parecia quase um homem comum. Quase de longe, observou o salão. Era um espaço modesto, mas limpo e acolhedor. Através da vitrine, viu Rebeca atendendo uma cliente, fazendo suas unhas com a mesma concentração e cuidado que havia demonstrado na limpeza do hotel. Mesmo exausta da noite anterior, ali estava ela, trabalhando com dignidade. Gabriel sentiu uma emoção estranha, um misto de admiração e vergonha. Admiração por aquela jovem que lutava
com tanta garra, vergonha por ter presumido o pior sobre ela, baseado em nada além de preconceitos. Foi nesse momento que tomou uma decisão que mudaria para sempre a vida de ambos, não por pena ou caridade, mas por um genuíno desejo de reparação. E talvez, embora ainda não admitisse para si mesmo, por algo mais profundo que começava a despertar em seu coração endurecido por anos de desconfiança e solidão. Na manhã seguinte, Rebeca ajudava sua mãe a abrir o salão de beleza. O cansaço da noite no hotel ainda pesava em seus ombros, mas ela se esforçava para
manter um sorriso no rosto. A experiência humilhante com Gabriel Almeida havia deixado uma marca amarga, mas Rebeca decidira não comentar nada com sua mãe. Dona Célia já tinha preocupações suficientes. "Filha, o dinheiro que você recebeu ontem deu para pagar quanto da faculdade?", perguntou Célia enquanto organizava os esmaltes por cor. Deu para uma das duas parcelas atrasadas", respondeu Rebeca, tentando suar otimista. "Logo consigo pagar a outra. Tenho pensado, talvez seja melhor você trancar a matrícula por um semestre até a gente conseguir estabilizar as finanças", sugeriu Célia com visível pesar. Rebeca sentiu um nó na garganta. Trancar
a faculdade seria adiar seu sonho, talvez indefinidamente. Muitos que trancavam acabavam nunca voltando. Não, mãe, vamos conseguir. Faltam só duas semanas para o prazo final da segunda parcela. Algo vai aparecer. O sininho da porta tocou, anunciando o primeiro cliente do dia. Rebeca virou-se com seu melhor sorriso profissional, que congelou instantaneamente ao reconhecer quem entrava no salão, Gabriel Almeida, vestido de maneira mais casual do que na noite anterior, mas ainda assim evidentemente rico e deslocado naquele ambiente simples. Rebeca sentiu o rosto corar de raiva, de vergonha, de surpresa. Dona Célia, percebendo a tensão súbita da filha,
adiantou-se. "Bom dia, senhor. Em que podemos ajudá-lo?", perguntou com a gentileza que dedicava a todos os clientes. Gabriel mantinha os olhos fixos em Rebeca, que sustentava seu olhar com uma mistura de desafio e dignidade ferida. "Bom dia", respondeu ele finalmente, dirigindo-se a Célia, mas sem desviar completamente o olhar de Rebeca. "Na verdade, vim conversar com sua filha. É um assunto particular." Célia olhou para Rebeca, intrigada e levemente preocupada. "Mãe, este é um dos convidados do evento onde trabalhei ontem", explicou Rebeca com voz controlada. "Ah, entendo", disse Célia, ainda confusa. Bem, podem usar a salinha dos
fundos para conversar. Eu atendo a dona Neid, que já deve estar chegando. Rebeca hesitou. A última coisa que queria era estar sozinha novamente com aquele homem que a havia humilhado tão profundamente. Mas algo na expressão dele estava diferente. Não havia a arrogância da noite anterior, nem o olhar de avaliação maliciosa. Havia, seria possível um traço de genuíno arrependimento. "Por favor, Rebeca", disse Gabriel, baixando a voz. 5 minutos. É tudo que peço. Com relutância, ela assentiu e o conduziu até a pequena sala nos fundos, que servia tanto de escritório quanto de copa para o salão. O
espaço era apertado, simples, com uma mesinha, algumas cadeiras e uma estante com produtos de beleza. As paredes eram decoradas com diplomas de cursos de cabeleireira e manicure de dona Célia e um único retrato emoldurado. Rebeca, ainda criança no colo de um homem de sorriso gentil, seu pai. Gabriel entrou no pequeno espaço, subitamente consciente do contraste entre seu mundo e o dela. O perfume caro que usava parecia fora de lugar naquele ambiente de simplicidade autêntica. Diga o que veio dizer, senhor Almeida", falou Rebeca, sem rodeios, cruzando os braços protetoramente. Gabriel respirou fundo. Não era um homem
acostumado a pedir desculpas, a admitir erros. Sua fortuna e poder haviam criado ao seu redor uma barreira que o isolava das consequências de seus julgamentos e ações. Mas algo em Rebeca, talvez sua dignidade inabalável, talvez a pureza de seu olhar desafiador quebrava todas essas barreiras. "Vim pedir desculpas", disse ele finalmente, com uma sinceridade que surpreendeu a ambos. "O que eu disse, o que eu insinuei ontem à noite foi imperdoável. Rebeca o observava em silêncio, ainda desconfiada. "Como descobriu onde eu trabalho?", perguntou ela. "Tenho recursos,", respondeu ele, para logo perceber como isso soava arrogante. "Quero dizer,
pedi para meu assistente localizar você. Sei que isso também pode parecer uma invasão, mas precisava encontrá-la, olhar em seus olhos e dizer que estou profundamente arrependido. Algo na voz dele, uma vulnerabilidade inédita, fez com que Rebeca suavizasse um pouco sua postura defensiva. Por que fez aquilo? Porque presumiu aquilo sobre mim? Gabriel desviou o olhar pela primeira vez, visivelmente desconfortável. Marcelo, o organizador do evento, insinuou que, bem, que algumas mulheres estariam lá para fé entreter os convidados após o evento oficial. Quando o vi ajoelhada, ele sugeriu que você seria uma delas. E você acreditou sem questionar,
concluiu Rebeca, a mágoa evidente em sua voz. Sim", admitiu Gabriel, encarando-a novamente. "E não há desculpa para isso. Meu mundo é cheio de pessoas com agendas ocultas, interesses, mentiras. A traição da minha ex-esposa me tornou ainda mais cínico, mas isso não justifica o que fiz com você". Um silêncio pesado se instalou entre eles. Do salão vinham os sons abafados de dona Célia conversando animadamente com uma cliente. Depois que você saiu, continuou Gabriel, percebi meu erro. Observei você o resto da noite trabalhando com tanta dignidade depois do que eu havia dito. Isso me fez ver como
eu havia me tornado uma pessoa que julga baseada nos piores pressupostos. Rebeca absorvia suas palavras, ainda cautelosa, mas começando a acreditar na sinceridade dele. O que você quer agora, Senr Almeida? Já pediu desculpas? Gabriel hesitou. Quero ajudar você. O olhar de Rebeca imediatamente se endureceu. Não preciso de caridade. Não é caridade, apressou-se ele. É reparação. Soube que você está com dificuldades para pagar a faculdade. Quero oferecer uma bolsa de estudos através da fundação da minha empresa. Você continuaria no curso de administração, mas sem o peso das mensalidades. Rebeca olhou para ele genuinamente surpresa. Por que
faria isso? Porque você merece essa oportunidade? Porque quero transformar algo negativo em positivo. E principalmente, ele fez uma pausa, escolhendo as palavras com cuidado. Porque acredito que você tem potencial para ser uma grande administradora um dia. Rebeca sentiu-se dividida. A proposta era tentadora. significava realizar seu sonho sem o constante sufoco financeiro, mas sua dignidade, a mesma que havia sido ferida na noite anterior, a impedia de simplesmente aceitar. Agradeço a oferta, Senr. Almeida, mas não posso aceitar algo assim de graça. Não seria correto. Gabriel a sentiu como se já esperasse essa resposta. E se não fosse
de graça? E se fosse um emprego? Que tipo de emprego? Perguntou ela, ainda desconfiada. Um estágio na área administrativa da GEC. Você trabalharia meio período, continuaria seus estudos e em troca receberia um salário justo e a bolsa de estudos. Rebeca ponderou por um momento. Um estágio em uma das maiores empresas de tecnologia do país seria um salto extraordinário em sua carreira. Era uma oportunidade real, não apenas caridade disfarçada. Por que eu? Deve haver centenas de estudantes de universidades de elite querendo estagiar na sua empresa. Gabriel sorriu levemente, o primeiro sorriso genuíno que Rebeca via em
seu rosto. Porque vi algo em você que raramente vejo. Integridade, determinação, dignidade, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. São qualidades que não se aprendem em universidades de elite. Rebeca não respondeu imediatamente. Tudo parecia acontecer rápido demais. Há menos de 24 horas, este homem a havia humilhado profundamente. Agora oferecia-lhe uma oportunidade que mudaria sua vida. Preciso pensar, disse finalmente, e conversar com minha mãe. Claro respondeu Gabriel, tirando um cartão do bolso. Meu número pessoal está aí. Quando decidir, me ligue diretamente. Ele se virou para sair, mas parou na porta e olhou para ela uma última vez. Rebeca,
independente da sua decisão, saiba que me desculpar com você foi a coisa mais honesta que fiz em muito tempo. E com essas palavras, ele saiu, deixando Rebeca sozinha com um cartão de visitas na mão e uma decisão que poderia mudar completamente o rumo de sua vida. Uma semana se passou desde a visita inesperada de Gabriel Almeida ao salão de beleza. Rebeca não havia ligado para ele. O cartão de visitas permanecia guardado na gaveta de sua mesa de cabeceira, como um lembrete constante da decisão que precisava tomar. Dona Célia observava a filha com preocupação crescente. Desde
aquela manhã, Rebeca parecia dividida, pensativa, alternando entre momentos de esperança e desconfiança. "Filha, posso entrar?", perguntou Célia, batendo suavemente na porta do quartinho estreito onde Rebeca estudava. Rebeca levantou os olhos do caderno cheio de anotações. Claro, mãe. Dona Célia sentou-se na beirada da cama, o colchão fino afundando sob seu peso. O quarto era tão pequeno que seus joelhos quase tocavam os de Rebeca, sentada na única cadeira disponível. Na parede descascada, recortes de revistas mostravam fotos de escritórios corporativos e mulheres em trages executivos. os sonhos simples que Rebeca nutria desde adolescente. "Você ainda não me contou
direito o que aconteceu entre você e aquele homem rico no evento", disse Célia finalmente, ajeitando o avental gasto que nem havia tirado depois de um longo dia de trabalho. "Mas vejo nos seus olhos que tem algo te roendo por dentro." Rebeca suspirou. O cheiro de feijão cozinhando na panela de pressão enchia o quartinho, misturando-se ao aroma de acetona que parecia impregnado em suas roupas. Não importava quantas vezes as lavasse. Ele me humilhou, mãe. Pensou que eu estava lá no hotel para para outros fins, não como fachineira. O rosto de Célia endureceu imediatamente, as rugas de
expressão se aprofundando em linhas de indignação. Ele te desrespeitou. É por isso que veio até aqui. Por remorço, Rebeca afastou uma mecha de cabelo que caía sobre seus olhos cansados. No canto do quarto, o ventilador velho roncava, espalhando o ar quente em vez de refrescá-lo. "Sim, em parte", admitiu ela, mas parecia sinceramente arrependido, mãe, que a proposta dele mudaria tudo para nós. Não teríamos que escolher entre pagar a conta de luz ou comprar comida. Eu poderia terminar a faculdade. Você não precisaria trabalhar até tão tarde. Dinheiro nenhum vale a sua dignidade, filha", respondeu Célia firmemente,
segurando as mãos de Rebeca entre as suas mãos diferentes, as de Célia, marcadas por décadas de trabalho duro, com unhas curtas e ásperas, as de Rebeca, mais jovens, mas já mostrando os mesmos sinais de desgaste prematuro. "Não é só dinheiro, mãe." Rebeca levantou-se, caminhando os dois passos que o quarto permitia até a janela. Lá fora, a noite da periferia paulistana era uma sinfonia de sons familiares. Crianças brincando na rua, o funk tocando alto em alguma casa próxima, cachorros latindo, motos acelerando. É a chance de trabalhar numa das maiores empresas do país, aprender coisas que a
faculdade sozinha não me ensinaria. Da janela podia ver o pequeno varal onde suas duas únicas blusas arrumadas secavam, uma branca e uma azul, ambas compradas em promoção para as entrevistas de emprego que nunca davam em nada. Célia se aproximou, colocando um braço ao redor dos ombros da filha. O gesto trouxe de volta memórias de infância, de quando Rebeca, aos 12 anos, chorava pela morte do pai e sua mãe a abraçava, prometendo que ficariam bem, que seguiriam em frente. "O que diz seu coração, filha?", perguntou Célia suavemente. Rebeca fechou os olhos por um momento, sentindo o
abraço familiar, o cheiro de cremes de cabelo e comida caseira, que era o aroma constante de sua mãe. Quando os abriu novamente, sua expressão havia mudado. Meu coração diz que vale a pena arriscar, mãe, que posso aceitar a oportunidade sem abrir mão da minha dignidade, que posso estabelecer limites claros. Célia sorriu, apertando carinhosamente o ombro da filha. Então você já tem sua resposta. Só prometa que se em qualquer momento sentir que estão pisando na sua dignidade, você volta para casa. Nossa porta e nosso coração estarão sempre abertos. Prometo, mãe! Respondeu Rebeca, virando-se para abraçar Célia
completamente. Um barulho vindo da cozinha quebrou o momento, a panela de pressão anunciando que o feijão estava pronto. "Vamos comer antes que esfrie", disse Célia. E depois você liga para esse tal milionário. Naquela mesma noite, após um jantar simples de arroz, feijão e ovo frito, o luxo da semana, já que carne era reservada apenas para os domingos, Rebeca pegou o cartão de visitas e discou o número. Com as mãos tremendo, apertou o celular rachado contra a orelha, tentando ignorar as batidas aceleradas de seu coração. Para sua surpresa, Gabriel atendeu pessoalmente no segundo toque. Almeida. respondeu
ele com voz formal. Senor Almeida, é Rebeca Silva. A ligação parecia surreal. Ela sentada na beirada de sua cama simples, numa casa onde às vezes faltava água, falando com um dos homens mais ricos do país. Houve um breve silêncio, seguido por uma mudança no tom de voz dele. Rebeca estava esperando sua ligação. Algo na maneira como ele disse seu nome, sem condescendência, com genuíno interesse, deu a Rebeca coragem para continuar. Pensei muito sobre sua proposta", disse ela, mantendo a voz firme, apesar do nervosismo que fazia suas mãos suarem. "Estou disposta a aceitar, mas com algumas
condições." Pela janela aberta, o barulho da rua entrava livremente, um vizinho gritando pelo resultado da loteria, crianças ainda jogando bola mesmo com o avançado da hora, a realidade de seu mundo, tão diferente daquele de Gabriel Almeida. Estou ouvindo", respondeu ele. E Rebeca podia quase visualizar seu sorriso do outro lado da linha. Primeiro, quero ser tratada como qualquer outro estagiário, sem privilégios especiais, sem tratamento diferenciado. Ela fez uma pausa para respirar, surpreendendo-se com a própria coragem. Segundo, quero ser avaliada pelo meu trabalho, não pelo que aconteceu entre nós. E terceiro, sua voz falhou levemente, mas ela
recuperou a compostura. Isso é estritamente profissional. Estou aceitando uma oportunidade de trabalho e estudo, nada mais. Todas condições perfeitamente razoáveis, respondeu Gabriel com seriedade. Posso acrescentar uma quarta? Gostaria que você fosse sincera comigo se em algum momento sentir que não estou respeitando esses termos. Algo na vulnerabilidade daquele pedido surpreendeu Rebeca. Era como se ele tentasse dizer: "Também estou inseguro neste território desconhecido". Isso eu posso garantir, Senr. Almeida. Sinceridade, nunca será um problema. Ótimo. E por favor, considerando que trabalharemos juntos, pode me chamar de Gabriel. Quando desligou o telefone, Rebeca encontrou sua mãe na porta, observando-a
com um misto de orgulho e preocupação. E então? Perguntou Célia. Começo na segunda-feira, respondeu Rebeca, ainda mal acreditando nas palavras que saíam de sua boca. Uma semana depois, Rebeca entrava pela primeira vez no imponente edifício da Geatech, na prestigiosa Avenida Faria Lima. O contraste não poderia ser maior. Do pequeno salão na periferia para um dos endereços mais caros de São Paulo. Vestia a roupa mais formal que possuía, uma calça social preta comprada em liquidação e a blusa branca que sua mãe havia passado três vezes até eliminar qualquer vestígio de rugas. Seus sapatos, embora os melhores
que tinha, mostravam sinais de uso. Havia economizado a passagem do ônibus durante dias para poder pegar um Uber naquele primeiro dia. Não queria chegar suada e desgrenhada. sentiu os olhares curiosos dos funcionários elegantes enquanto atravessava o saguão. Sua mão apertou nervosamente a alça da bolsa surrada, onde guardava um sanduíche cuidadosamente embrulhado por sua mãe. Não tinha dinheiro para almoçar nos restaurantes caros da região. O Departamento de Recursos Humanos já estava à sua espera. Para sua surpresa, não houve tratamento VIP, nem menção ao seu relacionamento com o presidente da empresa. foi recebida como qualquer outro estagiário.
Formulários para preencher, crachá para retirar, orientações sobre horários e comportamento. Sua função seria na área de projetos sociais da empresa, um departamento pequeno, quase esquecido, que cuidava de iniciativas de responsabilidade social que raramente saíam do papel. A gestora da área, Fernanda Campos, recebeu-a com um misto de curiosidade e ceticismo. Então você é a nova estagiária", disse Fernanda, uma mulher de aproximadamente 40 anos, cabelos impecavelmente alisados e unhas perfeitamente manicuradas. O tipo de elegância que Rebeca só via em revistas. Venha, vou mostrar sua mesa. A mesa era, na verdade, um pequeno espaço num canto com um
computador antigo e uma cadeira desgastada, claramente inferior aos equipamentos modernos que outros funcionários utilizavam. Espero que não se importe com a simplicidade", comentou Fernanda, observando atentamente a reação de Rebeca, como se testando-a. "Nosso departamento não é exatamente uma prioridade para a empresa. Está perfeito," respondeu Rebeca sinceramente. O computador, mesmo antigo, era infinitamente superior ao celular rachado que ela usava para fazer trabalhos da faculdade. Comparada à mesa improvisada onde estudava, uma tábua apoiada sobre tijolos no quartinho apertado, aquele espaço era luxuoso. Fernanda pareceu aprovar sua resposta. Seu primeiro trabalho será organizar estes arquivos, disse apontando para
várias caixas empoeiradas. São propostas de projetos sociais dos últimos 5 anos. A maioria nunca foi implementada. Posso perguntar porquê? questionou Rebeca, já abrindo a primeira caixa e notando a quantidade de papéis desorganizados. Falta de interesse real, respondeu Fernanda francamente, cruzando os braços sobre o blazer impecável. Responsabilidade social é para muitas empresas apenas uma ferramenta de marketing. Não é diferente aqui. Nos dias seguintes, enquanto organizava os arquivos, Rebeca descobriu projetos brilhantes que nunca saíram do papel, programas de capacitação, profissional para jovens de comunidades carentes como a sua. Iniciativas de educação tecnológica para escolas públicas, onde o
único computador disponível frequentemente estava quebrado. planos de sustentabilidade ambiental para bairros periféricos, onde o lixo se acumulava nas ruas após cada chuva forte. Cada projeto engavetado representava oportunidades perdidas para pessoas como ela, como seus vizinhos, como os jovens que via todos os dias nos pontos de ônibus sonhando com um futuro melhor. Uma semana se passou sem que Rebeca visse Gabriel. Ele parecia estar cumprindo à risca o acordo de não lhe dar tratamento especial e ela apreciava isso. Queria provar seu valor por mérito próprio, não como protegida de alguém. Na hora do almoço, enquanto os outros
funcionários saíam para restaurantes elegantes, Rebeca comia discretamente o sanduíche trazido de casa, economizando o dinheiro para ajudar nas contas da casa. Foi na sexta-feira de sua primeira semana que algo inesperado aconteceu. Enquanto todos se preparavam para ir embora, ansiosos pelo fim de semana, Fernanda chamou Rebeca em sua sala. Preciso que você apresente um relatório sobre esses arquivos na reunião de diretoria da próxima semana", anunciou, ajeitando-se na cadeira de couro. Rebeca arregalou os olhos, o coração acelerando instantaneamente. "Eu, mas sou apenas estagiária. Não deveria ser você?" Deveria, mas recebi instruções específicas", respondeu Fernanda com um meio
sorriso enigmático. "Aparentemente o presidente quer ouvir uma visão nova sobre nossos projetos sociais." O presidente Gabriel. A simples menção dele fez as bochechas de Rebeca corarem involuntariamente. "Qual é a sua impressão honesta sobre esses projetos, Rebeca?", perguntou Fernanda, inclinando-se para a frente, suavizando o tom. Sinceramente, Rebeca respirou fundo pensando nas famílias de sua comunidade, nas crianças que brincavam em ruas sem asfalto, nos jovens que abandonavam a escola para trabalhar. São projetos incríveis que poderiam fazer diferença real na vida de muitas pessoas. É uma pena que estejam juntando poeira em caixas. É exatamente isso que quero
que você diga na reunião", respondeu Fernanda, com um brilho inesperado de aprovação nos olhos, sem medo, sem filtros. Durante o fim de semana, enquanto as amigas de faculdade postavam fotos em bares e festas, Rebeca trabalhou arduamente em seu relatório e apresentação. O quartinho apertado transformou-se em seu escritório improvisado. No domingo à noite, quando finalmente terminou, seus olhos ardiam de cansaço, mas sentia uma satisfação que nunca experimentara antes. Na segunda-feira, vestindo a mesma roupa da entrevista, a única formal que possuía, Rebeca entrou na sala de reuniões, sentindo o peso de todos os olhares sobre si. A
mesa era ocupada por homens de meia idade, internos caros, com Gabriel na cabeceira. Ele a cumprimentou com um aceno educado, como faria com qualquer funcionário. Esta é Rebeca Silva, nossa nova estagiária do departamento de projetos sociais, apresentou Fernanda. Ela preparou um relatório sobre o status de nossas iniciativas sociais. Com as mãos tremendo levemente, Rebeca iniciou sua apresentação. Nos primeiros minutos, sua voz vacilou, carregando o sotaque da periferia que tanto se esforçava para disfarçar, mas progressivamente ganhou confiança. Falou sobre os projetos abandonados, o potencial desperdiçado e, principalmente, como a implementação efetiva dessas iniciativas. poderia não apenas
beneficiar comunidades carentes, comunidades como a sua, mas também fortalecer a imagem da empresa e atrair jovens talentos que valorizavam a responsabilidade social. Em resumo, senhores, concluiu ela, olhando diretamente para Gabriel pela primeira vez. Hatec tem em mãos a oportunidade de transformar vidas e ser um exemplo para outras corporações. E tudo isso pode começar com um simples sim. para projetos que já estão prontos, apenas esperando serem implementados. Um silêncio pesado se instalou na sala quando ela terminou. Alguns diretores pareciam desconfortáveis com a franqueza da jovem estagiária da periferia. Outros demonstravam um interesse cauteloso. Gabriel foi o
primeiro a falar. Obrigado, Rebeca. Uma análise perspicaz e direta. Seu tom era profissional, mas seus olhos revelavam um orgulho discreto. Alguma pergunta, cavalheiros? As perguntas vieram, algumas desafiadoras, outras genuinamente interessadas. Rebeca respondeu a todas com honestidade e clareza, sem recuar diante das mais difíceis, sem esconder sua origem ou sua perspectiva única. Ao final da reunião, Gabriel anunciou: "Acredito que devemos reavaliar nossa abordagem aos projetos sociais". Fernanda, gostaria que você e Rebeca preparassem um plano de implementação para os três projetos mais promissores, com orçamento e cronograma detalhados. Quando todos saíram, apenas Gabriel e Rebeca permaneceram na
sala. Você foi extraordinária", disse ele, permitindo-se finalmente um sorriso aberto. "Obrigada por não me tratar de forma diferente", respondeu ela. "Por me dar a chance de provar meu valor. Você não precisava provar nada, Rebeca. Eu já sabia do seu valor desde que a vi limpar aquele chão com tanta dignidade. O tom de sua voz, a maneira como seus olhos encontraram os dela. Havia algo ali, algo que fez o coração de Rebeca acelerar de uma maneira que ela nunca havia experimentado antes. "Este é apenas o começo", disse ela com determinação e esperança no olhar, lutando contra
o rubor que sentia subir pelo pescoço. "Disso", respondeu Gabriel. Não tenho a menor dúvida. Naquela noite, ao retornar para casa no ônibus lotado, Rebeca olhou pela janela suja as luzes da cidade, que passavam rapidamente. Em seus olhos, um brilho novo. Em seu coração, uma sensação estranha e maravilhosa começava a florescer. Algo que ela ainda não estava pronta para nomear. Os meses seguintes trouxeram mudanças profundas na vida de Rebeca. O estágio na Gtech transformara sua rotina, suas perspectivas e, embora tentasse negar, também seus sentimentos. Os projetos sociais que ela ajudara a resgatar do esquecimento ganhavam vida,
impactando comunidades como a sua. Rebeca deixou a posição de estagiária para se tornar assistente oficial de projetos com um salário que permitiu transferir sua mãe para um apartamento pequeno, mas confortável em um bairro melhor. A falta de dinheiro, a angústia constante das contas atrasadas, o medo do corte de luz, tudo isso ficara para trás. Mas havia algo mais que a perturbava, algo que ela lutava para ignorar. A presença de Gabriel Almeida em seus pensamentos estava acontecendo gradualmente. Primeiro eram apenas reuniões profissionais onde ela admirava sua inteligência e visão de negócios. Depois vieram os almoços de
trabalho, onde conversavam sobre os projetos sociais e cada vez mais sobre suas vidas pessoais. Gabriel ouvia com genuíno interesse suas histórias sobre crescer na periferia, sobre as dificuldades que enfrentara, sobre seus sonhos. Nunca conheci ninguém como você", disse ele certa vez após ela contar como havia feito seu primeiro vestibular usando um tênis emprestado porque o seu único par estava rasgado. Aquelas palavras ficaram ecoando na mente de Rebeca durante dias. O tom de sua voz, o olhar. Havia algo mais ali, algo que ia admiração profissional. Mas ela lutava contra esses pensamentos. Ele tem 40 anos, Rebeca.
é seu chefe, foi casado, tem um filho, é de outro mundo. Repetia para si mesma como um mantra quando se flagrava sonhando acordada. Na empresa, os burburinhos começaram. Funcionários notavam os olhares, as conversas prolongadas, a maneira como Gabriel sorria mais abertamente quando ela entrava em uma sala. "É óbvio que ele está interessado nela", comentou uma funcionária do RH na Copa. "Mais uma Gold Digger que deu sorte", respondeu outra. sem perceber que Luía, a funcionária da limpeza que Rebeca conhecera no Hotel Unique e que agora trabalhava na Jeat por indicação dela, ouvia tudo. "O que você
sabe sobre ela?", retrucou Luía, surpreendendo as mulheres. "Rebeca tem mais dignidade no dedo mindinho do que vocês duas juntas. E se o Dr. Gabriel a admira, é porque enxerga o que vocês, com toda essa inveja, jamais verão. As palavras de Luía chegaram aos ouvidos de Rebeca, que ficou mortificada. Se até os funcionários percebiam que havia algo entre ela e Gabriel, como negar para si mesma? Em uma noite de sexta-feira, Rebeca estava no escritório até tarde, finalizando um relatório importante. Quando terminou, já passava das 9. Os corredores estavam vazios, exceto pela equipe de limpeza. Ao passar
pela sala de Gabriel, notou a luz acesa. Hesitou por um momento, mas decidiu se despedir antes de ir embora. Bateu suavemente na porta. "Entre", respondeu a voz grave que ela conhecia tão bem. Gabriel estava sentado em sua poltrona, a gravata afrouxada, um copo de whisky na mão. Parecia cansado, vulnerável, de uma maneira que ela nunca havia visto. "Só vim avisar que estou indo", disse Rebeca, tentando manter o tom profissional, apesar do coração acelerado. "Tão tarde assim?" Gabriel olhou para o relógio, parecendo genuinamente surpreso. "Perdoe-me, eu deveria ter percebido a hora. Deixe-me chamar meu motorista para
levá-la. Não precisa, eu, Rebeca, interrompeu ele suavemente. São quase 10 da noite. Não vou deixá-la pegar transporte público a essa hora. Havia uma preocupação sincera em sua voz que fez Rebeca ceder. Obrigada. Um silêncio se instalou entre eles, não exatamente desconfortável, mas carregado de algo não dito. "Você tem trabalhado demais", comentou Gabriel, indicando a cadeira à sua frente, convidando-a a sentar. Rebeca aceitou o convite, sentindo uma estranha intimidade naquele momento, os dois sozinhos no escritório vazio, a cidade iluminada, visível através das janelas panorâmicas. Olha quem fala", respondeu ela com um pequeno sorriso. "Você praticamente mora
aqui. Justo", ele riu. Um som raro e maravilhoso que fazia os cantos de seus olhos se enrugarem de um jeito que Rebeca achava irresistivelmente charmoso. "Acho que somos dois worka holics. A diferença é que você já conquistou seu império. Eu ainda estou construindo o meu." Gabriel a observou com uma intensidade que fez seu estômago dar voltas. "Você vai longe, Rebeca Silva. tem algo especial, uma força que nunca vi em ninguém. Ela desviou o olhar, constrangida com o elogio. É só determinação. Quando você cresce nada, aprende a lutar por tudo. Não é só isso. Gabriel pousou
o copo na mesa e se inclinou ligeiramente em sua direção. É uma luz que você carrega, algo que que me faz querer ser melhor. O coração de Rebeca disparou. Aquilo ultrapassava todas as linhas não ditas que haviam estabelecido. "Gabriel, eu acho que é melhor eu ir", disse ela, levantando-se abruptamente. Ele não insistiu, mas seus olhos permaneceram fixos nela. "O carro deve estar esperando lá embaixo." No elevador, Rebeca respirou fundo, tentando acalmar a tempestade em seu peito. O que estava acontecendo com ela? por anos, havia se dedicado exclusivamente aos estudos e ao trabalho. Nunca teve tempo
para relacionamentos, para sentimentos. E agora, justamente com seu chefe, um homem 17 anos mais velho, de outra classe social, com um passado complicado, estava tão absorta em seus pensamentos que mal notou a conversa com o motorista ou a viagem até sua casa. quando se deu conta, já estava na porta do pequeno apartamento alugado onde morava com a mãe. "Chegamos, senhorita", anunciou o motorista. "Obrigada", respondeu ela automaticamente. Ao entrar, encontrou dona Célia assistindo uma novela na pequena televisão da sala. "Chegou? Tarde, filha, muito trabalho, mãe." Célia olhou para o rosto da filha, notando algo diferente. Aconteceu
alguma coisa? está com uma cara. Nada não. Mentiu Rebeca indo para seu quarto. Mas havia acontecido algo e ela sabia. Pela primeira vez admitiu para si mesma. Estava se apaixonando por Gabriel Almeida. A festa de fim de ano da Gtech era o evento mais aguardado pelos funcionários. Realizada sempre em um dos hotéis mais luxuosos de São Paulo, era a oportunidade para todos se divertirem, longe da formalidade do escritório. Rebeca hesitou muito em comparecer. Nas últimas semanas, havia tentado manter distância de Gabriel, limitando-se às interações estritamente profissionais. Ele pareceu notar essa mudança, mas respeitou seu espaço,
o que só a fez admirá-lo ainda mais. Você tem que ir", insistiu Fernanda, que se tornara não apenas sua chefe, mas uma amiga e mentora. "Todo sucesso dos projetos sociais este ano se deve a você. Merece celebrar." Relutante, Rebeca acabou cedendo. Gastou uma parte considerável de seu salário em um vestido azul marinho, simples, mas elegante. Sua primeira peça de roupa realmente cara. Na noite da festa, ao entrar no salão de eventos do hotel, Rebeca sentiu um dejavi. Era o mesmo hotel Unique, onde tudo havia começado um ano atrás, mas dessa vez ela não entrava pelos
fundos como funcionária invisível da limpeza. Entrava pela porta da frente como convidada, como executiva respeitada da Geatec. Está linda! sussurrou Fernanda ao seu lado. E todos estão notando, inclusive o chefão. Rebeca seguiu o olhar de Fernanda e viu Gabriel do outro lado do salão, parado no meio de uma conversa, olhando fixamente para ela. Mesmo à distância, sentiu o impacto daquele olhar. A festa transcorria animadamente. Após o jantar formal, a pista de dança foi aberta. Rebeca conversava com colegas tentando se distrair quando sentiu uma presença atrás de si. "Você dança?" A voz grave de Gabriel fez
seu corpo inteiro arrepiar. Virou-se lentamente para encará-lo. "Na verdade, não muito bem", confessou com um sorriso tímido. "Eu também não", respondeu ele, estendendo a mão. "Mas talvez possamos ser terríveis juntos. Havia algo tão vulnerável, tão autêntico naquele pedido que Rebeca não conseguiu recusar. aceitou sua mão e deixou-se conduzir para a pista de dança. A banda tocava uma música lenta. Gabriel colocou uma mão respeitosamente em sua cintura, mantendo uma distância apropriada. Mas mesmo assim, Rebeca podia sentir o calor de seu corpo, o cheiro de sua colônia cara, o ritmo de sua respiração. "Você está deslumbrante esta
noite", disse ele, sua voz quase um sussurro. Obrigada, respondeu ela, sentindo as bochechas queimarem. É estranho estar aqui neste hotel. Você se lembra de como nos conhecemos a cada minuto de cada dia? Completou Gabriel seu olhar intenso. Nunca vou me esquecer de como a julguei erroneamente e como isso acabou sendo a melhor coisa que já aconteceu comigo. O coração de Rebeca acelerou. Gabriel, nós não deveríamos. As pessoas estão olhando. Era verdade. Vários funcionários observavam o casal na pista de dança. Alguns com sorrisos cúmplices, outros com olhares desaprovadores. "Deixe que olhem", respondeu ele, sua mão apertando
suavemente a dela. Rebeca, venho tentando lutar contra isso. Há meses, tentando ser apenas seu mentor, seu chefe, mas não posso mais negar o que sinto. "E o que você sente?" A pergunta escapou de seus lábios antes que pudesse contê-la. Gabriel parou de dançar e a olhou diretamente nos olhos. Que você reacendeu algo em mim que eu pensava estar morto para sempre. Que cada dia que passo perto de você me torno uma pessoa melhor. Que não consigo mais imaginar minha vida sem você nela. Rebeca sentiu o mundo girar ao seu redor. Era tudo o que secretamente
desejara ouvir e, ao mesmo tempo, tudo o que mais temia. Não podemos, Gabriel. Sou sua funcionária. Você é meu chefe. Há 17 anos entre nós. Somos de mundos completamente diferentes. Nada disso importa, respondeu ele com firmeza. Só importa o que sentimos. E se você sentir um décimo do que eu sinto por você, vale a pena lutar contra o mundo inteiro. A música terminou, quebrando o momento. Rebeca sentiu os olhares sobre eles, os coxichos mal disfarçados. Preciso ir. disse ela, afastando-se. Saiu da pista de dança rapidamente, dirigindo-se à saída do salão. Precisava de ar, de espaço
para pensar. No lobby do hotel, parou, respirando fundo, tentando acalmar seu coração descompassado. Rebeca, espere. Gabriel a havia seguido. Seu rosto normalmente composto agora mostrava uma emoção crua, vulnerável. Por favor, não fuja. Sei que estou colocando muito em você de uma vez. Sei dos obstáculos. Mas se há uma coisa que aprendi no último ano, é que algumas batalhas valem a pena ser lutadas. Você não entende, respondeu ela, lágrimas ameaçando cair. Tudo o que conquistei até agora foi com meu próprio mérito. Se me envolver com você, todos dirão que consegui minha posição de outras formas. Desde
quando você se importa com o que os outros dizem? perguntou ele, dando um passo em sua direção. A Rebeca que conheço nunca recuou de um desafio por medo do julgamento alheio. Ela não tinha resposta para isso. "Deixe-me levá-la para casa", pediu Gabriel suavemente. "Conversaremos no caminho. Se ao final você ainda acreditar que não devemos seguir adiante, respeitarei sua decisão, prometo." No carro luxuoso, o silêncio inicial era pesado. Gabriel foi o primeiro a quebrá-lo. Meu casamento acabou muito antes da traição", começou ele olhando pela janela enquanto o motorista atravessava as ruas iluminadas de São Paulo. Amanda
e eu nos casamos jovens, mais por conveniência social do que por amor. Quando Pedro nasceu, tentamos fazer funcionar pelo bem dele, mas éramos estranhos vivendo na mesma casa, fingindo uma perfeição que não existia. Rebeca ouvia atentamente, comovida pela sinceridade. "A traição foi apenas o ponto final em algo que já estava morto", continuou ele, mas me fechou completamente. Acreditei que nunca mais seria capaz de confiar em alguém, de me abrir, de amar. A última palavra pairou no arreado. "Aé conhecer você", completou, finalmente, virando-se para encará-la. Seu olhar limpo naquela noite, sua dignidade mesmo quando eu a
humilhei injustamente. Algo em você quebrou todas as minhas defesas. O carro parou em frente ao prédio de Rebeca. Não era um endereço luxuoso, mas um lugar decente, infinitamente melhor que o cortiço, onde vivera a vida toda. "Não estou pedindo uma resposta agora", disse Gabriel, segurando suavemente sua mão. "Só quero que saiba que, pela primeira vez em anos, estou sentindo algo real e isso me assusta tanto quanto a você." Rebeca sentiu as lágrimas finalmente escaparem. "Eu também estou sentindo, Gabriel, mas tenho tanto medo." "Medo do quê?", perguntou ele, aproximando-se. De não ser suficiente, de decepcionar você,
de me perder nesse mundo que não é o meu. Gabriel levou a mão ao rosto dela, enxugando delicadamente uma lágrima com o polegar. Você é mais do que suficiente, Rebeca Silva. é extraordinária. E quanto aos mundos, talvez possamos construir um novo só nosso. Não houve decisão consciente sobre o que aconteceu a seguir. Foi como se uma força magnética os atraísse. Inevitável como a gravidade. Seus lábios se encontraram em um beijo suave, no início, depois mais profundo, mais desesperado. Quando se separaram ofegantes, Rebeca viu nos olhos de Gabriel algo que nunca havia visto antes, uma vulnerabilidade
absoluta, um homem completamente exposto, sem armaduras ou defesas. Isso muda tudo", sussurrou ela. "Isso muda tudo,", concordou ele. O beijo mudou tudo, exatamente como haviam previsto. Nos dias que se seguiram, Rebeca flutuava entre a euforia e o pânico. Cada vez que fechava os olhos, revivia a sensação dos lábios de Gabriel nos céus, o calor de suas mãos, a intensidade de seu olhar. haviam concordado em ir devagar, em manter descrição no ambiente de trabalho, enquanto descobriam juntos o que estava nascendo entre eles. Mas logo ficou claro que seria impossível esconder algo tão óbvio. "Então você e
o chefe, não?", comentou Gisele, uma das analistas de marketing, quando se encontraram na copa da empresa. Seu tom era um misto de inveja e malícia. Não sei do que você está falando", respondeu Rebeca, tentando parecer indiferente enquanto preparava seu café. "Ah, por favor, todo mundo viu vocês saindo juntos da festa e agora ele aparece todo sorridente no escritório, depois de meses parecendo um robô. Não é difícil somar dois mais do", Rebeca não respondeu, mas sentiu o estômago afundar. era exatamente o que temia, os olhares, as fofocas, as insinuações. A situação se complicou ainda mais quando,
naquela mesma semana a Geatek contratou um novo analista para o Departamento de Projetos Sociais, André Mendes, 25 anos, recém formado em administração pela USP. Era inteligente, articulado e, como Rebeca logo descobriu, vinha da mesma realidade que ela, a periferia de São Paulo. "Minha mãe também é cabeleireira", contou ele surpreso quando Rebeca mencionou o salão de dona Célia durante um almoço. Cresci vendo ela trabalhar até tarde para me manter na escola. Foi o que me motivou a estudar tanto. A conexão foi imediata. André entendia as referências culturais de Rebeca, as gírias, as lutas diárias de quem
vem debaixo. Era como respirar um ar familiar depois de meses tentando se adaptar a um ambiente estrangeiro. Gabriel notou a aproximação dos dois. Embora tentasse disfarçar, Rebeca percebia seu olhar quando ela e André conversavam animadamente, compartilhando ideias para os projetos ou simplesmente rindo de alguma piada interna. Vocês parecem se dar bem. comentou Gabriel uma noite quando jantavam no apartamento dele, um cobertura impressionante com vista para o Parque Ibirapuera. Ele é um bom colega, respondeu Rebeca casualmente. Temos histórias parecidas. Gabriel assentiu mexendo na comida sem realmente comer. Entendo. Deve ser reconfortante ter alguém que compreende suas
experiências. Havia algo em sua voz, uma insegurança, talvez até ciúme que surpreendeu Rebeca. Gabriel Almeida, o poderoso CEO, o homem que comandava um império, sentindo-se ameaçado por um jovem analista recém-cratado. "Gabriel", disse ela, tocando sua mão sobre a mesa. "André é apenas um colega, um amigo no máximo." "Eu sei", respondeu ele, forçando um sorriso que não alcançava seus olhos. É só que ele é mais próximo da sua idade. Compartilha suas origens, seus valores. Às vezes me pergunto se não seria mais fácil para você. Pare. Interrompeu Rebeca firmemente. Não faça isso. Não questione o que sinto
por você baseado na idade ou origem social. É exatamente o que temo que os outros façam com a gente. Ele assentiu, apertando sua mão. Você está certa. Me desculpe, mas o assunto não estava encerrado. Nos dias seguintes, a amizade entre Rebeca e André floresceu. Trabalhavam bem juntos, complementando as ideias um do outro. Para Rebeca, era apenas uma parceria profissional saudável. Para muitos observadores na empresa, parecia algo mais. Os rumores começaram a circular. Dizem que ela já trocou o chefe pelo novato", comentou alguém alto o suficiente para que Rebeca o visse ao passar pelo corredor. "Inteligente,
alguém da mesma Laia." As palavras doeram, mas Rebeca manteve a cabeça erguida. Havia enfrentado preconceitos à vida toda por ser mulher, por ser pobre, por ser da periferia. Este era apenas mais um para a lista. O verdadeiro teste veio em uma tarde comum de trabalho. Rebeca e André estavam na sala de reuniões, finalizando uma apresentação importante quando Gabriel entrou inesperadamente. Rebeca, podemos conversar em particular? Seu tom era controlado, profissional, mas Rebeca conhecia aquele olhar. Havia algo errado? Claro! Respondeu ela, pedindo licença a André e seguindo Gabriel até sua sala. Assim que a porta se fechou,
ele se virou para ela. Recebi um e-mail anônimo hoje. Alguém sugerindo que você e André estão envolvidos. Rebeca sentiu o sangue ferver. E você acreditou nisso? Não, claro que não, respondeu ele rapidamente. Mas estou preocupado com sua reputação na empresa, com o que estão dizendo sobre você. Minha reputação? Repetiu ela incrédula. Ou a sua, Rebeca? Não é isso? Então, o que é, Gabriel? Porque parece ciúme? Parece que você não confia em mim. Ele passou a mão pelos cabelos grisalhos. Um gesto de frustração que ela já conhecia bem. Confio em você completamente. Só não quero vê-la
machucada por fofocas maldosas. Já estou acostumada com isso", respondeu ela, cruzando os braços. Lido com preconceito desde que me entendo por gente. A diferença é que antes era por ser pobre, agora é por estar com você. Gabriel se aproximou, segurando-a pelos ombros suavemente. É exatamente por isso que talvez devêsemos oficializar, tornar público o nosso relacionamento, acabar com as especulações. Rebeca o encarou surpresa. Você quer assumir publicamente que estamos juntos? Quero que todos saibam que estou apaixonado por você. respondeu ele, seu olhar intenso, que não é um caso, uma aventura, um capricho. É real, Rebeca, mais
real que qualquer coisa que já senti. Naquele instante, todas as dúvidas que haviam atormentado Rebeca nas últimas semanas se dissiparam. Viu no olhar de Gabriel uma certeza que espelhava a sua própria. "Eu também estou apaixonada por você", admitiu finalmente, sentindo um peso imenso sair de seus ombros. Tentei lutar contra, tentei racionalizar, mas ele não a deixou terminar. Seus lábios encontraram os dela em um beijo profundo, desesperado, como se estivessem sedentos um pelo outro há dias. Foi nesse exato momento que a porta da sala se abriu abruptamente. André estava lá, uma pasta de documentos na mão
e uma expressão de choque no rosto. Desculpe, eu não sabia que estavam Ele gaguejou desconcertado. Só vim trazer os dados que você pediu, Rebeca. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Gabriel se afastou lentamente de Rebeca, mantendo-se ao seu lado de maneira protetora. Está tudo bem, André? disse Rebeca recuperando a compostura. Pode deixar na mesa. André colocou a pasta sobre a mesa mais próxima, evitando olhar diretamente para o casal. "Me desculpem pela interrupção", murmurou antes de sair apressadamente. Assim que a porta se fechou, Rebeca olhou para Gabriel. Bem, acho que agora não temos mais escolha.
A notícia vai se espalhar em minutos. Gabriel a sentiu, mas em vez de preocupação, havia determinação em seu olhar. Talvez seja melhor assim. Sem mais esconderijos, sem mais dúvidas. Vamos enfrentar isso juntos, Rebeca, da única maneira que sei. De frente. Gabriel não perdeu tempo. Na manhã seguinte, convocou uma reunião com toda a diretoria. Rebeca aguardava nervosamente do lado de fora da sala quando ele a chamou para entrar. Senhores, chamei vocês aqui para um anúncio pessoal e profissional", começou Gabriel, sua voz firme enquanto ficava de pé ao lado de Rebeca. Como muitos já devem ter ouvido
através dos rumores que circulam por aqui, Rebeca e eu estamos em um relacionamento. O silêncio na sala era palpável. Alguns diretores trocaram olhares surpresos, outros mantiveram expressões neutras, cuidadosamente estudadas. Quero deixar absolutamente claro, continuou Gabriel, que nosso relacionamento começou muito depois de sua contratação e promoção, que foram baseadas exclusivamente em seu mérito profissional excepcional, como todos aqui podem atestar. fez uma pausa, olhando diretamente para cada um dos presentes. Também quero esclarecer que para evitar qualquer conflito de interesses, a partir de hoje Rebeca responderá diretamente ao conselho diretor, não mais a mim, embora continue liderando nossa
divisão de projetos sociais. Rebeca observava as reações sentindo uma mistura de orgulho e nervosismo. Era a primeira vez que alguém lutava por ela tão abertamente que alguém colocava sua reputação em jogo para protegê-la. Isso não é convencional", admitiu Gabriel, "mas também não é contra nenhuma política da empresa. Esperamos que todos respeitem nossa privacidade e nosso profissionalismo, como sempre fizemos com cada um de vocês." Quando a reunião terminou, os diretores saíram em silêncio, alguns cumprimentando o casal discretamente, outros evitando o contato visual. Fernanda foi a última a sair, parando brevemente ao lado de Rebeca. Se alguém
merece ser feliz, são vocês dois", disse ela com um sorriso genuíno. "E se alguém tentar manchar sua reputação, terá que passar por mim primeiro." Aquele apoio inesperado deu a Rebeca força para o que viria a seguir: enfrentar o restante da empresa. Como esperado, a notícia se espalhou como fogo em palha seca. Por onde passava, Rebeca sentia os olhares, ouvia os coxichos. Alguns a tratavam com uma nova deferência artificial, outros mal escondiam o desdém. Andrea a evitava visivelmente, trocando apenas as palavras estritamente necessárias para o trabalho. Rebeca sentia falta da amizade descomplicada que haviam desenvolvido, mas
entendia seu desconforto. Foi em uma tarde particularmente difícil, após ouvir comentários maldosos no banheiro feminino, que André finalmente procurou Rebeca. Podemos conversar?", perguntou ele parado na porta de sua sala. "Claro", respondeu ela, genuinamente aliviada, que ele finalmente quebrara o gelo. André entrou, fechando a porta atrás de si. Queria me desculpar pelo meu comportamento nas últimas semanas. "Foi imaturo." "Está tudo bem", assegurou Rebeca. "Sei que foi uma situação constrangedora." Não é só isso", confessou ele, sentando-se à frente dela. "A verdade é que eu estava interessado em você, Rebeca, desde o primeiro dia." A confissão a pegou
completamente de surpresa. "André, eu não tinha ideia. Eu sei." Ele sorriu tristemente. "Você nunca deu nenhum sinal de que sentia o mesmo e agora entendo o porquê." Rebeca não sabia o que dizer. havia gostado genuinamente da amizade de André, mas nunca o vira como algo mais. Seu coração já pertencia a outra pessoa, mesmo quando tentara negar isso para si mesma. Quero que saiba que respeito você e sua escolha, continuou André. E espero que possamos voltar a ser amigos e colegas de trabalho, porque independente de qualquer coisa, você é uma profissional incrível, Rebeca, e aprendo muito
trabalhando com você. Aquelas palavras sinceras foram um bálsamo para Rebeca. No meio de tanto julgamento, ter alguém reconhecendo seu valor profissional, apesar da decepção pessoal, significava muito. Obrigada, André. Isso significa muito para mim. Quando ele saiu, Rebeca se sentiu mais leve, um obstáculo a menos, uma preocupação a menos, mas sabia que o maior desafio ainda estava por vir, conhecer oficialmente o filho de Gabriel. Pedro, agora com 8 anos, era o centro do mundo de Gabriel. A situação havia mudado recentemente. Após anos de batalha judicial, sua ex-esposa havia finalmente decidido abrir mão da guarda compartilhada. Ela
aceitara uma proposta de trabalho em Londres e, priorizando sua carreira, concordara que Pedro ficaria permanentemente com o pai no Brasil. O encontro foi marcado para um domingo em um parque. Gabriel estava visivelmente nervoso, algo raro de se ver. E se ele não gostar de mim? Perguntou Rebeca enquanto aguardavam a chegada do menino que viria com a babá. Pedro é um garoto especial, respondeu Gabriel, apertando sua mão. Ele vai adorar você, tenho certeza. Minutos depois, um menino de cabelos escuros como os do pai corria em sua direção. Gabriel abaixou-se para recebê-lo com um abraço apertado. Pai,
eu fiz um gol hoje no futebol, foi incrível. Isso é ótimo, campeão. Quero ouvir tudo sobre isso? Respondeu Gabriel, bagunçando carinhosamente os cabelos do filho. Depois virou-se para apresentá-lo à Rebeca. Pedro, quero que você conheça alguém muito especial para mim. Esta é Rebeca. O menino olhou para ela com curiosidade. Rebeca sentiu o coração acelerar sob aquele olhar tão parecido com o do pai. "Oi, Pedro", disse ela, abaixando-se para ficar na altura dele. "Seu pai me contou que você é muito bom em ciências. É verdade que você montou um vulcão para a feira da escola?" Os
olhos de Pedro se iluminaram. "Sim, e foi o melhor vulcão de todos. Explodiu tudo e a professora até teve que lavar o quadro depois." Rebeca riu genuinamente encantada com seu entusiasmo. Isso soua incrível, sabe? Quando eu tinha sua idade, também adorava experimentos. Uma vez tentei fazer slime em casa e acabei pintando o cabelo da minha mãe de verde sem querer. Pedro caiu na gargalhada. Sério? E ela ficou muito brava, furiosa, mas depois riu também. Mães são assim. O gelo estava quebrado. Durante a tarde no parque, Pedro mostrou-se cada vez mais à vontade com Rebeca. Ela
o ajudou a construir um avião de papel que voou mais longe que todos os anteriores, ensinou-o a pular amarelinha, do jeito que se brincava na periferia, e ouviu atentamente todas as suas histórias da escola. No final do dia, quando a babá veio buscá-lo, Pedro surpreendeu Rebeca com um abraço espontâneo. "Você vai estar aqui no próximo domingo também?", perguntou ele esperançoso. Se você quiser respondeu ela emocionada. Quero sim. Você promete que vai me ensinar a fazer slime, mas sem pintar ninguém de verde. Prometo. Rio Rebeca, trocando um olhar emocionado com Gabriel, que observava a cena com
os olhos marejados. Quando Pedro partiu, Gabriel abraçou Rebeca fortemente. "Obrigado", sussurrou em seu ouvido. "Pelo quê? por ser exatamente quem você é, por conquistar meu filho tão naturalmente quanto conquistou meu coração. Nas semanas seguintes, os três passaram cada vez mais tempo juntos. Pedro adorava visitar o novo apartamento de Rebeca e dona Célia, fascinado com as histórias da infância dela na periferia, com os bolos caseiros de Célia, com um mundo tão diferente e autêntico que elas representavam. "Por que você não mora com a gente?", perguntou Pedro certa noite, enquanto jantavam na cobertura de Gabriel. O silêncio
que se seguiu foi carregado de significado. Gabriel e Rebeca trocaram um olhar rápido. Pedro, Rebeca e eu estamos nos conhecendo melhor, explicou Gabriel cuidadosamente. É um passo importante que as pessoas dão quando gostam muito uma da outra. Mas você já gosta muito dela, pai. E eu também gosto, respondeu Pedro com a lógica simples das crianças. E nossa casa é grande demais para só nós dois. Rebeca engoliu em seco, tentando controlar a emoção. Era verdade que o relacionamento deles estava se aprofundando cada vez mais. Nos últimos meses haviam enfrentado juntos os olhares maldosos, os preconceitos velados,
as portas que se fechavam discretamente, mas também haviam construído uma cplicidade, um amor que crescia a cada desafio superado. Naquela noite, depois que Pedro foi dormir, Gabriel trouxe o assunto novamente à tona. Ele tem razão, sabia? Disse enquanto compartilhavam uma taça de vinho na varanda da cobertura. Esta casa é grande demais para nós dois. E por mais que eu ame seu apartamento e dona Célia, acho que todos merecem mais espaço. Rebeca o encarou, sentindo o coração acelerar. O que está sugerindo exatamente? Gabriel colocou a taça na mesa e tomou as mãos dela entre as suas.
Estou sugerindo que encontremos um novo lar, um lugar que não seja meu nem seu. Um lugar nosso, onde possamos construir uma família. você, eu, Pedro e dona Célia, se ela quiser, um lugar onde nenhum de nós seja um visitante ou convidado. Rebeca sentiu os olhos encherem de lágrimas. Era exatamente isso. A sensibilidade de entender que ela não queria simplesmente mudar-se para a mansão dele como um troféu ou uma intrusa, mas construir algo novo juntos em igualdade. "Você sempre me surpreende, Gabriel Almeida", sussurrou ela emocionada. "É isso um sim? perguntou ele, seus olhos brilhando com esperança.
"É um sim", respondeu ela, inclinando-se para beijá-lo. Três meses depois, estavam todos instalados em uma casa espaçosa e acolhedora no Alto de Pinheiros, não tão ostentosa quanto a cobertura de Gabriel, mas infinitamente mais confortável que o pequeno apartamento de Rebeca. Dona Célia tinha seu próprio quarto e banheiro com privacidade e conforto, mas estava sempre presente nas refeições familiares, encantando Pedro com histórias do Nordeste e suas receitas tradicionais. Na Gatec, Rebeca continuava brilhando. Seu departamento de projetos sociais tornara-se um modelo para outras empresas e sua liderança serena, mas firme, ganhava cada vez mais respeito. Os comentários
maldosos não haviam desaparecido completamente, mas diminuíram significativamente quando ficou claro que o relacionamento deles era sério e duradouro. Foi em uma noite comum, durante um jantar em família que Gabriel surpreendeu a todos. Tenho um anúncio a fazer", disse ele, levantando-se. "Na verdade, tenho uma pergunta muito importante." Pedro olhava para o pai com curiosidade, enquanto dona Célia sorria discretamente, como se já soubesse o que estava por vir. Gabriel ajoelhou-se ao lado da cadeira de Rebeca, tirando uma pequena caixa de veludo do bolso. "Rebeca Silva, você mudou minha vida de maneiras que eu jamais imaginei possíveis." Trouxe
luz para onde havia escuridão, esperança onde havia desistência, amor, onde havia apenas mágoa. Rebeca sentiu as lágrimas começarem a cair livremente. Você me ensinou a ver além das aparências, a reconhecer o valor real das pessoas e das coisas. Ele abriu a caixinha, revelando um anel discreto, mas elegante. Não uma joia ostentosa, mas uma peça que refletia perfeitamente a personalidade de Rebeca. Por isso, na frente das duas pessoas que mais amamos no mundo, quero perguntar: "Rebeca Silva, você me daria a honra de se tornar minha esposa?" Diz sim, Rebeca! Exclamou Pedro, batendo palmas entusiasticamente. Por favor,
por favor, por favor. Dona Célia ria através das lágrimas, enquanto Rebeca, sem palavras, apenas balançava a cabeça afirmativamente antes de puxar Gabriel para um beijo apaixonado. "Isso é um sim", perguntou ele, sorrindo contra seus lábios. É o sim mais certo que já dei na minha vida", respondeu ela. O casamento aconteceu seis meses depois, em uma cerimônia íntima no jardim da casa deles. Não foi um evento ostentoso, como muitos esperariam, do poderoso Gabriel Almeida, mas uma celebração autêntica de amor, com a presença apenas das pessoas verdadeiramente importantes em suas vidas. Pedro, orgulhosamente carregou as alianças. Dona
Célia, radiante em um vestido azul turquesa, conduziu a filha pelo corredor improvisado entre as cadeiras. Fernanda, que se tornara uma grande amiga, foi madrinha. Até mesmo André compareceu, agora um amigo genuíno do casal, acompanhado de sua nova namorada. Nunca imaginei que estaria aqui", disse Rebeca em seus votos, sua voz embargada pela emoção. "Uma menina da periferia que sonhava apenas em ter o suficiente para não passar necessidade. Você não apenas realizou este sonho, Gabriel, mas me mostrou que eu podia sonhar muito mais alto, que podia fazer a diferença, que merecia ser amada, não apesar da minha
origem, mas com todo o pacote de experiências e valores que ela me deu. Gabriel, normalmente tão controlado, não conseguiu conter as lágrimas. Quando nos conhecemos, você me resgatou da amargura, da desconfiança, da solidão. Me deu uma nova chance de acreditar no amor, na família, na vida. Hoje prometo passar cada dia retribuindo essa dádiva, sendo o homem que você merece ter ao seu lado. Um ano após o casamento, veio a notícia que completaria a felicidade da família. Rebeca estava grávida. A alegria de Pedro, com a notícia de que seria um irmão mais velho, só foi superada
pela emoção de Gabriel e dona Célia. É uma menina, anunciou o médico durante o ultrassom. E parece perfeitamente saudável. Uma menina, sussurrou Gabriel, apertando a mão de Rebeca enquanto olhavam para a pequena imagem na tela. Nossa filha. Que nome daremos a ela? Perguntou Rebeca emocionada. Gabriel pensou por um momento: "Que tal Clarice?" Como Clarice Lpector, sua escritora favorita. Rebeca sorriu tocada pela sensibilidade. Clarice Célia Almeida Silva é perfeito. Quando Clarice nasceu, numa tarde ensolarada de primavera, a família estava completa. Tinha os olhos expressivos da mãe e o sorriso cativante do pai. Pedro tornou-se o irmão
mais protetor e orgulhoso do mundo, sempre pronto para contar a todos que sua irmãzinha era a bebê mais inteligente do universo. Do anos depois, em uma tarde tranquila de domingo, a família descansava no jardim de casa. Pedro, agora com 11 anos, ensinava a Clarice a dar os primeiros passos, segurando suas mãozinhas com cuidado. Dona Célia, sentada à sombra de uma árvore, observava a cena com um sorriso sereno. Gabriel se aproximou de Rebeca, que estava tirando fotos do momento. "Você está feliz?", perguntou ele, abraçando-a por trás. Rebeca apoiou-se em seu peito, sentindo a segurança e o
amor que haviam construído juntos. Mais do que jamais imaginei possível", respondeu ela sinceramente. "Sabe o que estou pensando?", disse Gabriel, beijando suavemente seu pescoço. Que tudo começou com um mal entendido, com uma fachineira ajoelhada no chão e um milionário arrogante que a confundiu com outra coisa. Rebeca virou-se em seus braços, encarando-o com um sorriso. Às vezes, os maiores tesouros da vida estão escondidos nos lugares mais improváveis. O segredo é ter olhos para enxergar além das aparências e coração para amar além dos preconceitos completou ele. Enquanto seus lábios se encontravam em um beijo terno, Pedro gritou
animado: "Olhem, Clarissa está andando sozinha." A pequena dava passos hesitantes, mas determinados, um sorriso glorioso no rostinho redondo, os bracinhos estendidos na direção dos pais. Era a imagem perfeita do que haviam construído juntos. Uma ponte entre mundos, um amor que transcendia barreiras, uma família unida não pelo sangue ou classe social, mas pelo que realmente importa: respeito, compreensão e amor incondicional. E assim, em um lar cheio de risos e afeto, a história que começou com um mal entendido continuava a ser escrita, provando que os finais mais felizes nem sempre seguem o roteiro esperado, mas frequentemente superam
até os sonhos mais ambiciosos. Se essa história te emocionou, clique em gostei e se inscreva para mais vídeos como esse. O que você faria se estivesse no lugar de Rebeca? Aceitaria a proposta para trabalhar com alguém que te humilhou? Conte nos comentários e me conte de onde você está assistindo esse vídeo. Eu amo saber até onde nossas histórias chegam. Temos muitas outras histórias emocionantes esperando por você. Clique nos vídeos recomendados na tela e continue essa jornada com a gente. Muito obrigado por fazer parte dessa comunidade. Que Deus abençoe você e sua família. Até o próximo
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