Hoje estou com o Druzio Varella. Maravilhoso, dispensa apresentações, e como o cachê dele é super caro, quero aproveitar e vamos falar de várias coisas. A primeira delas é: doença sexualmente transmissível.
- Essa questão do cachê é brincadeira. - Hahaha, é verdade, eu tô brincando. - Ela comeu um sanduíche, que já são quase 4 horas da tarde, e nem me ofereceu um pedacinho.
- Ai, essa parte não é verdade. Essa parte não é verdade. Sempre foi usado esse termo, né?
Doenças sexualmente transmissíveis, porque é um termo bem claro, todo mundo entende do que se trata. Esse termo foi mudado agora para infecções sexualmente transmissíveis, ISTs. Por que infecções?
Porque, na verdade, você pode ter uma infecção sexualmente transmissível sem ter nenhuma doença aparente naquele momento. Então, esse termo quando você fala que está com uma doença sexualmente transmissível, uma DST, "eu não, não estou sentindo nada". - E o quê que é, imagina eu posso falar de sífilis, eu posso falar de gonorreia, posso falar de quê?
- De um monte delas. Infecção por clamídia, herpes. A herpes, você tem um herpes genital.
De repente, aparece aquelas bolhinhas nos genitais externos que depois de 5 dias, uma semana, regridem. Você continua a ter o vírus, você continua a ter a infecção, mas você não tem uma doença sexualmente transmissível. - Ahh, entendo o termo.
Entendi. - Aí você tem a sífilis primária. Sífilis primária, o que é?
Parece uma feridinha nos genitais. Primeiro, não aparece em todos os casos. - Mas a pessoa tem mesmo que não apareça?
- Mesmo que não apareça. Mesmo quando aparece a ferida, essa ferida regride. É uma pequena ulceração que regride depois de alguns dias e você continua com a infecção porque você não tratou, então o treponema, que é a bactéria, está lá, quieta, e ela vai mais tarde te dar uma infecção que é chamada sífilis secundária.
- Mas eu peguei sífilis numa relação sem camisinha? Ponto. Não tem aqui dúvida.
- Pegou numa relação sem camisinha. - Eu posso ter tido sexo anal, oral ou vaginal ou o que for. Qualquer contato passa.
- Qualquer um, passa. Na verdade o preservativo, se você tem uma lesão, ele protege os órgãos sexuais. - Porque ultimamente tem se falado muito de sífilis, sífilis era uma doença controladíssima, né?
E que de tempos pra cá aumentou, eu li 700% nos últimos tempos de sífilis, me ajuda, doutor. - A sífilis é provocada por uma bactéria que é o treponema pallidum esse treponema, o que faz? Quando você adquire faz uma ferida, uma pequena ulceração nos órgãos, na parte externa dos órgãos genitais.
Na mulher você pode ter essa ferida ainda mais internamente. E aí você não enxerga que a parte externa tá normal. - Porque também não dói.
- Aí o que acontece? Ela regride espontaneamente. Às vezes aparece um linfonodo, um gânglio, uma íngua que a gente chama de satélite aqui na região inguinal, que também desaparece espontaneamente.
Só que a bactéria fica. . .
- Isso não quer dizer que está curado? - Não. O contrário, ela fica o em outros pontos do organismo que você não vê.
Então, nessa fase que você tem a lesão, só a lesão inicial, é chamado de sífilis primária. Pode ter o linfonodo, o gânglio aqui, a íngua aumentada. Regride essas sífilis primária e vai se manifestar anos mais tarde.
- E eu nunca soube sequer que eu tenho. - Nem soube que tem. Se fizer o exame de sangue, você detecta.
- Certo. - E aí você vai ter a sífilis secundária. A sífilis secundária costuma dar lesões pelo corpo, lesões na pele, tipicamente na palma das mãos uma lesão avermelhada, a gente chama de um eritema na palma de mão, mas espalhada pelo corpo todo, na mucosa, na mucosa da boca especialmente.
E aí ela é transmissível até pelo beijo, porque nessas lesões você tem - Tem a bactéria? - Você tem o treponema. - Homem passa pra mulher, mulher passa pra homem, mulher passa pra mulher não tem sexo.
Não escolhe, "ah, é só de homens ou mulheres". - Não interessa. Não interessa.
Não interessa o tipo de penetração, também. Não vem ao caso. Muito bem, esta sífilis secundária também regride espontaneamente depois de alguns dias.
- As manchinhas desaparecem. - Somem. "Po, passou estou bem agora".
E aí ela vai se manifestar como sífilis terciária. A sífilis terciária atinge o sistema nervoso central, na maioria das vezes. - A bactéria subiu para a cabeça.
- Isto. E aí você vai ter um quadro com déficit motor, as pessoas começam a ter uma marcha típica. - Nesse momento ela sabe que tem sífilis?
- Muitas vezes, não. Se passa como uma doença neurológica. Agora, desde o momento em que ela teve a infecção, ela continua transmitindo a doença.
Às vezes as pessoas dizem "não, mas quando vai sair a cura da AIDS? Um remédio que cure a AIDS? O fato de surgir um remédio, não quer dizer que você vai fazer a AIDS desaparecer.
Olha o caso da sífilis. Sífilis tem tratamento. É a penicilina.
- Uma injeção e pronto. - O antibiótico dos anos 30 do século passado, né? É a penicilina.
E aí você dá aí um número de injeções de penicilina, que não custa nada, é baratíssimo e cura. A sífilis, completamente. - Cura a sífilis, ou seja, não precisa chegar a ter danos neurológicos.
- Nada. Muito antes. Apareceu a lesão, se é feito o diagnóstico, você toma duas ou três injeções de penicilina, acabou.
Tá resolvido o problema. E tá aí a sífilis até hoje e aumentando a prevalência, aumentando a transmissão. - E você diz por que?
Me conta, doutor. - Porque as pessoas não levam a sério essas coisas, sabe? O comportamento sexual é muito complicado.
Hoje nós temos muito mais liberdade sexual do que existia há 20, 30, 40 anos atrás. E se você não não toma proteção, não usa métodos de proteção, você corre muito mais risco do que corria no passado. - E a gente tá falando só de camisinha.
- A grande discussão na AIDS hoje é essa. Camisinha foi uma coisa importantíssima, não é? Porque realmente protege.
O sexo com penetração, com camisinha, protege. Você não pega o vírus. Muito bem, a gente já contava com a camisinha no passado, só que a gente sabe que a camisinha ajuda mas não resolve o problema.
Porque as pessoas não usam. - Ah, é porque as pessoas não usam. - As pessoas não usam.
- É porque, de repente, na hora, tá lá no momento, não deu tempo. - É, é sempre assim. E pega onde mais?
Pega mais os mais jovens, não é? - Pois é. Porque não programa, inconsequente, aconteceu.
- É, e você também, nessa idade. Todos nós tivemos essa idade, você é inconsequente, você acha que com você não vai acontecer. Se você quer ter liberdade sexual, você tem que ter responsabilidade com você e com os outros.
Você tem que se proteger. Você tem uma relação monogâmica com outra pessoa que é monogâmica, também, não tem problema, vale tudo. Agora, se você quer, sai com uma pessoa e não - Não sei o histórico do cara é melhor nem arriscar.
- Lógico. E o que acontece muitas vezes muitas vezes as pessoas até usam na primeira, segunda relação, aí depois não - Eu não sei o que aconteceu antes. - fica conhecendo, especialmente as mulheres que se apaixonam com maior facilidade.
- Ah, homens também se apaixonam. - Não. Igual às mulheres, não.
Vocês saem duas, três vezes, com um homem e já está apaixonadas, sonhando. Nós sempre recomendamos o uso da camisinha, é a única arma que a gente tinha. Hoje temos outras armas.
Hoje você tem a chamada terapia pré-exposição, que é indicada em que situação? você toma um comprimidinho de um remédio, diariamente, e é especialmente indicada quando você tem casais discordantes. O que significa?
Seu marido é HIV positivo, você não. Ou vice-versa, então o que é negativo toma um comprimido por dia de uma droga chamada truvada. E o truvada, na verdade, é uma combinação de dois antivirais - Meio que protege?
- Meio que protege, não. Protege completamente. - Aí nesse caso não preciso nem da camisinha?
- Não precisa. Aí não precisa, e você tem a chamada - No caso da AIDS? - No caso da AIDS, só da AIDS.
E você tem a chamada terapia pós-infecção. Pós-exposição, desculpe. - No caso do enfermeiro que se picou, por exemplo - Ou no caso de você, um moça solteira, saiu, foi para uma balada e ficou com uma pessoa.
- E aí você não tomou nenhum cuidado, tinha bebido. - E você não sabe se a pessoa tinha. - Não sabe, não conhece, não sabe nada daquela pessoa.
E aí você vai ficar grilada com essa única relação que foi mantida desse jeito. Vá à unidade básica de saúde e pega a medicação que é chamada terapia pós -exposição. E essa você vai tomar durante 30 dias.
- E é gratuito? - É gratuito. Tudo, mesmo a pré-exposição, ou pós, tudo gratuito.
Você vai, toma 30 dias o risco cai pra zero. - Imagina, eu encontrei um cara, não sabia de nada dele, meu Deus, não conheço nunca vi depois e quero saber se eu peguei alguma doença. - Por exemplo, vamos pegar uma situação mais dramática do que essa.
O estupro. Né? Infelizmente o número de mulheres estupradas no Brasil é inacreditavelmente alto.
Você foi estuprada por uma pessoa que não merece a menor confiança. - Exato. - Você procura o serviço de saúde e ali eles têm um protocolo.
Quais são todas as drogas que você deve tomar pra prevenir o aparecimento de qualquer doença? - De qualquer uma? Desde sífilis à HPV, AIDS.
. . - Qualquer uma.
Sífilis, clamídia de todas as doenças. Você faz esse tratamento. .
. - E discretamente, - Aquilo é discreto. Isso é legal porque isso é uma coisa que as pessoas têm muita negação, "alguém vai descobrir, alguém vai saber".
"Eu tenho dúvida, mas não devo ter. " É isso. É seguro e é privado.
- Olha, nessa questão da privacidade, agora nós começamos a ter o teste pra AIDS em farmácia. - Ahhh. .
. - Você vai na farmácia, compra, e faz um teste geral, um teste com saliva ou pode ser um teste com uma picadinha no dedo. Vendido em farmácia.
Que é uma briga grande nossa, há muitos anos que a gente vem dizendo isso e o pessoal dizia não. . .
- Parabéns, então. É uma briga ganha. - É, não por mim, mas pelos epidemiologistas, - Também, também.
- pelo pessoal que trabalha com AIDS Mas se você faz o teste de gravidez na farmácia, por que você não pode fazer o teste pra AIDS? - Quanto tempo depois, no caso da AIDS, em quanto tempo depois deu de ter um comportamento de risco, uma uma relação sem camisinha é que eu posso fazer o teste para saber porque tem uma janela que eu não consigo perceber. .
. - Em média, se diz duas ou três semanas. - Semanas.
- É, em média. Alguns testes muito mais sensíveis com 10 dias já estão positivos. - E custa caro esses testes de farmácia?
Não sei, não sei te dizer mas não são testes caros, não. - Não são inacessíveis? - Não não, não são.
- E prevenção? Imagina, eu sei que camisinha previne, mas tem alguma doença sexualmente transmissível que eu posso tomar vacina? - Tem o HPV.
É o papiloma vírus. O papiloma vírus é o vírus que provoca o aparecimento de pequenas verrugas genitais. No pênis, na vagina na região perianal também quando se tem relações anais.
A maioria desses vírus papiloma, porque o vírus do papiloma tem uma série enorme de sub-tipos, a maioria deles provoca lesões benignas que são essas. Mas tem aí, uns 3 tipos, pelo menos, que provocam lesões que são precursoras do câncer de colo do útero ou câncer de pênis. De pênis.
Muito bem, esses são protegidos pela vacina. A vacina protege mais de 90% dos casos, o problema da vacina é que você tem que administrar 3 doses. Geral faz a primeira dose, depois faz outra um mês depois, depois faz outra com seis meses, parece.
Bom, já cria um problema porque as pessoas tomam a primeira, não tomam a segunda. - Exato. e aí não fica protegido.
- Sempre uns idiotas criminosos que soltam pela internet que a vacina dá isso, que a vacina dá aquela complicação. Teve um caso em São Paulo numa escola que eles vacinaram as meninas e uma menina diz que ficou tonta. Milhões de unidades de vacina, porque uma menina disse que ficou tonta naquela hora, e outras também ali acharam que também ficaram tontas.
- E é isso, quando começa o zum zum zum vai surgindo outras coisas, né? - Ah, pronto. .
. -Muito obrigada, Druzio. É tão bom poder conversar com alguém que conhece a informação e tão tranquilizante.
Foi um momento muito esclarecedor e tranquilizante, mesmo, muito obrigada. E você pode se sentir tão abençoado tranquilizado e informado que nem eu, porque esse privilégio de falar com o Dr Druzio é teu também, por isso obrigada por estar aí. Se você acha que é importante passar essa informação pra frente, não esquece de dar uma compartilhada com todo mundo que você conhece, e claro, né?
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