Cap 1.8 - Ensinar Exige Reflexão Crítica Sobre a Prática - Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire

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Prof. André Azevedo da Fonseca
Na pedagogia da autonomia, o ensino e a aprendizagem envolvem o movimento dinâmico e dialético entre...
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O professor democrático sabe que a reflexão crítica é o ponto de partida para a prática docente. E ele sabe também que a reflexão crítica, por si só, não é suficiente. Na pedagogia da autonomia, o ensino e a aprendizagem exigem o movimento dinâmico e dialético entre o fazer e o pensar sobre o próprio fazer.
Aqueles saberes que as professoras e os professores vão aprendendo na sua própria prática docente são saberes importantes e que demonstram a sua experiência. Agora, na perspectiva freireana, esses saberes são considerados ingênuos porque ainda não se superaram e ainda não alcançaram a rigorosidade metódica que caracteriza o ensino crítico. Os saberes da experiência são fundamentais, mas não suficientes.
Agora é muito importante que em sua própria formação docente, o aprendiz a educador perceba que o ato de pensar certo não pode ser simplesmente copiado dos guias de pedagogia, mas pelo contrário, a superação da ingenuidade tem que ser produzida pelo próprio aprendiz, fundamentado pelos estudos e em comunhão com o professor formador. É necessário que, através da reflexão sobre a prática, a curiosidade ingênua, voltando-se sobre si mesma, perceba-se como tal e vá se tornando crítica. Ou seja, o primeiríssimo passo para superar a ingenuidade e conquistar a criticidade é a autocrítica.
E é por isso que a arrogância não produz sujeitos críticos. Mas ingênuos, porque incapazes de se superar. O arrogante, ao se achar pronto, ao se imaginar o portador indiscutível da verdade e ao estar convicto de que aquela fração de conhecimento que ele já sabe já está bom e já é suficiente, ele perde a consciência do sentido de sua prática e tende a reproduzir os erros que não admite, imaginando que são acertos.
Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática.
E o distanciamento intelectual, necessário à análise crítica, deve na verdade aproximar a análise do objeto. Os professores bem-sucedidos nesse exercício de parar e analisar a própria atuação, distanciando-se para se compreender melhor, abstraindo a prática e transformando-a em conceitos para depois retornar às atividades, modificado pela reflexão, conquistam grande inteligência pedagógica. E ao mesmo tempo, quanto mais o professor assume esse exercício dinâmico de reflexão crítica sobre a sua própria prática, melhor ele percebe as razões que o levam a se comportar de determinada maneira, e mais ele se torna capaz de ser o sujeito da própria mudança.
Agora, o fato de ter consciência da sua própria situação não transforma a situação. A reflexão sobre a prática só é verdadeiramente consumada quando há decisão objetiva de ruptura e novos compromissos. É na prática que a reflexão crítica se concretiza de verdade.
Paulo Freire argumenta que o direito de as pessoas se sentirem indignadas e de protestarem contra as violências, as deslealdades e as injustiças tem um papel altamente formador. Agora, o que não deve ocorrer com essa legítima raiva contra todas as formas de opressão é que as pessoas se percam no ódio. No próximo vídeo a gente vai ver que ensinar exige o reconhecimento às identidades culturais e ao direito de todas e todos se assumirem como sujeitos.
No amor e na indignação.
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