C [Música] [Aplausos] [Música] em 1929 Freud propôs ao mundo uma grande reflexão com o seu texto mau-estar na civilização onde elencou situações de impace que levam o ser humano a sofrer o declínio natural do corpo as imperfeições das nossas leis e as exigências internas de satisfação há mais de 100 anos a questão do sofo gerou o nascimento da psicanálise hoje ela nos ajuda a compreender o malestar presente na nossa sociedade contemporânea depressão ansiedade compulsões e tantos sintomas individuais somados a insegurança intolerância isolamento e tantos outros sintomas sociais de nossos dias o que tudo isso revela
sobre a nossa for de viver sintoma como eles podem indicar caminhos para transformação tanto pessoal quanto social Esse é o tema desta série do Café Filosófico gostaria que fosse uma conversa sobre o Brasil né ou uma psicopatologia do Brasil entre muros para discutir e apresentar essas três noções né noção de malestar noção de sofrimento e de sintoma a nossa vida tá cada vez mais atravessada por diagnósticos né diagnósticos na escola diagnósticos na justiça diagnósticos nas empresas né a gente tá continuamente sendo diagnosticado sendo exposto a avaliações Então a nossa proposta eh que talvez a gente
devesse ampliar um pouco o conceito de Diagnóstico para deixar de se Focar apenas nos sintomas né naquilo que eh vai mal naquilo que deve ser curado mas incluí também na no no nosso raciocínio diagnóstico o sofrimento e o mau-estar Né o sofrimento como uma categoria social né foram os sociólogos que primeiro pensaram sobre esse sobre esse tema né e o mal-estar como uma categoria existencial uma categoria filosófica né mal-estar diz respeito à nossa condição no mundo o Brasil vai ao Divan o que seu sofrimento e mal-estar podem nos revelar sobre ele nosso país já foi
analisado por sociólogos historiadores e escritores que pensaram sobre quem somos e traçaram algumas características de nossa brasilidade em 1881 Machado de Assis ousou pensar o Brasil entre muros do conto o Alan ista nele o médico Simão Bacamarte queria purificar o espaço público internando os loucos da pequena Vila de Itaguaí e disse o doutor Suponho o espírito humano uma vasta concha o meu fim é ver se posso extrair a pérola que é a razão por outros termos demarquem definitivamente os limites da razão e da loucura a razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades fora
daí insânia insânia e só insânia ele Então segue classificando as pessoas com diversas psicopatologias como amor às pedras aqueles que têm apego excessivo à suas casas demência dos touros os que só desejam Vingança Mania suntuárias obse por andar na moda e assim O Alienista tranca e isola a população e se vê Sozinho Do lado de fora surge então a questão Quem são os loucos Afinal talvez fosse melhor libertar todos e ele se fechar sozinho no ailo a obra O Alienista é uma alegoria de uma diagnóstica social sobre uma mania que temos a tentativa de exclusão
do outro daquele que é diferente o que o machado tá fazendo é uma espécie de diagnóstica social né e ele está ironizando a nossa mania de localizar um problema assim no outro e Exu este outro temos aí um exemplo de como ele já começa como um pensamento de de interpretar a nossa loucura né o segundo capítulo que a gente pode adicionar nessa história diz respeito à própria presença o chegada da psicanálise no Brasil né Por que que a psicanálise assim no Brasil ela floresce como um mato né psicanalistas por toda parte né Falando nos cafés
escrevendo nos jornais ocorre que no Brasil a psicanálise chega justamente nesse momento em que durante os anos 30 Os anos 20 e o Brasil começa a pensar-se Aim mesmo é porque naquela época anos 20 né anos em que começam Então as vanguardas modernistas Ah graav no país ideias como eh seria o Brasil um país viável né ão pessoas que dizer assim o Brasil não vai dar certo 1920 hein e não vai dar certo mesmo né E só pode dar certo Nina Rodriguez né a psiquiatria mais mais positivista só pode dar certo se a gente se
tornar um país Branco Já pensaram nisso a gente defendendo publicamente essa ideia O Brasil precisa se branquear na medida que ele vai se misturando que que acontece existia uma psiquiatria na época que dizia isso e El vai se Pat né o cruzamento entre as raças é algo não só moralmente suspeito mas medicamente indesejável né bom o que que é isso isso tá baseado numa antropologia eh que a gente chama de particularista né então há uma raça uma determinada subjetividade a outra raça tem uma outra subjetividade então a gente não pode misturar porque daí vamos dizer
assim dá problema né contra Então esse discurso a psicanálise é bem recebida né na Pena de Mário de Andrade na Pena de osval de Andrade porque eles vão dizer não é nada disso né o sujeito é universal né Eh justamente é na mistura é na antropofagia é na nossa arte de devorar outras culturas que a gente se torna brasileiro isso não apenas não é patológico Mas isso é o nosso traço vamos dizer assim eh de brasilidade né De onde veio essa ideia né de onde eh o osvald de Andrade tirou essa ideia isso é textual
lá no Manifesto antropofágico isso vem do Freud né vem de um livro do Freud chamado totten e Tabu que o Oswald Leon e disse Puxa mas então Eh existe uma única assim antropologia para todos todos os povos para todas as culturas para todos os seres humanos né vamos deixar de lado né essa hipótese né das eh subjetividades divididas bom é justamente nesse momento né que aporta por aqui essa ideia assim muito nova né chamada psicanálise né então ela vai est presente no Gilberto freine tem toda uma teoria da sexualidade nesse autor ela vai est presente
no eh Sérgio Buarque de Holanda né na ideia do homem cordial isso passou pela psicanálise ela vai est presente na formação da nossa psiquiat né dos nossos asilos dos nossos hospitais psiquiátricos né E ela vai estar presente eh como um fator no debate de ideias a partir então dos anos 40 dos anos 50 a discussão sobre o diagnóstico do Brasil né já encava a psicanálise e ela começou a se concentrar em torno de um conceito que é um conceito meio lateral para psicanálise que é o conceito de caráter né então a gente tem uma uma
série de trabalhos né explorando o que que seria o caráter Nacional Brasileiro né Dante Moreira Leite um trabalho clássico em psicologia né caráter gente é eh é uma noção que a gente pode associar com a história dos nossos conflitos né como é que se forma o nosso caráter né o nosso caráter tem menos que ver com os com os valores e ele tem mais que ver com os os as batalhas que a gente enfrentou né o caráter são assim as nossas cicatrizes chegando aos anos 60 vai haver um deslocamento do nosso diagnóstico né quer dizer
Nós deixamos para trás essa discussão sobre sobre mistura ou não mistura nós Assumimos isso como parte da nossa identidade né é o momento então que que o Nelson Rodriguez Vai dizer que nós sofremos de complexo de vira lata né que que é o viralata o viralata é uma mistura é o é o créo né é o momento em que alguns sociólogos vão falar em democracia racial bom nesse momento então muda-se o diagnóstico Nós não estamos mais sofrendo eh em função do nosso caráter melhor ou pior mas nós estamos sofrendo em função do nosso atraso é
época então que nasce um grande discurso né um discurso econômico um discurso moral de que o Brasil de novo né ele só vai ser viável se ele se desenvolver na mesma época Vejam Só que curioso começa a se implantar no Brasil Aí sim uma psicanálise mais organizada mais institucionalizada e os principais teorias né eh não só na psicanálise mas também na psicologia as principais teorias vão enfatizar o quê o desenvolvimento né é o momento então que a gente começa a estudar maciçamente as crianças né porque elas aprendem porque que não aprendem surgem os t uma
série de práticas em torno do quê do desenvolvimento de pessoas tem uma espécie de Eh vamos dizer assim homologia entre essa essa grande ideia do desenvolvimento econômico e a pequena ideia a ideia correlata do desenvolvimento individual né bom isso prossegue né esse diagnóstico ele ele vigora até o um momento em que ele passa por uma espécie de mutação né que poderia ser esse momento de iato na nossa história né que é chamado o golpe o golpe militar de 64 e que eh Se a gente fosse considerar então o Brasil como como um sujeito né o
Brasil como um paciente a gente diria aqui a gente tem um pedaço mal digerido da nossa história né outros países passaram por momentos análogos né na América Latina na África mas todos eles logo depois desse interstício fizeram uma espécie de ajuste de contas e muito tempo né em que nós deixamos esse ato né na nossa história eh desativados né bom ã isso forma sintomas né a gente sabe que eh uma uma época que não é propriamente elaborada cujos conflitos não são postos cuja história não é propriamente feita cujos eh cuja violência não ah não foi
propriamente pesada isso pode ter tido um fim linear né quer dizer acabou assim num enquanto regime de estado mas isso deixa marcas [Música] a história recente do Brasil traz marcas profundas e ainda não digeridas dos tempos da ditadura militar um período em que a repressão não permitia a livre expressão mas chegava a nós a influência da grande efervescência cultural francesa de um lado e o avanço do neoliberalismo econômico norte-americano de outro um contexto mundial de fortes mudanças em um ambiente Nacional de opressão a elas em 1965 ã a França as vésperas da da de maio
de 68 né Eh passa por um momento de grande efervescência cultural surge um uma nova onda no cinema chamada no Vel vag né um dos seus grandes representantes e jean-luc godar né que em 1965 traz um filme né Faz um filme eh que dá um pouco assim de continuidade ao 1984 do George orwell né um tipo de filme que é ao mesmo tempo diagnóstica social né esse filme chamava-se justamente Alfaville né Alfaville é a história de um mundo futuro né um mundo perfeito né onde eh as pessoas viviam então de forma planejada né numa espécie
de de lugar assim protegido entre Muros e tudo era muito bem calculado né mas havia algumas regras né entre essas regras eh a proibição de mencionar usar aludir qualquer palavra que referisse a sentimentos afetos ou emoções não só a moral do filme né quer dizer o preço que a gente tem a pagar para que as coisas funcionem é de alguma maneira uma desumanização é uma precisamos excluir alguma coisa como o Simão bacar Mart excluía o amor das Pedras ou jeanl godar dizia precisamos pôr de fora os afetos ninguém pode mencionar emoções não se pode viver
sentimentos Então vem um aparece um tetive né que vai tentar enfrentar esse monstro e o e o chefe né o gerente geral dessa dessa pequena cidade e é um filme então que a gente chama um filme sobre distopia né sobre um futuro que não é legal né um futuro que realiza uma série de coisas que a gente gostaria de ver realizados mas que é ao mesmo tempo uma espécie de inferno e no Brasil né Nós estamos aí em pleno iato né em pleno momento de silenciamento né de privação de liberdade né que é o momento
do golpe militar e surge um novo sonho de consumo né surge uma uma nova plataforma que que deveria começa a ocupar a fantasia dos brasileiros né um sonho que ao mesmo tempo então Eh seria a realização acabada de um caráter bem feito né né um sonho que seria a realização de um projeto de desenvolvimento de crescimento né de realização social e de civilidade e nesse contexto então surgem os primeiros condomínios brasileiros Ilha do Sul um condomínio vertical e aquele que se tornou vamos dizer assim o modelo exportado né numa área que tinha sido Originalmente reservada
para para os indígenas vamos montar aqui que o lugar do nosso sonho futuro que nome Alfaville Alfaville gente nada podia ser mais brasileiro do que isso né estão todas as patologias que o Machado de Assis descreveu estão aí condensadas né no momento em que a gente tá eh indo para uma transformação vamos dizer assim Econômica muito significativa que na verdade a gente pode dizer assim Olha ainda estamos vivendo as as consequências dessa transformação na economia né que é a aparição na verdade a aplicação das chamadas ideias neoliberais o neoliberalismo tem como como vamos dizer assim
um mote Geral de que nada fica de fora vamos dizer assim da economia né então aquelas áreas abrigadas educação a saúde a cultura assistência social que eram até então obrigações do estado que funcionavam segundo leis mais ou menos assim abrigadas e próprias isso tudo tá suspenso né ou seja só existe uma mesma lei uma mesma regra e ela vale para todas as áreas da nossa existência em 1973 74 inicia-se uma grande reformulação no que a gente pode chamar de assim código das doenças mentais spitzer né Faz uma série de críticas ao ao à forma como
tava organizado esse manual e assume para si a ideia de que ele precisa ser completamente reformulados né E nós precisamos acabar com essas categorias assim psicanalíticas como uma histeria como a neurose obsessiva eh como a fobia nós precisamos acabar com essa ideia de que e existem formas de sofrer que unificam todos os SAS né que são as estruturas né então todas os sintomas que uma pessoa é capaz de produzir segundo a psicanálise estariam remetidos a uma forma genérica né uma forma básica dela lidar com conflitos né isso faz com que os nossos sintomas né que
são diferentes que mudam ao longo do tempo que que se transformam alguns fazem a gente sofrer mais outros fazem a gente sofrer menos o spitzer e iniciou uma uma certa política eh de suspensão dessa ideia de que os sintomas eles têm uma relação todos eles entre si né Por eu dizer porque a gente vai tratar um por um então separa a depressão separa o pânico separa a anorexia separa a sua personalidade separa ah suas inibições e cada uma dessas sintomas vai formar um vamos dizer assim uma um novo transtorno né um novo uma nova disorder
né fora da ordem e daí a gente trata melhor né Isso é uma mudança de princípio né que foi depois reaplicada no dsm e 4 no dsm5 que é o nome desse manual das patologias mentais surge aí uma política que só reconhece o sofrimento ele é individualizado exatamente como o neoliberalismo propõe né você vai segmentando as unidades de valor e segmentando a experiência de Sofrimento Então você se mata de trabalhar você dá tudo pela empresa e etc e daí você cria uma forma de vida completamente louca e daí você fica doente mas a não tem
que ver com B né Por quê Porque B só acontece quando tem individualização e o trabalho é uma coisa coletiva tem que ver ver como como você tá com os outros como você troca palavras como você divide e negocia conflito tem que ver com relações né ou o o problema dos sintomas hiper individualizados é que eles vendem pra gente uma narrativa de que o seu sofrimento só diz respeito a você e ele não desz respeito as suas relações com os outros e combina com a ideia de que a depressão Hoje é a segunda maior causa
de afastamento no trabalho não se sabe o que fazer e vai ser a primeira em 15 anos e o terceiro maior investimento em saúde e depressão um dos Pioneiros da psicopatologia no trabalho que chama Christopher de jures e Ele estudou tava lá nos anos 80 né Ele estudou o drama das telefonistas francesas né Elas estavam numa situação em que você não pode não quero atender você eh Não pode xingar o cara não pode sair do lugar elas estavam criadas de demandas né os telefones chegando e elas tinha uma coisa para para fazer né Qual é
a solução que elas encontravam para esse sofrimento a única chance que elas têm diante dessa tarefa impossível é trabalhar mais e mais rápido porque assim termina o dia porque assim elas não pensam em nada assim elas se anestesi que que ele tava descrevendo que o sofrimento é uma área que o capitalismo não tinha descoberto ainda você pode usar o sofrimento para fazer as pessoas produzirem mais faça elas sofrerem se você criar um ambiente de Sofrimento controlado elas produzem mais se você passar da conta elas produzem menos se você usar isso muito tempo tem que trocar
jogar fora bagaço põe outra no lugar mas durante aquele tempo e essa é a sacanagem não posso falar isso isso é a dificuldade que a gente encontra hoje em dia no mundo no trabalho porque o sofrio virou parte do capital né Fazer o diagnóstico a partir de Então passou a ser eh detectar né fragmentos eh de sintomas e cada qual então desligado daquilo que une todos eles e o que que une todos eles né a gente pode dizer assim ah é é o fato de que eles têm um fio condutor que é o sofrimento né
no fundo sou eu que tô sofrendo de um jeito sofrendo de outro sofrendo do outro ou fazendo os outros sofrerem né há uma há um fio condutor de fato Então o que a gente tá encontrando aqui é uma recorrência né de rupturas né uma recorrência de isolamentos né um isolamento na psicopatologia uma um isolamento né na figuração que a cultura faz do seu futuro e um isolamento na caso o Brasil na forma de viver na forma de habitar na forma de estar no no mundo né lembra o mal-estar o diz o Freud né começa o
texto dele de 29 dizendo isso olha existe o mal-estar porque nós estamos todos juntos amarrados ligados uns com os outros né nesta condição que é condição de viventes né e eh não conseguimos cair do mundo né interessante di claro que conseguir a gente morre pode morrer mas seu nome vai ficar seu túmulo vai estar lá sua história vai passar diante você está fazendo parte deste deste estar né no mundo né a gente erda a gente recebe o mundo já organizado ou desorganizado se vocês quiserem por um lado você entrou numa história que você não pediu
por outro você vai legar coisas para a gente que vai vir né quer dizer nós estamos numa condição de transitoriedade né Nós temos um pacto com quem veio antes e outro pacto com quem virá depois e por outro lado a gente vai ter que resolver o outro pacto que é eh com o nosso desejo né que é que que futuro queremos né queremos o Alfaville né que que que futuro que a gente quer para nós nessa bolha temporal que a gente habita né mas também para aqueles que vão nos sobreviver né bom o fr começa
então com esse tipo de reflexão e eles é a situação gente não é não é boa não não é legal né porque eh primeiro a gente o corpo envelhece e tem um fim a vida é repleta de contingências é um acasso né uma vida ela comporta encontros né Vejam Só o exato contrário do planejamento lá do Von Brown ou diretor do do Alf Vill e do godar encontros inesperados é o que há de melhor e é o que há de pior na vida né e o terceiro ponto diz o Freud que é a origem do
nosso mal-estar né Eh é que a gente cria cria leis a gente cria contratos a gente faz combinados a gente inventa instituições a gente faz faz a cultura né para tentar resolver esses três problemas né o pacto com quem veio antes esse período que a gente tá aqui e o que virá né a gente inventa né o as leis a gente inventa formas de vida e o que diz o Freud essas coisas que a gente inventa E que nos ajudam a remediar o mau-estar criam um mau-estar pior ainda né dizer vamos inventar então uma forma
de vida que é a cidade muito melhor que o campo não é muito melhor que ficar na inchada e tal melhor para caramba Vai lá em São Paulo ver um congestionamento que essas caras inventaram não é melhor né ou enfim Nós criamos Essa ilusão de que então com essa vida com esse futuro planejado com essas leis a gente vai resolver esse [Música] impasse décadas de 1960 e 70 conturbadas e de grandes mudanças no Brasil e no mundo deixaram em nós marcas de rupturas de isolamentos de segmentação marcas essas que se refletem na cultura na economia
na nossa forma de viver de se relacionar e até mesmo de morar passamos a viver entre muros mas esse isolamento nos traz de fato segurança ou os muros nos trazem uma ilusão de liberdade Vejam Só nós estamos aí em plena convulsão social em momento de de de discussão com a o que que são as leis do país de aguçamento da contradição social né e vem essa ideia de no fundo e se a gente recomeçasse né Eh o golpe tem que ver com isso né com Recomeçar começar de novo né E se a gente recomeçasse mas
só que Vamos recomeçar em outros termos em outras bases né Então em vez de fazer um país para todo mundo a gente vai começar reconhecendo que não vai dar para todo mundo ser feliz então Vamos separar um grupo né Vamos separar um lugar vamos dizer assim eh a parte onde então aí sim a felicidade pode ser produzida como que num laboratório né de forma artificial de forma controlada por isso então o primeiro passo é é é é esse ideal né Essa eh tem que ter saída né tem que ter um lugar de descanso a cultura
é isso né tem que ter um lugar em que a gente toma fôlego um lugar em que a gente simplesmente está não está produzindo está ocupado está fazendo o que a gente chamaria assim de negação do malestar não é o bem-estar Essa é hipótese neoliberal né A negação do malestar é simplesmente estar então o sofrimento ele tem que ver com essa sentimento de que eu eu não pertenço ao lugar onde eu estou eu tô fora de lugar por isso eu preciso recuperá-lo né preciso inventar uma Utopia né ou um condomínio só que um condomínio é
uma coisa um pouquinho diferente porque o condomínio não é só um ideal né um condomínio é uma realização do ideal e real ações de Ideal São extremamente problemáticas né Eh a gente imagina assim que ah eu tenho perfeito para mim assim as minhas metas os meus planos meus objetivos e a a vida é realizar isso isso é péssimo né sonhos não são projetos né Eh sonhos não desejos não são objetivos né Eh há algo de vamos dizer assim faltante nos nossos ideais que fazem deles ideais por isso que eles são ideais se o ideal vira
uma coisa que você vai lá e constrói geralmente vai ter um efeito assim rebote e o condomínio tem que ver com uma estrutura muito brasileira que é o fato de ser formado por um muro de defesa que diz não daqui você não vai passar aqui você não vai entrar o muro ele produz uma um efeito um efeito subjetivo de segurança né quer dizer eu só posso estar seguro então entre iguais né e Iguais segundo um critério bastante específico iguais que podem comprar aquela propriedade que podem pagar por aquele estilo de vida iguais né Di tem
uma exclusão da diferença terceiro lugar você tem um outro afeto menos comentado que diz respeito a Por que que é tão interessante para esse brasileiro dos anos 70 que torna o condomínio um ideal de consumo porque ele ao mesmo tempo muro uma prática que produz um sentimento de inveja há uma satisfação inconsciente de que os outros estão me invejando e vocês pensem como como os muros eles T que ver com o que há de mais problemático na nossa na nossa civilização aí dos últimos 50 anos né é o muro de Berlim né é o muro
de Gaza né e é o muro dos guetos e onde tem problema presta atenção tem tem o muro tem um muro ali por perto colaborando fazendo parte do figurino tá ou não é se não é o muro é a catraca se não é a catraca é o crachá né são as variações né disso bom a terceira terceiro traço desse desse sintoma nacional é que ele vem junto com uma mutação da nossa relação com a autoridade né se até os anos eh 70 e principalmente durante né aí o período militar a gente tinha uma uma forma
de exercer o poder né e uma forma de relacionar Na verdade o poder com a autoridade que a gente pode sintetizar numa expressão com quem você pensa que está falando na verdade nós não somos assim iguais diante da lei né Tem uns caras que se você pegar um deles você está frito né porque para ele vale assim a regra de que para os amigos tudo pros inimigos a lei né o condomínio é um avanço em relação a isso é uma um deslocamento né de um dos elementos que compõem um sintoma né a gente pode dizer
um sintoma composto por um uma espécie de arranjo de solução entre os nossos ideais os nossos desejos e as leis né E como juntar isso muitas vezes a gente não consegue juntar direito faz um sintoma o jeito não vai dizer assim quem você pensa que está falando ele vai dizer só estou cumprindo regras como chama essa figura né Eh chama-se o Síndico como uma estrutura né como estrutura de autoridade né como uma posição né Eh que a gente pode então por exemplo duplicar para visualizar mais fácil que a posição do gestor né hoje o que
acontece na educação que acontece na saúde O que acontece no terceiro setor na Cultura né quer dizer naquelas áreas em que eh em que havia uma uma certa proteção vamos dizer assim do estado elas passaram a ser governadas e administradas por gestores também nas empresas né com a terceirização Ainda mais você tem uma espécie de segmentação e de distribuição da responsabilidade de tal maneira que o sujeito que é um gestor ele pode não entender nada de saúde ou de educação mas ele Gere a educação ele faz os processos funcionarem ele azeita a máquina que a
gente como vê nessa figura do Síndico né como estrutura é eh o que depois veio a se tornar dominante na nossa forma de Sofrimento né hoje que a atitude ou um sintoma social né conhecido como cinismo Na verdade eu só tô obedecendo ordens né é o protótipo dessa figura né Eh a gente vai encontrar lá nos campos de concentração né esse texto muito muito interessante eu recomendo a vocês chamam os carrascos Voluntários de Hitler né é um estudo que que mostra que tenta responder a seguinte pergunta né que que aconteceu com a Alemanha nazista os
que trabalhavam nos campos ex não eram figura esp vo para maldade eles eram o funcionários burocratas B gestores disus befehle die ergang sind an die ordnungspolizei die sind woh ergang aber die ordnungspolizei Selber Hat daf sorge tragen MSS ich konte in berlins ein X und passiert und hatte im zuge dieser maah die Mir befohlen angelegenheiten Zu erledigen das habe ich nie GN und es auch nicht sie S sie War kein normal befer haben mited stimmt es haben sie gesagt nein kann ich nicht vorstellen nein sie hab nicht mited que começa acontecer depois quea muda condo
em ordem tudo no seu lugar tudo funcionando mas mas tem umar você precisa criar uma causa para isso o que acontece é uma hipertrofia de regulamentos de regras de restrições de regulações da vida que termina Num sentimento de asfixia e de perda da Liberdade né eu que fui buscar a liberdade dentro de um condomínio descubro que eu tô numa versão de uma prisão a hora que a gente se condena a viver entre iguais As pequenas diferenças elas se ampliam brutalmente que o Freud chamou de narcisismo das pequenas diferenças né a gente não consegue lidar com
grandes diferenças a gente começa a ser assediado por pequenas diferenças que importam muito que fazem a gente sofrer demais que fazem a gente vamos dizer assim tornar a vida assim intolerável [Música] sofrer faz parte da vida humana Mas qual o limite do sofrimento que devemos suportar e aceitar criamos ilusões de felicidade o que aumenta o mal-estar na nossa civilização Será que sintomas e Sofrimentos não nos indicam quando devemos agir e mudar o que precisamos sentir para desejar a transformação eu vou tentar então um pouco melhor o que que é a experiência de Sofrimento né E
por que que ela é diferente do sintoma né tô dando um exemplo do sintoma 19 sintoma tem que resolver né uma certa exigência de ideais de leis e de desejos e ele aparece incide eh na nossa vida de duas formas né ou nos obrigando a né Vejam Só um sintoma não é sintoma porque ele é não adaptativo né Ele é um sintoma porque ele ele traz consigo né ele ele coloca a gente diante dos nossos atos dos nossos nossos comportamentos né segundo essa experiência que o Freud chamou de Tang né de coersão né eu tenho
o que eu não posso me atrasar eu não posso deixar de ir no trabalho hoje por exemplo eu não posso deixar de fazer aí o sintoma né outra forma de sintoma a segunda família do sintoma é aquela que se especifica pela gramática do não posso com não posso com gente desse tipo bom então a gente tem o sintoma definido por isso e ele segundo o Lacan Ele sempre vai ter vai se exprimir né Eh de uma forma característica em termos de linguagem né no fundo os nossos sintomas tem todos né para ser sintoma né Tem
todos uma estrutura de metáfora né por isso que eu usei aqui para apresentar um sintoma para vocês uma grande metáfora uma alegoria que é o condomínio o sintoma é exatamente assim é uma ideia que pertence à gente que nasceu dentro do do da própria pessoa e que precisa ser expulsa porque a gente considera ela intolerável e ela fica voltando né ela quer ter uma expressão como é que um sintoma pode fazer a gente sofrer mais ou pode fazer a gente sofrer menos que que é o sofrimento né eu já apresentei aqui como uma categoria que
vem da teoria social né Por exemplo Marx eh Durkheim eh Weber os pais da sociologia todos eles fizeram ensaios sobre o suicídio né e tentando entender como é que o suicídio respondia a o quê a sintomas é também a sintomas mas basicamente há essa experiência tão social chamada de Sofrimento o sofrimento ele é sempre transitiva né o transitivismo é uma é uma experiência que acontece na criança pequena e que volta no adulto né em momentos de crise n momentos problemáticos a gente volta a ser transitiva né transitivismo se refere a uma certa experiência de indeterminação
de quem é o agente e de quem é o paciente de um ato a pessoa sente que ela foi o objeto da ação no qual ela na verdade foi o agente foi o sujeito ela tá sentindo o contrário do que ela fez né ela por exemplo xinga o outro mas é ela que se sente xingada ela distrat o outro mas é ela que se sente destratado né em brigas de casal por exemplo são intratáveis né É é impossível você resolver por quê Porque tipicamente o transitivismo faz assim né Por isso o Freud dizia uma das
situações mais patológicas em termos de recuperação dos dos sintomas infantis da neurose infantil é cuidar de uma pessoa doente acompanhar uma pessoa doente por muito tempo né ficar ali ao lado eh ajudando extremamente assim complexo do ponto de vista psicológico e indutor de sintomas por quê Porque é indutor de transitivismo porque é indutor de Sofrimentos né Então a primeira ideia é de que o sofrimento é uma experiência compartilhada a gente pode transformá-la a partir de atos de reconhecimento ele depende do reconhecimento ou do não reconhecimento que a gente dispensa para sofrimento né Isso é muito
interessante e faz o sofrimento uma categoria política né ou seja esse sofrimento é suportável é faz parte da vida vem com mal-estar esse não precisa de política pública esse não precisa de cuidado esse não precisa de atenção o sofrimento sempre exprime um déficit de reconhecimento quando a gente sofre a gente está pedindo né para que algo seja reconhecido ele Depende de uma gramática de reconhecimento e essa gramática cabe a nós né à comunidades as famílias as pessoas né todos nós participamos dessa dessas gramáticas né então a gente pode olhar pro mundo e pro Brasil né
e dizer assim Brasil ele é feito também da forma como a gente reconhece e define Qual é o sofrimento legítimo E qual é o sofrimento que eu não eu eu não vou querer olhar ele não é legítimo ele não é digno eu não preciso tratar dele e o que a ideia nova que eu tô trazendo querendo apresentar para vocês é que diante desses atos a coisa mesma a experiência mesma sofrimento muda né não é como a dor a dor mais ou menos igual sofrimento não por exemplo os médicos franceses do início do século XX se
recusavam a dar anestesia para as mulheres no parto por quê fez agora olha aí já começa aprendendo que uma vida de Sofrimento restrição privação dor isso uma escolha moral isso uma escolha política né E que incide para aquela mulher no caso que tá tendo um filho como o meu sofrimento é calado é silencioso eu não devo falar sobre isso ele não é legítimo o outro caso não mas o seu sofrimento e é o bullying Então esse a gente tem que cuidar é uma epidemia Esso é importante Vamos então chamar a tecnologia para tentar mitigar esse
sofrimento é não são escolhas conscientes né a gente não reconhece um outro tipo de sofrimento porque a gente pensou a respeito e acha que Então esse é o que merece mais atenção do que aquele isso isso é vamos dizer assim um efeito né das relações humanas a o sofrimento tem uma estrutura de narrativa né me conte a sua história e eu te direi como você sofre a gente tem basicamente quatro tipos de narrativas né A primeira a narrativa do objeto intrusivo que atrapalha daí a cura é tirar esse objeto daqui né segunda narrativa de Sofrimento
baseada no violação do contrato que alguém em algum lugar não está cumprindo as regras Ah o contrato não foi bem feito nós precisamos de mais leis nós precisamos refazer o contrato terceira a narrativa do sofrimento é a narrativa da alienação né Eh que aquele sujeito que diz assim olha eu tô sofrendo porque em algum lugar eu me perdi eu preciso voltar para o meu lugar né E essa é a narrativa né baseada na alienação da alma em vez de tratar a diferença a gente criar muros o que acontece a gente não a gente se perde
né alienação é uma patologia da Alma né a alma ela passa a ser uma alma errante né uma alma incapaz de ser reconhecida e de se reconhecer né finalmente a última narrativa de Sofrimento ela tá ligada com a dissolução do espírito ou com a perda do sentimento de unidade né E ela tem que ver com o que o Freud chamou de pulsão de morte que é o grande personagem conceitual do malestar na civilização que é o texto que a gente tá querendo reatualizar nesses quatro encontros aqui no Café Filosófico a gente pode contar a história
do condomínio dessas quatro maneiras mas ele reforça muito duas teorias né uma de que o mal-estar Vem de um objeto intrusivo que a gente sofre porque tem um outro problemático que se a gente excluir então a gente vai deixar de sofrer né E segunda é preciso refazer o contrato alguém tá violando o contrato Então se a gente puser entre muros criar um síndic ficar fizer o nosso contratinho aqui aí vai funcionar tudo perfeito a gente sofre porque a gente tá com excesso de experiências improdutivas de determinação um condomínio é isso né É não é ruim
em si Mas de repente ele começa a gerar um monte de experiências improdutivas que vão nos determinando né mais leis mais regras mais mais objetivos mais metas mais métodos isso tudo para quê para preservar essa ficção de que a felicidade tem que ver com a identidade né ã a experiência tá mostrando que que chega de condomínio deu né Eh essa forma de sofrer está insuportável né E que no mínimo o que a gente podia fazer era tentar olhar para as duas outras narrativas que ficaram meio de fora né a alienação da alma e a dissolução
do Eu né O que nos falta é olhar pro mundo né vê que ele está assim eh cheio de brechas né Cheio de alternativas ou com outras formas de sonhar né um caminho que eh não vai ser esperam né a realização acabada de um bem-estar né um bem-estar no sentido disso que tem nos consumido né que é essa obrigação de felicidade né o caminho acho que passa pela invenção de novas formas de sofrer né passa por um recu em relação a esse ideal eh Super egoico é a palavra no Freud de felicidade passa por um
recu para menos né Precisamos de uma vida com menos e não com mais de gozo de satisfação de consumo né Christian dunker usou a metáfora do condomínio para analisar como nossos medos angústias preconceitos agressividade e intolerância entre tantos sentimentos contemporâneos se erguem para além dos muros condenados a viver entre iguais se ampliam violentamente As pequenas diferenças dunker nos convida a olhar para o mundo e ver que ele está cheio de alternativas não sei quantas almas tenho cada momento mudei continuamente me estranho nunca me vi nem acabei de tanto ser só ten um alma quem tem
alma não tem calma quem vê é só o que vê quem sente não é quem é atento ao que sou e vejo torno-me eles e não eu cada meu sonho ou desejo é do que nasce e não meu sou minha própria paisagem assisto a minha passagem diverso móbil e só não sei sentir-me onde estou mais debates no site e Facebook do Instituto CPFL Por que que nós nos fechamos numa alternativa em que violência é ou fazer leis ou violar [Música] leis a gente vai sofrer menos quando a gente tiver uma identidade bem [Música] resolvida h
[Música]