Olá, pessoal! Tudo bem? Sejam todos bem-vindos!
Para quem não me conhece, eu sou Bruna Torlai, professora de filosofia há mais de 10 anos, e hoje eu vou fazer um vídeo bem professoral para todos vocês que têm dificuldades para organizar a rotina de estudos, que têm o desejo de estudar, mas enfrentam dificuldades e acabam se iludindo e comprando esses cursos de introdução aos estudos, introdução à vida intelectual e todo esse tipo de coisa que, na verdade, reflete uma obsessão lógica que é própria do modo moderno de lidar com as chamadas carreiras intelectuais ou profissões intelectuais, como se trabalho, que é dever, obrigação, tivesse alguma coisa a ver com a nossa vida espiritual, a nossa vida interior. Não tem. Então, a gente precisa desfazer algumas das ilusões e algumas das obsessões que acompanham esse discurso todo em torno de “ah, você tem que aprender o método correto, existe um método especial, e você, tendo aprendido a forma de fazer, tudo será diferente na sua vida”.
Então, isso é falso. E, para provar que isso é falso, em vez de eu gravar um cursinho aí com o qual poderia ganhar muita grana, fingindo que eu vou ensinar para vocês técnicas magníficas de estudo, eu vou simplesmente fazer um vídeo aqui, deixar no YouTube gravado, tá? Ah, para ajudar você a pensar com profundidade esse assunto e chegar a conclusões que, elas sim, vão te ajudar a organizar melhor a sua rotina de estudos, se é que isso realmente é importante para você.
Me acompanhem. Em primeiro lugar, muito se fala a respeito da necessidade de vida intelectual; isso virou aquele fetiche, etc. No ano passado, eu conversei com Ronald Hobson, autor do livro "Contra a Vida Intelectual" ou "Iniciação à Cultura", em que ele tecia comentários satíricos e mordazes a respeito desse mercado da venda de cursos de iniciação à vida intelectual, etc.
, né? E, evidentemente, eu vejo que uma série de perfis do Instagram, ou mesmo canais do YouTube, que introduzem as pessoas a gostarem, digamos assim, de literatura, têm um papel que eu acho que é importante. Eu acho que isso pode despertar muitas pessoas para depois terem uma trajetória real com tudo.
O livro do Ronald Hobson foi importante no sentido de dar um basta aí no mercado que isso virou, né? No mercado que isso virou porque é desonesto nós sairmos por aí propagando um método específico. “Ah, olha, eu vou te ensinar a estudar, depois que eu te ensinar como faz para estudar, e você sai estudando.
” Então, eu vou te ensinar o que é ter uma vida intelectual, como se houvesse um método para isso, tá? Isso é falso. Em primeiro lugar, eu queria dizer que a nossa obsessão com métodos é um traço típico da cultura moderna.
Se você pegar todas as grandes filosofias do século XVII, você vai ver que todo mundo escreveu o seu discurso do método. Não que pensar nos métodos próprios a cada ciência não seja algo comum à história do pensamento, evidentemente que é, tanto que a gente tem em Aristóteles reflexões muito profundas no campo metodológico, né? E, sobretudo em Aristóteles, porque ele tem clareza de que cada campo do saber tem um método que lhe é propício.
Então, quando ele vai falar de ética, de comportamento humano, e ética tem a ver com prática, é uma ciência prática, ele não pode usar o mesmo método para que ele usa para a geometria e que ele usa para a biologia, para criar, por exemplo, uma grade das proximidades entre as espécies, né? Cada ciência tem seu método. Então, não é que não exista reflexão metodológica desde a antiguidade; é claro que sim, sempre houve essa discussão.
Mas, no século XVII, ela se torna uma obsessão porque, de fato, existe a ideia de que com o método correto você chega a todo lugar. Então, uma das ideias fundamentais do pensamento moderno é que o método define o sucesso da empreitada, tá? Então, essa é uma ideia típica da pedagogia moderna, a chamada obsessão metodológica.
Isso está presente no nosso ambiente educacional, está presente na escola, e isso está presente em todas as táticas de medição do aprendizado. Isso está presente em absolutamente todos os aspectos educacionais na nossa cultura, e isso se repete nessa bolha da venda e do comércio de cursos de metodologia adequada para ter uma vida intelectual, tá? Eu, na verdade, acho tudo isso muito cômico, porque todo esse pessoal que vende essas coisas também é um pessoal que faz a crítica da modernidade.
Então, na minha posição, eu rio bastante porque eu sou professora realmente de história da filosofia moderna, ah, e eu realmente leio todos os anos, releio os modernos, né, com os meus alunos, e eu sempre aprendo alguma coisa nova, e etc. Cada vez mais, eu percebo o quanto a obsessão pelo método ideal para que você alcance qualquer conhecimento possível se disseminou na cultura até o ponto de ser vulgarizada da forma como foi, tá? Todas as discussões, por exemplo, nas licenciaturas, todas as discussões educacionais mais importantes giram em torno do método.
Que método você? Tanto que qual é a obsessão, por exemplo, dos progressistas? O método Paulo Freire, né?
Qual é a obsessão, por exemplo, daqueles que reagem violentamente a qualquer coisa que você possa aprender na escola? “Não, você precisa de outro método! ” Não, exatamente, tá?
O método não é a chave de ouro para você chegar a qualquer lugar; ele é um dos componentes de qualquer coisa que você faça na vida. O método é importante, mas você não pode colocar peso demais nele, senão você tira o equilíbrio de qualquer atividade que você vai realizar. Dessa forma, focar demais na iniciação é simplesmente esquecer do que é realmente ter vida interior.
Então, eu acho que o que vocês. . .
Precisam compreender de maneira clara o que é ter vida interior. Ter vida interior é ter uma vida realmente marcada pela contemplação, pela meditação, pelos exames de consciência e pela reflexão permanente. Você está o tempo todo pensando em cada experiência que tem, seja essa experiência concreta, seja essa experiência que eu digo do cotidiano, do dia a dia.
Seja as suas experiências no trabalho, as experiências que você tem no campo da cultura, as experiências literárias, as experiências, ah, evidentemente, com aulas, com cursos, né? Que não são exatamente experiências literárias, mas são experiências no campo da cultura, experiências de aprendizado de maneira geral, sejam nas experiências com escrita, com a tentativa de elaborar aquilo que você está pensando. Então, uma vida interior rica é marcada pela articulação entre três atividades: leitura ou experiência pedagógica, de escutar, muitas vezes, escutar pessoas que sabem mais do que nós.
Porque a leitura é uma escuta, mas é uma escuta ativa, né? A aula também é uma escuta ativa. As pessoas, às vezes, não se dão conta que, quando você está assistindo a uma aula, é preciso que você esteja realmente presente.
Aquilo é preciso que você esteja pensando junto com quem está falando. Eu não sei se vocês já repararam que todo professor tem algumas predileções que ficam muito explícitas em salas de aula. Nós, professores, gostamos dos bons alunos, né?
É verdade; isso é um fato, tá? Por quê? Quem são os bons alunos?
Como eu vou definir bons alunos? Bons alunos são aqueles cujos olhos brilham quando nós falamos o que de mais importante temos para falar numa aula. Então, assim, aquela pessoa que tem uma reação emocional considerável ou uma reação que se manifesta pelo olhar, quando chegamos ao ponto importante de uma aula, percebemos que falamos: "Pô, essa aula valeu, porque essa pessoa entendeu o que eu falei.
" Esses são os bons alunos, tá? E os professores adoram os bons alunos, porque são aqueles que, de alguma forma, nos fazem perceber que a mensagem foi comunicada. Ou seja, são as pessoas que tomam parte no que estamos dizendo.
E a leitura? Quando você lê um autor, um filósofo, uma obra literária, não importa. Quando você lê algo, é preciso que você esteja com o autor; é preciso que você esteja ali junto com ele.
Da mesma maneira, quando você assiste a uma aula, você tem que estar ali junto; você não tem que estar só ouvindo. Você tem que estar ali com aquilo que marca, que toca seu coração; senão, você não está ali. Por leitura, vamos colocar leitura e escuta na mesma categoria.
É uma das práticas que se articulam com outras duas que compõem uma vida interior rica. Então, a leitura ou escuta atenta, tá? Meditação e escrita.
A meditação é algo que você faz sozinho. Então, a leitura ou escuta ativa você vai fazer quando assiste a uma aula ou quando está lendo algo. É o que chamamos de estudo, né?
A parte do "iso" tudo é leitura, meditação, escrita, tá? Mas essa leitura ativa, esse prestar atenção ao que está sendo comunicado a você por qualquer meio que for, que é o que estou resumindo: leitura barra escuta deve ser seguido de meditação. É preciso que você pense e reflita sozinho com seus botões naquilo que foi absorvido.
Então, você tem uma primeira experiência na leitura e escuta, uma segunda experiência, necessariamente solitária, você com você, que é a meditação. É o pensar aquilo que foi aprendido, aquele horizonte novo que se abriu diante dos seus olhos. E você tem uma terceira etapa, que é a tentativa de elaborar o resultado disso, que aqui vou dizer de maneira muito sintética como escrita.
Por escrita, eu me refiro ao seguinte: é tentar dar uma expressão autêntica. O que é uma expressão autêntica? É uma expressão que carregue você junto com aquilo que foi aprendido.
Então, primeiro você escuta, lê; você participa do que um outro pensou. Depois, você pensa com seus botões. Isto que foi pensado, falando daquilo que foi pensado, a todos nós.
Porque qualquer aspecto da verdade, ou mesmo um desvio da verdade, pode nos remeter a ela. Portanto, tudo se dirige ao centro, que é a verdade a respeito das coisas. Então, a verdade, ainda que descoberta por um homem, não pertence a aquele homem; pertence a todos os capazes de inteligência para alcançá-la ou para compreendê-la.
Uma vez que espíritos maiores do que nós puderam elaborá-la, certo? Então, esse exercício de leitura, após, deve ser secundado por essa meditação e terminado pela elaboração que você faz. Essa elaboração se manifesta, em geral, na escrita.
Se você pensar bem, quando estamos em sala de aula ou quando estamos ouvindo um curso em casa ou quando fazemos uma leitura de um livro que nos marca, tomamos notas, né? E quando eu falo de escrita, não é esse tomar notas enquanto estamos ouvindo, porque, quando tomamos nota, por exemplo, em sala de aula, é porque estamos mapeando aquilo que estamos escutando atentamente. Estamos escutando atentamente, mas como recurso mnemônico, tomamos notas para mapear aquilo e depois sermos capazes de recordar a experiência presente que tivemos no momento em que nos dedicamos a compreender aquela mensagem.
Então, quando falo de escrita, não estou falando de anotação própria a essa primeira etapa, que é a leitura e escuta; não. Quando falo de escrita, é um momento posterior na meditação. A meditação é você consigo mesmo, refletindo sobre o quanto aquilo te marca, as reações que aquilo te provoca, o quanto aquilo te altera para o bem ou para o mal, o quanto aquilo te altera.
Muitas vezes, isso aconteceu muito comigo, porque eu passei muito tempo estudando os modernos, né? E os modernos me enlouqueciam, né? Eu passava noites sem dormir, de verdade.
De verdade, os modernos me enlouqueceram, porque eu falei: "esses caras têm alguns aspectos da filosofia moderna fantásticos". São todos aspectos de abertura científica. É super interessante a obsessão pela matemática, o quanto a matemática se torna um parâmetro.
A gente tem várias coisas interessantes a respeito do pensamento moderno, mas eu sou uma pessoa — vocês sabem quanto eu sou platônica — profundamente interessada pela dimensão espiritual do real. Por isso, Platão me convém, né? Profundamente interessado por isso.
Então, eu me interesso muito mais por questões morais, por questões éticas, por questões de formação e deformação da alma, elevação, abertura para transcendência, né? E, evidentemente, essa é a grande falha da filosofia moderna. Os modernos são muito ruins nessa parte; eles são péssimos nessa parte.
É um pensamento que se abre à exterioridade, né? O Corção tem aquele livro de que eu gosto muito, é um livro muito bonito, que é "Dois Amores, Duas Cidades", que ele descreve o pensamento moderno e a mentalidade moderna como a civilização da exterioridade. Porque um voltar-se ao exterior, né?
E eu sou uma pessoa que realmente me interesso pelo voltar-se à interioridade, né? Muito, muito marcada por essa forma de pensar. Me interesso pela alma, né?
Então, evidentemente que os modernos me enlouqueciam. Eu passava no ensaio. .
. Peraí, peraí, peraí. Esses postulados que eu tenho na minha frente não vão só criar confusões quanto aos assuntos que mais me interessam.
Então, nesse sentido, eu me lembro que foi profundamente fecundo na minha vida, mas fecundo todas as noites que eu passei sem dormir, perturbada com as consequências a que algumas daquelas afirmações, sobre as quais eu estava pensando profundamente, conduziriam se eu as levasse às últimas consequências. E aquilo me louque. .
. E aí, depois de ter passado por essa experiência meditativa, sozinha, depois de ter passado ali pela leitura, escuta, etc. , eu passava para escrever.
Eu ia escrever porque eu tentava elaborar minha reação, que era um misto de compreensão, insatisfação e sensação de que aquilo me levaria a algum tipo de abismo no que diz respeito às questões que eram importantes para mim. E aí eu escrevia. Por isso que toda pessoa que tem vida interior tem diário.
Não estou falando para você: "ai, quero ter vida interior, vou comprar um diário". Não, não funciona assim. A pessoa que tem vida interior tem necessidade de diário.
E assim tem vários tipos de diário. Você sabe que, em 2022, eu estava com o meu marido. A gente foi tomar café numa livraria e café no litoral, e ele viu esse livrinho aqui, ó.
Esse é muito engraçadinho: "Uma Pergunta Por Dia". Esse "Uma Pergunta Por Dia" é muito bonitinho, 365 perguntas, 5 anos, 1825 respostas. Diário para 5 anos.
É da Intrínseca. O que é isso? Cada dia tem uma pergunta, né?
Por exemplo, vou pegar aqui, ó. Aqui é engraçado, né? Abril.
De onde? Abril. A pergunta é: "quem você está enganando?
" E aí tem cinco campos para você preencher. Dois de abril: "de quem você se sente mais próximo? ".
Três: "você se divertiu hoje? Por quê? ".
Então, são perguntinhas para provocar em você uma reação que leve a uma elaboração pessoal. É um jogo engraçado com a ideia de diário isso aqui, né? Eu gosto porque eu gosto de todo tipo de diário.
E aí você tem cinco campos, um para cada ano, né? E aí você preenche o ano, e todo ano você preenche. Eu já estou no terceiro ano que eu estou preenchendo, e é muito engraçado porque a gente começa a ter uma espécie de "lhro" das nossas constâncias e inconstâncias, né?
Mas por que eu estou dizendo isso? Porque a pessoa que tem vida interior realmente gosta dessa atividade, que é a atividade que eu diria que é a mais importante, que é a de elaboração, é a de elaboração de dar expressão autêntica àquilo que foi meditado depois de uma experiência de estudo, tá? E isso é o cerne da vida intelectual que é descrita ali pelo Sertã, né?
Eu estou dizendo assim: esses são os processos que, integrados e articulados, são próprios de quem tem vida interior. Por isso que as pessoas que têm vida interior podem se tornar escritores. Por quê?
Porque essa elaboração pode terminar num livro digno de ser compartilhado. Às vezes, pode se tornar num conjunto também de notas confusas, é um pouco mais o meu caso, ah, que você nunca dá conta de organizar, ou que você vai deixando pelo caminho, né? Porque talvez você esteja procurando uma outra coisa, mas porque você não tenha talento para ser um escritor, são inúmeras as coisas.
A questão é que qualquer pessoa que tem a vida interior articula cotidianamente esses três exercícios e faz isso não por obrigação, não com um objetivo específico, mas por um querer mais forte do que qualquer outra coisa, tá? Estudo, vocês sabem, né? A escola que vem do grego "escolheu" significa passar tempo, tempo livre.
Escolheu é o quê? Passar. Até o verbo que significa matar o tempo.
Matar o tempo é o seguinte: "tô com tempo livre, o que farei? Ah, lerei aquele romance, vou pôr meus pensamentos em dia, deixei tentar entender o que tem acontecido comigo". Veja o mergulho na interioridade, né?
Claro, tem pessoas que não. . .
"Ai, puxa, vou matar o tempo. Como? Sei lá, vou ver uma luta, vou assistir a um jogo de futebol, vou jogar bola, vou beber, sei lá.
" As pessoas têm maneiras diferentes, mas as pessoas que têm essa vida interior rica, a maior parte do seu tempo livre é dedicada, justamente, a essas atividades: leitura, meditação, escrita, né? E o que acontece é que, com a criação das universidades no século XII, você vai tendo uma profissionalização dessa articulação entre tarefas chamada vida intelectual, né? E aí você acaba, ao longo da história, isso se mistura com a ascensão do Estado organizado burocraticamente, marcado pela burocracia, e, aos poucos, a gente vai chegar lá no século XIX, já estamos, assim, em 1920, na profissão do intelectual.
Mas veja, tem uma distância enorme entre o significado próprio de você viver dessa forma e abraçar essa forma de vida, e de você entender que deve ganhar a vida por ter essa inclinação. Tem uma distância enorme que separa os dois, tá? É evidente que as pessoas que têm uma inclinação tão forte para isso, que acabam dedicando a maior parte do seu tempo a isso, naturalmente acabam se tornando ou escritores ou professores.
Escritores, professores, poetas, editores, tradutores são consequências naturais, mas vêm depois, são posteriores, entende? Eu tenho uma inclinação de querer contar a experiência fantástica que uma certa obra me trouxe, é um hábito que eu tenho desde menina. Desde menina, era engraçado, né?
A minha mãe tirava sarro de mim porque o que que eu fazia? No final do ano, eu fazia uma lista de livros. Quando eu era nova, não trabalhava, não tinha dinheiro, pedia de Natal, né?
Os romances que eu morria de vontade de ler, e eu ganhava de Natal. E aí eu começava a ler um depois do outro. A cada vez que eu terminava um, eu ia conversar com as pessoas ao meu redor sobre aquele livro.
E toda vez que eu lia um desses grandes clássicos, eu falava: "Nossa, isso é a melhor coisa que eu já li! " Aí sempre repetia isso. E aí, um dia, a minha mãe chegou e me disse: "Mas você sempre fala isso!
Não sei mais qual é a melhor coisa que você leu, porque você sempre fala que é a melhor coisa que você leu. " O que eu queria dizer com "a melhor coisa que eu li"? É que vocês não fazem ideia do quanto esse livro é marcante para qualquer alma.
Era isso que eu queria dizer, né? Isso é uma das co melhores coisas já escritas. Era isso que eu queria dizer, né?
Em termos de romance, acho que meu romance favorito é "Don Quixote", permanece sendo. Não sei se um dia isso será mudado, porque eu adoro humor, né? E eu gosto de humor emredos insanos.
"Don Quixote" tem tudo, entendeu? Tem absolutamente tudo que eu considero fenomenal: a reflexão entre unidade e multiplicidade, que é própria da filosofia; aquele choque entre Platão e Aristóteles, que foi um choque até consequente de uma falsa oposição criada no Renascimento. "Don Quixote" tem tudo o que é interessante para mim, né?
Mas, de qualquer forma, cada livro que nos marca. . .
Por exemplo, nesse momento, vou até pegar na minha bolsa, que eu estou lendo agora e estou apaixonada por esse livro que quero introduzir no meu curso de filosofia política. É fantástico: "Cavalo de Troia na Cidade de Deus", de Dietrich von Hildebrand, que é um filósofo de mão cheia. Ah, é muito famoso, né?
Queridinho do piedoso, é alguém muito, muito famoso. O Dietrich von Hildebrand, não sei se vocês seguem no Instagram, tem lá o projeto von Hildebrand que aparece a segunda mulher dele ali falando, mas ele é fantástico. Eu falei de um outro livrinho dele numa live recentemente, mas esse aqui é o livro que, nesse momento, estou estudando, porque ele tem algumas considerações.
Qual é o tema desse livro? É sobre a ameaça do catolicismo progressista. Mas o que é fantástico é que ele faz uma defesa da legitimidade do Concílio Vaticano II, separando o que o Concílio significa das interpretações desviantes desse Concílio que foram propagadas por um catolicismo progressista, que é, em si, um contrassenso, uma vez que a religião católica implica um apego pela tradição.
Uma das colunas da religião católica é o magistério, então é um pouco até um contrassenso essa afirmação. O que é interessante no Hildebrand, que é um filósofo, né? Como bom filósofo, ele se coloca a salvo dessa oposição tola entre.
. . Veja, da reatividade dos conservadores a esse progressismo.
Ele fala: "Olha, você reagir a isso se apegando a um passado e dizer que o Concílio Vaticano II é um negócio absurdo também tá errado. " Só que ele explica por quê e argumenta. O que ele faz?
Ele pega todos os tópicos que foram propagados pelo catolicismo progressista e vai mostrando que o erro, na verdade, está na interpretação e que o Concílio Vaticano II foi simplesmente uma etapa autêntica, uma etapa legítima que não necessariamente representa aquilo que muitas pessoas, por se deixarem levar por uma espécie de reatividade ao catolicismo progressista. . .
Então, assim, é um ensaio incrível, é um ensaio filosófico de alta envergadura, né? Então é um livro que já me marca e eu tô no comecinho, um terço dele, mas já é profundamente marcante. Então é um livro que eu sempre vou recomendar.
É um livro bom. Já recomendei para alguns alunos, já recomendei para algumas pessoas, porque ele é muito bom, né? E ele é muito bom por quê?
Porque ele nos traz a de. . .
Volta ao equilíbrio diante de um assunto que é importante para nossa época, mas que é importante, ah, para a própria ideia de civilização, que é, o quê? Compreender algo antes de reagir desmesuradamente e moderadamente ou oportunamente. E aí tem muitas oportunidades políticas desviantes a partir do Concílio, que ele diz: "Ó, não é assim!
O problema é o oportunismo de vocês, não é o Concílio. " Então, assim, é um exercício de ensino de moderação, de leitura, de interpretação. Por que que ele é um livro tão fantástico?
É um livro de filosofia porque ele faz maiêutica, como se ele fosse o Sócrates, diante das bobagens espalhadas e criadas, ah, por uma série de pessoas que interpretaram mal aquele Concílio, não o meditaram com a profundidade necessária, saíram falando besteiras. Ele faz o papel de Sócrates, que diz: "Vamos examinar o que vocês estão falando! " Ó, o que vocês estão falando de acordo com o magistério não bate.
Então, assim, é o exercício filosófico, entendeu? E aí, todo livro que se propõe a ser um exercício filosófico, ou eu, que vivo para filosofia, evidentemente me marca profundamente, né? Mas, voltando ao que eu estava dizendo, então essas três atividades e a articulação entre elas é comum às pessoas que têm uma vida interior muito rica e que, por consequência, podem vir a se tornar escritores, podem vir a se tornar professores.
Foi meu caso, né? Porque eu tenho esse amor. Você viu como eu fiquei animada falando desse livro?
Eu tenho, eu me entusiasmo comunicando. Ai, que coisa legal! Eu gosto de mostrar os caminhos que nos permitem ir pensando cada vez melhor, né?
Isso faz de mim uma professora, né? Ah, agora tem pessoas que são tão boas, tão boas, tão boas nessa terceira etapa, que é a da escrita e elaboração, que se tornam escritores, né? E escritores, eu não estou falando de tratado, eu não estou falando de artigo, não estou falando de livro de professor, não estou falando de literatura.
Eu falei outro dia daquele romance espetacular que foi o "Processo", de Maurício, que romance, meu Deus do céu! Que escritor é o Jacob Vasser, né? Então, você tem, agora, é evidente que aquele livro é fruto de muita meditação, mas muito, só que também fruto de um talento, ah, muito pronunciado para esse terceiro componente fundamental que faz parte de todo mundo que tem vida interior, que é dar expressão a algo que você pensou.
Só que ele dá uma expressão artística, poética, no sentido de amarrar um conjunto de pensamentos a histórias, criar uma rede simbólica, um jogo de referências. É muito talento ali, né? Então, é isso, pessoal.
Mas a última coisa que eu precisava dizer é que, apesar de, desde a criação das universidades, a tal vida intelectual foi sendo substituída por profissões intelectuais, né? Eu acho que talvez seja até por isso que o CTI, quando ele escreve "A Vida Intelectual", que é um livro que só faz sentido para quem já tem esse tipo de vida, tá? Ele é um livro que quem lê, quem tem, digamos, uns 10 anos de vida interior rica e consistente, né, nas costas, e lê "A Vida Intelectual", do Sartre, se emociona.
Ele é um livro que emociona. Mas por quê? Porque ele é um livro que retrata tudo aquilo que nós vivemos cotidianamente com profundidade.
E aí tem uma segunda, tem uma outra parte, tem uma contraparte no "Vida Intelectual", que é formidável, que é justamente a articulação entre a vida interior e a espiritualidade. Porque é a última consequência de uma vida ah intelectual vivida com a idade suficiente para te aproximar da verdade. Você vai acabar, evidentemente, percebendo a necessidade da espiritualidade, né?
Percebendo que a luz da verdade revelada é o guia, é um horizonte. E é um horizonte no qual, aí sim, você deslancha, tá? Então, é um livro muito bonito por esse aspecto também.
Ah, mas um ponto que, voltando para a nossa vidinha aqui, é: todos vocês deveriam pensar, em vez de ficar aí falando "ai, qual curso eu vou comprar para aprender como é que se faz para ser intelectual? ", é o seguinte: estudo tem a ver com a escola, né? Estava falando de matar tempo, etc.
, tem a ver com descanso. O que você realmente quer fazer quando você tem tempo livre? Qual é o seu desejo quando você tem aquela uma hora depois do almoço para descansar?
O que você mais deseja fazer? Essa é a pergunta que você tem que se fazer, porque não é trabalho, não tem a ver com obrigação e dever. Como eu já expliquei, algumas atividades que se configuram como profissionais podem ser consequências desse tipo de inclinação, de vocação, mas mesmo assim: a pessoa que estuda.
. . Vocês acham mesmo que eu comprei esse livro para colocar na minha disciplina de filosofia política?
Não foi! Não foi! É porque eu tenho uma admiração profunda pelo H.
de Brand. Falei: "Quero ler esse cara, tô de férias, vou ler o que eu quero! " Além das minhas obrigações como professor, nada!
Não quero obrigação, quero ler o que me dá na telha. E eu estava louca para ler esse livro! E aí falei: "Nossa, esse livro é tão bom, vai acabar entrando na minha disciplina!
" Entende? É uma consequência posterior, não é que eu fui ler por obrigação. Então, ao contrário.
E aí, ao longo da sua vida, essas obrigações, esses deveres, por exemplo, têm a ver com o horário que eu tenho que estar na instituição diante dos meus alunos, têm a ver com a quantidade de aulas que eu tenho que entregar para os meus alunos da minha plataforma ah virtual, né? Aliás, eu arrumei o meu site; meu site estava uma bagunça. Que querem conhecer melhor o meu trabalho, vou deixar aqui direto na descrição.
Está na descrição de todos os meus vídeos. Vou deixar aqui o meu site, que é brunatl. com.
br. Lá, vocês conseguem ter informações sobre todos os cursos que têm na minha plataforma, porque estava meio confuso, né? Eu falava mais do trabalho com Platão e Aristóteles, mas tem outras coisas lá.
Então, às vezes, se você quiser dar uma verificada, agora eu coloquei organizadinho quais são todos os cursos no meu site. Você pode me conhecer melhor como professora e ver os cursos que eu já disponibilizei por lá, tá? Em breve, também, eu vou lançar mais coisas aqui em fevereiro, porque eu percebi que a gente tem uma necessidade de algumas reflexões que não estão sendo feitas e eu criei um material novo, tá?
Esse material novo, assim que ele tiver para sair, eu vou colocar ali também na listinha do meu site, tá? Então, a depender, não importa quando você esteja vendo esse vídeo, eu sempre vou atualizar os cursos que eu vou criando para vocês, público geral, né? Que não estão aqui, que não estudam ali onde eu dou aula, mas gostariam de se tornar meus alunos, né?
E o Instagram também! Eu fiz uma nova conta do Instagram porque a minha conta antiga tinha problemas de configurações insolúveis, tá? Eu garanto a você, me desculpa se você era meu seguidor.
Eu precisei apagar a minha conta e esperar que ela fosse apagada para eu usar o mesmo arroba, que é o @brunatorli, mas eu tinha problemas de configuração que só a Meta podia arrumar. Só que a Meta deu uma confusão, tá? Uma confusão!
Você não consegue ser atendido lá, os caras acham que você está indo lá para processá-los. Não é isso! Tinha problemas técnicos de configuração, né?
Mas esses problemas, assim, eu falei: "Até resolver, deixa eu fazer uma outra. " E aí, nessa conta nova, eu tô dirigindo ela também muito mais para vocês, que são meus alunos. Por quê?
Porque eu gosto de privilegiar a vocês. Claro que eu continuarei fazendo outro comentário político por lá, mas eu vou deixar aqui mais para o YouTube, que eu acho que é mais propício, né? Para que no Instagram as pessoas que estão realmente procurando esses perfis com os quais elas aprendem todo dia algo de construtivo tenham ali a certeza de que ali elas vão encontrar apenas coisas que realmente vão ser impactantes para a sua alma, né?
Porque eu acho que são as maiores experiências da vida, esses momentos que a gente tem aquela iluminação, que a gente aprende algo novo. Acho que isso é a coisa mais maravilhosa da vida. Então, eu vou dedicar meu Instagram a isso, tá bom?
Portanto, entendam: eu não faço isso por obrigação, eu não faço isso por dever. Isso é consequência de um profundo querer. A obrigação é seguir o horário da instituição onde leciono; o dever é entregar o número X de aulas por ano.
Mas o criar essas aulas, esses roteiros, essas inventas, não. É tudo um fruto natural do rumo que tomou minha vida, tá? Então, é isso que vocês precisam meditar profundamente: eu tenho tempo livre, e o que eu quero fazer dele?
E aí, vocês, quanto mais forem se conhecendo melhor, mais vão perceber se tem a ver com vocês ou não, essa inclinação, né? Eu consigo reconhecer as pessoas que têm inclinação para essa vida interior rica. São pessoas que gostam de conversar bem, que gostam de falar, que quando leem algo querem comentar.
E porque quando a pessoa quer comentar é porque aquilo tocou o coração; ela precisa comunicar, né? Porque é o que faz a gente ter certeza de que aquilo foi entendido por nós: é quando a gente conversa com outras pessoas. E aí, naturalmente, elas buscam a amizade de pessoas que também têm vida interior.
E aí a gente tem essas trocas, né? Por exemplo, um momento da minha vida que eu sempre gosto muito: eu adoro ler, né? Ou nos momentos de fim de semana ou antes de dormir, mas eu gosto muito também quando, às vezes, eu estou, sei lá, estudando italiano ou fazendo alguma coisa na cama e meu marido está lendo e ele para a leitura para me contar o que ele percebeu.
Então, porque aí ele quer me tornar parte das leituras dele. Não é que ele quer me tornar parte das leituras; é que ele tem a necessidade de elaborar algo que ele pensou após ter lido, entende? É uma busca de interlocução.
Isso é próprio de quando a gente está aprofundando a nossa vida interior, né? Então, assim, a amizade com pessoas que também gostam de ler, de estudar e de pensar é algo que vai ser fundamental para você. Você não vai querer gastar tempo com bobagem; você vai querer estar na companhia de pessoas capazes de logos, capazes de interlocução, né?
Esse é um sinal importante que vocês precisam também examinar com calma. E não importa que você nunca vá escrever nenhum livro. O que importa é o que você quer, né?
O quanto te faz feliz no seu tempo livre com romances, etc. De resto, é claro que leitura e escrita são importantes para todo mundo, mas leitura, meditação e escrita articuladas como exercícios constantes são próprios de quem deseja mergulhar profundamente na interioridade e desvelar esse universo. É diferente de você simplesmente saber fazer redação, por exemplo, tá?
Então, é isso, pessoal. E vocês não precisam comprar cursos para aprender tudo que eu falei aqui. Só precisam ter essa consciência e, quando vocês estiverem diante de um livro, a sinceridade de se vocês não estão entendendo: "Esse livro não é para mim" ou "Se vocês.
. . " Não estão entendendo, mas vocês querem compreendê-lo.
Fiquem naquelas três linhas o tempo necessário; escrevam sobre aquelas três linhas tudo que vocês precisarem escrever até absorverem. No interior, ah, meditem aquelas três linhas profundamente antes de passar para as próximas. Se essa é a atitude que vocês têm diante de um livro que é difícil para vocês, mas que vocês querem compreender, aí eu posso dizer que vocês já sabem o que fazer; basta continuar fazendo.
É isso, pessoal! Obrigada pela companhia. Eu mencionei esse livro por mencionar; estava aqui na minha bolsa, mas eu vou colocar na descrição para quem ficou curioso, tá?
E colocarei algumas outras coisas que eu mencionei também na descrição aqui. Aproveitando que a minha livraria está com saudos de janeiro, então, se esse livro te animou a falar "ai, vou procurar um livro que eu vou ler por puro querer, sem obrigação nenhuma", dá uma olhadinha na minha livraria. Quem sabe você acha algo interessante por lá, tá?
Obrigado pela companhia e até a próxima.