Cidades para pessoas: Natalia Garcia no TEDxFloripa 2013

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TEDx Talks
Natália Garcia é jornalista especializada em planejamento urbano. Sua principal ferramenta de trabal...
Video Transcript:
[Música] [Aplausos] [Música] Boa tarde antes de falar sobre cidades para pessoas uma pergunta quanto é 4 dividido por 2 dois todo mundo concorda com isso perfeito o caminho que a gente percorreu para chegar nessa resposta é o caminho da matemática abstrata eh o que acontece e todos nós percorremos esse mesmo caminho para chegar nessa resposta o que acontece é que esse não é o único caminho possível pra gente percorrer para chegar na resposta para essa pergunta se a gente imaginar uma coisa um pouco mais concreta como por exemplo uma tábua de madeira de 4 cm
e cerrar ela no meio na hora de cerrar essa madeira vai se desgastar e e provavelmente o que a gente vai ter são dois ped de madeira com 1,98 cm nesse caso 4 di 2 iG 1,98 se a gente imaginar quatro ideias compartilhadas entre duas pessoas Talvez o que a gente tenha como resultado sejam quatro projetos 4 di por 2 é uma questão que permite várias respostas possíveis mas a gente tá acostumado a percorrer um único caminho para chegar numa resposta e a gente faz isso porque a gente vive no que eu chamo de a
maldição da única resposta certa a gente vive isso nas escolas a gente vive isso no trabalho e a gente vive isso nas cidades a gente acha que só tem uma única resposta certa para uma questão mas a verdade é que tem um monte de respostas invisíveis que a gente não enxerga por exemplo a gente acha que o único jeito de pavimentar as cidades é com asfalto ninguém questiona isso antes de urbanizar uma cidade é assim que a gente vai pavimentar as ruas só que que do ponto de vista da água o asfalto é um problema
porque ele é uma superfície impermeável na cidade de Portland que é uma cidade americana onde chove de outubro até junho chove para caramba Aliás quando eu tava indo para lá eu tava vendo o guia turístico e ele tem um Calhamaço assim de programas para fazer na chuva e daí eu cheguei lá eu entendi Só chovia naquela terra eh Quando eu cheguei em Portland e do ponto de vista e da água que que caía demais lá o asfalto era um problema eh a a chuva caía por cima do asfalto escorria e chegava a água chegava muito
mais poluída no rio porque ela carregava consigo um monte de poluição do asfalto eh só que eles começaram a pensar que pô isso é uma característica local dessa cidade não um problema necessáriamente Por que que em vez disso a gente não passa a pavimentar a cidade com superfícies permeáveis então eles começaram a desenvolver localmente na universidade local conceto permeável tipos de asfalto permeável calçadas permeável E aí a água deixou de ser um problema para ser simplesmente uma característica só de fazer isso só de transformar uma característica local deixar de considerá-la como um problema a água
chegou muito mais limpa no Rio e só por causa disso as pessoas puderam voltar a nadar no rio da cidade só de olhar para uma característica não como um problema mas simplesmente como uma característica se a gente só enxerga uma resposta que resposta é essa isso depende primeiro da percepção que a gente tem da cidade por exemplo quando a gente olha para uma rua toda congestionada cheia de carros a gente tem de achar que a maioria das pessoas nas cidades brasileiras se locomovem de carro mas isso não é verdade eh a maioria dos deslocamentos nas
cidades brasileiras é feito a pé e a maioria dos deslocamentos de São Paulo que é onde essa foto foi tirada são feitos de transporte público os carros não levam a maioria da as pessoas eles ocupam a maioria do espaço eh é por isso que o ex-prefeito de Bogotá Henrique Penha alossa diz que queria resolver o trânsito construindo mais Avenidas é como apagar o fogo com gasolina porque você não tá criando vias pra maioria das pessoas Você tá criando vias para que a minoria das pessoas continue ocupando a maioria do espaço o segundo ponto é o
repertório por exemplo um dia Choveu bastante em São Paulo e aí um dos jornais da cidade publicou essa foto mostrando todos os pontos de alagamento que se formaram na cidade se a gente aproximar eh de de todos esses pontos e observá-los no mapa e compará-los com o mapa da década de 30 a gente vai ver que no mesmo lugar onde tem um ponto de alargamento passa um rio naquela foto anterior eu fiz isso com todos aqueles pontos e em todos os lugares passa um rio mas ninguém vê esse rio Porque os rios de São Paulo
São canalizados e correm debaixo do asfalto aliás se imag gente sabe que São Paulo é uma das cidades com mais Rios no mundo porque eles estão correndo debaixo do asfalto se você não tem esse repertório você nunca vai conseguir pensar numa solução que responda a esse problema e a terceira questão é a medição é a forma como a gente mede a cidade é o que que define o que é uma boa cidade ou uma cidade ruim por exemplo eh a São Paulo Segundo a revista the economist é a cidade que mais cresce em competitividade no
mundo o que parece uma coisa ótima né Aliás a régua Econômica é uma régua tida como super importante para dizer o que é uma boa cidade a OMS a Organização Mundial da Saúde publicou um estudo também sobre a cidade de São Paulo que diz que é a cidade com mais transtornos mentais no mundo e de acordo com o INSS os gastos com doenças do trabalho cresceram mais do que os gastos com aposentadoria Será que se a cidade mais realmente é uma régua que indica que a cidade é boa ou indica que as pessoas estão trabalhando
até adoecerem as réguas que medem a cidade tão velhas porque elas não dão conta da diversidade das pessoas elas não dão conta tudo bem como é que a gente faz para buscar outras respostas né já que as as respostas que a gente enxerga São norteadas desse jeito primeira coisa isso isso é um esquema que compila um pouco de todos os urbanistas que eu que eu entrevist eu não contei mas eu passei um ano percorrendo 12 cidades pelo mundo tentando entender o que é que melhora as cidades para as pessoas e essa palestra é um pouco
o resultado disso então como é que você faz para enxergar outras respostas né primeiro você precisa mapear problemas e potenciais com precisão não é só mapear os problemas mas é mapear Quais são os potenciais da cidade para entender como é que você vai ativá-los depois você precisa de um repertório de ideias que ativem esses problemas e que resolvam potenciais Você precisa conversar com quem fez coisas que deram certo Você precisa conversar com quem tá pensando nesse assunto e tem algo a propor aí você precisa permitir que essas ideias sejam testadas projetos pilotos que testem as
vocações da cidade para aí sim pensar em projetos de larga escala que tentem dar conta de resolver os problemas por exemplo na Índia na cidade de bangalor Esse site bity é um site de gestão informal da cidade em que qualquer pessoa político eh cidadão empresário pode ter lá um perfil e pode criar um grupo de trabalho para resolver alguma coisa nesse site foi criado um sistema para juntar o sistema de transporte público formal da cidade com o sistema de transporte público informal e criar uma rede sinalizada inclusive para que esses dois sistemas Conversem entre si
e um resolve o que o outro não resolve a junção do sistema de transporte formal e informal faz uma rede muito mais densa do que a de Londres por exemplo mas eu não diria que ela é melhor do que a rede de Londres é a rede que faz sentido em bangalor e a rede de Londres faz sentido em Londres esse outro site map kibera eh kiber é uma favela em nairobi que não aparecia no mapa oficial da cidade até 2007 como a maioria das favelas no mundo não aparece no mapa oficial da sua cidade e
daí os moradores de kibera fizeram um mapeamento local com tecnologia GPS mapearam lá Fulano mora aqui o ciclano mora lá aqui tem uma igreja aqui tem um hospital e assim por diante esse mapeamento foi feito no open Street map que é uma é um site eh com dados abertos e só por causa disso só porque eles mapearam online essa se tornou uma das favelas mais famosas do mundo e passou a ser contemplada pelo poder público local eles têm um prefeito informal na favela de kibera e e o e é super curioso ver como eles começaram
a fazer cruzamentos da gestão formal com a gestão informal para gerir e essa pequena cidade dentro da cidade de nairobi que é a cidade de kibera em Nova York um grupo de advogados mapeou todos os terrenos que pertenciam à prefeitura eh não só no mapa online mas no lugar com uma placa aqui tem um terreno que pertence à prefeitura e convidaram as comunidades locais a pensarem em para ocupar esses terrenos com ortas comunitárias com parques e assim por diante ajudaram esses moradores locais a formatarem projetos fizeram a ponte com a prefeitura e criaram mais de
90 parques públicos no bairro do Brooklyn só de fazer esses cruzamentos e por fim na cidade de Portland eh um instituto de sustentabilidade criou um um vários várias sedes nos bairros da cidade para tá o poder público a iniciativa privada e a academia e foi só por causa dessas conexões que eles puderam construir essa ponte para pedestres Ali na beira do rio porque a iniciativa privada tinha dinheiro para investir a academia tinha um projeto e as pessoas que moravam lá queriam poder chegar perto do rio de novo o que eles fizeram foi juntar os queros
tenhos e poos da cidade eh às vezes gerenciar uma cidade não é pensar num projeto e fazer tudo sozinho é só ativar o os queros T os hipos que já estão disponíveis Voltamos ao diagrama de Baran o que essas organizações que eu mostrei agora fazem é distribuir o processo de gerenciar a cidade e eh deixar visíveis esses outros caminhos para moldar a cidade é permitir que mais gente tenha voz na hora de moldar sua cidade mas as instituições né Eh o poder público as empresas bom Elas têm que começar a entender que elas precisam atuar
dentro de um novo parad igma antes de decidir elas precisam ouvir antes de planejar elas precisam conectar antes de pensar em soluções e e tentar solucionar os problemas de forma rápida e desembestada eles precisam de Diagnósticos precisos dos problemas e dos potenciais antes de fazer os projetos em larga escala que vão deixar um legado político gigantesco eles precisam de projetos na dimensão segura para falhar que testem as vocações da cidade e que a partir daí a partir desses pilotos se proponham a fazer projetos maiores de maior escala Já tem instituições fazendo isso o itdp do
México por exemplo resolveu antes de pensar em qualquer projeto de mobilidade pra cidade do México medir quanto de dinheiro público era gasto com cada modal 75% dos recursos são gastos com carros 11% com transporte público 3% não motorizado a pé e bicicleta agora 28% das pessoas estão nos carros 48% no transporte público e 24% de bicicleta ou a pé quando você cruza esses dados Você tem uma uma uma imagem muito mais clara do que tá acontecendo do ponto de vista da gestão dos recursos e esse passo anterior foi importantíssimo para agir com mais precisão redistribuir
o orçamento dos transportes em Copenhague foi criado um departamento de vida urbana um departamento de pessoas da prefeitura que fica na rua todo dia conversando com todo mundo para tentar entender o que é que melhora as relações das pessoas nos espaços públicos e o que é que piora esse departamento tá acima de todas as secretarias de Copenhague e ele diz sim ou não para qualquer projeto que vai construir qualquer coisa na cidade e o argumento ou o critério que eles usam para isso é muito simples vai piorar a relação entre as pessoas não pode vai
melhorar a relação entre as pessoas Então pode eh e esse departamento Ele é super aberto Ele é super permeável ele sempre abre essas discussões pro debate público ele fica tentando o tempo todo se Reinventar para que mais gente participe dessas decisões na Califórnia foi criado um sistema para eh melhorar o legado que o mercado imobiliário deixava nas cidades e isso é super curioso né porque o mercado imobiliário ficou estigmatizado como o setor que vai sempre deixar um péssimo legado paraas cidades eh e não precisa ser assim sempre né se mais gente pudesse Decidir sobre o
que vai e o que não vai ser construído nas cidades talvez a atuação desse setor fosse mais interessante e é isso que esse site tenta fazer no fund Rise qualquer pessoa pode ser um financiador com ó que é uma quantia muito pequena e que não é permitida legalmente que não era permitida legalmente Antes disso pode na construção de um café na sua rua ou de um prédio que faça sentido para ele na sua rua e aí com esses financiadores em pequena escala eh os financiadores em larga escala podem se arriscar mais porque eles vem que
um café naquela rua é um investimento mais seguro as pessoas que moram lá estão querendo isso e ao mesmo tempo as pessoas se sentem Donas da sociedade se sentem coproprietários que estão na sua cidade nos seus bairros claro que isso não resolve em absoluto a questão do legado do mercado imobiliário paraas cidades mas é um caminho é um passo na direção de democratizar o que que vai ser construído nas cidades eh bom diante de tudo isso que a gente viu de todos esses caminhos possíveis nos resta sonhar né os caminhos todos estão estão aí eles
estão invisíveis Mas eles existem pra gente moldar as cidades mas daí tem um problema né Todo mundo conhece esse cara sim né Martin McFly é um cara que junto com o Dr emet Brown viajava pelo tempo numa máquina do tempo lá na década de 80 quando Esse filme foi lançado e o Martin McFly é no De Volta Para o Futuro dois eh ele vai pro futuro ele tinha 20 anos ele viaja 30 anos à sua frente e chega no futuro para se deparar com ele mesmo aos 50 vocês lembram o que ele quer saber sobre
ele mesmo aos 50 Ele quer saber se ele ficou Rico se ele trabalha numa grande empresa se ele casou com a namoradinha dele do colegial se ele mora numa casa bem grande toda cercada Com carrão na garagem ou se ele virou um astro de rock os sonhos do Martin McFly podiam estar sendo sonhados por qualquer pessoa eles não refletem nada quem ele é eles não dizem nada sobre quem ele é são sonhos que seguem a lógica da única resposta certa são sonhos que seguem a lógica de que o sucesso é uma caixa apertada fora da
gente que a gente precisa se cont torcer para caber e não é bem assim né quando ele chega no futuro ele percebe que ele virou esse cara que trabalha numa empresa que faz coisas que não refletem nada quem ele é e que usa duas gravatas eh eu acho que o caminho necessário para você reaprender a sonhar de forma genuína e o Mário Quintana diz que sonhar é acordar-se para dentro não é isso que o Martin McFly tava fazendo né me parece que um dos caminhos para aprender a sonhar de forma genuína acordando para dentro é
recuperar o direito à cidade nas palavras do David Harvey o direito à cidade não é um direito individual de usufruir dos equipamentos da cidade é um direito coletivo de reinventar a cidade tem um poema do leminsk que eu tava lendo no no avião a caminho daqui que diz o seguinte um dia desses eu quero ser um poeta ingl do século passado dizer ó céu ó mar ó clã ó destino lutar na Índia em 1866 e sumir no naufrágio clandestino e não dá mais tempo de assistir o pô do sol da janela do escritório enquanto você
pensa em um dia atender os desejos do seu coração e a gente precisa reaprender a sonhar de forma genuína e eu acho que um dos caminhos para isso é recuperar o direito à cidade bons sonhos e muito obrigada C [Aplausos]
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