Explorar os minérios da Ucrânia, assumir o controle da Faixa de Gaza, comprar a Groenlândia, anexar o Canal do Panamá, tornar o Canadá um Estado americano. . .
. Todas essas propostas foram feitas por Donald Trump em apenas DOIS meses como presidente. Ainda não está claro se ele pretende mesmo seguir em frente com os planos.
Mas essa retórica tem levado analistas a especularem sobre o início de uma nova era de imperialismo americano no mundo. Algo que foi reforçado no primeiro grande discurso de Trump no congresso americano. E na tensa reunião de Trump com o presidente da Ucrânia pra discutir a ajuda militar pro país - que acabou sendo pausada por ordem do republicano.
Eu sou Julia Braun, da BBC Brasil, e neste vídeo explico as estratégias de Trump vistas como imperialistas e as possíveis consequências pro resto do mundo. Pra começar, vamos colocar em contexto: Imperialismo é definido como uma política de Estado para ampliar o poder e o domínio de uma nação - seja pela aquisição de territórios ou pelo controle político e econômico. Você talvez pense imediatamente nos impérios Romano, Otomano ou Britânico.
Ou seja, regimes que expandiram muito suas fronteiras, foram extremamente dominantes em suas épocas e colonizaram diferentes partes do mundo. Esse modelo se esgotou. Mas segundo muitos historiadores, um formato mais moderno, de neoimperialismo, continua vigorando.
Nesse sentido, há quem diga que os Estados Unidos criaram um novo modelo de imperialismo focado na instalação de bases militares em diferentes países, no controle econômico e em intervenções para mudar regimes pelo mundo. Esse mesmo raciocínio valeria para muitas outras potências pelo mundo - e eu vou falar disso já já no vídeo. Mas então por que Trump, em particular, tem sido chamado de imperialista?
Segundo os especialistas que eu consultei, o posicionamento dele difere muito do adotado pelos antecessores na Casa Branca. Donald Trump é o primeiro presidente americano em mais de 100 anos a defender a expansão do território do país. Mesmo antes da posse, ele mencionou a intenção de tomar o controle do Canal do Panamá, pra se opor a um suposto favorecimento comercial da China.
O republicano disse que não descarta usar a força militar para tomar tanto o Canal do Panamá quanto a Groenlândia - território da Dinamarca que tem riquezas minerais e posição geográfica estratégica. E tudo isso fora as insinuações a respeito do Canadá. Por que pagaríamos US$ 200 bi por ano em subsídios ao Canadá quando eles não são um Estado?
Acho que o Canadá é um candidato sério a ser nosso 51° Estado Você talvez se lembre de que ele também sugeriu tomar o controle da Faixa de Gaza para transformar a região palestina em uma, entre aspas, "Riviera do Oriente Médio". E agora quer um acordo para explorar as riquezas minerais da Ucrânia, como compensação pelos bilhões de dólares que os Estados Unidos gastaram pra ajudar o país na guerra com a Rússia. Nós temos vídeos mais detalhados sobre todos esses pontos.
Vamos deixar os links aqui na descrição deste vídeo. Mas o fato é que todos esses comentários e planos acenderam o alerta da comunidade internacional. O último presidente americano a propor esse tipo de expansão do território americano foi William McKinley, no final do século 19.
Foi quando os Estados Unidos anexaram Porto Rico, as Filipinas, o Havaí e a ilha de Guam. No discurso de posse, Trump inclusive citou McKinley como exemplo. E para o historiador Eric Storm, a forma como o presidente americano trata certos países também remete a grandes impérios do passado.
Mas os mesmos especialistas também admitem que isso talvez seja uma mera estratégia de negociação. Na política externa, existe um modelo de negociação conhecido como o da cenoura e do porrete – ou seja, de incentivos e punições para cooptar aliados e chegar a acordos. E Trump parece se encaixar parcialmente nesse modelo.
De um lado, ele usa o porrete, ou seja, ameaças de uso da força militar ou de sanções econômicas para coagir outras nações. De outro, estaria a cenoura, ou um incentivo positivo para convencer aliados — por exemplo, negociando investimentos, ajuda humanitária, acordos bilaterais ou assentos em organismos multilaterais. Mas por enquanto, na visão dos analistas, Trump se concentra apenas no porrete.
E tarifas comerciais têm sido uma das principais armas do presidente americano. Inclusive contra o Brasil. Para a historiadora Naoko Shibusawa, muitas ameaças de Trump são só bravatas.
Eu não consigo imaginar os EUA invadindo o Canadá. Isso não vai acontecer, certo? Então é mais bravata Os EUA vão invadir e tomar Gaza?
Acho isso pouco provável também Então temos esse homem mais poderoso da Terra fazendo pronunciamentos que parecem desconectados do mundo contemporâneo Já o analista Andrew Mumford acha que as atitudes de Trump têm mais a ver com a política interna do que a externa. Ou seja, a intenção é agradar o eleitorado trumpista. Bom, mas como já expliquei lá no começo do vídeo, os estudiosos do neoimperialismo apontam que esse modelo não é exclusivo dos Estados Unidos.
E com Trump falando tão explicitamente sobre expandir o território americano, outras potências podem se sentir mais livres para tomar atitudes parecidas. Ou seja, podemos, sim, estar entrando em uma nova era da política externa. Com isso fico por aqui.
A gente vai seguir acompanhando essas movimentações. Fica de olho na nossa cobertura de assuntos internacionais em bbcbrasil. com, nas redes sociais e nossos canais no YouTube e no whatsapp.
Obrigada.