Coração devotado ao amor: Primeira palestra de LANÇAMENTO do meu LIVRO AMOR À SABEDORIA

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Victor Sales Pinheiro
Esta é a primeira palestra do meu novo livro de ensaios: Amor à Sabedoria, publicado pela editora Au...
Video Transcript:
Esse é o lançamento oficial do livro "As Outras Cidades Brasileiras", que se une a "Porque Goiânia foi a Cidade Escolhida". Foi a minha primeira oportunidade; o livro saiu do forno. Agora eu vi o livro pela primeira vez aqui em Goiânia. Eu saí de Belém, e para ser sincero, eu saí de Belém no caminho do aeroporto. Ontem chegaram as caixas; só tive tempo de deixar no Colégio de Educação Personalizada, que estavam também atrás, e estou lançando aqui com muita alegria. Qual foi a minha ideia? Primeiro, foi mais do que eu sonhei, porque o lugar intimista,
com essa intimidade e proximidade, era o que eu queria. Eu acredito que a filosofia seja uma forma de amizade, de amor, e ela se dá no diálogo. Por isso que o subtítulo do livro é "Diálogos com Clássicos e Modernos". O que eu vou fazer nesses breves minutos iniciais é explicar a minha ideia geral e justificar por que me parece tão oportuno lançá-lo numa situação como essa. O amor à sabedoria é sempre uma prática conjunta. Quem começou com essa atividade, para quem não percebeu de imediato, "amor à sabedoria" é uma tradução direta da etimologia da palavra
filosofia. É como se o nome do livro fosse "Falar de Deus", um livro de teologia, né? Ou falando de Deus ou a palavra sobre Deus, que é o que significa teologia. Filosofia significa amor à sabedoria; o filósofo é o amante da sabedoria. E quem iniciou esse processo, essa atividade, foi Sócrates na antiguidade clássica. Ele simplesmente conversava, e é isso que nós fazemos: fumando um charuto, tomando uma Coca, um café, um vinho, uma cerveja ou qualquer outra desculpa. Quando a gente fala "vamos tomar uma" ou "vamos bater um papo, vamos tomar um café", o que, no
fundo, a gente quer é conversar. E a gente pode bater papo furado, pode falar bobagem, besteira, que é bom também, não é? Isso também é uma virtude da eutrapelia, a virtude da alegria. Mas também podemos falar de coisas sérias, falar de coisas importantes, relevantes, como Deus, o amor, a morte, a amizade, o destino eterno; coisas que não cabem na ciência. Então, isso fica fácil de vocês entenderem. O que é sabedoria? É todo esse campo da realidade humana que não cabe na ciência. A ciência pode tocar, pode apontar, pode decifrar uma parte de um fenômeno qualquer,
mas não consegue explicá-lo por completo. Por exemplo, o amor: nenhuma explicação científica é suficiente sobre o amor. Aqui eu estou diante de um médico psiquiatra que pode nos dar um curso sobre o amor do ponto de vista neurológico, fisiológico, psicológico. Eu estou diante de um terapeuta que pode falar da sociologia, da psicologia dos relacionamentos atuais. Mas a gente vai aprender um monte de coisa científica, científica com evidências, com investigação, com método, com hipóteses, mas isso não esgota nem satisfaz a nossa sede de amor de entender o que é o amor, porque o amor pertence a
um campo que se revela e que se explica pela sabedoria. E é isso que eu gosto de estudar. Eu não sou cientista e, portanto, me sinto fora do ninho na universidade, que é um lugar onde reina a ciência, ou a pseudociência, ou a ideologia muitas vezes. E quais são as três disciplinas que não são científicas que eu cultivo e apresento neste livro? E isso está na introdução. Quando vocês forem ler: a filosofia, a teologia e a literatura. Este livro são ensaios. Ensaios são textos livres, sem formato específico, sem formato fechado, de tamanho variável e de
gênero variável. O formato flerta com o artigo acadêmico; ele flerta com a crônica de jornal; ele permite uma nota biográfica. Muitas vezes eu falo de mim, da minha experiência, isso cabe no ensaio. Isso, aliás, é característico do ensaio, que é o gênero dos textos do meu livro, e ele pode tratar sobre tudo. Então, do que trata esse livro? De tantas e tantas coisas. Trata certamente de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a sabedoria de Deus, que é a palavra de Deus encarnada. E por isso Santo Agostinho é a inspiração desde a capa e a primeira
grande referência, o modelo de Santo Agostinho como esse filósofo, teólogo e literato que explorou a sabedoria em tantas áreas do conhecimento disponível na sua época, né? Que refletia sobre a sabedoria a partir de Virgílio, por exemplo, que refletia sobre a sabedoria a partir de Plotino, que eram os livros neoplatônicos ou platônicos, como ele chamava. E claro que levou a sério a revelação de um Deus que é amor: Deus é amor e Deus é Logos. Por isso que os cristãos não tiveram dificuldade de assimilar a filosofia grega clássica à revelação. Porque os gregos buscavam. É verdade
que São Paulo falou aos coríntios que os gregos buscam sabedoria, os judeus procuram sinal; nós pregamos Cristo e Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gregos. E eu tenho um ensaio sobre a loucura da cruz ou a glória da cruz, o ensaio sobre o grande Gustavo Corsão, "A Glória da Cruz". Esse é um dos meus ensaios preferidos. Então, o que eu fiz neste livro? Eu peguei Santo Agostinho e falei assim: "Vamos furar um charuto, Santo Agostinho". Cheguei com Dante Alighieri, ninguém mais, ninguém menos, e falei: "Vamos bater um papo, vamos conversar, só
que você fala um pouco mais do que eu, porque você tem mais a falar do que eu". Então eu cito autor; eu quero que vocês leiam. Na verdade, os autores que eu analiso são 16, como Ctil. Eu realmente gostaria que todos lessem "A Vida Intelectual" do Ctil. E eu escrevi um prefácio que, na verdade, virou pós-fácil para a editora do Centro Dom Bosco. Aqui está o meu amigo Jonathan, que trabalhou. Lá é que eu conheci, lá, né, que me permitiu dialogar com a obra, apresentá-la e dizer o que eu penso sobre a obra. Não é
uma introdução formal erudita do Wikipédia, não é um resumo da Inteligência Artificial do que é a vida intelectual. É o que eu penso, é como me tocou, é como me marcou. Quais são os pontos principais? É um ensaio. É como se você dissesse: "Professor, fale um pouco sobre a vida intelectual". Pois não, intelectual para mim é isso, isso, isso, isso, isso, isso, isso. Só que quando eu preciso falar escrevendo, eu preciso organizar o pensamento, formalizar, citar, e com isso eu espero qualificar o debate, qualificar o diálogo, e ensinar o leitor a dialogar ele mesmo com
os seus livros. A mesma coisa vale, por exemplo, conversar com a Evely agora sobre o grande livro do Fultom Shin "Três Para Casar". Foi um livro que me marcou profundamente e, um dia, para minha surpresa, eu fui convidado, dado pela Editora Eclésia, para prefaciar a nova edição desse livro, né? E foi num momento muito difícil e particular da minha vida neste último ano. Eu aceitei, então eu revisitei o livro. Não pude relê-lo todo na íntegra, mas tomei as minhas notas que eu já tinha. Toda leitura é um diálogo, toda leitura é um diálogo. A gente
responde ao que o livro está nos dizendo. A gente pode não saber, mas a gente está respondendo. A gente assiste a um filme; o nosso coração está batendo, a nossa inteligência está respondendo às provas das imagens que o filme nos dá. A diferença é que o escritor procura colocar no papel para tentar organizar melhor. Então, "Cange", a vida intelectual, "Fultom", "Três Para Casar", Gustavo Corão, "A Descoberta do Outro", que é um grande livro. Então, os livros que eu realmente... Não são todos os livros, né? Os livros que me marcaram, que me impactaram. Por exemplo, quando
eu passei muito tempo lendo os gregos, né? Meu mestrado foi sobre Platão, que aparece muito aqui também. Então eu lembro que a primeira vez que eu li a "Ilíada", eu fiquei assim, estupefato, por alguns dias. Durante o processo, eu li a "Ilíada" muito bem em oito dias, né? Eu li assim... Acho que não sei se comecei numa segunda ou numa terça, mas eu fui, eu só li. E, lida, eu fiquei mergulhado naquele texto e fiquei deslumbrado e tomando notas, e vendo as traduções; eu sabia um pouquinho do grego e eu fui vendo as traduções. Aqui
eu uso a do Carlos Alberto Nunes, que também traduziu Platão, que é um desses grandes humanistas que me inspiram tanto. E aí tomei muitas notas. Na época, eu estava no mestrado em Filosofia e escrevi um artigo sobre a "Ilíada", daquilo que me parece mais importante. Já não era tão cristão como sou, já não era tão convertido, mas que é o tema da morte entre os gregos. Como é diferente a visão da morte dos gregos e como muda tudo de acordo com a sua visão da morte. Muda tudo. Aí você compara Homero, por exemplo, que é
o maior poeta do pagão, com Dante, que é o maior poeta cristão, que eu também apresento aqui no maior ensaio. Que diferença! Que diferença! É uma diferença de vida e morte, literalmente. Então, e por aí vai. Então, eu tô destilando alguns temas para vocês e, só para percorrer todo o sumário nessa apresentação sucinta, eu acabo com romances modernos, dois grandes romances modernos, dois épicos modernos: "Os Irmãos Karamazov", de Dostoiévski, que também me chamou muita atenção da primeira vez que eu li. E só explicando um ponto aqui da introdução, quando eu gosto de um autor, de
um tema, eu procuro ensiná-lo, porque eu só aprendo mesmo quando eu ensino. Então, tudo que eu realmente quero aprender, eu ofereço para ensinar. E esse projeto todo começou como... Não é a ciência, como não tá na universidade, em cursos livres lá em Belém. Exatamente assim eu me sinto em casa. Eu poderia... A gente poderia se reunir aqui toda terça, das 8 às 10, para ler a "República", de Platão, ou para ler "As Confissões", de Agostinho, ou para ler "A Divina Comédia", de Dante, ou para ler "Os Irmãos Karamazov". E foi isso que eu fiz lá
em Belém por muito tempo. E todas essas notas que eu fui tomando, os meus planos de aula, aqui eu encontrei com uma aluna do clube de leitura católica da Bíblia que imprimiu... Cadê ela? Depois você pode mostrar pro pessoal, se quiser. Ela imprimiu todos os planos de aula do clube de leitura católica. Então, um verdadeiro livro encadernado. Assim, isso pode virar um livro; basta que eu... Claro, vou ter que revisar, vou ter que organizar, organizar os capítulos. Mas não deixa de ser uma leitura da Bíblia muito modesta, muito simples, muito incipiente. Mas como são essas
leituras, aqui são as minhas notas, são as minhas impressões dessas grandes obras, tá? Então, você tem na segunda parte de estudos os pré-cristãos, os pagãos: Homero e Sófocles, com a "Antígona". Depois, os três grandes luminares, como eu chamei aqui, do pensamento cristão: a Bíblia como obra sapiencial; três livros sapienciais da Sagrada Escritura: o "Cântico dos Cânticos", "Jó" e "Eclesiastes", a partir de um grande filósofo contemporâneo vivo chamado Peter Kreeft. Depois, "As Confissões", de Santo Agostinho, e "A Divina Comédia", de Dante: a civilização cristã, o pensamento cristão puro, limpo, completo, perfeito; a maior obra de prosa
cristã e a maior obra de poesia cristã. Eu lembro quando fui convidado para o Congresso de Literatura Católica do Instituto Hugo de São Vítor, lá de Porto Alegre. São meus amigos também em 2017. Eles disseram: "Ah, tem uma lista aqui...". Tinha umas 20 obras. Já me chamaram... Depois eu fui. Eu fui, fui. Reserva: o time B. Eu fui do time reserva; me chamaram depois. Eu falei: "Bem, quantos têm? Tem umas 20 pessoas no Congresso." Eu falei: "Então não deve ter sobrado nada para mim, né?" E estavam todos os grandes nomes da literatura católica, exceto os
dois maiores. Tem alguma coisa de errado? Ninguém pegou Santo Agostinho, ninguém pegou Dante. Falei: "Das duas uma: ou ninguém se atreveu, ou ninguém teve a audácia, ou Deus é muito bom comigo e os deixou para mim, né?" Aí eu peguei Dante, Santo Agostinho, e gravei inus, tá no YouTube. E aí tem aqui o ensaio do estudo que eu fiz: Santo Agostinho e Dante, e por fim, Dostoievski, que é outro autor que eu amo muito, que é o Manzon. Então, eu acho que cada ensaio desse, numa manhã de sábado, numa noite de quarta, numa tarde de
domingo, quando você lê, o que eu espero que aconteça é que você tenha reflexões profundas a partir desses grandes autores sobre Deus, sobre Cristo, que direta ou indiretamente eu falo dele; às vezes muito diretamente, da sua mãe, Maria, né? Ou indiretamente, pela ausência dele. Por exemplo, Dostoievski é o drama da agonia de uma sociedade na descristianização. Leiam 500 páginas em uma semana; não exijo que tenham lido as 500, mas se tiverem lido cinco, já terão muito a dizer, inteligentes e brilhantes como são. Basta a capa para eles tecerem tantos comentários valiosos e certamente dialogar, porque
essa é a intenção: conversar. Muito obrigado! Para mim é uma alegria mesmo estar aqui. Confesso que eu fingo uma certa naturalidade, tá, falando aqui com eles, mas é mesmo uma alegria. Conheci, tive a graça de conhecer o Vitor em 2021, jogando basquete. A gente era dupla pela altura; dá para ver que eu que o chamei para o time. A gente acha que ganhou, né? E tal, foi muito bom. E a gente… é verdade! Mas é verdade! A gente se conheceu como dupla de basquete, ou não? A gente ganhou e teve que mudar de dupla, exato.
É, o perspicaz vai logo no cara, com 1,90. Pois é, lógico! Eu já defini, escolhi o time, foi ótima a experiência e a gente tem a boa graça de se esbarrar um pouco todo ano, sem programar nada, né? Então, quando ele me convidou e falou que estaria aqui, foi mesmo uma alegria. O Jorge, que é meu padrinho de crisma, então nem se fala. Me sinto muitíssimo em casa, não podia deixar de mencionar aqui, por tantos amigos e pessoas que eu conheço. Eu queria… Eu nunca participei de um lançamento de um livro, então eu não sei
muito bem a etiqueta da coisa, mas eu pensei em falar a verdade assim, diante das coisas, né? Então você não tinha visto o livro ainda? Chegou? Ah, eu vi antes! Então, olha só que legal! Chegou lá em casa! Chegaram todos os livros lá em casa e eu… Ixi! Quase não sei quem leu mais. Eu li o PDF, mas quase terminei. Ele pediu para comentar o livro e, cá entre nós, vou comentar aqui a experiência. O livro é muito grande, né? E o título, eu confesso que é a primeira vez que estou comentando assim, porque eu
acho que muitas pessoas vão passar por essa experiência, né? Você leu o título: "Amor à Sabedoria". É um título amplo, e o livro é muito grande, né, assim, para o tema. Então, na primeira vez, eu folhei e fiquei completamente surpreso pela qualidade dos nomes que estavam aparecendo aqui, etc. Aquela folheada rápida e a primeira coisa que me veio à mente foi: como você conseguiu escrever esse livro no meio da sua rotina de tantos livros publicados? Acho que seria interessante você comentar um pouco dessa produção também, porque o livro, de fato, é muito bem feito, e
foi minha primeira impressão, de como ele conseguiu fazer isso. E aí, mas eu acho que uma coisa que é muito interessante quando você abre o somário do livro… Você percebe que ele é muito bom de ler, porque ele é dividido em 16 seções e ele comenta livros maravilhosos. Eu acho que meu olho bateu direto no Chesterton, né? Que eu já fui ali direto, não podia deixar de ler. Então, longe de ser um livro que... como se fosse uma linha depois da outra e que você precisa ir até o final, imagina um livro com 16 seções,
com ensaios e comentários de livros de Santo Agostinho a Chesterton, a Gustavo Corção, etc., etc. Então, de um primeiro impacto, que me pareceu muito... Eita, né? De repente, me pareceu algo uma leitura muito gostosa de se ter. Eu comentei assim com ele. Eu comecei a ler e, de fato, eu não consegui ler o livro inteiro. Separei um bom momento ali para ficar lendo, mas não consegui trazer por erro meu. Vou ter que pegar o autógrafo depois, mas certamente a gente não perguntaria para alguém se ela comeu o bolo inteiro, né? Depois que ela falou que
comeu muito do bolo e gostou. Então, não, não comi o bolo inteiro, mas certamente a gente percebe que o bolo de fato é muito bom. Então, esse é um primeiro comentário que eu queria fazer sobre a estrutura. Eu comecei a comentar aqui o livro, folhei o livro assim, é bem interessante. Deem uma olhada no sumário, leiam o que ele comenta. São leituras como se fossem 16 seções. Para você matar as partes rápidas, de acordo com aquilo que você quer. E não poderia deixar de dizer que, apesar de um título que pode parecer... Para algumas pessoas,
muito elevado, filosófico, etc., pelo formato do ensaio, é uma leitura muitíssimo agradável, e não digo por estar aqui, eu se é o meu amigo. Porque, de fato, eu até estava comentando com ele que me surpreendi em relação a isso. Agora, comentando um pouco aqui sobre o conteúdo, eu li a introdução que você apresenta ao livro e fui pescando ali. Fui direto ao Chesterton, né? E fui lendo, é exato, né? Fui ver assim: “deixa eu ver o que ele falou, que delícia de capítulo!” Se der para recomendar, comecem pelo Chesterton, que todo mundo tinha que ler
o "Ortodoxia". É que as pessoas têm medo de ler o "Ortodoxia", sim, que foi um livro que mudou a minha vida. Mas talvez, lendo o que ele comenta do livro, repleto de trechos do livro, vocês percebam o tanto que é um livro interessante. E comentando sobre o teor do livro, que eu acho que é algo muito, só comentar um pouquinho... tu te incomoda se eu rid... eh, alguns livros não é que sejam difíceis, é que eles se tornaram, de algum modo, inacessíveis, porque foram escritos em outra época, em outra língua. Então, o meu trabalho, muitas
vezes, é quase como que de um tradutor, mas não só um tradutor literal, mas um comentador que vai apontando e mostrando para o leitor a ele mesmo. Então, eu faço longas citações de propósito, para que você leia a texto entendendo. A Evelyn falava ainda há pouco sobre as virtudes. Ah, agora eu entendi as virtudes! Esse é o meu papel, esse é o meu modesto papel: que eu consegui entender as virtudes e agora eu vou transmiti-las, né? O Augusto entendeu muita coisa do relacionamento, muito das relações possíveis nesse mundo confuso, e agora, para ele é fácil,
e todo mundo fala: “Ah, agora eu vejo, agora eu entendo!” Essa é a minha ideia, né? Então, para mim, é aquela frase já tão repetida: é subir nos ombros dos gigantes, uhum, de um Chesterton, de um Corção. Mas eu até um comentário que eu ia fazer sobre essa questão do livro, e é uma coisa que você consegue fazer de forma, eh, muito assim, sutil e, ao mesmo tempo, muito bem arquitetada: conseguir correlacionar obras que aparentemente não se comunicam, né? E quando você vai lendo o livro, você vai percebendo isso. Eu não fiz igual o Augusto,
eu fiz do jeito certo (brincadeira). Eu comecei da introdução e fui lendo de forma corrente. Ah, sacanagem! E uma das coisas que eu notei é exatamente essa comunicação: aquela mesma coisa que você falou. Assim, apesar da gente perceber nas seções que você poderia lê-las de forma absolutamente independente, e aquilo seria proveitoso da mesma maneira, quando você coloca a leitura de forma corrente, você vai percebendo que as obras, de fato, elas se comunicam naquele pensamento mais central delas. E aí você vai extraindo certos elementos ali e você fala: “Caramba, é isto! Assim, Santo Agostinho estava falando
disso, daquela ideia da vida intelectual com a graça divina.” E aí você faz uma correlação com o Sócrates, a ideia grega: “Caramba, eles estão falando da mesma coisa!” Essa ideia de começar a notar que, no fundo, no fundo, eles estão falando da mesma coisa. Quando você vai para a literatura, lá na frente, os irmãos Karamazov... acho que talvez seja Karamazov, eu não sei qual que é a pronúncia correta, honestamente falando, mas talvez seja um dos, em termos de obras de literatura, acho que foi a que mais me tocou, assim. E, quando a gente vê o
debate que você coloca aqui, eh, no Inquisidor, né? E o Ivan e o Aliocha ali, assim, talvez o Aliocha como o santo contemporâneo e o Ivan, o nihilista, é absolutamente surreal a gente perceber que eles descrevem aquela ideia de Santo Agostinho nas Confissões, sabe? Assim, em algum momento, eles estão descrevendo aquela ideia inicial. Então, uma das coisas que mais me chamou atenção nesse livro é a capacidade que o Vitor teve de juntar obras que, numa primeira visão, de fato, não se comunicam. Mas você conseguiu extrair o centro de cada uma delas e criar uma narrativa,
assim, do que a gente precisa: é a filosofia, é a literatura, é o amor à sabedoria, o entendimento da graça e o papel dela em tudo isto. E o homem foi se desestruturando; ele foi abandonando a fé, e a filosofia foi se distanciando... A literatura, né? A arte, em geral, foi se distanciando da contemplação de Deus; a filosofia foi se distanciando da contemplação de Deus. E o livro tem um papel de retomar isso, né? Ele fala: "O caminho é esse! A filosofia precisa olhar para isso, para a graça. A literatura precisa olhar para a graça,
eh, a obra de redenção, né, como um todo." É impressionante essa capacidade de correlacionar as coisas. Sinceramente, eu queria comentar sobre a estrutura do conteúdo, que eu acho que é interessante, que o amor à sabedoria tem algo na capa que eu acho que capta a essência do... acho que capta, certamente, senão não estaria na capa, que é o Coração em Chamas aqui na mão de Santo Agostinho. Porque é muito comum, hoje em dia, que a gente se acostume, no ensino médio, na faculdade, eh, nas palestras, que as pessoas falem de coisas elevadas como se elas
não tivessem nada a ver com aquilo, não é? E, hoje em dia, cada vez mais raro que a gente veja as pessoas falando coisas sérias com o coração na mão, sabe? Essa conversa daquilo que verdadeiramente importa, da pessoa que busca encarnar aquilo que fala. Então, é como se todos os... Ensaios fossem essa coisa do coração na mão. Eu consigo perceber que você selecionou os trechos não porque seria bonito, cult, interessante, mas porque são coisas que ecoam em você. E, pelos comentários, isso a gente percebe. Não dá para explicar por que a gente percebe isso, mas
a gente vê que vem de dentro, né? O ensaio foi um prefácio que eu escrevi pro livro do Thas de Kemps, que é um autor muito famoso pela "Imitação de Cristo". Eu fui surpreendido pela editora Cristo quando me convidou para prefaciar um livro atribuído ao mesmo tom de C. S. chamado "Preparação para a Morte". E é um desses convites que chegam assim, numa terça, para entregar em 15 dias. E você olha pra agenda e fala: "Eu não tenho tempo nenhum", mas é um convite realmente irrecusável. É quase como se um anjo tivesse pedido. E eu
fui lá e pedi um validador para minha esposa num sábado e eu li o pequeninho. Só que é um livro sobre a morte, né? Eu mergulhei nesse livro e consegui escrever o prefácio. Eu vou ler para vocês a primeira página desse prefácio porque eu acho que ele é um dos mais viscerais do ponto de vista do coração. O nome do ensaio é "A Morte que Prepara a Vida" com V maiúsculo. Quem tiver com o livro aí, é na página 99, não por acaso, número mísero. Quando pela primeira vez eu de Tome de com sua exortação
inicial, colhida do Eclesiastes, a desprezar todas as vaidades do mundo, um fosso se abriu diante de mim. Nele escorriam e evaporavam todas as vaidades mundanas, tudo que é passageiro e que não preenche a sede de absoluto inscrita no nosso coração. Isso é Agostiniano, como o Jorge já antecipou há pouco, como Vas Barroca de Ant de Pereda ou de Valdes Leal: objetos putrefatos, despojos de cadáveres empoeirados, e nada, pela corrosão do tempo, coroados por uma altiva caveira, amontoavam-se no cemitério abandonado do meu espírito. Espadas e armaduras, símbolos de poder, livros e mapas, sabedoria humana, frutas e
taças, ou charutos, prazer... tudo parecia esterco, como futilidade e mesmo obstáculo para a vida plena em Cristo. Sim, eu estava diante da montanha de esterco de Jó. Só um parêntese aqui: tanto o Eclesiastes quanto o Livro de Jó são comentados no Capítulo 13, 12; ou seja, rapidamente, o leitor que leu o sumário começa a perceber a relação interna. Tudo figurava como lixo fétido diante da majestade de Cristo, que crucificava todas as minhas aspirações mundanas e despontava, luminoso, transfigurado, como no retábulo de Isenheim de Matias Grünewald ou na Ressurreição de El Greco. O que eu estou
dizendo aqui? Isso é quase uma oração. Eu estou compartilhando com vocês a minha experiência de leitura diante da "Imitação de Cristo". O que eu via? Eu via aquelas imagens barrocas, né? Eu via o Cristo ressuscitado do El Greco e eu fui escrevendo, tomando nota. Foi o que eu experimentei, isso que eu vivi: é o meu coração na mão, meu coração pegando fogo. Olha, eu não quero saber de prazer, eu não quero saber de poder, de dinheiro, não quero saber de nada. De repente, Cristo surge como a única realidade absoluta: perfeita, completa, luminosa, e todo o
resto é lixo. Tudo o resto é fedorento, não quer, né? Isso foi uma experiência real que um grande autor como Tomás de Kempis me causou. Depois eu falo de Santo Agostinho, Santa Teresa e São José Maria. Eu digo depois que eu só senti isso com mais quatro autores: Santa Teresa, Santo Agostinho, São José Maria Escrivá e São Paulo Apóstolo. Só o monte de cinzas de Jó. Então, tem a montanha de esterco. Quem conhece o Livro de Jó sabe que tem dois momentos que são paralelos: tem uma espécie de complementariedade que é a montanha de esterco,
já no capítulo 20, e no Monte Calvário, elevado pela morte pascal e ressurreição gloriosa do Alto da Cruz. Tudo se tornou vazio e espectral, vaidade das vaidades e correr atrás do vento. Pude perceber, num frêmito aterrador, a verdade das palavras de São Paulo aos Filipenses, escritas nas agruras da prisão: elas se tornaram palpáveis com aquele poderoso livro de Kempis. E aqui é uma citação da Bíblia de Filipenses: "Tudo considero perda pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por ele perdi tudo e tudo tenho como esterco". Então, o esterco que eu mencionei, obviamente aqui,
e eu grifo, é para ganhar Cristo, ser achado nele, conhecer o poder da sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, conformando-se com ele na sua morte, para ver se alcanço a ressurreição de entre os mortos. Então, isso é um exemplo de coração na mão. Ao mesmo tempo que a gente percebe esse problema, a gente só consegue aprender a falar as coisas sérias da vida vendo pessoas falando coisas sérias sobre a vida. E a primeira vez que eu vi isso, eu acho que em um grau maior ou que pelo menos me tocou, foi com "Ortodoxia",
que é quando ele olha pra modernidade e fala que o mundo tá maluco e fala com uma pena maravilhosa. Eu nunca tinha visto ninguém criticando essas coisas que hoje em dia a gente fala que não pode criticar, porque tudo é muito bonitinho. E da mesma forma, esse livro, nos seus ensaios, é como se vocês estivessem vendo um homem maduro falando sobre coisas realmente sérias. É bonito quando você coloca na introdução que, no fundo, esse livro é para falar sobre o amor a Cristo e não sobre o amor a uma sabedoria desencarnada. Então, sem estender muito
essa primeira parte, seria muito bom que a gente aprendesse a falar sobre Cristo e sobre religião. sem nojinho, já conversei isso com você e certamente muitas pessoas aqui percebem. É como se, hoje em dia, a gente quisesse falar, mas as pessoas, eu entendo por experiências muito ruins que tiveram na vida, têm muito nojinho de religião, da igreja de Cristo. Aí, a gente tem que aprender jeitos muito loucos de falar, de simbolismos, de complexidades, vai para lá de Antropologia, tudo para falar o que já poderia ter sido dito. E é muito bonito ver e ter uma
experiência de leitura que fala coisas diretamente. Tem um trecho que você cita, agora não me lembro se na introdução ou em outro trecho, que a filosofia grega tem trechos muito bonitos, mas eles não têm o "Von Pexs", mais, eles não têm, em primeiro lugar, "buscai o reino dos céus e sua justiça que o restante vos será acrescentado". Eles não têm as bem-aventuranças. Então, até se a gente for comparar o cristianismo enquanto visão de mundo com a filosofia grega, não tem a menor proporção. Mas a gente não pode dizer essas coisas abertamente porque isso não é
socialmente aceito. Então, finalizando essa primeira parte, eu acho que esse é um ponto especialmente bonito do livro: ver as coisas sendo ditas sem tanta curva, sabe? Eu me vi numa encruzilhada. Eu sou professor de Filosofia na faculdade de Direito da Universidade Federal do Pará e lá, de fato, a censura reina. Lá, você não pode falar as coisas sob pena de o Ministério Público entrar com um processo contra você. E, por outro lado, eu preciso me adaptar. Eu não vou me atirar aos algos, por outro lado. A internet, a sociedade, a igreja, sociedade civil, os grupos,
as instituições, os colégios querem que se fale plenamente a verdade de Cristo. Então, eu passei a cada vez mais me virar, virar as costas para a universidade onde não cabe tudo isso e me dedicar muito mais a isso, e falar com todas as letras. Né? Por isso que, nesse caso, Santo Agostinho não está na capa por acaso, porque depois que ele encontra Cristo, ele fala: "Olha, não adianta se falar de outra coisa. Não adianta ficar falando de platonismo, não adianta ficar falando de valores, né? Ficar falando de cosmos, porque é o seguinte: o Cosmos foi
feito pela palavra de Deus, que é Cristo." Então, se a gente realmente se convence filosoficamente disso e por isso que a segunda parte, a que o Augusto se referiu, que pelo visto atraiu muito, é uma parte chamada "Conversões Filosóficas". Eu não sou um convertido, no sentido que eu não era católico e passei a ser, mas eu sou um reconvertido porque a minha fé infantil e um pouco sentimental da infância foi completamente renovada quando eu comecei a ler filosofia e teologia pesada. Então, agora eu não tenho mais nenhuma opção. Não é que eu creia em Deus,
eu sei Deus, eu conheço Deus. Eu tenho uma experiência intelectual muito profunda com Deus e eu não fui o primeiro a isso. Também teve Gustavo Corção, também teve, e eu provo, está aqui a prova, e Dante também teve e Santo Agostinho também teve. Então, eu quero mostrar a inteligência da fé e como a gente não só pode, como deve, falar da fé sem esse nojinho, sem essa ressalva, sem essa restrição. Porque a inteligência alcança algumas verdades; a fé também é necessária, mas a dinâmica de fé e razão é o que motiva o meu trabalho. E
eu me surpreendi muito com a forma clara e óbvia que o livro consegue fazer isso, sabe? É muito claro e óbvio. Assim, aquilo que o Augusto falou: às vezes a gente fica tentando achar um malabarismo suficiente e necessário para articular as coisas e não é necessário tudo isso, sabe? Na verdade, quanto mais direto e ao ponto a gente vai... Caramba! Você pega essa quantidade impressionante de autores que a maior parte deles não está falando de Cristo, mas quando a gente pega essas obras citadas e a forma como você colocou elas, principalmente trechos muito bem organizados
que trazem a ideia da necessidade de que, para que a sabedoria seja completa, ou seja, para que a razão seja completada, ela precisa apontar para Cristo. Ela precisa apontar para uma outra verdade que os gregos já falavam sobre isso; eles só não citavam Cristo, mas davam essa ideia. Então, a obra me ajudou. Foi a pergunta que eu fiz para o Augusto. Assim, não sei se te ajudou na questão da terapia, mas eu já usei uns dois exemplos. Hoje, eu atendi pacientes e tive que usar, não que eu tive que, eu consegui utilizar dois exemplos, dois
trechos importantes de obras. Porque, no fundo, no fundo, a gente tem essa dificuldade às vezes de mostrar essa centralidade de Cristo, o quanto ela existe dentro da filosofia, o quanto ela existe dentro da literatura, o quanto ela existe enquanto articulador de todas as coisas. Isso, às vezes, é difícil da gente conseguir fazer, principalmente na nossa profissão, e o livro ajuda muito nesse sentido, muito mesmo. Assim, é impressionante como facilita a nossa vida. Ele pega um atalho, digamos assim, com, enfim, uma quantidade enorme de citações que eu poderia ficar aqui horas e horas. Anotei várias aqui,
fui circulando e foi, etc. Não aqui, né, no PDF que eu recebi. Só o PDF. Estou me sentindo lesado aqui nesse sentido, de sacanagem. Não, mas eu gostei muito, assim, de perceber que isso que o Augusto colocou, que a obra é muito clara sobre a questão da centralidade de Cristo. Uma coisa que eu queria te perguntar... Assim, e, enfim, a gente precisa comentar sobre essa questão e eu percebo a presença muito forte de três... Nomes assim não citados, mas de forma que preambula a maneira que forçam a coisa como um todo é porque a ideia
é a mesma, precisam de alguma maneira aparecer. Mas é o fai do João Paulo I, né? A fé, verdade e tolerância do Bento XV e a própria presença de São José Maria Escrivá, né? Ou seja, o trabalho filosófico, enquanto formato de oração, tem um trecho que você deixa esse pensamento assim: “F, caramba! É mais ou menos esse o caminho.” De fato, é menos citado. Se não tivesse sido citado, aí eu concordo que seria talvez um lapsos até grave, mas o Papa Bento XVI eu cito logo no começo. De fato, a fé, verdade e tolerância, principalmente
aquela parte em que ele fala dos Profetas de Israel, em que ele fala da busca pela sabedoria dos livros sapienciais, aquilo ali me chamou muito a atenção. Aquilo eu cito logo no começo como quem lê a Bíblia. Inclusive, eu queria deixar um anúncio, antecipar que em agosto, provavelmente, eu vou voltar a Goiânia para meu curso presencial, Imersão Católica na Bíblia, que é o livro que eu mais estou estudando agora. E quando eu estava concluindo esse livro, eu pensava entre Sófocles e Santo Agostinho: “Está faltando alguma coisa,” que é exatamente a revelação bíblica. E eu pensei:
“Mas puxa, como é que eu vou falar da Bíblia? Eu tenho muita coisa escrita sobre a Bíblia, tenho muitos textos.” E aí falei: “Bem, eu vou transformar.” Acho que são umas oito ou sete aulas do clube de leitura, O Cristão no Mundo Moderno, que foi meu primeiro clube de leitura de 2023. Foi sobre três filosofias de vida do Peter Kreeft, que fala do Eclesiastes, do Jó e do Cântico dos Cânticos: a vida como vaidade, a vida como sofrimento e a vida como amor. E São José Maria Escrivá certamente, os dois momentos que, assim, de memória,
eu lembro que fala dele são no prefácio da Vida Intelectual. Porque eu teria, eu apostaria boa parte da minha biblioteca, que é o meu maior patrimônio, que nosso Padre leu esse livro, A Vida Intelectual, de São José Maria. Eu apostaria isso. Eu não cheguei a nenhuma referência biográfica desse fato, porque o quanto ele valorizava a vida intelectual, o quanto ele claramente tinha vida intelectual: “Dizer que uma hora de trabalho é uma hora de oração.” Dizer que em todo centro do Opus Dei tem que ter uma sala de estudo, isso é alguém que tem muita piedade
intelectual, que tem muita... Dizer, a doutrina sem piedade é incapaz, mas a piedade sem doutrina também é estéril, né? Aquele ponto de suco: "Só poderás evitar os micróbios que conspurcam o jardim do teu apostolado intelectual se fores piedoso." Então, e o sangue é isso, e eu chamei o primeiro ensaio A Espiritualidade da Inteligência, que é uma coisa que eu procuro viver, é uma coisa que é a minha vida, de fato: fé e razão. Fácio não tá aqui, Jorge, mas este tu tens. Não foi em PDF no meu primeiro livro de ensaios, A Crise da Cultura
e Ordem do Amor, que eu vi na tua casa, tua biblioteca. A epígrafe deste livro é do filósofo Zaré. "É sim, a fé e a razão são como que duas asas pelas quais o espírito humano se alça para a contemplação da verdade." Então concordo plenamente. E depois eu cito São José Maria Escrivá no ensaio sobre Gustavo Corção. Sim, esse livro eu recomendo. Eu recomendo os 16 livros. Eu vou fazer o lançamento em São Paulo, na paróquia. Fazer três lançamentos em São Paulo. São Paulo tudo é megalomaníaco, né? Então lá são três lançamentos, e lá três
lançamentos com 500 pessoas. Tudo é assim em São Paulo. E um deles, e eu sempre aqui, eu quero fazer assim essa mesa em Belém, vai ser assim também. Mas lá eu vou escolher um tema e dar uma palestra sobre um tema, e um deles vai ser Dante, né? Porque é o maior ensaio, né? Vai ser na Paróquia Nossa Senhora do Brasil, vai ser em duas horas. Então eu escolhi, e ela falou assim: “Qual o senhor escolhe?” Eu falei: “Eu já escolhi os 16.” Então eu escolheria todos. Eu já escolhi qualquer um. Eu amo qualquer um,
falaria por duas horas, mas o Gustavo Corção eu queria sugerir porque lá pelas tantas, ele narrando o processo de conversão e as idas e vindas intelectuais e existenciais, morre a mulher dele, né? Aquele capítulo é um negócio impressionante. Assim, o que um homem sem fé pensa diante da morte? O que um homem vazio, um cientista, pensa diante da morte? Ele era um engenheiro químico, engenheiro eletrônico, sei lá. Ele tinha um trabalho burocrático, era um homem de máquinas, um homem que pensou muito profundamente sobre a técnica e como a técnica desumaniza e mecaniza a vida. E
depois ele fala da esperança ativa e da fé operativa no meio do mundo e que nós temos que santificar a realidade do trabalho. Falei: “Pera aí, pera, pera aí, Gustavo Corção falando isso! Santificação do trabalho?” Aí, na hora, eu falei: “Pera aí, eu vou, eu provo, né? O mato cobre o pau.” Falei: “Isso aqui está em completa consonância com a famosa homilia de São José Maria Escrivá: amar o mundo apaixonadamente, amar o mundo apaixonadamente.” Eu cito aqui, sim. Então eu fiquei assim muito impressionado, né? O capítulo sobre a esperança, salvo engano, é muito bom esse
livro do Gustavo Corção, e tem uma vantagem sobre todos os outros: ninguém talvez tenha notado isso, é o único livro escrito em português. Sim, sim, verdade! E por isso é mais nosso, é mais próprio, é mais íntimo, é mais próximo. Do que um livro de escrito italiano no século XII, do que um livro escrito em latim no século IV, do que um livro escrito em grego no século VI antes de Cristo, como é a Ilíada de Homero, ou século V antes de Cristo, como é a Antígona, de Sófocles, ou a Bíblia, que foi escrita, o
Livro de Jó em hebraico antigo, o Eclesiastes em hebraico e o Cântico dos Cânticos em hebraico, estão todos em hebraico. Pensei que fosse o Eclesiastes; acho que foi em grego, né? Então, são muito distantes de nós, mas, ao mesmo tempo, tão próximos, tão reais. Essa é a ideia: esses livros estão presentes na nossa vida. E você achou algum trecho do livro para terapia? Eu pensei que, imediatamente, não. Pô, assim, como assim, né? Pergunta assim do nada, né? Mas eu lembrei agora, por incrível que pareça, ontem. Ontem foi segunda. Ontem à noite eu estava com o
livro do lado. É tão interessante porque, na terapia, existem dramas, dificuldades e dores muito variadas, né? Desde a dificuldade de lidar com um filho adolescente até a dificuldade de algo mais profundo. E, curiosamente, o livro estava assim do lado. Um paciente católico, em início de conversão, a gente aborda vários assuntos de família, mas, por acaso, ontem ele perguntou que queria conversar um pouco sobre a existência de Deus porque ele estava se sentindo meio mal e não tem muito com quem conversar sobre isso. E eu peguei um trecho do livro, eu li o livro, eu lembrei
agora, e do Peter Kreeft. Ele fala três filosofias da vida, que ele fala da luz como o melhor símbolo físico para Deus. Isso é maravilhoso, né? Tem duas formas de se chegar a Deus: pela razão e por Cristo. Assim, a gente tem duas maneiras interessantes de chegar nisso. Mas é só um pequeno comentário. Ele explica por que a luz é o melhor símbolo. Ele fala que a luz não pode ser iluminada; a luz não pode ser vista em si mesma, né? Ela bate aqui, a gente vê as coisas, mas a gente não vê a luz.
Mas ela é a condição para que tudo seja visto. É muito parecido isso com Deus, né? Ele não pode ser visto, mas é a condição para que tudo seja visto. E, ao mesmo tempo, ele está totalmente presente, e a gente não o vê, né? E ele quase que, em sua humildade, some para que as coisas brilhem, não é assim? Então, eu peguei, curiosamente, eu peguei o livro para ler, mas eu queria citar um trecho que eu acho que é interessante, do como Jorge passou a bola do coração, em que ele fala de ter uma atitude
consequente. E eu acho que isso é ter o coração em chamas e que eu acho que tem algo de interessante. Ele fala que, quando a gente olha para Cristo, é Deus ou ele não é Deus, e esse amor à sabedoria envolve a gente olhar essas coisas. Não é um fato curioso? Eu fui me aproximando dessas coisas; eu não era católico e eu cresci com certo desprezo ao cristianismo, como é muito próprio de jovens que estudam hoje em dia para o Enem, não é? E eu me lembro de fazer um arco, mas me lembro que eu
quero falar do coração senão... E eu lembro do Jordan Peterson, que era sempre um anfíbio entre o paganismo, o esoterismo e o cristianismo, e como ele não era católico nem cristão. Eu achava legal ver o Jordan Peterson, né? Porque assim eu não tinha o nojinho, etc. E eu vi no livro ele comentando: acredite ou não, goste ou não, mas a Bíblia tem as verdades mais profundas que existem sobre o ser humano, incomparáveis com qualquer outro livro de psicologia. E aí, eu a Bíblia, e eu gostava do Jordan Peterson. Então, quando ele me falou isso, eu
estava muito de guarda baixa, sabe? Assim, se fosse um padre ou um pastor falando, ia ser um pouco mais complexo, né? E eu fui; aí eu quis estudar a Bíblia porque eu achava muito bonito o simbolismo que ele falava. Eu falava: "Ser cristão? Cristão eu não quero". Mas eu queria falar bonito, sabe? E aí eu comecei a estudar a Bíblia para tentar falar bonito. Algo muito curioso aconteceu, que eu não estava entendendo nada, né? Eu abri o Gênesis e o livro se fechou. E eu não estava entendendo nada. E eu comecei a me sentir de
uma burrice estarrecedora. E essa é a característica de um livro espiritual, né? A gente precisa ter a devida humildade. A porta é baixa; você tem que abaixar para entrar, entendeu? Se você está... você fica batendo a cabeça, você não entra. E foi assim que eu fui lendo outras coisas, o Chesterton, o Padre Paulo Ricardo, e fui me encantando com o cristianismo. Mas eu fui bebendo do cristianismo e fui descobrindo que já tinha sido descoberto. Para citar novamente o Chesterton, e eu descobri o que tinha sido descoberto, mas estava faltando uma peça muito importante, que era
quando eu olhava as religiões. Acho que isso é importante que cita o livro e tem a ver com esse ponto. E ele comenta que é impossível que as religiões sejam todas iguais, né? Que hoje em dia a gente comenta isso. Não, mas as religiões são igualmente boas. Aí o Chesterton comenta, mas normalmente quem diz isso não entende nada, nada de religião, porque é justamente no fundo que as religiões são diferentes. As pessoas comparam as religiões mais ou menos como elas compararam os jornais. Olha só, elas têm escritórios, editores, prensa, papel, etc. Mas dizer que elas
se parecem por isso é só dizer que elas concordam nos métodos. Pra gente conhecer as religiões, a gente deveria... Ler o jornal e a sua essência é a gente descobrir que tem um jornal que é comunista, outro que é conservador, outro que é sei lá o que, nazista, etc. Eles são muito diferentes. Quando a gente olha as religiões, a gente percebe que elas têm templos, porque algum lugar tem que ter, né? A gente tá no espaço-tempo que elas têm livros, porque alguma coisa escrita tem que ter; que elas tenham oração, porque você não vai falar
com Deus por carta. Mas, na essência, elas eram muito diferentes, e eu tava muito confuso de tentar entender esse pilar em que elas eram diferentes, porque vários pontos são parecidos e elas normalmente são parecidas em lei natural. E já tô amarrando o pensamento, por exemplo, em várias religiões a gente aprende a honrar os pais. Em várias religiões a gente aprende a dar cesta básica, e a gente não precisa de religião para isso, né? É só pensar um pouquinho que a gente chega lá. Agora, é próprio da religião que se fale de Deus, do pós-morte e
da salvação da nossa alma. E eu, que não vinha do cristianismo, percebi que faltava um ponto, e que foi um ponto que o Gustavo Corção e que o Vittor enfatizam ali de maneira muito bela. Que é: quando alguém falar para vocês assim: "As religiões são todas iguais", tem uma pergunta que acaba com esse papo inteiro. Sabe assim, aquele pessoal que todo mundo diz: "Ah, todo mundo tá muito bom, cada um com a sua!" Não é assim. Claro, cada um tem a consciência individual da busca própria, né? Só nós conseguimos dar essa resposta diante de Deus.
Mas tem uma pergunta simples, e queria finalizar com esse ponto que é: "As religiões são todas iguais?" Como que refuta isso? É muito simples, muito, muito, muito simples. Você faz uma pergunta assim, tá todo mundo na mesa: "Quem que é Cristo para você?" Porque quem nele crer não será confundido. Não é isso? Para o cristianismo, Cristo é o próprio Deus encarnado, e não existe nenhuma outra religião ou pessoa fora do hospício que tenha dito isso, né? O Buda nunca disse que era Deus, Allan Kardec nunca disse que era Deus, nenhuma outra religião. Então, Cristo, para
o cristianismo, é Deus; para o judaísmo, é um blasfemo, um criminoso; dependendo, para o budismo, é alguém bom; para o islamismo, um profeta inferior a Maomé; para o espiritismo, de onde eu venho, inferior a Allan Kardec. Olha só que curioso! Então, Allan Kardec não dividiu a história do mundo e nem da França, né? Onde foi esquecido e especialmente lembrado no Brasil, tem vindo as novelas da Globo, e é verdade, é verdade. Então, o Gustavo Corção comenta isso, tem um homem que disse que era Deus. Ou isso é verdade ou isso é mentira. Ele não tem
nenhum ensinamento normal, até o ensinamento que todos dizem: "Ame ao próximo como a ti mesmo". É assim: "Ame a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo." Mas a mim vocês têm que amar, me amar mais do que vocês amam a esposa, o marido, os filhos, senão vocês não são dignos de mim. Já pensou se eu falasse isso? Se o Vitor falasse isso, né? Vocês têm que me amar acima de tudo, porque só o Criador pode exigir isso, ou um demônio encarnado, ou um psicopata. Ou seja, é impossível que ele seja
um bom homem. Ou ele é o próprio Deus, ou ele é um louco, ou ele é um mentiroso. Aí estava o Corção falando disso, que era o que o pressuposto. Ele fala: o amor à sabedoria. É assim: se Cristo é Deus, a minha vida é dele. E não tem o que fazer; a minha vida é dele. E se eu me convencer que ele não é Deus, que nos embebedo, que a gente se drogue, que a gente faça as maiores orgias, porque essa vida é uma grande palhaçada, não é assim? É interessante pensar nesse amor à
sabedoria, no sentido de quais são as verdades que me comprometem existencialmente. E foi lendo o LS que eu percebi isso, e foi algo que mudou minha vida. E percebi: caramba, Deus entrou na história! E se isso é verdade, o mundo é muito mais interessante, né? As nossas impressões, elas são primárias, elas são como que o balbucio de uma criança. A gente vê um Santo Agostinho e fala: caramba, é tudo tão bem formulado, tão bem organizado, tão bem dito. Quem não foi um devasso na nossa geração é difícil encontrar, mas você não conseguiu ser mais devasso
de Santo Agostinho, porque Santo Agostinho não dormia desacompanhado nenhuma noite no seu auge! Haja saúde, hein? No seu auge! Isso é impressionante! Era um homem, e você pode ter sido vaidoso, mas você não foi mais vaidoso do que Santo Agostinho. Sabe por quê? Porque ele tinha motivo de ser vaidoso! Ele era o professor de retórica do imperador. Tá bom, em Milão, era a capital imperial, e foi professor do prefeito de Milão, que era a capital imperial, não do imperador. Então, e não foi pouca coisa. É como se eu fosse professor do governador de Nova York,
assim, sabe? Eu, molequinho aqui do Brasil e lá ele, da África. Então ele tinha motivo de ser vaidoso, ele era realmente um homem brilhante. Ele falou assim: "Mas eu preciso de humildade, e a verdade não se revelará em mim enquanto eu estiver submetido à carne." E ele encontrou alguém da altura dele: São Paulo. Os dois grandes convertidos: São Paulo do judaísmo, Santo Agostinho do paganismo, embora também tenha tido formação católica inicial. Então, o fenômeno da conversão de Agostinho é um convertido. Acabou de dizer aqui. Não sei se o... Jorge é um convertido, ou se considera
um convertido; pode até falar sobre isso, né? Eu disse que eu sou um reconvertido. O convertido fala: "Caramba, essa verdade estava aqui tão clara e eu não percebia essa verdade tão reluzente." E passa a ser um dever do convertido compartilhar essa verdade contemplada. Como dizia São Tomás, caridade é compartilhar as verdades contempladas; é o que eu tento fazer pela caridade que eu recebi desses autores. Então, ao conhecê-los, eu me senti na obrigação de compartilhá-los. É como se eu pudesse gritar e trombetear do alto dos telhados: "Leiam esses autores!" E se vocês dissessem: "Mas eu não
entendo", então tá bom, eu vou lhes explicar. Tá aqui, tá aqui nas minhas aulas, nos meus vídeos. Eu lembro que eu cito Tonchin numa passagem desse mesmo capítulo sobre o sofrimento. Ao falar da Cruz, começa na página 134. Por favor, prestem atenção nesse trecho: olha que trecho poderoso e olha que opção necessária na vida. A grande diferença entre um cristão e um pagão no sofrimento é que, para o cristão, todo o sofrimento provém de fora, vale dizer, é uma provação permitida por Deus para autopurificação e santificação. Para o pagão, o sofrimento é interior; está em
sua alma, em sua mente, em sua consciência e no seu inconsciente. É de tal maneira parte dele que se torna um inferno, embora esse inferno frequentemente receba o nome de ansiedade ou frustração. O cristão recebe o sofrimento e até mesmo fala sobre ele como proveniente das mãos do crucificado. Por isso que, pra gente, sofrimento chama-se Cruz. A gente costuma chamar de "estou passando por uma cruz", "tenho a minha cruz", né? Essa é a linguagem mística do sofrimento pro cristão. O pagão cria o sofrimento, uma vez que não consegue ver seu lugar no universo, dado que
nega o seu egoísmo e, dado que cancela seu amor pelo prazer. Ou seja, o sofrimento nega o seu egoísmo e cancela o seu amor pelo prazer; ele gera o inferno dentro de si. As cruzes que vê de fora são suportáveis; as duplas cruzes interiores são insolúveis. No último caso, mesmo onde há uma crença nominal em Deus, o sofredor inconscientemente revelará seu egoísmo com a queixa: "Por que Deus está fazendo isso comigo?" É um trecho do Fulton Chin grande que me ocorreu ao falar do símbolo da Cruz, sim, que é esse símbolo tão poderoso da fé
cristã. A contraposição do símbolo da cruz com o círculo... Eu acho esse trecho de uma beleza esplendorosa e fico muito feliz dos trechos serem citados. O Chesterton comenta essa disposição do amor à sabedoria, comparando a cruz com o círculo, né? Quando eu li a ortodoxia, eu vinha de filosofias mais orientais do espiritismo, mas passei pelo estoicismo e várias coisas, veganismo, né? Então, várias coisas aí muito, muito variadas. Você vê que a gente tentou, a gente tentou, né? E foi muito curioso, porque eu li o capítulo do lunático e eu descobri que eu era um louco.
Não é impressionante? Ele fala: "O louco não é aquele que perdeu a razão; é aquele que perdeu tudo, exceto a razão." E ele comenta que o símbolo do louco é o símbolo do círculo, que é o mesmo símbolo das religiões orientais do eterno retorno a si mesmo. Sara, que curiosamente é um símbolo autodestrutivo, aquela d'oru boros da cobra que come a si mesma, e curiosamente é o símbolo do zero, do vazio. A cruz, por outro lado, ele fala: um círculo é infinito, mas ele é pequeno como a cabeça de um louco. As ideologias não são
assim; as pessoas olham pra realidade, elas pegam um argumentozinho tosquinho e repetem infinitamente, infinitamente. E fala: o problema do louco não é que os seus argumentos não são coerentes, mas que não são tão amplos. Apesar de uma moeda ser infinita, ela é pequenininha. Por outro lado, a cruz carrega uma contradição no coração, não é isso? E por carregar uma contradição no coração, estende os seus braços ao infinito. Isso é muito bonito. Aí a gente olha e fala: "Cristo é homem ou Deus?" Verdadeiramente homem, verdadeiramente Deus. Uma contradição infinitamente justa, infinitamente misericordiosa. Deus nos ama infinitamente
a ponto de nos dar uma vida divina e respeita imensamente a nossa liberdade a ponto de nos deixar nos perdemos eternamente. Então, essa é a cruz. E, curiosamente, ela dá soma, né? Enquanto o zero é esse símbolo do eterno retorno a si mesmo, e é muito bonito esse amor à sabedoria nessa disposição de abraçar as contradições. Eu lembro que nos meus estudos juvenis eu queria que as coisas se adequassem à minha cabeça e aí ele fala que, quando o poeta só quer colocar a cabeça no céu, o enxadrista quer... o matemático quer colocar o céu
na cabeça e a cabeça que estilhaça. Aí a regra é: se um adolescente normalmente concorda com a ideia, a ideia provavelmente não é muito boa, né? Então, acho que a cruz tem essa beleza que eu queria mencionar. É filosófica, é teológica ou é poética? Os três, os três ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo, qual é a disciplina que se estuda na universidade para explicar isso? O que o Augusto disse? Não tem, não tem. A filosofia poderia... O Chesterton é filósofo, o Chesterton não é teólogo, é o Chesterton, é escritor, literato, poeta. E, no mundo moderno,
mas vamos classificar, né? Qual vai ser a ficha catalog? O pragmatismo moderno é terrível, né? Não é nem o pragmatismo, mas é a fragmentação cartesiana de querer categorizar e querer... é exatamente a cruz que expande, é inclassificável. E a linguagem é o pensamento. Olha o pensamento encadeado do Augusto com base em Chesterton, com base no ouroboros, com base na sua experiência. Ele não é um leitor de Chesterton como eu fui, porque eu não era vegano. Então, é claro que todo "não" não é um demérito; isso é glória de Deus. Eu nem me lembro de conversas
longas nossas sobre essa questão do veganismo, que tem coisas engraçadas, mas deixa para lá. Então, isso é um diálogo. Eu fico feliz vendo aqui; era o que eu queria. A gente não combinou, a gente está dialogando. Isso aqui é o livro. Quem está assistindo a essa conversa está apto a ler o livro. O livro é uma conversa de amigos sobre grandes temas e temas desafiadores, temas tão desafiadores que a gente precisa de símbolos como da águia, como da cruz, como do sol, porque depois, no capítulo do Peter Kreeft, eu volto a falar sobre esses símbolos.
Então veja, eu falo da montanha de cinzas de Jó no ensaio sobre a morte, mas volto a falar do Jó a partir do Peter Kreeft. Então, é o que abre a cabeça que vai se articulando e você vai pensando e refletindo e vai fazendo sentido. Em determinado momento você fala: "é isso! Eu tenho uma compreensão maior de Deus, eu tenho uma compreensão melhor da morte, eu tenho uma compreensão melhor do amor." Conversava com a E.V.H. pouco sobre o amor e a morte, que não passa por isso. Olha, saibam de uma coisa: as pessoas que vocês
mais amam podem morrer; podem morrer. Se vocês ainda não sabem disso, saibam. Eu imploro, eu suplico que vocês pensem nisso e também suplico que vocês pensem, uma vez na vida, que vocês vão morrer e que todos têm que responder a uma pergunta: o que acontece na morte? Não adianta ir para um médico, não adianta ir para um psicólogo, não adianta ir para um sociólogo, não adianta ir para um historiador. Você pode ir para um historiador e perguntar quais são as concepções da morte na tradição oriental, sem o coração na mão. Outra coisa é: olha, São
Paulo experimentou a morte. Para eu já morri; para mim morrer é lucro e viver é Cristo. Para mim viver é Cristo, morrer é lucro. Ele fala uma coisa impressionante: "Eu gostaria, meus caros Colossenses, de morrer; eu gostaria já de estar morto, só que por vocês eu continuo aqui trabalhando." Isso é uma experiência muito profunda; esse cara não estava brincando, não é um louco. Ele experimentou a vida eterna a partir da passagem da morte, que é a P. Então, isso é o que o livro traz; são esses mistérios contemplados, refletidos numa linguagem hora mais filosófica, hora
mais teológica, hora mais poética ou literária, mas na confluência e na convergência. Essa é a ideia: é um livro realmente fácil de ler, de verdade, porque essas obras que estão aqui não são obras tão exatamente fáceis de ler. A gente pode até falar assim: é porque às vezes faltam; não são. Tem algumas aqui que realmente dão um trabalhão para ler. Tem algumas, vai ler "A Divina Comédia". Eu tentei umas três vezes e não consegui. Aí chamei alguém para me ensinar como ler "Divina Comédia" e a forma como o Vitor coloca aqui facilita muito a vida.
Sabe uma coisa que eu percebi, assim, que eu achei fantástico? É que, ainda que seja uma obra sobre razão, sobre filosofia, uma obra que fala sobre a dimensão do amor, ele é absolutamente atual, assim, no sentido de que é a perda desse, no modernismo em que a gente vive, né? Essa dissonância entre a fé e a razão, elas causam consequentemente a perda do amor também, né? E o amor é o mecanismo de retorno disso, né? A união entre a fé e a razão vai acontecer exatamente pelo mecanismo do amor, ou seja, é pelo mecanismo do
amor como um todo, a palavra amor com "a" maiúsculo, né? É pelo Cristo que isso vai se dar, é pelo Logos. Acho bonito quando você cita o Frankl. O Frankl é um cara que me intriga, assim, e a forma como você trouxe ele traz uma clareza, porque o Frankl não era cristão, mas ele coloca todos os elementos necessários para que a gente declare Cristo como Deus e declare a cruz, o símbolo dela, como um todo, né? E você traz exatamente aquelas passagens ali que a gente... é esse detalhe do Frank. Você vai ler o Frankl;
você vai ler "Em Busca de Sentido", é um livro maravilhoso, é um livro incrível. Vai faltar aquela finalização. Você vai ler "A Antígona" de Sófocles; você vai ver alguns traços interessantes ali. Você vai, olhou os noivos? Eu achei interessante você ter citado os noivos, assim. Enfim, é um livro que me agrada muito, no mesmo traçado dos "Irmãos Karamázov", assim, a ideia de redenção, assim, o combate ao niilismo, né? O combate ao niilismo eu acho que é uma obra literária que tem esse propósito. E você vai vendo essas obras, você vai vendo essas coisas, como que
elas se interligam, como que elas se comunicam a partir dessa ideia do amor que vai unir a vida intelectual, a busca pela razão, a percepção de Deus a uma fé de uma forma muito simples, né? É um livro que gera conversão; honestamente falando, acho que é um livro que gera conversão. E sei que vocês o conhecem, o admiram. Eu tenho um carinho muito grande por ele. Os meus amigos são muito inteligentes e têm uma cultura muito vasta e, quando eu converso com eles, eles leem muito, leem muito rápido. Eu sou mais tartaruguinha, assim, para ler
as coisas, né? Essa é uma obra boa para dar uma driblada. Eu, você, um que leu muito, não. Mas eu, se eu não tiver uma caneta, nem me entrega o livro, que você não puder rabiscar. Mas o... Que que eu tô falando? Isso é, às vezes a gente tem medo de entrar em alguns conteúdos porque a gente quer ser eficiente em tudo hoje em dia, né? E é engraçado porque, por algum tempo, eu ficava um pouco triste de eu ser meio tartaruga nas minhas leituras. E, depois, eu aceitei que o que faz bem é o
meu método, né? Mas a gente é muito impregnado de eficiência e produtividade. A gente olha um livro desse e fala: "Meu Deus, como que eu vou ler? Eu não entendo isso!" Aí o professor Diego fala: "Se você quer morar dentro da filosofia, você tem que demorar, porque demorar é morar dentro." Então, a gente tem que aprender a se demorar nas matérias, a pregar o livro. Então, se você não pode se demorar num livro, por que que você tá lendo? Se você não pode se demorar num filme, por que que você tá vendo o filme? Se
você tem que botar em velocidade acelerada, por que que você tá assistindo, em primeiro lugar? Porque certamente tem pessoas que vão ter facilidade para ler o livro e vão ter pessoas que não vão ter tanta facilidade para lê-lo. Mas se você não tem, por que tem que ler rápido? Se demora! E a Nicole é o amor da minha vida, que está aqui, sabe muito bem disso. Eu estava citando aqui "Ortodoxia", mas isso vale para qualquer livro. Mas quando eu estava lendo, aí eu lia uma página, eu rabiscava, e aí as pessoas falavam: "Ah, eu não
entendi direito." Eu rabiscava e aí eu fechava e ficava... eu ficava andando em volta da mesa, querendo conversar com a Nicole. E a gente está junta há 14 anos, e eu falava com ela das coisas que eu estava vendo. Ela achando muito louco, né? Porque na época ela não tinha. Então, assim, demorem no livro, não tem problema. Primeiro pensa: "Quero ler ou não quero?" Você quer ler? Não tem problema, pega uma caneta. Demorou? Pesquisou, Google, chat GPT, pergunta para alguém. Não tenham pressa. As coisas vão fazendo mais sentido, né? Se tem uma palavra que você
não conhece, eu vou lhe apresentar o pai dos burros: o clássico dicionário, o anterior do século passado. Dicionário! Porque as palavras valem quanto pesam. É um desrespeito para o escritor quando a gente fala assim: "Ah, você escreve difícil, você escreve com palavras diferentes." Olha, foi a palavra que eu tinha na mão para usar, foi a palavra que cabia no contexto. Não foi frescura, não foi ornamento, não foi malabarismo. Não é esterco, não é cocô, entendeu? Esterco! Entendeu por que eu não usei cocô? Porque não é cocô, é esterco. Você sabe qual é a diferença? Se
você não sabe, vai pro dicionário. Você poderia ter usado a palavra cocô, ou merda, ou cagada. Não! Essas palavras têm outro sentido e elas cabem em outro contexto. Aqui é esterco. Por quê? Porque é uma referência a Filipenses. Aí você vai aprofundando: por que ele usou? Ele usou por um sentido, né? Então isso é importante: respeitar o autor. Muito menos eu, e muito mais São Paulo, porque São Paulo falou "esterco", né? Qual é a diferença entre cinza e pó? Que eu aprendi lendo lá o Jó. Então, atenção a isso! E não precisa ter pressa, porque
quando eu descobri isso, eu também tive a mesma epifania do Augusto. Caramba! Cinza e pó! Tem um trecho chamado exatamente "Cinza e Pó" no ensaio sobre "Thas de Cemps: A Morte que Prepara a Vida Pós-Cinza". Então, vão com calma, com paciência. Sem pressa! Sem essa, não faça igual aos outros: esse imediatismo de querer, como se eu quisesse colocar esse livro na minha cabeça nesse final de semana. Não, não dá! Não dá! Tem que ser perfeito, porque é amor. Você tem pressa a amar? Não! O amor deseja unidade, o amor deseja a presença, deseja a demora,
deseja estar temperado pela presença do amado, como ensina o nosso amigo Diego Reis. Então, o livro traz a presença dos autores e, ao mesmo tempo, de Deus, de quem eles, direta ou indiretamente, falam. Homero não fala de Cristo, mas vocês lendo... ele fala! É isso, exatamente no contexto antigo, não fala de Cristo, mas ela foi considerada uma "PR Marte" pagã. Por quê? Leiam, é interessantíssima a interpretação cristã da Antiguidade. Então, e pensem com calma: existe um sabor no saber. Olha, a gente tá aqui há 1h25. Eu não sei vocês, mas eu não tô nem um
pouco cansado. Ficaria mais duas, três, quatro horas, a minha vida inteira, e a gente vai continuar. Aliás, a gente tem que continuar uma conversa que a gente começou ano passado. A gente conversa de ano em ano, a gente não tem pressa. Sabe por quê? Porque os assuntos não vão prescrever! Porque os assuntos que a gente tratou são assuntos permanentes. Porque a gente falava sobre a felicidade, sobre o dinheiro, lembra? Sobre o poder, sobre o Apocalipse. Antes fosse quentes ou frios, mas como sou mornos... Vou vomitar. Eu citei essa palavra e o Augusto pegou um documento
que ele tinha feito de um pensamento que ele deu sobre essa ideia da subida e da descida, porque logo depois, essa é a Igreja de Laodiceia, mas depois tem a Igreja de Tiatira que fala sobre sido purificado no fogo. Isso, isso... Ah! Eu também ter pensado nisso. Claro que a gente precisa pensar no Apocalipse, que era um dos livros que o Dante tinha na cabeceira para escrever A Divina Comédia. Por quê? Porque se você não pensa no Apocalipse, desculpa, você tá perdendo um pouco de tempo na sua. Vida, porque tem uma verdade revelada no Apocalipse
para ser decifrada, muito profunda, sobre o fim dos tempos, sobre o que está acontecendo no céu agora. Olha, a minha filha está no céu, tá? Esse pensamento está na minha mente, no meu coração, todo dia, todo momento. Eu preciso saber como é o céu; teria que ter alguma pista, porque preciso imaginar lá. Ali tem uma descrição do céu, por exemplo, né? Então, o que eu faço com a dor que eu sinto pela ausência da minha filha? Bem, eu penso sobre a verdade na qual eu creio: da Igreja Triunfante no céu. E como você sabe disso?
Entre outras coisas, pelo Apocalipse. E você já esgotou o Apocalipse? Não, porque ele é inesgotável. Eu fiz uma live recentemente com o Padre José Eduardo sobre o Apocalipse e já anotei umas cinco ou seis coisas que eu não sabia. Claro que eu não sabia, graças a Deus, eu aprendi. Então, esse gosto pelo aprendizado, isso que é o amor à sabedoria, isso que é o amor à filosofia: cultivar a dúvida, cultivar, deixar aberto o horizonte. Vocês não vão fechar. Ah, li o seu livro e entendi a morte. Não! Porque alguém que disser que entendeu a morte,
de algum modo, tá mentindo, porque a morte é um mistério. E o fato de ser um mistério não quer dizer que nós não podemos pensá-lo ou não devamos pensar. Continua... É, vamos lá. Pergunta: alguém gostaria de fazer alguma pergunta, algum comentário? Eu acho que nós falamos referente a todo o livro. Eu acho que nós citamos... Olha, o Cange e o Jorge acabaram de mencionar o Frank, o Piper. Não foi diretamente falado, coitado, o Alfredo, tampouco. Mas eu não falei... Eu queria concluir então com isso: tem um ensaio sobre Nossa Senhora. O Gabriel, a morte, é
verdade... Nossa, é muito bom o ensaio, ou o livro, os dois! Os dois! Mas o ensaio, tá? Enfim, é o prefácio do livro do Padre Gabriel, "A Morte", chamado "Evangelho de Maria: a mulher que venceu o mal". São 31 pequenas meditações que eu suponho que tenham sido pensadas... Não tá no livro, mas eu digo isso no prefácio: num mês, um mês de companhia de Nossa Senhora. E o que me chamou mais atenção do livro foi o mote. Como é que eu faço um prefácio? Para vocês entenderem, eu leio o livro ou releio, se eu tiver
tempo, e proponho uma ideia central, uma ideia que me parece nuclear. Nesse caso, me chama muito atenção o que ele fala sobre o silêncio de Maria, sobre a presença silenciosa de Maria, presente nos momentos centrais: na Encarnação, na crucifixão e em Pentecostes, né? E aquele trecho sobre o silêncio de Maria me remeteu a São José Maria Escrivá, como é muito costumeiro, porque ele tá no meu coração, e ao grande Cardeal Robert Sara, num livro extraordinário que poderia ou deveria estar aí como título primário, que é "O Poder do Silêncio: Contra a Ditadura do Ruído". Este
é um livraço; esse é um livro extraordinário. Eu tive vontade de calar a boca e nunca mais falar depois que eu li. É verdade, porque a gente é muito locuaz, a gente é falastrão, todos nós. A gente não entende nada porque a gente tá falando; é por isso que a gente não cala a boca. Né? Eu lembro do Santo Antão do deserto. Santo Antão do deserto decidiu—e já era—já era santo, já era um homem perfeito. Escutou aquele evangelho: "Quer ser perfeito? Vá, vende tudo, dá aos pobres e me segue." E, na época, isso significava ir
pro deserto. E tinham acabado as perseguições, o martírio autoimposto do deserto, né? Ficar só em oração. E ele foi e falou pra irmã: "Eu vou experimentar a vida monástica." Ela falou: "Vai, vai por cinco anos e não diga a ninguém onde eu vou, porque eu não quero falar com ninguém. Eu quero ficar cinco anos calado." E ele voltou. E ela falou: "Ah, você voltou." Ele falou: "Não voltei para me despedir; agora eu nunca mais volto." E voltou e passou mais 60 anos calado! Só que encontraram... Ele se encontrava no deserto do Egito. E eles fugiam
e ele se encontrava, até que o Bispo de Alexandria, o grande Santo Atanásio, que lutou contra os arianos, né? O encontrou. E ele queria ficar calado, ele não queria falar nada, né? Então, o silêncio tem um poder muito grande. Por que a gente faz retiro de silêncio? E, por São José Maria, ele falava do silêncio como porteiro da vida interior. Você tem que passar por essa porta do silêncio para entrar; senão, você sequer entrou. Para usar uma outra imagem célebre, na primeira morada, você não sequer entrou; você sequer começou a penetrar o castelo da sua
alma, como Santa Teresa dizia. Então, o silêncio de Maria foi a chave para eu interpretar o ensaio do Gabriel, "A Morte", citando o Roberto Sara. Então, isso é assim que são os ensaios: eu vou articulando, vou comentando, vou explicando, aí me ocorre outro livro. Eu tô revivendo com vocês o processo criativo dos ensaios: Gabriel, "A Morte", o Hugo Langoni, que é o meu amigo, que vai estar em São Paulo comigo na semana que vem, que é editor da Quadrante e da Petra, que é essa editora que publicou esse livro. Aí eu pensei: o silêncio de
Maria me pareceu mais destacado do livro. São José Maria fala do silêncio, Roberto Sara fala do silêncio e eu lembro também do Michel Gasnier, que fala de São José, o silencioso. Aí eu pego aqui os capítulos do Gabriel, "A Morte", que fala sobre São José e a relação íntima, indissociável de Maria. E como eu posso anotar que também ele era silencioso, mais do que ela, porque não tem nenhuma palavra... Não dele nenhuma palavra dele nos Evangelhos, nem zero. A de Maria tem muito poucas palavras e São José tem zero palavras. Mas por quê? Porque este
sim não precisava falar nada. Este porque não tinha o que falar; não porque entendeu que a palavra é inútil para quem age, para quem consegue se comunicar plenamente. E alguém cuja ação é suficiente, cuja presença é suficiente; o Senhor não precisava falar nada. Então, isso é extraordinário. Isso é extraordinário: humildade, humildade de estar diante de Deus e se saber um nada, um pó, a cinza, e ao mesmo tempo desejo irrefreável de encontrá-lo. E o Jorge tem razão, isso se dá pelo amor. Por isso que amor é a palavra-chave; o amor que reconhece a sua pequenez
e a condescendência de Deus que se rebaixou até nós. Isso também está em Filipenses, não em Efésios, perdão; kenosis e a humildade de nunca desistir, nunca parar. Porque você nunca vai colocar o sol no seu bolso, você nunca vai colocar o sol, você nunca vai olhar para o sol. Mas você pode humildemente buscar nos reflexos, nos eclipses lunares. Talvez, o primeiro ponto: a morte ser um tabu é sinal de duas coisas, na minha opinião, de uma sociedade milpe, caolha, cega sobre o mais importante, que como o Augusto falou, quem não se decidir sobre isso pode
errar muito gravemente. Então, a gente tem que ser consequente: se não há Deus, comamos e bebamos, porque o fim é iminente. Como o próprio São Paulo cita, o trecho do Coríntios, que eu cito sobre isso, é: ele fala daqueles bacanais, daquelas orgias. Eles estavam certos; a vida é um pacto de diversão, é só para a glória desse mundo. Que cremos em Cristo Jesus, somos de todos os mais dignos de lástima, né? Exatamente, faz nenhum sentido se Deus não existe. E não pensar nisso é uma negação tosca. Sim, quer dizer: ah, a morte não é nada,
a morte é só o fim e ponto. Então, é melhor nem falar nela; é como falar do fim da festa. O fim da festa não é nada, é só acabar e voltar para casa. Não, pera aí; o que vai acontecer no fim da festa? O que vai acontecer quando eu voltar para casa? Onde eu vou dormir? Isso é importante! Como vai estar minha ressaca amanhã? Tudo que nós bebermos hoje terá consequência no nosso corpo, imediata e posteriormente. Tudo que nós comemos, ingerimos, terá consequência no nosso corpo: algumas menos relevantes, outras mais. Se eu me drogo
aqui, com cheiro de cocaína, heroína, isso vai ter uma consequência, uma bomba de reações, não é? Então, é claro que a morte e o momento da morte são decisivos para quem reconhece que ela não é o fim. E quando a gente torna a morte um tabu, a gente está colocando, de fato, sol atrás da peneira e dizendo: não pensa num amanhã. Mas amanhã vem a ressaca, ou então, amanhã vem a disposição. Eu estava falando com o Jorge, com a Thí; hoje eu adoraria ter tomado um vinho hoje no almoço. Eu adoraria tomar um vinho agora,
mas eu não vou, porque eu vou trabalhar, vou dar uma palestra. Meu rendimento cai. E se você morre bêbado, eu falo: exatamente isso. Se você quiser ler o trecho que eu falo sobre isso, eu vou ler só para mostrar como o nosso diálogo faz sentido. "Esquecimento da Morte", página 101. Olha o que eu digo aqui: imagine-se, não, desculpa, imagine se no meio das férias você se embriagar, esquecesse da sua identidade formada no passado e projetada no futuro, o crítico e o roteirista, e procurasse viver o momento presente do ator, de modo autonomizado e absoluto, como
no ideal epicurista do carpe diem. Carpe diem com a mínima crédula postera. Horácio, ao voltar das férias alienantes e evasivas, você se depara com todos os seus compromissos existenciais frustrados, sua família, seu trabalho, e seus amigos, que foram abandonados pela embriaguez presentista e imediatista. Você se arrependeria amargamente de ter perdido a consciência da unidade entre passado, presente e futuro, que compõe a biografia humana na Terra. E isso é muito importante, porque a morte é a ela que garante e consuma a unidade da vida. A morte cristaliza um todo compacto, tornou-se agora aquilo que sempre foi,
pois não muda mais. Quando você morre, quem você é em todos os momentos constitutivos da sua vida e não apenas no momento, por mais importante que ele seja, relevante que ele seja. Mas o Jorge morreu; ele é o Jorge diante de Deus. E o Jorge não é só o palestrante, o professor, o escritor, o terapeuta, o marido, o filho, o pai, o amigo, irmão, sócio, profissional; é o Jorge numa unidade compacta que só Deus pode conhecer, porque para nós ele é apenas uma parte. Por isso que São Paulo diz aos Coríntios: "Por enquanto vemos em
parte, mas então veremos Face a Face". Por quê? Depois ele explica: "Porque por enquanto vemos como no espelho embaçado; mas então veremos como somos vistos e conheceremos como somos conhecidos". Por quem? Por Deus. Do mesmo modo, a vida cristã abrange o encontro com Cristo no momento da morte, com o qual se inicia a vida eterna, no inferno ou no paraíso, sendo que alguns só alcançam o paraíso purificando seus pecados no purgatório. Aqui eu tinha escrito uma nota grande de escatologia, resolvi tirar tentando explicar um pouco purgatório, mas eu pensei que não caberia. Com base naquele
livro do Garg, "Homem à Eternidade", os sábios cristãos de todas as épocas, de todas as épocas, no século XX, São Paulo no primeiro século, como autor de "Meditações sobre a Morte", que é o "Tomás de Kempis" no século XV, seguiram o conselho do Mestre Cristo e advertiram os homens a não serem como os... "Tolos que ignoram a morte e pretendem fluir dos prazeres desta vida como se eles não tivessem ressonância ou ressaca eterna. Porque amanhã eu vou acordar, eu espero bem disposto, alegre, agradecido. Vou mandar uma mensagem para os meus amigos agradecendo, vou repostar os
posts que vocês vão postar me marcando e dizendo que compraram o livro que está em promoção na minha livraria, que o livro já mudou a vida de vocês. Fecha pares! Então eu vou acordar agradecido, alegre, satisfeito, disposto. Vou à missa, vou fazer minha oração, vou tomar café e vou dar a minha palestra, ou eu vou estar embriagado no quarto de motel com uma prostituta que eu não conheço, renunciando a quem eu sou e de tudo que eu construí ao longo dos 389 anos de vida. É uma opção, não é? Como é que eu faço isso?
Eu tomo um vinho, eu tomo um segundo vinho, eu começo a perder a consciência. Eu posso fumar um charuto. De repente, vem uma mulher bonita e, de repente, eu posso trair toda a minha vida, eu posso esfacelar a minha vida e eu posso morrer assassinado, roubado, num motel de um subúrbio de Goiânia. Não é verdade que isso é possível? Claro que isso é possível, não é? Então a morte é o que põe diante de quem eu sou. Eu não sou este embriagado com uma prostituta no subúrbio de Goiânia. Eu sou este amigo do Jorge, do
Augusto, no Moscato. Então, quem eu sou só é plenamente revelado diante da morte. Por isso que a Ave Maria, que é a oração mais rezada por causa do terço, a gente diz: 'Agora e na hora da nossa morte.' Esses são os únicos dois momentos que existem. Isso mesmo! E aí você pega o epicurismo e o estoicismo. O estoicismo, no caso de Marco Aurélio, tem sabedoria, é inteligente, é profundo, ensina alguma coisa? Sim, mas, quando você compara com o cristianismo... Então, hoje me perguntaram lá. Eu fui muito educado porque eu entendi o contexto em que eu
estava. O que eu achava do estoicismo? Muita gente desse mundo de coach, de ética corporativa, fala do estoicismo. E eu fui muito educado na resposta. Eu disse: 'Não é a minha filosofia que adoto e não é uma filosofia que entende o papel real das paixões na alma humana, porque as nega, porque as neutraliza.' Então, aí a gente vê que, ao invés de primorar, que existem degraus e existem níveis, e que essa filosofia, a meu ver, você compara Marco Aurélio, que era um perseguidor e chinou os cristãos, e um Santo Agostinho. Você vê um sábio e
um homem que ama a sabedoria! Não é que seja filósofo no sentido amplo, ou Epicteto, sem dúvida, Epicuro, são filósofos no sentido amplo, mas não encontraram a sabedoria total e profunda, que é esta. Aqui, no fundo, todo mundo busca Deus e todo mundo busca paz. Todo mundo busca a superação da tensão, da guerra. Era Tu que dizia: 'A guerra é a mãe de todas as coisas, de uns faz senhores, de outros escravos.' De fato, neste mundo, por isso Cristo falou: 'Eu não vim trazer a paz, mas a espada. Eu quero incendiar e incinerar a terra.
Que eu quero, senão que ela arda!' Ele está falando aqui, mas a glória do Paraíso é o local da paz. Então, esse ideal de ataraxia, de imperturbabilidade estóica, eu concordo contigo, no fundo é um desejo de Deus, um desejo de paz. O desejo de Deus acontece que a não sabe como alcançar a paz perfeita, que passa pela cruz, que passa pela morte, que passa pelo sacrifício, que passa, em outras palavras, pelo amor que é capaz de dar a própria vida. Isso ali não tinha isso, não alcançou. Por isso que ele não alcançou a paz, ao
passo que São Paulo, que encontrou a verdadeira paz, dizia: 'Alegro-me nos meus sofrimentos e considero que completo na minha carne o que falta nos sofrimentos de Cristo.' E, para mim, morrer é lucro; viver é Cristo. Isso é a paz! Esse homem estava na paz. Cristo estava em paz na cruz. Então, essa paz é o que os estoicos buscavam e todos os outros buscam. Muitos buscam na política. Acontece que a política nunca vai alcançar a paz. A gente falava do Kant hoje no almoço, né? O Kant tem um texto importante sobre a paz perpétua. Desculpa, Kant,
você procurou no lugar errado! Você propôs no lugar errado que a paz perpétua nunca vai se dar aqui. Ele queria paz perpétua. Quando eu falo pé, parece que é o paraíso! Não! Ele está falando da solução política para a guerra, por uma assembleia de nações, que foi na Liga das Nações e na ONU. É de Kant a substituição da Igreja. Substituição da Igreja! Isso mesmo, por um falso irenismo e pacifismo. O silêncio cristão como uma grande tristeza, né? E não há nenhuma palavra de São Paulo, sendo que São Paulo ensinou a Cristo a dar o
nome para o sol que Ele criou pela palavra, né? Então, é muito curioso como que ele tenha tamanho silêncio, quando ele ensinou a palavra encarnada a falar, né? Ao mesmo tempo, ele teve o seu silêncio. Chesterton, retomando, e hoje está inescapável. Ele fala do silêncio cristão, que o silêncio cristão não é como uma aparência pagã do silêncio do universo, como quem não está nem aí pra gente. A gente está aqui com a dor de barriga." Aí, o universo tá nem aí, né? O silêncio cristão, ele fala que é como você entrar no leito de um
doente. Esse ano, duas pessoas da minha família tiveram câncer do intestino. Estão muito bem, mas a gente teve essa experiência duas vezes. Na hora que você tá para entrar, você faz silêncio, não porque você tá triste e não por uma preocupação com aquela pessoa que não consegue compreender ou não é adequado que ela escute as suas alegrias. Seria muito estranho, né? A pessoa que tá doente e você fala: “Nossa, você não sabe o que aconteceu! Pô, ah, não, muito bom o trabalho da Maria!” A gente faz silêncio. Aí, ele tá olhando para Cristo. Eu me
lembrei disso de São Paulo, ele fala que parece que Cristo escondeu algo porque ele tinha silêncio. Parece que ele escondeu algo, mas não foram as suas lágrimas, porque ele não escondeu as suas lágrimas. Ele chorou a morte de Lázaro, ele também não escondeu a sua raiva; os históricos esconderiam tudo isso, né? Ele não escondeu a sua raiva porque ele quebrou as mesas em frente dos vendilhões no templo. Talvez a sua tristeza, mas ele não escondeu a tristeza, porque no orto das Oliveiras ele tava triste até a morte, suando sangue. Aí, o Chesserton olhando para tudo
isso. Mas o que ele escondeu? Ele fala: “Quanto mais penso nisso, eu me convenço de que o que ele escondia era o tamanho da sua alegria.” E é muito assim, não é? Se eu for falar uma piada que eu conversei com o Vitor, com o Jorge ou uma parte da minha vida com a Nicole, as coisas mais especiais a gente não consegue falar, né? E se a gente tem medo de falar e jogar pérolas aos porcos e as pessoas não entenderem, pô, tava tendo uma conversa muito boa, o que foi? Putz, não vai dar para
falar, né? Então, é como se o cristianismo tivesse esse silêncio em que cada um tem uma vida muito particular e muito íntima e que se a religião… Falei isso porque se a religião nos leva a um silêncio triste, tem algo errado na religião. Não, a religião de Cristo, de Deus, tem que nos levar à alegria sempre, ainda que de maneira silenciosa. Recentemente, eu tava… Bom, o livro fala sobre esse diálogo, né, sobre um… O livro, acho que ele é fundamentado sobre essa ideia de um diálogo. E eu me lembro que eu tava conversando com um
amigo, né? Estávamos tendo um diálogo exatamente sobre o filme, né? Ele é um cara muito dado à astronomia, etc., gosta muito. Assim, ele não é cientista; na verdade, ele é economista, mas ele gosta muito do assunto. E era um dia que eu tava para poder fazer uma palestra no dia seguinte, e no dia anterior, eu estava na mesa com ele, né? Estávamos conversando sobre buracos negros, né? Enfim, comentamos sobre o filme. E naquele momento, eu tava tentando fazer uma analogia sobre a ideia… A gente faz muito isso, né? Quem lê bastante, principalmente obras como essas
daqui que estão no livro, a gente o tempo todo tentando achar traços simbólicos no mundo. Acho que o Victor deve fazer isso o tempo todo. A gente tá o tempo todo olhando ao redor e tentando fazer correlações analíticas simbólicas o tempo todo. E eu me lembro que eu tive um insight, em algum momento da nossa conversa, depois de duas ou três taças de vinho, que era sobre a ideia de que o tempo e o espaço seriam uma coisa só. Na verdade, eles são indissolúveis; eles são uma só coisa, né? Então, você não curva o tempo
sem curvar o espaço, e vice-versa. Na verdade, ele é uma deformação na estrutura da realidade. A realidade, ela se deforma. Foi assim que Einstein descreveu isso no início do século, em 1905. A ideia é que se a gente transpõe essa ideia física de que o tempo e espaço são uma coisa só e, no fundo, no fundo, eles curvam a realidade ao seu redor para alterar a rota de alguém que passa por perto, no fundo, no fundo, o amor é como se ele fosse, do ponto de vista metafísico, a mesma estrutura da gravidade. A gravidade é
aquilo que curva o tempo, o espaço e altera a rota das coisas. O amor é exatamente aquilo que curva a biografia daquelas pessoas que passam perto daqueles que são capazes de amar. É como se fosse uma espécie de atração gravitacional; ele gera o movimento de conversão. Sabe? Enfim, foi só uma observação porque eu lembrei você, falou do filme "Interstellar", porque ele traz essa ideia de que, no fundo, no fundo, a gravidade… Ele coloca isso, né? Ele dá a entender que a gravidade era a única coisa que poderia transcender todas as dimensões, e no final ele
fala: “Na verdade, não era a gravidade, era o amor. Era a única coisa que podia transfixar todas as dimensões.” Então, enfim, eu acho que é algo a se pensar, uma filosofia a se pensar nesse sentido. Evelin, eu escrevi as páginas 41 e 42 para você. Na verdade, você experimenta uma possibilidade universal que todos nós temos de uma vida intelectual temperada pela fé e pelo amor a Deus. O tópico da página 41 é sobre o livro do sert, "A Vida Intelectual". Primeiro, você é uma… Você tem vida intelectual. Você é uma intelectual. Você é do direito,
né? Isso prova. Isso é uma prova viva. E eu paguei para ver quando eu comecei a… Eu sou professor da faculdade de direito, né? E eu me perguntava na época: “Será que eu vou encontrar alguém querendo estudar filosofia no direito?” Eu, graças a Deus, desde 2012, nunca… Não tive pelo menos três ou quatro. Alunos, e nunca me interessou a quantidade, porque o dialético que é os meus cursos livres, que hoje têm o site, hoje tem o perfil. Mas isso vem de quando eu sentava. Foi muito legal contar uma coisa engraçada aqui, porque eu tinha um
apartamento. Eu estou no meu terceiro apartamento com a minha esposa, e graças a Deus, eles foram crescendo de tamanho pela quantidade de filhos também. Mas no primeiro, havia uma mesa de seis lugares; eram seis lugares: cinco alunos e um professor. Depois a gente colocava a mesa da cozinha, e era muito engraçado, porque a mesa da cozinha precisava ser colocada de lado, e era uma confusão para trazer a mesa da cozinha, que não passava direito pela porta para a sala, e dava mais dois ou três. Então, tinham oito improvisados; depois eram quatorze, e eles colocavam no
sofá. Começou a ter vinte numa salinha pequena, né? E aí eu era tão assim sedento por compartilhar, de oito às dez, e até às oito da noite. Fácil! Era como aqui, exatamente assim: livro na mesa e eu explico esse processo na introdução, que eu sempre me vi rodeado de alunos e livros. É isso! É o diálogo filosófico. Essa é a sofreguidão, essa é a paixão, esse é o amor que a gente compartilha. E quanto mais a gente lê, mais a gente quer. Mas eu vou falar já já da paciência e da calma que são necessárias
para o amor não nos afogar, tá? E aí, como eu falava muito sobre o amor na época, eu estava lendo Platão. Eu tinha uns alunos que falavam: “Você pode fazer minha namorada?” Eu falava: “Pode.” Aí ele falava: “Mas não tem lugar, não tem lugar. Fica no meu colo.” Aí, eu comecei a achar que já estava um pouco exagerado assim, porque, pô, vai dar mal de filosofia um monte de gente com namorado no colo. Então, não é tão... não é tanto assim, né? Aí, para onde eu fui? Para a casa da mamãe. Na casa da mamãe,
cabia uns 30, e graças a Deus, 30 ficou pouco. Enfim, olha só: epígrafe. São José Maria Escrivá, mais uma vez, no mesmo ensaio: “Qual o segredo da perseverança? O amor é namorae e não o deixarás.” Quando a gente está diante desse conhecimento, que é profundíssimo e que é eterno, a gente sabe que uma vida é pouco. Uma vida é pouco! Você acha que vai ter esgotado todos esses temas, assuntos, autores e livros daqui a 50 anos? Se você conseguir viver 120 anos, 130 anos, saudável e lúcido, você vai conseguir esgotar metade da Bíblia? Não! Não
de jeito nenhum! Qual é o paradoxo socrático, tão famoso? “Só sei que nada sei.” Quanto mais eu sei, mais eu vejo que há mais a saber. Então, quanto mais eu sei, eu sei que falta muito mais para completar o conhecimento, ao passo que o ignorante, que acha que só tem duas páginas e dois livros, jura que sabe tudo, e o sábio, que leu centenas e dezenas e centenas de livros, sabe que teriam milhares a ler. Então, só há uma solução: primeiro, perseverança, que você morra com este amor palpitante que você demonstrou agora, comovente! Segundo, é
preciso ter paciência. É urgente ter paciência. E quem diz isso não fui eu, foi um sábio com quem eu inauguro o meu livro, que é Antoine Gilbertin Ctil, num livro maravilhoso. Quando eu comecei o meu primeiro vídeo do YouTube, são seis. Minha primeira, primeira coisa, primeira vez que eu gravei diante de uma câmara foi sobre a vida intelectual do ser. O primeiríssimo ensaio de internet, de brincadeira de internet, e está no YouTube: são seis aulinhas sobre a vida intelectual do Sertil. Por quê? Porque ele é uma bússola! Ele é uma bela introdução à filosofia de
São Tomás, ele é uma bela introdução ao nexo de fé e razão na tradição católica, ele é uma belíssima explicação do que são as virtudes e as virtudes em geral, e as virtudes do intelectual em particular. E a virtude do intelectual absolutamente necessária é a paciência. Ele diz: “Evite, portanto, a trepidação do homem apressado. Apresse-se lentamente, apresse-se lentamente.” Esse é um antigo brocardo latino: “Festina lente.” No domínio do Espírito, a calma tem mais valor que a velocidade. O homem que respeita seu tempo pertence à duração inteira que está sentada na eternidade. Lembrei do Boes, que
dizia: “Quem está diante da eternidade não pode ter pressa, porque todos os momentos são equidistantes da eternidade.” Então, amanhã você não vai mais próximo da eternidade do que hoje ou do que ontem. Ao contrário, você fica na... Então, não adianta correr para a eternidade. Não adianta: “Na eternidade eu vou encontrar Deus ali, ou aqui, ou aqui.” Não, Deus está aqui. É exatamente: trabalhe, pois em espírito de eternidade. Cristão, você deve respeitar Deus em sua Providência. É Ele quem estabelece as condições do saber. Vou repetir: É Ele, Deus, quem estabelece as condições do saber. A impaciência
é, aos seus olhos, uma revolta. Por quê? Porque Ele criou o tempo com a sua duração, e Ele criou não só o tempo, mas os momentos oportunos, que é o “círculo”, que é exatamente o que transcende o “cronos”. Ou seja, não é um dia. Essa noite pode ser caótica. Não é erótica, caótica. Ou seja, ela é... ela pode ser um momento oportuno em que alguma coisa toca no seu coração. É isso que você descreveu com os nossos trabalhos: uma live, uma palavra, um argumento, né? Quando eu li o Cange, parece que as escamas caíram dos
meus olhos. Quando você é tomada pela febre, a escravidão espiritual a espreita, estou colocando aqui no feminino, a liberdade interior se desvanece. Não é mais você quem age, muito menos é o Cristo em você. Você já não faz mais a obra do verbo. E aí vem a sua segunda pergunta: como eu posso saber que estou amando a Deus, que estou seguindo a minha vocação, que estou cumprindo o meu papel e o meu dever? E aí eu me remeto a outro ensaio do livro para mostrar como o livro é, não completo, mas é extenso. Pela oração,
a sessão três é "Oração e Mortificação" e o silêncio de Maria. É o silêncio orante, é o silêncio contemplativo que Maria fazia. E qual é isso? O Lucas repete duas vezes, né? E Maria guardava todas essas coisas no seu coração. Maria contemplava, Maria olhava, Maria percebia, Maria silenciava e cultivava, e guardava todas essas coisas no seu coração. O que isso significa? Chama-se oração. É o mesmo Evangelista da oração, é quem mais diz que Jesus rezava. Domingo foi a festa do batismo, lida por São Lucas: Jesus rezava, e uma voz veio do céu. Jesus rezava, e
o pai manda o seu Espírito. Né? Os outros Evangelistas que descrevem o batismo, Mateus e Marcos, não falam que Jesus estava rezando. Né? Isso é interessante. Então, Maria rezava. Isso você só vai saber com uma convicção interior que vem da oração. Você pode ser ajudada e auxiliada por interlocutores, por diretores, por terapeutas, por amigos, mas é só na oração que vem uma convicção muito profunda, quando você percebe. Claro, tem uma dúvida eterna: se é o seu inconsciente, se é o seu subconsciente, se é sugestão do ambiente. Mas, por outro lado, você tem uma aposta que
diz: "Não, é Deus, é Cristo, é a minha vocação, é a verdade." Como é que alguém casa sem essa convicção interior? É uma aposta. Não dá para ter certeza, mas você decide amar na tristeza e na alegria, na saúde e na doença, por todos os dias até que a morte o separe. É poderoso esse juramento. E, e, passou, eu sei que você está noivo, passou por um processo de discernimento que se consuma no altar. Como é que a gente se joga para um projeto, né? Quando o Ítalo me sugeriu "vão pra internet", eu disse não;
ele me convenceu que sim. É uma aposta. E quanto tempo? Ele falou: "Cinco anos". Ainda não cheguei lá. Eu só vou poder responder depois de cinco anos. Eu não sei se ele falou metaforicamente, mas nenhum projeto de cinco anos se realiza, não é verdade? Ah, não, eu quero ser rico, eu quero ser famoso, eu quero ser livros escritos e ser lido em dois anos. Não, isso é afobação. Eu estou começando, eu estou engatinhando. Eu estou ensaiando. Eu acho bonito essa forma literária do ensaio, porque é humilde. É um ensaio, desculpa, tá? É o ensaio, não
é a peça final perfeita; é uma tentativa, é um esboço, né? A vida, no fundo, é um grande ensaio. E então, pelo amor, amando a Deus na oração, você começa a ter convicção. Não vai ter certeza científica, não vai ter certeza política como dois e dois são quatro, mas vai ter uma convicção moral que vai ser cultivada, porque você não vai se precipitar e tomar uma decisão imediata, como a do casamento ou como uma decisão religiosa profunda, relativa à vocação, por exemplo. Você pensa, amadurece. E se falava com o Jorge também sobre isso: eternidade. Geralmente,
na vida, a gente tem que se lançar no abismo. Dá medo, dá receio, dá... né? O Santo Antão falou: "Assim, eu vou testar." Testou. Quanto tempo? Nem pensei nisso. Vou falar pro Ítalo: cinco anos. Talvez eu esteja num deserto. Às vezes eu olho pra internet, leio no celular: "Esse aqui sou eu, tá? Esse sou eu." E vocês veem que esse mundo aqui não é pouco, não é muito compatível com o mundo das redes sociais, onde eu também estou e onde quem eu também sou. Eu também tô lá. Não tô representando, mas às vezes é difícil.
Vocês imaginem, né? Esse compatibilizar. Às vezes eu olho para esse trabalho das redes sociais, "que que eu tô fazendo aqui, cara? Que que diabos é isso, que loucura? Reels, story, post, feed, me explica." As Confissões num carrossel não tem um real explicar. As Confissões, 90 segundos, não tem um post, não tem um vídeo, não. As Confissões, eu tô lendo há 20 anos. As Confissões são um livro; aqui tem umas 100 páginas. É um livro que você vai degustando, vai percebendo, vai saboreando, né? É um desses livros que você lê todo ano. Sim, As Confissões. Não
vou dizer que eu leio todo ano, mas é uma obra para ser lida. Eu li a obra completa de Shakespeare todo ano, né? Então, isso é o amor. Eu quero detar com a minha esposa todo ano, todo dia. Isso é amor, né? Então, é o amor que revela tudo isso. Desculpa, luz. Pensei que você tinha falado oito; não, são sete. Os sete primeiros ensaios são literalmente prefácios introdutórios. O que que é um prefácio? É o prefácio em que um outro autor chancelar a obra do autor principal, ou que é o meu caso: "Quem sou eu
para chancelar esses autores?" Explico e contextualizo o valor e a importância da obra. Isso que é um prefácio. É claro que, no primeiro caso, quem chancela também, porque a obra é boa e merece ser lida, né? Mas exatamente esse é o meu trabalho. Essas senhorinhas que têm piedade, querem cultivar o amor à sabedoria, terão tanto nos prefácios da primeira parte quanto nos estudos da segunda parte uma introdução. Acontece que os prefácios da primeira parte têm, se acho que, 10 páginas no máximo. Não lembro se algum passa de 10 páginas, mas nos outros estudos eu chamei
de estudos, como são obras, eu disse: distante no tempo, em outras línguas, exigem uma contextualização maior. Então, servem sim de introdução e, quem sabe, A Divina Comédia realmente seja um livro muito difícil para certas pessoas. O meu estudo, eu espero que tenha mais de 100 páginas, vai dar uma boa noção, eu espero. Sem dúvida. Talvez os irmãos Caramados, que são mais de 1 página, para quem não gosta de ler, para quem não tem hábito de leitura, possam ter uma sensação de náusea, de dificuldade. O meu livro tem longas citações e você vai ter uma boa
noção, uma boa fruição, sabe? Digamos que você não esteja, né? Outro dia, o YouTube, que tem essas coisas... Eu gosto muito de Beatles, tá? E de covers de Beatles, indicações de Beatles. E um dia o YouTube me mandou um vídeo chamado "All Beatles: All the Best of Beatles in 5 Minutes". Falei: "Vamos ver". Ponham lá. Depois, é muito legal porque, de fato, acho que tem umas 30 músicas dos Beatles, cada uma em 15 segundos. Só que a transição, quem sabe de música, é muito bem feita. O pessoal sabe tocar, né? "Love Me Do", "I Saw
Her Standing There", trocando de música assim é um pouco rápido, e é claro que é um pouco rápido para quem estiver habituado. O Augusto leu Ortodoxia, ele vai achar pouco, ele vai achar rápido, ele vai achar que eu me demorei pouco em cada argumento. Não tem problema, não foi para o Augusto que eu escrevi o ensaio, foi principalmente para pessoas que ainda não leram Ortodoxia. Você tem razão, e pessoas que gostariam de alcançar esses argumentos e que sozinhas não os entenderiam ou não saberiam o plano de fundo e o contexto que está por trás. Sem
dúvida nenhuma, se por leitura espiritual a gente entende uma leitura que nos dá boa doutrina, que nos dá fundamentos e que nos ensina. No sentido, o meu livro é um livro católico, no sentido que também se preocupa com a ortodoxia. Não é um livro de catequese, mas é um livro espiritual que fala de muitos santos. É um livro que na primeira fala de um venerável que é Fulton Sheen, fala de Tomás de Campes, fala de Gabriel Amorth, fala do Ctil, que é um frade dominicano. Agora, por exemplo, o Viktor Frankl, que o Jorge mesmo mencionou,
que era um judeu de um filo cristão, um simpatizante do cristianismo. Eu tinha uma longa conversa com o meu amigo, irmão Luiz Henrique, sobre o Frankl, que se aproximou da igreja e que tinha um sacerdote com quem ele conversava. Enfim, como é? Aí você pode pensar: "Não, mas isso aí não tem nada a ver, isso aí é psicologia e filosofia". Então leia o meu ensaio. Sabe como é o nome do ensaio? "A Vocação de um Santo Secular". A epígrafe é dupla: é do Macbeth, sobre aquele grito da Lady Macbeth de que a vida é um
"conto narrado por um idiota, significando nada, repleto de som e fúria". Essa é a primeira epígrafe, que é o niilismo. E a outra é o Evangelho de São João: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus". Aliás, na quarta capa, o editor colocou "Logos". Aqui no final, por quê? Porque, como é o nome da psicologia do Viktor Frankl? Sim, logoterapia. E lá eu falo que "o Verbo se fez carne e habitou entre nós". Então, mesmo num texto que aparentemente seja mais filosófico, por exemplo, o texto sobre Homer, não será uma leitura espiritual
direta. O texto sobre Antígona não será uma leitura espiritual direta. Mas indiretamente, vamos lá. O de Homer é o menos... é o único, talvez o único em que Cristo não apareça diretamente. Talvez o de Antígona Cristo apareça. Por quê? Porque os primeiros intelectuais cristãos viram Cristo em duas figuras da antiguidade, como vocês sabem: Sócrates e Antígona. E chamavam que Sócrates e Antígona, os dois foram mortos injustamente. Os dois morreram pela verdade, os dois iriam morrer, a matar. Os dois entregaram a vida por algo que os transcende. Os dois falavam de Deus, de deuses, Deus como
divino princípio. Então, né? É claro que é uma leitura espiritual, e a epígrafe do ensaio sobre Antígona é da Simone Weil. E eu vou ler: vê se isso não cabe como leitura espiritual. Eu gosto muito da Antígona. O nome do ensaio da Antígona é "O Sacrifício de Antígona", palavra bem cristã. Olha a biografia do próprio Sófocles, é a página 215. Abram aí, porque cai na prova. Olha o que Sófocles diz: "Essa inocente nunca mereceu o opróbrio de morrer na ignomínia por atos de glória. Logo, ela que impediu que o cadáver do irmão caído na matança
e em sepulto virasse caniça para cães e pássaros de rapina não merece esta jovem as honras de ouro". Não parece aqui uma descrição de um mártir? Não poderia ser aplicada a Santo Inácio de Antioquia? E aí vem a Simone Weil. Olha o que a Simone Weil diz: "Antígona é um ser perfeitamente puro, perfeitamente inocente, perfeitamente heroico, que voluntariamente se entrega à morte para preservar um irmão culpado de um destino infeliz no outro mundo". Este livro da Simone Weil é muito bom, não tem em português, chama-se "Intimations of Christianity Among the Ancient Greeks" (Intimações do Cristianismo
entre os Gregos Antigos). Então, mesmo um ensaio como esse tem, eu espero, um valor de leitura espiritual. Uma coisa que estava também falando com a EV que me deixa muito feliz: os meus dois livros de virtudes, eu digo isso não por vaidade, eu digo isso por gratidão, têm sido recomendados por sacerdotes. Então, cabe. Então, cabe como leitura espiritual, cabe como até quem sabe o de Dante, o de Santo Agostinho, o da Bíblia. Isso a isso, certainly, muito, muito obrigado, Rafa! Obrigado, Moscat! Eu que agradeço, Vitor. Obrigado pela oportunidade. Eu tô muito feliz e, por mim,
isso duraria a noite inteira. Mas eu sei que isso é o que comentar agora. Acho que aqui tudo tem limite, tudo tem fim.
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