Não existe melhor maneira de começar o ano do que ao lado de Nossa Senhora, que deve ser a nossa estrela guia, a nossa maior orientação na vida espiritual. Porque no colo dela sempre está nosso Senhor Jesus Cristo, e ela está aos pés da cruz, no momento sublime, máximo da redenção do gênero humano, quanto da sua paixão. E ela está presente no início da Igreja em Pentecostes, quando recebe, junto com os apóstolos, o Espírito Santo e o batizado de fogo daquelas línguas de fogo que lhes permitem pregar o Evangelho a toda a criatura e começar a batizar os novos membros deste corpo místico, do qual ela é mãe.
Nossa Senhora é mãe de Deus, como a Igreja celebra hoje nesta belíssima solenidade que inicia o ano civil, porque o ano litúrgico começa no primeiro domingo do Advento. Então, é muito bom que a Igreja ponha Nossa Senhora nesse início da caminhada de um ano em que a gente organiza a nossa vida, a gente pensa nas nossas prioridades, e a prioridade da vida de um cristão, é claro, é estar perto de Deus. Quando a gente reza a famosa oração da Ave Maria, a mais popular oração do mundo católico, junto com o Pai Nosso, nós dizemos exatamente as palavras do anjo: "Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo.
Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre, Jesus". O ventre de Maria é bem-aventurado, é bendito, é feliz; merece todo o nosso louvor, porque o fruto do ventre dela é bendito. Todas as glórias, toda a graça, todos os privilégios de Maria vêm da sua maternidade divina.
Logo, este dogma da nossa fé é central, porque dele depende a Encarnação do Verbo de Deus, de Jesus Cristo, nosso Senhor. Deste dogma, desta doutrina da divindade de Cristo Jesus e da maternidade divina de Maria decorrem os outros dogmas fundamentais de Nossa Senhora, que são os dogmas da sua Imaculada Conceição, que nós comemoramos no dia 8 de dezembro, pelo qual ela foi privada de toda a mácula do pecado original que contaminou a humanidade desde Eva e a todas as criaturas, exceto ela, que é a arca da Nova Aliança, toda pura, toda limpa, isenta do pecado. Exatamente porque o Santo, que é Cristo, não poderia participar e se unir a um ventre imaculado.
O seu sangue, a sua carne, o seu coração é de Maria, e Maria, portanto, o gerou na carne, e lhe deu o seu leite, lhe deu o seu sangue e, portanto, transmitiu toda essa graça que ela recebeu do Espírito Santo, Ele que é o próprio Deus. Em segundo lugar, além da Imaculada Conceição, nós temos o dogma da Virgindade Perpétua de Maria, quando ela diz ao anjo: "Eu não conheço homem algum". Como isso pode se dar?
Quando ela usa esse presente, o anjo tinha anunciado: "No futuro conceberás um filho". Ela poderia muito bem ter se deitado com seu noivo, com seu marido, prometido, José, e tido o filho, e considerado o nascimento natural humano de um filho como sendo do Messias. Só que, quando ela diz "eu não conheço homem algum", é como nós dizemos "eu não bebo refrigerante" ou "eu não fumo" ou "eu não viajo".
Ou seja, é um presente que significa um estado ou uma condição permanente. Se eu digo "eu não fumo", não quer dizer que eu não fumarei; se eu digo "eu não bebo", não quer dizer que eu não beberei. Quando ela diz "eu não conheço homem algum", significa que ela não estava aberta à relação conjugal, que ela não iria se deitar com José, seu marido.
E José sabia disso, e por isso a preservou, e por isso não quis repudiá-la, e foi advertido pelo anjo, como nós já vimos na reflexão sobre a Sagrada Família e o papel extraordinário de José, que respeitou a castidade puríssima de Maria. Por isso é o seu esposo casto, castíssimo, e o tipo de relação que eles têm, que ficou conhecida na tradição como casamento josefino, em que os cônjuges excepcionalmente não se procuram e não têm relações conjugais. Por isso, o vínculo de Maria com José é ainda mais puro, porque não é contaminado por nenhum tipo de paixão carnal, nenhum tipo de concupiscência.
Em quarto lugar, além da Maternidade Divina, da Virgindade Perpétua e da Imaculada Conceição, o quarto dogma que coroa os privilégios divinos de Maria é o da Assunção aos céus em corpo e alma. Nós lemos no Apocalipse, capítulo 12, que apareceu no céu um grande sinal: uma mulher revestida de sol. Esta mulher protege o seu filho do Drgão, a antiga serpente, que conseguiu morder o pé de Eva, mas que de jeito nenhum alcançou Maria, muito menos o seu filho divino.
Então, a gente está diante de um verdadeiro paradoxo, porque, por um lado, protestantes e ateus podem achar que nós, católicos, somos exagerados e superdimensionamos o culto mariano e desviamos a figura de Cristo para a figura de Maria. Por outro, nós, católicos, achamos tudo isso muito pouco. Como dizia São Bernardo de Claraval, que no começo da Baixa Idade Média foi o responsável pela renovação e pela intensificação do culto mariano, quando grandes catedrais medievais foram erigidas sob o título de Nossa Senhora, Notre-Dame, Pensão em Chartres, em Paris, em Colônia, todas as grandes basílicas devotadas a Nossa Senhora, para afirmar a divindade de Jesus.
Nós, católicos, achamos tudo isso pouco e dizemos, como São Bernardo de Claraval: "De Maria nunca se diz o suficiente", porque ela está intrinsecamente ligada ao mistério da Encarnação de Jesus Cristo e da Redenção de Jesus Cristo. Quando o Concílio de Éfeso, no século V, que é o terceiro Concílio ecumênico, declara solenemente, dogmaticamente, Maria como Mãe de Deus, em grego, Theotókos, no fundo, que ele [. .
. ] Quer afirmar que a unidade da pessoa de Jesus Cristo com as suas naturezas humana e divina não tem sentido dizer que Maria é mãe de Jesus, o homem, mas não é mãe de Cristo, o Deus, porque dizer isso significa que haveria duas pessoas separadas e distintas. Não é possível, como as naturezas humana e divina de Cristo estão intimamente ligadas.
O concílio seguinte, que é o Quarto de Calcedônia, bem na metade do século V, em 451, afirma que as naturezas humanas e divinas de Cristo estão unidas sem confusão, sem mudança, sem divisão ou separação. Como as minhas duas mãos, direita e esquerda, podem estar entrelaçadas e grudadas, mas não se confundem: esta é a minha mão direita e esta é a minha mão esquerda. Jesus não é um homem divino ou um Deus humanizado; ele é plenamente homem, conheceu a nossa dor, a nossa fome, a nossa sede.
Por isso, pode dizer: “Tenho sede”, do alto da cruz. Por isso, os Reis Magos lhe presenteiam com a mirra, que é o sinal da humanidade, do sofrimento, da mortalidade, da doença. A mirra era usada para curar as doenças e para embalsamar os corpos, os cadáveres dos homens que morrem, de nós, homens, que morremos.
Então, Maria é a mãe de Deus porque Cristo Jesus é Deus. Vejam que os concílios ecumênicos anteriores, que lutaram contra as heresias antigas que distorcem a revelação cristã, afirmavam exatamente, em primeiro lugar, a divindade de que Jesus Cristo é verdadeiro Deus, é consubstancial ao Pai, tem a mesma substância, não uma substância parecida, mas a mesma substância, que é a divina do Deus Pai. E o segundo concílio ecumênico, no século IV, de Constantinopla, afirmou que o Espírito Santo procede do Pai e é glorificado com o Pai e o Filho.
Então, vejam que essas formulações dogmáticas não têm nada de teóricas, abstratas e teológicas do ponto de vista meramente especulativo, mas são práticas e devocionais, porque nós amamos a carne de Cristo na Eucaristia e nós nos ajoelhamos, como os Reis Magos, diante daquela criança que nós cremos ser o próprio Deus. E por isso a cristologia afirmar que Jesus é Cristo, é Deus; a Trindade afirmar que o Espírito Santo procede do Pai, é adorado e glorificado com o Pai e o Filho; e afirmar que Maria é mãe de Deus e que as naturezas humanas e divinas de Cristo são indissociáveis, embora não se confundam entre si, pertencem ao mesmo mistério. Há uma unidade aqui entre cristologia, Trindade e mariologia.
Ou seja, a natureza de Jesus, que é o centro da nossa fé; a natureza de Deus Trino, que é Pai, Filho, Espírito Santo; e a dupla natureza de Cristo, que é homem e Deus, na maternidade divina de Maria, que garante que ele seja um só. Então, a maternidade divina de Maria é um dogma teologicamente fundamentado da Igreja Católica que assegura a essência da nossa fé. E por isso, São Paulo, na segunda leitura de hoje, em Gálatas, que sempre é lida em tantas e tantas festas, repito: tudo é pouco.
Ainda temos Imaculada, todas as festas, inclusive a Imaculada Conceição, que é preceito. Aliás, é bom ressaltar isto: hoje, primeiro de janeiro, é dia de preceito; ou seja, é um dia de missa obrigatória. Nós devemos ir à missa sob pena de pecar mortalmente.
E por que esses quatro dias tão importantes, que são marcados pela Igreja, num país católico como o Brasil, são feriados civis? Que a Imaculada Conceição de Maria, dia 8 de dezembro; Natal do Senhor, dia 25 de dezembro; a Maternidade Divina de Maria, primeiro de janeiro; e o Corpus Christi, que é aquela quinta-feira, depois da solenidade da Santíssima Trindade, que encerra o ciclo dos sete domingos da Páscoa. Vejam como esses quatro grandes dias litúrgicos estão ligados, de algum modo, a Maria, porque Maria estava aos pés da cruz.
Maria participa da Paixão e dá o sangue de Cristo. De quem é o sangue de Cristo? De onde vem a carne de Cristo que nós comungamos na Eucaristia, senão de Maria?
E a gente pode pensar que todas essas festas que nós celebramos constantemente, e Nossa Senhora de Guadalupe, em dezembro, dia 12 de dezembro; Nossa Senhora de Lourdes, dia 11 de fevereiro; Nossa Senhora de Fátima, dia 13 de maio; Nossa Senhora de Aparecida, dia 12 de outubro; o segundo domingo de outubro, aqui em Belém do Pará, Nossa Senhora de Nazaré; e tantas e tantas: Nossa Senhora do Loreto, Nossa Senhora do Pilar; cada país, cada cidade, cada estado tem a sua devoção particular por Nossa Senhora. Em todos os lugares do mundo, isso não é adventício, isso não é acessório, isso não é coincidência, não é mero ornamento, não é um mero ornamento, mas é a essência da fé católica. Quanto mais marianos nós formos, tanto mais cristãos nós seremos.
Então, como eu dizia, São Paulo, na segunda leitura aos Gálatas, diz: “Quando se completou o tempo previsto”, ou seja, esse é o ápice da história da Redenção, é o momento mais sublime, mais importante, em que se perfaz todo o plano de Deus. Nesse momento, Deus enviou o seu Filho, e São Paulo diz: “nascido de uma mulher”, para que todos recebêssemos a filiação divina. E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o espírito do seu Filho, que é o Espírito Santo.
Olha a Trindade aqui, muito claramente, que clama: “Abá, ó Pai”. Abá significa “paizinho”, “papai”, “papi”, “papa”. É o modo como as crianças — e eu tenho tanta alegria quando as minhas filhas e os meus filhos me chamam assim, “papai”, “paizinho” — porque denota exatamente a ternura, o carinho, a intimidade que Cristo nos deu ao Pai.
Mas nós não somos filhos apenas de Deus Pai; nós somos também filhos da mãe de Cristo, que é Maria. Por isso, ela é nossa. Mãe, ela é mãe da Igreja e não só mãe de Jesus, que nos deu a sua mãe, do Alto da Cruz, ao outorgá-la a João, o discípulo que Ele amava, ao perceber que ela não poderia ficar só e que o papel dela na Igreja nascente era decisivo e central.
Por isso, ela estará no centro do Cenáculo quando receberem o Espírito Santo em Pentecostes. É muito profunda a reflexão que o venerável Fulton Sheen faz sobre a maternidade divina de Maria no livro "Três Para Casar". Fulton Sheen diz que a fecundação, a geração de uma vida, depende do amor.
Esse amor pode estar distorcido, pode estar subvertido, pode estar maculado, mas é o amor que gera vida. E a união conjugal, os corpos que se unem na intimidade do leito, pelo amor que os une, une-os tão profundamente na carne que gera na carne. Pensem: se eu conversar com a minha esposa, nós não geramos filhos nenhum; se eu abraçar a minha esposa, nós não geramos filhos; se eu beijar a minha esposa, nós não geramos filhos; se eu dormir ao lado da minha esposa, nós não geramos filhos.
Mas o enlace conjugal, a intimidade conjugal que é o sexo, gera vida. Ora, Maria não gerou vida pela intimidade conjugal. Isso quer dizer que a intimidade espiritual dela com o Espírito Santo foi tão profunda e como o Espírito supera infinitamente a carne, que ela gerou filho na carne pelo poder do Espírito Santo.
Mas o Espírito Santo não fez isso sozinho; ele precisou de uma esposa, ele precisou de uma cooperadora, que é Maria. Por isso, Maria só pode ser mãe do Filho de Deus, Jesus Cristo, por ser esposa do Espírito Santo e filha de Deus Pai. Por isso que nós a louvamos, no começo do Santo Rosário, como filha de Deus Pai, como mãe de Deus Filho e como esposa de Deus Espírito Santo.
Que esposa esta, que o amou, que o procurou, que o recebeu, que o acolheu com essa força feminina que não é passividade, mas doadora e procriadora da mulher que recebe e gera, recebe no seu interior o amor, o sêmen do Espírito Santo e gera a vida. Isso é muito profundo. Esse é um mistério sublime e excelsco da nossa fé: como ela pode ter gerado um filho na carne sem participação do sêmen masculino, porque ela era virgem, e permaneceu sempre virgem, inclusive depois do parto.
Isto é um mistério sem paixão carnal, sem união conjugal; essa virgem fecunda gerou a carne mais santa, mais sagrada, mais saudável, mais perfeita que se poderia jamais existir, que é a de Jesus Cristo, nosso Senhor. Então que nós saibamos acompanhar a Igreja nessa devoção que deve se aprofundar, que é a devoção à Nossa Senhora. De fato, o Concílio Vaticano II, na sua constituição dogmática "Lumen Gentium", refere-se exatamente a Nossa Senhora como mãe da Igreja e diz, lembrando que o Concílio Vaticano II tem dois documentos principais que são as constituições dogmáticas "Lumen Gentium" e "Dei Verbum".
Na "Lumen Gentium", nós lemos: "Concebendo, Cristo, gerando, alimentando, apresentando ao Pai no Templo, padecendo com o seu Filho quando morria na Cruz, Maria cooperou de forma inteiramente ímpar com a obra do Salvador mediante a obediência, a fé, a esperança e a ardente caridade, a fim de restaurar a vida sobrenatural das almas. " Por isso, ela é nossa mãe na ordem da graça. Nós temos uma mãe na ordem da natureza que se deitou com o nosso pai nove meses antes do nosso nascimento, mas temos uma mãe na ordem da graça que gera Cristo em nós; que gerou Cristo não só há 2025 anos atrás, numa única vez, mas continua a partejar toda vez que é invocada como Mãe de Deus, como na Ave Maria: "Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores.
" Como pecadores, nós precisamos da graça, e é Maria a medianeira de toda a graça. E por isso continua o Concílio Vaticano II: nós a invocamos. A Igreja, ao longo da história, a invoca como "Perpétuo Socorro", "Auxiliadora", "Advogada" e "Medianeira".
Nós rezamos na Salve Rainha, que é uma tão bela oração tradicional da Igreja: "Eia, pois, advogada nossa, esses olhos misericordiosos a nós volvei. " E depois deste desterro, desterro este pelo qual ela passou, sofreu, padeceu, chorou, morreu. Mas, na verdade, não conheceu a morte tal como nós a conhecemos, porque foi assunta aos céus de corpo e alma e lá foi coroada como rainha do céu e da terra, porque é mãe do Senhor.
Como Isabel a saudou: "A que devo a honra de a mãe do meu Senhor vir me visitar? " É a mãe de Deus! Por isso, que nós saibamos ter piedade mariana neste ano, que nós saibamos buscar, que nós saibamos procurá-la.
Encontrá-la sempre unida ao seu Filho Jesus. Deus nos, Maria, como a sua mãe no momento em que, pregado na cruz, dirigiu a sua mãe estas palavras: "Mulher, Eis aí o teu Filho". Depois disse ao seu Filho: "Eis aí a tua mãe".
Diz o Papa João Paulo I que, assim de um modo novo, legou a sua própria mãe ao homem. Legou a todos os homens e todos os homens a têm por mãe. Desde aquele dia, toda a Igreja a tem por mãe.
Todos entendemos como dirigidas a cada um de nós as palavras pronunciadas na cruz. Então, que nós ouçamos de Cristo constantemente: "Eis aí a tua mãe! Eis aí a tua mãe!
" Mesmo no sofrimento, mesmo na dor, mesmo na cruz, nós estamos amparados e acalentados pelo regaço materno de Nossa Senhora. A devoção filial por Maria é parte integrante da vocação cristã. Se você ainda não tem essa piedade mariana arraigada na sua vida, no seu coração, sobretudo se você não procura o Sagrado Coração de Jesus sempre ao lado do Imaculado Coração de Maria, tenha esse propósito extraordinário.
Você vai ver como a sua fé vai se qualificar, vai se não só enternecer, mas também se robustecer e se fortalecer, porque Maria é uma mulher forte, é uma mulher que está de pé diante da Cruz, porque é uma mulher de oração, de silêncio, de acolhimento e de docilidade aos planos salvíficos de Deus. Viva Nossa Senhora, Mãe de Deus e Nossa Mãe!