Às vezes me pergunto se tudo poderia ter sido diferente se eu tivesse nascido em berço de ouro como ele. Talvez nossa história não terminasse assim, mas o destino tem suas próprias regras e aprendi desde cedo que nada na vida vem de graça, nem mesmo o amor. Ainda posso sentir o cheiro de café impregnado no uniforme do restaurante onde trabalhava. Era meu terceiro turno seguido naquela semana, os calejados de tanto carregar bandejas, enquanto na mente números e teorias da faculdade de administração se misturavam com os pedidos dos clientes. Foi nesse cenário que o vi pela
primeira vez: Vítor Mendonça, alto, elegante, com aquele sorriso de quem nunca ouviu um "não" na vida. Herdeiro da Mendonça Incorporações, ele era tudo que representava poder e sucesso naquela cidade, e foi justamente naquela tarde de outubro que ele decidiu tomar café na minha sessão. "Um expresso duplo, por favor", pediu ele, sem tirar os olhos do celular. Mas, quando voltei com seu pedido, algo mudou. Nossos olhares se cruzaram e vi ali o início do que seria minha maior alegria e, posteriormente, minha mais doce vingança. Naquela época, eu ainda carregava comigo o peso das últimas palavras de
minha avó: "Vó, nunca dependa de ninguém, Nadia", ela disse, segurando minhas mãos com suas últimas forças. Ela, que me criou depois que perdi meus pais aos 12 anos em um acidente que arrancou não só minha família, mas também minha inocência. As lembranças daquela noite chuvosa ainda me assombram: o telefonema às 3 horas da manhã, a corrida até o hospital, os corredores intermináveis cheirando a desinfetante. "Não houve sobreviventes", disse o médico, com aquela voz ensaiada de quem já deu más notícias vezes demais. Eu era apenas uma menina, mas naquele momento tive que crescer. Minha avó, Dona
Cecília, era uma costureira aposentada que mal conseguia pagar as contas com sua pensão, mas o que lhe faltava em recursos, sobrava em amor e determinação. "Estude, minha filha", ela sempre dizia, "é a única coisa que ninguém pode tirar de você." E assim eu fiz, estudando durante o dia e trabalhando à noite desde os 16 anos. O café com Vítor virou almoço, que virou jantar, que virou um namoro que parecia saído de um conto de fadas moderno: o príncipe encantado e a garçonete. A imprensa local adorou a história, mas tinha alguém que não compartilhava do mesmo
entusiasmo: minha futura sogra. "Meu filho precisa de alguém à altura do sobrenome Mendonça", ela dizia, sem pudor, nas reuniões familiares, como se eu fosse invisível. Mas eu aguentava, por amor a Vítor, eu suportava cada olhar de desprezo, cada comentário ácido, cada humilhação velada. Luzia era a personificação de tudo que eu mais temia: a arrogância do dinheiro, o poder usado para diminuir os outros, a crueldade disfarçada de sofisticação. O casamento foi um evento grandioso, como tudo que levava o nome Mendonça. Luzia fez questão de organizar cada detalhe, não por consideração, mas para ter certeza de que
sua nora pobretona não envergonharia a família. Eu sorria e aceitava, guardando cada palavra cruel em um lugar especial da minha memória. O vestido de noiva custou mais do que minha avó ganhou em toda a sua vida, e cada cristal, cada flor, cada detalhe da decoração parecia gritar: "Você não pertence a este mundo." Os primeiros anos foram como uma valsa bem ensaiada: eu, a esposa dedicada, sempre presente nos eventos sociais, sempre sorrindo, sempre perfeita. Aprendi a segurar o garfo correto, a falar sobre vinhos que nunca tinha provado antes, a sorrir quando queria chorar, mas por dentro
algo começava a morrer. Talvez fosse minha ingenuidade, talvez fosse meu amor-próprio, ou talvez fosse apenas o começo de algo muito maior. Foi numa dessas noites de evento beneficente que encontrei o primeiro indício: um batom diferente na camisa de Vítor, cor número 32 da Chanel. Eu sabia porque era o mesmo que Luzia usava, o mesmo que ela sugeriu que eu comprasse para, pelo menos, tentar parecer sofisticada. Confrontei, é claro. Ele negou, depois admitiu, depois implorou perdão e eu, tola e apaixonada, perdoei. Mas algo mudou naquele dia, uma semente foi plantada. Comecei a prestar mais atenção nos
horários estranhos, nas ligações suspeitas, nas viagens de negócios cada vez mais frequentes e, principalmente, comecei a prestar atenção em Thí, sua nova secretária, jovem, ambiciosa e com um sorriso que escondia muito mais do que mostrava. Ela me lembrava um pouco de mim mesma, anos atrás, exceto pelo brilho calculista em seus olhos. A parte mais irônica foi que, graças a Luzia, descobri tudo numa tarde em que ela pensou que eu não estava em casa. A ouvi conversando com Thí no jardim de inverno: "Entre suas prosas, orquídeas importadas, planejam minha saída há meses. Vórtice tinha tudo preparado
para B ou F dell, e seu futuro comigo, garçonete, disse Luzia, de que eu tão bem agora... Ele finalmente vai ter alguém que entende nosso mundo, querida." O som da risada delas misturou-se ao tilintar das xícaras de porcelana inglesa; naquela noite, consegui dimitir as palavras de Luzia ecoando em minha mente como um mantra venenoso. Observei Vítor dormindo ao meu lado, seu rosto sereno não denunciava a traição que arquitetava. Foi então que comecei a planejar cada detalhe do que viria a seguir. Na manhã seguinte, minha rotina habitual: café da manhã com Vítor, beijo de despedida, sorriso
mecânico. Mas algo havia mudado. Enquanto ele seguia para o escritório, eu iniciei minha própria jornada secreta. Primeira parada: banco. Abri uma conta em meu nome, algo que deveria ter feito há muito tempo. Luzia sempre insistiu que eu não precisava me preocupar com essas coisas mundanas. Thí chegou ao escritório naquele dia usando um vestido vermelho que eu reconheci imediatamente, um presente que Vítor havia comprado para mim no mês anterior. Nossos olhares se cruzaram no corredor da Mendonça Incorporações, onde eu ocasionalmente aparecia. Para surpreender meu marido com almoços, ela sorriu aquele sorriso predatório que agora eu conhecia
tão bem. Senhora Mendonça cumprimentou-me com falsa cordialidade: "Que surpresa agradável! Vittor está em uma reunião importante agora." Seu Tom deixava claro que eu não era mais bem-vinda naquele espaço que ela já considerava seu território. "Não se preocupe," respondi, mantendo minha voz controlada. "Só vim buscar alguns documentos que deixei no escritório dele." Ela me seguiu com os olhos enquanto eu caminhava pelo corredor, seus saltos batendo no piso de mármore como um metrônomo, marcando o tempo de nossa batalha silenciosa. No escritório de Victor, encontrei exatamente o que procurava; em sua pressa de esconder nossa vida conjugal para
apresentar uma imagem de solteiro disponível, ele havia deixado várias fotos nossas em uma gaveta, entre elas documentos que ele pensou que eu nunca encontraria: cartas de amor de Taís, reservas de hotéis, compras de joias. Fotografei tudo metodicamente com meu celular. Durante os meses seguintes, matriculei-me secretamente em um curso de gestão empresarial avançada. Minha única confidente era Marina, uma antiga colega da faculdade que agora trabalhava como advogada. Foi ela quem me ajudou a entender meus direitos e a preparar o terreno para o que estava por vir. "Você precisa ser esperta," alertou Marina durante um de nossos
encontros secretos em um café afastado do centro. "Eles vão tentar te destruir quando descobrirem que você não é a boneca submissa que pensam." Taís intensificou seus jogos psicológicos; começou a aparecer em eventos sociais usando joias idênticas às minhas, copiando meu estilo de vestir como se ensaiasse para me substituir não apenas na vida de Victor, mas em toda a alta sociedade. Em um jantar beneficente, teve a audácia de usar o mesmo modelo de vestido que eu, apenas em vermelho, minha favorita, como Victor bem sabia. "Que coincidência adorável," comentou ela, aludindo ao suficiente para que todos ao
redor ouvissem. "Grandes mentes pensam igual, não é mesmo, senhoria Mendonça?" Seu Tom era doce como mel envenenado; Luzia, é claro, adorava o espetáculo. "Você tem um gosto tão refinado," comentava, lançando-me olhares significativos. "Tão natural em nosso meio." Em casa, Victor se tornava cada vez mais distante; nossas conversas se resumiam a banalidades, nossos jantares eram silenciosos, nossas noites, frias. Ele mal tentava esconder as mensagens em seu celular, como se me desafiasse a confrontá-lo novamente. Contratei discretamente um investigador particular, não para confirmar a traição – disso eu já tinha certeza – mas para mapear a rotina deles.
Descobri seus encontros em um flat no centro da cidade, seus almoços em restaurantes discretos, as viagens de negócios que faziam juntos. Cada informação era uma peça do quebra-cabeça que eu montava paciente. Numa tarde particularmente tensa, Taís apareceu em minha casa a pretexto de trazer documentos para Victor assinar. Estava usando um colar que eu sabia ter sido comprado na nossa última viagem a Paris. "Victor tem tanto bom gosto para presentes, não acha?" Zenia provocou, tocando o colar delicadamente. "Ele sempre sabe exatamente o que uma mulher deseja." "Sem dúvida," respondi, vindo nos chás. "Especialmente quando essa mulher
faz questão de apontar catálogos inteiros e deixá-los estrategicamente abertos em sua mesa." Seu sorriso vacilou por um instante. "Sabe, Nadia, às vezes as coisas simplesmente não são para ser. Você deve ter percebido que Victor precisa de alguém que entenda verdadeiramente seu mundo." "Como você," imaginei, mas respondi mantendo minha voz calma: "Uma secretária que dormiu com o chefe casado? Que clichê adorável!" Seu rosto enrubreceu de raiva. "Pelo menos não sou uma garçonete que deu o golpe do baú." "Você nunca pertenceu a este mundo, Nadia. Nunca vai pertencer." Sorri, bebericando o meu chá. Se ela soubesse o
que eu estava planejando, não estaria tão confiante. Naquela mesma noite, encontrei em nossa cama pétalas de rosa vermelhas, a assinatura de Taís em suas noites com Victor. Ela havia conseguido entrar em meu quarto, em minha casa, apenas para me provocar. Mas eu não daria a ela a satisfação de uma cena de ciúmes; em vez disso, guardei as pétalas em um envelope, mais uma prova para minha crescente coleção. Cada provocação dela era um tijolo a mais no muro de minha vingança. A primeira neve do inverno caía suavemente quando recebi a ligação de Marina. "Encontrei algo interessante,"
disse ela, sua voz tensa do outro lado da linha. "Precisamos conversar pessoalmente." Marcamos em uma padaria nos arredores da cidade, longe dos olhos vigilantes de Luzia e seus conhecidos. Marina chegou carregando uma pasta preta; seus olhos revelavam preocupação quando se sentou à minha frente. "Nadia, você não vai no não é quem diz ser." Abriu a pasta e começou a espalhar documentos sobre a mesa. "Seu nome verdadeiro é Teresa Alvarenga. Ela mudou legalmente há cinco anos, logo antes de começar a trabalhar na Mendonça Incorporações." Observei as cópias de documentos antigos, fotos de uma Taís diferente, reportagens
de jornais locais. "Ela fez isso antes, Nadia," continuou Marina. "Em três outras empresas, sempre o mesmo padrão: consegue um cargo de confiança, seduz o dono ou herdeiro e, quando consegue o que quer, desaparece com uma generosa indenização." Aquilo mudava tudo; não era apenas uma secretária ambiciosa, era uma predadora profissional. "Tem mais," Marina hesitou. "Ela conhece Luzia há anos. Não foi coincidência ela ter sido contratada na empresa." A revelação atingiu-me como um soco. Todo esse tempo pensando que Taís era apenas uma peça no jogo de Luzia, quando na verdade eram parceiras desde o início. A pergunta
era: Victor sabia disso? Nos dias seguintes, intensifiquei minha investigação sobre Taís. Descobri um padrão em suas ações: sempre chegava mais cedo ao escritório, sempre saía depois de Victor, sempre se voluntariava para projetos importantes. Mas agora eu via além da fachada de funcionária dedicada. Numa manhã particularmente gelada, Taís entrou em meu closet enquanto eu me arrumava para um evento beneficente; ela nem sequer se deu ao trabalho de bater na porta. A casa já era praticamente dela em sua mente. Querida, sua voz melíflua ecoou pelo ambiente. Vim buscar aquele vestido Valentino que você usou apenas uma vez.
Victor mencionou que ficaria lindo em mim. Ela passou os dedos pelos cabides como se já fosse a dona de tudo aquilo. Que interessante, respondi, aplicando meu batom calmamente, especialmente porque aquele vestido foi um presente da minha falecida avó, o único item de valor que ela conseguiu me deixar. Thaís sorriu, aquele sorriso felino que eu tanto desprezava. — Ora, mais um motivo para passar para alguém que saberá apreciá-lo adequadamente, alguém que pertença verdadeiramente a este mundo. Levantei-me lentamente, encarando através do espelho. — Sabe, Teresa, vi seus olhos se arregalarem ao ouvir seu verdadeiro nome, para alguém
que mudou de identidade cinco anos atrás. Você fala muito sobre pertencer. O sorriso desapareceu de seu rosto. — Como você descobriu? — Digamos que não sou tão ingênua quanto você e Luzia pensam. A propósito, há quanto tempo vocês se conhecem, antes ou depois do seu último trabalho? Ela recuperou a compostura rapidamente, devo admitir. — Cuidado, Nádia, você não faz ideia do que sou capaz. — Pelo contrário — respondi, virando-me para encará-la diretamente. — Sei exatamente do que você é capaz, Teresa, ou devo dizer Taís? Três empresas, três homens casados, três acordos generosos. Você é bastante
previsível. Na verdade, sua face assumiu uma expressão que eu nunca havia visto antes: pura fúria. — Victor já assinou os papéis do divórcio — sibilou. — Você só não sabe ainda. Em duas semanas, esta casa, estas roupas, tudo isso será meu, e você voltará para o café onde pertence. Naquela noite, durante o jantar, observei Victor com outros olhos. Será que ele sabia que era apenas mais um em uma longa lista de alvos? Que sua preciosa Thaís era uma golpista profissional? Ou seria ele cúmplice neste elaborado teatro? Comecei a preparar meu próximo movimento. Marina havia descoberto
algo ainda mais interessante. Thaís mantinha um diário detalhado de seus projetos anteriores, um seguro caso algo desse errado, e ela o guardava em um cofre no flat que dividia com Victor. Planejei cada detalhe meticulosamente. O flat tinha câmeras de segurança, mas o zelador era um homem simples que ficou mais do que feliz em ajudar a esposa preocupada a fazer uma surpresa para o marido em uma tarde em que sabia que Thaís e Victor estariam em uma união de negócios. Entrei no apartamento. O cofre estava exatamente onde Marina havia dito, atrás de um quadro no quarto
principal. A combinação não foi difícil de adivinhar: a data em que Thaís conheceu Victor. Tão previsível. Dentro, além do diário, encontrei algo ainda mais valioso: fotos dela com Luzia, datadas de muito antes de começar a trabalhar na empresa. A conspiração estava documentada em papel fotográfico brilhante. Mas a verdadeira surpresa veio quando folhei o diário. Thaís não planejava apenas me substituir; ela planejava assumir o controle total. Victor era apenas um meio para um fim. Depois que se casassem, ela já tinha planos para acidentes convenientes, testamentos alterados, uma viúva inconsolável assumindo as rédeas do império Mendonça. Fiz
cópias de tudo e deixei os originais exatamente onde os encontrei, algumas páginas do diário estrategicamente marcadas, seriam minha garantia. Thaís podia ser uma predadora experiente, mas havia cometido o erro clássico de subestimar sua presa. Na saída do flat, encontrei uma das amantes anteriores de Victor, aquela do batom Chanel número 32. Ela me reconheceu imediatamente, seu rosto empalidecendo. — Senhora Mendonça! — Eu não... — Não se preocupe — sorri, entrando no elevador. — Em breve, esse título não será mais meu, mas também não será de Thaís. A contagem regressiva começou. Numa quinta-feira chuvosa, recebi um envelope
pardo pelo correio: os papéis do divórcio, exatamente como Thaís havia anunciado. Victor nem se deu ao trabalho de me entregar pessoalmente. Ao lado dos documentos, um bilhete escrito com a caligrafia impecável de Luzia: — Seja sensata, assine e saia dignamente. Dignidade, uma palavra interessante vinda de uma mulher que conspirou com uma golpista profissional para destruir o casamento do próprio filho. Guardei o envelope sem abrir na gaveta da escrivaninha, junto com todas as outras evidências que vinha coletando. Naquela noite, Thaís decidiu dar seu golpe final. Apareceu no jantar de família Semal, na mansão dos Mendonça. Um
evento sagrado do qual eu ainda não havia sido oficialmente expulsa. Ela usava um vestido preto Chanel que eu reconheci imediatamente; era o mesmo modelo que eu havia encomendado para o aniversário de Victor no mês seguinte. — Nádia, querida! — Luzia exclamou com falsa preocupação ao me ver chegar. — Não sabia que viria. Achei que, depois de receber os papéis... Seu olhar deslizou para Thaís, que sorvia champanhe com um sorriso triunfante. — E perder este adorável jantar em família? Jamais! — respondi, sentando-me em meu lugar habitual. Victor se remexeu desconfortavelmente em sua cadeira, evitando meu olhar.
Na verdade, Thaís interviu, sua voz melodiosa cortando o ar tenso. — Temos um anúncio a fazer. Ela estendeu a mão esquerda sobre a mesa, exibindo um anel de diamantes que eu conhecia muito bem. Era o anel da família Mendonça, passado de geração em geração, o mesmo que Luzia havia me negado quando Victor e eu nos casamos, alegando que ainda não era o momento. — Não é maravilhoso? — Luzia praticamente gorgolejou, segurando a mão de Thaís para admirar o anel. — Finalmente, esta joia está no dedo de alguém que realmente merece. Mantive minha expressão neutra enquanto
os criados serviam à entrada: sopa de aspargos, minha favorita. — Imagino que Thaís tenha escolhido o menu especialmente para esta noite, mais uma de suas pequenas crueldades calculadas. Então comecei, calmamente, provando a sopa. — Quando foi que vocês começaram a planejar isso, Luzia? Antes ou depois de contratar Teresa como do seu filho? O som de talheres caindo ecoou pela sala de jantar. Victor engasgou com o vinho. Thaís empalideceu visivelmente, suas mãos apertando o guardanapo de linho. — Teresa? — Zenia, Victor perguntou, olhando confuso para sua noiva. — Oh, desculpe — sorri docemente. — Quis dizer
Thaís. Às vezes confundo seus nomes. Deve ser difícil manter o controle, não é mesmo, especialmente depois de tanta… Transformações. Luzia se levantou abruptamente, derrubando sua taça de vinho. O líquido vermelho espalhou-se pela toalha branca como sangue. — Acho que você deve se retirar, Nadia. — Por quê? O jantar mal começou, e tenho certeza de que Victor adoraria ouvir sobre os outros homens na vida de sua noiva, os outros casamentos que ela destruiu, os outros golpes que ela aplicou. — Isso é ridículo! — Thí tentou manter a compostura, mas sua voz tremeu levemente. — Victor, ela
está claramente perturbada. Não acredite! Tirei um envelope da bolsa e o deslizei pela mesa. — Estas fotos são muito interessantes, especialmente esta — apontei para uma imagem onde Thí e Luzia conversavam em um café, datada de dois anos antes de ela começar a trabalhar na empresa. — Vocês parecem bem íntimas para duas pessoas que supostamente se conheceram há apenas 18 meses — o rosto de Victor alternava entre tons de vermelho e branco enquanto examinava as fotos. — Mãe, o que significa isso? — Não seja ingênuo, querido! Luzia tentou recuperar o controle da situação. — Sua
mãe apenas estava tentando protegê-lo de um casamento inadequado! — Me proteger? — Victor riu amargamente. — Planejando meu próximo casamento antes mesmo de destruir o atual! Thí mudou de tática rapidamente, lágrimas brotando em seus olhos. — Victor, amor, não deixe que ela nos separe! Tudo que fiz foi por amor a você! — Amor? — interrompi, tirando mais um envelope da bolsa. — Então, suponho que estas anotações sobre como se livrar dele depois do casamento também são provas de amor? O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Entreguei a Victor cópias das páginas mais reveladoras do diário
de Taís. Seus olhos percorreram as linhas rapidamente, seu rosto ficando cada vez mais pálido. O próximo grande seria o de viva inconsolável, não é mesmo, Teresa? — perguntei, sabendo palavrão. — Depois de um trágico acidente de carro, TZ? Você tem uma predileção por esse tipo de Deus! — Sua surra levantou, derrubando sua cadeira. — Você não tem provas! — Tenho todas as provas! — corrigi calmamente, incluindo seu precioso diário, aquele que você guarda no cofre do flat. Sabe, para alguém tão meticulosa, você é terrivelmente previsível com suas senhas. A máscara de Thaís caiu completamente, seu
rosto se contorceu numa expressão de puro ódio. — Você acha que ganhou? Que vai sair daqui com alguma coisa além das roupas do corpo? — Na verdade — sorri, levantando-me da mesa — já consegui tudo que precisava. A confissão de vocês duas diante de testemunhas foi apenas a cereja do bolo. Tirei um pequeno gravador da bolsa e o coloquei sobre a mesa. O pequeno LED vermelho piscava, indicando que estava gravando. — Marina havia me ensinado bem: sempre tenha provas concretas. A propósito, Luzia — acrescentei, caminhando em direção à porta — adorei a sopa, receita da
sua cozinheira. Imagino, aquela que você demitiu no mês passado e que agora trabalha para mim. O caos que se seguiu ao jantar foi meticulosamente orquestrado. Enquanto eu saía da mansão Mendonça naquela noite, podia ouvir os gritos histéricos de Taís ecoando pelos corredores. A fachada da socialite sofisticada havia se despedaçado completamente, revelando a verdadeira Teresa Alvarenga, uma mulher capaz de tudo para conseguir o que queria. No dia seguinte, acordei com dezenas de chamadas perdidas: Victor, Luzia, os advogados da família, todos desesperados para conversar. Mas eu tinha outros planos. Marina já havia preparado nossa contraofensiva legal, e
cada tentativa de contato deles apenas fortalecia nossa posição. Taís, no entanto, não era do tipo que aceitava a derrota facilmente. Na manhã seguinte ao jantar desastroso, ela me esperava no estacionamento do spa que eu frequentava, um dos últimos lugares onde mantinha minha rotina anterior. — Você não faz ideia do jogo que está jogando! — Sil, ela bloqueou meu caminho até o carro. Seu rosto normalmente impecável mostrava sinais de uma noite mal dormida. — Posso ter perdido uma batalha, mas acredite: você vai se arrepender de ter mexido comigo! — Teresa — respondi calmamente — ou prefere
que eu use seu outro nome? Amanda Santos, talvez? Aquele que você usou no seu primeiro golpe em São Paulo. Seus olhos se arregalaram. — Ah, sim, eu sei sobre isso também. Sobre o empresário que quase morreu naquele acidente de barco. Fascinante como você sempre prefere acidentes que pareçam naturais! — Ela avançou em minha direção, suas unhas perfeitamente manicuras prontas para um ataque, mas eu estava preparada. O segurança do spa, discretamente posicionado próximo ao meu carro, interveio imediatamente. — A senhora está bem? — perguntou ele, já filmando a cena com seu celular. Outra sugestão valiosa de
Marina. — Perfeitamente bem — sorri, observando Thí recuar — apenas uma antiga conhecida. Relembrando o passado, naquela mesma tarde recebi uma ligação inesperada de Helena Montenegro, esposa do segundo homem que Thí havia tentado conquistar em sua carreira de golpista. Marcamos um encontro discreto em um café nos arredores da cidade. — Quando vi as notícias sobre Teresa, quer dizer, Taís, não pude ficar calada! — Helena explicou, suas mãos tremendo levemente ao segurar a xícara de café. — O que ela fez com minha família? Ela não apenas tentou seduzir meu marido, ela tentou me destruir psicologicamente! Helena
então compartilhou uma história perturbadora: Thí havia orquestrado uma campanha sistemática de terror psicológico. Objetos mudados de lugar na casa, bilhetes ameaçadores, pequenos acidentes domésticos... Ela queria que eu parecesse paranoica! — Helena explicou. — Quase conseguiu me convencer de que estava enlouquecendo. Enquanto ouvia o relato de Helena, outras peças do quebra-cabeça se encaixavam: as pequenas coincidências dos últimos meses, meus objetos pessoais desaparecendo misteriosamente, o freio do meu carro apresentando falhas inexplicáveis, as ligações anônimas no meio da noite. Não eram eventos aleatórios; era o modus operandi de Thí! — Ela é metódica — continuou Helena. — Cada
passo é calculado para maximizar o dano psicológico. E o pior: ela guarda troféus, fotos, objetos pessoais, diários das vítimas, tudo catalogado como recordações de suas conquistas! Aquela informação acendeu uma luz em minha mente: o cofre no flat não continha apenas o diário atual de Taís, havia mais compartimentos escondidos atrás de uma falsa parede! Marina estava certa, precisávamos voltar lá! Desta vez, no entanto, Thí estava preparada. Quando cheguei ao flat... Acompanhada por um chaveiro e um oficial de justiça com um mandado de busca e apreensão, encontramos o apartamento revirado. O cofre estava aberto e vazio, exceto
por uma única foto: eu e Victor no dia do nosso casamento, com meu rosto marcado com um "X" vermelho. Mas Thais havia cometido um erro crucial em sua pressa. No lixo do prédio, encontramos restos de papéis queimados — tentativa apressada de destruir evidências. Entre os fragmentos parcialmente preservados, havia algo ainda mais incriminador: recibos de produtos químicos industriais, datados das semanas anteriores aos acidentes que vitimaram seus alvos anteriores. Naquela noite, enquanto organizava as novas evidências em meu escritório, recebi uma mensagem de um número desconhecido. Era uma foto do quarto da minha avó no asilo, onde ela
passou seus últimos dias, tirada recentemente. Sobre a antiga cama dela, havia outro "X" vermelho. A mensagem era clara: Thais estava elevando o nível do jogo; ela não se contentaria apenas em me destruir, ela queria apagar cada vestígio da minha existência, inclusive as memórias das pessoas que amei. Mas havia algo que ela não sabia, algo que nem Victor ou Luzia suspeitavam: eu não estava mais jogando apenas para me defender. Cada movimento de Thais, cada ameaça, cada tentativa de intimidação era mais uma prova que se somava ao meu dossiê, e em breve, muito em breve, o mundo
conheceria a verdadeira face de Teresa Alvarenga. Os dias que se seguiram transformaram-se em um jogo mortal de gato e rato. Cada movimento meu era observado, cada passo calculado. Thais não apenas me seguia; ela estava sempre um passo à frente, transformando minha vida em um labirinto de armadilhas psicológicas. Na segunda-feira, meu carro foi encontrado com os pneus cortados no estacionamento do shopping. Na terça, recebi um buquê de rosas negras no escritório, cada flor contendo uma pequena foto de pessoas que eu amava, todas marcadas com "X" vermelhos. Na quarta, a segurança do meu prédio detectou uma tentativa
de invasão ao meu apartamento. “Ela está ficando descuidada”, observou Mar, examinando as gravações das câmeras de segurança. “O desespero está fazendo-a cometer erros.” Mas eu sabia melhor: Thais não cometia erros; ela deixava pistas propositalmente, construindo uma teia de terror psicológico. Cada descuido era uma mensagem calculada: “Eu posso te alcançar quando quiser.” A confirmação veio na forma mais inesperada. Numa quinta-feira à noite, enquanto revisava documentos em meu escritório, recebi uma ligação da recepção do prédio: “Senhora Mendonça, há uma senhora aqui dizendo ser sua sogra.” Luzia — o que ela poderia querer àquela hora? “Mande-a subir”, instruí,
acionando discretamente o sistema de gravação que Marina havia instalado. Luzia entrou em meu escritório como uma rainha destronada, ainda mantendo a pose, mas com fissuras visíveis em sua armadura de arrogância. “Você precisa parar”, disse ela, sem preâmbulos. “Thais, ela não é quem pensávamos.” “Interesante”, respondi, servindo-me de uma taça de vinho. Não ofereci uma bebida, porque imagino que será uma visita breve. “Você não entende”, Luzia passou a mão pelos cabelos impecavelmente arrumados, um gesto nervoso que jamais havia demonstrado antes. “Ela enlouqueceu! Descobriu coisas sobre nossa família e está ameaçando expor tudo.” “Que conveniente”, comentei, bebericando meu
vinho. “A cobra que você trouxe para seu ninho agora está mostrando as presas.” “Ela tentou ontem à noite.” Luzia hesitou, suas mãos tremendo visivelmente. “Victor está no hospital.” A taça quase escorregou de minha mão. “O quê?” “Intoxicação por monóxido de carbono. O aquecedor do quarto dele adulterou. Os médicos dizem que se a empregada não tivesse encontrado...” Senti um arrepio percorrer minha espinha. Era o mesmo método que Thais havia usado em sua primeira tentativa de assassinato anos atrás. “Por que você está me contando isso?” perguntei, estudando o rosto de minha ex-sogra. “Porque você é a única
que a conhece realmente”, Luzia sussurrou. “A única que viu através da máscara desde o início.” Naquele momento, meu celular vibrou. Uma mensagem de texto de um número desconhecido: “Que cena tocante, a matriarca implorando ajuda à ex-nora. Deveria tirar uma foto; ela estava nos observando.” “Luzia”, falei calmamente, mostrando a mensagem, “há quanto tempo exatamente você perdeu o controle da situação?” O rosto dela empalideceu ainda mais. “Desde que encontramos o diário dela — o verdadeiro, não aquele que você descobriu. Ela... ela tem planos para todos nós.” Outro texto chegou: “Contem mais segredos uma para a outra. Adoro
reuniões de família.” “Ela está aqui”, sussurrou Luzia, seus olhos arregalados de pânico. Nesse exato momento, as luzes do escritório se apagaram, mergulhando-nos na escuridão. Apenas o brilho da cidade lá fora iluminava o ambiente. “Mantenha a calma”, instruí. Mas antes que pudesse completar a frase, ouvimos o som do elevador privativo se movendo. Alguém estava subindo. O som do elevador subindo ecoava pelo escritório escuro como um prenúncio de desgraça. Luzia agarrou meu braço com força surpreendente, suas unhas perfeitamente manicüradas cravando em minha pele. “Ela vai nos matar”, sussurrou, o medo despedaçando décadas de arrogância. Meu celular vibrou
novamente: “Lembram do jantar de Natal do ano passado, quando vocês duas fingiram civilidade enquanto planejavam a destruição uma da outra? Que tal recriarmos aquela noite?” “O Natal?” A memória daquela humilhação específica queimou em minha mente. Luzia havia organizado um jantar grandioso, convidando a nata da sociedade. No meio da festa, acidentalmente derrubou vinho tinto em meu vestido branco. Enquanto eu tentava limpar a mancha no banheiro, ouvi sua voz do outro lado da porta: “Podem entrar, queridas. Nossa garçonete particular está ocupada no momento.” As risadas das socialites ecoaram pelo banheiro enquanto eu, trancada em uma cabine, chorava
silenciosamente. Foi naquela noite que descobri que Thais estava presente na festa, não como secretária, mas como conselheira especial da empresa. O elevador parou em nosso andar. Através do vidro fumê do escritório, vi uma silhueta familiar movendo-se. “Sai, sai!” “Quer que estejam?” A voz melodiosa de Thais cantarolou. “Tenho tantas histórias para compartilhar. Nadia, lembra quando Victor te humilhou na frente do Conselho Diretor chamando você...” De sucesso de caridade dele, eu estava lá, observando, planejando. Cada lágrima sua era um degrau na minha escada. Aquela reunião na segunda-feira, meu carro foi encontrado com os pneus cortados no estacionamento
do shopping. Na terça, recebi um buquê de rosas negras, com o escrito "Cada flor contendo uma pequena foto de pessoas que eu amava", todas marcadas com X vermelhos. Na quarta, a segurança do meu prédio detectou uma tentativa de invasão ao meu apartamento; ela está ficando descuidada, observou Marina, examinando as gravações das câmeras de segurança. O desespero está fazendo-a cometer erros, mas eu sabia melhor. Taís não cometia erros; ela deixava pistas propositalmente, construindo uma teia de terror psicológico. Cada descuido era uma mensagem calculada: "Eu posso te alcançar quando quiser." A confirmação veio na forma mais inesperada,
numa quinta-feira à noite. Enquanto revisava documentos em meu escritório, recebi uma ligação da recepção do prédio: "Senhora Mendonça, há uma senhora aqui dizendo ser sua sogra, Luzia." O que ela poderia querer àquela hora? "Mande-a subir", instrui, acionando discretamente o sistema de gravação que Marina havia instalado. Luzia entrou em meu escritório como uma rainha destronada, ainda mantendo a pose, mas com fissuras visíveis em sua armadura de arrogância. "Você precisa parar", disse ela, sem preâmbulos. "Taís, ela não é quem pensávamos." "Interessante", respondi, servindo-me de uma taça de vinho. "Não ofereci uma bebida porque imagino que será uma
visita breve." "Você não entende", Luzia passou a mão pelos cabelos impecavelmente arrumados, um gesto nervoso que jamais havia demonstrado antes. "Ela enlouqueceu; descobriu coisas sobre nossa família e está ameaçando expor tudo." "Que conveniente", comentei, bebericando meu vinho. "A cobra que você trouxe para seu ninho agora está mostrando as presas." "Ela tentou ontem à noite." Luzia hesitou, suas mãos tremendo visivelmente. "Victor está no hospital." A taça quase escorregou de sua mão. "Intoxicação por monóxido de carbono. O aquecedor do quarto dele... alguém adulterou." "Minha empregada não envenenou!" Um arrepio percorreu minha espinha. Era mesmo o método que
Taís havia usado em sua primeira tentativa de assassinato. "Por que você está me contando isso?" perguntei, estudando o rosto de minha ex-sogra. "Porque você é a única que a conhece realmente," sussurrou Luzia, "a única que viu através da máscara desde o início." Naquele momento, meu celular vibrou: uma mensagem de texto de um número desconhecido. Que cena tocante: a matriarca implorando ajuda à ex-nora. "Deveria tirar uma foto; ela estava nos observando." "Luzia," falei calmamente, mostrando a mensagem, "há quanto tempo exatamente você perdeu o controle da situação?" O rosto dela empalideceu ainda mais. "Desde que encontramos o
diário dela. O verdadeiro, não aquele que você descobriu. Ela tem planos para todos nós." Outro texto chegou: "Contém mais segredos um para o outro. Adoro reuniões de família." "Ela está aqui", sussurrou Luzia, seus olhos arregalados de pânico. Nesse exato momento, as luzes do escritório se apagaram, mergulhando-nos na escuridão; apenas o brilho da cidade lá fora iluminava o ambiente. "Mantenha a calma," instruí, mas antes que pudesse completar a frase, ouvimos o som do elevador privativo se movendo. Alguém estava subindo. O som do elevador subindo ecoava pelo escritório escuro como um prenúncio de desgraça. Luzia agarrou meu
braço com força surpreendente, suas unhas perfeitamente cuidadas cravando em minha pele. "Ela vai nos matar", sussurrou, o medo despedaçando décadas de arrogância aristocrática. Meu celular vibrou novamente: "Lembram do jantar de Natal do ano passado, quando vocês duas fingiram civilidade enquanto planejavam a destruição uma da outra? Que tal recriarmos aquela noite?" O Natal... a memória daquela humilhação específica queimou em minha mente. Luzia havia organizado um jantar grandioso, convidando a nata da sociedade. No meio da festa, acidentalmente derrubou vinho tinto em meu vestido branco. Enquanto eu tentava limpar a mancha no banheiro, ouvi sua voz do outro
lado da porta: "Podem entrar, queridas. Nossa garçonete particular está ocupada no momento." As risadas das socialites ecoaram pelo banheiro enquanto eu, trancada em uma cabine, chorava silenciosamente. Foi naquela noite que descobri que Thais estava presente na festa, não como secretária, mas como consultora especial da empresa. O elevador parou em nosso andar. Através do vidro fumê do escritório, vi uma silhueta familiar se movendo pelo corredor. "Saia! Saia onde quer que esteja!" A voz melodiosa de Thais cantarolou: "Tenho tantas compartilhas..." Outro texto: "Nadia, lembra quando Victor te humilhou na frente do Conselho Diretor, chamando você de 'sucesso
de caridade'? Eu estava lá, observando, planejando. Cada lágrima sua era um degrau na minha escada." Aquela reunião... e não posso... Ele sorriu, aquele sorriso arrogante que eu tanto desprezava. "Olhem para vocês, mulheres patéticas brigando pelo direito de carregar meu sobrenome! Você, Nádia, a garçonete que pensou que podia se tornar uma dama! Taís, a golpista que achou que podia me enganar! E você, mãe, a viúva que construiu um império às custas da destruição de outra família." Nesse momento, as luzes se acenderam repentinamente no corredor. Passos se aproximavam. "E você, Victor?" Um sorriso se formou em meus
lábios. "O herdeiro que nunca percebeu que estava sendo gravado." A porta se abriu. Pela terceira vez, Marina entrou, acompanhada por dois policiais e um homem que reconheci como promotor público. O sorriso de Victor morreu em seus lábios quando os policiais entraram. Por um momento, vi aquele menino mimado de 16 anos que Luzia uma vez me mostrou em fotos, assustado ao ser pego em uma travessura... mas apenas por um momento. "O que é isso?!" Ele recuperou a pose arrogante, mais um de seus truques melodramáticos. "Nadia!" Marina avançou, tablet em mãos. "Na verdade, Senhor Mendonça, são várias
acusações bem documentadas, incluindo sua fascinante conversa de agora há pouco sobre como foi mesmo...? Ah, sim, 'desastre genético'." Thais tentou escorregar para fora da sala, mas um dos... "Senhora Teresa Alvarenga," ele começou, "ou devo dizer Amanda Santos? Temos algumas perguntas sobre a morte de seu ex-marido em Minas Gerais." "Isso é ridículo!" Victor explodiu. "Vocês não..." Podem não, podem o filho interrompi, me humilhar publicamente, me chamar de vagabunda na frente dos seus amigos do Clu, ou você, este a vezem, porque eu ousei questionar seus gastos. O rosto dele se contorceu em fúria. Você mereceu cada segundo
daquela noite. Quem você pensa que é para questionar minhas decisões? A mesma garçonete que você humilhou por anos. Respondi, mantendo a voz calma. A mesma que você fez questão de lembrar de suas origens toda vez que bebia demais. Lembra da festa de Ano Novo, quando você me obrigou a servir drinks para seus amigos porque, segundo você, era o único trabalho que eu sabia fazer direito? Luzia deu um passo à frente. Victor, pelo amor de Deus, pare! Pare! Ele riu histericamente. Por que, mãe, não foi você mesma que disse que ela era a nossa maior vergonha,
que precisávamos nos livrar dela antes que arruinasse nossa reputação? Interessante você mencionar reputação, Marina interveio, deslizando o dedo pela tela do tablet. Tenho aqui gravações muito interessantes das suas técnicas de persuasão. O áudio começou a tocar; era Victor bêbado em uma de nossas últimas brigas. “Você é patética, sabia? Acha que alguém vai acreditar em você? Eu sou Victor Mendonça, posso fazer você desaparecer com um telefonema. Ninguém sentiria sua falta, uma órfã miserável que nem família tem.” Thaí soltou uma risada. Érica: “Oh, que adorável, o príncipe encantado mostrando suas garras. Devo compartilhar também nossas conversas íntimas,
querido, sobre como você planejava me usar para se livrar dessa, como você chamava mesmo? Ah, sim, experiência de caridade que deu errado.” Cale a boca! Victor avançou para ela, mas o policial o conteve. Violento como sempre, comentei. Como naquela vez que quebrou meu pulso porque encontrei recibos de joias que não eram para mim, ou quando me empurrou da escada porque ousei convidar minha antiga colega do café para nossa festa. “Você nunca provou nada disso!” ele rosnou. “Não precisei.” Sorri. “Você fez todo o trabalho por mim. Cada humilhação pública, cada agressão velada, cada ameaça, tudo registrado.
Você realmente achava que aquele sistema de segurança que instalou na mansão só gravava o que você queria?" O rosto dele empalideceu. Durante anos ele havia usado as câmeras para me monitorar, me controlar. Nunca percebeu que eu tinha acesso a todas as gravações. “Senhor Mendonça,” o promotor se manifestou pela primeira vez, “creio que temos muito a discutir sobre violência doméstica, ameaças e coerção.” A sala do escritório, antes um campo de batalha de acusações, agora parecia pequena demais para conter o peso das verdades que emergiam. Victor, ainda contido pelo policial, tinha no rosto uma expressão que eu
conhecia bem, a mesma que exibia antes de seus piores momentos de crueldade. “Vocês não têm ideia do que ela é capaz!” ele tentou mais uma vez, sua voz assumindo aquele tom persuasivo que encantava juízes e empresários. “Perguntem a qualquer um, ela sempre foi problemática, instável, como na festa de inauguração do hospital.” Cortei, sentindo um prazer amargo em ver seu rosto empalidecer. “Aquela que você fez questão de convidar toda a imprensa para me humilhar.” O episódio do hospital havia sido um dos pontos mais baixos do nosso casamento. Victor havia organizado um evento beneficente grandioso, convidando a
nata da sociedade e diversos veículos de comunicação. No meio do seu discurso, chamou-me ao palco. “Minha esposa,” ele anunciou com falsa admiração, “é um exemplo vivo do nosso trabalho filantrópico. Uma garçonete que, graças à generosidade dos Mendonça, pode deixar as bandejas para se tornar... bem, algo próximo de uma dama.” A plateia riu, aquele riso contido da alta sociedade. Thí, já trabalhando como sua secretária, sorriu abertamente enquanto me entregava um envelope. “Abra!” Victor ordenou ao microfone. Dentro, havia fotos minhas servindo mesas anos atrás. “Nunca devemos esquecer nossas origens, não é mesmo, querida?” Luzia, que assistia à
cena se desenrolar novamente através da gravação que Marina reproduzia, cobriu a boca com as mãos. Mesmo ela parecia horrorizada com a crueldade calculada do filho. “Ou talvez devêssemos falar sobre o Natal passado.” Palavras contidas, quando me vê em uniforme de garçonete, ele me usou no porão durante um jantar importante porque eu cumprimentei um antigo cliente do café. As gravações continuavam a tocar, uma após a outra. Victor bêbado, gritando que eu não passava de uma experiência social fracassada. Victor sóbrio, metodicamente listando todas as minhas falhas durante um jantar com investidores. Victor, furioso, quebrando todas as fotos
da minha família porque eu havia convidado uma antiga colega da faculdade para nossa casa. Thí, ainda tentando manter o controle da situação, soltou uma forçada: “Por favor, ela claramente manipulou essas gravações.” Victor sempre foi um marido dedicado, dedico cortei. “Como quando ele te presenteou com o colar que minha avó me deixou, aquele que desapareceu misteriosamente do cofre.” O sorriso dela vacilou. Victor tinha lhe dado o colar há três meses, jurando ser uma peça de família dos Mendonça. “Ou talvez você queira explicar as do FL?” continuei, “aquelas onde vocês dois planejavam como iam me internar em
uma clínica psiquiátrica. Ela sempre foi instável, não eram essas suas palavras exatas?” Victor, o promotor fez um gesto e um terceiro policial entrou na sala, carregando uma caixa de evidências. Dentro, estava o diário original de Taís, não a cópia que eu havia encontrado, mas o verdadeiro, detalhando cada passo do plano deles. “É fascinante,” comentei, folheando as páginas. “Como vocês planejaram cada detalhe, a forma como iriam destruir minha reputação, como fariam parecer que eu tinha problemas mentais, como plantaram evidências de desvios financeiros no meu nome.” “Isso não prova nada!” Victor tentou avançar novamente, mas foi contido.
“Ela invadiu propriedade privada, roubou documentos!” “Na verdade,” interveio novamente, “temos um mandado judicial para cada evidência coletada. Sua ex-esposa foi extremamente meticulosa em seguir todos os procedimentos legais.” “Como você acha que consegui acesso ao flat?” Sorri para Taí, que agora parecia prestes a desmaiar. “Aquele zelador tão prestativo. Ele trabalha para mim há...” Meses. Cada vez que vocês se encontravam, cada documento que tentavam esconder, tudo registrado. Luzia, que havia permanecido em silêncio, finalmente encontrou sua voz. "Por que, Victor? Por que tanta crueldade?" Ele explodiu: "Porque ela nunca soube seu lugar! Porque ela tentou mudar quem nós
éramos! Tentou enfiar suas ideias de igualdade e justiça em nossa empresa! Tentou! Tentou te fazer um ser humano decente!" Completei, "Que fracasso terrível da minha parte." Nesse momento, mais pessoas entraram na sala. Reconheci alguns rostos, antigas funcionárias da Mendonça, em corporações que haviam sido demitidas após denunciarem assédio; ex-namoradas de Victor, que haviam sido silenciadas com acordos milionários; até mesmo a primeira esposa de seu pai, aquela que Luzia havia ajudado a destruir para assumir seu lugar. Bem, não é isso que chamam de reunião de família? A voz de Helena Montenegro, a primeira esposa do pai de
Victor, cortou o silêncio como uma lâmina afiada. Ela avançou na sala, seus saltos ecoando no piso de mármore. Aos 70 anos, ainda mantinha a elegância que a havia feito a rainha da sociedade duas décadas atrás, antes de Luzia entrar em cena. "Helena," Luzia sussurrou, seu rosto perdendo o último vestígio de cor. "Luzia, querida," Helena sorriu, aquele sorriso que já havia destruído reputações em jantares beneficentes. "Quanto tempo! A última vez que nos vimos foi assim, quando você e meu marido anunciaram seu noivado uma semana depois do meu surto psicótico, não é mesmo?" Victor tentou intervir: "Isso
é ridículo! Essa mulher não tem nada a ver com—" "Tenho tudo a ver, Victor," Helena o cortou. "Afinal, você aprendeu com os melhores. Sua mãe e seu pai me destruíram exatamente como você tentou destruir Nadia. Mesmo método, mesmos modos operando. Até as palavras eram parecidas: instável, problemática, socialmente inadequada." Marina aproveitou o momento para reproduzir mais uma gravação. Era Victor em uma reunião particular: "Vamos seguir o plano da minha mãe. Funcionou perfeitamente com Helena. Primeiro, fazemos ela duvidar de si mesma; depois, plantamos evidências de instabilidade mental. No fim, ela mesma vai implorar para ser internada." Enquanto
a gravação tocava, outras mulheres começaram a se manifestar. Clara, ex-secretária de Victor, deu um passo à frente. "Ele tentou o mesmo comigo há 5 anos, quando me recusei a colaborar com seus assédios. Começou a espalhar rumores sobre meu estado mental. Perdi meu emprego, minha reputação." Sandra, uma antiga sócia minoritária, continuou: "Foi ainda pior quando questionei algumas decisões da empresa! Victor e Luzia orquestraram um verdadeiro linchamento moral! Fui acusada de roubo, de comportamento errático!" Uma a uma, as histórias emergiam; cada mulher tinha a sua própria versão do terror psicológico perpetrado pelos Mendonça, e todas as narrativas
se repetiam. "Dois anos de desmoronamento," clamou Tim. "Cartão, você não soube! Eu também sou vítima! Victor me manipulou, me fez acreditar!" "Eu tenho aqui!" mostrei meu celular: "A gravação de vocês dois planejando meu acidente fatal, aquele que seria tão similar ao que você orquestrou para seu último marido!" O promotor fez um gesto, e dois policiais se aproximaram de Thaís, com algemas. Ela começou a gritar, sua máscara de sofisticação finalmente se despedaçando completamente. "Você acha que venceu? Acha que alguém vai acreditar em você, em qualquer uma de vocês?" Na verdade, Marina sorriu, ligando o telão do
escritório. "Todo o país já está acreditando." Na tela, uma transmissão ao vivo mostrava a fachada do edifício cercada de repórteres. A hashtag #CasoMendonça já era o assunto mais comentado nas redes sociais. Trechos das gravações, depoimentos das vítimas, documentos comprobatórios, tudo estava sendo divulgado em tempo real. "Não, não!" Victor murmurou, finalmente compreendendo a magnitude de sua queda. "Você não pode—Nossa reputação!" "Sua reputação," Helena riu amargamente, "morreu no momento em que subestimou a garçonete que tentou destruir." O caos que se seguiu foi transmitido ao vivo para milhões de espectadores. As câmeras de segurança do prédio, estrategicamente hackeadas
por Marina, forneciam diferentes ângulos da cena que se desenrolava no escritório. Era como assistir ao desmoronamento de um império em tempo real. "Senhores," a voz do promotor cortou o tumulto, "temos mandados de prisão para a senhora Teresa Alvarenga por tentativa de homicídio e fraude, e para o senhor Víctor Mendonça por violência doméstica, coação e tentativa de internação forçada." Thaís começou a gritar enquanto era algemada. "Vocês não entendem!" Ela apontou para mim, com fúria. "Ela planejou tudo isso! A garçonete miserável manipulou vocês!" Victor, sendo contido por dois policiais, assumiu sua expressão mais arrogante. "Meus advogados vão—"
"Seus advogados já estão bastante ocupados," interrompi, projetando no telão uma série de e-mails. "É interessante como eles ficam cooperativos quando descobrem que também podem ser implicados em tentativa de homicídio." Luzia, que havia permanecido em choque, tentou uma última intervenção. "Nadia, pelo amor de Deus, pense no escândalo! Nossa família, sua família!" Helena avançou: "A mesma família que você roubou de mim. Que destruiu minha reputação. Que me afastou do meu filho!" Nesse momento, as portas do elevador se abriram novamente. Ricardo do Montenegro, meio irmão de Víctor e filho de Helena, entrou na sala. Aos 45 anos, era
a imagem viva de seu pai, o mesmo homem que Luzia havia salvado de um casamento infeliz. "Mãe," ele se dirigiu a Helena, ignorando completamente Luzia. "Os documentos que você mencionou estão todos aqui." Helena sorriu, entregando uma pasta ao promotor, incluindo as provas de como Luzia e meu falecido marido forjaram minha internação psiquiátrica. Victor empalideceu ainda mais. "Ricardo, você não pode—" "Não posso o quê, irmãozinho?" Ricardo cortou, com desprezo. "Defender nossa mãe? A mulher que sua preciosa mãezinha destruiu usando exatamente os mesmos métodos que você tentou usar com Nadia?" As redes sociais explodiam; a hashtag #MulheresDosMendonça
já ultrapassava #CasoMendonça em menções. Vídeos antigos de Victor me humilhando em eventos sociais viralizavam, junto com depoimentos de ex-funcionários e outras vítimas que começavam a... Se manifestar sabe? O que é mais irônico? Comentei, observando o telão, onde as notícias se sucediam: vocês passaram tanto tempo me lembrando do meu lugar, das minhas origens humildes, que nunca perceberam que foi exatamente isso que me deu força. Thí, ainda debatendo-se contra as algemas, rosnou: "Do que está falando?" Quando você nasce sem nada, expliquei calmamente, aprende que sua única verdadeira posse é sua dignidade. Vocês tentaram me quebrar usando táticas
que funcionaram com pessoas da sua própria classe, mas esqueceram que eu venho de um mundo onde sobreviver é uma arte diária. Marina projetou mais uma série de imagens no telão: eram fotos minhas ao longo dos anos, servindo mesas no café, estudando de madrugada, trabalhando em projetos sociais. Até os últimos meses, onde cada humilhação havia sido documentada, cada abuso registrado. A garçonete que vocês tanto desprezavam, continuei, aprendeu muito servindo mesas. Aprendeu a observar, a ouvir, a esperar o momento certo. Enquanto vocês estavam ocupados me humilhando publicamente, eu estava construindo o caso que destruiria vocês. Victor soltou
uma risada histérica. "Caso? Que caso? É sua palavra contra dezenas de testemunhas." Cortei: "Contra evidências documentais, contra gravações, e-mails, registros médicos, contra uma investigação de dois anos conduzida pela melhor advogada criminalista do país." Marina sorriu, fazendo uma pequena reverência. "Devo dizer que foi um prazer especial preparar este caso, principalmente depois de descobrir que os Mendonça também tentaram destruir minha carreira no início." O impacto foi imediato e devastador. Enquanto Victor e Thí eram escoltados para fora do prédio, uma multidão de repórteres e fotógrafos registrava cada segundo. As imagens do herdeiro dos Mendonça algemado, seu rosto contorcido
em uma máscara de fúria impotente, se transformaram instantaneamente em manchete nacional. Mas foi a reação de Thí que realmente capturou a atenção pública. No momento em que as portas do elevador se abriram no térreo, ela começou a gritar: "Ela me deve! Todas elas me devem! Vocês não sabem o que é crescer sem nada, ter que lutar!" "Lutar?" interrompi, descendo logo atrás dela. "Você não lutou, Teresa. Você destruiu outras pessoas para subir. Há uma diferença fundamental." Nesse momento, uma mulher furou o cordão de isolamento. Era a viúva do primeiro homem que Thí havia destruído, um empresário
de São Paulo que acidentalmente caiu de seu iate. "Assassina!" ela gritou, sendo contida pelos seguranças. "Você matou Roberto! Você destruiu nossa família!" As revelações continuavam a surgir como uma avalanche. Funcionários da Mendonça Incorporações começaram a compartilhar suas próprias histórias de abuso e humilhação. "Uma ex-governante..." "Lembra daquela vez?" perguntei a Victor enquanto ele era colocado na viatura. "Que você demitiu Maria, nossa cozinheira de quinze anos, porque ela me consolou depois que você me humilhou no jantar de Natal?" Seu rosto se contorceu em ódio puro. "Você não tinha o direito! O direito de me forçar a usar
uniforme de empregada na festa de aniversário, ou o direito de me trancar no quarto quando seus amigos do bem vinham jantar, porque eu era uma vergonha social." Luzia, observando tudo da entrada do prédio, parecia ter envelhecido décadas em minutos. Helena se aproximou dela, seu porte elegante contrastando com o desalinho da antiga rival. "Sabe, Luzia..." Helena falou suavemente. "Quando você roubou meu marido e destruiu minha reputação, pensei que nada poderia ser mais doloroso. Mas assistir seu filho seguir seus passos, transformar-se em um monstro pior que vocês, esse é seu verdadeiro castigo." As cenas continuavam a chegar.
Canais de televisão interrompiam suas programações normais para transmitir ao vivo. As redes sociais explodiam com novas hashtags: "Justiça para as mulheres de Mendonça!", "Queda do império!", "Hash: Nadia venceu, senhora Mendonça!" Um repórter conseguiu se aproximar: "Como se sente vendo seu ex-marido ser preso?" Sorri, ajustando meu blazer. "Não sou mais a senhora Mendonça. Sou Nádia Oliveira, a garçonete que eles tanto desprezaram, e me sinto vingada." Marina se aproximou com seu tablet. "As ações da empresa estão despencando. O conselho está convocando uma reunião de emergência." "Ótimo," respondi. "Hora da fase dois." Thí, já dentro da viatura, começou
a rir histericamente. "Fase dois? Você acha que acabou? Que você pode simplesmente..." "Posso," cortei, "e quer saber por quê? Porque enquanto você e Victor estavam ocupados me humilhando, eu estava comprando ações da empresa através de laranjas. Hoje, com a queda do preço, meus investidores vão assumir o controle acionário." "Impossível!" Luzia gritou. "As ações majoritárias são da família!" "Eram," corrigi, "até Victor começar a vendê-las secretamente para financiar seus casos e suas extravagâncias. E adivinha quem estava do outro lado das transações?" O rosto de Victor perdeu a última gota de cor. "Você? Você não pode!" "Posso e
vou! A garçonete que vocês tanto desprezaram agora é a acionista majoritária da Mendonça Incorporações, ou devo dizer da Nova Horizonte Empreendimentos." As 24 horas seguintes transformaram-se em um turbilhão midiático. A prisão de Victor e Thí ocupava todas as manchetes, mas era apenas a ponta do iceberg. A cada hora, novas revelações surgiam, cada uma mais impactante que a anterior. O programa matinal mais assistido do país abriu com uma entrevista exclusiva de Margarida, a antiga governanta da mansão Mendonça. "A senhora Nádia! Ela sofria tanto!" Margarida chorava diante das câmeras. "Uma vez, o senhor Victor a obrigou a
limpar o salão de festas de joelhos porque ela tinha convidado uma amiga dos tempos de faculdade para tomar chá. Disse que, se ela queria agir como empregada, deveria trabalhar como uma." As redes sociais explodiram com o depoimento. "Hh Nadia guerreira!" e "Justiça para Nadia!" tornaram-se trending topics mundiais. Enquanto isso, na sala de reuniões da Mendonça Incorporações, o conselho administrativo enfrentava seu próprio apocalipse. "Os números são claros," Marina apresentava os documentos. "Nádia Oliveira, através de diferentes fundos de investimento, detém 52% das ações da empresa." "Isso é impossível!" um dos conselheiros, amigo próximo de Victor, protestou. "Como
uma... uma... uma garçonete?" "Completei, entrando na sala. Vestia o mesmo uniforme que Victor me forçou a usar naquela festa humilhante. Irônico, não?" Uniforme que deveria me humilhar, hoje marca minha ascensão. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Aqueles homens, que tantas vezes riram das piadas cruéis de Victor às minhas custas, agora me olhavam com uma mistura de medo e respeito. Durante três anos, continuei removendo lentamente o avental do uniforme. Vocês assistiram enquanto Victor me humilhava, riram quando ele me chamava de "projeto de caridade", aplaudiram quando ele me forçava a servir drinks em festas corporativas. Joguei
o avental sobre a mesa de mogno. Agora, senhores, sou eu quem serve as ordens. Do outro lado da cidade, na delegacia de polícia, Victor enfrentava seu próprio inferno particular. As câmeras da cela haviam vazado para a internet, mostrando o grande herdeiro dos Mendonça encolhido em um canto, seu terno italiano manchado, seu império desmoronando. Thaí, em uma cela separada, havia perdido completamente o controle. Gritava sem parar, alternando entre ameaças e súplicas. Sua verdadeira natureza, aquela que escondia sob camadas de sofisticação forçada, emergia como uma fera acuada. — Senhora Oliveira! — um repórter me abordou quando saí
da reunião do conselho. — É verdade que a empresa será completamente reestruturada? — Sim — respondi, parando diante das câmeras. — Meu primeiro ato como presidente do conselho será criar um fundo de amparo às vítimas de assédio e violência doméstica; o segundo será reintegrar todas as funcionárias que foram demitidas injustamente nos últimos 10 anos. E quanto à mansão dos Mendonça... — sorri, lembrando da última humilhação que Victor tinha me imposto lá: me fazer dormir no quarto de empregada porque eu havia envergonhado ele em um jantar de negócios. A mansão será transformada em um centro de
acolhimento para mulheres em situação de vulnerabilidade. O quarto principal, aquele que Luzia tanto se orgulhava, será a sala de assistência jurídica. Nesse momento, Helena Montenegro se juntou a mim diante das câmeras e eu... — Ela anunciou: vou doar metade da minha fortuna para garantir que esse centro funcione perpetuamente. As notícias continuavam chegando. Ex-funcionárias da empresa surgiam com novas histórias de abusos; antigas amantes revelavam como haviam sido manipuladas e descartadas. O império de mentiras dos Mendonça desmoronava peça por peça. O julgamento de Victor e Thaí tornou-se o evento midiático do ano. O tribunal estava lotado no
primeiro dia de audiência: de um lado, dezenas de vítimas dos Mendonça; do outro, os poucos aduladores que ainda tentavam manter suas conexões com a família decadente. Luzia, sentada na primeira fila, parecia a sombra da majestosa matriarca que costumava ser. Suas joias caras e roupas de grife não conseguiam mais mascarar o desespero em seus olhos. — A promotoria chama sua primeira testemunha — anunciou o juiz. — Senhora Nádia Oliveira. Caminhei até o banco das testemunhas usando um vestido vermelho, o mesmo modelo que Thaí tinha copiado tantas vezes para me provocar. Seus olhos faiscavam de ódio quando
passei por ela. — Senhora Oliveira, — começou o promotor — pode nos contar sobre a noite de 12 de dezembro do ano passado? — Perfeitamente — respondi, mantendo minha voz firme. — Era a festa de Natal da empresa. Victor havia me obrigado a usar um uniforme de empregada, dizendo que era para eu não esquecer minhas raízes. Quando protestei, ele... As próximas duas horas foram dedicadas a detalhar cada humilhação, cada... As câmeras do tribunal, autorizadas excepcionalmente para este momento, transmitiam tudo ao vivo. Me arrastou! Viu-se contorcer em sua... Disse que eu quer, defende... — Funció... jun...
eles... — A noite toda! Enquanto isso, Victor tentou se levantar, mas os oficiais o contiveram. — Ela está inventando tudo! — Ordem no tribunal! — o juiz bateu seu martelo. — Senhor Mendonça, mais uma interrupção e o senhor será removido. Marina se aproximou: novas evidências, vídeos das câmeras de segurança, depoimentos de testemunhas, laudos médicos documentando anos de abuso. Thaí, sentada ao lado de seu advogado, mantinha um sorriso desdenhoso. — Helena Tomun Sen Alvarenga... — Helena mostrou um pequeno diário vermelho. O sorriso de Thaís morreu instantaneamente. — Encontrei no porão da mansão dos Mendonça. Interessante como
você documentava cada conquista, cada vida que destruiu. As páginas do diário revelavam um padrão perturbador. Thaís não apenas destruía suas vítimas, ela colecionava suas histórias como troféus. Havia fotos, recortes de jornal, até mesmo pequenos objetos pessoais roubados de cada pessoa que ela havia arruinado. — Na página 42 — Helena continuou — há um plano detalhado para o acidente que mataria Victor após o casamento, curiosamente similar ao que aconteceu com seu último marido. O tribunal explodiu em murmúrios. Thaís finalmente perdeu sua compostura. — Vocês não entendem! — ela gritou, levantando-se. — Eles mereciam! Todos eles! Aquelas
mulheres ricas e arrogantes, aqueles homens poderosos! Eu apenas dei a eles o que mereciam! — Como você deu a Roberto uma voz? — surgiu da plateia. Era sua primeira vítima, o empresário que todos pensavam ter morrido em um acidente de iate. Ele havia sobrevivido, vivendo no anonimato por anos, esperando o momento certo para testemunhar. A cada novo depoimento, o império de mentiras se desintegra ainda mais. Ex-ex-funcionárias relatavam as humilhações diárias; antigas sócias revelavam como foram forçadas a vender suas ações; até mesmo o motorista da família, que trabalhou para os Mendonça por 30 anos, contou como
Victor e Luzia planejavam me internar em uma clínica psiquiátrica. — O mais irônico — comentei em meu depoimento final — é que vocês passaram tanto tempo me lembrando das minhas origens humildes, mas que foi justamente isso que me deu força. Cada humilhação, cada abuso, cada tentativa de me quebrar só me fez mais determinada. Quando o juiz pediu as considerações finais, ergui-me uma última vez. — Não estou aqui apenas por vingança. Estou aqui por cada mulher que foi silenciada, por cada pessoa que foi humilhada e descartada. O verdadeiro crime dos Mendonça não foi apenas o abuso
de poder, foi acreditar que o dinheiro os tornava intocáveis. A sentença foi proferida numa quarta-feira chuvosa, exatamente um ano após a noite em que eu descobria a conspiração entre Thaí e Luzia. O tribunal estava lotado, cada pessoa ansiosa para testemunhar a queda final dos Mendonça. De pé para a leitura da sentença, o juiz anunciou. Oficial de justiça Victor, que há meses havia perdido o brilho arrogante nos olhos, parecia um fantasma em seu terno amassado. Taí, por outro lado, mantinha uma última tentativa de dignidade, embora suas mãos algemadas tremessem visivelmente. "No caso do Estado versus Victor
Mendonça," começou o juiz, "este tribunal o considera culpado de todas as acusações: 15 anos de reclusão em regime fechado." Um murmúrio percorreu a sala. Victor desabou em sua cadeira, final quebrado. "No caso do Estado versus Teresa Alvarenga, conhecida como Taís Montenegro," continuou o magistrado, "este tribunal a considera culpada de tentativa de homicídio qualificado, fraude e associação criminosa: 25 anos de reclusão em regime fechado." O grito de Thí ecoou pelo tribunal: "Sua vagabunda, você vai me pagar!" Ordem! O juiz bateu o martelo. "Removam a ré." Enquanto os guardas a arrastavam para fora, seus gritos histéricos ecoavam
pelos corredores. "Eu sou Taís Montenegro! Vocês não podem me tratar assim!" Na verdade, corrigi em voz alta, "você não é ninguém, Teresa. Nunca foi." Luzia, que assistia a tudo da primeira fila, levantou-se cambaleante. "Nádia, por favor, por favor!" Helena se aproximou dela: "Como por favor, que você ignorou quando destruiu tantas vidas?" Naquele momento, as portas do tribunal se abriram. Era Maria, nossa antiga cozinheira, carregando uma bandeja de prata. Nela, uma única xícara de café, a mesma marca que eu servia quando conheci Victor. "Senhora," ela se aproximou de mim com um sorriso, "seu café." Peguei a
xícara, sentindo o aroma familiar. "Obrigada, Maria. Como nova diretora da Nova Horizonte, você faz um café excepcional." Saí do tribunal direto para uma coletiva de imprensa. Os repórteres se acotovelavam por uma declaração. "Senhora Oliveira, o que fará agora?" "Primeiro," respondi, "vou transformar a mansão dos Mendonça na nova sede da Nova Horizonte. Aquele símbolo de opressão será o Marco Zero do meu império. E quanto à antiga empresa, a Nova Horizonte será minha, completamente minha, sem espaço para o passado. Sem chance de retorno. Os Mendonça são história." Helena se juntou a mim no palanque. "E eu vou
garantir pessoalmente que a história nunca seja esquecida. Estou escrevendo um livro: 'A Queda dos Mendonça: Como uma Garçonete Destruiu um Império'." Naquela noite, voltei ao café onde tudo começou, o mesmo lugar onde servi café para Victor pela primeira vez, onde sonhei com um amor que se transformou em pesadelo. A antiga dona do café, senhora Augusta, me recebeu com um abraço apertado. "Minha menina, você conseguiu!" "Consegui," corrigi, olhando ao redor. "E este café agora também é meu. Comprei o prédio inteiro. Será a primeira filial do meu novo império comercial." Sentei-me no mesmo banco onde Victor havia
se sentado anos atrás. Pedi um café, o mesmo que costumava servir, e enquanto saboreava cada gole, percebi que a vingança tem um sabor muito mais doce que qualquer café. "A garçonete que vocês tentaram destruir," sussurrei para minha xícara, "não apenas sobreviveu; ela tomou tudo que era seu." Lá fora, a chuva continuava caindo, lavando o passado e anunciando meu novo reinado. Gostou do vídeo? Deixe seu like, se inscreva, ative o sininho e compartilhe! Obrigada por fazer parte da nossa comunidade. Até o próximo vídeo!